Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Textos Fundamentais de Ficção em Lingua Inglesa 2
Textos Fundamentais de Ficção em Lingua Inglesa 2
FUNDAMENTAIS DE
FICÇÃO EM LÍNGUA
INGLESA
Suelen Vasconcelos
Virginia Woolf, a
feminist perspective
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:
Introdução
Virginia Woolf (1882-1941) foi uma das maiores escritoras em língua inglesa.
A autora foi responsável por textos clássicos da literatura, como Mrs.
Dalloway (1925), Orlando (1928), To the Lighthouse 1927), dentre outros, e
também escreveu contos e ensaios críticos – como o aclamado A Room
of One’s Own (1930) –, sempre tendo um olhar crítico sobre a sociedade,
os papeis sociais e o tempo em que viveu. Woolf aplicou características
específicas à sua obra, como o uso do fluxo de consciência, e fez escolhas
estilísticas que tornaram sua narrativa lírica, profunda. Assim, muitos a
destacam como um dos maiores nomes do modernismo, ao lado de
escritores como James Joyce, Joseph Conrad e William Faulkner.
Neste capítulo, você aprenderá sobrea vida e a obra de Virginia Woolf
para compreender melhor o período histórico em que ela se insere. Após
essa contextualização, verá um breve apanhado de algumas obras de
Woolf, apresentado para que você seja capaz de relacionar a importância
de tais textos com o contexto histórico em que eles foram produzidos.
Finalmente, você lerá uma análise de um dos romances mais conhecidos
da escritora, Mrs. Dalloway, relacionando-o com questões do período
modernista.
2 Virginia Woolf, a feminist perspective
Após a morte dos pais, Virginia e sua irmã Vanessa deixaram Kensington
e foram morar em Londres. Mesmo no novo local, a família continuou com
seu estilo de vida voltado para as artes e manteve encontros com intelectuais
da época. Isso foi logo após a Primeira Guerra Mundial (1914-1919), e os
encontros em grupo incluíam debates críticos sobre a situação social nos
quais os participantes falavam principalmente, dentre outros assuntos, sobre
economia, filosofia, política e arte.
Os encontros semanais de muitos desses contemporâneos de Virginia
Woolf, incluindo ela mesma, no bairro de Bloomsbury, acabou originando
um grupo de intelectuais conhecido como Bloomsbury Group. Virginia e sua
irmã Vanessa Bell eram as únicas mulheres participantes do grupo. É interes-
sante notar que alguns dos homens da família, como os irmãos de Vanessa
e Virginia, foram mandados para a Universidade de Cambridge para ter sua
educação, enquanto as mulheres foram sendo educadas principalmente em
casa, como era costume da época. Assim, participar do Bloomsbury Group
era uma forma de pensar, debater e de se posicionar a respeito das tradições
sociais, políticas e literárias vigentes após a Era Vitoriana.
Durante o período entre guerras, Virginia já tinha conhecido e se casado
com Leonard Woolf, e eles haviam fundado a Hogarth Press em 1917. Por
meio dessa editora, muitos trabalhos de escritores, como Katherine Mansfield
e Sigmund Freud, foram publicados, e a própria Virginia Woolf teve seus tra-
balhos publicados pela editora. Tanto a escritora quanto Leonard trabalhavam
como editores, selecionando trabalhos de importantes pensadores da época.
Virginia Woolf sofreu imensamente a perda de entes queridos. Cada mo-
mento de despedida era uma grande dor para ela, como a morte de seus seus
pais e de sua irmã Stella. Virginia sofria de depressão e de mudanças súbitas
de humor, estados que eram agravados severamente em cada episódio de
perda familiar. Mesmo após o casamento com Leonard, os momentos de
crises depressivas ainda eram presentes e vieram a ser constantes na vida da
autora. Ainda assim, ao longo de seus dias, Virginia foi convidada a palestrar
em universidades, editou textos, escreveu e publicou ensaios.
Em 1940, a casa dos Woolf em Londres foi bombardeada, pois já havia
começado a Segunda Guerra Mundial, e esse foi mais um episódio de grande
impacto na vida da autora. Como Leonard era judeu, ela temia terrivelmente
por ele e pela família e sofria com o impacto da guerra. Dessa forma, todo
um contexto social degradante e preocupante agravou suas crises mentais.
No mês de março de 1941, Virginia Woolf deixou uma carta de suicídio a seu
marido, Leonard. A carta que segue foi escrita pela autora e é reproduzida na íntegra
na apresentação do romance The Hours, de Michael Cunningham (1998, p. 07):
4 Virginia Woolf, a feminist perspective
Dearest,
I feel certain I am going mad again. I feel we can't go through another of
those terrible times. And I shan't recover this time. I begin to hear voices, and
I can't concentrate. So I am doing what seems the best thing to do. You have
given me the greatest possible happiness. You have been in every way all that
anyone could be. I don't think two people could have been happier till this
terrible disease came. I can't fight any longer. I know that I am spoiling your
life, that without me you could work. And you will I know. You see I can't even
write this properly. I can't read. What I want to say is I owe all the happiness
of my life to you. You have been entirely patient with me and incredibly good.
I want to say that – everybody knows it. If anybody could have saved me it
would have been you. Everything has gone from me but the certainty of your
goodness. I can't go on spoiling your life any longer.
I don't think two people could have been happier than we have been.
Figura 1. Capa de uma das biografias sobre Virginia Woolf mais conhecidas. Essa biografia
foi feita pelo próprio sobrinho da autora, Quentin Bell, filho de Vanessa Bell, irmã da escritora.
Fonte: Openlibrary (2018, documento on-line).
Virginia Woolf, a feminist perspective 5
Bloomsbury Group
Alguns dos nomes mencionados até agora, como Virginia Woolf, Vanessa Bell, Leonard
Woolf e Quentin Bell, fizeram parte do Boomsbury Group. Os membros costumavam
fazer encontros semanais na residência de próprios frequentadores do grupo para
discutir assuntos como política, economia, literatura, feminismo e arte. A própria
Virginia Woolf escrevia em seus diários sobre o alívio e os benefícios em discutir e
trocar ideias com pessoas que, como ela, acreditavam na importância das artes na
sociedade.
Para saber mais sobre o grupo, você pode consultar, no link a seguir, um artigo no site
do Tate Museum, de Londres, apresentando informações, listas de membros, principais
ideias e fotos da época.
https://goo.gl/iAw2Ai
Beneath us lie the lights of the herring fleet. The cliffs vanish. Rippling small,
rippling grey, innumerable waves spread beneath us. I touch nothing. I see
nothing. We may sink and settle on the waves. The sea will drum in my ears.
The white petals will be darkened with sea water. They will float for a moment
and then sink. Rolling me over the waves will shoulder me under. Everything
falls in a tremendous shower, dissolving me (WOOLF, 1950, p. 101).
Different though the sexes are, they intermix. In every human being a va-
cillation from one sex to the other takes place, and often it is only the clothes
that keep the male and female likeness, while underneath the sex is the very
opposite of what it is above. Of the complications and confusions which thus
result every one has had experience; but here we leave the general question
and note only the odd effect it had in the particular case of Orlando herself
(WOOLF, 1995, p. 130).
Virginia Woolf é uma das autoras que mais reúne leitores em clubes de leitura espalha-
dos pelo Brasil e pelo mundo todo. Há uma série de grupos que debatem sua obra em
encontros regulares em várias cidades. É muito comum que os organizadores criem
um calendário, escolhendo um autor ou uma obra específica pra trabalhar no encontro
de um determinado mês, e Woolf e suas obras certamente figuram em muitos desses
debates. Você pode pesquisar em sites e nas redes sociais por eventos desses tipos e
participar das leituras e debates.
Since our apparitions, the part of us which appears, are so momentary com-
pared with the other, the unseen part of us, which spreads wide, the unseen
might survive, be recovered somehow attached to this person or that, or
even haunting certain places after death… Perhaps — perhaps (WOOLF,
1996, p. 150).
Ítalo Calvino, escritor muito conhecido pelo livro de ensaios “Por que
ler os clássicos?” (1993), defende uma série de considerações que fazem um
texto atingir o status de clássico. Segundo um dos seus apontamentos, sobre
os clássicos:
[...] são aqueles livros que chegam até nós trazendo consigo as marcas das
leituras que precederam a nossa e, atrás de si, os traços que deixaram na cultura
ou nas culturas que atravessaram ou mais simplesmente na linguagem ou nos
costumes (CALVINO, 1993, p. 11).
She felt somehow very like him—the young man who had killed himself. She
felt glad that he had done it; thrown it away. The clock was striking. The le-
aden circles dissolved in the air. He made her feel the beauty; made her feel
the fun. But she must go back. She must assemble (WOOLF, 1996, p. 190).
Figura 2. Capas feitas por Vanessa Bell para os primeiros exemplares de livros de Virginia
Woolf. (a) Mrs. Dalloway (1925); (b) The common Reader (1925); (c) To the Lighthouse (1925);
(d) A Room of One’s Own (1929); (e) On Being Ill (1930); (f) The Waves (1931).
Fonte: Openlibrary (2018, documento on-line).
Busque conhecer os filmes inspirados na obra de Virginia Woolf. Para saber mais sobre
a adaptação do romance Mrs. Dalloway para o cinema, de 1997, dirigida por Marleen
Gorris e com Vanessa Redgrave estrelando como Clarissa Dalloway, clique no link:
https://goo.gl/3U4hym
Se quiser saber mais informações sobre o filme The Hours (2002), inspirado no romance
homônimo de Michael Cunningham e que tem estrelas como Nicole Kidman (interpre-
tando a própria Virginia Woolf), Julianne Moore e Meryl Streep, clique no link a seguir:
https://goo.gl/CvuJA4
12 Virginia Woolf, a feminist perspective
Virginia Woolf mostrou sua grandeza não só por meio de sua escrita, mas
também foi capaz de atuar ativamente na sociedade e de viver de acordo com
sua crença. Como uma crítica ávida da tradição social, a autora foi capaz
de desafiar a ordem tanto na sociedade quanto na forma de escrever, pois
ela não se prendeu à forma tradicional do romance. Em vez disso, Woolf
nos presenteou com um mergulho na representação da consciência de suas
personagens.
Assim, podemos ver que, nessa grande dicotomia construída socialmente,
em que mulheres são colocadas como atuantes no espaço privado como mães
e esposas e os homens têm atuação no espaço público, criticar a sociedade,
dar palestras em espaços públicos, como universidades, escrever e publicar –
atividades comuns na vida de Woolf – acabam sendo exemplos de uma mulher
que conquistou seu espaço na sociedade também com ações concretas, indo
muito além de sua ficção.
O romance Mrs. Dalloway nos presenteia com um forte olhar crítico para os papeis
que a sociedade atribui para homens e mulheres. A protagonista do romance, Clarissa,
questiona suas escolhas na vida, já que ela mesma havia optado por um casamento
seguro e estável anos antes. No entanto, o fluxo de consciência da personagem
na narrativa é atemporal, misturando passado, presente e futuro, como pode ser
observado no trecho a seguir:
This late age of the world’s experience had bred in them all, all men and
women, a well of tears. Tears and sorrows; courage and endurance; a
perfectly upright and stoical bearing (WOOLF, 1996, p. 5).
Assim, observamos, nesse trecho, mais um exemplo da crítica que Woolf fez à sua
época. Existe um fatalismo estoico por se estar preso a uma convenção social, uma
vez que tanto homens quanto mulheres sofrem e precisam de força para continuar
vivendo em meio a convenções e dificuldades.
Virginia Woolf, a feminist perspective 13
CUNNINGHAM, M. The Hours: a novel. New York: Farrar, Straus and Giroux, 1998.
HUMPHREY, R. Stream of consciousness in the modern novel. Berkeley: University of
California Press, 1954.
OPENLIBRARY. Virginia Woolf: a biography. 2018. Disponível em: <https://openlibrary.
org/works/OL2107647W/Virginia_Woolf>. Acesso em: 13 ago. 2018.WOOLF, V. A room
of One’s Own. London: Penguin, 1988.
WOOLF, V. Orlando. London: Penguin, 1995.
WOOLF, V. Mrs. Dalloway. London: Penguin, 1996.
WOOLF, V. To the Lighthouse. London: Penguin, 1996.
WOOLF, V. The Waves. Boston: Houghton Mifflin Harcourt Publishing Company, 1950.
Leituras recomendadas
ANDRADE, S. A. Virginia Woolf e o medo. Revista Bravo, v. 5, 2002.
CANDIDO, A. A personagem do romance. In: CÂNDIDO, A. et al. A personagem de ficção.
São Paulo: Perspectiva, 1995.
IMDB. As horas. 2018. Disponível em: <https://www.imdb.com/title/tt0274558/?ref_=nv_
sr_1>. Acesso em: 13 ago. 2018.
IMDB. Sra. Dalloway. 2018. Disponível em: <https://www.imdb.com/title/
tt0274558/?ref_=nv_sr_1>. Acesso em: 13 ago. 2018.
LISPECTOR. C. A hora da estrela. Rio de Janeiro: Rocco, 1998.
PECK, J.; COYLE, M. A brief history of English literature. New York: Palgrave, 2002.
TATE. Lifestyle and Legacy of the Bloomsbury Group. 2018. Disponível em: <https://www.
tate.org.uk/art/art-terms/b/bloomsbury/lifestyle-lives-and-legacy-bloomsbury-group>.
Acesso em: 13 ago. 2018.
Encerra aqui o trecho do livro disponibilizado para
esta Unidade de Aprendizagem. Na Biblioteca Virtual
da Instituição, você encontra a obra na íntegra.