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Caracterização e modelamento de depósitos minerais

Luiz Henrique Ronchi


Fernando Jacques Althoff
Zara Gerhardt Lindenmayer

Introdução

A indubitável importância dos recursos minerais, metálicos, industriais ou


energéticos para a sobrevivência e conforto da sociedade humana movimentou ao longo da
história somas enormes de investimentos financeiros, tecnológicos, intelectuais e militares
com retorno igualmente significativo. Para dimensionar essa importância basta considerar
quantos itens essenciais para a construção de uma casa – do tijolo ao fio de cobre –
dependem diretamente dos recursos minerais. Ou lembrar que todos os tipos de transporte
modernos, incluindo a transmissão de BITs, também dependem destes recursos. A
complexidade do desafio de abastecer a crescente demanda dos diversos setores industriais,
agropecuário, e de construção civil cresceu exponencialmente a partir das primeiras
tentativas de sistematização efetuadas por Agrícola no século XVI, com a publicação do
livro “De Re Metálica” em 1556. A metodologia exploratória empírica empregada desde o
período clássico pelos romanos, e repetida pelos bandeirantes e garimpeiros, dificilmente
terá o mesmo sucesso no mundo atual. A razão é simples, pois os depósitos minerais
aflorantes em regiões de acesso relativamente fácil já foram, na sua grande maioria, todos
encontrados. Para localizar depósitos minerais não aflorantes são necessários conceitos e
técnicas modernos que resultam de uma evolução sócio-científica secular.
O estabelecimento da Geologia como disciplina científica independente data da
publicação de seus princípios básicos no livro Theory of the Earth with Proof and
Illustration de James Hutton em 1785. Seu caráter descritivo e catalográfico floresceu ao
longo do século XIX, contou com a importante contribuição de Charles Darwin e culminou
com o grande debate provocado pela teoria da deriva continental do meteorologista alemão
Wegener. Essa síntese dos conhecimentos da época foi rejeitada por seu caráter
essencialmente naturalista e pela conseqüente ausência de mecanismo físico que explicasse
a mobilidade continental. Após a morte de Wegener, em 1930, as diversas disciplinas
criadas dentro da geologia, como a paleontologia, a mineralogia e petrologia, a
metalogenia, a geofísica e a geoquímica prosseguiram seu desenvolvimento individual,
fragmentando-se em especializações lineares, objetivas e confortáveis em seu nicho
específico.
Paralelamente a esse progresso disciplinar geológico desenvolveu-se o debate
político sobre a questão da posse do continente antártico. O que era uma fonte potencial de
discórdia durante o período da guerra fria transformou-se em colaboração científica
materializada pelo Ano Geofísico Internacional. A cada onze anos o sol passa por um
período de grande atividade ou de calma, 1957-1958 foi um período de grande atividade
solar favorável ao estudo dos efeitos físicos, elétricos e eletromagnéticos sobre a Terra.
Para desvendar os segredos do planeta tornou-se necessário um estudo integrado do globo
em seu contexto cósmico. Esse objetivo científico comum reuniu diversos países ocidentais
e a então União Soviética, fato inédito na época, que instalaram estações científicas na
Antártica e desenvolveram estudos em cooperação. Um dos resultados políticos foi o
Tratado da Antártica (Victor & Victor, 1992).
A Teoria da Tectônica de placas foi outro resultado da evolução do conhecimento
geológico catalisado pelo esforço de integração desenvolvido durante o ano geofísico
internacional que permitiu o rompimento de barreiras entre as disciplinas básicas da
geologia, por exemplo, (geo)física, (geo)química, e biologia (paleontologia), criando um
consistente arcabouço intelectual que descreve o funcionamento do planeta Terra (Allègre,
1983). A Geologia Econômica e a exploração mineral foram profundamente afetadas por
essa integração e teoria à medida que o acúmulo de dados empíricos e descritivos,
caracterizando os depósitos minerais, passou a ser interpretado em termos conceituais
interpretativos de seu modelamento.

Modelo geológico, gênese de depósitos minerais e exploração mineral

Modelo é por definição uma “hipótese de trabalho ou simulação precisa, por meio de
descrição, dados estatísticos, ou analogia, de um fenômeno ou processo que não pode ser ou
que dificilmente é observado de forma direta” (Bates & Jackson, 1987). É uma construção
intelectual cujo objetivo é ligar aspectos geológicos observados com o depósito mineral que
se procura encontrar (Barton Jr. 1993). Hodgson (1993) enfatiza o duplo aspecto empírico
e/ou conceitual envolvido em modelamento de depósitos minerais. Enquanto o primeiro trata
de feições descritivas (tipologia), o segundo é uma explicação dessas feições em termos de
processos geológicos, contendo elementos interpretativos das relações entre as feições
observadas em campo. As hipóteses de gênese de depósitos minerais, por seu caráter mutável
e transitório, transformadas pelos avanços das ciências geológicas, são e devem permanecer
apenas uma parte dos modelos. Programas de exploração mineral progridem pela redução
gradual do tamanho das áreas em exploração, até que seja encontrada uma jazida. Modelos
geológicos constituem desta maneira a base para prever quais são as áreas potencialmente
mais favoráveis para o desenvolvimento deste processo.

Construção de modelos

A proposição de modelos geológicos por meio da caracterização do minério e suas


encaixantes imediatas, definição dos controles geológicos que condicionam essas
mineralizações e comparações com outros depósitos, são objetivos que podem ser alcançados
com o uso integrado de métodos e ferramentas diversos, alguns tradicionais, outros mais
sofisticados e de acesso mais difícil. Tais trabalhos são realizados em escalas regionais
(sensoriamento remoto, geofísica aérea), locais (geoquímica de sedimentos de corrente,
geofísica terrestre, mapeamento de detalhe), macroscópicas, microscópicas (petrografia) e
nanoscópicas (geoquímica).
Os depósitos minerais são normalmente descritos por meio de características obtidas
em campo e em laboratório, como a forma e estrutura do corpo mineralizado, a paragênese
mineral e suas texturas, a ganga, os metais e o zoneamento, tanto dos minerais de minério
como das possíveis alterações existentes. O estudo da forma e distribuição, extremamente
importante para a elaboração de projetos de lavra, permite estabelecer os controles maiores do
corpo mineralizado que podem ser litológicos, estruturais ou mesmo hidrotermais. Essas
características básicas são reflexos dos processos de formação e evolução dos minérios, sejam
eles intempéricos, sedimentares, diagenéticos, metamórficos, magmáticos ou hidrotermais.
Para a execução deste tipo de caracterização são realizados trabalhos de campo em
resultado dos quais obtêm-se mapas geológicos em diversas escalas, mapas geofísicos e
geoquímicos, mapas de poços e trincheiras, perfis de sondagem, em linhas transversais
sucessivas, que cortem o minério e suas encaixantes imediatas. Esses mapas e perfis
geológicos são descritos detalhadamente, visando encontrar possíveis relações entre as rochas
encaixantes, alterações hidrotermais, feições estruturais e a mineralização. Os dados assim
colhidos são utilizados para determinar a distribuição dos diversos tipos de rochas e minério
em escalas convenientes e a sua sucessão cronológica. A descrição detalhada de testemunhos
de sondagem contribuirá para o entendimento da distribuição espacial, vertical e horizontal,
dos tipos de minério e das possíveis alterações das rochas encaixantes. Este estudo,
complementado com as análises petrográficas, minerográficas e de química mineral,
propiciará a reconstrução, por exemplo, da zonalidade geoquímica e termal, levando à
reconstrução dos modelos geológico, hidrológico e do sistema hidrotermal extinto.
Em laboratório os trabalhos envolvem estudos petrográficos, microestruturais,
minerográficos, geoquímicos e de inclusões fluidas, que constituem uma memória ou registro
da evolução do depósito mineral. As descrições petrográficas e minerográficas detalhadas,
além de essenciais para a caracterização litológica e mineralógica, serão importantes para a
compreensão da sucessão paragenética. Elas permitirão estabelecer as relações temporais e
espaciais existentes entre os minerais de minério e suas gangas, o que propiciará uma melhor
compreensão da evolução geológica do depósito. Para isso também contribuirá o estudo
microestrutural detalhado, principalmente, por exemplo, de zonas de brechas.
As análises químicas dos elementos maiores, terras raras e em traço, incluindo os
elementos que irão indicar a afiliação ou afiliações do depósito (Au, Ag, As, Pb, Zn, Cu, Mo,
Sn, B, Ba, Rb, Sr, U, Th, Hg, Ta, Ga e Hf) propiciarão a caracterização química das rochas e
também permitirão que sejam estabelecidas e quantificadas as perdas e ganhos havidos
durante os processos mineralizantes e de alteração hidrotermal.
Uma ferramenta importante para a definição de relações estratigráficas, é a
utilização de isótopos radiogênicos e técnicas de geocronologia. As análises
geocronológicas visam estabelecer a idade da mineralização com base nas suas relações
com os diversos tipos de rochas ígneas presentes. Em associação com os dados estruturais,
estas informações poderão permitir que se estabeleça uma relação entre o período da
mineralização e os eventos tectono-termais (magmatismo, hidrotermalismo) que afetaram o
depósito mineral. Por outro lado o estudo do fracionamento de isótopos estáveis e da
composição isotópica pode informar sobre a origem e condições de formação de minerais e
minérios.
O uso de técnicas espectroscópicas pontuais como microssonda eletrônica ou
microscopia eletrônica de varredura permitirá não só caracterizar o minério e suas encaixantes
imediatas, mas também ter uma idéia do tipo de alterações presentes e da natureza dos fluidos
responsáveis pela formação desses minerais. Como é sabido, muitos minerais hidrotermais são
estáveis em intervalos bem definidos de temperatura, pressão e pH-PO2. Por meio da análise de
minerais ou pares de minerais convenientes, também podem ser obtidos dados
geotermobarométricos, importantes na reconstrução do ambiente físico-químico de formação
do minério.
Informações essenciais sobre a natureza (composição), temperatura e pressão de
aprisionamento dos fluidos responsáveis pelas mineralizações e alterações hidrotermais são
obtidas pelo estudo das inclusões fluidas associadas à grande maioria dos depósitos minerais.
Esta técnica é a única maneira direta de exame dos fluidos primários e secundários presentes
em sistemas hidrotermais originais, que podem ser preservados em um mineral na forma de
fósseis petrológicos. O método inclui petrografia detalhada dos diversos tipos de inclusões
fluidas presentes, microtermometria e, se necessário, outras técnicas complementares, entre
elas microespectroscopia Raman e microscopia eletrônica de varredura.

Complexidade dos modelos

A natureza, extremamente variada e a primeira vista caótica, das características dos


depósitos minerais faz de cada um deles um caso singular. É necessário, portanto, procurar
elementos em comum que permitam classificar os depósitos em tipos consistentes e agrupá-
los em modelos compatíveis. Por exemplo, os principais depósitos de fluorita brasileiros
podem ser agrupados em três tipos: 1- filoneano, 2- estratóides (stratabound) e 3-
associados a carbonatitos. Os filões catarinenses são caracterizados por uma forma planar
vertical condicionada por e preenchendo grandes falhas, são ligados a processos de
lixiviação do flúor das encaixantes e depositados em quatro fases sucessivas de crescimento
de cristais centimétricos coloridos, com idade entre cretácea e terciária. Possuem assinatura
granítica de elementos terras raras (forte anomalia negativa de európio) e temperaturas do
sistema hidrotermal inicialmente em torno de 230ºC caindo até 170ºC, conforme indicam
os valores máximos e mínimos obtidos a partir do geotermômetro da alteração clorítica do
granito encaixante, seguindo por um processo continuado de resfriamento no qual cada uma
das quatro fases de fluorita apresenta inclusões fluidas com temperaturas de
homogeneização sucessivamente mais baixas entre 150 e 90ºC. Em contraste, os depósitos
estratóides do Vale do Ribeira (PR-SP) onde predominam texturas de substituição de
rochas metacarbonáticas, são constituídos principalmente por fluoritas microcristalinas,
eventualmente estratificadas e brechóides macrocristalinas, com idade proterozóica
superior e padrões de distribuição de terras raras horizontalizados. Devido a uma história
longa, esses depósitos sofreram uma evolução complexa, com diversas fases de
remobilização e recristalização, refletidas pelas assinaturas isotópicas (Sm - Nd, Sr87 - Sr86),
onde apenas a influência da última fase, relacionada ao sistema hidrotermal criado pelas
intrusões alcalino-carbonatíticas cretáceas, ficou registrada por inclusões fluidas. Este
evento magmático regional distribuído em torno da Bacia do Paraná é representado por
alguns carbonatitos com fluorita disseminada (e. g. Barra do Itapirapuã, PR), em teores não
econômicos e, curiosamente, a uma dezena de quilômetros a sul desse local, pelo maior
depósito de fluorita do Vale do Ribeira, e único na região, associado a um complexo
alcalino carbonatítico, o de Mato Preto. Esse minério de fluorita também possui texturas
micro e macrocristalinas características e assinatura geoquímica enriquecida em elementos
terras raras leves, enquanto que sua fluorita, se analisada isoladamente, apresenta um
padrão horizontal, similar ao das fluoritas estratóides. A situação peculiar de Mato Preto, no
cruzamento do Lineamento Ribeira com a Falha de Morro Agudo, local favorável tanto
para a formação de um depósito de fluorita estratóide, quanto para a intrusão de rochas
alcalino-carbonatíticas, permite supor uma história complexa iniciada no Proterozóico,
como os demais depósitos estratóides, seguida de diversas recristalizações relacionadas às
intrusões graníticas brasilianas e culminando com um enriquecimento e remobilização,
propiciados pelos fluidos relacionados ao sistema hidrotermal criado pelas intrusões
carbonatíticas cretáceas (Ronchi et al. 1993b). Esse modelo geológico sugere a prospecção
nos lineamentos estruturais, em especial zonas de cruzamentos de falhas, e não favorece a
exploração de fluorita em carbonatitos e permite especulações interessantes sobre a
ocorrência de depósitos de fluorita na provável continuação do Lineamento Ribeira no
continente africano (Ronchi et al. 1993a).
Muitas vezes, conforme enfatizado por Laux e Lindenmayer (2000), os dados
geológicos disponíveis não são suficientes para a proposição de um modelo geológico
consistente ou enquadrá-lo em um existente. No caso das Minas do Camaquã as diversas
propostas ao longo de um século de estudos variaram entre modelos hidrotermal-
magmático, sedimentar singenético a diagenético (Red Beds) e finalmente epigenético,
todos superpostos por fenômenos de enriquecimento supérgeno. Cada um deles foi válido
no contexto geológico da época e para o segmento das minas estudado. Entretanto,
conforme concluem Ronchi et al. (2000), o importante é que os fluidos mineralizantes
teriam sido inicialmente focalizados em falhas e posteriormente distribuídos paralelamente
à estratificação das rochas encaixantes. Desta maneira a procura de trends estruturais e a
determinação da geometria de estratos que poderiam ser favoráveis à focalização do fluxo
de fluidos, seja qual for a sua origem, parece um enfoque razoável para prospecção na
região das Minas do Camaquã.

A contribuição deste livro

A complexidade dos depósitos minerais e a dificuldade para a elaboração de


modelos têm um exemplo notável na Província Mineral de Carajás, objeto central da
primeira parte deste livro. Para os depósitos minerais da Serra dos Carajás diversos
modelos têm sido propostos desde a sua descoberta na década de 1970. Do modelo
vulcano-sedimentar exalativo, inicialmente proposto, passou-se a um modelo considerando
o cobre como singenético vulcano-exalativo, enquanto outros metais como o Au seriam
relacionados a fluidos provenientes de granitóides (1,8 Ga.). Alternativamente relações com
fluidos provenientes de granitos de idade 2,6 Ga., assim como referências ao modelo de
cobre porfirítico também foram consideradas. Entretanto, não se deve esquecer que as
grandes jazidas de ferro de Carajás, bem como as de manganês do Igarapé Azul, o níquel
do Vermelho e o depósito de Au, já esgotado, da mina do Igarapé Bahia, se devem a
processos lateríticos separados temporalmente dos processos hidrotermais – magmáticos,
responsáveis pelo proto-minério, por mais de 2,0 Ga. Embora alguns autores considerem
possível reunir, por exemplo, mineralizações de cobre porfirítico e o produto de sua
oxidação e enriquecimento supérgeno em um modelo único, as vantagens dessa abordagem
são controversas. Trata-se de uma questão de perspectiva e de bom senso, onde se opta
naturalmente pelo modelo mais eficiente em termos de exploração mineral.
O primeiro capítulo apresenta a discussão de Althoff et al. sobre a composição de
uma crosta anterior a 2,98 Ga. com base nas características petrográficas e químicas de
metapelitos que ocorrem como megaenclaves no Tonalito Arco Verde, terreno granito-
greenstone de Rio Maria, no estado do Pará. Nos últimos anos o Grupo de Pesquisa em
Metalogenia de Cu e Au e Evolução Geológica de Carajás estruturou uma seqüência de
trabalhos de detalhe para a elaboração de modelos. Em razão das especificidades da região
de Carajás, especial atenção é dedicada a processos hidrotermais. Atualmente, como
discutido e detalhadamente descrito por Laux et al., no segundo capítulo deste livro, o
modelo óxido de ferro (Cu-U-Au-ETR) é o mais aceito em conformidade com o grande
volume de dados existentes. Uma revisão sobre o depósito de Cu-Au do Salobo, incluindo
informações já publicadas e originais, descrevendo a ferrificação das rochas vulcânicas
máficas e félsicas por processos hidrotermais, preparada por Lindenmayer, é seguida por
estudos sobre os anfibólios cálcicos das rochas máficas, hospedeiras da mineralização dos
depósitos de Cu-Au do Salobo, Igarapé Bahia e Gameleira. As características geoquímicas
dos anfibólios cálcicos, apresentadas por Gomes e Lindenmayer reafirmam a extensão e
intensidade da alteração hidrotermal que afetou as rochas da região. A geoquímica das
turmalinas, também associadas aos minérios dos depósitos de Cu-Au do Salobo, Gameleira
e Igarapé Bahia, de autoria de Rennau e Lindenmayer, mostra a dependência da interação
rocha-fluido na composição química destes borossilicatos formados tardiamente em relação
à uma alteração de composição potássica. Os textos sobre a interação fluido–rocha e a
trajetória pressão-temperatura-tempo (P-T-t) específicos do Alvo Gameleira, preparados
por Fleck e Lindenmayer e por Galli e Lindenmayer, respectivamente, prosseguem na
descrição da complexidade dos modelos propostos para a Província Mineral de Carajás,
envolvendo a evolução dos sistemas hidrotermais geradores dos minérios de Cu-Au. Essa
discussão é encerrada, ao mesmo tempo em que se abre a segunda parte do livro, dedicada a
trabalhos sobre inclusões fluidas, pelo capítulo de Ronchi et al. no qual são apresentados
estudos de três corpos máficos diferentes (no Igarapé Bahia, depósito ferrífero S11 e
Gameleira) avaliados comparativamente entre si e com o depósito do Salobo definindo uma
sugestiva “assinatura” ou padrão comum de fluidos derivados de granitos.
Esta segunda parte permite apresentar a importância e originalidade da contribuição
dos estudos de inclusões fluidas na construção de modelos geológicos. As magnesitas do
Ceará, formadas em um contexto carbonático evaporítico, com indícios de hidrocarbonetos
proterozóicos, por estarem incluídas em um pacote de rochas submetido a metamorfismo,
apresentam uma assembléia de inclusões fluidas primárias que correspondem ao
teoricamente esperado para fluidos metamórficos, não havendo mais indícios do fluido
mineralizante original. Por outro lado as inclusões fluidas nas fluoritas filoneanas
catarinenses, descritas por Martins Filho et al., são também primárias e refletem as
condições originais de deposição do minério. O estudo microtermométrico realizado por
Lauren et al. na esmeralda de Campos Verdes (GO) sugere uma mistura de fluidos
metamórficos e magmáticos. Barboza et al. estudando veios de quartzo auríferos do
depósito de Pau-a-Pique em Mato Grosso e Rocha et al. nos filões de quartzo da mina do
Schramm (SC) encontraram fluidos aquo-carbônicos similares, com temperaturas de
homogeneização entre 200 e 300ºC e salinidade entre 5 e 6 % peso eq. NaCl, ambos
considerados como originados pela devolatilização metamórfica. A deposição do minério é
relacionada com queda de pressão.
Finalmente, nos quatro últimos capítulos, uma mudança radical de escala permite
apresentar a discussão de três trabalhos de revisão tratando de rochas vulcânicas do
Arquipélago Shetland do Sul (Almeida et al.) e da Ilha Rei Jorge, (Pereira et al.), Antártica
e eventos vulcânicos na Bacia do Camaquã – RS (Almeida et al.). Finalmente um trabalho
sobre ocorrências de cobre em rochas vulcânicas, basaltos da Bacia do Paraná (Melo et al.),
completam a seqüência de capítulos sobre caracterização geológica regional.

Agradecimentos

Os capítulos deste livro resultam do desenvolvimento de projetos, em especial na


Província Mineral de Carajás, voltados à ampliação da linha de pesquisa “Geoquímica e
Geologia Econômica”, atualmente existente no Programa de Pós-Graduação em Geologia
da UNISINOS, em área de concentração voltada à “Caracterização e Modelamento de
Depósitos Minerais”.
Agradecemos à CAPES, que por meio do Projeto PROCAD UnB-UNISINOS, nº
0095/01-0, financiou parcialmente a publicação deste livro. Esse acordo entre a UnB e a
UNISINOS permitiu o intercâmbio de alunos e professores, com os objetivos explícitos de
criar parcerias dos docentes/pesquisadores de ambas as instituições na orientação de
dissertações; promover parcerias dos docentes no ensino de pós-graduação nas duas IES e
aplicação acadêmica no ensino e no desenvolvimento de hipóteses genéticas de depósitos
minerais.
Agradecemos à Agência para o Desenvolvimento da Indústria Mineral Brasileira
(ADIMB), em especial ao Dr. Onildo João Marini e a Rio Doce Geologia e Mineração SA,
Docegeo- Companhia Vale do Rio Doce (CVRD), pelo apoio continuado. Destacamos
ainda nosso reconhecimento ao Professor Dr. Roberto Dall’Agnol, da Universidade Federal
do Pará, coordenador do PRONEX-UFPA 103/98 (Magmatismo, Evolução Crustal e
Metalogênese da Província Mineral de Carajás e Províncias Adjacentes), pelo incentivo que
representou nossa participação do programa. Os capítulos desse livro relacionados com
Carajás constituem parte de nossa contribuição a este projeto.
Os autores Luiz Henrique Ronchi e Zara Gerhardt Lindenmayer agradecem ao
Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) a concessão de
Bolsa de Produtividade Científica, respectivamente Processos nº 520011/98-8 e nº
301010/91-9.
Não podemos esquecer que uma parte importante da qualidade dos trabalhos aqui
apresentados é devida às revisões efetuadas pelo corpo de consultores, listados nas páginas
iniciais do livro, a todos o nosso agradecimento. Convém salientar que apesar dessas
revisões, se ainda subsistirem falhas, evidentemente, devem ser todas creditadas aos autores
dos respectivos capítulos.

Referências Bibliográficas

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