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PRESIDENTA DA REPÚBLICA
Dilma Rousseff
FICHA CATALOGRÁFICA:
Representante legal:
Paula Montero
Presidente do CEBRAP
Colaboradoras:
Denise Dora
Flávia Xavier Annenberg
Agradecimentos:
Aos comentadores dos resultados parciais da pesquisa, Marcelo Pedroso Goulart,
promotor de justiça e coordenador estadual do Núcleo de Políticas Públicas da
Procuradoria-Geral de Justiça do Estado de São Paulo, pelas contribuições no
workshop realizado em 7 de dezembro de 2012, na Fundação Getulio Vargas de
São Paulo (FGV-SP), e Celso Campilongo, professor titular da Faculdade de Direito
da Universidade de São Paulo, no workshop realizado em 13 de maio de 2013, no
CEBRAP, assim como a todos os participantes dos workshops.
A Roberto Dias, pelo apoio e acompanhamento da pesquisa como consultor
do Ministério da Justiça no projeto “Fortalecimento da Justiça Brasileira”.
Às demais equipes de pesquisa do projeto “Fortalecimento da Justiça Brasileira”.
Às entidades de defesa de direitos e seus integrantes que gentilmente cederam
seu tempo e experiência para participar desta pesquisa.
A Rogério Barbosa, pesquisador do CEM/CEBRAP, pelo auxílio no uso
do software empregado na análise das entrevistas da pesquisa.
A Adrian Gurza Lavalle, Cecília MacDowell Santos, José Roberto Xavier e
Richard Abel, pelos comentários feitos ao projeto de pesquisa e durante a sua
execução, assim como a todos os integrantes do Núcleo Direito e Democracia,
do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento, com os quais esta pesquisa foi
discutida em seminários internos.
A Gabriel Alarcon Madureira, pelo competente trabalho como transcritor da maior
parte das entrevistas realizadas nesta pesquisa, e aos demais transcritores contratados.
PROJETO BRA/05/036
FORTALECIMENTO DA JUSTIÇA BRASILEIRA
PROJETO DE PESQUISA:
“ADVOCACIA DE INTERESSE PÚBLICO NO BRASIL: A ATUAÇÃO DAS
ENTIDADES DE DEFESA DE DIREITOS DA SOCIEDADE CIVIL E SUA INTERAÇÃO
COM OS ÓRGÃOS DE LITÍGIO DO ESTADO”
INSTITUIÇÃO PROPONENTE:
CENTRO BRASILEIRO DE ANÁLISE E PLANEJAMENTO - CEBRAP
BRASÍLIA
2013
1 INTRODUÇÃO 11
1.1 MOBILIZAÇÃO JURÍDICA E SOCIEDADE CIVIL: PLURALIDADE DE EXPERIÊNCIAS E
CONCEITOS 12
1.2 ADVOCACIA DE INTERESSE PÚBLICO NO ESTADO: MINISTÉRIO PÚBLICO E
DEFENSORIA PÚBLICA 14
1.3 DELIMITAÇÃO DO OBJETO DE PESQUISA 15
1.4 METODOLOGIA 17
1.4.1 AMOSTRA DA PESQUISA 17
1.4.2 COLETA DE DADOS: O INSTRUMENTO DA ENTREVISTA SEMIESTRUTURADA 20
1.4.3 ANÁLISE DOS DADOS: CODIFICAÇÃO E SISTEMATIZAÇÃO 22
2 PERFIL DOS ENTREVISTADOS 25
2.1 EXPERIÊNCIAS UNIVERSITÁRIAS 26
2.1.1 PESQUISA E ENSINO 26
2.1.2 EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA 26
2.1.3 MOVIMENTO ESTUDANTIL 27
2.2 EXPERIÊNCIAS PROFISSIONAIS 28
2.3 EXPERIÊNCIAS PESSOAIS, SOCIAIS E POLÍTICAS 28
2.3.1 FAMÍLIA 29
2.3.2 GRUPO REPRESENTADO 29
2.3.3 RELIGIÃO 30
2.3.4 CONTEXTO POLÍTICO, MOVIMENTOS SOCIAIS E COMUNITÁRIOS 31
3 PERFIL DAS ENTIDADES 33
3.1 TEMAS DE ATUAÇÃO 33
3.2 ATIVIDADES 34
3.2.1 ATIVIDADE JURÍDICA 34
3.2.2 ATIVIDADE DE PESQUISA E PUBLICAÇÃO 35
3.2.3 ATIVIDADE COMUNITÁRIA 37
3.2.4 ATIVIDADE DE COMUNICAÇÃO 38
3.2.5 ATENDIMENTO PSICOSSOCIAL 39
3.3 ÂMBITOS DE ATUAÇÃO 40
3.4 HISTÓRICO 41
3.5 ESTRUTURA INTERNA 42
3.6 FINANCIAMENTO 45
3.6.1 A SAÍDA DO FINANCIAMENTO INTERNACIONAL DO BRASIL 47
3.6.2 CONJUNTURA ECONÔMICA INTERNACIONAL 48
3.6.3 ENTRAVES BUROCRÁTICOS DO FINANCIAMENTO NACIONAL PÚBLICO 48
3.6.4 FALTA DE CULTURA DE FINANCIAMENTO NACIONAL PRIVADO 50
3.6.5 BLOQUEIOS TEMÁTICOS 50
3.6.6 PARTICULARIDADE DA ATIVIDADE JURÍDICA 51
3.6.7 COMPETIÇÃO POR FINANCIAMENTO 53
4 ATUAÇÃO JUDICIAL 55
4.1 ATIVIDADES JURÍDICO-JUDICIAIS 55
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1
Pode-se citar como exemplos dessa literatura os trabalhos de MCCANN (1994, 2006 e 2010); EPP (1998); HILSON (2002);
ANDERSEN (2004); VANHALA (2006 e 2011); WILSON E CORDERO (2006); CASE E GIVENS (2010); MACIEL (2011).
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SARAT e SCHEINGOLD (1998), JUNQUEIRA (2002, p. 194).
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Algumas entidades de advocacia em direitos humanos apostam no litígio estratégico como uma via hábil para provocar
transformações sociais. “Litígio estratégico”, “litígio de impacto”, “litígio paradigmático” ou “litígio de caso-teste” são expres-
sões correlatas que surgiram de uma prática diferenciada de litígio não necessariamente relacionada ao histórico da advoca-
cia em direitos humanos. O litígio estratégico busca, por meio do uso do Judiciário e de casos paradigmáticos, alcançar mu-
danças sociais. Os casos são escolhidos como ferramentas para transformação da jurisprudência dos tribunais e formação de
precedentes, para provocar mudanças legislativas ou de políticas públicas. Trata-se de um método ou uma técnica que pode
ser utilizada para diferentes fins/temas (CARDOSO, 2012, p. 41; IHRLG, 2001, p. 82; ERRC, INTERIGHTS, MPG, 2004, p. 37-38).
4
REKOSH, BUCHKO, TERZIEVA, 2001, p. 1.
5
ERRC, INTERIGHTS, MPG, 2004, p. 40-41.
6
ERRC, INTERIGHTS, MPG, 2004, p. 41.
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7
WEISSBRODT, 1984, p. 31.
8
JOHNSON, 1991, p. 171.
9
ERRC, INTERIGHTS, MPG, 2004, p. 35; IHRLG, 2001, p. 82.
10
IHRLG, 2001, p. 2.
11
ERRC, INTERIGHTS, MPG, 2004, p. 40-41.
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Destacamos neste esforço o trabalho de Terra de Direitos e Dignitatis Assessoria Técnica Popular, 2013.
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GALANTER, 1974.
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GALANTER, 1974.
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Disponível em: <http://terradedireitos.org.br/biblioteca/noticias/pesquisa-apresenta-mapa-da-assessoria-juridica-e-ad-
vocacia-popular-no-brasil/>. Último acesso em: 10.09.2012.
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Esta pesquisa oferece mapeamento de entidades de interesse difuso e coletivo que atuaram como amicus curiae junto
ao Supremo Tribunal Federal ou que participaram em audiências públicas organizadas pelo STF em ações de controle
concentrado de constitucionalidade de atos normativos de origem do Executivo e Legislativo federal.
17
Disponível em: <http://assessoriajuridicapopular.blogspot.com.br/2011/10/mapeamento.html>. Último acesso em:
10.09.2012.
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Disponível em: <http://www.defensoria.sp.gov.br/dpesp/Default.aspx?idPagina=3145>. Último acesso em: 10.09.2012.
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Centro-Oeste 7 Campinas – SP 1
Nordeste 23 Curitiba – PR 2
Norte 7 Fortaleza – CE 7
Sudeste 57 Goiânia – GO 2
Sul 9 Guarulhos – SP 1
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São elas: Artigo 19, Intervozes – Coletivo Brasil de Comunicação Social, Conectas Direitos Humanos, Instituto Pro Bono,
Rede Nacional de Advogados e Advogadas Populares, Movimento de Atingidos por Barragens e o Conselho Indigenista
Missionário.
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Comitê Latino-Americano e do Caribe para a Defesa dos Direitos da Mulher – CLADEM/Brasil, Instituto Latinoamericano
de las Naciones Unidas para la Prevención del Delito y el Tratamiento del Delincuente – ILANUD e Ação dos Cristãos para
a Abolição da Tortura – ACAT – Brasil. A Artigo 19 também se enquadra neste perfil.
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É o caso da Associação Nacional dos Centros de Defesa da Criança e do Adolescente – ANCED.
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“É uma característica dessas entrevistas [semiestruturadas] que questões mais ou menos abertas sejam levadas à situa-
ção de entrevista na forma de um guia da entrevista. Espera-se que essas questões sejam livremente respondidas pelo
entrevistado. O ponto de partida do método é a suposição de que os inputs que caracterizam entrevistas ou questionários
padronizados, e que restringem o momento, a sequência ou o modo de lidar com os tópicos, obscurecem, ao invés de
esclarecer, o ponto de vista do sujeito.” (FLICK, 2002, p. 106).
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Utilizou-se o software Skype na maioria das entrevistas realizadas remotamente.
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As áreas de atuação incluem os seguintes temas, na ordem de concentração das entidades: Violência institucional: vio-
lência do Estado, violência policial, sistema prisional, memória, reparação, responsabilização, tortura; Cidade: moradia; re-
gularização fundiária; reforma urbana, direito à cidade, conflitos fundiários urbanos, sem-teto; Crianças e Adolescentes: Es-
tatuto da Criança e do Adolescente, crianças e adolescentes; juventude, menores em conflito com a lei, exploração sexual
de menores; Terra: terra, reforma agrária, movimentos sem-terra, conflitos fundiários rurais, agricultores; Gênero: mulheres;
feminismo, violência doméstica; direitos reprodutivos; Comunidades Tradicionais: quilombolas, ribeirinhos e moradores da
zona costeira; Meio ambiente: meio ambiente, proteção ambiental, poluição; Saúde: acesso a medicamentos; HIV/Aids e
discriminação; Indígenas: indíos, territórios indígenas, discriminação indígena; Trabalho: trabalhadores, sindicatos, trabalho
escravo, cooperativas, catadores de material; LGBT: gays, lésbicas, travestis, transexuais; Família: planejamento familiar, di-
vórcio, organização familiar; Criminal: defesa criminal de militantes sociais, atuação na justiça criminal; Consumidor: direito
do consumidor, consumidores, proteção e defesa do consumidor; Organização comunitária: regularização e formação de
associações de moradores, articulação comunitária; Educação: direito à educação, escolas e universidades; Raça: negros,
discriminação racial e étnica; Idosos e portadores de deficiência: idosos, portadores de deficiência e cegos; Imigrantes: imi-
grantes e ciganos; Comunicação: direito à comunicação, democratização das comunicações; Tráfico de pessoas; Religião:
intolerância religiosa, discriminação pela religião, religiões africanas.
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civil tem, assim, um elevado potencial de gião, algumas localidades da região me-
tropolitana [da cidade] e a finalidade des-
capilaridade e conexão direta com os pú-
sa formação é o fortalecimento no campo
blicos que visa defender.
político. Uma formação que é recente
Exemplos da centralidade dessa ativi- agora é com grupos de mulheres também
dade podem ser destacados das entrevis- com a temática do direito à cidade, o di-
tas. Diversos respondentes referiram o pa- reito à moradia, trabalhando as mulheres
pel das entidades de defesa de direitos em da comunidade pra tentar abordar ques-
formar novos defensores de direitos e em tões de gênero.
multiplicar o conhecimento sobre a temá- A gente tem essa questão através das as-
tica trabalhada: sembleias, de cursos e de seminários, que
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Muitas dessas atividades jurídicas de- mais relacionada a uma forma de advoca-
sempenhadas pelas entidades mudaram cia tradicional, de orientação dos “clientes”
ao longo do tempo, por diferentes fatores, com relação aos seus direitos, quais órgãos
que serão explorados em cada um dos sub- acessar, seguida ou não de oferta de ação
tópicos a seguir. judicial por parte da entidade, quanto a uma
forma de assessoria jurídica popular, ligada
Além disso, foram mapeados diferen-
a atividades de formação da população em
tes métodos utilizados pelas entidades de
direitos, de empoderamento de comuni-
defesa em sua atuação judicial. Desde seus
dades, grupos e movimentos sociais. Essa
critérios de seleção de casos, como com-
forma de assessoria jurídica popular está
binam a estratégia de atuação judicial com
ligada à ideia de que os protagonistas dos
outras estratégias, ou mesmo a sua atua-
direitos são as próprias pessoas e não os
ção especializada em determinados fóruns,
advogados. Os advogados ou o direito não
como o Supremo Tribunal Federal e o Sis-
poderiam pautar a ação dos movimentos.
tema Interamericano de Direitos Humanos.
De modo geral, esses métodos caracteri- Uma mudança nesta atividade, rela-
zam um processo de especialização do tra- cionada também a uma mudança que diz
balho das entidades de defesa de direitos. respeito à atuação judicial individual (ana-
lisada em tópico a seguir), é a que algu-
4.1 ATIVIDADES JURÍDICO-JUDICIAIS mas entidades estão fechando suas portas
para o atendimento direto. Falta de recur-
4.1.1 ORIENTAÇÃO JURÍDICA
sos e de pessoal afastam as entidades de
A atividade de orientação jurídica é uma atividade de advocacia no estilo de
comum a boa parte das entidades de de- “balcão de atendimento”, de portas aber-
fesa estudadas e pode se manifestar de tas a todas as demandas que entrarem. Por
diferentes formas. Ela pode estar tanto isso, restringem-se à orientação jurídica,
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A ação civil pública a gente não tem ca- Algumas entidades, por conta desses
pacidade postulatória de ajuizar sozinhos, fatores estruturais, têm enxergado a Defen-
por isso que a ação civil pública precisa- soria Pública e o Ministério Público como
ria... a Defensoria tem sido nossa parceira. espaços mais propícios para a atuação em
Até por questão financeira, ela reflete na ações coletivas.
própria estrutura da organização, então Coletivas nós não fazemos ações, nós já
ela sempre tem mais demandas do que a pensamos em fazer, mas a gente prefere
nossa estrutura de recursos humanos, de que... é, é visto de outra maneira a ação
recursos estruturais, permite, sempre... E proposta pelo Ministério Público... Então
nesse sentido dificulta muito fazer a liti- a gente cria a documentação, instrumen-
gância proativa, principalmente a litigân- taliza e leva pro Ministério Público. […]
cia em ações coletivas, como, por exem- Nós levamos como uma denúncia para
plo, a ação civil pública, porque muitas que se instale um inquérito civil, e se esse
vezes ela demanda produção de provas e inquérito civil, é, eles conseguirem, pode
a produção de provas também demanda ser que se resolva através de um acordo,
muitas vezes uma prova pericial e o Ju- ou não, pode ser que tenha que se propor
diciário não tem uma cultura de admitir uma ação.
essa prova pericial.
Porque ações públicas nós já tivemos.
A gente percebeu muito que ela [a Ação Mas, como a Defensoria Pública, nessas
Civil Pública] sozinha não funciona, que ações públicas, é muito atuante no [Es-
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que demandam dedicar-se mais àquela nem necessariamente para que entras-
história; não é só escrever a história e a sem com a ação, e sim, para uma informa-
ção de aonde procurar, aonde se reportar
ação e dar entrada, justamente porque é
para os mais diversos problemas, que é
congregado com outras estratégias, en-
uma grande carência da população. Eles
tão, tem relação com o trabalho que se
não sabem nem aonde ir para começar a
faz de acompanhamento daquelas comu-
procurar uma solução. Então, muitas ve-
nidades, ou de uma análise específica, por
zes, a solução não é encontrada com uma
exemplo, na história da lei orçamentária,
ação judicial e sim com formas extrajudi-
de uma análise específica, então tem a
ciais de solução dos conflitos. E aí foi feito
ver com uma atuação mais sistemática,
um primeiro projeto, para que se tentasse
mais a longo prazo naquele tema, naquela
dar um curso para essas pessoas, já que
região ali geográfica.
não se conseguiria acompanhar indivi-
4.3.3 FORMAÇÃO dualmente, e que essas pessoas fossem
multiplicadoras nas suas comunidades.
Várias entidades trabalham com o seu Porque se observou que essas pessoas
público o aspecto da formação em direitos. que vinham aqui já eram aquelas que já
O objetivo é formar pessoas que sejam ca- tinham um pouco mais de conhecimento,
pazes de identificar violações de direitos, já sabiam ler e escrever, tinham um pouco
de encaminhar suas denúncias aos órgãos mais de informações e, muitas vezes, elas
competentes, de replicar essas informa- vinham para repassar essas informações
ções em suas comunidades e grupos, que para os outros.
tenham consciência de seus direitos e exer-
4.3.4 PESQUISA
citem sua cidadania. Esses programas de
formação em direito, ao capacitar líderes A pesquisa acaba tornando-se uma
comunitários na linguagem dos direitos, estratégia para a atuação judicial mais
criam também uma rede de agentes de de- pontual e qualificada. Saber quais são os
fesa de direitos, com capilaridade geográ- gargalos de políticas públicas, legislativos,
fica e social. de jurisprudência dos tribunais, facilita a
propositura de ações já mais direcionadas
A partir de 2007, a gente começa a de-
a esses fatores estruturais de violação de
senvolver um programa mais permanente
de formação de Defensores Populares da
direitos. Traz uma perspectiva mais ampla
educação, inspirados lá nas Promotoras sobre os problemas enfrentados, escapa
Legais Populares e nos processos de for- da lógica da solução individual do caso.
mação de assessoria jurídica popular, que Além disso, a pesquisa não é instrumental
aí são cursos de formação de Defensores apenas para a ação judicial, mas sim para
Populares do direito à educação e agora a todos os outros âmbitos de atuação da en-
gente finalizou uma quarta edição desse tidade.
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Conforme exposto no item 1.3 deste estudo, o recorte metodológico da pesquisa foi feito a partir da perspectiva das enti-
dades de defesa direito no Brasil e a percepção dessas sobre a sua relação com o Ministério Público e a Defensoria Pública.
Assim, não estão presentes neste estudo a perspectiva dos defensores, promotores e procuradores acerca dessa relação.
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De maneira geral, quando os entrevistados mencionam que realizam “denúncias” para o Ministério Público, estão se refe-
rindo ao ato de levar ao conhecimento desta instituição alguma situação na qual haja violação de direito, ato ilícito, crime,
infração da lei etc. Com isso, não estão se referindo ao ato formal no processo penal no qual o representante do Ministério
Público dá início a uma ação penal pública por meio de uma petição escrita denominada “denúncia”.
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A representação, de maneira muito ampla, é a manifestação de interesse do ofendido ou seu representante legal para o
Ministério Público inicie uma ação penal.
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balham. Neste sentido, por estarem mais eles, levando alguma irregularidade que
tenha acontecido, alguma violação de al-
próximas das demandas e atores que en-
guma sentença judicial que tenha vindo a
volvem tal campo, elas têm uma percepção
nosso favor, enfim, levando algumas irre-
mais apurada de quais são os problemas
gularidades, algumas violações de direito,
relevantes naquele momento e buscam
compilando esse material e levando pro
provocar o Ministério Público para que ele
uso da Defensoria, do Ministério Público e
atue naqueles temas. Assim: mostrando “olha, está acontecendo isso,
[...] representação, apresentação de do- isso, e isso, o descumprimento de tal sen-
cumentos, se existe um caso e a gente tença, de tal lei... isso eles fizeram errado”
tem possibilidade de contribuir com pro- e eles movem processos, tomam as atitu-
va a gente fornece prova, e aí vai, e sem- des cabíveis, mas a gente também quan-
pre tentando fazer um diálogo assim né, do encontra algo estratégico que a gente
porque por mais que muitas vezes o Mi- ache que talvez isso seja estratégico co-
nistério Público não tenha possibilidade locar, a gente também marca novamente
de estar em tudo, o papel da sociedade essas reuniões, a gente marca reuniões
civil é isso, é comunicar, é reportar, é in- também no sentido de saber o que é que
cidir, tentar puxar, mostrar a importância, esta acontecendo, se tem alguma novida-
pedir audiência pública, e é isso que a de, se eles estão pensando em algo...
gente vai fazendo.
[...] o Ministério Público Federal, vamos
[...] a gente representa no MP, então as dizer assim, ele próprio, por si só [...] ten-
representações ao Ministério Público são do em vista violação de um direito públi-
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A relação das entidades de defesa altera de estado para estado, assim como
de direitos entrevistadas com a Defensoria é diferente quando se dá com a Defensoria
Pública guarda muitas semelhanças com a Pública Estadual e quando se dá com a De-
relação com o Ministério Público. A maior fensoria Pública da União.
parte das formas de interação das enti- A interação de parceria ou comple-
dades da sociedade civil com o MP tam- mentariedade, apontada com bastante fre-
bém vale para a Defensoria Pública, com quência pelos entrevistados, entre as enti-
algumas diferenças. Assim, tal relação dades de defesa de direitos e a Defensoria
será apresentada de forma similar à que Pública se dá de várias formas. Uma forma
foi apresentada a relação com o Ministério de interação bastante citada neste âmbito
Público: os principais padrões de interação é o encaminhamento de casos das entida-
entre as entidades da sociedade civil en- des de defesa de direitos para a Defensoria
trevistadas e a Defensoria Pública (6.1), as Pública. Assim como ocorre na relação com
avaliações e percepções que estas entida- o Ministério Público, em muitas das vezes
des têm da instituição (6.2) e os pontos de as entidades entrevistadas afirmaram que
seu desenho institucional que dificultam ou fazem o encaminhamento dos casos para
facilitam a relação com as entidades da so- a Defensoria Pública ou porque só fazem
ciedade civil (6.3). o trabalho de orientação jurídica, ou por-
que não têm estrutura (técnica, financei-
6.1 FORMAS DE INTERAÇÃO
ra, física), ou ainda porque o caso foge da
Uma primeira característica da rela- temática com a qual a entidade trabalha,
ção das entidades de defesa de direitos en- ou porque só levavam para o Poder Judi-
trevistadas com a Defensoria Pública é de ciário casos paradigmáticos e não realizam
que ela não apresenta situações de anta- atendimento individual. Há entidades que
gonismo mais explícito como ocorre com o afirmaram que é dever do Estado e da De-
Ministério Público. Assim, a avaliação mais fensoria Pública fazer o atendimento indivi-
geral dos entrevistados a respeito de tal dual de casos, promover o acesso à justiça,
interação é positiva, apontada como uma e, por esse motivo, acabam se dedicando
relação de parceria e complementariedade. a outros tipos de atividades, como, por
Os aspectos negativos da interação seriam exemplo, a realização de litígio apenas em
justamente uma “ausência” de relação, seja casos exemplares.
porque a Defensoria ainda não foi forma-
Defensoria Pública: a Defensoria Pública
da naquele estado da federação, seja por- aí sim, a gente participou do movimento
que a defensoria tem uma estrutura frágil de criação, uma vez criada a gente sem-
e deficitária. Da mesma maneira como foi pre compartilhou casos com a Defensoria,
apontado no caso da relação com o Minis- mas casos que já estavam lá ou casos que
tério Público, a interação entre as entida- a gente achava que teriam de ser judicia-
des entrevistadas e a Defensoria Pública se lizados e a pessoa não tem como pagar
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tão, [a entidade] fez parte do movimen- Eu sei que a Defensoria também tem al-
to pela criação da Defensoria Pública, gumas, não são conferências, mas eles fa-
participou ativamente desse movimento zem uma espécie de consulta assim para
[...]. Então [a entidade] luta pelo forta- fazer um planejamento interno, então
lecimento da Defensoria Pública, essa é eventualmente a gente poderia ter tam-
uma das nossas maiores lutas, a gente bém esse tipo de relação.
está dentro disso, isso é uma missão pra
Isso foi muito bom, porque fortaleceu,
gente, extremamente importante e estra-
propiciou formar um fórum [do movi-
tégica porque a gente entende que, pra
mento social] porque nessa formação [a
você democratizar acesso à justiça e pra
entidade] acabou sendo uma referência
você ter uma defesa de qualidade, você
de articulação. O defensor público este-
precisa de uma Defensoria Pública forta-
ve conosco agora no final do ano, em de-
lecida, né? Esse é um trabalho importante
zembro, e se comprometeu mensalmente
pra gente.
a fazer uma reunião junto à Defensoria
As entidades entrevistadas também para dar encaminhamento para a luta. A
relataram participar ativamente de audiên- luta, quando a gente fala é de a organiza-
cias públicas e eventos promovidos pela ção coletiva buscar caminhos.
Defensoria, formações realizadas pelos de-
Em muitos casos, as entidades relata-
fensores públicos para os movimentos so-
ram em suas entrevistas que há uma com-
ciais, comunidades e grupos com os quais
plementariedade entre o trabalho que elas
a entidade atua, ou até mesmo formação
realizam e que a Defensoria Pública realiza.
promovida pelas entidades para os defen-
Essa complementariedade, além dos casos
sores em temas nos quais elas são especia-
já mencionados, pode se dar por meio da
lizadas.
atuação judicial conjunta ou da divisão de
De qualquer maneira, nós temos traba- trabalho de preparação para a proposição
lhado em parceria com a Defensoria Pú- de ações judiciais ou durante o processa-
blica em algumas demandas em especial mento dessas. A entidade pode ainda co-
também na formação de Defensores, em
laborar com o trabalho da Defensoria Pú-
especial na DPU, na Defensoria Pública
blica, assim como ocorre com o Ministério
da União, na área de direitos humanos. A
Público, fornecendo conhecimento técnico
Defensoria Pública da União nos procurou
ou especializado que ela possua.
informando [...] a dificuldade de muitos
Defensores de ainda compreenderem um Com a Defensoria ainda não. Defensoria
pouco mais a atuação nos direitos huma- Pública em São Paulo é muito nova. En-
nos e, principalmente, terem a possibili- tão, não deu tempo ainda, para desenvol-
dade, enquanto Defensoria, de encami- ver [...] A gente tem momentos de coo-
nhar à esfera internacional, em especial, peração, de conteúdo mesmo. Como a
ao Sistema Interamericano e à ONU de- Defensoria Pública é nova [...], tem coisas
terminadas violações, porque isso tam- que a gente já fez, de ação civil pública,
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Com base nas conclusões delineadas trabalho na entidade. Dessa forma, o forta-
a partir dos dados apresentados, é possí- lecimento e a ampliação de entidades de
vel identificar eixos potenciais para a for- defesa de direitos (ponto tratado especifi-
mulação de políticas públicas voltadas à camente no eixo a seguir) estão ligados à
superação dos problemas apontados pela criação de incentivos à formação e multi-
pesquisa e – em especial quanto ao foco plicação dos agentes que mobilizam estas
central do estudo – à otimização da intera- entidades: os defensores de direitos.
ção entre as entidades de defesa de direito A pesquisa permite identificar duas
e os órgãos de litígio do Estado: o Minis- áreas com potencial para a aplicação de
tério Público e a Defensoria Pública. Estes eventuais mecanismos com o objetivo de
eixos emergem dos tópicos abordados no formar e multiplicar defensores de direitos:
relatório, a saber: (8.1) quanto aos indiví-
• Experiências universitárias: sendo
duos que exercem a advocacia de interesse
as experiências de ensino, pesquisa
público; (8.2) quanto às entidades de de-
e extensão no âmbito universitário
fesa de direitos; e (8.3) quanto aos órgãos
recorrentes nas trajetórias dos res-
do Estado.
pondentes da pesquisa, o fortale-
8.1 EIXO INDIVIDUAL: INCENTIVOS À cimento do tripé fundamental do
FORMAÇÃO E MULTIPLICAÇÃO DE ensino superior brasileiro tem o
DEFENSORES DE DIREITOS potencial de gerar incentivos para
a formação e multiplicação de de-
Com base na análise das trajetórias fensores de direitos. No âmbito do
acadêmicas e profissionais dos 130 respon- ensino, disciplinas e cursos na área
dentes das entrevistas, a pesquisa identifi- de direitos humanos foram repeti-
cou dois importantes vetores de formação damente apontados como influên-
de defensores de direitos: as experiências cias positivas. No âmbito da pesqui-
universitárias e profissionais pelas quais sa, igualmente, grupos de pesquisa
passam esses indivíduos, em especial se e bolsas de iniciação científica na
oriundos do curso de direito. O estudo área dos direitos humanos foram
apontou, ainda, para a conexão entre o identificados na trajetória de diver-
perfil desses respondentes e o perfil de sos entrevistados. No âmbito da ex-
atuação das entidades onde trabalham. A tensão universitária, o papel de gru-
capilaridade observada em muitas das enti- pos de assessoria jurídica popular
dades de defesa de direitos, a sua proximi- como primeira fonte de experiência
dade com outras organizações e movimen- em advocacia de interesse públi-
tos organizados, bem como as estratégias co é notável, em que pese às suas
de atuação adotadas são, em grande medi- dificuldades de manutenção, em
da, as mesmas apreendidas por estes res- especial a precariedade das linhas
pondentes na sua trajetória precedente ao de financiamento hoje disponíveis,
101
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106
107
3) Atuação judicial: identificação dos tipos de casos em que a entidade atua judi-
cialmente; como esses casos chegam à entidade; estratégias de atuação da enti-
dade.
5) Desenho institucional/organizacional.
ROTEIRO DE ENTREVISTA:
PERFIL DO ENTREVISTADO
• (Para esmiuçar, caso o entrevistado não tenha explorado na resposta) Quais pes-
soas ou instituições foram importantes nessa escolha profissional?
2. Qual trabalho desenvolve nesta entidade? Desde quando você trabalha nesta entida-
de?
3. (Para o caso de trabalhar na área de litígio da instituição) Por que optou por trabalhar
com litígio nesta entidade e não na Defensoria Pública ou no Ministério Público?
109
4. Essa pergunta serve para compreendermos melhor a trajetória dessa entidade, quan-
do ela foi formada e com quais objetivos.
5. Quais atividades a entidade realiza? Qual é a atividade central? Como essas ativida-
des mudaram ao longo do tempo?
Checklist de atividades:
a) Legislativo
a. Elaboração/monitoramento de leis
b. Reforma institucional
b) Executivo
a. Acompanhamento do orçamento
d. Participação em Conselhos
e. Reforma institucional
c) Judiciário
a. Assessoria jurídica
b. Litígio
d. Reforma institucional
d) Mídia
e) Comunidade
6. Em que temas a entidade atua? Como esses temas foram escolhidos? Como os temas
mudaram ao longo do tempo?
a) Doações individuais
110
c) Fundações nacionais
d) Fundações internacionais
g) Prestação de serviços
ATUAÇÃO JUDICIAL
9. Quando a entidade deu início à atividade de litígio? Para que serve a atividade de
litígio? Como ela mudou ao longo do tempo? Como a estratégia de litígio se articula
com as outras atividades da entidade?
10. Em quais temas a entidade litiga? Por que litigar nesses temas? Como são escolhidos
os casos?
11. Em quais instâncias do Poder Judiciário a entidade litiga? Por quê? A entidade recor-
re a órgãos internacionais (OEA, OIT, ONU, OMC)? Por quê?
Checklist de instâncias:
a) Justiça Cível
b) Justiça Trabalhista
c) Justiça Criminal
d) Justiça Federal
e) Tribunais Superiores
f) Processos Administrativos
g) Internacional
c) Ação popular
d) Usucapião
g) Possessórias
111
DESENHO INSTITUCIONAL/ORGANIZACIONAL
18. O que poderia mudar nessa relação com a DP? E com o MP? E com a OAB?
19. O que poderia mudar no funcionamento da entidade? E quanto ao financiamento?
112
PROPOSTA DA PESQUISA: Este projeto de pesquisa tem por objetivo estudar as entida-
des que trabalham com a advocacia de interesse público, sejam entidades da sociedade
civil, sejam órgãos de litígio do Estado, como o Ministério Público e as Defensorias Públi-
cas. Este projeto analisará o quanto a presença dos órgãos de litígio do Estado impacta
no trabalho de advocacia das entidades da sociedade civil e vice-versa. Quanto o dese-
nho institucional dos órgãos de litígio do Estado favorece ou não a mobilização social
jurídica. E o quanto a advocacia das entidades da sociedade civil repercute em termos de
tematização e reforma institucional dos órgãos de litígio do Estado e do Poder Judiciário.
113
Data: ____/____/____
Data: ____/____/____
114
Grupo 1: RESPONDENTE
Aplicação:
Respondente: (livre)
Exemplos:
115
Aplicação:
Regras de aplicação:
Exemplos:
116
Aplicação:
Regras de aplicação:
117
Aplicação:
DP: (livre)
MP: (livre)
Exemplos:
DP: (livre)
MP: (livre)
DP ou MP: Formas de interação: (livre)
MP ou DP: Desenho institucional: (livre)
118
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