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Posso ser doador de órgãos e doar meu corpo para o estudo?

Sim. O fato de ser doador de órgãos não impede a doação do corpo para
estudo. Você deverá comunicar a sua família sobre a sua decisão, sendo que a
doação de órgãos ficará a cargo da sua família e do hospital que realizará o
procedimento. A universidade deverá ser comunicada no momento que se
iniciarem os procedimentos para remoção dos órgãos, para que a equipe possa
se organizar para a busca do corpo.

Minha família e eu decidimos doar nossos corpos para a universidade depois


da morte”

Mãe e dois filhos de Curitiba decidiram doar seus corpos para a UFPR depois
da morte, contribuindo com a educação de estudantes da área de saúde

Falar de morte na casa da família Mozzilli nunca foi um tabu. Desde a infância,
Miguel, engenheiro de 60 anos, se lembra de conversar com a mãe e os irmãos
sobre o assunto e, quando os avós faleceram, com quase 100 anos de idade,
foi ele e a mãe, Miris, quem tomaram os primeiros cuidados com os corpos dos
parentes, trocando a roupa e dando o último adeus. Sem vontade de “viver” a
eternidade no cemitério, Miguel tomou uma decisão impactante para o além-
vida: doaria seu corpo para uma instituição de ensino.

O impulso para decidir o destino final do corpo foi repentino, segundo Miguel.
“Eu vi uma entrevista com a professora Djanira [Djanira Aparecida da Luz
Veronez, chefe de pesquisa e do departamento de Anatomia da UFPR], na
qual ela dizia que a universidade tinha uma carência de corpos. O ideal seria
receber 40 por ano e eles recebiam apenas dois. Então eu pensei que, depois
que vamos embora, o corpo apodrece. Se eu doá-lo para a universidade, eu
seria de alguma forma útil para a sociedade.”

Em uma comparação com a própria formação de engenheiro, Miguel reforçou o


motivo para ter esse destino final. “Eu já tomei muito choque na vida, sendo
engenheiro. Eu acho um absurdo o acadêmico de medicina passar a formação
dele vendo o corpo através de um livro ou um boneco. Ele precisa de um
intermediário que o ajude a estudar algum órgão, ver, sentir, pesar, passar pela
emoção.”

Convencido da ideia, Miguel procurou a mãe, de 81 anos, e o irmão mais novo


Marcelo, funcionário federal de 54 anos. Não foi surpresa nenhuma quando
ambos embarcaram na decisão do familiar e também optaram pela doação do
corpo.
“Lá em casa o pessoal é a favor daquilo que é bom, que ajuda a sociedade.
Além do mais, o que eu faria com o meu corpo depois de morto? Falei para a
minha mãe e ela, na mesma hora, pegou as coisas e disse: vamos para o
cartório”, conta Miguel.

Como faço para doar meu corpo à instituição de ensino?

E esse é o primeiro passo indicado para quem deseja, assim como a família
Mozzilli, doar o corpo para uma instituição de ensino no Paraná. O estado é o
único no Brasil com um Conselho Estadual de Distribuição de Cadáveres
(CEDC), ligado à Secretaria de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, que
orienta em seu site o caminho para a doação.

Munido dos documentos pessoais para fazer uma declaração e duas


testemunhas, o doador deverá ir a qualquer cartório da cidade e fazer a
declaração chamada de Termo de intenção ou escritura pública, onde deverá
constar o desejo de fazer a doação do corpo para fins de estudo ou pesquisa
ao CEDC. Um modelo deste termo pode ser encontrado no próprio site da
CEDC.

Se preferir que o corpo seja direcionado a uma instituição específica (UFPR,


PUCPR, UEL, UEPG, etc.), o doador pode deixar essa informação detalhada
no documento. De acordo com a professora doutora Djanira Veronez, não é
preciso se preocupar – uma vez ressaltado o desejo de doação a uma
instituição de ensino, essa vontade é respeitada, bem como a doação em si.

“O CEDC tem uma lista de universidades que precisam dos corpos e essa lista
roda. Então, quando uma instituição receber um corpo, ela vai para o final da
fila até chegar a vez novamente de receber a doação. A não ser que a pessoa
faça esse detalhamento no documento assinado em cartório, que tem o desejo
de ir para alguma universidade específica”, explica a professora.

Feito o documento em cartório, é importante reforçar o desejo da doação do


corpo aos familiares. “Na ocorrência do óbito, alguém da família entra em
contato com a universidade e a gente acaba providenciando o que é
necessário para que venha até aqui”, reforça Veronez.
“Depois que fizemos a doação, eu me sinto como uma enciclopédia de
anatomia ambulante, só esperando o momento de o pessoal começar a „me
ler‟. Só espero que demore um pouquinho”, brincou Miguel.

Posso velar o corpo do parente que será doado a uma instituição?

Ainda há muitas dúvidas, de acordo com a professora chefe de pesquisa e do


departamento de Anatomia da UFPR, Djanira Veronez, com relação à doação
dos corpos às instituições de ensino. A primeira delas: posso velar o corpo?

“Pode. O velório não influencia em nada e a família estabelece o número de


horas em que o corpo será velado. Às vezes há familiares que vem de longe e
não tem problema esperá-los. Isso porque, quando a pessoa vai à óbito, há um
serviço funerário que repara o corpo e, depois de velado, ele segue para a
universidade”, explica a professora.

Outra dúvida comum é com relação ao tipo de morte que a pessoa teve e,
aí sim, há contra-indicações. “Só podem vir para as universidades as mortes
de causa natural. Morte violenta, como é o caso de acidentes de trânsito,
homicídio ou suicídio, o corpo segue para o Instituto Médico Legal, onde é feita
uma verificação, é aberto um processo e a investigação pode ser longa”,
reforça.

Pessoas que faleceram devido a doenças, como câncer, podem ser


encaminhadas às instituições de ensino, onde contribuem com a formação de
futuros médicos, enfermeiros, dentistas e outros profissionais de diferentes
maneiras:

“É de grande contribuição para melhor formar os estudantes. O livro ajuda e


aprendemos muito com softwares também, mas o cadáver humaniza o aluno. É
o primeiro contato com a morte. Ali ele percebe que a vida é finita e faz com
que ele reflita, adquira conceitos éticos, morais, fora todo o contexto anatômico,
de formação e pesquisa”, diz a professora.

Posso visitar o parente na universidade?

Por uma questão estética, não é indicado – e muitas universidades também


não permitem – que o corpo receba visitas de parentes. “Os cadáveres ficam
dentro de tanques, na câmara fria e o corpo pode não estar totalmente íntegro.
Na atividade de dissecação, é retirada a pele de algumas regiões e isso não é
muito agradável de ser visto”, explica Djanira.
Mas, o corpo pertence a família – mesmo que ele tenha sido doado à
instituição – e os familiares que desejarem podem pedi-lo de volta. Embora a
prática não seja comum, segundo a professora, a informação é sempre
reforçada aos parentes.

Também vale lembrar que a pessoa que manifesta o desejo de doar o corpo
em vida, ela não recebe absolutamente nada de nenhuma instituição para
tomar essa decisão. Trata-se, de acordo com Djanira, de uma doação de fato.

Leia mais em: https://www.gazetadopovo.com.br/viver-


bem/comportamento/como-doar-o-corpo-para-uma-universidade-depois-de-
morrer/

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