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UNIVERSIDADE FEDERAL DO SUL DA BAHIA

CAMPUS PAULO FREIRE


INSTITUTO DE HUMANIDADES, ARTES E CIÊNCIAS
BACHARELADO INTERDISCIPLINAR EM CIÊNCIAS

BRENO MEIRELLES COSTA BRITO PASSOS

ANÁLISE IN VITRO DA EFICÁCIA CARRAPATICIDA E DA ATIVIDADE


REPELENTE DA ÁGUA DE MANIPUERIA SOBRE Boophilus microplus NO
EXTREMO SUL DA BAHIA

TEIXEIRA DE FREITAS, BA
AGOSTO – 2019
BRENO MEIRELLES COSTO BRITO PASSOS

ANÁLISE IN VITRO DA EFICÁCIA CARRAPATICIDA E DA ATIVIDADE


REPELENTE DA ÁGUA DE MANIPUERIA SOBRE Boophilus microplus NO
EXTREMO SUL DA BAHIA

Trabalho apresentado ao curso de Bacharelado


Interdisciplinar em Ciências da Universidade Federal
do Sul da Bahia, Campus Paulo Freire, como parte
dos requisitos do Componente Curricular Projeto
Integrador III.

Orientadora: Lívia Santos Lima Lemos

TEIXEIRA DE FREITAS, BA
Julho – 2019
Dedico à minha família
AGRADECIMENTOS

Agradeço a Deus, Nosso Senhor, a Sua Santíssima Mãe, a Virgem Maria, a São José,
Castíssimo Esposo de Nossa Senhora, a Santo Agostinho, meu padroeiro, ao meu
Santo Anjo da Guarda e a todos os santos e anjos.
Agradeço a minha família, especialmente a minha avó Soraya, minha mãe Dayana,
minha irmã Cybelle, meu pai Adson, minha tia Danyelle e aos meus afilhados,
Estefany, Kevin e Valentina.
Agradeço a minha orientadora, a professora Lívia Lemos, cuja orientação considero
ímpar e de grande relevância para meu crescimento como pesquisador e cientista,
tendo sido uma verdadeira mãe acadêmica.
Agradeço a professora Gisele Lopes, pois seu auxílio foi crucial para o
desenvolvimento desta pesquisa.
Agradeço a senhorita Rita de Cássia e ao senhor Paulo Vitor, me auxiliando deveras
na realização dos testes, sem a qual muito seria penoso conseguir desenvolvê-los.
Agradeço ao doutor Paulo Sérgio Onofre, que foi um parceiro sem igual.
Agradeço a senhora Jeilly Viviane e ao senhor Marcelo Lemos Jr. por todo suporte
necessário para a coleta dos materiais para o desenvolvimento da pesquisa.
Agradeço a todos os meus professores, que me ajudaram a trilhar minha vida
acadêmica até o presente momento.
Agradeço a Universidade Federal do Sul da Bahia, a Polímata Soluções Agrícolas e a
Cooperativa de Agricultores do Vale do Itaitinga.
ANÁLISE IN VITRO DA EFICÁCIA CARRAPATICIDA E DA ATIVIDADE
REPELENTE DA ÁGUA DE MANIPUERIA SOBRE Boophilus microplus NO
EXTREMO SUL DA BAHIA

RESUMO

A água de manipueria é um resíduo líquido leitoso oriundo da prensagem da mandioca


(Manihot esculenta Crantz), de odor ácido em decorrência da toxicidade devido aos
processos cianogênicos, que originam o ácido cianídrico (HCN), causador de reveses
ambientais. Todavia, apesar disso, estudos apontam para potencialidades em
aproveitamento sustentável. Os carrapatos Boophilus microplus são vetores de
doenças e causa de problemas sanitários. Para combatê-los, as substâncias
empregadas são, em sua maioria, sintéticas, ocasionando poluição ambiental. O
objetivo desse trabalho foi avaliar sobre as larvas dos carrapatos Boophilus microplus
a atividade carrapaticida, com a metodologia do Teste do Pacote de Larvas (TPL), e
a atividade repelente da água de manipueira, ao embeber palitos de churrasco. Em
ambos os testes, os resultados revelaram que a água de manipueira do Extremo Sul
baiano não apresenta eficiência contra os carrapatos Boophilus microplus, em
nenhuma das concentrações de manipueira a que eles foram submetidos. No teste
carrapaticida, o resíduo da mandioca não ocasionou a morte das larvas, mesmo nas
diluições com a presença de adesivos. No teste de repelência não conseguiu repelir
as larvas. Assim sendo, aconselha-se testes que avaliem os compostos químicos da
água de manipueira extraída na região, com o intuito de caracterizar este resíduo,
singularizando-o, além de testes que visem avaliar a resistência do carrapato de boi.

Palavras-chave: mandioca, água de manipueira, carrapatos, carrapaticida, repelente,


Bahia.
IN VITRO ANALYSIS OF ANTI-TICK EFFECT AND THE REPELLENT ACTIVITY
OF MANIPUERIA WATER ON Boophilus microplus IN EXTREMO SUL OF
BAHIA

ABSTRACT

Manipueria water is a milky liquid residue from the pressing of cassava (Manihot
esculenta Crantz), with an acid odor as a result to the toxicity due to cyanogenic
processes, that originates hydrocyanic acid (HCN), which causes environmental
problems. However, despite this, studies point to potentialities in sustainable use.
Boophilus microplus ticks are disease vectors and cause health problems. To combat
them, the substances used are mostly synthetic, causing environmental pollution. The
objective of this work was to evaluate the anti-tick activity of tick larvae Boophilus
microplus using the Larval Packet Test (TPL) methodology and the repellent activity of
manipueira water when soaking barbecue sticks. In both tests, the results revealed
that the manipueira water from extremo sul of Bahia does not show efficiency against
Boophilus microplus ticks in any of the manipueira concentrations to which they were
submitted. In the anti-tick test, the cassava residue did not causes the death of the
larvae, even in the dilutions with the presence of adhesives. In the repellency test, it
failed to repel the larvae. Therefore, it is advisable to test the chemical compounds of
the water extracted from manipueira extracted in the region, in order to characterize
this residue, singularizing it, and tests to evaluate the resistance of tick.

Keywords: cassava, manipueira water, ticks, anti-ticks, repellent, Bahia.


LISTA DE TABELAS

Página
Tabela 1. Primeiro teste carrapaticida a partir de água de manipueira
realizado .......................................................................................................... 28
Tabela 2. Segundo teste carrapaticida a partir de água de manipueira
realizado........................................................................................................... 29
Tabela 3. Avaliação da eficiência carrapaticida da água de manipueria............ 30
Tabela 4. Avaliação biocarrapaticida da água de manipueira extraída da
variedade caravela utilizando diferentes concentrações e adicionando
adesivo em duas concentrações....................................................................... 32
Tabela 1. Diluições da água de manipueira para teste de repelência e suas
repetições......................................................................................................... 39
SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO .................................................................................... 10
1.1. Objetivo geral.................................................................................. 11
1.1.1 Objetivos Específicos...................................................................... 11
2. REVISÃO DE LITERATURA ............................................................ 12
3. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................. 20
4. CAPÍTULO 1 – ATIVIDADE CARRAPATICIDA DA ÁGUA DE
MANIPUEIRA SOBRE Boophilus microplus NO EXTREMO SUL DA
BAHIA ..................................................................................................... 24
4.1. Introdução ................................................................................. 25
4.2. Material e Métodos ..................................................................... 27
4.3. Resultados e Discussão ........................................................... 30
4.4. Conclusões ................................................................................ 32
4.5. Referências Bibliográficas ....................................................... 33
5. CAPÍTULO 2 – AVALIAÇÃO DA ATIVIDADE REPELENTE DA
ÁGUA DE MANIPUERIA SOBRE Boophilus microplus NO
36
EXTREMO SUL DA BAHIA.....................................................................
5.1. Introdução ................................................................................... 36
5.2. Material e Métodos ..................................................................... 38
5.3. Resultado e Discussão .............................................................. 39
5.4. Conclusões ................................................................................ 40
5.5. Referências Bibliográficas ........................................................ 40
6. CONCLUSÕES GERAIS..................................................................... 42
ANEXOS ................................................................................................. 43
10

1. INTRODUÇÃO
A agricultura é uma atividade vital para a existência de vida humana sobre
o planeta. Ela resume-se em um conjunto de técnicas para o cultivo do solo,
praticada tanto de modo familiar quanto industrial, sendo essencial para os seres
humanos, pois é dela que advém seu sustento quando se fala em produção
alimentícia ou em produtos secundários, bem como aqueles utilizados na
alimentação animal.
A cultura da mandioca (Manihot esculenta Crantz) – que já era cultivada
pelos índios – proporciona alimentação para a população nacional sendo uma
das principais fontes de carboidratos. Em terras brasileiras, o cultivo da
mandioca encontra alta abrangência, se destacando por ser um concorrente
forte e de proeminência no mercado internacional em sua exportação, tornando-
se cada vez mais alta a demanda por produtos originados da mandioca.
A partir do seu processamento é extraído a água de manipueria que é
composta por variadas quantidades e proporções de nutrientes, possui aspecto
leitoso de coloração amarelada e odor ácido, sendo tóxica pela presença de
cianetos livres e de ácido cianídrico e pode causar problemas ambientais
(CEREDA, 2001; PAIXÃO, 2009). Sua toxicidade vem de processos de
cianogênese, basilar para a proteção contra animais e seres adversos
(MAGALHÃES et al., 2000). Contudo, mesmo com todo esse revés, ela, por sua
vez, pode ser utilizada como matéria-prima para fins variados, como na produção
de fertilizante, que objetivam o controle de pragas, acaricida, fungicida,
nematicida e na produção alimentícia (PONTE, 2006).
Segundo a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa)
(2018), a Bahia é o terceiro estado brasileiro no ranking da produção nacional
com 10,09%, embora seja o segundo em área plantada, ficando atrás apenas do
Pará (20,55%) e Paraná (14,79%). O Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE) (BRASIL, 2017) fez um estudo e apontou que a cidade de
Teixeira de Freitas, localizada no extremo sul da Bahia, apresenta uma
quantidade produzida na área da mandioca de 1800 toneladas em 717254
toneladas totais do estado.
A utilização de produtos de origem vegetal para sanar problemas e
adversidades sociais pode ser uma alternativa devido aos compostos
encontrados em sua composição. Nessa perspectiva, a água de manipueira –
11

abundante na produção da mandioca – possui grande potencial para compor tal


catálogo pela sua variedade de componentes.
Os carrapatos são um problema que afetam uma das áreas mais
proeminentes da economia brasileira, a saber, a pecuária, conclusão
depreendida de Gomes, Feijó e Chiari (2017). Para combatê-los, faz-se
necessário o uso de carrapaticidas que, por serem de bases químicas sintéticas,
geram problemas ambientais e deixam resíduos na alimentação humana, o que
abre espaço para a busca de produtos naturais que cheguem às mesmas
respostas (BRITO et al., 2015). Nessa perspectiva, torna-se viável o estudo da
ação carrapaticida e repelente como uma possível finalidade da água de
manipueira.

1.1. Objetivo Geral


Avaliar as atividades carrapaticida e repelente da Água de Manipueira
sobre Boophilus microplus, para fins de indicação de aproveitamento desse
resíduo da Mandioca no Extremo Sul da Bahia.

1.1.1. Objetivos específicos


 Avaliar a atividade carrapaticida da água de manipueira através de
ensaios biológicos in vitro sobre Boophilus microplus;
 Avaliar a atividade repelente da água de manipueira através de ensaios
biológicos sobre Boophilus microplus;
12

2. REVISÃO DE LITERATURA

2.1. A cultura da Mandioca


A mandioca – cujo nome científico é Manihot esculenta Crantz –
caracteriza-se por uma planta arbustiva cuja raiz é tuberosa – raízes que
crescendo abaixo da terra têm seus alimentos armazenados juntamente com
inulina e amido – conseguindo alcançar uma altura de cerca de três metros e
tem a capacidade de produzir de seis a oito raízes com massas médias de
seiscentos gramas (NASU, 2008).
Sendo de propagação fácil, a mandioca tem tolerância a diferentes
condições edafoclimáticas (solo e clima), incluindo a de baixa fertilidade
(PLUMBLEY; RICKARD, 1991). De acordo com Cereda (2001), a mandioca
serve como matéria prima para diversos fins, seja para produzir farinha, fécula
ou polvilho, seja para o consumo humano natural ou alimentação animal. Sua
utilização gera resíduos sólidos – cascas e farelo – e líquidos, dentre os quais
está a água de manipueira.
Segundo o Departamento de Economia Rural (DERAL), a mandioca
possui relevância socioeconômica, principalmente nos países mais pobres, seja
para a fécula seja para o consumo “in natura” (BRASIL, 2017). O Brasil, segundo
o mesmo prognóstico, é um dos países que mais produzem o recurso e o
disponibilizam tanto para mercado nacional como para o internacional gerando
renda na agricultura familiar e setor industrial. No ano de 2017 a produção
nacional da mandioca girou em torno de 23,2 milhões de toneladas. No Extremo
Sul da Bahia, a variedade Caravela encontra produção primordial com foco na
agricultura familiar, sendo ela uma fonte de renda e alimentação para
determinadas classes, possuindo, a despeito de sua potencialidade, baixos
índices de produtividade, pois seus rendimentos giram em torno de 12 a 15 t/ha
(SILVA et al., 2009). A baixa produtividade se dá principalmente por não serem
realizadas práticas corretas de manejo do solo aliado à utilização de espécies
que não encontram nas condições edafoclimáticas elementos favoráveis a sua
disseminação. Tais adversidades podem encontrar na ciência uma importante
aliada para suas remedições (SILVA et al., 2009).
A produção da mandioca mostra-se eficiente na utilização da água, o que
favorece seu cultivo em regiões consideradas secas, apresentando curto ciclo
13

no qual há a exploração do solo com deveras intensidade gerando erosão. A


utilização da cobertura do solo pela mandioca não é de alto índice, permitindo o
consórcio com outras plantas que influenciarão aumentando os teores de
matéria orgânica para fertilização natural e retenção de água (SILVA et al.,
2009). A raiz constitui indubitavelmente a parte da mandioca em que mais ocorre
o aproveitamento, embora ainda se possa utilizar sua parte aérea para a
alimentação animal, por exemplo (FERREIRA et al., 2009).

2.2. Água de Manipueira


Nas casas da farinha, os resíduos da mandioca geralmente não são
tratados. Dentre todos eles a água de manipueira é a que exibe potencial
poluidor, o que pode ser causa de problemas ambientais sérios, de acordo com
Cereda (2001). A água de manipueira é de aspecto leitoso com coloração
amarelada e odor ácido que possui suspensão aquosa e mistura de compostos,
bem como conta com a presença de sais minerais e glicosídeos cianogênicos
(MAGALHÃES et al., 2000; PAIXÃO, 2009; PONTE, 2001; SARAIVA et al.,
2007). De acordo com Stangarlin et al. (2011), os glicosídeos cianogênios são
respostas da planta a alguma injúria ou organismo que venha ser ameaçador
tanto herbívoro quanto fitopatógeno, ou seja, exercem função biológica de
proteção contra animais e microrganismos (NASU, 2008). Nota-se que o
processo de cianogênese libera o chamado ácido cianídrico (HNC) – também
batizado de cianeto de hidrogênio – pela degradação de percussores por
enzimas hidrolíticas dos seres vegetais. A passagem de glicosídeos cianogênios
até ácido cianídrico perpassa por etapas das quais, se valendo da hidrólise de
carboidratos por -glicosilhidrolase, adquire-se primeiro α-hidroxinitrila e depois,
por espontaneidade ou ação de enzimas, forma o ácido supramencionado,
aldeído ou, ainda, cetona (STANGARLIN et al., 2011)
Portanto, esse resíduo sendo líquido é tóxico por conter cianeto livre (CN-
) e ácido cianídrico (HCN). O cianeto livre age em células nervosas e na
hemoglobina enquanto o ácido cianídrico age em atividades enzimáticas
(FIORETTO; BRINHOLI, 1985; McMAHON et al. 1995). A toxicidade, segundo a
Fundação Oswaldo Cruz (2018) –, pode ser caracterizada de múltiplos modos.
O primeiro concerne no tempo decorrido em que haverá a resposta: aguda –
manifestações rápidas em pouco tempo e exposição seja uma seja várias;
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subcrônica – há repetidas exposições e que duram relativamente pouco tempo;


e, crônica – há repedias exposições e sua duração é longa (CARVALHO;
PIVOTO, 2011). A segunda forma é acerca da intensidade e severidade: leve –
os distúrbios podem ser revertidos sem intervenção médica e é logo após
terminar a exposição, ou seja, são rápidos; moderada – não causam danos
irreversíveis ou sérios; por fim, severa – as mudanças não são passíveis de
reversão e produzem efeitos drásticos, como aqueles que podem levar a óbito.
Adicionando-se a isso, ainda pode-se dizer da toxicidade que ela é local
aguda – tendo ação sobre o tecido epitelial e membranas; sistêmica aguda –
ações em diversos sistemas do corpo com absorção por qualquer via; local
crônica – que agem sobre a pele após contínuas exposições; e, por último,
sistêmica crônica – por um período grande os sistemas são afetados após
exposições nas variadas vias. Por fim, a toxidade pode ter efeitos insuficientes e
ser chamada desconhecida, ou pode suceder com elevada velocidade e ser
denominada imediata ou ainda acontecer depois de um longo período e ser
batizada de retardada.
Para que essa água deixe de ser tóxica deve passar por um processo de
fermentação anaeróbica, onde o líquido é deixado em repouso por um
determinado período, para que o ácido cianídrico evapore e o líquido restante
possa ser consumido. Segundo Almeida et al. (2009), o resíduo tem a
possibilidade de ser utilizado após um período de descanso de três a cinco dias,
em que se ocorrerá a volatilização do ácido cianídrico, isto é, os teores de
cianetos e ácido cianídrico passarão por uma redução atingindo níveis
considerados não tóxicos.

2.3. Multi-aproveitamento da Água de Manipueira


Diversas características interessantes podem ser notadas nesse resíduo.
A primeira é que a concentração de demanda bioquímica de oxigênio (DBO) na
água de manipueira fresca é menor que nas encontradas em piscinas de
decantação. A demanda bioquímica de oxigênio (DBO) relaciona-se com o
montante de oxigênio necessário para realizar a transformação de matéria
orgânica para uma forma inorgânica que tenha estabilidade feita por um
processo de oxidação e de decomposição microbiana aeróbica e que esteja
presente em soluções aquosa, conforme escreve a Agência Nacional de Águas
15

– ANA (2018). Desse modo, a demanda bioquímica de oxigênio se relaciona com


o consumo de oxigênio praticado pelos organismos vivos presentes em
determinado local o que faz com que seu aumento nos índices seja indicativo de
crescimento de despejos de matéria orgânica. A segunda é que o pH dela reduz
com o armazenamento e, por fim, é que ela pode ser utilizada para diversos fins,
como para o controle de pragas e, segundo estudo de Ponte (1995) e Aragão
(1995), para fins fertilizantes, dentre outros.
Segundo a Cartilha da Manipueira, de José Júlio da Ponte (2006), o
resíduo líquido da mandioca pode ser utilizado para diversos fins, a exemplo da
substituição aos agrotóxicos, pois deles advém severas doenças como, por
exemplo, o câncer. Apesar de extensamente usados, os agrotóxicos levantam
acirradas discussões acerca de sua eficácia, pois alguns autores defendem que
não geram o retorno esperado no auxílio ao crescimento da produção agrícola,
embora outros digam exatamente o contrário. De todo modo, busca-se
alternativas mais ecológicas para este problema (PONTE, 2006).
As análises químicas mostram que a composição da água de manipueira
se dá por teores – variáveis a depender das lavagens industriais e a mistura de
outras raízes– de macro e micronutrientes de nitrogênio (N), fósforo (P), potássio
(K), cálcio (Ca), ferro (Fe), magnésio (Mg) e manganês (Mn), tendo a soberania
de fósforo e potássio (FIORETTO, 2002; PANTARO; CEREDA, 2001) Dessa
forma, esse resíduo pode ser utilizado para adubação seja por via foliar seja por
via edáfica, nas quais a diluição deve ser feita a depender da via que se utilizará
bem como sua aplicação e cultura a ser aplicada.
A água de manipueira pode ser utilizada também no tratamento do solo
infestado por nematoides das galhas, que são vermes de elevada tolerância aos
produtos de origem comercial. Nota-se também que o resíduo líquido da
mandioca tem um possível uso como inseticida e acaricida, bem como formicida,
que pode ser obtido em teores variados de diluição aquosa com a adição de
farinha de trigo e óleo de rícino para permitir com mais eficácia a aderência
(PONTE, 2006).
Além dessa função ainda se tem a de fungicida e bactericida a partir de
concentrações de enxofre, cianetos e afins presentes no resíduo, com eficiência
comprovadamente superior à de produtos sintéticos (PONTE, 2006). Seu
controle pode se dar tanto a partir da diluição da manipueira como na utilização
16

desta de modo puro. Há ainda de se destacar o essencial uso da farinha de trigo


para dar mais aderência e assim possibilitar melhor aplicação. O herbicida ainda
é outra aplicação da água de manipueira, pois tal é evidente devido ao fato de
que nos locais onde se produz a farinha não se tem presença de plantas
invasoras e daninhas, o que é reverberado por estudos comprobatórios (PONTE,
2006). Adicione-se a isso a capacidade de produção alimentícia da manipueira,
como, por exemplo, o tucupi no qual passa por uma fermentação e é adicionada
novos elementos (CHISTÉ et al., 2007). Deste modo, vê que este resíduo líquido
pode se tornar uma oportunidade de renda e de aproveitamento sustentável.

2.4. Atividade Carrapaticida da Água de Manipueira

2.4.1. Importância da Bovinocultura da Região Extremo Sul da Bahia


A pecuária é uma atividade importante para o Brasil que o faz despontar
no mercado internacional, segundo Gomes, Feijó e Chiari (2017). A Bahia
desponta no setor nacional de produção, segundo as pesquisas de pecuária
municipal (RPM) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A
cidade de Teixeira de Freitas, localizada no Extremo Sul baiano possuía,
segundo o IBGE-Cidades no ano de 2017, o efetivo do rebanho bovino de 86950
cabeças.
A bovinocultura apresenta problemas ligados aos agentes parasitas que
atacam os animais reduzindo sua produção e rentabilidade em relação a
produção nacional (VERÍSSIMO; KATIKI, 2015). – existência favorecidos pelo
clima nacional – como o que acontece por ação com o Boophilus microplus, um
dos mais frequentes carrapatos dos bovinos.

2.4.2. Carrapatos em Bovinos: importância do Boophilus microplus

O carrapato pertence à classe dos aracnídeos da família dos ixodida


(duros) e argasidae (mole). Taylor, Coop e Wall (2007) alegam que:

Esse animal é um “(...) ectoparasitas hematófagos


obrigatórios que acometem vertebrados” e que sua
picada “(...) pode causar lesão direta nos animais em
17

decorrência da irrigação, inflamação e


hipersensibilidade”.

Os autores ainda expõem que quando encontrados em grande quantidade


são causa de doenças como anemia, bem como sua secreção ser razão de
paralisia e toxidade e são seres transmissores de “vírus, bactérias, riquétsias e
protozoários patogênicos” (TAYLOR; COOP; WALL, 2007).
Os carrapatos duros possuem carapaça feita de quitina – enquanto os
machos apresentam-na por todo o corpo as fêmeas só em uma parcela em
decorrência dos futuros ovos que colocarão – sendo parasitas temporários que
preferem regiões como face, orelhas e axilas e são mais ativos em períodos
quentes. O tratamento deles se concentra, basicamente, em aplicações de
acaricidas químicos – a base de organofosforados e piretroides – seja por
aspersão, imersão ou via parental. Seu controle deve ser realizado no período
em que a fêmeas se ingurgita totalmente de mais ou menos uma semana
tomando sempre o cuidado de aplicação correta, embora ainda sejam presentes
controles mais bruscos como o de queima de pastagem ou o de cultivo da terra
e drenagens (TAYLOR; COOP; WALL, 2007).
Os gêneros dos carrapatos duros são variadas: (i) Ixodes: sem olhos e
sem festões como de ovinos, mamonas, de cão, do ouriço, da paralisia, de taiga,
da perna preta e de arbusto; (ii) Dermacentor: de tamanho médio a grande com
festões e olhos como o madeira, americano, de ovinos, de brejo, de cavalo
tropical e de pele; (iii) Haemaphysalis: de estatura pequena e base retangular
como os que apresentam na pele, de amarelo-do-cão, de arbusto, de coelho; (iv)
Rhipicephalus: distribuída na Europa e África sendo vetores de patógenos como
os de orelha, de pele, de cão e azul bovino; (v) Hyaloma: encontrados na partes
inferiores como o Bont-legged, marrom da orelha, da tartaruga terrestre e de
camelo; (vi) Amblyomma: de grande estatura e ornamentados como o estrela
solitária ou o listrado.
Em contrapartida, os ditos carrapatos moles não possuem qualquer
escudo de formação quitinosa, vistos nas regiões epiteliais sob as asas nas quais
se alimenta em curtos períodos e sua picada é geradora de inflamação. Podem-
se encontrar os parasitas tanto no hospedeiro como no meio, estando em
proximidade com seu hospedeiro. Seu tratamento se concentra na aplicação dos
18

acaricidas nos locais de infestação seja nos seres seja nos objetos por aspersão
ou emulsão havendo de ser repetido mensalmente. Já o controle se dá
eliminando as rachaduras nas paredes e nos poleiros que estiverem dispostos
no local (TAYLOR; COOP; WALL, 2007). Dentre os gêneros dos carrapatos
moles pode ser identificar o Argas que são achatados dorsalmente como os de
aves, de galinhas de pombo, e o Ornithodoros, encontrados em regiões tropicais
de hábito noturno como o de areia e o cego.
O carrapato de bovino tropical ou carrapato de bovino do sul – atingindo
também ovinos e caprinos – é o nome comum para designar o carrapato
Boophilus microplus. É identificado por possuir, no estágio adulto, um corpo
retangular com escudo de maneira oval e pernas tingidas de creme-pálido,
embora possa ser encontrado em outras fases com variações de formato de
corpo – oval e largo – e de coloração – marrom-alaranjado. Tal animal é um
exoparasita vetor de doenças como Babesia bigemina e se caracteriza por
habitar um hospedeiro apenas chegando ao pico na estação do verão (TAYLOR;
COOP; WALL, 2007). O rosto desses seres é curto e o capítulo (gnatossoma) de
base hexagonal, possuindo olhos e estigmas cujo formato é circular, embora não
possuam festões e suas placas adanais são de número par (REY, 2008).

2.4.3. Biocarrapaticida
O carrapaticida é uma ferramenta utilizada para o combate de problemas
sanitários, qual sejam, a presença de carrapatos, dentre os vários tipos (BRITO
et al., 2015). Para que ajam com maior efetividade são necessários que se
realizem estudos acerca dos tipos de carrapatos, sua resistência molecular e do
próprio produto do momento de aplicação deste e de sua frequência, uma vez
que aplicado de modo incorreto e/ou desmedido pode ser meio de selecionar os
ectoparasitas mais resistentes.
Os de larga escala utilizados dentre os carrapaticidas são de base
químicas sintéticas e, embora possuam boa resposta, geram problemas
ambientais que o tornam desvantajosos, já que poluem o ambiente e deixam
rastros nos produtos alimentícios extraídos de bovinos (BRITO et al., 2015). Há
algumas opções menos desastrosas para o mesmo fim e que tem tido alguns
resultados satisfatórios nos gados leiteiros como a utilização da ureia e do óleo
eclíptico (VERÍSSIMO; KATIKI, 2015). Além disso, ainda há a opção do controle
19

biológico, ou seja, quanto menos lançar-se mão dos químicos para combater os
problemas com os ectoparasitas mais deixará espaço para que os inimigos
naturais ajam e isso pode servir de auxílio no que tange ao combate deles.
Portanto, para combater o carrapato com eficácia é preciso que antes se
descubra e conheça de onde advém a resistência a fim de conhecendo-a
combater na raiz do problema. Sabe-se, todavia, que ela é genotípica (estando
concentrada no genoma) e fenotípica (com auxílios dos fenótipos). Os métodos
diagnósticos padronizados se fazem possibilidades, como o Teste de Pacote de
Larvas – bioensaio em que se utilizam larvas que são expostas a papéis filtros –
ou o Teste de Imersão de Adultos – utiliza-se de fêmeas ditas ingurgitadas em
ensaios biológicos (VERÍSSIMO; KATIKI, 2015).
Os testes dos carrapaticidas podem ser feitos tanto in vitro – em
laboratório – quanto in vivo – aplicação direta em animais (VERÍSSIMO; KATIKI,
2015). Uma das vantagens dos testes in vitro é a rapidez em que se realiza o
teste e se obtém os resultados e isso é vantajoso uma vez que os carrapatos,
por se tornarem mais resistentes, demandam remédios mais eficazes e quanto
mais tempo leva para obtê-los mais cresce a infestação e mais danos causa esse
animal.
A aplicação desses produtos é feita por banho de aspersão ou de modo
injetável e a utilização de pulverizadores como equipamentos se mostra o mais
adequado, pois é de maior e mais vasto alcance, sem falar que de certo modo é
mais seguro uma vez que os produtos são tóxicos aos seres humanos e esses
instrumentos possibilitam um maior distanciamento físicos destes ao produto em
que estão aplicando (RODRIGUES et al., 2015). Assim, muitos estudos estão
sendo feitos para que se desvende produtos que tenham a mesma ação
carrapaticida que os químicos têm e que sejam biológicos e gerem menos
impactos. Clemente e colaboradores (2007) por exemplo, avaliaram o potencial
das plantas medicinais no controle de carrapatos através de metabólitos
secundários como a nicótica (CLEMENTE et al., 2007). Outro exemplo foi o
estudo realizado sobre o carrapato Rhipicephalus sanguineus que comprovou a
atividade carrapaticida da Piper macedoi Yunck (SANTOS et al., 2018).
Desse modo, a água de manipueira – rica em potencialidades – pode
ainda ser contada entre aquelas que têm propriedades carrapaticidas já que, por
possuir cianetos livres e uma composição que conta com teores elevados do
20

elemento enxofre, que por si só já é de finalidade contra os carrapatos (PONTE,


2006).
21

3. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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24

4. CAPÍTULO 1 – ATIVIDADE CARRAPATICIDA DA ÁGUA DE MANIPUEIRA


SOBRE Boophilus microplus NO EXTREMO SUL DA BAHIA

Breno Meirelles Costa Brito Passos, Lívia Santos Lima Lemos, Rita de Cassia
Francisco Santos, Paulo Vitor Almeida Nascimento, Jeilly Vivianne Ribeiro da S.
B. de Carvalho, Gisele Lopes de Oliveira, Paulo Sérgio Onofre.

Resumo
A mandioca (Manihot esculenta Crantz) é uma planta de raiz tuberosa e alta
capacidade de adaptabilidade a condições edafoclimáticas adversas, cujo
beneficiamento gera resíduos sólidos e líquidos. A água de manipueira é um
resíduo líquido leitoso que oferece diversas possibilidades para o
aproveitamento sustentável, embora apresente teores de ácido cianídrico (HCN)
oriundos de processos cianogênios. Os carrapatos Boophilus microplus são
ectoparasitas que influenciam negativamente a pecuária, uma das mais
relevantes atividades econômicas do Brasil. Objetivou-se nesse trabalho a
realização de testes a fim de avaliar a eficácia carrapaticida da água de
manipueira sobre Boophilus microplus, compondo um quadro de pesquisas que
utilizam produtos naturais em detrimento dos industriais. Para tal, realizou-se o
Teste do Pacote de Larvas (TPL) com diluições da água de manipueira extraída
na variedade Caravela em meio aquoso e adicionando-se adesivos a base de
polvilho. Em ambos os testes, a água de manipueira não possuiu eficiência
carrapaticida em nenhuma das concentrações testadas, mesmo com a adição
de substâncias adesivas. Como só foi utilizado somente a variedade Caravela,
que é predominante na região extremo sul da Bahia até então, é possível que as
concentrações do ácido cianídrico nessa variedade sejam inferiores as
encontradas em outras variedades onde esses testes foram feitos, tendo
eficiência. Assim, é necessário que sejam avaliadas as composições químicas
deste resíduo nas variedades utilizadas no extremo sul baiano, bem como para
avaliar a resistência dos ectoparasitas utilizados na pesquisa.

Palavras-chave: carrapaticida; água de manipueira; teste do pacote de larvas;


mandioca.
25

ANTI-TICK ACTIVITY OF MANIPUEIRA WATER ON Boophilus microplus IN


EXTREMO SUL OF BAHIA

Abstract
Cassava (Manihot esculenta Crantz) is a plant with tuberous root and high
adaptability to adverse edaphoclimatic conditions, whose processing generates
solid and liquid residues. Manipueira water is a milky liquid waste that offers
several possibilities for sustainable use, although it has levels of cyanide acid
(HCN) from cyanogenic processes. Boophilus microplus ticks are ectoparasites
that negatively influence livestock, one of the most important economic activities
in Brazil. The objective of this work was to perform tests to evaluate the anti-tick
efficacy of manipueira water on Boophilus microplus, composing a research
framework that use natural products over industrial ones. For this, the Larval
Packet Test (TPL) was performed with dilutions of the water extracted from the
caravela variety in aqueous medium and the addition of tapioca flour based
adhesives. In both tests, the manipueira water had no tick efficiency at any of the
tested concentrations, even with the addition of adhesives. As only the Caravela
variety was used, which is predominant in the extremo sul of Bahia until then, it
is possible that the concentrations of hydrocyanic acid in this variety are lower
than those found in other varieties where these tests were performed, having
efficiency. Thus, it is necessary to evaluate the chemical compositions of this
residue in the varieties used in the extremo sul of Bahia, as well as to evaluate
the resistance of ectoparasites used in the research.

Keywords: anti-tick; manipueira water; larval packet test; cassava.

Introdução
A cultura da mandioca (Manihot esculenta Crantz) tida como como o
alimento do século XXI, pela Organização das Nações Unidas (ONU), possui
relevância histórica e socioeconômica ímpares principalmente nos países mais
pobres, cujo cultivo e utilização remonta a tempos ameríndios (OTSUBO et al.,
2008). É caracterizada como uma planta de raiz tuberosa, na qual os nutrientes
estão atrelados a inulina e amido, além de ser de fácil propagação graças a sua
alta capacidade de adaptação a condições edafoclimáticas (solo e clima)
adversas e de baixa fertilidade (PLUMBLEY; RICKARD, 1991). Ela serve como
matéria prima para diversos fins, seja para produzir farinha, fécula ou polvilho, e
consumo in natura (CEREDA, 2001).
O beneficiamento da mandioca gera resíduos sólidos (cascas e farelo) e
líquidos, dentre os quais está a água de manipueira, que apresenta índices de
toxicidade, o que pode ser causa de problemas ambientais sérios. Este resíduo
26

é de aspecto leitoso com coloração amarelada e odor ácido que possui


suspensão aquosa e mistura de compostos, bem como conta com a presença
de sais minerais e o glicosídeo cianogênico tóxico, intitulado linamarina
(PAIXÃO, 2009; PONTE, 2001; SARAIVA et al., 2007; MAGALHÃES et al.,
2000). É sabido que o processo de cianogênese libera o chamado ácido
cianídrico (HNC) e cianetos livres a fim de exercer função biológica de proteção
contra animais e microrganismos ao agir em atividades enzimáticas, células
nervosas e hemoglobina (FIORETTO; BRINHOLI, 1985; NASU, 2008;
McMAHON et al. 1995).
A despeito disso, as análises químicas mostram que a composição da
água de manipueira se dá por teores de macro e micronutrientes de nitrogênio
(N), fósforo (P), potássio (K), cálcio (Ca), ferro (Fe), magnésio (Mg) e manganês
(Mn), que fazem com que este líquido tenha diversas potencialidades, como
aqueles listados na Cartilha da Manipueira, de José Júlio da Ponte (2006): o uso
como nematicida, inseticida, acaricida, formicida, fungicida, bactericida,
herbicida, par adubo e em substituição aos agrotóxicos.
O Brasil é um dos países que mais produzem a mandioca e a estimativa
desta produção feita pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística em 2019
é de cerca de 20,2 milhões de toneladas, prevendo um crescimento para a Bahia
de 21,6%. Os dados apresentados pelo IBGE apontam que a cidade de Teixeira
de Freitas, localizada no extremo sul da Bahia, apresenta uma quantidade
produzida da mandioca de mais de mil toneladas em aproximadamente
setecentas mil toneladas totais do estado (BRASIL, 2019). A variedade mais
usada na região é a Caravela, cujo foco é na agricultura familiar, sendo ela uma
fonte de renda e alimentação para determinadas classes, possuindo, a despeito
de sua potencialidade, baixos índices de produtividade (DA SILVA et al., 2009).
A bovinocultura integrando a pecuária, que é uma atividade importante
para o Brasil na qual o faz despontar no mercado internacional, segundo Gomes,
Feijó e Chiari (2017), apresenta problemas ligados aos agentes parasitas que
atacam os animais reduzindo sua produção e rentabilidade no que tange a
produção nacional, como o que acontece por ação do Boophilus microplus, um
dos mais frequentes carrapatos dos bovinos, por ser um ectoparasita vetor de
doenças como Babesia bigemina e se caracteriza por habitar um hospedeiro
apenas chegando ao pico na estação do verão (TAYLOR; COOP; WALL, 2007;
27

VERÍSSIMO; KATIKI, 2015). Ele é identificado por possuir, no estágio adulto, um


corpo retangular com escudo de maneira oval e pernas tingidas de creme-pálido,
embora possa ser encontrado em outras fases com variações de formato de
corpo e de coloração.
Para combatê-los, são utilizados em alta disseminação carrapaticidas de
base química sintética, gerando problemas ambientais e deixando resíduos nos
produtos alimentícios extraídos de bovinos (BRITO et al., 2015). Como
alternativas, estuda-se opções menos desastrosas para o mesmo fim e que tem
tido alguns resultados satisfatórios nos gados leiteiros como a utilização da ureia
e do óleo eclíptico e na utilização de plantas medicinais contra o Boophilus
microplus e o Rhipicephalus sanguineus (VERÍSSIMO; KATIKI, 2015;
CLEMENTE et al., 2007; SANTOS et al., 2018). Os testes carrapaticidas podem
ser feitos tanto in vitro, isto é, em laboratório quanto in vivo, na aplicação direta
em animais (VERÍSSIMO; KATIKI, 2015). Dentre os testes in vitro pode-se citar
dois mais relevantes: Teste de Imersão de Adultos (TIA) e o Teste do Pacote de
Larvas (TPL).
Desse modo, a água de manipueira pode ainda ser contada entre aquelas
que têm propriedades carrapaticidas já que, por possuir cianetos livres, ácido
cianídrico e teores elevados de enxofre, que por si só já é de finalidade contro
os carrapatos (PONTE, 2006). Nessa perspectiva, objetivou-se realizar a
avaliação da atividade carrapaticida da água de manipueira sobre Boophilus
microplus, para fins de indicação de aproveitamento desse resíduo da mandioca
no Extremo Sul da Bahia.

Material e Métodos
Área de estudo
A pesquisa foi desenvolvida no laboratório interdisciplinar da Universidade
Federal do Sul da Bahia (UFSB), campus Paulo Freire, Teixeira de Freitas (BA).
A coleta de material para o teste foi feita em bovinos advindos de propriedades
de agricultores do Extremo Sul Bahia. Foram executadas duas coletas para dois
testes diferentes: uma dia 10 de outubro de 2018 e a outra dia 13 de março de
2019, a fim de comparação de resultados.
28

Coleta de material
Foi utilizada larvas de carrapatos da espécie Boophilus microplus
advindos de fêmeas ingurgitadas coletadas em propriedades rurais diferentes.
Os carrapatos foram coletados manualmente, sendo adquiridos
diretamente da pele dos bovinos. Observou-se um período de carência na
utilização de carrapaticidas sintéticos, de modo que os bovinos não poderiam ter
recebido nenhum tipo de tratamento carrapaticida por pelo menos 25 dias, se na
propriedade fosse utilizado produto que agisse por contato e banho de aspersão,
ou 35 dias, quando o carrapaticida em uso seria do tipo pour on, isto é, aplicado
na linha do dorso ou, ainda, injetável. Este cuidado deveu ser adotado para que
os carrapatos utilizados no procedimento ficassem livres de resíduos, de forma
que não alterasse os resultados do teste. Após a coleta, os carrapatos foram
acondicionados em recipientes de vidro, tampados com uma tela de filó e
transportados ao laboratório da UFSB.

Teste in vitro da atividade carrapaticida


Em ambos os testes in vitro foi utilizado o Teste do Pacote de Larvas (TPL)
em triplicata, segundo metodologia adaptado do descrito por Souza et al. (2008).
As fêmeas ingurgitadas (teleóginas) foram coletadas em um total que
variou de 5 à 10 e passaram por um processo de higienização em água pura,
sendo secas utilizando-se papel toalha e colocadas em placas de Petri em
temperatura ambiente até o período em que se realizou a postura. Após isso, os
ovos foram coletados e acondicionados em uma pipeta de Pasteur selada com
algodão e mantidas em temperatura ambiente, a fim de se aguardar o eclosão.
A temperatura em ambos procedimentos foi a ambiente.
Pelo TPL, as larvas foram divididas em grupos de 100, aproximadamente.
No primeiro teste foram utilizados papéis filtros, em formato de círculo,
embebidos com a água de manipueira recém adquirida em diferentes
concentrações e diluição aquosa (0, 5, 10, 15, 20, 40, 60, 80 e 100%),
empacotados em pacotes de mesmo material (Tabela 1).
29

Tabela 1. Avaliação biocarrapaticida da água de manipueira


extraída da variedade caravela utilizando diferentes
concentrações.

Tratamento % Repetições
0% 3
5% 3
10% 3
Água de Manipueira 15% 3
20% 3
40% 3
60% 3
80% 3
100% 3

No segundo teste, repetiu-se o primeiro e adicionou-se outros dois


componentes adesivos feitos à base de polvilho de mandioca e água: o adesivo
1 foi dissolvido 70g de polvilho em um litro de água e o adesivo 2 foi dissolvido
125g de polvilho em um litro de água (Tabela 2). A escolha do componente
adesivo se deu em virtude dos resultados obtidos por De Faria, De-Poll e Franco
(1985) que comprovaram as propriedades aderentes do polvilho de mandioca
em sementes
Para controle negativo foi utilizado água pura e para controle positivo um
carrapaticida a base de cipermetrina. As larvas, seladas em pacotes, foram
colocadas em uma bacia e dispostas em temperatura ambiente permanecendo
por um período de 24 horas, para então ser avaliada a manipueira em diferentes
concentrações sobre as larvas de Rhipicephalus B. microplus.

Tabela 2. Avaliação biocarrapaticida da água de manipueira extraída da


variedade caravela utilizando diferentes concentrações e adicionando
adesivo em duas concentrações.

Tratamento % Adesivo (ml) Repetições


0% - 3
5% - 3
10% - 3
Água de Manipueira 15% - 3
20% - 3
40% - 3
60% - 3
80% - 3
30

100% - 3
0% 6 3
5% 6 3
10% 6 3
Água de Manipueira +
adesivo de polvilho 15% 6 3
(70g/1L) 20% 6 3
40% 6 3
60% 6 3
80% 6 3
100% 6 3
0% 6 3
5% 6 3
10% 6 3
Água de Manipueira +
adesivo de polvilho 15% 6 3
(250g/1L) 20% 6 3
40% 6 3
60% 6 3
80% 6 3
100% 6 3

Análise de dados
A análise de dados se deu por contagem dos números de larvas vivas e
mortas no papel filtro após o período supramencionado, no qual os envelopes
foram abertos um a um com o auxílio de uma tesoura e luvas para evitar contato.
A contagem foi feita de modo manual e na observação visual, já que a condição
das larvas eram passíveis de diferenciação e identificação por este método.

Resultados e Discussão
Após a realização do primeiro teste de avaliação carrapaticida da água de
manipueira sobre o carrapato Boophilus microplus não foi verificado eficiência
em nenhuma das concentrações utilizadas (Tabela 3). Em contrapartida, os
resultados encontrados por da Ponte (2002) na avaliação da eficácia do resíduo
da mandioca sobre a mesma espécie de carrapato no estado do Ceará
mostraram-se positivos. Os dois teste se diferenciam quanto a metodologia
utilizada, uma vez que, ao contrário do utilizado neste teste in vitro, o estudo feito
no Ceará foi realizado com metodologia de pulverização, tanto no animal quanto
no ambiente, aplicando diluições de água de manipueira com o auxílio de
substâncias adesivas, que não influenciaram nos resultados obtidos, segundo o
mesmo autor.
31

Tabela 3. Avaliação da eficiência carrapaticida da água de manipueira em diferentes


diluições.
Tratamentos Avaliação carrapaticida
Controle positivo Morte de todos as larvas
Água de manipueira em todos as concentrações Não se verifica

Controles negativos Não se verifica

Repetiu-se, então, o teste adicionando substâncias aderentes em duas


concentrações. Em algumas das repetições dos testes, observaram-se a morte
de larvas, porém o aspecto que estas adquiriram ao morrer não permite inferir
que tenha sido por ação do resíduo testado, o que se deduz do fato de que as
repetições destes não tiveram resultado semelhante. Ademais, os testes a que
as larvas foram submetidas à somente adesivos e água comum mostraram que
tais substâncias não interferiram nem positiva nem negativamente no
experimento.
Deste modo, pode-se propor três hipóteses: a primeira é a de que a água
de manipueira oriunda da variedade Caravela utilizada no Extremo sul da Bahia
possui uma constituição química diferente daquela encontrada em outras regiões
de modo que não é deveras eficaz para agir contra os carrapatos; a segunda é
a de que os carrapatos, devido aos carrapaticida utilizados frequentemente em
propriedades rurais, tenham adquirido de tal modo uma resistência que não mais
são suscetíveis à ação do biocarrapaticida testado; e, por fim, a terceira é de que
a ação da manipueira sobre as larvas não se verifica, mas somente sobre as
teleóginas. Esta última, porém, implica dois problemas: o primeiro é de que os
estudos feitos no Ceará por da Ponte (2002) mostram que foi despejada a
manipueira no estabulo, de modo que se somente fosse eficiente sobre as
fêmeas ingurgitadas, as vacas novamente seriam infestadas, uma vez que as
larvas ainda permaneceriam no ambiente; já o segundo é de que não se poderia
dizer que o resíduo possui eficácia carrapaticida se somente agisse em uma
estágio do desenvolvimento do parasita e não em todos, bem como se só agisse
nas fêmeas e não nos machos.
Convém destacar algumas particularidades que ocorreram no segundo
teste. Em uma das repetições dos testes, a que as larvas foram submetidas a
60% de água de manipueira em meio aquoso sem adesivo, identificou-se a morte
32

de nove delas, o que não se reproduziu nas outras da mesma diluição. Na


utilização do adesivo 70g/1L, detectou-se que as larvas se movimentam menos
no papel filtro, o que se acredita que é em virtude do adesivo, pois algumas
ficaram grudadas nos papeis. Além disso, em dois testes a 40% e a 60% com o
mesmo adesivo, constatou-se a morte de duas e quatro larvas, respectivamente
de um total de aproximadamente 100 em cada repetição da concentração.
Por fim, na utilização do adesivo 250g/1L observou-se larvas imóveis que,
possivelmente, estariam mortas, embora em quantidade que torna inviável
indicar este resíduo como biocarrapaticida, bem como as repetições não
apresentaram consistências que permitam estabelecer um padrão: no teste de
15%, em uma repetição contou-se três mortos e em outra seis mortos; já no teste
de 20% em uma repetição morreram dez e em outra quatro; uma repetição de
40% de diluição viu-se sete morto; no de 60%, identificou-se seis mortos em uma
das repetições e nas outras um morto em cada; em 80% viu-se em somente que
em uma repetição morreram quinze; e, por fim, em 100% viu-se em uma das
repetições dezenove mortos e em outra trinta e oito mortos. O total de larvas por
papel filtro para todos os testes foi de aproximadamente 100 em cada repetição
(Tabela 4).

Tabela 4. Avaliação biocarrapaticida da água de manipueira


extraída da variedade caravela utilizando diferentes concentrações
e adicionando adesivo em duas concentrações.

Tratamento % Avaliação carrapaticida


0% NV*
5% NV*
10% NV*
Água de Manipueira 15% NV*
20% NV*
40% NV*
60% NV*
80% NV*
100% NV*
0% NV*
5% NV*
10% NV*
Água de Manipueira +
adesivo de polvilho 15% NV*
(70g/1L) 20% NV*
40% V*
60% V*
33

80% NV*
100% NV*
0% NV*
5% NV*
10% NV*
Água de Manipueira +
adesivo de polvilho 15% V*
(250g/1L) 20% V*
40% V*
60% V*
80% V*
100% V*
*NV: Não se verifica / *V: Verificou-se algumas larvas mortas.

Conclusão
Os testes realizados com a água de manipueira advinda da variedade de
mandioca Caravela no extremo sul baiano, seguindo a metodologia do Teste do
Pacote de Larvas (TPL), não permitem garantir uma eficiência carrapaticida em
nenhuma das concentrações testadas, mesmo com a adição de substâncias
adesivas a base de polvilho. Apesar de ser constatado morte de larvas em várias
concentrações utilizadas no teste adicionando adesivo, os resultados não foram
consistentes. Todavia, dado que existem trabalhos que mostram a eficácia deste
resíduo contra os carrapatos Boophilus microplus, sugere-se que se realize a
caracterização química da manipueira produzida na região e/ou testes quanto a
resistência deste ectoparasita.

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36

5. CAPÍTULO 2 – AVALIAÇÃO DA ATIVIDADE REPELENTE DA ÁGUA DE


MANIPUERIA SOBRE Boophilus microplus NO EXTREMO SUL DA BAHIA

Breno Meirelles Costa Brito Passos, Gisele Lopes de Oliveira, Lívia Santos Lima
Lemos, Rita de Cassia Francisco Santos, Paulo Vitor Almeida Nascimento, Jeilly
Vivianne Ribeiro da S. B. de Carvalho, Paulo Sérgio Onofre.

Resumo
A água de manipueira é um resíduo líquido do beneficiamento da mandioca
(Manihot esculenta Crantz), apresentando elevada toxicidade por possuir o ácido
cianídrico (HCN), causador de efeitos adversos na biota. Os carrapatos
Boophilus microplus, concomitantemente, são agentes causadores de
instabilidades na pecuária, importante atividade econômica no Brasil. Objetivou-
se, neste estudo, a avaliação do efeito repelente da água de manipueira sobre
tais ectoparasitas. A metodologia utilizada embebeu determinada extensão de
palitos de churrasco com a solução e nele colocou com o auxílio de pincel os
carrapatos para observação visual de sua movimentação. Os resultados
mostraram-se negativos para o efeito repelente da água de manipueira sobre os
carrapatos, de modo que não se pode determinar este fim como aproveitamento
sustentável. Nessa perspectiva, conclui-se que é necessária uma caracterização
química do resíduo da mandioca a fim de determinar os teores de ácido
cianídrico presentes nela.

Palavras-chave: repelente; água de manipueira; mandioca; carrapatos; Bahia.

EVALUATION OF THE REPELLENT ACTIVITY OF MANIPUERIA WATER ON


Boophilus microplus IN EXTREMO SUL OF BAHIA

Abstract
Manipueira water is a liquid residue from the processing of cassava (Manihot
esculenta Crantz), presenting high toxicity due to its hydrocyanic acid (HCN),
which causes adverse effects on biota. Boophilus microplus ticks, concomitantly,
are agents that cause instability in livestock, an important economic activity in
Brazil. The objective of this study was to evaluate the repellent effect of
manipueira water on such ectoparasites. The methodology used soaked a certain
length of barbecue sticks with the solution and placed the ticks with the aid of
brush for visual observation of their movement. The results were negative for the
repellent effect of manipueira water on the ticks, so this end cannot be determined
as sustainable use. Nessa perspectiva, conclui-se que é necessário uma
caracterização química do resíduo da mandioca a fim de determinar os teores
de ácido cianídrico presentes nela.

Keywords: repellent; manipueira water; cassava; ticks; Bahia.


37

Introdução
A mandioca (Manihot esculenta Crantz), conhecida como pão-de-pobre,
é, na verdade, uma rica fonte de carboidratos e atualmente é tida como alimento
do século pela Organização das Nações Unidas (ONU), embora sua utilização
se dê há tempos em território nacional, influenciando, inclusive, a política após a
independência com o projeto de Constituição da Mandioca de 1823 (ROSÁRIO,
1986). Ela caracteriza-se por uma planta arbustiva cuja raiz é tuberosa – raízes
que crescendo abaixo da terra têm seus alimentos armazenados juntamente com
inulina e amido -, de fácil propagação, em virtude da tolerância a diferentes
condições de solo e clima, mesmo as de baixa fertilidade, segundo Plumbley e
Rickard (1991). Esta raiz pode ser consumida in natura e o beneficiamento dela
se dá, principalmente, pela produção de fécula e farinha, em que há resíduos
sólidos e líquidos, como é o caso água de manipueira (CEREDA, 2001).
A água de manipueira é um líquido que possui coloração amarelada e é
formado por uma miscelânea de compostos, dentre os quais se nota a soberania
de fósforo e potássio (FIORETTO, 2002). Identifica-se que este resíduo possui
odor ácido em virtude da elevada toxicidade advinda de processos cianogênicos
e do ácido cianídrico (HCN) que tem ação sobre atividades enzimáticas e podem
causar problemas ambientais diversos (PONTE, 2001; FIORETTO; BRINHOLI,
1985). Porém, a despeito desses reveses, esse líquido possui aproveitamentos
sustentáveis, como fica exposto na Cartilha da Manipueira, de José Júlio da
Ponte (2006), na qual o autor elenca a utilização como formicida, herbicida e
acaricida.
A bovinocultura caracteriza-se como uma atividade de relevância nacional
que enfrenta problemas no que concerne ao combate aos agentes parasitas,
uma vez que estes reduzem a produção e rentabilidade da atividade, de acordo
com Veríssimo e Katiki (2015), dentre os quais se verifica o Boophilus microplus
como ectoparasita altamente disseminado. Segundo Taylor, Coop e Wall (2007),
este animal busca hospedeiro para habitar no pico da estação do verão, sendo
vetor de doenças como, por exemplo, a Babesia bigemina. Para combater este
parasita vale-se, mormente, de alternativas químicas sintéticas que acarretam
malefícios para o meio ambiente e deixam resíduos nos produtos, bem como,
em virtude de seu uso desregrado, servem de meios para a promoção do
desenvolvimento da resistência destes animais (BRITO et al., 2015; CHAGAS et
38

al., 2002). Deste modo, nota-se um incessante trabalho no que concerne à busca
por alternativas que possuam substâncias cuja ação sobre eles seja verificável
e sejam de origem orgânica (CHAGAS et al., 2012).

Material e Métodos
Área de estudo
A pesquisa realizou-se na Universidade Federal do Sul da Bahia (UFSB),
campus Paulo Freire, Teixeira de Freitas (BA), cujos materiais para
desenvolvimento do teste foram coletados em propriedades presentes no
Extremo Sul da Bahia. As fêmeas ingurgitadas da espécie Boophilus microplus
foram coletadas e armazenadas em laboratório, após higienização, a fim de se
aguardar o período de postura dos ovos, que foram colocados no interior de uma
pipeta de Pasteur para que ocorresse a eclosão em temperatura ambiente. Por
não haver estufa B.O.D., este procedimento tornou-se factível em virtude das
condições climáticas que se verificam.

Coleta de material
A coleta dos ectoparasitas foi feita manualmente diretamente da pele dos
bovinos. O período transcorrido desde a última aplicação de produtos sintéticos
foi um critério observado, pois os bovinos não poderiam ter sido tratados pelo
menos 25 dias para carrapaticidas tópicos e 35 dias para carrapaticidas
injetáveis ou aplicados na linha dorso. Os carrapatos foram colocados em
recipientes de vidro, selados com tela de filo e levados ao laboratório.

Teste in vitro de repelência


O teste de repelência utilizado foi adaptado do preconizado por Chagas e
Rabelo (2012), em cujo trabalho ficou estabelecido este como o melhor método
dentre todos os testados. Os palitos de churrasco utilizados foram de 25 cm no
qual 15 cm permaneceram sem contato com a solução e os outros 10 cm foram
imersos em soluções de diluição da água de manipueira em meio aquoso (0, 5,
10, 15, 20, 40, 60, 80 e 100%) por 15 minutos. Após este período, a parte seca
dos palitos foram cravados em papeis filtro em forma de círculo. A base foi feita
fixando-se estes palitos em uma tira de papelão em copos de plásticos e a parte
externa foram placas de Petri com água em pequena quantidade. Este
39

procedimento foi feito em triplicata para cada concentração, incluindo o controle


negativo em que se utilizou água comum (Tabela 1). Por fim, as larvas de
carrapato em grupos de 100 foram colocadas com o auxílio de um pincel na parte
seca do palito.

Tabela 1. Diluições da água de manipueira para teste de repelência e suas repetições


Tratamento % Repetições
0% 3
5% 3
10% 3
Água de Manipueira 15% 3
20% 3
40% 3
60% 3
80% 3
100% 3

Análise de fator repelente


A análise se deu com a observação visual da trajetória dos carrapatos ao
longo do palito por 24 horas, pois, embora a metodologia preconizasse uma
bomba a vácuo, identificou-se que as condições locais tornavam possível a
identificação pelo método ocular.

Resultados e Discussão
Os resultados obtidos mostraram que o efeito repelente da água de
manipueira advinda do extremo sul baiano não se verifica em nenhuma das
concentrações a que os carrapatos foram submetidos. Identificou-se que, logo
após serem colocadas no palito, as larvas começaram a se mover em massa
para a ponta deste onde havia sido embebido com a substância. A metodologia
empregada preconizava que o efeito repelente da substância utilizada seria
comprovado se os ectoparasitas caminhassem em oposição ao lado embebido
por ela e não ao encontro desta, como aconteceu.
Em decorrência do fato de não se haver encontrado trabalho algum que
se tenha estudado o efeito repelente do resíduo líquido da mandioca não é
possível que se faça uma comparação de dados com seus pares. Todavia,
ressalta-se que os resultados encontrados por Chagas e Rabelo (2012) provam
40

a eficiência do teste realizado na identificação da ação repelente avaliando


bioativos.
Trabalhos realizados por da Ponte (2006) mostraram a eficiência acaricida
da água de manipueira sobre os carrapatos Boophilus microplus. Segundo o
autor, o uso da manipueira em vacas infestadas mostrou-se tão eficaz quanto os
carrapaticidas sintéticos industriais, provocando a morte do total desses
organismos. Neste estudo, seria possível supor que a manipueira agiu como
repelente sobre as vacas, já que ficou determinado que o resíduo fosse
despejado nos animais, afastando os parasitas dos bovinos e não os eliminando
de fato. Porém, os resultados alcançados no presente trabalho com foco
repelente, expõe que tal hipótese não é comprovada na realidade, visto que as
larvas não se mostraram minimamente incomodadas com a substância.

Conclusão
Os resultados alcançados permitem concluir que água de manipueira não
possui eficiência repelente em nenhuma das soluções a que os carrapatos
Boophilus microplus foram submetidos. Sabe-se, porém, que o ácido cianídrico
(HCN) contido neste resíduo da mandioca é prejudicial a biota, e, por constatar-
se que este não teve ação sobre os carrapatos, sugere-se uma caracterização
química da água de manipueira oriunda do Extremo Sul da Bahia, com finalidade
de determinação dos teores do ácido que a compõe.

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42

6. CONCLUSÕES GERAIS
Os resultados alcançados nos testes de ação carrapaticida não
constataram estatisticamente uma ação biocarrapaticida da água de manipueria
obtida da variedade de mandioca (Manihot esculenta Crantz) Caravela no
Extremo Sul baiano contra os carrapatos Boophilus microplus em nenhuma das
concentrações testadas.
Em consonância, os resultados da ação repelente mostraram a
ineficiência da água de manipueira em repelir os mesmo ectoparasitas. A partir
dos resultados obtidos, recomenda-se a realização de estudos com o objetivo de
determinação e caracterização química da água de manipueira, a fim de precisar
a composição deste resíduo produzido na região do Extremo Sul, diferenciando-
a das demais, bem como testes quanto a resistência do carrapato usado na
pesquisa. Presume-se que com a realização de tais testes se poderá obter dados
mais conclusivos.
43

ANEXOS

Figura 1. Carrapatos Boophilus microplus em recipiente de vidro após a coleta

Figura 2. Carrapatos Boophilus microplus em placa de Petri

Figura 3. Carrapatos Boophilus microplus colocados para postura em placa de


Petri
44

Figura 4. Carrapatos Boophilus microplus após postura dos ovos

Figura 5. Larvas dos carrapatos Boophilus microplus acondicionados em


pipetas de Pasteur antes da eclosão dos ovos (A e B) e após essa eclosão (C)

Figura 6. Larvas dos carrapatos Boophilus microplus em pipetas de Pasteur


antes da ser aberta (A) e após ser aberta (B e C)
45

Figura 7. Avaliação da atividade repelente da água de manipueira sobre


carrapatos Boophilus microplus (A e B)

Figura 8. Teste do pacote de larvas para a avaliação da atividade carrapaticida


da água de manipueira sobre carrapatos Boophilus microplus

Figura 9. Diluições da água de manipueira para a realização dos testes


46

Figura 10. Material para testes

Figura 11. Contagem da quantidade de larvas de carrapato vivas e mortas no


papel filtro após 24 horas para o teste carrapaticida

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