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Francilene dos Santos Rodrigues

GARIMPAGEM E MINERAÇÃO:
Uma análise sócio-histórica do extremo norte do
Brasil
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Francilene dos Santos Rodrigues

GARIMPAGEM E MINERAÇÃO:
Uma análise sócio-histórica do extremo norte do
Brasil

Garimpagem e Mineração: uma análise sócio-histórica... | 3


Copyright © 2017 Universidade Federal do Amazonas

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F8176g Rodrigues, Francilene dos Santos


Garimpagem e mineração: uma análise sócio-histórica do extremo
norte do Brasil. / Francilene dos Santos Rodrigues. – Manaus: EDUA,
2017.
175 p. : il.; 21cm

ISBN 978-85-7401-720-4

1. Garimpagem – Roraima. 2. Mineração – Roraima. 3. Conflitos


sociais - Roraima. I. Título.

CDU 622(811.4)

Editora da Universidade Federal do Amazonas


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Campus Universitário Senador Arthur Vírgilio Filho, Bloco L, Setor Sul
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E-mail: ufam.editora@gmail.com
SUMÁRIO

PREFÁCIO ........................................................................................ 7

APRESENTAÇÃO ......................................................................... 11

CAPÍTULO I
Apresentação da Formação Histórica da Sociedade e da Econo-
mia Roraimense .............................................................................. 17

CAPÍTULO II
A economia do Estado de Roraima e a Atividade de
Mineração ........................................................................................ 47

CAPÍTULO III
(Des) Territorialização e Conflitos Sociais na Luta por Espaço em
Roraima ............................................................................................ 97

CAPÍTULO IV
Roraima Vista a Partir da Análise da Atividade de
Garimpagem .................................................................................. 123

CONSIDERAÇÕES FINAIS ..................................................... 141

REFERÊNCIAS ........................................................................... 151


PREFÁCIO

Quem chega a Roraima encontra, em frente ao Palácio do


Governo e das principais instituições do estado, como Câmara
Legislativa, Receita Federal, Igreja Matriz, Fórum, um monu-
mento ao Garimpeiro. A imagem é simbólica e diz muito da for-
ma como o garimpo esteve e ainda, de certa forma, está presente
na vida dos roraimenses. Por mais que ele não tenha a força que
teve, ainda há o garimpo no estado, ilegal, ou garimpeiros de
Roraima que se aventuram na Venezuela, na Guiana Inglesa, no
Suriname. No município roraimense de Pacaraima, na fronteira
com a Venezuela, por exemplo, há lojas que vendem equipamen-
tos para garimpo, há compradores de ouro e diamante, inclusive
está se instalando uma loja de compra oficial de ouro, neste 2016.
Além disso, o garimpo pertence à história de muitas famí-
lias de Roraima. Lembram abandono, por exemplo, já que mui-
tos pais saíam e passavam, às vezes, meses sem ver a família, e
nem sempre a volta representava fartura. Além de muitos que
não voltaram ou foram mortos nos garimpos. Como era costu-
me, foram enterrados nas cabeceiras das pistas de pouso.
O trabalho de Francilene dos Santos Rodrigues (ou so-
mente France, como a conhecemos) me interessa muito. Faz
nove anos que iniciei um trabalho de registro das histórias de an-
tigos garimpeiros remanescentes no Tepequém, local onde fun-
cionou um intenso garimpo no século passado e que também foi
estudado pela autora. Alguns de meus entrevistados já morreram
e com eles seus sonhos. Sim, falar de garimpo é falar de sonho,
principalmente de encontrar “a pedra”, de “bamburrar”. Infeliz-
mente isso acontece com poucos. E restam pessoas.
Pessoas é o que me interessa e interessa também a este
livro. O que mais vemos é o garimpeiro ser tratado como ser
desprezível, escória social, destruidor da natureza. E certo, prin-
cipalmente a natureza é a maior vítima, seja pela destruição na
desmontagem dos barrancos, na criação das crateras, seja pelo
azougue. Mas ali há pessoas com seus sonhos e, especialmente,

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na grande maioria dos casos, pessoas sofridas e pobres, viven-
do, muitas vezes, à margem da sociedade. Ou como diz a autora
deste livro: eles possuíam, e muitos ainda possuem, um modo
próprio de vida, com códigos de honra, de moral e de ética.
De forma sólida, France reconstrói, num primeiro mo-
mento, a história de Roraima pelo viés do garimpo. Dados espar-
sos, sobre um estado tão novo, são reunidos para chegar De eco-
nômica da atividade de garimpagem para o Estado de Roraima.
Como contraponto, os danos causados por ele não são esque-
cidos, sobretudo na relação que se estabelece com os indígenas,
com esta convivência que raramente foi pacífica. Pelo contrário,
convivência trágica, principalmente para os índios, como no
massacre de Haximu, dos Yanomami.
Falar de garimpo, como nesse massacre, é frequentemente
se aproximar do horror, do corpo no limite: seja psicológico ou
físico. A distância da família e dos amigos, a convivência ten-
sa diante da ilegalidade e da necessidade de conseguir o susten-
to, sempre duvidoso, o serviço de alto risco, a currutela onde se
compra de tudo, principalmente bebidas alcoólicas e sexo. O cor-
po do garimpeiro também está no limite, particularmente quan-
do em garimpos pequenos. Trabalha-se muitas vezes molhado e
carregando muito peso.
Há dois anos visitei um garimpo de ouro na Guiana Ingle-
sa, sendo que para se chegar a ele se passava pela Venezuela. O
maquinário pertencia a um brasileiro, assim como quase todos
os funcionários eram brasileiros. Dormia-se em redes no meio da
mata, em lugares ermos, numa barraca improvisada, sem pare-
des, em uma situação bem precária, e o trabalho é quase sempre
muito pesado e mesmo perigoso, como o do controlador do bico
da mangueira, de dentro de uma cratera, transformando o bar-
ranco em lama, para se extrair o ouro. Este é o modelo básico de
garimpo hoje, naquela região. No meu ponto de vista, pensar a
garimpagem é pensar o homem no limite.
Em Roraima não foi diferente, basta ir ao Tepequém e ver
as crateras. Basta ir lá e sentar com o Senhor Porvinha, Senhor
Passarão, e ouvir as histórias, muitas de horror, mortes, violên-

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cia, ao mesmo tempo de muito companheirismo. A relação do
garimpo com a do desenvolvimento do estado de Roraima é o
centro deste trabalho, e ele não ignora as pessoas, de alguma for-
ma France parece querer conciliar a garimpagem com o desen-
volvimento de Roraima, uma matemática difícil, mas necessária,
principalmente, porque o garimpeiro é uma pessoa com sonhos
e necessidades parecidas com as de todos nós.
Essas pessoas vieram para Roraima com seus sonhos e aju-
daram a construir o que hoje somos por aqui, ajudaram a povoar
a Amazônia. A maioria, nordestinos. Como diz o poeta Eliakin
Rufino “quem é filho do Norte é neto do Nordeste”. O trabalho
de France deixa isso bem claro, como que a população do estado
cresceu a partir do boom do garimpo, entre as décadas de 80 e 90
do século passado.
Outro aspecto importante trazido pela autora diz respei-
to à complexidade em torno da garimpagem. Em torno dela, há
uma complexa rede de conexões que envolvem atores distintos,
como associações de garimpeiros, o Estado, os ambientalistas
as associações indígenas, os a favor e os contra, guiados sempre
por um evidente clima de tensão, quando se visita um garimpo.
Por exemplo, o garimpo que visitei na Guiana Inglesa era legal,
contudo, havia sempre uma tensão, principalmente em relação a
ladrões e à violência possível. Em março de 2016, para exempli-
ficar, houve uma chacina na Venezuela em que se falam em 28
mortos.
A impressão que tive é que o indivíduo no garimpo as-
sume uma identidade outra, e deste aspecto France também se
aproximou. Há regras, códigos próprios. Chegando ao garimpo,
rapidamente, já se ganha um apelido; todos que entrevistei pos-
suíam apelidos. É como se ali eles assumissem uma identidade
específica e o próprio apelido fizesse parte desta identidade. As-
sumir-se garimpeiro não é fácil, por causa de toda carga de pre-
conceito contra eles, como diz France, existe

[...] um julgamento sobre a atividade de


garimpagem, julgamento social fundado
sobre valores sociais, ou seja, a garimpa-

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gem vista como atividade rudimentar, de-
predatória, sonegadora de impostos, exer-
cida por homens rudes e violentos.

France divide a garimpagem em três feições: o aspecto da


atividade de transformação da natureza, o aspecto econômico e o
aspecto cultural. Eles são interligados e ajudam a pensar a garim-
pagem enquanto um fenômeno social, defesa principal da autora.
É um fenômeno social que contribui para estabelecer o que Ro-
raima é hoje, fenômeno complexo gerador de conflito com enti-
dades indígenas, por exemplo, atores buscando conquistar seu
lugar na sociedade local.
Para se ter uma ideia da importância da garimpagem na
constituição da população roraimense, fala-se em 45 mil pessoas
desenvolvendo esta atividade, principalmente entre os anos de
1987 a 1990, conhecido como “Período dourado”. Neste período,
em menos de duas décadas, a população de Roraima praticamen-
te triplicou. France traz esses dados e os relaciona ao governo
local que buscou viabilizar e legalizar o garimpo à época. Questão
muito complicada pois, por exemplo, em 1987, estima-se que o
território Yanomami foi invadido por mais de 40.000 garimpei-
ros.
Este livro é peça fundamental para quem quer entender
melhor o momento peculiar que Roraima viveu. De forma didá-
tica, a autora apresenta com dados uma contribuição significati-
va que foi dada pelos imigrantes garimpeiros na constituição do
que Roraima é hoje. Com destaque, France reúne informações
esparsas e ajuda a entender um momento histórico tumultuado
da história de Roraima.

Dr. Devair Antônio Fiorotti


Boa Vista, 20 de outubro de 2016.

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APRESENTAÇÃO

Este livro é resultado da minha dissertação de mestrado


defendida em 1996, no Núcleo de Altos Estudos da Amazônia
– NAEA/UFPA. A questão principal norteadora do trabalho foi
o entendimento da sociedade roraimense que, em 1990, apare-
cia constantemente na imprensa nacional e internacional como
o centro dos conflitos entre garimpeiros e índios. Nesta época,
ainda se vivia em Boa Vista os reflexos do boom mineral ocorrido
no final da década de 1980, em que a cidade vivera um exorbitan-
te crescimento populacional em pouco espaço de tempo e, com
isso, o aumento do custo de vida, da violência, entre outros fenô-
menos relacionados ao fenômeno da garimpagem.
Tentei entender por que a garimpagem continuava sen-
do o centro das discussões, mesmo após o declínio e fechamen-
to dos garimpos. Das indagações iniciais sobre a importância da
atividade de garimpagem e sua relação com os demais setores da
economia, deparei-me com outras questões que foram ganhando
importância no decorrer do trabalho, tais como: Quais eram as
relações entre a atividade de garimpagem e a sociedade de Ro-
raima? Havia uma relação que me parecia forte, mas qual era a
natureza desta relação? Como se relacionavam e como ocorriam
os conflitos entre os diferentes grupos sociais? Quais eram os sig-
nificados da garimpagem em Roraima? O que ela representava
concretamente para Roraima? Percebia-se que a garimpagem ti-
nha especificidade. Qual ou quais?
Embora a garimpagem possua características comuns a
toda Amazônia, quis ressaltar as suas especificidades em Rorai-
ma, ressaltando-a como um fenômeno social total (Mauss, 1974)
e, portanto, merecedora de uma análise específica.
Esse trabalho não diz respeito a uma área geográfica es-
pecífica do estado de Roraima, embora tenha concentrado meu
trabalho de campo no garimpo de Tepequém. Não se restringe
também ao ouro, mas à garimpagem em geral, na qual se inclui
o diamante, que faz parte de uma relativamente longa tradição

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da atividade de garimpagem no estado, razão por que foi tomada
como um caso importante em minha análise. Este trabalho diz
respeito, principalmente, a uma análise da sociedade roraimense,
tendo como ponto de partida a atividade de garimpagem e/ou
mineração. Daí, a necessidade primeira de entender a complexi-
dade desta atividade.
Mesmo passados 20 anos da construção desse trabalho, re-
cordo que o caminho percorrido para chegar ao ponto foi árduo
e longo, implicando um processo de aprendizagem e construção
do conhecimento.
O trabalho de pesquisa e levantamento de dados foi ini-
ciado ainda em 1993, com as primeiras visitas ao garimpo da
Serra de Tepequém. Nestas primeiras visitas, conversei com os
moradores, comerciantes e garimpeiros, observando como tra-
balhavam, sobre o que falavam, o que comiam (almocei algumas
vezes nos barracos dos garimpeiros). Ouvi as histórias, algumas
gravadas em áudios e outras apenas na memória; em sua maioria,
histórias de sonhos e de esperanças, histórias de vida, de gente
que dizia que a garimpagem “estava no sangue”. Uma naturali-
zação do fenômeno da garimpagem que demonstrava o quão es-
sencial era na vida dessas pessoas. Portanto, iniciar o processo de
abstração e distanciamento não foi fácil. As representações sobre
os garimpeiros como homens rudes, grosseiros, ambiciosos, des-
respeitosos, dentre outras denominações pejorativas e preconcei-
tuosas, impregnavam, também, minha ideia sobre os mesmos
Apesar de tudo isso, o meu conhecimento sobre o ga-
rimpeiro ainda estava distante, mas a visita ao garimpo de Te-
pequém foi o meu debut. Mais quatro visitas foram realizadas
a Tepequém, uma delas com a presença da orientadora Maria
Célia Nunes Coelho.
Os garimpeiros tinham um modo próprio de vida, de tra-
balhar, um código de honra, uma moral e uma ética. No decorrer
deste trabalho, humanizei, enfim, minha visão sobre o garimpei-
ro.

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Garimpeiro, gênero masculino, uma vez que as mulheres
eram raras, diferentemente de hoje, em que estão mais presentes
no universo da garimpagem, embora continuem a desempenhar
papéis sociais designados às mulheres, ou seja, às atividades do
cuidado do barracão, da comida, da roupa dos garimpeiros. Al-
gumas acompanham seus maridos e o fazem, inclusive, levando
os filhos e filhas dando origem a um novo fenômeno: os “filhos
do Eldorado”. Crianças que crescem nesse mundo, fora das es-
colas e de convívio com outras crianças em situações de socia-
bilidades. Essa foi uma constatação das pesquisas realizadas nos
garimpos na Venezuela, no período de 2011 a 2015, com finan-
ciamento do CNPq.
Continuando com a narrativa de minha trajetória de pes-
quisa nos garimpos, fui também ver de perto como viviam os
índios Macuxi. Visitei a maloca Maturuca por três dias. Partici-
pei, em janeiro de 1995, da reunião regional dos índios da região
Norte e Nordeste do estado. Vi como eles viviam e se organiza-
vam para lutar pelo seu território. Há uma grande organização e
participação que me fez compreender por que os índios resistiam
em meio a tantas pressões e preconceitos. Para eles, o garimpeiro
é, de certa forma, um inimigo, à medida que ameaça o modo de
vida da maloca, da comunidade. Foi possível, naquele momento
ver um outro lado da realidade roraimense. Hoje, várias Terras
Indígenas (T.I.) foram demarcadas e a luta agora é para garantir
as condições de assistência à saúde, à educação e ao desenvolvi-
mento local das comunidades.
O segundo momento da pesquisa foi o levantamento de
dados e informações junto aos órgãos públicos federais sedia-
dos em Brasília (DNPM, INCRA, POLÍCIA FEDERAL, FUNAI,
CPRM). Esta ida à Brasília foi fundamental também para o le-
vantamento bibliográfico na UnB e no Congresso Nacional. Fo-
ram três meses em Roraima para conseguir dados e informações
sobre a atividade de mineração e sobre os diversos setores da
economia. As dificuldades foram muitas, principalmente porque
boa parte das instituições públicas não estava informatizada e as
poucas que estavam só dispunham de dados a partir de 1991 ou

Garimpagem e Mineração: uma análise sócio-histórica... | 13


de 1993. O fato de “ser da cidade”, de morar em Boa Vista, com
certeza me abriu as portas para o acesso a diversas informações.
Muitos dados não foram utilizados naquele momento, mas me
serviram para os trabalhos posteriores, quando em 2006 voltei a
pesquisar o universo da garimpagem por meio das pesquisas de
migração de brasileiros para a Venezuela.
Outra fase da pesquisa correspondeu à realização de en-
trevistas com políticos, sindicalistas, representantes dos empre-
sários, representante das igrejas (evangélica e católica). Fui bem
recebida por todos, com exceção dos donos das casas de câmbio e
venda e compra de ouro e diamante. Além das entrevistas grava-
das, fiz anotações e observações próprias. Na volta a Belém orga-
nizei e analisei os dados, inclusive com a ajuda de outras pessoas
(transcrições das entrevistas e tabulação dos recortes de jornais)
e com o apoio financeiro da orientadora.
Escrever foi um processo doloroso, sofrido, principalmen-
te pelas minhas limitações e falta de experiência e prática em
exercer este “ofício” (ou arte?). Consegui, no entanto, terminar,
e o trabalho final não foi a obra de minha vida, mas certamente
foi a primeira. A organização deste trabalho foi se alterando ao
longo dos meses, resultando em uma reflexão acerca da discussão
sobre a atividade de garimpagem enquanto fenômeno social que
é também uma das “chaves” para abrir e conhecer por dentro
(estruturalmente) a realidade roraimense e, diria, de toda a Ama-
zônia e suas fronteiras.
Sendo assim, este trabalho inicia-se com uma apresenta-
ção da formação do processo histórico da sociedade roraimen-
se e suas especificidades. Processo iniciado com a ocupação e o
povoamento da fronteira, ainda no século XVIII, passando pela
criação do Território do Rio Branco (1943) e se estendendo até
a transformação em estado de Roraima (1988). A segunda par-
te do primeiro capítulo é dedicada à periodização da história da
mineração em Roraima. São definidos três períodos a partir de
alguns critérios pré-estabelecidos explicitados no desenvolvi-
mento do próprio capítulo. O primeiro período da história da
mineração inicia-se em 1912 com as descobertas dos primeiros

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garimpos e vai até 1965. O segundo período inicia-se em 1966 a
partir do aprimoramento técnico da atividade de garimpagem e
vai até 1979. O terceiro período inicia-se a partir de 1980, com as
descobertas de novos garimpos; passa pela “corrida do ouro” e se
estende até o declínio contemporâneo da atividade garimpeira.
No segundo capítulo, é abordada a economia do estado de
Roraima e sua relação com a atividade de mineração. São analisa-
dos os impactos e a relação desta atividade nos demais setores da
economia. Os impactos da atividade de mineração na economia
só são analisáveis indiretamente porque é uma atividade econo-
micamente informal, e, portanto, inexistem dados oficiais sobre
a garimpagem. É realizada, ainda, neste capítulo, uma discussão
sobre o caráter da informalidade/formalidade e ilegalidade/lega-
lidade da atividade.
No capítulo terceiro, apresento um debate sobre os pro-
cessos de territorialização/desterritorialização e identificação dos
principais atores e grupos sociais neste processo.
No quarto capítulo, finalmente, é realizada uma discus-
são teórica da atividade de garimpagem enquanto um fenômeno
social. Esta atividade possui três aspectos fundamentais que fa-
cilitam sua caracterização como fenômeno social, quais sejam:
o aspecto físico-social enquanto atividade de transformação da
natureza; aspecto enquanto atividade econômica e o aspecto cul-
tural da atividade. Na segunda parte deste capítulo, é elaborado
um debate sobre a atividade de mineração enquanto fenômeno
social, que se concretiza em uma área de fronteira, onde a luta
pelo território é também a luta pela afirmação das identidades
dos diversos atores sociais. Essas são questões essenciais para en-
tender o fenômeno da garimpagem/mineração e, consequente-
mente, a sociedade roraimense.
À guisa de uma avaliação deste trabalho, olhando-o em
2016 e tendo sido construído em 1996, é possível afirmar a sua
atualidade. Foi uma decisão não reescrever ou atualizar os dados,
porque acredito que é preciso escrever outro trabalho sobre a ga-
rimpagem na Amazônia e, em especial, em Roraima.

Garimpagem e Mineração: uma análise sócio-histórica... | 15


Os brasileiros seguem em busca do Eldorado, seja em
Roraima pelos caminhos “invisíveis”, seja nos países vizinhos
(Venezuela, Guiana, Guiana Francesa e Suriname). Continuam
enfrentando duras jornadas de trabalho (de 10 a 12 horas diá-
rias), condições insalubres, ausência de assistência médica ou
hospitalar, perda dos vínculos familiares e, em alguns casos, têm
que lidar com o crime organizado que controla as regiões de ga-
rimpagem ilegal, como é o caso na Venezuela. Verdade que o
perfil do garimpeiro se modificou e muitas mulheres fazem parte
deste contexto. Sigo na rota de brasileiros/as que migram pelos
mais diversos motivos. O que permanece dessa época e a atual é
que a mineração e/ou garimpagem ainda é um fenômeno social
capaz de nos fazer entender a Amazônia e, em especial, o estado
de Roraima.

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CAPÍTULO I

APRESENTAÇÃO DA FORMAÇÃO HISTÓRICA DA


SOCIEDADE E DA ECONOMIA RORAIMENSE

O estado de Roraima foi criado pela Constituição Fede-


ral, em 1988. A Constituição Federal determinou um prazo de 10
anos para que os novos estados se viabilizassem economicamente
e pudessem arcar com a maioria das despesas, inclusive com os
custos de pessoal. A principal fonte de receita do estado é prove-
niente das transferências financeiras da União, tais como o Fun-
do de Participação dos Estados (FPE), Fundo Especial (FE), entre
outros, e equivalem a mais de 80% da receita total do estado. Tais
fontes revelam o grau de dependência financeira em relação aos
recursos transferidos pelo Governo Federal. A transformação
do Território em estado de Roraima alimentou os debates sobre
possíveis alternativas para viabilizá-lo economicamente e “[...]
para que possa exercer plenamente as suas funções, sem que haja
uma mão invisível diminuindo a sua liberdade de ação, ou seja,
para que o estado possa andar com as próprias pernas” (RORAI-
MA, 1991, p. 22).
A mineração1 existente desde a primeira década do século
XX em Roraima, tem sido vista pelo governo local e, por alguns
representantes do empresariado, dos pecuaristas e dos comer-
ciantes, entre outros atores sociais locais, como a chave para o
desenvolvimento do estado. A mineração é apontada como setor
de importância e até mesmo como um setor líder da economia
de Roraima.
Para entender o que acontece em Roraima, torna-se fun-
damental compreender a mineração e o posicionamento dos di-
ferentes grupos sociais frente à questão da exploração mineral, à
medida em que o posicionamento destes grupos traduz a defesa

1 A palavra mineração será utilizada, neste primeiro momento, como sinônimo


de garimpagem, tendo em vista que no estado de Roraima esta é a única forma
de atividade mineral. Esta definição será discutida no Capítulo Quatro.

Garimpagem e Mineração: uma análise sócio-histórica... | 17


dos seus interesses. Nesta perspectiva, torna-se imprescindível o
conhecimento da realidade, a apreensão do processo histórico e
suas especificidades. Este capítulo será dividido em duas partes.
Na primeira, será abordada a questão da ocupação do vale do rio
Branco, a criação do Território e do estado. Na segunda parte,
será tratada a periodização histórica da mineração em Roraima.

1.1 Ocupação e povoamento da fronteira

A conquista de novos territórios, no Novo Mundo tornou


imperativa a presença militar como forma de garantir os territó-
rios conquistados. Na Amazônia, a presença militar iniciou-se
efetivamente, em 1616, com a ocupação da foz do rio Amazonas
pelos portugueses. Os registros da primeira tropa oficial a aden-
trar a área para além da foz do rio Branco e a montar um arraial
no território dos Manao, povo habitante da região do rio Juru-
baxi no vale do rio Negro, datam de 1723 (FARAGE, 1991, p. 62).
A primeira tropa de resgate2 a entrar efetivamente no rio Branco
foi a do Comandante Christovão Ayres Botelho, em 1736. Tal
expansão portuguesa para o vale do rio Branco, a partir dos anos
30 do século XVIII, foi consequência do esgotamento do forne-
cimento da mão de obra escrava indígena para Belém. Após a
Guerra com os Manao, o vale do rio Branco tornou-se uma das
principais zonas de fornecimento de mão de obra escrava indíge-
na para o Pará (FARAGE, 1991, p. 68).
Somente após tomar conhecimento de que os espanhóis
já estavam instalados no Uraricoera, desde de 1773, à procura
do ‘Eldorado’ e que os holandeses realizavam escambo com os
povos indígenas da região, Portugal se preocupou em efetivar a
ocupação do rio Branco como forma de evitar a perda do seu
território para essas nações. Mas, os militares só vieram a fixar
sua presença a partir da construção do Forte São Joaquim, em
1775, na confluência dos rios Uraricoera e Tacutu, vias de acesso
às bacias do rio Orinoco (Venezuela) e Essequibo (República da
2 A tropa de resgate consistia em um conjunto de pessoas, oficiais da Coroa
Portuguesa ou não, que desciam os rios para capturar os índios que se tornariam
escravos ou seriam aldeados.

18 | Francilene dos Santos Rodrigues


Guiana), então territórios espanhóis e holandeses. A ocupação
colonial portuguesa do vale do rio Branco foi notadamente de
cunho estratégico-militar.
A presença militar em Roraima tem sido expressiva. Até
1790, ano em que ocorreu a revolta dos índios aldeados, a região
do rio Branco contava apenas com militares e alguns missioná-
rios. A partir desta data os civis tornaram-se residentes do rio
Branco por ordem do Governador da Capitania do Rio Negro
Lobo D’Almada, que substituiu os diretores militares dos al-
deamentos indígenas por civis. A modificação da estratégia de
ocupação e povoamento do vale do rio Branco, cuja ênfase da
ação oficial passou a ser a pecuária como fator de povoamento,
foi determinada, de certa forma, pelo fracasso da estratégia de
povoamento por meio do aldeamento das populações indígenas
que, no entanto, sublevavam-se constantemente.
Passados quase cem anos da introdução das primeiras ca-
beças de gado, em 1787, por Manuel Lobo D’Almada governador
da Capitania de São José do Rio Negro e da criação das Fazendas
Nacionais3, o alto rio Branco era povoado, além dos indígenas,
basicamente por militares, funcionários da Coroa e uns poucos
missionários. A ocupação civil de fato só veio ocorrer nas duas
últimas décadas do século XIX, com a expansão da pecuária para
o baixo rio Uraricoera e médio rio Branco (SANTILLI, 1994, p.
11). A pecuária constituiu-se em atividade complementar ao ex-
trativismo vegetal, pelo menos até o fim do século XIX. A partir
deste período, com a expansão da atividade de coleta da borracha
nos vales dos rios amazônicos, surgiu um mercado consumidor
regional (Manaus) que proporcionou à pecuária o início do seu
processo de ascensão.
Por mais de meio século, de 1870 até meados da década de
20, do século XX, a pecuária foi a atividade de maior importância
econômica do atual estado. O declínio da pecuária iniciou-se no
final da década de 1910, e perdurou até a década de 1940, com a
intercalação de curtos períodos de ascensão e estabilização até a

3 As fazendas nacionais criadas denominavam-se: São José, São Bento e São


Marcos, todas localizadas à margem direita dos rios Branco e Uraricoera.

Garimpagem e Mineração: uma análise sócio-histórica... | 19


década de 1950. A partir daí, reiniciou-se o processo de ascensão,
seguido de períodos de estabilização (FIGURA 1). O primeiro
período do declínio, iniciado a partir do final da década de 1910,
é explicado, primeiro, pela redução do mercado consumidor
regional causado pelo dêbácl da borracha, tendo em vista que
o rio Branco possuía uma população não-índia reduzida e não
apresentava uma demanda significativa. Boa Vista pertencia ao
estado do Amazonas e, era então, em 1890 o único povoado do
alto rio Branco elevado à condição de vila. Segundo, esse declínio
explica-se, também, pelo surgimento da atividade de mineração
que, num primeiro momento, transferiu mão de obra e algum
capital para essa atividade. Em um segundo momento, porém,
realizou o caminho inverso, ou seja, os resultados adquiridos
com a atividade de mineração foram reinvestidos na compra de
fazendas e de gado.

Figura 1 – Rebanho bovino Período 1883 a 1993

Fonte: IBGE (FALTA ANO).

Sendo assim, a descoberta de novos garimpos4, no início


da década dos anos 1910, na região do alto rio Branco, ao longo
dos rios Cotingo e Maú contribuiu, de um lado, para diversificar
a economia que se baseava primordialmente na pecuária, na ex-
tração de balata5, no cultivo de tabaco e na produção de aguar-
4 Definido como o lugar onde é realizada a atividade de mineração.
5 Árvores das florestas úmidas que produz um tipo de látex de qualidade infe-
rior.

20 | Francilene dos Santos Rodrigues


dente e, por outro lado, para um certo crescimento da população
do vale do rio Branco. Contudo, este aumento populacional não
foi suficiente para restabelecer um mercado consumidor local,
tendo em vista que tal crescimento se deu, principalmente, pela
inserção da população indígena na economia regional.
A exploração do ouro e do diamante era realizada basi-
camente pelos moradores da região e pelos índios que trabalha-
vam por conta própria ou como empregados. Os garimpos só
passaram a exercer efetivamente atração populacional, mesmo
que de forma incipiente, em meados dos anos 1930 e, mais preci-
samente, no final desta década, com a descoberta dos diamantes
de Tepequém. Na década de 1940, a atividade extrativa mine-
ral assumiu grande importância, superando as outras atividades
econômicas, inclusive a atividade pecuária. Em 1943, a produ-
ção de ouro e de diamantes representava 59,6% do valor total
da produção do Território do Rio Branco, enquanto a pecuária
contribuiu com apenas 26,8% do total. Em 1946, a exportação de
diamantes representou mais de 70% da pauta de exportações do
ex-Território (FIGURA 2).

Figura 2 – Movimento de exportação do ex-Território Federal do Rio Branco


1944 a 1949

Fonte: Gerra (1957, p. 226).

Garimpagem e Mineração: uma análise sócio-histórica... | 21


1.1.1 O Território do Rio Branco e a ocupação da fronteira

Em 1943, foi criado o Território Federal do Rio Branco,


juntamente com os Territórios do Amapá, Fernando de Noro-
nha, Guaporé (Rondônia), Ponta-Porã e Iguaçu. Neste período, a
população total da região era estimada em 19.709 habitantes. Os
indígenas representavam mais de 70% da população (SANTILLI,
1994, p. 36). A criação dos territórios teve como fatores determi-
nantes questões de limites territoriais recém resolvidas6, pressões
militares com o advento da II Guerra Mundial, e povoamento
destas áreas.
A criação dos territórios federais, enquanto estratégia de
ocupação do Governo Federal, passou por três fases. A primei-
ra fase vai de sua criação, em 1943, até 1964, cuja ocupação das
áreas de fronteiras foi predominantemente militar. As principais
consequências desta primeira fase do Território do Rio Bran-
co foram as modificações proporcionadas pela implantação e a
construção de infraestrutura básica administrativa; no aspecto
econômico, as principais alterações deram-se a partir do cresci-
mento da atividade de mineração que apresentou um aumento
significativo da produção até o final da década de 1940 e, a partir
daí, o declínio; a pecuária começou a recuperar-se e a apresen-
tar crescimento do rebanho bovino, principalmente a partir do
início da década de 1950, reforçando a ideia de que parte dos
resultados adquiridos através da mineração foram aplicados nes-
ta atividade (FIGURA 1); no aspecto demográfico as mudanças
foram significativas mesmo levando-se em consideração que as
populações indígenas eram solenemente ignoradas nos censos
demográficos oficiais. Em 1943, a população de não-índios era
estimada em 4.009 pessoas (MIGLIAZZA apud SANTILLI, 1994,
p. 36). Em 1950, a população não-índia era de 18.116 pessoas. E,
em 1960, eram 28.304 habitantes. Portanto, a criação do Territó-
rio do Rio Branco e a expansão da atividade de extração mineral
6 A questão com a França resultou no Território do Amapá; a questão com a
Inglaterra no T.F. do Rio Branco; a questão com a Bolívia no T.F. do Acre e de
Rondônia; a questão com a Argentina e a guerra com o Paraguai nos T.F. de
Ponta-Porã e Iguaçu (FREITAS, 1991, p. 21).

22 | Francilene dos Santos Rodrigues


foram os principais fatores responsáveis pela expansão da econo-
mia e da população neste período.
A segunda fase iniciou-se com o regime militar, em 1964,
e continuou até o final de 1985, quando foi nomeado o primeiro
civil para governar o Território. Nesta segunda fase, os Territó-
rios continuaram a ser tratados como áreas de segurança má-
xima nacional, que resultou, entre outras coisas, na divisão dos
governos dos Territórios entre as Forças Armadas7. O governo
do Território do Rio Branco, coube à Aeronáutica, cujo último
governador militar nomeado em 1984, Brigadeiro Arídio Mar-
tins encerrou seu governo no início de 1985. Além deste aspecto
militar, outra característica desta segunda fase dos Territórios foi
a priorização da ocupação destes espaços territoriais por meio da
implementação de políticas de desenvolvimento e integração, ou
seja, teve como característica a estratégia de ocupação das regiões
de fronteira baseada na geopolítica militar da Doutrina de Segu-
rança Nacional que permeou todo o regime militar. A ideologia
da Segurança Nacional preconizava

[...] o desenvolvimento com segurança”.


Para desenvolver as regiões, principalmen-
te a Amazônia, necessário se fazia “incor-
porar vastas áreas e populações marginali-
zadas no processo de desenvolvimento do
Norte, Nordeste, Centro-Oeste e Centro
Sul. (BRASIL, 1972, p. 6).

Para a efetivação dessa estratégia, foi criado, no início da


década de 1970, o Programa de Integração Nacional – PIN, que
dentre os vários objetivos, sobressaíam-se dois como fundamen-
tais. O primeiro consistia na estruturação de infraestrutura bási-
ca de transportes e de comunicações. Neste sentido, a construção
de rodovias federais era primordial para o programa como forma
de interligar a Amazônia ao Nordeste, ao Centro-Sul e ao sistema
rodoviário interamericano. O segundo, visava ao direcionamen-
to do fluxo migratório através da colonização ao longo das rodo-
7 Roraima foi “doada” à Aeronáutica; O Amapá à Marinha e Rondônia ao Exér-
cito (FREITAS,1991).

Garimpagem e Mineração: uma análise sócio-histórica... | 23


vias. Os efeitos destes programas em Roraima foram a constru-
ção da BR-174 (Manaus-Boa Vista-Venezuela), da BR-401 (Boa
Vista- Normandia na fronteira com a Guiana) e da BR-210 ou
Perimetral Norte (Pará-Roraima-Manaus), ainda não concluída.
Faltam ainda 45,30km no sentido Roraima-Pará. Os projetos de
colonização só tomariam impulso efetivamente a partir do iní-
cio da década de 1980. Ainda, nesta segunda fase, foi criado o
programa de polos de desenvolvimento, por meio do Programa
de Polos Agropecuários e Agrominerais da Amazônia (POLA-
MAZÔNIA), que incluiu Roraima. A finalidade do programa
era “promover o aproveitamento integrado das potencialidades
agropecuárias, agroindustriais, florestais em áreas prioritárias da
Amazônia”, por meio do Decreto n.º 76.607 de 25/09/74. Os re-
sultados do programa para Roraima restringiram-se a uns pou-
cos incentivos para a pecuária. Para a mineração, o programa
destinou apenas a diretriz de realizar estudos em áreas de ocor-
rências detectadas pelo Projeto RADAM (BASIL, 1976, p. 113).
O Polamazônia-Roraima foi apenas um projeto que, na prática,
refletiu a pouca importância de Roraima no contexto do desen-
volvimento da Amazônia.
A terceira fase, ou fase de transição, iniciou-se com a no-
meação dos governadores civis e a preparação das bases políticas
para a transformação do Território em estado, até a posse do pri-
meiro governador, eleito em 1991. Esta terceira fase foi marcada
pela descontinuidade e instabilidade administrativa, à medida em
que os governadores nomeados não possuíam um mandato de-
finido anteriormente e, também pelo acirramento dos conflitos
sociais. Foi durante esta fase que teve início o “boom garimpeiro”,
o qual que suscitou e acirrou os conflitos envolvendo índios e ga-
rimpeiros. Trouxe também ao cenário político e econômico, a mi-
neração como questão central da problemática roraimense apre-
sentada como fator propulsor do desenvolvimento de Roraima.

24 | Francilene dos Santos Rodrigues


1.1.2 Roraima: um novo estado

O período de transição democrática e a elaboração da


Constituição Federal apresentavam-se, para alguns, como a con-
juntura favorável ao processo de transformação do Território em
estado. O período que antecedeu este processo foi permeado de
muitas disputas políticas. Encontrava-se em jogo a possibilida-
de da conquista do poder sem a interferência direta do Governo
Central.
Os argumentos favoráveis defendidos por uma parte dos
políticos locais giravam em torno da necessidade de autonomia
político-administrativa, à medida que o Território apresentava,
nos últimos anos, “[...]uma vigorosa expansão na atividade eco-
nômica e no quantitativo da sua população” (LIMA, 1982, p. 30).
Os argumentos contrários defendidos por outra parte dos políti-
cos baseavam-se, principalmente, na falta de condições infraes-
truturais necessárias à implementação do desenvolvimento em
Roraima. Os militares e os políticos filiados ao partido do gover-
no, Partido Democrático Social-PDS, eram contrários a tal trans-
formação, embora alguns ex-militares com intenções de entrar
para a política local visualizassem-na como um campo fértil. Foi
o caso de Ottomar de Souza Pinto, nomeado para o período de
1978-1983, então Brigadeiro; depois eleito Deputado Federal por
Roraima (1984-88); primeiro governador eleito para o período
de 1991-94; foi prefeito de Boa Vista no período de 1997-2000;
tomou posse como governador no lugar de Flamarion Portela
após este ter seu mandato cassado pelo Superior Tribunal Elei-
toral – STE (2004-2005); foi reeleito governador para o mandato
2006-2009, vindo a falecer em 2007.
É verdade que o crescimento da população na década de
1980 foi significativo. Passou de 49.885 habitantes, em 1970, para
79.159 habitantes, em 1980. A taxa média de crescimento popu-
lacional deste período foi de 6,83% ao ano, a maior apresentada
até aquele momento. Pela primeira vez, a população urbana su-
perava a população rural. Em 1980, 61,56% da população con-
centrava-se nos núcleos urbanos, principalmente na capital Boa
Vista. Os principais motivos deste crescimento no estado foram
Garimpagem e Mineração: uma análise sócio-histórica... | 25
o incentivo à migração através dos projetos de assentamento e
colonização agrícola implantados a partir de meados da década
de 1970 e a descoberta de novos garimpos a partir de 1980.
A atividade de mineração vai se configurar o principal
atrativo à migração verificada durante toda a década de 1980.
O resultado deste fluxo migratório refletiu-se, em 1990, na taxa
de crescimento demográfico de 10,64%, a maior do Brasil. A ex-
pansão da atividade de mineração foi consequência, de um lado,
do esgotamento das jazidas secundárias nos garimpos de outras
regiões da Amazônia, principalmente da província garimpeira
de Tapajós e Serra Pelada, no Pará. De outro lado, do aumento
significativo do preço do ouro a partir de 1979 (FIGURA 3). Os
reflexos desta atividade de mineração na economia do estado se-
rão melhor analisados no segundo capítulo.

Figura 3 – Movimento da cotação do preço internacional do ouro - 1968 a 1994

Fonte: DNPM. (ano?)

Essa expansão da atividade de mineração para além das


terras indígenas acirrou os conflitos entre índios e garimpeiros
e reascendeu os conflitos entre índios e fazendeiros. Os conflitos
tinham como base os diferentes significados atribuídos aos terri-
tórios e à utilização dos recursos naturais pelos diferentes grupos
sociais. O acirramento dos conflitos proporcionou, de certa for-
ma, a organização de parte da sociedade civil, principalmente por
aqueles que se viam na eminência de serem desterritorializados.

26 | Francilene dos Santos Rodrigues


Durante esse período, surgiram entidades representativas
ou defensoras da causa indígena, tais como Conselho Indígena
de Roraima – CIR, Associação dos Povos Indígenas de Roraima –
APIR, Associação Regional Indígena do Quinô, Cotingo e Monte
Roraima – ARICON, Organização dos Professores Indígenas de
Roraima – OPIR. A Igreja Católica que iniciara, a partir da déca-
da de 1970, uma atuação mais comprometida baseada na “opção
preferencial pelos pobres”8, reforçou e ampliou sua participação
religiosa e política junto aos índios.
Surgiram outras organizações não governamentais, tais
como a Comissão para a Criação do Parque Yanomami – CCPY,
Médicos do Mundo, Médicos sem Fronteira, entre outras, de me-
nor representação. A defesa dos direitos indígenas e a assistência
social unificavam tais entidades.
Surgem entidades representativas dos segmentos da socie-
dade civil, tais como o Sindicato dos Garimpeiros de Roraima
– SINDIGAR, a Associação dos Fazendeiros de Roraima, Fede-
ração do Comércio de Roraima – FECOR. Outras entidades tor-
naram mais ofensiva sua atuação, entre elas como a Federação
da Indústria e do Comércio de Roraima – FIER e a Associação
Comercial e Industrial de Roraima – ACIR.
Nesse sentido, a emergência da atividade de mineração,
principalmente em áreas indígenas, a partir da década de 1980,
e a transformação do Território em estado trouxeram à tona a
necessidade de pensar um desenvolvimento que possibilitasse
“[...]a coexistência de diferentes lógicas territoriais e a preserva-
ção das possibilidades de existência e desenvolvimento de modos
diferenciados de uso dos recursos naturais” (VAINER, 1992, p.
140). O fato da mineração apresentar-se, de um lado, como uma
atividade de certa importância histórica, social e econômica para
Roraima e, de outro, estar no centro das discussões como alter-
nativa para o desenvolvimento do estado e dos conflitos sociais
em decorrência da disputa pelo domínio do território, requer a
8 A opção preferencial pelos pobres da Igreja Católica na América Latina teve
como base e orientação a Encíclica Rerum Novarum, escrita pelo Papa Leão
XIII a 15 de maio de 1891, ratificada a partir de Medellin (1968) e confirmada
em Puebla (1979).

Garimpagem e Mineração: uma análise sócio-histórica... | 27


compreensão do processo histórico da formação e estruturação
dos garimpos e, consequentemente, da realidade social de Rorai-
ma.

1.2 Histórico e periodização da mineração em Roraima

A tentativa de periodizar o processo histórico da minera-


ção em Roraima parte do pressuposto que passado e presente são
momentos diferenciados de um mesmo processo. Porquanto, a
periodização, neste trabalho, assume uma perspectiva analítica,
em que cada período ou fase reflete especificidades, papéis e im-
portâncias diferenciadas da mineração na história econômica,
social e política do estado de Roraima. Sabe-se que a história não
é uma repetição de fatos e, neste sentido, tais acontecimentos
são únicos e qualquer tentativa de encontrar semelhanças “[...]
têm que ser buscadas além da especificidade plena do fato real”
(CARDOSO, 1977, p. 3).
A história da formação dos garimpos e do surgimento da
atividade de mineração no estado de Roraima, embora contenha
algumas semelhanças com outros garimpos da Amazônia, traz
em seu bojo especificidades, seja pelas peculiaridades geológicas,
seja pelo seu caráter de múltiplas fronteiras: geopolítica, demo-
gráfica, econômica e étnica.
Apesar de várias excursões dominantemente estrangeiras
terem tentado encontrar o “Eldorado”, ainda no século XIX, a
exploração mineral em Roraima, como dito anteriormente, é re-
lativamente recente e data do início do século XX, precisamente
por volta do ano de 1912.
Antes da explicação dos critérios utilizados na periodiza-
ção, torna-se necessário explicitar a definição das atividades de
mineração tal como se desenvolvem no estado de Roraima. Ga-
rimpagem vai ser utilizado, neste trabalho, como sinônimo de mi-
neração, até o momento de uma discussão mais precisa no capí-
tulo quatro. A mineração consiste na atividade de transformação
da natureza, especificamente extração de substância de mineral,
no caso específico de Roraima, mineral precioso. A garimpagem,

28 | Francilene dos Santos Rodrigues


assim, pode ser dividida em três categorias9: pequena mineração
– inclui-se aqui a lavra manual e semimecanizada e, geralmente,
envolve de 6 a 9 trabalhadores; média mineração – aquela que se
utiliza de máquinas e equipamentos mecanizados, necessita de
um sistema de gerador de energia movido a óleo diesel para os
diversos motores elétricos e envolve entre 10 e 20 trabalhadores;
grande mineração – necessita de altos investimentos, em termos
de milhões de dólares.
A definição de garimpo utilizada aqui, diz respeito ao lu-
gar onde é executado todo o processo da atividade de mineração.
Inclui os baixões (local onde se extrai o ouro), as currutelas, onde
estão localizadas as pistas de pouso, a cantina e o dormitório
(PAIXÃO, 1996, p. 3). Garimpeiros são todos os trabalhadores
envolvidos na atividade de extração de substância mineral.
Os principais critérios utilizados na periodização referem-
se ao:

1. Tipo de tecnologia (aos instrumentos/equipamentos


de trabalho);
2. Processo de trabalho dominante - diz respeito à divi-
são das atividades e às relações de trabalho;
3. Tipo de substância mineral;
4. Ciclo de produtividade - diz respeito ao ciclo de ascen-
são e declínio da produção mineral;
5. Área geográfica em evidência;
6. Formação ou incremento de núcleos urbanos;
7. Participação da grande empresa de mineração na ati-
vidade extrativa mineral;
8. Aspectos socioeconômicos e político.

Baseando-se nesses critérios, a história da garimpagem em


Roraima foi dividida em três períodos: primeiro período que se
iniciou em 1912 e indo até 1965; segundo período iniciado a partir
de 1966 e foi até 1979 e o terceiro período iniciado a partir de 1979
até os dias atuais.
9 Essas definições da mineração ou garimpagem estão largamente inspirada em
Lestra e Nardi, (1984, p. 264-298).

Garimpagem e Mineração: uma análise sócio-histórica... | 29


1.2.1 Primeiro Período: a descoberta do “caminho das pedras”:
o auge da exploração diamantífera (1912 a 1965)

As primeiras ocorrências de diamantes foram identifica-


das por volta de 1912, na localidade do rio Urucá, divisor dos
rios Maú e Cotingo, na fronteira com a República Cooperativista
da Guiana. Em 1924, foram localizados pequenos diamantes no
rio Caranguejo, próximo ao divisor de águas do rio Orinoco. Em
1930, foram descobertas novas jazidas no igarapé Suapi, afluente
do rio Cotingo, próximo ao limite do Brasil com a Venezuela.
Segundo Guerra (1957), todos os igarapés que descem do sistema
Parima-Pacaraima são diamantíferos.
Por volta de 1937, foi descoberto diamante na Serra de
Tepequém, situada à margem direita do rio Amajari. Mas, so-
mente em 1939, quando começou efetivamente a exploração do
diamante, a mineração assumiu um papel relevante, passando a
ter um peso significativo na economia do Estado.
As áreas geográficas de ocorrências diamantífera desse pe-
ríodo estão situadas ao Norte e ao Centro Norte do estado de
Roraima. As principais frentes de mineração são 1- rio Quinô
(garimpos de Suapi, Serra Verde, Piolho e Caju); 2 - rio Cotingo
(garimpos do Puxa-Faca, Bandeira Branca, Água Fria e Urucá);
3 - rio Maú (garimpos do Mutum e Uiramutan); 4 -Tepequém
(garimpo da Serra de Tepequém). Estas áreas coincidem com as
áreas próximas às grandes fazendas de criação de gado e, com
exceção de Tepequém, com a região habitada pelos índios das
etnias Macuxi, Ingaricó, Taurepang e Wapixana. O acesso a essas
áreas era feito por via aérea e via terrestre, em estradas carroçá-
veis, cujos transportes utilizados eram os bois ou os cavalos.
O rio Cotingo é um dos principais da região e nasce no
Monte Roraima. Depois de se encontrar com os rios Surumu e
Tacutu deságua no rio Branco. O rio Quinô é tributário do rio
Cotingo e do Suapi que, por sua vez, é afluente da margem direita
do rio Quinô. O rio Maú é afluente do rio Tacutu.

30 | Francilene dos Santos Rodrigues


Tepequém é uma área de 12.000km2, situada no centro de
uma bacia fechada com altitude de 550 a 1.200m. Precisamente,
Tepequém está localizada a cerca de 200 km a noroeste da cidade
de Boa Vista, entre o rio Amajari, ao Norte, e a ilha de Maracá,
ao Sul. Os principais cursos d’água são os igarapés do Paiva e seu
afluente Cabo Sobral. Neste último local, estão sendo efetuados
os desmontes para o processo de garimpagem.
No início da década de 1930, um grande fazendeiro da
região chamado Antônio Piauí, financiou excursões à serra de
Tepequém. Em 1931, o geólogo guianense chamado Bruston
detectou ocorrências de diamante e, no fim de 1936 e início de
1937, começou efetivamente a exploração de diamantes na serra
de Tepequém.
Em 1948, Adolpho Brasil requereu a posse desses garim-
pos e fundou a “Empresa de Mineração Tepequém Ltda.”, a pri-
meira empresa de mineração do ex-Território do Rio Branco. Em
1952, a empresa foi vendida à firma belga de José Rellings, o qual
fugiu em 1956, após o assassinato de seu filho por um garimpei-
ro denunciante dos que denunciou os maus tratos impostos aos
empregados da mineração e o monopólio das vendas dos insu-
mos básicos10. Os belgas obrigavam os garimpeiros a venderem
sua produção à empresa e a comprarem de seus comércios sob
pena de serem expulsos. A empresa pagava em “vale” timbra-
do com seu nome, controlando assim, todo o capital circulante
(VIEIRA, 1971, p. 11). Em 1959, Tepequém foi transformada em
Região do Patrimônio Nacional e, em 1984, transformada em re-
serva garimpeira.
Entre 1941 e 1943, havia em Tepequém cerca de 1.000 ha-
bitantes estabelecidos, dentre eles 400 eram garimpeiros (GUER-
RA, 1957, p. 204). Em 1982 foi registrado o maior número de

10 Em depoimento, gravado em setembro de 1993, o Sr. João Cuia, protago-


nista deste acontecimento, narrou-nos o fato. Após cumprir pena de 10 anos
de prisão, o Sr. João Cuia retornou a Tepequém, onde mora sozinho, criando
pequenos animais (carneiros, porcos e galinhas), plantando abacaxi, mandioca
e legumes. Esta história foi confirmada por mais dois garimpeiros que ainda
residiam no local. Ao revisar esse trabalho, fui informada por outro pesquisador
que seu Joao Cuia veio a falecer em 2015.

Garimpagem e Mineração: uma análise sócio-histórica... | 31


habitantes em Tepequém: 3.000 habitantes, (DNPM, 1982). Na
década de 1990, a população decresceu. Passou de 1.800 habitan-
tes, em 1991, para 575, em 1993 e para 284 habitantes, em 199511.
Existe em Tepequém cerca de 300 cabeças de gado bovino
espalhadas por toda a serra, cujos donos foram “garimpeiros” e
hoje são “donos de pares de máquinas”. Tepequém possui um
solo favorável à agricultura, cujos principais produtos cultivados
são: milho, abacaxi, manga, goiaba, mandioca, legumes e verdu-
ras (FIGURA 4).

Figura 04 - Plantações de mandioca

Fonte: A autora (1995).

O cultivo de produtos agrícolas ocorreu a partir da for-


mação do povoado. Alguns garimpeiros, principalmente os que
moravam com a família, cultivavam hortas e criavam galinhas
nos próprios barrancos (FIGURA 05).

11 Esses dados da administração da vila de Tepequém, foram citados por Ri-


naldo Barbosa em artigo publicado na revista Ciência Hoje, nº 81 de junho de
1992, sendo que em 1993 também realizei pesquisa de campo. Os dados foram
coletados em novembro de 1995, fornecidos pelo representante do Sindicato
dos Garimpeiros de Roraima.

32 | Francilene dos Santos Rodrigues


Figura 05 - Horta na moradia de garimpeiro

Fonte: A autora (1995).

Outra característica desse período foi a predominância do


diamante, enquanto principal substância mineral (FIGURA 06).

Figura 06 - Ponto de compra e venda de diamantes em Tepequém-RR

Fonte: A autora (1995).

Garimpagem e Mineração: uma análise sócio-histórica... | 33


Nesse período, a forma de extração era totalmente manual.
Os métodos de exploração do diamante eram os mais rústicos. A
tecnologia resumia-se a pás, picaretas - utilizadas para a limpeza e
para o desmonte - e as surucas (conjunto de 3 peneiras), para a lava-
gem, peneiragem e seleção do material mineralizado (FIGURA 07).

Figura 07 - Adolescente garimpando com bateia em Tepequém

Fonte: A autora (1995).

A organização do trabalho era realizada geralmente com


um grupo de 5 a 8 pessoas. O processo do trabalho de mineração
era dividido em várias fases: primeiro, escolhia-se uma área e cor-
tava árvores, se fosse o caso; segundo, fazia-se o desmonte (ou “ti-
rar o corte”) em uma área geralmente de 6X4 metros. Nesta fase,
utilizavam-se pás e picaretas até alcançarem o cascalho; terceiro,
retiravam o cascalho e depositavam-no em outro lugar para ser
peneirado; quarto, iniciavam a lavagem e peneiragem do casca-
lho utilizando-se das surucas (peneiras). As relações de trabalho
davam-se entre o financiador que fornecia as ferramentas e a ali-
mentação, ficando com 50% da produção. O restante era dividido
entre a equipe de trabalho. Muitas vezes, esta atividade era reali-
zada por conta própria, ou seja, individualmente. Além da figura
do agente financiador, geralmente um fazendeiro ou comercian-
te, havia em alguns grupos o chefe de turma ou subgerente. Ou-

34 | Francilene dos Santos Rodrigues


tro agente da estrutura social deste período foi o diamantário, um
comprador do produto da pedra que andava pelos garimpos ne-
gociando diretamente dos garimpeiros (FIGURA 08). Havia, ain-
da, o “comboieiro” ou “boiadeiro”, pessoa que conduzia os com-
boios que transportavam os produtos consumidos nos garimpos.

Figura 08 - Diamantário avaliando o diamante

Fonte: A autora (1995).

Uma característica específica desse período foi o fato da


exploração ser realizada nos primeiros anos, predominantemen-
te, por moradores e índios que habitavam a região. A mineração
tinha, até então, o caráter de uma atividade complementar. So-
mente a partir da década de 1940, é que a mineração vai atuar
como um atrativo populacional, principalmente para cearenses,
mato-grossenses e goianos. No período de 1941 a 1943, havia
em Tepequém aproximadamente 1.000 pessoas trabalhando
(GUERRA, 1957, p. 204). Vale ressaltar que a população de não
-índios girava em torno de 4.000 habitantes. Em 1947, mais de
1.500 pessoas estavam morando em Tepequém (VIEIRA, 1971,
p. 11). Algumas pessoas bem-sucedidas na atividade e oriun-
dos de outros estados investiram na região, permaneceram nela,

Garimpagem e Mineração: uma análise sócio-histórica... | 35


outros, já fixados no Território, diversificaram suas atividades,
comprando ou ampliando as fazendas, montando comércios, en-
tre outros negócios.
O ciclo de produtividade desse período, que se iniciou com
as primeiras descobertas de garimpos, atingiu o período áureo da
produção diamantífera em 1944, quando foram extraídos 28.723
quilates de diamantes (QUADRO 01).

Quadro 01 – Produção diamantífera do território do Rio Branco. Período de


1944 a 1949
Ano Quilates
1944 28.723
1945 16.106
1946 16.570
1947 19.303
1948 11.000
1949 13.144

Fonte: Serviço de Geografia e Estatística do T.F.R n: Guerra (1957, p. 226).

Em 1946, o extrativismo mineral foi responsável por mais


de 70% de toda a exportação do Território de Roraima (GUER-
RA, 1957, p. 205) (FIGURA 02).
Em 1953, foi encontrada a maior pedra de diamantes da re-
gião com 21 quilates e 75 pontos. A produção começou a declinar
no início da década de 1950 e prosseguiu até meados da década
de 1960. O declínio deveu-se, principalmente, aos métodos de
extração os quais geravam uma quantidade enorme de entulhos
(restos de cascalhos já removidos e trabalhados) depositados em
áreas não trabalhadas, acumulavando-se e tornavam-se difíceis de
serem removidos por falta de meios capazes de fazê-lo. Os méto-
dos de remoção dos entulhos só surgiram em fins dos anos 1970
(FIGURA 09)

36 | Francilene dos Santos Rodrigues


Figura 9 - Material processado manualmente

Fonte: A autora (1995)

Outro fator a contribuir para o arrefecimento da produção


diamantífera foi o alto custo de vida nesses garimpos. Consti-
tuíam problemas ainda, a dificuldade de acesso e a distância dos
centros de abastecimentos. Em parte, devido aos fatores acima
mencionados e à existência de assistência social nos garimpos da
Venezuela, os garimpeiros deslocavam-se para lá e para os ga-
rimpos na República da Guiana. Em 1968, o DNPM cadastrou
300 garimpeiros brasileiros em um só garimpo, na Venezuela
(VIEIRA, 1971, p. 18).
Esse processo de imigração garimpeira para a fronteira dos
países vizinhos intensificou-se no final da década de 1980 e início
da década de 1990. Entre outros motivos estão os preços mais
acessíveis dos gêneros alimentícios e o fato do governo venezue-
lano incentivar e apoiar legalmente a atividade de mineração.
Este aspecto será melhor tratado no terceiro período da história
da mineração em Roraima.

Garimpagem e Mineração: uma análise sócio-histórica... | 37


Outra característica deste período foi a emergência e es-
truturação de pequenas aglomerações urbanas com uma certa
organização social estável que, mais tarde, se transformariam em
vilas e até em municípios. O garimpo de Tepequém fundou a vila
de Tepequém (FIGURA 10).

Figura 10 - Entrada principal da Vila de Tepequém

Fonte: A autora (1995).

Os garimpos do rio Cotingo, a vila do Caju e a vila do Ui-


ramutã, recentemente transformada em município e os garimpos
do rio Maú fundaram a vila do Mutum. Nestes pequenos núcleos
urbanos, os moradores alternavam as atividades de mineração
com uma pequena agricultura de subsistência ou com a criação
de gado e de pequenos animais.

1.2.2 Segundo Período: das transformações tecnológicas às


transformações sociais na garimpagem (1966 a 1979)

No segundo período, as áreas geográficas da atividade de


mineração eram: 1-rio Quinô; 2- rio Cotingo; 3- rio Maú; 4- Te-
pequém. Como visto anteriormente, localizavam-se no Norte e
no Centro Norte do Estado. Surgiu, em 1975, uma outra frente
de mineração na região para a extração da substância mineral
cassiterita, localizada a Noroeste do Estado, na 5- Serra do Suru-

38 | Francilene dos Santos Rodrigues


cucu. Esta frente de mineração durou apenas 8 meses, quando os
garimpeiros foram retirados das áreas de mineração localizadas
em terras indígenas pela Polícia Federal. O acesso a estas áreas
era realizado via terrestre, com exceção da serra do Surucucu em
que o acesso era realizado por via aérea.
Nessas áreas de mineração, a substância extraída pelos ga-
rimpeiros era predominantemente o diamante, mas passaram a
extrair o ouro como subproduto do diamante a partir da adap-
tação dos equipamentos. Entretanto, apesar da semimecanização
da atividade de mineração em Roraima, a extração manual ainda
era muito relevante, principalmente para as áreas “virgens”. A
lavra manual era exercida por alguns índios ou pelos moradores
permanentes destas localidades, principalmente, no período de
alta pluviosidade, quando as chuvas propiciavam o acúmulo de
águas nas partes mais elevadas das serras ou nas “cabeceiras dos
rios”, o que facilitava a lavagem do material.
Ao mesmo tempo em que as chuvas facilitavam a mine-
ração manual, dificultavam o funcionamento das máquinas e a
abertura de cavas pelo grande volume d’água no leito dos rios e
dos igarapés. A utilização das máquinas destinava-se principal-
mente à repassagem do material (cascalho) acumulado ao longo
das grotas e leito dos rios. Em períodos anteriores, os garimpei-
ros lavavam o cascalho no leito destes rios e todo o ouro existente
passava através das peneiras indo sedimentar-se no fundo dos
rios. Esta fase pode ser compreendida como uma fase de transi-
ção, em que coexistiam os métodos de extração mineral via lavras
manuais, ainda predominante, e lavras semimecanizadas a partir
da introdução gradativa de equipamentos e técnicas de explora-
ção adaptadas à realidade local.
A introdução de outros instrumentos e equipamentos no
processo de extração mineral data do final dos anos de 1960, nos
garimpos do rio Maú, quando já se utilizavam equipamentos
como o escafandro e a mascarita para garimpar no fundo dos
rios, até então garimpados por mergulhadores sem equipamen-
to algum. Em meados da década de 1970, surgiram as primeiras
“máquinas resumidoras” que eram constituídas basicamente por

Garimpagem e Mineração: uma análise sócio-histórica... | 39


uma bomba de pressão e monitor (pistola) com bicos de dife-
rentes polegadas, bomba de cascalho impulsionada por motor
a diesel de 2 cilindros e uma caixa resumidora de concentração
do material (resumidora). Eram usadas ainda a “cobra-fuman-
do” ou “lantona” utilizadas principalmente na fase da lavagem
do material.
A organização do trabalho dependia se a área escolhida era
ou não virgem (já trabalhada) e do tipo de exploração a ser de-
senvolvida (manual ou semimecanizada). Geralmente, as áreas
não virgens eram exploradas por meio do sistema semimecaniza-
do. Neste caso, o processo era realizado por máquinas de pequeno
porte, também denominadas de “par de máquina”; que consistia
em dois motores de 2 cilindros, um deles era equipado com uma
turbina de 4 polegadas para desagregar o material e o outro para
retirar e transportar o material que é lavado na resumidora. Este
processo era denominado de lavagem direta. O processo de lava-
gem indireta requer menores investimentos embora seja menos
produtivo. Na lavagem indireta utiliza-se somente o “par de má-
quina” na operação de retirada do cascalho, sendo este o material
transportado em latas, carrinho de mão ou sacos e descarregado
no “desareador”, que consiste em uma calha instalada a 3 ou 4 me-
tros com uma inclinação de mais ou menos 30 graus. No fundo
desta calha existe uma tela de nylon de aproximadamente 40 mesh,
que permite a passagem da areia e da água. Depois, o material la-
vado é jogado manualmente para a “resumidora” (CRUZ, 1980).
A utilização desses equipamentos provocou a intensifica-
ção da exploração do diamante e do aproveitamento do ouro,
acarretando um aumento na produção destes minérios. As infor-
mações sobre a produção diamantífera no período são descon-
tínuas e baseiam-se frequentemente em estimativas. Em 1969,
foram extraídos 4.569 quilates. Em 1970, foram extraídos 4.884
quilates (VIEIRA, 1971). Para 1979, Cruz (1980) estimou a pro-
dução diamantífera em 71.750 c.t. A produção aurífera registrada
em 1979 foi de 5kg.

40 | Francilene dos Santos Rodrigues


A mecanização dos garimpos trouxe alterações nas rela-
ções de trabalho. Os custos com os instrumentos de trabalho re-
queriam maiores investimentos e alguma especialização da mão
de obra (GASPAR, 1990). O novo processo acabou por reduzir a
participação dos garimpeiros nos resultados da extração mine-
ral. O sistema de produção conhecido por “meia-praça” dividia
o produto da extração numa relação de 50% para o financiador e
os outros 50% para o grupo de garimpeiros. A partir da mecani-
zada passou a se dar em uma proporção de 30% para a equipe de
trabalhadores e 70% para o dono que era também o financiador.
A equipe era, geralmente, composta de 8 pessoas, ou seja, um co-
zinheiro, um administrador e seis trabalhadores a se revezarem
nas várias fases da atividade de mineração.
Nesse período não surgiu nenhum núcleo urbano de maior
relevância. Ocorreu apenas a expansão dos núcleos já existentes,
principalmente o de Tepequém. A participação da grande mine-
ração deu-se somente por meio dos pedidos e requerimentos de
pesquisa protocolados junto ao Departamento Nacional de Pro-
dução Mineral – DNPM, em um total de 237 requerimentos, no
período de 1969 a 1975. Dentre estas empresas encontravam-se a
Companhia Vale do Rio Doce – CVRD e a Paranapanema.

1.2.3 Terceiro Período: do auge do “Eldorado” até depois do


arco-íris (1980...)

A fase “dourada” no estado de Roraima correspondeu ao


período em que o ouro assumiu a dianteira da produção mineral,
proporcionando mudanças num ritmo nunca visto anteriormen-
te à sociedade e transformando definitivamente a realidade e a
paisagem social roraimense.
Em fins de 1979, foi descoberto o garimpo de ouro de San-
ta Rosa em um trecho do furo Santa Rosa, localizado no baixo e
médio curso do rio Uraricoera, a Noroeste do estado. Em 1980,
a população deste garimpo era de 5000 homens trabalhando e
extraindo ouro. Parcela desta população, atraída para a área, era
constituída, em um primeiro momento, por uma população que
até então não possuía qualquer relação direta com a garimpagem.

Garimpagem e Mineração: uma análise sócio-histórica... | 41


Boa parte dela era residente no próprio estado sem antecedentes
de trabalho de garimpagem, entre eles, muitos eram funcionários
públicos, profissionais liberais, pequenos comerciantes, empre-
gadas domésticas, desempregados e até empresários dos diversos
ramos de atividades. As dificuldades de acesso, a falta de condi-
ções mínimas e de infraestrutura básica fizeram com que mui-
tos não acostumados a estas condições retornassem a Boa Vista
(DNPM, 1984).
A área geográfica nesse período expandiu-se por todo o
Noroeste do estado, atingindo grande parte da área indígena
Yanomami. Entre as principais frentes de garimpagem, destaca-
vam-se: 1- o rio Uraricoera; 2- rio Apiaú; 3- rio Mucajaí; 4- serra
Couto de Magalhaes; 5- serra do Surucucu; 6- Santa Rosa; 7- Ca-
trimani; 8- Papiú; 9- Palimiú; 10- Ericó; 11- Demini; 12- Jundiá
e 13- Auari.
Pela primeira vez no estado de Roraima a mineração assu-
miu um aspecto de verdadeira “corrida do ouro” em todas as suas
escalas e consequências de um fato desta natureza. O diamante
tornou-se o subproduto do ouro. O caráter de temporalidade, ou
seja, de transitoriedade tão característica da maioria dos garim-
pos de outras regiões passou a ser um componente desta nova
fase da mineração. Havia um grande contingente da população
flutuante, de trânsito que não se estabelecia, não “criava raízes”.
Roraima era apenas um ponto de passagem. A descoberta do “El-
dorado” roraimense atraiu os maiores investidores de mineração
e os donos de garimpos no Tapajós. Os investidores foram atraí-
dos porque os garimpos da região do Tapajós começaram a en-
trar em processo de esgotamento das jazidas de veio secundário.
Nesse período foram introduzidas as primeiras balsas e
dragas12 nos leitos dos rios. O processo de dragagem por sucção
era realizado por elas. A balsa ou draga consistia em duas canoas
interligadas por um piso de madeira que sustentava o motor e
uma caixa de lavagem (sluice). A operação de dragagem come-
çava com a imersão do mergulhador com o objetivo de localizar
o cascalho no fundo dos rios (extração). O cascalho era sugado

12 O que diferencia uma da outra é a potência do motor.

42 | Francilene dos Santos Rodrigues


pela tubulação para cima da caixa (transporte). No final do dia,
o material trabalhado era lavado na “cobra fumando” e apurado
na bateia (LESTRA; NARDI, 1984, p. 274). Todos os garimpos
desta área eram mecanizados ou semimecanizados. O trabalho
de lavra manual ficava cada vez mais restritos aos índios e à po-
pulação local.
O auge da produção desses garimpos foi entre 1988 e 1989.
Em 1988, a produção oficial do ouro foi de 4 toneladas (DNPM,
1990, p. 1). Em 1989, a produção declarada foi de 8 toneladas.
Em 1990, a produção declarada foi de 5,7 toneladas. A partir daí
a produção começou a diminuir (FIGURA 11). O declínio foi
o reflexo da queda do preço do ouro, ao mesmo tempo em que
ocorreu aumento dos custos dos insumos básicos utilizados nesta
atividade, tais como combustível, reposição de peças, máquinas e
motores, aumento dos gêneros alimentícios. Outro fator foi a de-
marcação das terras indígenas Yanomami, em 1991, que resultou
na destruição de pistas de pouso, máquinas e equipamentos e a
retirada de garimpeiros da área pela Polícia Federal.

Figura 11 – Produção oficial de ouro extraído em Roraima. Período 1979 A 1995

Fonte: DNPM (ANO).

O ciclo de produtividade desse período pode ser definido


como de ascensão (1983), apogeu (1988/1989) e declínio, a par-
tir de 1990. A garimpagem encontrava-se em declínio, tanto em
número de pessoas, quanto em relação à produção, no entanto,
houve aumento vertiginoso da população que, consequentemen-
te, refletiu-se no aumento da violência urbana, violência contra

Garimpagem e Mineração: uma análise sócio-histórica... | 43


índios e aumento do custo de vida. Em decorrência destes fatos,
existia uma tendência presente nos discursos do governo e de al-
gumas lideranças políticas locais favorável à exploração mineral
por grandes empresas de mineração e não mais por pequenas ou
médias empresas de mineração.
Um outro aspecto identificado no período foi a interferên-
cia do governo, tanto em nível federal quanto em nível estadual,
de forma mais direta nos rumos da mineração em Roraima. A in-
terferência do Governo Federal deu-se de duas formas: primeiro,
por meio de medidas de destinação e alocação de recursos para a
realização de levantamentos sócio-estatísticos sobre a população
garimpeira, a produção, a evasão da produção, o aprimoramento
da tecnologia e também para a orientação e a “educação” dos ga-
rimpeiros quanto à necessidade da regularização de sua situação
junto ao DNPM. Tais medidas foram desenvolvidas por meio do
Projeto Estudo dos Garimpos Brasileiros. A segunda forma con-
sistiu na organização e retirada de garimpeiros de áreas indígenas
com todo o aparato policial, ou seja, Exército e Polícia Federal. A
interferência estadual deu-se pela tentativa de criação de reservas
garimpeiras contíguas às áreas indígenas. Este projeto, conheci-
do como “Projeto Meridiano 62”, propunha a criação das reser-
vas garimpeiras em áreas indígenas, entre outras medidas.
Entre outros aspectos sociopolíticos desse período, desta-
cam-se o acirramento dos conflitos entre índios e garimpeiros e
conflitos na fronteira entre garimpeiros brasileiros e a Guarda
Nacional da Venezuela. O aumento da violência contra os ín-
dios criou as condições objetivas de organização por parte dos
mesmos para a defesa de seus interesses, principalmente pela luta
em prol da demarcação de suas terras. Como resultado, surgem
entidades não governamentais de defesa da causa indígena e am-
bientais, como a CCPY, o CIR, entre outras.

44 | Francilene dos Santos Rodrigues


Ocorreu, também, nesse período o aumentou dos pedi-
dos e requerimento das áreas para realização de pesquisa e lavra
experimental por parte das grandes empresas de mineração. A
Companhia Vale do Rio Doce – CVRD, por meio de sua subsi-
diária, a Rio Doce Geologia e Mineração – DOCEGEO, realizou
levantamentos na serra do Surucucu, em 1979. Após constatar a
riqueza dos depósitos ali existentes, a CVRD sugeriu ao DNPM
que a área fosse declarada reserva mineral nacional.
O DNPM transferiu a área para a Companhia de Desen-
volvimento de Roraima – CODESAIMA, que também não con-
seguiu permissão para explorá-la. A CODESAIMA efetivou pela
primeira vez a instalação de uma lavra experimental de ouro e
diamante no estado, na região do rio Quinô, na localidade do
Caju. Os trabalhos foram iniciados em 1983 sem muito sucesso
devido à inexperiência por parte do departamento responsável
pela execução do projeto, a CODESAIMA.
Quanto aos requerimentos, só no período de 1983 a 1995
foram protocolados junto ao DNPM 1.003 requerimentos de
pesquisa, a maioria por empresas de mineração. O ano de 1984
foi o que apresentou o maior número de todo o período: foram
279 (FIGURA 25). Este grande número de requerimentos de pes-
quisa foi o reflexo da aprovação do Decreto nº 88.895 de novem-
bro de 1983, que determinava, entre outras coisas, a exploração
mineral em áreas indígenas somente seria efetivada “mediante
lavra mecanizada”. E ainda, as concessões de lavra em terras indí-
genas seriam outorgadas às empresas estatais e em casos “excep-
cionais” às empresas privadas nacionais de mineração (COMIS-
SÃO, 1985, p. 15). O resultado de tudo isto foi que, em 1987, 35%
da área total do estado de Roraima estava bloqueada em decor-
rência dos requerimentos de pesquisa realizados por empresas de
vários portes.

Garimpagem e Mineração: uma análise sócio-histórica... | 45


CAPÍTULO II

A ECONOMIA DO ESTADO DE RORAIMA E A


ATIVIDADE DE MINERAÇÃO

A periodização da mineração em Roraima foi fundamental


para compreender historicamente a formação dos garimpos e os
vários momentos do desenvolvimento da atividade de mineração.
Pretende-se, neste capítulo, realizar uma avaliação da economia
do estado e, ao mesmo tempo, analisar os reflexos da atividade de
mineração na economia. O período selecionado será aquele que
corresponde à fase do terceiro período da história da mineração,
iniciado na década de 1980. Vale ressaltar que a definição por um
período específico, contemporâneo, não significa a exclusão ou re-
núncia da consideração dos outros momentos da história.
Para a compreensão da história e das relações sociais do pre-
sente ou de um passado recente, é fundamental reportar-se à his-
tória passada. Neste sentido, apesar de tratarmos especificamente
da década de 1980 em diante, recorreremos a períodos anteriores
para refletir sobre a atividade de mineração na economia contem-
porânea do estado e, ao mesmo tempo, situar o posicionamento
dos diversos grupos sociais conjunturalmente e seus interesses na
estrutura econômica, política e social do estado de Roraima.
Vários fatos conjunturais marcaram a década de 1980, em
Roraima. Dentre tais fatos, está a ascensão da atividade de mine-
ração, após um arrefecimento na década anterior, e, consequente-
mente, o seu retorno ao centro do debate sobre o desenvolvimento
do estado. Vários fatores contribuíram para reforçar o debate so-
bre a importância da atividade de mineração. Primeiramente, as
perspectivas de abertura política com a eleição de um presidente
civil e a elaboração da Constituição Federal e, com ela, a possibili-
dade da criação do estado de Roraima, concretizado em 1990.
Esse processo de criação do estado de Roraima corroborou
para a implementação de políticas clientelistas com finalidade de
formar uma base eleitoral (“curral eleitoral”). Entre estas políticas
estão os projetos de assentamentos e o projeto de criação de reser-

Garimpagem e Mineração: uma análise sócio-histórica... | 47


vas garimpeiras em áreas indígenas, ao revés da legislação. Em se-
gundo lugar, a recessão econômica da década de 1980 e o aumento
do preço do ouro favoreceram o crescimento e a intensificação da
atividade de mineração por toda a Amazônia e, principalmente, em
Roraima. O estado de Roraima possui um subsolo rico e de grande
potencial mineral, tanto no que diz respeito aos depósitos minerais
secundários (aluvionares) quanto aos depósitos primários.
Essa discussão colocou como questão central a necessida-
de do estado de Roraima buscar alternativas para para encontrar
um uso das riquezas da terra e conquistar sua autonomia finan-
ceira. Neste capítulo, a mineração será apresentada como foco
central na análise econômica de Roraima e as possibilidades de
fiscalização por parte do governo estadual. Os impactos da ativi-
dade de mineração sobre os demais setores da economia devem
ser analisados para compreender as diferentes justificativas dos
grupos sociais na defesa de seus interesses.

2.1 História econômica de Roraima

Ao longo de sua história e até o início da década de 1950, o


Território, mais tarde estado de Roraima, teve como esteio prin-
cipal três atividades econômicas: a pecuária, a mineração e o ex-
trativismo vegetal. Estas atividades assumiram importâncias de
caráter histórico e geoeconômico.
A atividade de pecuária, baseada predominantemente na
criação do rebanho bovino, esteve ligada ao processo de ocupa-
ção e colonização no século XVIII, na região do alto rio Branco,
no Nordeste do estado de Roraima. Esta região em que se iniciou
a atividade pecuária foi denominada por Guerra (1957) de “zona
de pecuária”. Na década de 1940, 80% da população concentra-
va-se nesta área. Atualmente, mais de 75% das áreas utilizadas
com a atividade de pecuária estão localizadas nesta região (Figura
12). A atividade de pecuária em Roraima baseia-se também na
criação de equinos, ovinos suínos e caprinos. As atividades co-
letoras de produtos da floresta, principalmente da castanha, do
látex da balata (Mimusops bidentana), da sorva (Couma utilis)
e da coquirana (Ecclinusia balata), estavam restritas à região do
baixo rio Branco, ao Sul do estado. Esta área foi denominada de
48 | Francilene dos Santos Rodrigues
“zona de produção extrativa vegetal” e concentrava apenas 10%
da população na década de 1940. Mais tarde, na década de 1970,
a area continuou a ser a principal área de extração vegetal, com
relevância para a atividade madeireira, cujos produtos foram in-
cluídos na pauta de exportação. Nesta área, estava localizada a
maior parte dos projetos de assentamento de colonos. A coleta
da castanha é a atividade que ainda subsiste, mas como produto
complementar à alimentação dos colonos (FIGURA 12).
A terceira área, denominada de “zona de produção extrativa
mineral”, situava-se na faixa de fronteira ao Norte de Roraima. Esta
última foi a área predominante da atividade de mineração até mea-
dos da década de 1970, durante o primeiro e o segundo período da
história da mineração em Roraima, definidos no capítulo primeiro.
Somente no terceiro período da história da mineração, a partir do
início da década de 1980, a “zona pouco conhecida”, situada a No-
roeste de Roraima, assumiu importância geoeconômica (FIGURA
12).

Figura 12 – Zonas econômicas do ex-Território Federal do Rio


Branco (Roraima)

Fonte: Guerra (1957, p. 165).

Garimpagem e Mineração: uma análise sócio-histórica... | 49


2.2 Realidades populacionais de Roraima

As maiores transformações no estado de Roraima, tanto


nos aspectos econômicos, sociais e políticos quanto nos demo-
gráficos, ocorreram a partir dos anos 1970. Ocorreram mudan-
ças significativas também em relação à população indígena. Em
1943, segundo dados do linguista Migliazza que esteve por mui-
tos anos no rio Branco, a população indígena foi estimada em
15.700 índios, o que representava 79,6% da população total (MI-
GLIAZZA, apud SANTILLI, 1994, p. 36). Em 1994, a população
indígena era de 27.707 índios. Isto representava mais ou menos
12% da população total do estado (QUADRO 02).
A população indígena representa um contingente popu-
lacional importante, mesmo sem considerar os que vivem nos
centros urbanos que são recenseados como não-índios. Esta par-
ticipação indígena na composição populacional é uma especifici-
dade do estado de Roraima.

Quadro 02 – População Indígena de Roraima em 1992


GRUPO ÉTNICO POPULAÇÃO
Yanomami/Maiongong 7.591
Ingaricó 550
Macuxi 14.000
Taurepang 400
Waimiri-Atroari 176
Wapixana 4.500
Wai-Wai 350
Patamona 140
TOTAL 27.707
Fonte: FNS (1994, p. 31).

O grupo de índios Macuxi é o maior e mais organizado


dentre todos os grupos indígenas do estado. Este grupo indígena
vem colocando-se como um dos principais atores sociais frente
à questão mineral e à pecuária em suas terras. O segundo grupo
indígena, em número populacional, é o dos índios Yanomami,
que passou a ser conhecido nacional e internacionalmente a par-

50 | Francilene dos Santos Rodrigues


tir das descobertas de ouro em suas terras e dos conflitos com
garimpeiros desencadeados, principalmente, a partir do início
dos anos de 1980.
Em 1970, a população não indígena era de 40.885 habitan-
tes e cresceu para 217.583 habitantes em 1991 (QUADRO 03).
Excluída a população indígena, a população quadriplicou nas
duas últimas décadas. Mas foi na década de 1980 que o estado
de Roraima vivenciou o maior e mais acelerado crescimento po-
pulacional superando todas as estimativas e prognósticos reali-
zados.

Quadro 03 – População Residente em Roraima - 1950/1991


ANOS TOTAL RURAL URBANA
Habitante (%) Habitante (%)
1950 18.116 12.984 71,67 5.132 28,33
1960 28.304 16.156 57,08 12.148 42,92
1970 40.885 23.404 57,24 17.481 42,76
1980 79.159 30.425 38,44 48.734 61,56
1991 217.583 76.765 35,28 140.818 64,72
Fonte: FECOR (1995, p. 13).

O estado de Roraima foi o que mais cresceu populacional-


mente nas décadas de 1980 e 1990, enquanto o estado de Ron-
dônia, cujo crescimento populacional fora o maior na década de
1970, apresentou, em 1991, uma taxa de 7,87% e o Amapá 4,65%,
Roraima cresceu 10,64% (QUADRO 04).
Uma das explicações para o ritmo acelerado deste cresci-
mento está no fracasso dos projetos de colonização em outras
unidades da Federação, na implantação dos Projetos de Coloni-
zação e das colônias agrícolas em Roraima, no período de 1975/79
e 1985/89 e nas descobertas de novos garimpos que marcaram o
início de um novo período da história da mineração em Roraima.

Garimpagem e Mineração: uma análise sócio-histórica... | 51


Quadro 04 – Crescimento Populacional em Roraima- 1950/1991
ANOS TAXA DE CRESCIMENTO DENSIDADE
(%) hab./km2
1950 0,08
1960 4,56 0,13
1970 3,75 0,18
1980 6,83 0,34
1991 10,64 0,97
Fonte: IBGE. Elaborado por AT&M (1995).

Contudo, Roraima ainda apresentava a menor densida-


de demográfica dentre todos os estados da Federação, ou seja,
menos de 1 habitante por km2 (QUADRO 04). Em, 2015, os da-
dos do IBGE já informm uma taxa de 2,02 hab/km2. Embora o
aumento tenha sido significativo, ainda é um percentual muito
baixotenha aumentado, ainda é um percentual muito baixo em
relação ao país. Esta taxa é apontada pelos políticos locais (que se
apropriaram dos mesmos argumentos dos políticos nacionais de
“vazio demográfico”), como uma das causas e um dos obstáculos
ao desenvolvimento econômico do Território e, mais tarde, esta-
do de Roraima.
Essa baixa densidade demográfica é considerada pelos po-
líticos locais como um fator negativo, uma vez que reflete a pouca
atratividade de Roraima e o seu baixo desenvolvimento econômi-
co. No entanto, os obstáculos à implementação de medidas bá-
sicas para o desenvolvimento econômico podem ser explicados,
a meu ver, por um lado, pelo perfil da elite política e econômica
clientelista e mais voltada para seus interesses particulares e, por
outro, pela resistência em tornar o estado de Roraima com certo
desenvolvimento formado pelo capital privado, ja que as transfe-
rências da União para o estado favorecem o desvio de recursos e a
corrupção. O isolamento físico de Roraima contribuiu, em parte,
para dificultar, num primeiro momento, a migração espontânea
em massa, visto que o acesso por via aérea era economicamente
menos viável. Mas, ao mesmo tempo, contribuiu para a preser-
vação ecológica do estado, cuja taxa de desmatamento foi a mais
baixa dentre os estados da Amazônia, em 1978, equivalendo a
0,06% de toda a vegetação (FEARNSIDE apud BARBOSA, 1994,
p.182).

52 | Francilene dos Santos Rodrigues


Nas décadas de 1980 e 1990, ocorreu uma concentração
da população nos centros urbanos. Esta tem sido uma tendência
geral em todo o país e em Roraima também. Nas décadas de 1960
e 1970, a população rural representava 57,08% e 57,24% respec-
tivamente. Nas décadas de 1980 e 1990, ocorre inversão signifi-
cativa quando a população urbana chega a representar 61,56% e
64,72%, respectivamente (QUADRO 03).
Uma explicação para esse fenômeno urbano em Boa Vista
deve-se ao fato, primeiro, de Boa Vista ter sido o único povoado
da população não-índia do alto rio Branco, ao Norte do estado,
até o início do século XX. Posteriormente, surgiu a cidade de Ca-
racaraí. Ainda na década de 1930, surgiu o povoado de Bonfim,
inicialmente área de garimpo. Depois, na década de 1940, surgiu
o povoado de Normandia. O segundo fato que contribuiu para
transformar Boa Vista no maior centro urbano do estado foi a
sua localização, no centro das zonas de campos, atribuindo-lhe
importância econômica. O crescimento de Boa Vista foi um “[...]
indicador do avanço da ocupação pecuarista nos campos do rio
Branco” (SANTILLI, 1994, p. 27). Um terceiro fator foi a absor-
ção de funções administrativas e militares, principalmente a par-
tir de 1943, quando foi criado o Território do Rio Branco. Com
a instalação do Território, tornou-se imprescindível a criação de
infraestrutura e de condições mínimas para receber e acomodar
os novos funcionários.
Essa tendência à concentração urbana em Roraima é expli-
cada, em parte, pelo resultado dos empreendimentos do governo
estadual na implementação de políticas de colonização e incenti-
vo à migração para a área rural, sem grande sucesso (BARBOSA,
1994). Outro fator que contribuiu para a concentração urbana
foi a “corrida do ouro”, na década de 1980. Como a maioria dos
garimpos estava localizada em áreas distantes de núcleos urba-
nos (vilas, povoados e pequenas cidades), as referências de apoio
para os garimpeiros eram as cidades maiores. Mais precisamente,
a capital Boa Vista foi o núcleo de atração desta população por
possuir maior e melhor infraestrutura de serviços e de diversões
(bares, cabarés, boates), além do comércio para abastecimento de
produtos e equipamentos para a mineração.

Garimpagem e Mineração: uma análise sócio-histórica... | 53


Observa-se que os movimentos migratórios, a partir da
exploração da atividade de mineração nos anos de 1930, quando
da instalação do Território Federal do Rio Branco, em 1943, de-
pois transformado em Território Federal de Roraima (1962), e da
abertura das rodovias e implantação dos projetos de colonização
nos anos 1970, não tiveram a mesma intensidade que o movi-
mento migratório dos anos de 1980, ao conciliar os atrativos da
“fronteira agrícola” com a “frente garimpeira”13.
Em Roraima, o processo de concentração urbana não se
aplicou a todos os municípios do estado. O processo de urbani-
zação iniciado nos anos 1970, cuja taxa era de 42,8%, passou para
61,6%, na década de 1980, 64,7%, em 1991, e 76,1%, em 2000
(DINIZ; SANTOS, 2005, p. 340). Dos 15 municípios, em 2010,
05 apresentam as maiores taxas de urbanização: Boa Vista (98%),
São João da Baliza (70%), São Luiz do Anauá (66%) e Caracaraí
(59%) (NOTÍCIAS Uol, online). Isto demonstra que Roraima se-
gue a tendência nacional e mundial de urbanização.
Quanto aos índices econômicos como Produto Interno
Bruto – PIB e renda per capita, Roraima apresentou uma evolu-
ção significativa em relação ao PIB nas décadas de 1980 e 1990,
indicando uma melhoria, mesmo relativa, das condições de vida
da população como um todo. Em 1970, o PIB de Roraima foi de
US$ 42,8 milhões de dólares. Em 1990, o PIB passou para US$
342 milhões de dólares, representando um crescimento de quase
700%. A renda per capita que era de US$1.046 em 1970, passou
para US$1.723 em 1990. Em 1994, passou para US$1.870 (QUA-

13 A discussão sobre frente pioneira e frente garimpeira é encontrada em Mar-


tins (1975); Oliveira (1972) e Sawer et all (1990). O conceito de fronteira é dis-
cutido em Oliveira Filho (1979). Sem fazer uma discussão profunda sobre os
conceitos de fronteira e frente garimpeira, adotaremos o sentido proposto por
Oliveira Filho (1979) que define fronteira “como um mecanismo de ocupação
das novas terras e de sua incorporação, em condição subordinada, dentro de
uma economia de mercado”. O conceito de frente pioneira será discutido em
Sawer et al. (1990) que a compreende “enquanto objeto empírico envolvendo
um tipo de atividade, uma combinação concreta de forças produtivas e relações
de produção que se introduz em uma área de fronteira”. Pereira (1992, p. 307)
trabalha com o conceito de “frente garimpeira” em que para ele a frente se su-
perpôs à frente agrícola da Amazônia, na década de 1980.

54 | Francilene dos Santos Rodrigues


DRO 05). Entende-se, por um lado, que os índices são referen-
ciais de análise importantes; por outro, podem dar uma ideia dis-
torcida das condições de vida da população no estado pelo alto
grau de suas generalizações.

Quadro 05 – Evolução do produto per capita em Roraima


PIB(*)
ANO US$/Habitante
US$ milhões
1970 42,8 1.046
1975 72,9 1.281
1980 144,8 1.828
1985 232,9 1.859
1990 342,0 1.723
1994 479,6 1.870
Fonte: FECOR (1995, p. 41). (*) Em dólares de 1990.

O relatório sobre Índice de Desenvolvimento Humano –


IDH no Brasil, elaborado pelo Instituto de Pesquisa Econômica
Aplicada – IPEA e pelo Programa das Nações Unidas para o De-
senvolvimento – PNUD, com dados de 1991, classificou Rorai-
ma entre aqueles estados com um IDH intermediário, ao lado
de Goiás, Mato Grosso, Rondônia e Amazonas, mas acima dos
índices do Pará, Acre e estados do Nordeste. O IDH é calculado
a partir da utilização das variáveis expectativa de vida, escolari-
dade e padrão de vida que é mensurado pelo poder de compra da
população relacionado ao PIB per capita.
No entanto, apesar da evolução significativa do PIB e da
classificação com um IDH intermediário, outros indicadores eco-
nômicos gerais como produção por setores, população ocupada,
população economicamente ativa são indicativos da fragilidade
da economia do estado de Roraima. Roraima mantém-se basi-
camente com os recursos transferidos pela União, ou seja, pelos
repasses dos Recursos Ordinários, destinados exclusivamente ao
pagamento da folha de pessoal, do Fundo de Participação dos
Estados – FPE, do Fundo Especial – FE, de Transferências Di-

Garimpagem e Mineração: uma análise sócio-histórica... | 55


versas14 e ainda de Outras Transferências de Natureza Instável15
(FIGURA 13).

Figura 13 – Composição e evolução da receita do Estado de Roraima -


1982 a 1991

Fonte: IPDR (1992, p. 18).

É grande a dependência financeira de Roraima em relação


aos recursos federais. Os recursos oriundos da receita própria di-
zem respeito às receitas tributárias (impostos e taxas estaduais),
bem como às receitas industriais e de serviços as quais passaram
a integrar o quadro geral de receitas somente a partir de 1988.
Apesar de apresentar um aumento relativo no período de
1989 a 1991, a participação média da receita própria na despe-
sa total foi de apenas 7%, não sendo suficiente para arcar com
as despesas com pessoal (RORAIMA, 1992, p. 15). Em 1991, a
receita própria só conseguiu cobrir 19,28% das despesas com
14 Inclui-se nesta categoria as transferências de impostos e taxas como:
IUM – Imposto Único sobre Minérios, TRU –Taxa Rodoviária Única e FRN
– Fundo Rodoviário Nacional, extintos com a Constituição de 1988; IST
– Imposto sobre Transporte, IUEE – Imposto Único sobre Energia Elétri-
ca, IPI – Imposto sobre Produtos Industrializados, IOF – Imposto sobre
Operações Financeiras, IRRF – Imposto de Renda Retido na Fonte, Salário
Educação e encargos gerais da União (ICM do ex-Território).
15 Inclui-se neste grupo os convênios com órgãos Federais tais como o
Fundo de Assistência Social – FAS, o PIN/PROTERRA e os títulos de Res-
ponsabilidade do Tesouro Nacional.

56 | Francilene dos Santos Rodrigues


pessoal, demonstrando a dificuldade do Governo em garantir o
pagamento da folha de pessoal (servidores) exclusivamente com
recursos de sua própria arrecadação. Esta passou a ser uma preo-
cupação do Governo, a partir de 1998, quando o estado teve que
arcar com as despesas de pessoal.
Certo crescimento das receitas próprias ocorreu a partir de
1988 quando representavam uma relação de 3,57% das despesas
totais. Em 1991, esta relação foi de 8,09%. Trata-se, entretanto,
de um crescimento ainda incipiente. A relação entre os recur-
sos financeiros, oriundos das receitas próprias com as despesas
totais, representa um dos principais indicadores da autonomia
financeira de um Estado.
O aumento populacional representou também um cresci-
mento da População Economicamente Ativa – PEA16 que saltou
de 11.466 habitantes, em 1970, para 79.908, em 1991. Um cresci-
mento de 596% em duas décadas. Em 1991, do total da população
residente no Estado, 36,72% era economicamente ativa (QUA-
DRO 06).

Quadro 06 – População Economicamente Ativa por Setores - Roraima


ANOS PRIMÁRIO SECUNDÁRIO TERCIÁRIO TOTAL
Absoluto (%) Absoluto (%) Absoluto (%) Absoluto (%)
1950 4.317 72,5 325 5,5 1.311 22 5.953 100
1960 5.055 64,3 266 3,4 2.534 32 7.855 100
1970 5.536 48,3 1.134 9,9 4.796 42 11.466 100
1980 9.592 35,9 3.636 13,6 13.499 51 26.727 100
(*)1991 20.776 26,0 11.187 14,0 47.945 60 79.908 100
Fonte: IBGE.Elaboração AT&M (1995). (*) Estimativa.

16 PEA (População Economicamente Ativa) refere-se à População Potencial-


mente Econômica, ou melhor, é a parte da população que está em idade de en-
trar no mercado de trabalho, ou que esteja ocupada ou desempregada.

Garimpagem e Mineração: uma análise sócio-histórica... | 57


2.3 Os diversos setores da economia

A discussão teórica sobre a divisão social do trabalho foi


concebida pelos teóricos clássicos e neoclássicos da economia,
tais como Keynes e Adam Smith. Estes teóricos seguiam um es-
quema que definia os setores da economia a partir do trabalho,
ou seja, da transformação da natureza atividade humana. Sendo
assim, as atividades de extração, coleta e produção seriam ati-
vidades chamadas de primárias. Inclui-se aqui as atividades de
mineração. A indústria ou manufatura corresponde às atividades
secundárias, porque o trabalho humano transforma os produ-
tos, resultado das atividades do setor primário. A prestação de
serviços, também chamada de setor terciário, corresponde a um
trabalho humano em que os resultados são objetos de consumos
para pessoas físicas ou jurídicas.
A despeito dessa discussão teórica, que não é o centro da
discussão deste livro, serão utilizadas as definições dos setores da
economia adotadas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Esta-
tística – IBGE. Acontece que estas definições dos setores de ati-
vidades econômicas diferem daquelas apresentadas acima. Isto
porque são o resultado das burocracias que funcionam com uma
racionalidade que não é só de buscar o conhecimento, mas, acima
de tudo buscar dados para a utilização nas instituições governa-
mentais. Tendo em vista que os dados estatísticos utilizados neste
trabalho serão os do IBGE e de outras instituições semelhantes,
adotaremos as mesmas definições para os setores da economia.
Portanto, setor primário ou agropecuário será aquele que
engloba as atividades primárias, também chamadas de atividades
agrícolas, ou seja, lavoura, horticultura e floricultura, produção
animal e seus derivados, caça, pesca, extração de madeira e de ou-
tros produtos vegetais e ainda o beneficiamento ou a transforma-
ção de produtos agropecuários realizados nos estabelecimentos
agrícolas (BASTOS; SILVA, 1995, p. 21).
O setor secundário ou industrial compreende a indústria
de transformação, de construção civil e de serviços industriais
de utilidade pública, como produção, transmissão e distribuição

58 | Francilene dos Santos Rodrigues


de energia elétrica e abastecimento de água. O setor secundário
é dividido em duas classes: as indústrias extrativas, que incluem
a indústria de extração mineral; as indústrias de transformação,
que incluem vários subsetores: indústria de minerais não metáli-
cos, indústria mecânica, metalúrgica, química, de material elétri-
co, transporte, madeira, mobiliário, couros e peles, vestuário, de
alimentos, bebida, fumo, gráficas etc. (IBGE, 1991).
O setor terciário ou de serviços compreende as empresas
produtoras de serviços, tais como: comércio, transporte, comu-
nicações, intermediações financeiras, educação, saúde, ativida-
des culturais, administração de imóveis, administração pública.
Inclui, ainda, atividades de profissionais liberais autônomos,
prestação de serviços como confecção e reparos de artigos de
vestuário, conservação e reparo de veículos, serviços domésticos
remunerados (BASTOS; SILVA, 1995, p. 21).
A População Economicamente Ativa – PEA do estado vem
sofrendo oscilações em relação aos vários setores de atividades
econômicas nos anos de 1980 e 1990. A participação da PEA do
setor primário na economia geral do estado reduziu-se drastica-
mente. Em 1970, 48,3% da população economicamente ativa es-
tava no setor primário. Em 1991, apenas 26% da população ativa
encontrava-se neste setor (QUADRO 06). Na análise da Estrutu-
ra Produtiva17 do estado, observa-se que a partir de 1975, ocorreu
um declínio da participação do setor primário, à medida que o
setor secundário crescia. Em 1980, ocorreu um ponto de inter-
seção entre o declínio do setor primário e a ascensão do setor
secundário, cuja tendência continuou até os anos 1990 (FIGU-
RA 14). Explica-se que a ascensão do setor secundário, a partir
da década de 1980, deu-se principalmente pelo crescimento dos
subsetores madeireiro, moveleiro ou metalúrgico.

17 Neste livro adotaremos a definição de estrutura produtiva como sendo a


quantidade de bens e serviços produzidos durante um determinado período de
tempo, tanto para o mercado interno quanto externo. Fazem parte da estrutura
produtiva todas as unidades produtivas e as rendas, lucros e salários gerados
pelos diversos setores da economia (BASTOS; SILVA, 1995).

Garimpagem e Mineração: uma análise sócio-histórica... | 59


Figura 14 – Estrutura Produtiva do Estado de Roraima

Fonte: IBGE. Elaboração AT&M (1995). (*) Estimativa.

O setor terciário foi o que apresentou maior crescimento


da PEA. De 41,8% em 1970, evoluiu para 60% em 1991 (QUA-
DRO 06). Este crescimento está relacionado ao aumento da de-
manda por serviços da mais diversa ordem, dentre eles estão os
serviços de instituições financeiras, transporte e comunicação. É
interessante observar que, em números absolutos, todos os se-
tores apresentaram crescimento significativo decorrente do au-
mento geral da população.

2.3.1 O Setor primário: a agropecuária

O setor primário em Roraima, como dito anteriormente,


está centrado basicamente na pecuária extensiva e na agricul-
tura com uma participação secundária do extrativismo vegetal.
A horticultura e a avicultura, apesar de apresentarem um certo
crescimento atribuído à expansão urbana nos últimos anos, são
ainda pouco relevantes. Isto pode ser verificado em relação ao
número de pessoal ocupado18 no contexto geral da economia do
setor primário do estado. Em 1985, existiam menos de 1.000 pes-
soas desenvolvendo estas atividades (FIGURA 15).

18 Pessoal ocupado refere-se especificamente ao pessoal que estava exercendo


atividades no período do censo econômico.

60 | Francilene dos Santos Rodrigues


Figura 15 - Pessoal ocupado no setor primário

Fonte: IBGE (ano ?).

Entre 1970 e 1990, ocorreu um declínio acentuado do se-


tor primário em relação à estrutura produtiva. Em 1970, o setor
primário representava 33,96%. Em 1990, o mesmo setor repre-
sentava 12% de toda a estrutura produtiva do estado (FIGURA
14). Embora nas décadas de 1970 e 1980 tenham sido implanta-
dos projetos de colonização agrícola, estes não foram suficien-
tes para fortalecer o setor primário. A falta de infraestrutura, de
transporte, de vias de acesso e o isolamento, bem como e todas as
adversidades enfrentadas pelos colonos em seus lotes de assenta-
mento fizeram com que a população buscasse outras alternativas,
inclusive imigrasse para a capital.
Contudo, o setor primário apresentou um crescimento
da PEA em números absolutos. Passou de 5.536 em 1970, para
20.776 em 1991. Em relação ao pessoal ocupado neste setor, as
informações disponíveis vão somente até o ano de 1985. Neste
ano, mais de 70% de todo o pessoal era absorvido pelo setor pri-
mário (FIGURA 16).

Garimpagem e Mineração: uma análise sócio-histórica... | 61


Figura 16 – Pessoal ocupado nos diversos setores da economia de Roraima

Fonte: IBGE (ano).

Os reduzidos investimentos no setor agropecuário têm


dificultado o desenvolvimento deste. A falta de infraestrutura19
também tem sido outro empecilho para a atração de investi-
mentos privados. A todos os fatores acima citados acrescenta-se
o surgimento de outras atividades com retorno aparentemente
mais rápido, como a mineração.
No tocante à agricultura, ocorreu um aumento das áreas
de lavoura. O aumento mais significativo deu-se entre os anos de
1970 e 1975, período de implantação dos projetos de colonização
ao longo das BRs 210 e 174, estabilizando-se nos anos seguintes
com um total em torno de 30 mil hectares (FIGURA 17).

19 O termo infraestrutura utilizado aqui diz respeito à base material ou econô-


mica de uma sociedade, ou seja, a organização de serviços de comunicação, de
educação, de saúde, de saneamento, de energia, de transportes, de segurança
pública, dentre outros.

62 | Francilene dos Santos Rodrigues


Figura 17 – Áreas utilizadas em lavouras permanentes e temporárias no estado
de Roraima - 1970 a 1985

Fonte: IBGE (ano ?)

A agricultura foi o subsetor que mais absorveu mão de


obra e cuja absorção tem crescido nestes últimos anos (FIGU-
RA 15). Um fator que contribuiu para este aumento da força de
trabalho na agricultura foi a implantação, em fins dos anos de
1970 e início dos anos 1980, dos Programas de Assentamento
Rápido – PAR e do Programa de Assentamento Dirigido – PAD
patrocinados pelos Governos Federal e Estadual, com o objetivo
de ocupação e de formação de uma rede de abastecimento para
a cidade de Boa Vista. Para isto, foram criadas colônias agrícolas
nos vários municípios. Em 1994, existiam 44 núcleos de coloni-
zação com 15.505 lotes distribuídos em todo o estado, produzin-
do arroz, feijão, mandioca, frutas, legumes e verduras (BARROS,
1995).
Devido à implementação dos programas, Maciel e Gatti
(1990) constataram que 60,7% de toda a população migrante,
triada em 1981, dirigia-se às áreas rurais. Do total, 96% dirigia-se
para as fronteiras agrícolas, e apenas 4% dirigia-se aos garimpos.
Vale ressaltar que o ano de 1981 correspondeu ao início do ter-
ceiro período da história da mineração em Roraima, ainda no
final de 1979, com a exploração dos garimpos de Santa Rosa.
A partir do final da década de 1980, dando continuidade
aos programas de colonização iniciados pelo Governo Federal, o
governo local passou a atuar de forma mais incisiva nos progra-
mas de distribuição de terra. Um motivo para a intensificação
destes projetos de colonização por parte do governo local foi a

Garimpagem e Mineração: uma análise sócio-histórica... | 63


possibilidade de criação do estado de Roraima. Este fato tornava
iminente, pelo menos aos olhos dos governadores nomeados e
dos políticos locais, a criação e a formação de bases de susten-
tação eleitoral para o primeiro pleito de eleições diretas para o
poder executivo, cujo mandato iniciaria em 1990 (BARBOSA,
1994, p. 13).
Contudo, a falta de assistência técnica, de financiamento,
a dificuldade de escoamento da produção e as dificuldades de
adaptação a um novo estilo de vida na floresta foram os princi-
pais motivos do abandono dos lotes pelos colonos que migraram
para os centros urbanos. O processo migratório para os centros
urbanos aumentou a demanda por alimentos, forçando, assim,
o governo a alocar novos colonos. A agricultura do estado de
Roraima produz, predominantemente, para o mercado interno.
Para o abastecimento do mercado, tornava-se necessária a im-
portação de produtos como: trigo, feijão, batata inglesa, tomate,
laranja e abacate (QUADRO 07).

Quadro 07 – Consumo e Abastecimento de Roraima em 1992


CONSUMO PRODUÇÃO DEFICIT/
PRODUTOS
(t) (t) SUPERAVIT (t)
Arroz em casca 14.526 25.930 11.404
Milho em grão 894 3.200 2.306
Trigo 4.277 (x) –4.277
Feijão 3.352 665 –2.687
Batata inglesa 1.102 (x) –1.102
Mandioca 21.542 41.454 19.912
Tomate 1.642 200 –1.442
Banana 2.137 6.960 4.822
Laranja 1.552 822 –731
Abacaxi 293 678 386
Abacate 202 18 –185
Fonte: Teles e Teles (1994, p. 26).

O fato do estado de Roraima não ser autossuficiente na


produção agrícola de produtos básicos, além do problema que
significa o não atendimento da demanda interna, gerava di-
ficuldades de ordem prática. A dependência da importação de

64 | Francilene dos Santos Rodrigues


produtos estava condicionada às condições das estradas que em
períodos de invernos (alta pluviosidade) chegavam a ser inter-
rompidas frequentemente pela impossibilidade de tráfego. No
período do verão (baixa pluviosidade), o transporte fluvial tam-
bém é dificultado pela queda do volume de águas do rio Branco.
Tais fatores conduzem ao aumento do custo do frete, que resulta
na alta de preços desses produtos e, consequentemente, no au-
mento do custo de vida.
As áreas de lavouras temporárias apresentaram elevação
considerável entre 1970 e 1975, estabilizando-se nos anos se-
guintes. Em Roraima, eram cultivados predominantemente os
produtos de culturas temporárias tais como: o arroz, o milho, a
mandioca e o feijão. As áreas utilizadas como lavouras perma-
nentes, tais como as culturas de laranja, de banana e de café, após
crescerem no período entre 1970 e 1975, declinaram até 1980 e
estabilizaram-se nos anos seguintes (FIGURA 17). O predomí-
nio da utilização das áreas de lavouras temporárias, em parte, de-
monstra a pouca atenção que era dada às lavouras permanentes
no estado, ao mesmo tempo que tem a ver com as necessidades
dos colonos em garantir a alimentação básica de sua família e
com a utilização do sistema de rodízio de lavouras e pastos.
Sem aprofundar a discussão, é necessário dizer que a agri-
cultura em Roraima é predominantemente familiar. Há os pe-
quenos produtores que utilizam eventualmente mão de obra
contratada por temporada, principalmente na fase de preparação
do solo. Esta característica favorece a sazonalidade entre as ativi-
dades. Há, também, a média agricultura, mecanizada, que utiliza
os métodos de irrigação, portanto, contrata mão de obra assala-
riada. Do total de 6.399 estabelecimentos agrícolas em 1985, ape-
nas 74 utilizavam estes métodos, principalmente para a cultura
de arroz.
Dentre as culturas temporárias, as que apresentaram
maior crescimento foram o arroz irrigado e a mandioca que me-
lhoraram o desempenho por meio do aumento significativo da
área plantada e colhida. A melhoria da produção da cultura de
arroz deveu-se pela ampliação da área cultivada, mas, também

Garimpagem e Mineração: uma análise sócio-histórica... | 65


pela introdução de técnicas de cultivo e condições extremamente
favoráveis para o cultivo de arroz de várzea. Isto permitiu um
bom desenvolvimento da cultura e garantiu o abastecimento in-
terno. A maior parte da produção de mandioca é garantida pelas
populações indígenas do estado.
Entre 1980 e 1985 foi período que apresentou a maior pro-
dução física e também as mais significativas ampliações de área
colhida. Isto refletiu, certamente, o apoio e a assistência do gover-
no à implantação das colônias agrícolas como parte da política de
Colonização e Assentamento em Roraima. O período entre 1985
e 1990 não foi muito promissor à agricultura do estado. No caso
de algumas culturas, tais como o feijão e a mandioca, a quanti-
dade de área colhida no período só foi recuperada após os anos
1990. Outras, como o milho, não mais conseguiram recuperar
a quantidade de áreas colhidas nos anos 1980. O arroz foi uma
exceção, melhorando sua produtividade por meio da utilização
de novas técnicas de cultivos, enquanto todas as outras culturas
aumentaram sua produtividade a partir da incorporação de no-
vas áreas (QUADRO 08).

Quadro 08 – Produção e Área Colhida das Principais Culturas Agrícolas


FEIJÃO ARROZ MANDIOCA MILHO
ANOS Área Produção Área Produção Área Produção Área Produção
Colhida Física Colhida Física Colhida Física Colhida Física
(ha) (t) (ha) (t) (ha) (t) (ha) (t)
1970 552 298 1.551 1.257 1.431 16.276 2.458 2.490
1975 (- -) (- -) 4.529 3.859 (- -) (- -) (- -) (- -)
1980 582 610 14.930 16.983 1.335 15.930 6.442 4.910
1985 895 537 15.483 22.727 2.278 16.145 10.565 9.566
1988 994 431 7.218 12.375 1.567 23.824 6.962 7.158
1989 744 372 6.630 16.082 1.974 27.276 3.811 3.990
1990 420 252 6.486 11.858 2.132 29.459 3.638 3.273
1991 1.000 600 7.500 20.200 2.500 34.545 3.800 3.420
1992 1.900 665 9.900 25.930 3.000 41.454 4.000 3.200
1993 1.800 1.080 9.500 34.500 3.000 41.545 5.000 5.000
1994 2.600 1.560 10.800 36.060 3.800 52.508 7.500 7.500
Fonte: IBGE e AT & M (ano).

66 | Francilene dos Santos Rodrigues


Após o período de implantação dos projetos de colônias
agrícolas, ocorreu um arrefecimento na produção de quase to-
das as culturas, à exceção da mandioca que voltou a apresentar
um melhor desempenho, principalmente após 1990. Em 1988,
o Governo do Território estimou a entrada de 47 famílias por
semana no estado. Para absorver esta mão de obra, o Governo
criou o Plano de Metas do Governo de Roraima (1988/90) com o
objetivo, novamente, de implantar colônias agrícolas para assen-
tamento das famílias que migravam em busca de um pedaço de
terra, na perspectiva de garimpar ou a combinação dessas duas
alternativas. Parte das famílias dirigia-se aos lotes nas colônias e,
outra parte, principalmente os homens, dirigia-se aos garimpos.
Esses planos do governo para assentar as famílias migran-
tes, embora objetivassem a criação de condições de abastecimen-
to do mercado de Boa Vista, levaram, na verdade, à formação de
uma política mal orientada e fracassada. Ou seja, o governo atraía
famílias prometendo terras e financiamento agrícola, mas, aban-
donadas, as famílias voltavam a migrar ou para novas áreas ou
para os centros urbanos. Então, novos projetos de assentamentos
eram criados para atrair novas famílias que tinham destinos si-
milares às anteriores.
A explicação para a redução na produção das principais cul-
turas do estado, em parte, encontra-se no fracasso da política de
colonização que ao ser projetada não levou em consideração “[...]
o fator humano regional, relegando-o a um segundo plano” (BAR-
BOSA, 1994, p. 8). Boa parte dos colonos vindos de outras realida-
des tão diferentes não se adaptou a esta nova realidade, se desfez de
seus lotes e foi em busca de outras possibilidades de sobrevivência
nas cidades. As adversidades físicas e o abandono das famílias por
parte do governo logo após serem beneficiadas pelos PARs e PADs
são fatores que contribuíram para que a produção agrícola decli-
nasse.

Garimpagem e Mineração: uma análise sócio-histórica... | 67


Outra explicação para este fato encontra-se associada ao
“Período Dourado” em Roraima, cujo ápice da produção aurífe-
ra ocorreu entre os anos de 1987 e 1990, quando a atividade de
mineração funcionou como um atrativo para esse contingente de
agricultores, favorecendo, assim, a transferência de boa parte desta
mão de obra da agricultura para a mineração. Contudo, situação
reversa ocorreu, ou seja, a recuperação da produção e o aumento
das áreas colhidas a partir de 1990 (QUADRO 08) estão relacio-
nados, em parte, à redução da atividade de mineração e à volta
de grande parte da população à atividade agrícola e pecuária. Boa
parte desses colonos, agricultores e até mesmo pecuaristas rein-
vestiram os ganhos com a atividade de mineração nas atividades
tradicionais do setor primário. A atividade de mineração serviu,
assim, como forma de capitalização e reinvestimento no setor agrí-
cola no estado por parte daqueles que já estavam ou resolveram
permanecer.
As tecnologias agrícolas ainda muito incipientes utilizadas
na agricultura se colocam como um outro problema que dificulta
a melhoria da produtividade do setor agrícola. Para a maioria das
culturas, tanto permanentes quanto temporárias, o incremento
deu-se através da incorporação de novas áreas de cultivo. A ten-
tativa de modernização da agricultura vem se dando desde 1994
através do “Projeto Soja”. O projeto prevê financiamento pelo
governo estadual para o plantio de soja como uma alternativa
para desenvolver a exportação de produtos agrícolas e a geração
de divisas, beneficiando-se da posição geográfica privilegiada do
estado com a região caribenha. Todavia, o único produto agrícola
exportado nesse período e, para o mercado manauara, foi o arroz.
A maioria das áreas próprias à agricultura dos diversos
municípios do estado ainda está ociosa: Boa Vista possui ainda
97% de suas áreas agricultáveis intocadas; Bonfim, 98,5%; Alto
Alegre, 98%; Mucajaí, 97,5%; São Luis do Anauá, 98,5%; São João
do Baliza, 98,5%; Caracaraí, 99,5% e Normandia, 99% (FUNDA-
ÇÃO, 1994, p. 375). Este é um dado que desmistifica, em parte,
os argumentos de alguns segmentos da sociedade roraimense de
que as áreas indígenas são empecilhos para o desenvolvimento

68 | Francilene dos Santos Rodrigues


da agricultura e pecuária em Roraima. Esta é uma falácia, uma
vez que os índios são produtores agrícolas e abastecem o merca-
do interno com a farinha e a carne de gado.
As áreas de pastagens apresentaram nos últimos vinte anos
uma tendência de crescimento. Note-se que a partir de 1975 hou-
ve um crescimento das áreas de pastagens tanto naturais quanto
plantadas (FIGURA 18).

Figura 18-Áreas de pastagens natural e plantada. Estado de Roraima -


1970 a 1985

Fonte: IBGE (ANO). (*) Estimativas.

Os colonos assentados pelos projetos de colonização utili-


zam a formação de pastagens como estratégia de valorização dos
lotes. Como em todo o Brasil, ocorreu também em Roraima a
formação de pastos nas grandes fazendas para valorização da ter-
ra como forma de investimento.
Após grande redução no total do rebanho entre as déca-
das de 1910 a 1940 e de uma estabilização no período de 1940 a
1950, o rebanho bovino apresentou tendência crescente a partir
da década de 1950. Entre os anos 1950 e 1990, ocorreu um grande
crescimento do rebanho bovino, embora entremeados de perío-
dos curtos de estabilização (FIGURA 01).
No período de 1980 e 1985, ocorreu, também um declínio
da área total de pastagem que voltou a crescer no período seguin-
te (FIGURA 19).

Garimpagem e Mineração: uma análise sócio-histórica... | 69


Figura 19 – Evolução da área total de pastagem. Roraima - 1970 a 1990(*)

Fonte: IBGE (ANO). (*) Estimativa.

A hipótese explicativa para a brusca redução da área total


de pastagens nesse período está relacionada à expansão da ativi-
dade de mineração que, num primeiro momento, retirou mão
de obra e capital da pecuária para investimentos na mineração.
O crescimento, tanto da área de pastagem, quanto do rebanho
bovino tem a ver com o aumento dos investimentos particulares,
cujo capital foi resultado do retorno dos investimentos na mi-
neração. Dito de outra forma, parte dos ganhos com a atividade
de mineração foi reinvestido na compra de fazendas e de gado,
principalmente por aquelas pessoas que já estavam estabelecidas
em Roraima.
Outros investimentos, embora em menor escala, foram os
financiamentos da SUDAM- Superintendência do Desenvolvi-
mento da Amazônia. Em 1977, criou-se com o estímulo da SU-
DAM o distrito agropecuário no município de Boa Vista, numa
tentativa de fortalecer o setor pecuário. A pecuária em Roraima
é predominantemente extensiva. A densidade bovina tem per-
manecido em torno de menos de um bovino por hectare (0,21
bovino/ha), nos períodos de 1975 a 1995, pelo menos. Do total de
2.149.537ha de pastagens existentes neste período, 80% da área é
utilizada para a criação de animais de forma extensiva. Somente
10% de toda a área de pastagem é utilizada pelos projetos agrope-
cuários para a criação de animais e bem poucos utilizam técnicas
de melhoramento das pastagens nativas (FUNDAÇÃO, 1994, p.
374).
70 | Francilene dos Santos Rodrigues
A partir de 1985, verificou-se o estímulo à adoção de prá-
ticas de criatório modernas para gado de corte, como a melhoria
da suplementação alimentar e tratos sanitários (BARROS, 1995,
p. 99). Mesmo com os incentivos fiscais para os projetos agrope-
cuários, os investimentos no setor foram muito pouco significati-
vos, principalmente se comparados aos investimentos destinados
a alguns dos outros estados da Amazônia, como o Pará e o Ama-
zonas. Até 1985, apenas 13 projetos, dentre os 1999 aprovados
pela Superintendência de Desenvolvimento da Amazônia-SU-
DAM haviam sido destinados ao estado de Roraima. Este total
equivalia a menos de 1% do total dos projetos para a Amazônia
(QUADRO 09). Até fevereiro de 1992 a SUDAM beneficiara 20
empresas agropecuárias (BARROS, 1995, p. 89).

Quadro 09 ‑ Projetos de incentivos fiscais aprovados pela Sudam até janeiro de


1985
UNIDADE DA Nº de (%) de
FEDERAÇÃO Projetos Projetos
Acre 32 1,60
Amapá 45 2,25
Amazonas 526 26,31
Goiás 68 3,40
Maranhão 192 9,60
Mato Grosso 335 16,75
Pará 708 36,41
Rondônia 80 4,00
Roraima 13 0,65

TOTAL 1999 100


Fonte: SUDAM/Extraído de FREITAS (1991, p. 55).

O fato de Roraima possuir a segunda maior área de pas-


tagem da região Norte, atrás apenas do Pará, não foi evidência
suficiente para atrair investimentos. No geral, a pecuária ainda
continuou enfrentando os mesmos problemas (SEBRAE, 1994,
p. 29), tais como:

Garimpagem e Mineração: uma análise sócio-histórica... | 71


• Empobrecimento do solo causado pelas sucessivas
queimadas com vistas à limpeza das pastagens;
• Ausência de complementação e enriquecimento do
teor mineral;
• Degeneração do rebanho por causa das doenças;
• Insuficiência de crédito.

Roraima, de exportador de carne para o mercado do Ama-


zonas, passou a ser importador. Desde a década de 1920, a pecuá-
ria em Roraima não mais conseguiu recuperar sua importância
no mercado regional. O rebanho em condições de abate não foi
suficiente para o abastecimento do mercado interno mesmo com
o aumento do número de cabeças de gado, das áreas de pasta-
gens, tanto natural quanto plantada, e da diversificação das áreas
de criação dos rebanhos nos diversos municípios.
O estado possuía um dos mais modernos matadouros fri-
goríficos da Amazônia, o Matadouro Frigorífico Industrial de
Roraima – MAFIR, construído durante o primeiro governo de
Ottomar de Souza Pinto (1979 a 1983). O MAFIR, inaugurado
em 1981, está localizado a 15 Km de Boa Vista, na BR-174, com
capacidade instalada para 600 abates de gado/dia, 200 abates suí-
no/dia e capacidade de armazenamento de até 100.000 couros,
mas boa parte de sua capacidade encontra-se ociosa (FUNDA-
ÇÃO, 1994, p. 195).
O estado de Roraima, próximo à Venezuela, perde merca-
do para o estado do Pará, que vem estreitando os laços econômi-
cos com aquele país. Em agosto de 1996, a Venezuela comprou
um lote de 6.000 cabeças de gado Nelore com perspectivas de
fechamento de um outro lote de bubalinos (PARÁ,1996).
A pecuária foi uma atividade que absorveu uma parcela
importante da mão de obra local mesmo sendo uma atividade
extensiva. Enquanto na área de colonização é utilizada basica-
mente mão de obra familiar e/ou temporária a pecuária emprega
assalariados ou utiliza-se do sistema de quarta20. Em 1970, o pes-

20 Esse sistema é utilizado largamente em Roraima. Para cada quatro nascimen-

72 | Francilene dos Santos Rodrigues


soal ocupado na pecuária representava 49,4% do setor primário.
Em 1985, apenas 29% de toda a mão de obra do setor primário
estava inserida na pecuária (FIGURA 15). A redução do emprego
de mão de obra na pecuária ocorreu mesmo com o crescimento
das áreas de pastagens e do aumento do rebanho bovino, prin-
cipalmente no período entre 1975 e 1980. Apesar desta redução
da mão de obra incluída na pecuária, a atividade manteve-se em
segundo lugar na absorção de toda a mão de obra do setor pri-
mário.
Em 1980, o setor primário, como um todo, absorvia 80%
de toda a mão de obra ocupada na economia do estado. Em 1985,
absorvia 77% de toda a mão-de-obra (FIGURA 15). Uma ex-
plicação para o alto percentual de mão de obra ocupada no se-
tor primário é o fato deste setor apresentar-se como alternativa
para o migrante não qualificado. O baixo preço da terra também
funcionou como um atrativo tanto para o camponês descapita-
lizado quanto para aqueles migrantes capitalizados e alguns ou-
tros investidores. Outro fator explicativo encontra-se no fato da
atividade de mineração funcionar, principalmente no início da
década de 1980, como atividade alternativa e sazonal para os co-
lonos e índios da região que alternavam as atividades agrícolas,
de pecuárias e de mineração. Contudo, o leve declínio do pes-
soal ocupado no setor primário não nega a transferência de parte
da mão de obra da pecuária e da agricultura para a mineração.
Entretanto, é importante lembrar que a atividade de mineração
atraiu também um grande contingente de populacional de fora
do estado.
Como dito anteriormente, a produção extrativa vegetal de
Roraima é pouco significativa. Dentre os principais produtos ex-
trativos, estão o carvão vegetal, a lenha e a madeira em tora. A au-
sência de uma tradição extrativista vegetal deve-se principalmen-
te ao fato destes produtos nativos estarem dispersos, e também
pelo fato da ocupação por população não-índia da floresta ter
se iniciado de forma efetiva somente a partir da década de 1970,
com as construções das estradas e os programas de assentamento

tos de bezerros, um é para o administrador da fazenda ou vaqueiros.

Garimpagem e Mineração: uma análise sócio-histórica... | 73


ao longo das rodovias federais. A população que desenvolve esta
atividade de coleta de produtos da floresta ou mesmo de extra-
ção de madeira é, em grande parte, construída por agricultores
e colonos. Estas são atividades complementares. Boa parte das
madeiras fornecidas às serrarias é vendida pelos agricultores que
desmatam para fazer o roçado. Estes vendem a madeira como
complementação de renda. Isto explica, de certa forma, o fato do
extrativismo ocupar o quarto lugar dentre os subsetores do setor
primário em absorção de mão de obra (FIGURA 15).

2.3.2 O Setor Secundário

O setor secundário roraimense demonstrou um cresci-


mento relativo nos últimos 20 anos, principalmente se compara-
do aos demais outros. Sua participação na formação da estrutura
produtiva do estado passou de 3,77%, em 1970, para 24%, em
1991 (FIGURA 14). Apesar do crescimento, o setor secundário
ainda é incipiente e com pouca diversificação de atividades.
A população economicamente ativa do setor secundário
passou de 9,9 para 14%, ou seja, cresceu apenas 4,1% no período
de 1970 a 1991(QUADRO 06). A mão de obra inserida no setor
secundário tem demonstrado um desempenho regular, levando-
se em conta que o parque industrial ainda está em formação e
que a indústria requer mão de obra com uma certa especialização
e qualificação (FIGURAS 14 e 20).

74 | Francilene dos Santos Rodrigues


Figura 20 – Pessoal ocupado na indústria de transformação de Roraima

Fonte: IBGE (1985).

Além dessas há outras dificuldades enfrentadas pelo setor


que vão desde a falta de mão de obra especializada e de infraestru-
tura até a falta de financiamento. Estes têm sido os principais fato-
res que dificultaram o desenvolvimento do setor de forma mais ex-
pressiva. As indústrias extrativas (mineração) serão abordadas em
um item à parte, em outro capítulo, por se constituirem relevantes
e centrais para a discussão do tema aqui apresentado.
Os subsetores moveleiro ou mobiliário e madeireiro possuem
um certo potencial de desenvolvimento, principalmente, porque há
um mercado promissor para os produtos na Venezuela. O subsetor
mobiliário também encontra dificuldades em se estruturar.
Nas décadas de 1950 e 1960, já havia indústrias de benefi-
ciamento de madeiras para atendimento do setor da construção
civil. A partir da década de 1970, o extrativismo vegetal foi im-
pulsionado em toda a Amazônia pela construção das rodovias
federais. Em Roraima, este impulso foi dado principalmente pela
construção da BR-174 e pela necessidade de atendimento da de-
manda do mercado da Venezuela, que se tornou o principal im-
portador de madeira serrada do estado de Roraima.

Garimpagem e Mineração: uma análise sócio-histórica... | 75


Apesar de um certo crescimento, o setor da indústria ma-
deireira representado, principalmente, pelas serrarias de peque-
nos portes, é ainda insignificante, se comparado a outros estados
da Amazônia.
O extrativismo da madeira tem gerado reduzidos “efeitos
em cadeia” na economia de Roraima, como pode ser observado
pelo baixo dinamismo da indústria madeireira e moveleira no es-
tado. Vale ressaltar que a exportação de produtos com baixa incor-
poração de valor é uma característica das “economias extrativas”,
caracterizando também a economia roraimense (COELHO, 1996).
Os efeitos para frente do extrativismo da madeira, ou seja, aquelas
“[...] forças geradoras de investimentos postos em ação através de
relações insumo-produção [...]” têm se refletido de forma tênue no
setor moveleiro o qual ainda não conseguiu firmar-se como um se-
tor fundamental (HIRSCHIMAN, 1976, p. 11). A produção do setor
moveleiro é ainda em pequena escala e de forma semiartesanal. A
evolução deste subsetor, tanto na produção, quanto na absorção da
mão de obra do setor secundário é crescente (QUADRO 10).

Quadro 10 – Valor da produção e número de estabelecimentos industriais no


estado de Roraima. Período de 1970 a 1985
ANOS 1970 1975 1980 1985
Val. Val. Val.
Nº Nº Nº Nº Val. Prod.
Prod. Prod. Prod.
Cr$ Cr$ Cr$ Cz$
ATIVIDADES Estab. Estab. Estab. Estab.
1.000 1.000 1.000 1.000
Minerais não
08 189 48 3.849 50 78.251 81 10.064.408
metálicos
Metalurgia 01 x 03 1.293 06 12.338 16 2.513.534
Madeireira 04 202 13 5.856 32 302.104 27 15.267.229
Mobiliário 03 93 06 1.184 03 70.056 20 12.284.408
Produção de
01 (x) 21 5.977 20 66.650 36 11.237.906
Alimentos
Couros, peles e
01 (x) (x) (x) 21 (x) 01 (x)
similares
Diversos (x) (x) (x) (x) 16 (x) 09 (x)
Total Ind.
18 484 91 18.159 148 529.399 190 51.367.485
Transform.
Fonte: IBGE. Censo Econômico (1985). (x) Dados inexistentes.

76 | Francilene dos Santos Rodrigues


Boa parte da indústria moveleira é de pequeno porte. É
composta de unidades de produção familiar espalhadas pelos
bairros da periferia e que funcionam como economia invisível ou
economia subterrânea21.
O subsetor da indústria de metalurgia representado pelas
serralherias de pequeno porte, assim como a indústria moveleira,
funciona em fundo de quintal e algumas não entram na contagem
dos dados oficiais. É importante observar que algumas indústrias
metalúrgicas foram criadas nos anos de 1980 para atender à de-
manda por instrumentos e equipamentos para a atividade de mi-
neração. Pode-se dizer que o crescimento da pequena indústria
de metalurgia foi um efeito para frente da atividade de mineração
em Roraima. Em 1980, o IBGE cadastrou apenas 6 metalúrgicas
(serralherias). Em 1985, havia no estado 16 metalúrgicas. Um
crescimento de mais de 150% em cinco anos (QUADRO 10).
As indústrias de produção de alimentos apresentaram
um bom desempenho, principalmente devido ao investimento
por parte do governo neste setor, através da criação do Parque
Industrial e da Companhia de Desenvolvimento de Roraima -
CODESAIMA, no início dos anos 1980. Em 1970, existia apenas
uma indústria de produção de alimentos. Em 1980, eram 20 e
em 1985, eram 36 indústrias. Neste período, o crescimento foi
de 80%. Todas essas indústrias foram surgindo em virtude do
aumento da demanda interna, do aumento da população e da
expansão da urbanização. A falta de dados relativos ao período
de 1990 impede a análise mais profunda sobres os impactos da
atividade de mineração no setor secundário.
Dentre os subsetores do setor secundário, o de minerais
não-metálicos, representado por olarias, pedreiras entre outras,
manteve uma tendência de crescimento relativamente alta. O
crescimento deste setor é justificado pelo potencial produtivo e
também pela demanda provocada pelo aumento populacional
21 Entende-se por economia invisível ou subterrânea os estabelecimentos pro-
dutores de bens ou serviços não registrados juridicamente, que não pagam im-
postos, não registram seus funcionários. Inclui-se também as transações ilegais
como jogo do bicho, cassinos clandestinos, comércio de drogas e prostituição
entre outros, (BASTOS; SILVA, 1995, p.37).

Garimpagem e Mineração: uma análise sócio-histórica... | 77


urbano. Em 1970, eram apenas 8 indústrias. Em 1975, período
que coincide com o início da implantação dos projetos de colo-
nização como o PIN/PROTERRA, já eram 48 estabelecimentos
industriais representando um crescimento de 500% destas indús-
trias. Em 1985, o crescimento foi de 62%, em relação a 1980.
Apesar do IBGE não apresentar dados para 1990, é percep-
tível que o subsetor de minerais não-metálicos é o fornecedor de
material para a indústria da construção civil, que continua ascen-
dente. Isto ocorreu principalmente porque Roraima é um estado
novo em que se torna necessária a construção de infraestrutura
administrativa tal como a construção de prédios para a aloca-
ção das repartições públicas. Os conjuntos habitacionais cons-
truídos pelo governo local, a partir de meados dos anos 1970,
favoreceram também o aumento da demanda. O maior número
de unidades habitacionais construídas ocorreu nos anos de 1989,
1990 e 1992. Foram 953, 1370 e 456 unidades respectivamente.
Isto significa que só nestes últimos anos foram construídas mais
unidades habitacionais subvencionadas pelo governo do que no
período de mais de uma década (FIGURA 16).

Figura 21 – Unidades habitacionais financiadas pelo Governo local no período


de 1976 A 1992

Fonte: CODESAIMA/Departamento de Habitação (1995).

Sendo assim, o setor público foi responsável por grande


parte desse crescimento. No entanto, o setor privado teve uma
participação também significativa no incremento do setor. O pe-
ríodo do boom mineral foi um período de alta do mercado imo-
biliário. Parte do dinheiro dos garimpos serviu para a compra de
78 | Francilene dos Santos Rodrigues
imóveis. O bairro de Asa Branca, na cidade de Boa Vista, foi um
bairro nitidamente habitado por garimpeiros (MACMILLAN,
1994). Após 1990, com o declínio da produção mineral, aumen-
taram as placas e os anúncios de vendas de imóveis espalhados
por todos os bairros, demonstrando que o mercado imobiliário
entrava em baixa. Neste período, poucas eram as imobiliárias
em funcionamento; apenas duas encontravam-se vinculadas à
Associação Comercial e Industrial de Roraima – ACIR. Dentre
todos os subsetores do setor secundário, esse foi o setor que mais
absorveu mão de obra no período de 1970 a 1985 (FIGURA 20).
Esses dados ajudam a ilustrar a tendência de crescimento
do ainda incipiente setor de indústrias de transformação em Ro-
raima. Esta tendência, apesar de ser ascendente, ainda é demons-
trativa da fragilidade do setor secundário no contexto econômico
de Roraima.
A expansão do setor secundário ainda não se refletiu de
forma significativa na receita do estado. Primeiro, porque a ar-
recadação do Imposto sobre Produtos Industrializados – IPI só
começou a ser computada como imposto estadual, a partir de
1988, quando ocorreu a transformação do ex-Território em esta-
do; segundo, devido ao próprio estádio de desenvolvimento des-
te setor. Os dados existentes se restringem ao período de 1988 a
1993 e demonstram um crescimento acentuado do IPI, em 1990,
e uma linha descendente nos anos seguintes (FIGURA 22).

Figura 22 – Arrecadação do Imposto sobre Produtos Industrializados – IPI


Estado de Roraima 1988 a 1993

Fonte: FECOR (1995, p. 81).

Garimpagem e Mineração: uma análise sócio-histórica... | 79


O crescimento do IPI em 1990 foi, em parte, resultado da
estruturação do estado que melhorou as condições do sistema
de arrecadação. Uma explicação para o declínio da arrecadação
nos anos seguintes foi o reflexo da política econômica nacional
adotada em 1990 durante o Governo Collor. A redução dos in-
vestimentos e dos gastos públicos, principalmente em infraes-
trutura básica, foi resultado das medidas impostas pelas agências
internacionais de desenvolvimento, tais como o FMI e o Banco
Mundial. Outro fator que contribuiu para o declínio da arreca-
dação dos impostos foi a redução do consumo e das demandas
formadas a partir do grande contingente populacional que se en-
contrava em Roraima em função da atividade de mineração.
Ocorreu sem dúvida um crescimento do setor secundá-
rio em função da atividade de mineração no estado, embora este
crescimento tenha sido incipiente e insuficiente para gerar efei-
tos, a longo prazo, na economia.

2.3.3 Setor Terciário

Nos anos 1970, havia uma discussão em pauta sobre a re-


lação entre progresso e divisão social do trabalho no interior de
cada um dos setores da economia: primário, secundário e terciá-
rio.
Analisando o “esquema evolutivo da divisão social do tra-
balho dos países”, Colin Clark afirmava que o grau de desenvol-
vimento econômico de um determinado país ou economia seria
diretamente proporcional à porcentagem de emprego/renda de
cada setor na formação do produto social. Entretanto, a análise
específica de Roraima confirma as críticas a este modelo apresen-
tadas por Francisco Oliveira (1982), ao afirmar que Clark esque-
cia-se de um aspecto fundamental: os determinantes históricos
da divisão social do trabalho e, consequentemente, as relações
técnicas que poderiam emergir de determinado modo de produ-
ção (OLIVEIRA, 1982, p. 140).
No esquema de Clark, a economia mais avançada se-
ria aquela em que predominassem os serviços (setor terciário)

80 | Francilene dos Santos Rodrigues


e a mais atrasada, aquela economia em que a agricultura (setor
primário) contribuísse com maior participação na formação de
renda e emprego. Oliveira (1992), em seus contra-argumentos,
exemplifica com o caso das economias baseadas principalmen-
te na agricultura de exportação e, por isso, requereria um setor
de serviços avançados para atender e viabilizar sua realização.
Assim, a agricultura de exportação contribui com uma parcela
significativa e até maior que o setor secundário na formação do
produto, mas nem por isso significa que seja uma economia de-
senvolvida.
Oliveira concluiu que a

[...] alta porcentagem do terciário na for-


mação/ apropriação da renda interna so-
mente pode ser compreendida se se visua-
lizar o terciário como setor por excelência
dos processos de circulação, distribuição e
consumo das mercadorias e do próprio ca-
pital (OLIVEIRA, 1982, p. 152).

Nesse sentido, para este autor, a alta porcentagem do ter-


ciário na formação/apropriação da renda significa que quanto
mais atrasada uma economia maior é a concentração dos lucros
nas esferas da distribuição do produto e na circulação do capital.
Essa discussão sobre a participação do setor terciário na
apropriação/formação do produto social depara-se com uma
tendência mundial de crescimento do setor de serviços. Verifica-
se que há uma relação diretamente proporcional entre o aumen-
to do setor terciário e o crescimento populacional a gerar uma
demanda crescente de serviços de toda ordem (SINGER, 1982,
p. 132).
O estado de Roraima, inserido nesse contexto geral, tam-
bém possui o setor terciário como setor predominante, mas com
uma especificidade: alta participação do setor público. A partici-
pação do subsetor público no setor terciário deve-se, em parte,
ao fato de que desde o princípio Roraima tem mantido um forte
vínculo de atrelamento e dependência com outros poderes, prin-
cipalmente com o poder Federal.
Garimpagem e Mineração: uma análise sócio-histórica... | 81
Inicialmente, a dependência já se ocorria quando o atual
estado de Roraima, ainda era parte da Capitania de São José do
Rio Negro. Depois, município do estado do Amazonas que, por
sua vez, estava subordinado ao Governo do Grão-Pará. Poste-
riormente, a dependência é mantida com a criação do territó-
rio federal. Finalmente, esta dependência não se esgota com a
criação do estado, à medida que a autonomia financeira é apenas
parcial por manter ainda uma forte dependência econômica da
União (FIGURA 13).
Tudo isso contribuiu de forma fundamental para que a
economia do estado tivesse como base o setor de serviços ou ter-
ciário, que, desde os anos 1970, tem se mantido na posição do
setor de grande importância na economia.
O setor público sempre participou significativamente na
estrutura produtiva do estado de Roraima, principalmente por
sua condição anterior de Território Federal dependente dos re-
cursos da União. Além dos serviços públicos para prestação de
serviços à população, o governo do ex-Território tomava para
si a iniciativa de outras atividades basicamente comerciais. Os
postos de revenda de gêneros alimentícios (carnes e derivados,
leite e derivados, arroz, feijão, farinha, entre outros) mantido e
administrado pela CODESAIMA, em substituição aos antigos
armazéns da Companhia Brasileira de Alimentos – COBAL,
bem como a construção e administração de parques de diversões
(parques aquáticos) são exemplos clássicos.
A administração pública apresentou-se como o subsetor
de maior relevância na contribuição da formação produtiva do
setor terciário (FIGURA 23) e na absorção da força de trabalho
do setor formal no estado.

82 | Francilene dos Santos Rodrigues


Figura 23 – Composição do setor terciário - 1970 A 1990

Fonte: FECOR (1995, p. 45).

Apesar de uma tendência ligeiramente decrescente, a ad-


ministração pública ainda representa 1/4 de todo o setor terciário
e 14% da estrutura produtiva do estado (FIGURA 09). Em 1970,
a participação do subsetor da administração pública no setor ter-
ciário foi de 1,5%. Em 1991, esta participação foi de 21,8% (Fi-
gura 23).
A partir de 1970, a população economicamente ativa cres-
ceu de 42% para 60%, em 1991. Em relação à estrutura produtiva,
o setor terciário representava, em média, 63% de toda a estrutura
econômica do estado nestas duas décadas (FIGURA 14). A po-
pulação economicamente ativa do setor terciário apresentou um
certo crescimento no período entre 1970 e 1991: saltou de 41,8%
para 60%, respectivamente. Cresceu mais que outros setores no
mesmo período (QUADRO 06).
Esse crescimento da PEA, ou seja, a forte concentração da
força de trabalho no setor terciário, é resultante do processo de
urbanização e do crescimento demográfico que se acelerou nos
últimos vinte anos e passou a requerer e gerar uma demanda
maior por serviços da mais diferente ordem.
As maiores modificações do setor terciário ocorreram
dentro do próprio setor. Ao mesmo tempo que a participação
da administração pública apresentou uma redução significativa,
ocorreu um aumento da participação das instituições financeiras

Garimpagem e Mineração: uma análise sócio-histórica... | 83


e dos aluguéis. Dentre os subsetores do terciário, as instituições
financeiras e os aluguéis foram aqueles que mais cresceram no
período de 1970 a 1990. O subsetor instituições financeiras pas-
sou de apenas 3%, em 1970, para 15,7%, em 1990 (FIGURA 23).
O período de maior crescimento foi entre 1985 e 1990,
período que coincidiu com o boom garimpeiro, ou seja, o tercei-
ro período da história da mineração, em que o ouro tornou-se a
substância mineral prioritária na atividade extrativa mineral, até
então, predomínio da exploração diamantífera. Neste período,
ocorreu a verdadeira “corrida do ouro”, em Roraima, que sig-
nificou, também, a corrida das instituições financeiras. Com a
ascensão da mineração ao cenário econômico, aumentou con-
sideravelmente a circulação de dinheiro na praça de Boa Vista,
o que fez supor, consequentemente, o aumento das transações
bancárias, incluindo as transferências bancárias.
Uma explicação para o crescimento deste subsetor finan-
ceiro baseia-se justamente na afirmação das funções das institui-
ções enquanto prestadoras de serviços bancários que realizam
transferências de dinheiro para outras localidades. Este fato tra-
duz uma das faces da realidade da atividade mineral em Roraima,
ou seja, a mineração resultou num processo de transferências
para outras localidades do produto extraído pela alta densidade
de valor. A atividade de mineração no estado de Roraima refle-
tiu-se também em outras economias, inclusive nas economias da
própria região (MACMILLAN, 1992). Esta é também uma das
características das economias extrativas.
Uma outra explicação para o aumento das instituições fi-
nanceiras está relacionada ao fato de Roraima estar incluída na
rota de tráfico devido às vastas áreas de florestas e a sua locali-
zação geográfica próxima à Colômbia (MACHADO, 1996) além
de, servir de base de refino da droga.

84 | Francilene dos Santos Rodrigues


O outro subsetor que apresentou um bom desempenho foi
o de aluguéis. Em 1970, representava 9,1% do setor terciário. Em
1990, já participava com 15% do setor. Outro aspecto do setor
terciário é o fato do subsetor comércio ter apresentado uma al-
teração insignificante. Em 1980, o comércio representava 14,94%
da estrutura produtiva do estado e 23,4% do setor terciário. Em
1990, estes índices eram de 15% e 23,3%, respectivamente (QUA-
DRO 06) e (FIGURA 14).
Não se pode negar que o período do boom do extrativismo
mineral modificou a realidade econômica do estado, principal-
mente à medida que a população garimpeira e não garimpeira
passou a viver da expectativa do “bamburro”. Esta expectativa se
apresentava à medida em que boa parte da população, do estado
da cidade contava com um ou outro parente ligado à atividade
de mineração, seja de forma direta ou indireta. Isto gerava gran-
des expectativas por parte desta população fazendo com que es-
tivesse sempre atenta ao movimento da atividade de mineração e
também das pessoas que se beneficiavam com o bom andamento
do setor. Este tal envolvimento de boa parte da população nas ati-
vidades de exploração mineral foi uma importante característica
de todos os períodos da história da mineração em Roraima, no
entanto, no terceiro período as proporções deste envolvimento
foram maiores.
O aumento do número de casas comerciais, particular-
mente as de venda de material e equipamento para os garimpos,
bares, restaurantes, hotéis, revendas de automóveis, entre outros,
foi outro “efeito para frente” da atividade de mineração.
A arrecadação do Imposto de Circulação sobre Mercado-
rias e Serviços – ICMS apresentou um certo crescimento a par-
tir de 1988, após a transformação do ex-Território em estado. A
implantação do sistema de arrecadação foi sem dúvida um fator
que contribuiu para o aumento desta arrecadação. O período de
maior pico da arrecadação do ICMS foi o ano de 1990 quando, o
governo arrecadou mais de 25 milhões de dólares (FIGURA 19).

Garimpagem e Mineração: uma análise sócio-histórica... | 85


Figura 24 – Arrecadação de Imposto sobre Circulação de Mercadorias e
Serviços – ICMS-Roraima – 1988 a 1994

Fonte: Secretaria de Finanças/RR (1995).

Porém, não se pode afirmar que este crescimento esteja


apenas relacionado ao aumento da atividade de mineração, ten-
do em vista que não há uma relação direta entre a atividade de
mineração e a arrecadação de impostos diretos. Esta atividade
de mineração em Roraima vem se desenvolvendo predominan-
temente à margem da economia formal ou legalizada. Esta ati-
vidade não pode ser enquadrada como atividade formal e, por-
tanto, não está condicionada legalmente aos pagamentos destes
tributos. Contudo, isto não impede que se verifique o reflexo da
mineração via arrecadação ou desenvolvimento dos outros seto-
res da economia.

2.4 O setor mineral e sua participação na economia de Roraima

A perspectiva deste item é tratar dos efeitos ou impactos


da atividade de mineração na economia do estado de Roraima,
ou seja, da mineração como atividade econômica. Neste sentido,
existe uma certa dificuldade em tratar a atividade de mineração
como um todo já conhecido. Para avaliar as atividades de mine-
ração e seus efeitos na economia, torna-se necessária a utiliza-
ção de informações, mais especificamente, informações coleta-
das e apresentadas sob formas de dados analisados com base em
uma rede de conceitos. Em Roraima, como dito anteriormente,
a grande empresa de mineração foi e ainda é quase inexistente.

86 | Francilene dos Santos Rodrigues


Contudo, se é relativamente fácil obter informações sobre
a grande empresa de mineração, veremos mais adiante, com a ga-
rimpagem, ou seja, a pequena e a média mineração, que o mesmo
não acontece. Neste primeiro momento, apresentaremos o que
foi possível analisar com os dados disponíveis.
Conforme dito anteriormente, a primeira empresa de
mineração a atuar em Roraima foi a Empresa de Mineração Te-
pequém, constituída em 1953 e extinta em 1956. Apesar de 72
empresas interessadas na extração mineral terem protocolado
requerimentos junto ao DNPM para autorização de pesquisa,
poucas executaram atividade de lavra mineral.
Até o momento, a única experiência da média mineração
foi realizada pela CODESAIMA com autorização para lavra expe-
rimental. Os trabalhos foram iniciados em 1984, na região do rio
Quinô, na base do Caju no Norte do estado de Roraima. Porém,
em relatório de avaliação realizado pelo DNPM, em 1985, foram
constatados erros básicos e primários referentes tanto à área de
lavra quanto aos problemas de segurança e também a questão
organizacional-técnico-administrativo (DNPM,1985, p. 8).
Das 72 empresas com pedidos para explorar a área, ape-
nas 10 encontram-se no segundo estádio do processo legal para
exploração de substância mineral. Há três estádios ou fases legais
que o interessado na exploração da atividade mineral deve per-
correr: Autorização de pesquisa (1ª fase) – consiste na entrega
de requerimento junto ao DNPM solicitando autorização para
realizar pesquisa mineral. Aprovado, o requerente tem um pra-
zo de 30 dias para efetuar o pagamento referente ao Alvará de
Pesquisa; Alvará de Pesquisa (2ª fase) – será a autorização para
a realização da pesquisa que deverá ser iniciada num prazo má-
ximo de três anos, podendo ser renovada por mais tempo. Até o
final do prazo, o requerente deverá apresentar um relatório de
pesquisa. Aprovado o relatório pelo DNPM, o requerente terá
um prazo máximo de um ano para requerer a concessão de lavra
(3ª e última fase) (DNPM, 1987).

Garimpagem e Mineração: uma análise sócio-histórica... | 87


As solicitações por parte das empresas de mineração até
janeiro de 1995 demonstram que a maior quantidade ocorreu no
ano de 1984, em um total de 274 requerimentos de pesquisa. O
ano de 1994, período pós-boom da atividade de mineração, foi
o segundo ano com maior número de solicitações: foram 129
requerimentos de pesquisa protocolados junto ao DNPM (FI-
GURA 25). Em 1984, os garimpos já estavam funcionando com
números significativos de garimpeiros e de alta produtividade.
É importante frisar que o período anterior a 1984 não ha-
via despertado o interesse de empresas de forma tão contunden-
te. As solicitações de pesquisa eram em números insignificantes.
Somente após as “pesquisas” realizadas por garimpeiros e a apro-
vação do Decreto nº 88.985 de novembro de 1983, permitindo a
exploração de riquezas minerais em áreas indígenas, as empresas
apressaram-se em requisitar as áreas para a exploração mineral.

Figura 25 – Evolução dos Requerimentos e Alvarás de Pesquisas emitidos para


Roraima 1972 a 1995

Fonte: DNPM (1995).

Os requerimentos de pesquisa protocolados confirmam


uma outra característica do terceiro período da mineração em
Roraima: o predomínio do ouro. As solicitações de pesquisas
protocoladas a partir de 1972, atestam que as substâncias mi-
nerais arroladas nos documentos eram as mais diversas. Após
1984, o minério de ouro passou à frente como a substância mais
requisitada. Do total dos 129 requerimentos de 1994, 103 deles
eram requerimentos para o minério de ouro. Em 1995, o total de
67 pedidos requerimentos eram todos para o minério de ouro.

88 | Francilene dos Santos Rodrigues


Ocorreu também o incremento de requerimentos protocolados
por pessoas físicas, em sua maioria para a substância do minério
de ouro, e em menor quantidade para o granito.
Ocorreu, ainda, um deslocamento das áreas requeridas
pela grande e média mineração. Deslocaram-se da região Norte
(região dos rios Maú, Cotingo, Quinô) para a região Noroeste
(região dos rios Uraricoera, Ajarani e serras Couto de Magalhães
e Surucucu), seguindo a mesma movimentação da atividade de
garimpagem. A reorganização e expansão deste novo espaço pela
atividade de mineração levaram à justaposição de interesses, uma
vez que as localidades pretendidas tanto pelos garimpeiros quan-
to pela grande mineração eram coincidentes.
O estado de Roraima, até 1995, não possuía nenhuma
concessão de lavra em vigor. Das empresas do setor mineral or-
ganizadas formalmente, somente as que exploravam minerais
não-metálicos, ou seja, materiais para a construção civil, eram as
que estavam declarando e pagando impostos. Sendo assim, em
Roraima, a média e a grande mineração não possuíam relevância,
embora se apresentassem como alternativas para alguns atores
sociais, já que as ocorrências minerais estavam assentadas em de-
pósitos aluviares e, portanto, exploração de baixo custo e com
retorno dos investimentos em curto prazo.
O fato das empresas requererem concessão de lavra não é
muito representativo dessa atividade, à medida que estes reque-
rimentos de pesquisa têm a finalidade de garantir expectativas de
direito que poderão ou não culminar com a pesquisa mineral. No
estado de Roraima, há 1.029 solicitações de pesquisa que repre-
sentam mais de 35% do território do estado, a maioria em áreas
indígenas. A legislação exige que pesquisas sejam realizadas nas
áreas após serem aprovados os alvarás de pesquisa, caso contrá-
rio, implicaria a cassação da autorização. No entanto, a própria
legislação permite a prorrogação dos alvarás indefinidamente.
Há o fato, ainda, de cada pessoa natural ou jurídica poder deter
até cinco autorizações de pesquisa para cada substância mineral
e, no máximo, 50 da mesma classe (Art. 25). Isto favorece o blo-
queio destas áreas.

Garimpagem e Mineração: uma análise sócio-histórica... | 89


2.4.1 Mineração formal e informal

A garimpagem, conforme explicada no capítulo I, isto é,


a pequena e a média mineração, tem contribuído com a maior
parte da produção aurífera do País22. Desde 1978 até o final da
década de 1980, a produção das atividades de garimpagem repre-
sentava mais de 50% da produção oficial de ouro no Brasil. Em
1983 e 1984, a produção de ouro oriunda dos garimpos equiva-
lia a 88,46% e 82,12%, respectivamente, de toda a produção do
Brasil (DNPM). Em Roraima, só é possível falar da atividade de
mineração enquanto garimpagem. Esta atividade é caracterizada
por David Cleary como mineração informal (CLEARY, 1994).
Para entender o que acontece com a mineração em Rorai-
ma, foi necessário adotar uma distinção entre mineração formal e
informal. Há em Roraima um tipo de mineração que é conhecida
por todos os atores sociais, mas sem que exista a possibilidade de
uma leitura economicamente certa da produção, dos números de
garimpos e de garimpeiros, dentre outros. O fato da atividade de
garimpagem estar se fazendo sem permissão oficial, sem uma or-
ganização empresarial legal e sem declarações, torna-a uma rea-
lidade que não é conhecida e nem reconhecida no sentido oficial.
A mineração como atividade econômica poderá então ser
subdividida em atividade formal e informal. Nesta discussão, fica
evidenciada a dificuldade de falar da mineração como um todo,
porque há uma parte que é tratada apenas com base em estima-
tivas, tais como população garimpeira e produção. A compreen-
são da atividade de mineração é apenas parcial, mas nos interessa
compreendê-la enquanto uma realidade social, a qual é central
para o entendimento da realidade roraimense e, dentre esta reali-
dade, o desenvolvimento de Roraima e suas perspectivas futuras.
Em 1993, a arrecadação dos tributos estaduais sobre os
produtos minerais (metais e pedras preciosas) foi três vezes me-
nos que a arrecadação sobre os produtos minerais empregados
22 Embora a tendência atual é de aumentar cada vez mais a produção a partir da
grande empresa de mineração. Este é o caso, por exemplo, da CVRD que vem
explorando industrialmente o ouro, inclusive em Carajás, no projeto conhecido
como Igarapé Bahia.

90 | Francilene dos Santos Rodrigues


na construção civil. Em 1994, a arrecadação foi cinco vezes me-
nor. E, em 1995, a arrecadação foi de R$ 2,55 e R$13.789,36, res-
pectivamente. Destes valores, dá para inferir que a atividade de
mineração contribuiu de forma reduzida por meio dos tributos
devidos. É claro que em 1995 a atividade de mineração de metais
e pedras preciosas produziu mais que R$ 2,55 (dois reais e cin-
quenta e cinco centavos)23.
As instituições governamentais têm dificuldade em saber
com exatidão o que a atividade de mineração produz e, por isso,
elaboram uma forma de dar uma descrição sobre as atividades
econômicas subterrâneas por meio de estimativas. As estimativas
são derivadas de fórmulas matemáticas criadas para atender as
instituições. Por exemplo, em 1988, a produção oficial de ouro
foi de mais ou menos 3 toneladas e a produção estimada foi de
9 toneladas. Isto é a demonstração de que a produção estimada
pode apresentar problemas, à medida em que são superestimadas
ou subestimadas (FIGURA 26).

Figura 26 - Produção aurífera (oficial e estimada) do Estado de


Roraima -1979 a 1995

Fonte: DNPM e SEFAZ-RR (1995).

23 Quando falamos de real é possível fazer uma equivalência grosseira entre


US$(dólares) e R$(reais). Em 29/12/1995 um real equivalia a 0,9715 do dólar
para compra. Fonte: http://www.yahii.com.br/dolardiario95.html

Garimpagem e Mineração: uma análise sócio-histórica... | 91


Outro exemplo foi a estimativa da população garimpeira,
em 1988. O DNPM estimou em 30.000 pessoas, e a FUNAI e a
União dos Sindicatos e Associações de Garimpeiros da Amazô-
nia Legal (USAGAL) estimaram em 45.000 pessoas no mesmo
ano24. Em 1990, houve intervenção federal na região Noroeste
de Roraima para a retirada dos garimpeiros de áreas indígenas
Yanomami, onde se concentrava a maior parte da população ga-
rimpeira. Esta operação de retirada dos garimpeiros, chamada de
“Operação Selva Livre”, favoreceu o processo migratório para os
garimpos ao Norte do estado, precisamente para as áreas preten-
didas pelos índios Macuxi, Taurepang, Ingaricó e Wapixana.
Mesmo esta operação de guerra não foi suficiente para a
retirada total dos garimpeiros da área, aliás, um trabalho gigan-
tesco, tendo em vista a dimensão da floresta e a persistência dos
garimpeiros. O Sindicato dos Garimpeiros de Roraima (SINDI-
GAR) estimou que em janeiro de 1996 havia, ainda, mais ou me-
nos 5.000 garimpeiros atuando efetivamente em Roraima.
A produção aurífera oficial indicou que, apesar do arrefe-
cimento da atividade de mineração no estado, ela permaneceu e
de forma a não ser ignorada. Os reflexos na economia e na socie-
dade são evidentes. Durante mais de meio século, a mineração
e suas possibilidades têm-se configurado como a chave para a
compreensão da realidade roraimense e do processo de desen-
volvimento do estado de Roraima, seja o desenvolvimento passa-
do, seja o desenvolvimento futuro.
A atividade de mineração coloca-se como possibilidades
futuras, à medida que as pesquisas comprovam a existência de
minerais dos mais diversos no solo e subsolo do estado de Rorai-
ma. Apesar dos trabalhos de pesquisa e mapeamentos geológi-
cos realizados não terem dimensionado totalidade das reservas,
foram importantes para a indicar uma realidade da situação da
garimpagem. Os trabalhos técnicos de pesquisa realizados em
Roraima foram executados pelo Governo Federal e seus órgãos
executores (CPRM/DNPM), principalmente a partir da década

24 Em 1982 e 1983, o auge de Serra Pelada, a população garimpeira foi estimada


em número que variou de 45.000 a 80.000 pessoas.

92 | Francilene dos Santos Rodrigues


de 1970. Destes trabalhos, 6 projetos podem ser relacionados:
Projeto Roraima; Projeto Molibdênio; Projeto Surumu; Projeto
Catrimani/Uraricoera; Projeto Caburaí; Projeto Mucajai:
O Projeto Roraima foi criado em 1968 e concluído em
1974 para dar continuidade aos trabalhos de pesquisa mineral na
região setentrional de Roraima, iniciados em 1955. Este Projeto
objetivava o mapeamento geológico básico da região ao Norte do
paralelo 2ª00’N, por meio do levantamento aerofotogramétrico
de toda a área. Este trabalho resultou na descoberta de quatro
ocorrências de molibdenita, que deu origem ao Projeto Molib-
dênio.
O Projeto Molibdênio em Roraima foi iniciado em 1975 e
concluído em 1978. Este projeto objetivava o mapeamento geo-
lógico com escala de 1:100.000 e o levantamento geoquímico por
meio de amostragem de sedimentos para definir as potencialida-
des de mineralização em molibdênio. Os resultados destas pes-
quisas comprovaram as ocorrências de molibdênio, cobre, ferro
e diatomito. É bom ressaltar que as jazidas de molibdênio conhe-
cidas no Brasil são poucas. O Anuário Mineral Brasileiro de 1991
não cita o molibdênio na relação de participação das substâncias
minerais no Produto Mineral Brasileiro (PMB).
Em 1983 foi criado o Projeto Surumu, com o objetivo de
pesquisar com detalhes áreas situadas na região da Serra da Gua-
riba e do Banco.
Em 1978, foi iniciado o Projeto Catrimani/Uraricoera
e interrompido em 1981, tendo sido realizado mapeamento de
apenas 54% da área. Este projeto tinha como finalidade o ma-
peamento geológico em escala 1:250.000 de todo o setor Oeste
do estado. As conclusões foram a constatação de ocorrências de
alta concentração de ouro, cassiterita, cobre, zinco, urânio e tório
em toda a área. E ainda, possibilidades de jazidas de estanho e
chumbo.
O outro foi o Projeto Caburaí, iniciado em 1985 e con-
cluído em 1990, na região extremo Nordeste do estado de Ro-
raima, que pretendia fazer o mapeamento geológico em escala
1:100.000, cadastramento mineral, cartografia metalogenética da

Garimpagem e Mineração: uma análise sócio-histórica... | 93


área e avaliação do potencial econômico das ocorrências de ouro
e de diamante.
E, finalmente, o Projeto Mucajaí (Paredão e Serra do Aja-
rani) iniciado em 1986 e concluído em meados de 1990, também
objetivava o mapeamento geológico em escala 1:100.000.
Devido a seu caráter de informalidade fica prejudicada a
análise sobre o peso da atividade de garimpagem na economia
de Roraima. A forma de avaliar só é possível através dos outros
setores da economia. A agricultura foi o setor mais diretamente
afetado pela atividade de mineração. Isto porque a atividade de
mineração canalizou esforços para a atividade do setor comer-
cial, de serviços e até para a pequena indústria, relegando a se-
gundo plano as atividades agrícolas e pecuárias, pelo menos num
primeiro momento. Passado o impacto inicial do “fechamento
e encerramento” das atividades de mineração em 1990, a agri-
cultura voltou a apresentar sinais de recuperação e, em alguns
casos, superou a produção de anos anteriores ao boom da ativida-
de mineral. Deu para perceber que nos períodos imediatamente
posteriores ao auge dos ciclos de produtividade, tais como em
1946, 1977 e 1988, ocorreu aumento do rebanho bovino (FIGU-
RA 01). As áreas de pastagens apresentaram uma leve ascensão
após 1975 e um crescimento significativo no período posterior a
1985 (FIGURA 19). Os colonos também utilizaram a atividade
de mineração para se capitalizar e aumentar a propriedade ou
mesmo para comprar máquinas e equipamentos agrícolas (MA-
CMILLAN, 1994).
O crescimento de alguns setores da indústria, tais como a
metalurgia e mobiliário, demonstram o reflexo da atividade de
mineração no setor secundário, principalmente, durante o ter-
ceiro período da história da mineração. Esta análise fica, em certa
medida, comprometida por não termos dados sobre o período
posterior ao arrefecimento da atividade, em 1990.
A atividade de mineração em Roraima movimentou o se-
tor terciário, principalmente as atividades de apoio ao garimpo.
Os argumentos de que o fim da atividade de mineração acarre-
taria o “desmoronamento da economia estadual” deram-se ape-

94 | Francilene dos Santos Rodrigues


nas de forma parcial. A parte do setor terciário atingido com o
“encerramento” ou a proibição da atividade de mineração foi
aquela cuja atividade se voltou predominantemente para o apoio
às atividades de mineração, especificamente o comércio de ma-
terial e equipamentos para os garimpos, o comércio de gêneros
alimentícios, casas de câmbio, serviços hoteleiros, instituições fi-
nanceiras, aluguéis. Estas foram também as atividades que mais
cresceram durante o boom mineral. Consequentemente, foram
também as que sofreram maiores impactos após o arrefecimento
da mineração.
A grande totalidade das mais de 100 casas de compra e
venda de ouro e diamante espalhadas pela cidade, existentes até
1990, foram fechadas ou as atividades encerradas. Estes estabe-
lecimentos funcionavam em uma das ruas do centro da cidade
denominada de “rua do ouro”. Cadastradas na Secretaria de Fi-
nanças – SEFIN, em 1990, permaneciam apenas 15 empresas.
Deste número, algumas encontravam-se desativadas, embora
permanecessem com o cadastro jurídico em aberto. As empresas
de compra e venda de ouro e diamantes que subsistiram foram
aquelas que diversificaram suas atividades, como é o exemplo
das maiores: Timbó, Pedro José e Marsan. Algumas instituições
financeiras reduziram suas agências, como o Banco Bradesco;
outros retiraram-se da praça ainda em 1991, como o Banco Eco-
nômico. Dos sete bancos em funcionamento em Roraima, quatro
eram bancos oficiais: Banco da Amazônia S.A. (BASA), Banco do
Brasil S.A., Caixa Econômica Federal (CEF) e Banco do Estado
de Roraima.
O setor hoteleiro apresentou uma baixa na taxa de ocupa-
ção que era de 62,9%, em 1989, e passou para 56,6%, em 1990.
Depois de 1990 o setor hoteleiro começou a se recuperar e até
a superar os índices anteriores com uma taxa de ocupação de
66,9% em 1993 (FECOR, 1995). Ainda em nível de avaliação do
comportamento do comércio em Roraima, temos os números de
consultas ao Serviço de Proteção ao Crédito – SPC, realizadas
pelos mais diversos estabelecimentos comerciais e financeiros. O
ano de 1986 apresentou o maior número, com 35.098 consul-

Garimpagem e Mineração: uma análise sócio-histórica... | 95


tas. No período de 1987 a 1990, no auge da produção aurífera no
estado, as consultas ao SPC apresentaram reduções de até 36%,
em relação ao ano de 1983. Isto se justifica porque boa parte das
compras era realizada em dinheiro e até mesmo em ouro, embo-
ra grande parcela da população ainda sobrevivesse de salários ou
ganhos com a economia informal. O aumento do custo de vida
no período foi um problema para a população residente que não
estava diretamente ligada à atividade de mineração.
O caráter passageiro e transitório da atividade de minera-
ção, principalmente no terceiro período deu-se pelo fato de que
a simples circulação do dinheiro no comércio e na praça de Boa
Vista não foi suficiente para garantir ou estabelecer as bases para
o fortalecimento da economia do estado. Na verdade, o processo
de geração de riquezas não se realizou da forma esperada, à me-
dida em que parte desta geração de riquezas deu-se na esfera da
circulação e do consumo. Outra questão é o fato da atividade de
mineração não ter sido capaz de gerar “efeitos em cadeias fiscais”
(HIRSCHMAN, 1982).
Em nível de economia paralela é preciso citar a conexão
entre garimpo e tráfico de drogas, embora não seja objeto especí-
fico de nosso estudo. As pistas clandestinas espalhadas por todo
o estado e o fato de os pilotos declararem planos de voos falsos
à torre de controle e transportarem o que quisessem, somados à
ausência de uma fiscalização, são os ingredientes propícios para
esta atividade.
A expansão da atividade de mineração e as possibilidades
futuras do grande potencial mineral colocaram em pauta a ne-
cessidade da discussão do processo de territorialização e dester-
ritorialização dos diversos grupos sociais envolvidos diretamente
ou não nesta atividade. Isto é fundamental para compreender o
processo de luta dos diversos grupos sociais, suas articulações e
suas alianças para garantir ou conquistar espaços.

96 | Francilene dos Santos Rodrigues


CAPÍTULO III

(DES) TERRITORIALIZAÇÃO E CONFLITOS SOCIAIS NA


LUTA POR ESPAÇO25 EM RORAIMA

A valorização dos recursos naturais, dentre eles os mine-


rais, representou para Roraima, principalmente a partir dos anos
de 1980, um acelerado processo de valorização da terra rorai-
mense. O processo vem aprofundando-se à medida que Roraima
se configura como a mais recente alternativa dentro da fronteira
amazônica, ou seja, como um estado ainda com baixa densidade
demográfica e recursos naturais quase inexplorados. As disputas
entre grupos e atores sociais para exercer o domínio sobre o lugar
não são recentes.
Em Roraima, o novo nesse processo de valorização do es-
paço e no acirramento dos conflitos é o grau e a forma como os
grupos sociais vêm se articulando e se confrontando. O processo
de articulação dos grupos sociais ocorre entre garimpeiros e fa-
zendeiros; garimpeiros e empresários; índios, igrejas e organis-
mos internacionais. A articulação ocorre porque a expansão do
território associada à ideia de domínio e gestão de uma determi-
nada área promove uma ampliação da territorialidade de alguns
grupos, ao mesmo tempo em que provoca a desterritorialidade
de outros grupos sociais. Nesse contexto, um determinado grupo
social, ao ter o domínio sobre um lugar, torna impossível o domí-
nio sobre o mesmo lugar por outros grupos. É preciso considerar
aqui também todos os jogos, negociações e lutas pelo domínio
sobre um determinado espaço (BECKER, 1992).
Alguns grupos ou atores sociais, militares, índios e missio-
nários estiveram presentes no contexto sociopolítico de Roraima
desde o período colonial, enquanto outros, fazendeiros/pecua-

25 O espaço é, ao mesmo tempo, produto e produtor de relações sociais e, por-


tanto, da ação política. O controle ou o domínio do espaço por determinados
grupos sociais representa, assim, a conquista de poder. Este poder “se manifes-
ta num espaço próprio e delimitado, se manifesta num território” (BECKER,
1992). O território se constitui, então, no lugar por excelência, onde determina-
do grupo concretiza o seu poder.

Garimpagem e Mineração: uma análise sócio-histórica... | 97


ristas, garimpeiros, empresários e parlamentares emergiram no
início do século XX, e outros, como as organizações não-gover-
namentais, surgiram mais recentemente. Todos estes atores vêm
lutando para conquistar e garantir espaços no cenário roraimen-
se. Esta luta pelo espaço físico é também uma luta pelo poder, ou
melhor, uma disputa para exercer o controle sobre um território.
Tais lutas expressam-se no processo de territorialização e dester-
ritorialização de determinados grupos sociais.
Nesse sentido, para tentar compreender o processo de luta
e a própria realidade de Roraima, torna-se necessário colocar
como central a análise da atividade de mineração, ou seja, a ga-
rimpagem como um fenômeno social. Ao mesmo tempo, é ne-
cessário abordar o processo da formação e participação dos gru-
pos sociais na conquista, defesa e disputa pelo espaço. Esta luta
pela dominação do espaço físico é a luta para garantir poder e
controle sobre um determinado território e, consequentemente,
poder impor uma determinada lógica de apropriação e utilização
dos recursos naturais.

3.1 MILITARES, MISSIONÁRIOS E ÍNDIOS: CENÁRIO DO


FIM DO SÉCULO XIX

A presença efetiva dos militares data de 1775, mais precisa-


mente a partir da construção do Forte São Joaquim, na confluên-
cia dos rios Uraricoera e Tacutu, vias de acesso às bacias do rio
Orinoco (Venezuela) e Essequibo (República da Guiana) então
territórios dos espanhóis e holandeses. O objetivo era garantir a
posse do território por meio da ocupação e da colonização, uti-
lizando-se da construção de fortes e de aldeamentos indígenas.
Depois, a partir do fim do século XVIII, a estratégia passou a ser
a colonização por meio da pecuária.
Essa primeira fase de ocupação, cuja estratégia era a for-
mação de aldeamentos indígenas para a formação de uma espé-
cie de “barreira humana” contra as invasões ao vale amazônico,
foi entremeada de revolta e resistência por parte dos índios (FA-
RAGE, 1991). Ocorreram grandes levantes dos índios aldeados

98 | Francilene dos Santos Rodrigues


em 1780, 1781 e 1790. Este último conhecido como a revolta da
“Praia do Sangue”. Tais fatos determinaram a mudança de estra-
tégia de ocupação.

3.2 MILITARES, MISSIONÁRIOS, ÍNDIOS, FAZENDEIROS E


GARIMPEIROS: CENÁRIO DO INÍCIO DO SÉCULO XX

No início do século XX, os militares já dividiam a ativi-


dade de pecuária com os fazendeiros, alguns deles ex-militares,
estabeleciam os seus domínios e a ocupação das terras por meio
da quantidade de bois que fossem capazes de controlar. Efetiva-
ram sua ocupação expandindo suas terras, principalmente para
o vale do Tacutu, ao Nordeste do estado, região onde residia a
maior parte da população Macuxi, hoje conhecida como a região
da Raposa Serra do Sol.
Também no começo do século XX, os padres beneditinos26
já haviam estabelecido sua Missão e iniciado o processo de cate-
quização dos índios. Iniciaram também críticas aos métodos uti-
lizados para os aldeamentos e ao sistema de controle e utilização
da mão de obra indígena nas fazendas. Tais críticas desencadea-
ram, em um primeiro momento, conflitos com as autoridades
civis, principalmente aquelas ligadas à maçonaria, liderados por
Bento Brasil, um dos maiores fazendeiros da região, cuja famí-
lia seria uma das primeiras a investir na atividade de mineração
(SANTILLI, 1994).

26 Até 1780 existiam apenas dois missionários no vale do rio Branco. Um mis-
sionário carmelita residente no Forte e outro pároco capuchinho no aldeamen-
to. A partir do final do século XIX, a Ordem de São Bento passou a atuar no rio
Branco, pautando-se pela ênfase na educação como estratégia de catequização.

Garimpagem e Mineração: uma análise sócio-histórica... | 99


O processo de cooptação dos índios para a formação de
mão de obra deu-se poelas relações de compadrio27, pela adoção
de crianças ou do casamento com índias por parte dos civis, prin-
cipalmente alguns fazendeiros, ou ainda, pelo processo de con-
cessão de títulos honoríficos às lideranças indígenas por parte do
Estado. A cooperação possibilitava, aparentemente, a dissolução
das diferenças sociais por meio de certo controle dirimindo, as-
sim, os conflitos.
A atividade de mineração surgiu no começo do século XX,
por meio de um paraibano que se casou com uma índia Macuxi.
Em 1937, a partir da descoberta do garimpo de Tepequém, ocor-
reu o primeiro fluxo migratório proporcionado por este tipo de
atividade. Foi durante a década de 1950 que ocorreu o primeiro
conflito entre os garimpeiros e a empresa de mineração. A Em-
presa de Mineração Tepequém Ltda, foi fundada em 1948 por
Adolpho Brasil e Leontino de Oliveira, sendo vendida, em 1952,
a uma firma belga. Os constantes castigos e as violências, impos-
tos aos mineradores que se recusavam a vender para a empresa o
produto da atividade de mineração, culminaram, em 1956, com a
revolta de alguns garimpeiros, o assassinato do filho do dono da
empresa, e em seguida, a fuga do empresário, deixando muitas
dívidas.
Em meados do século XX, a presença dos militares em Ro-
raima foi mais uma vez ratificada através da criação do Território
Federal do Rio Branco e a nomeação de militares para o governo.
No final da década de 1980, a presença militar foi intensificada
pela implementação do Projeto Calha Norte, que tinha entre seus
objetivos a resolução dos conflitos em áreas indígenas.

27 A relação de compadrio se configurava como uma relação de aproximação


entre indivíduos sem relações genealógicas. Estabelecia uma relação de lealdade
e ajuda mútua. As maiores expectativas por parte dos índios eram a possibili-
dade do compadre, geralmente fazendeiro, resolver alguns casos de pendência
acarretadas pela invasão das roças indígenas pelo gado de outros fazendeiros.
Por parte do fazendeiro, as expectativas de ajuda relacionavam-se à possibilida-
de de requisitar mão de obra sem remuneração (SANTILLI, 1994, p. 57).

100 | Francilene dos Santos Rodrigues


3.3 A DÉCADA DE 1960 E A MILITARIZAÇÃO DE RORAI-
MA: A IDEOLOGIA DO “ESPAÇO VAZIO”

A ideia da Amazônia como região inabitada vem desde


a conquista e a ocupação pelos portugueses. Esteve presente no
início da República e ganhou ênfase a partir da segunda meta-
de do século XX, principalmente no Regime Militar, sob a égide
da “Doutrina de Segurança Nacional”, que trazia intrínseca uma
forte identidade entre povoamento, segurança e desenvolvimen-
to, como já visto anteriormente. A primeira grande empreitada,
nos anos 1930, foi a “Batalha da Borracha”, cujos “soldados da
borracha” eram nordestinos. Depois veio a “Marcha para o Oes-
te”.
A partir de meados dos anos de 1960, esse entendimento
da Amazônia enquanto “vazio” ganhou destaque e se tornou par-
te preponderante em todos os projetos para a Amazônia. Como
parte da concepção de geopolítica adotada pelo General Golbery
de Couto e Silva e prevaleceu durante os governos militares. A
compreensão dos militares sobre o papel da Amazônia na viabi-
lização do “Brasil Grande Potência” passava pela integração geo-
gráfica e econômica desta região ao restante do país e ao mundo
(COELHO, 1996). Esta concepção serviu de embasamento às
políticas de desenvolvimento associadas à concepção de defesa
nacional. A ideia de desenvolvimento estava associada à ideia de
povoamento. A Amazônia, região de “espaços vazios”, precisava
ser habitada.
O projeto de modernização do Brasil, no qual a Amazônia
estava inserida, principalmente a partir do Golpe Militar de 1964,
concebia como estratégia a ocupação da Amazônia em tempo re-
corde apoiada na imposição de malhas de duplo controle: técnico
e político (BECKER, 1992, p. 101). Todos os planos elaborados
para a Amazônia traziam explícitos a questão da ocupação como
problema a ser superado, isto é, tratava-se de uma área em que
predominava o “espaço vazio” ou “espaço desocupado”, a ser
ocupado ou integrado ao país ou à civilização.

Garimpagem e Mineração: uma análise sócio-histórica... | 101


O mito do “espaço vazio” refletia a forma como os gover-
nos e as elites viam as populações locais da região, ou seja, como
obstáculos às suas concepções de desenvolvimento. A noção de
espaço vazio, notadamente para os governos militares, significa-
va espaço improdutivo. Assim a noção de “vazio” “[...] configu-
rava-se como um conceito muito mais econômico que demográ-
fico” (VAINER, 1992, p. 42).
Nos governos militares, a população apresentava-se como
um elemento fundamental na formação de uma base produtiva
para o processo de inserção da Amazônia na economia mundial,
bem como na constituição do poder nacional. Nesta perspectiva,
as populações indígenas, os ribeirinhos, os seringueiros e os co-
letores, denominados “povos da floresta”, pouco representavam,
uma vez que não podiam ser convertidos em força de trabalho
pelos protagonistas do novo modo de produção a ser estimulado
na Amazônia, com vistas a sua inserção no novo contexto de acu-
mulação capitalista mundial.
O mito de “espaço vazio” também esteve refletido nos dis-
cursos de governantes e de políticos em Roraima, no passado e
no presente. O deputado, pelo ex-Território, Antônio Martins,
em 1947, pronunciara-se na Câmara dos Deputados a esse res-
peito:

Se já nos é juridicamente reconhecida a


posse da área rio-branquense, agora ter-
ritorializado, resta-nos somente ocupá-la
em definitivo, impregná-la de uma cons-
ciência de brasilidade e procurar a utili-
zação de seu abundante espaço, através
de uma séria política de governo colonial
e desenvolvimento econômico, pela utili-
zação de suas indiscutíveis possibilidades
econômicas. (DIÁRIO DO CONGRESSO,
08/10/1947 apud GUERRA, 1957, p. 2, gri-
fo meu).

102 | Francilene dos Santos Rodrigues


O governador do Território do Rio Branco, no período de
1947-48, assim se expressava sobre a necessidade de resolver o
problema da “escassez” populacional:

Trata-se, não somente de aumentar a po-


pulação do território como, sobretudo
de eliminar os obstáculos de uma rarefa-
ção demográfica (grifo meu) nociva ao
progresso regional. Não se deve esquecer
que o aproveitamento e a dinamização dos
recursos naturais da extensa Guiana Bra-
sileira resultarão em apreciáveis vantagens
para toda a Amazônia, e, em conseqüência
– para o Brasil – mas, dependem, funda-
mentalmente, da execução preliminar de
uma série de medidas importantes no setor
da política da população (VALE DO RIO
BRANCO apud GUERRA, 1957, p. 1320).

O plano de instalação do estado de Roraima, elaborado


por uma comissão nomeada pelo primeiro governador eleito Ot-
tomar de Souza Pinto, referia-se “à pequena base populacional”:

Decididamente, a população roraimense


incorpora fatores endógenos que obsta-
culam[sic] a demarragem[sic] imediata
de um processo de desenvolvimento auto-
sustentado, tanto do ponto de vista quan-
titativo, quanto do ponto de vista cultural
tecnológico. Com base populacional tão
pequena, o que exigiria mão-de-obra e
quadros gerenciais com especializações es-
cassas por aqui. Assim, a geração de [po-
pulação] excedentes com vistas ao cresci-
mento econômico requer necessariamente
a expansão quantitativa e melhoria qua-
litativa da nossa população (SEPLAN,
1990, p. 8, grifo meu).

Garimpagem e Mineração: uma análise sócio-histórica... | 103


Além dos discursos de que a “pequena base populacio-
nal” e a “rarefação demográfica” eram impedimentos para certo
tipo de desenvolvimento, propagava-se um outro discurso, o da
necessidade de: “ocupar o extenso e abundante espaço”. Não se
consideravam os índios e tampouco a população não-indígena
que habitavam a região. Deixavam transparecer um discurso ei-
vado de preconceito em relação à capacidade “cultural-tecnoló-
gica” destas populações.
Quanto à política de integração por meio dos Projetos de
Colonização em Roraima, como visto no capítulo anterior, a sua
implantação aconteceu mais tardiamente do que em outros es-
tados e, consequentemente, os seus reflexos também. Aos proje-
tos de colonização do Governo Federal vieram somar-se os pro-
jetos de colonização e assentamento do governo estadual. Tais
projetos se propunham a absorver os migrantes que acorreram
a Roraima pela facilidade de aquisição de terra e pelos garim-
pos que se constituíam, na verdade, no grande atrativo para este
fluxo migratório. A atividade de mineração em Roraima funcio-
nava como um atrativo contribuindo, assim, para a diminuição
do “vazio demográfico”. Neste sentido, o garimpo obteve mais
sucesso do que as estratégias governamentais anteriores, princi-
palmente na década de 1980.
Ao lado do mito do “vazio demográfico”, outros mitos se-
dimentavam-se, tais como os mitos de “terra abundante” e, por
conseguinte, o mito da “terra de oportunidades”, da possibilida-
de do “enriquecimento fácil”.
Em um primeiro momento, as áreas de fronteiras se confi-
guram como espaços de ascensão e mobilidade social. A fronteira
é o espaço por excelência de construção de uma nova realidade,
de uma nova maneira de viver. Portanto, a Amazônia viveu e ain-
da vive fases deste processo de expansão da fronteira. A primeira
fase ocorreu na década de 1940, quando a fronteira se configu-
rava como elemento do processo de acumulação primitiva por
meio do crescimento do setor agrícola, com baixos investimentos
e mão de obra a baixo custo (BECKER, 1982, p. 128).
A segunda fase iniciou-se a partir da década de 1960 e
1970, quando a fronteira amazônica tornou-se fronteira de in-
vestimentos para a grande empresa, inclusive internacional. A

104 | Francilene dos Santos Rodrigues


fase de investimento acarretou a valorização da terra e a inten-
sificação da mobilidade regional, entre outras coisas. Todavia,
para muitos, a fronteira não mais configurava-se como “terra de
oportunidade”. Trata-se, especificamente de uma terra de opor-
tunidade para quem dispõe de capital ou tem acesso facilitado a
ele. É nesta perspectiva que Roraima configura-se ainda como
novo “locus” de expansão da fronteira.

3.4 O PERIGO MORA AO LADO? A INTERNACIONALIZA-


ÇÃO DE RORAIMA E OS ÍNDIOS

As tentativas de inserção da Amazônia na economia mun-


dial fazem parte do processo de “internacionalização” da econo-
mia por meio da apropriação e exploração de seus recursos natu-
rais por outros países e remonta à ocupação e colonização, ainda
no século XVI28.
No entanto, a aceleração do processo de “internacionali-
zação” da Amazônia está diretamente relacionada ao movimento
de globalização29 do capitalismo, principalmente, a partir da II
Guerra Mundial. Este processo de globalização conduziu a uma
nova divisão internacional do trabalho que requereu uma redefi-
nição da participação dos países periféricos enquanto fornecedo-
res de matéria-prima e de recursos naturais considerados estra-
tégicos, como os minerais.
A estratégia para inserir os países latino-americanos na
nova Divisão Internacional do Trabalho iniciou-se ainda na
década de 1940, com a instalação de siderurgias modernas no
28 A concepção de internacionalização decorre da compreensão do processo
de mundialização da economia. O processo de internacionalização ou mundia-
lização da economia teve início no século XVI, com a ampliação do comércio
através da expansão marítima e foi consolidada no século XIX.
29 O processo de globalização da economia pode ser entendido como o estágio
atual do sistema capitalista que sempre foi um sistema mundial (AMIN, 1980
In: SANTOS, 1994). O processo de globalização está associado à evolução das
forças produtivas, principalmente, a partir da II Grande Guerra Mundial, carac-
terizada por uma revolução técnico-científico. Este processo se acentua a partir
da década de 1970, com o surgimento da revolução industrial, comandada pela
ciência e suas descobertas nos ramos da informática com aplicações nos mais
diversos setores, das comunicações, dos transportes entre outros (SANTOS,
1993).

Garimpagem e Mineração: uma análise sócio-histórica... | 105


Brasil, Chile e Colômbia com financiamento norte-americano.
Na Amazônia, o reflexo deste novo contexto foi a concessão, em
1947, das jazidas de manganês do Amapá à Bethlem Steel Co-U-
SA através da sócia majoritária, Indústria e Comércio de Miné-
rios S/A (ICOMI), até o ano de 2003 (OLIVEIRA, 1991, p. 16).
Os governos brasileiros e, principalmente, os governos
militares favoreceram e até facilitaram este processo de interna-
cionalização. Além dos projetos de desenvolvimento diretamen-
te voltados para a formação de infraestrutura básica para o capi-
tal internacional, fechavam-se os olhos para as falcatruas e para a
corrupção endossadas por um Regime Ditatorial. Um dos casos
de maior repercussão desta “internacionalização permitida” re-
sultou, em 1968, na instauração de uma Comissão Parlamentar
de Inquérito (CPI) para investigar a ação de grandes grupos in-
ternacionais na compra de terras da Amazônia brasileira.
Dentre os diversos casos apontados, no relatório final figu-
rava o caso dos norte-americanos Stanley Amos Selig e Ben Selig,
que ficou conhecido como o “caso Selig”. Os dois americanos por
meio de vários “testas-de-ferro” adquiriram mais de 20 milhões
de hectares de terras para fins especulativos, inclusive em Rorai-
ma, onde foram comprados 232.914ha em nome de James Bryan
Choate. James Wilmer Crews (rio Tacutu) e João Inácio também
compraram terras para os “Seligs”, embora o relatório não tenha
precisado a quantidade total das áreas em questão (OLIVEIRA,
1991, p. 42).
Em Roraima, o discurso e a preocupação com “o proces-
so de internacionalização” ganharam força na década de 1980,
principalmente após a descoberta e exploração de ouro em áreas
indígenas por garimpeiros e o crescimento de pressões, tanto na-
cional quanto internacional, para a demarcação das áreas indíge-
nas e expulsão dos garimpeiros.
O discurso de “internacionalização de Roraima” foi apro-
priado de forma contundente pelos vários atores sociais como
forma estratégica na defesa de seus interesses. A concepção de
internacionalização não assumiu, em Roraima, o entendimento
deste processo a partir do predomínio do capital internacional,

106 | Francilene dos Santos Rodrigues


mas sim, no sentido de uma concepção conspiratória. Há, em
quase todos os discursos uma conotação de defesa da soberania
nacional e do temor de uma apropriação das “riquezas nacio-
nais” por “estrangeiros inescrupulosos” ou “falsos missionários”,
em que os brasileiros natos estariam excluídos do usufruto de
suas riquezas.
Em 1985, Eloísa Machado, esposa do líder empresário de
garimpos José Altino Machado, ao defender a invasão da Serra
do Surucucus pelo seu esposo dizia que:

[...] não somos irresponsáveis. Se os es-


trangeiros vão lá e tiram tudo o que que-
rem, porque nós, brasileiros, não podemos
fazer o mesmo? [...] Não estamos espa-
lhando guerra, mas brigamos pelo nosso
solo [grifo meu] (A CRITICA, 16/02/85).

Em pronunciamento na sessão da Câmara de 22 de abril


de 1986, o então Deputado Federal Alcides Lima lançava um
alerta à Nação:

[...] sobre as ações desenvolvidas em nossa


região, por grupos e instituições nacionais
e estrangeiras, envolvendo os interesses das
comunidades indígenas. É inadmissível
que entidades sediadas nos Estados Uni-
dos e em países da Europa venham exercer
ingerência em nossos assuntos sob o falso
pretexto da primazia na defesa dos índios
e, inclusive, apresentando dados distorci-
dos, manipulados e até mesmo inventados
em seus laboratórios de atuação política.
Na verdade, a falta de uma política oficial
bem definida para a questão do índio no
Brasil propiciou o ingresso em nossas
fronteiras dessas instituições estrangei-
ras, cuja estratégia visa à internacionali-
zação da Amazônia (CÂMARA DOS DE-
PUTADOS, 1986, p. 31, grifo meu).

Garimpagem e Mineração: uma análise sócio-histórica... | 107


A campanha contra as igrejas e missões religiosas ini-
ciou-se, principalmente, a partir do início da década de 1980,
à medida que esses atores assumiam a defesa das comunidades
indígenas, pressionavam e exigiam a demarcação das áreas indí-
genas. Posicionavam-se também contrários à mineração nestas
áreas, conforme preconizava o Estatuto do Índio. Em Roraima,
essa campanha radicalizou-se com a expulsão de missionários da
Igreja Católica, em 24 de agosto de 1987, que atuavam na Missão
Catrimani, junto aos Yanomami. A retirada dos missionários foi
autorizada pelo superintendente da FUNAI, depois governador
nomeado e, atualmente, senador por Roraima, Romero Jucá,
após denúncias destes mesmos missionários dos conflitos que
resultaram no assassinato de quatro Yanomami e na morte de
um garimpeiro (CONSELHO, 1988, p. 15).
Essa perspectiva de um movimento conspiratório perma-
nece forte e ainda é utilizada de forma contundente nos discursos
e nas ações dos vários atores sociais. O Deputado Avenir Rosas
do PDC/RR solicitou a instauração de uma nova CPI sobre a In-
ternacionalização da Amazônia 23 anos depois da primeira. Em
seu requerimento ao Presidente da Câmara dos Deputados, o re-
ferido político justificava sua solicitação no sentido de:

[...] verificar a existência de aeroportos


particulares clandestinos, construídos a
mando de forasteiros que se dizem missio-
nários e religiosos e que proíbem a respec-
tiva utilização pelos brasileiros, bem como
a ação das ditas missões, religiosas, que
ocupam áreas brasileiras, junto às comuni-
dades indígenas, provocando a internacio-
nalização da Amazônia (CÂMARA DOS
DEPUTADOS,12/03/1991).

Em editorial do dia 13/11/1991, o Jornal “O Diário de Ro-


raima”, de propriedade do Governador Ottomar Pinto, reprodu-
ziu a mesma preocupação em relação à possibilidade de invasão
por estrangeiros dos territórios demarcados no Brasil e na Vene-
zuela para os Yanomami:

108 | Francilene dos Santos Rodrigues


Sabe-se [...], existir uma preocupação
grande com a demarcação das terras da
área [Yanomami], exatamente em razão
da Venezuela se ligar ao pretendido terri-
tório dos ianomamis [sic], sendo, assim,
uma brecha muito grande para o sistema
de segurança brasileira. Como os nacionais
vão e vêm percorrendo a área, nada impe-
diria [que] o mesmo viesse a ocorrer com
os estrangeiros, já aí, observada duas ques-
tões: a invasão propriamente dita, mesmo
em caráter pacífico e o saque às riquezas
naturais existentes. O problema envolve,
assim, dois aspectos distintos: a soberania
nacional e a defesa das riquezas nacionais.
[...] Quem não estiver agindo ou atuando
emocionalmente, certamente pressiona-
dos pelos diversos movimentos em favor
do índio, há de estudar essa proposta den-
tro da realidade brasileira, isto é, o Bra-
sil não pode se expor, não deve se abrir,
deixando um flanco à mercê de ações
deletérias de estrangeiros inescrupulo-
sos (DIÁRIO DE RORAIMA, 13/11/1991,
grifo meu).

A visão desses atores sociais sobre a atuação das missões


religiosas, da Igreja Católica ou de quaisquer organizações não-
governamentais, que lutam pela preservação de determinados
recursos naturais ou pelos direitos territoriais indígenas, é a de
ameaça à soberania nacional. Aliás, tal discurso também está pre-
sente nos planos do Governo Federal, entre eles, o Calha Norte,
implementado durante o governo Sarney.
O temor da “internacionalização” de Roraima resultou na
formação de um movimento formado basicamente por empresá-
rios, pecuaristas e fazendeiros ligados à União Democrática Ru-
ralista (UDR), parlamentares e garimpeiros (USAGAL), denomi-
nado de movimento “Pela não Internacionalização de Roraima”.
Em dezembro de 1990 e janeiro de 1991 o movimento realizou
passeatas em Boa Vista, atacando e protestando contra a FUNAI
Garimpagem e Mineração: uma análise sócio-histórica... | 109
e a Diocese de Roraima por “[...] pretenderem transformar o es-
tado de Roraima numa reserva contínua de terras essencialmente
indígenas” (FOLHA DE BOA VISTA, 24/01/1991).
No entanto, a internacionalização de Roraima está se
dando, principalmente, a partir de 1984, via acesso ao subsolo
pelas grandes empresas internacionais de mineração, tais como
a BRGM – Bureau de Recherches Géologiques et Miniéres, em-
presa de capital francês, que solicitou permissão para pesquisa
por meio da sua subsidiária Mineração Itajú. A Anglo Ameri-
can Corporation of South África Ltd é associada a outros grupos
de mineração internacional, como a BRGM, e nacional, como a
Bonzano Simonsen. Em Roraima, está representada pelas Mine-
ração Itanhaém Ltda., Mineração Vale do São João S.A. a Brascan
(Canadense) e British Petroleum (Reino Unido) As associações
estão representadas em Roraima, pela Matapu Mineração Ltda.,
Mearin Sociedade de Mineração Ltda., Iguape Sociedade de Mi-
neração Agropecuária Ltda. Há ainda a RTZ- Rio Tinto Zinc
Corp (Reino Unido), representada em Roraima pela Empresa de
Mineração Galesa Ltda.

3.5 PROJETO CALHA NORTE: MINERAÇÃO E ÍNDIOS EM


RORAIMA

Em 1985, o governo de transição democrática com nova


roupagem reforça a presença militar na Amazônia por meio do
Projeto “Desenvolvimento e Segurança na Região Ao Norte das
Calhas dos Rios Solimões e Amazonas - Projeto Calha Norte”.
Após tornar-se de conhecimento público, em outubro de 1987,
e receber críticas de diversos segmentos da sociedade, o General
Bayma Denis, Secretário Geral do Conselho de Segurança Na-
cional e Ministro Chefe da Casa Militar da Presidência da Re-
pública, fez a defesa do projeto afirmando que sua elaboração se
baseou na precariedade de ocupação do Brasil na fronteira e da
necessidade de resolução dos problemas de segurança dos limi-
tes, do contrabando, do narcotráfico e da proximidade de área
com a guerrilha (OLIVEIRA, 1990, p. 17).

110 | Francilene dos Santos Rodrigues


Dentre os objetivos do PCN, encontram-se quatro ques-
tões que foram destacadas como prioritárias:

a) aumento da presença militar na fronteira;


b) ampliação das relações bilaterais;
c) demarcação das fronteiras;
d) política indigenista apropriada à região.

Oliveira (1990) analisa o Projeto Calha Norte, ressaltando


suas especificidades e diferenças em relação aos outros projetos
para a Amazônia. Entre as especificidades estão: primeiro, o ca-
ráter sigiloso do projeto; segundo, a ausência de um foro definido
para as tomadas de decisão - isto diz respeito à dificuldade na in-
terlocução entre planejadores/executores e populações afetadas
com as medidas do Calha Norte - ; e, terceiro, o fato de ser um
projeto de impacto, ou seja, a maior concentração dos investi-
mentos dar-se-iam na fase inicial (OLIVEIRA, 1990, p. 18-19).
Vainer (1990), embora concebendo que o PCN sinaliza
uma “nova morfologia de intervenção” territorial do Estado, se-
gue uma outra linha de análise. Para ele, esta nova morfologia
não é específica do PCN e está presente “no conjunto de planos
e projetos, concepções e estratégias que configuram, hoje, e já
há algum tempo, os padrões de organização, gestão e controle
de território” (VAINER, 1990, p. 44). Ambos autores convergem
para a afirmação do PCN como um projeto de controle “essen-
cialmente militar”.
Uma questão que merece destaque no PCN é a análise
das alternativas apresentadas para os problemas econômicos da
região. Estas propostas estavam embasadas em avaliações ante-
riores em que se evidenciava uma postura preconceituosa em
relação às populações amazônicas (índios, ribeirinhos) e aos
migrantes nordestinos, vistas como populações “de baixo ní-
vel”. Outra concepção presente nestas avaliações era o de “va-
zio demográfico” ratificando, de certa forma, a exclusão destas
populações de quaisquer projetos para a região. Os planejadores
do PCN consideravam inviável um desenvolvimento baseado na

Garimpagem e Mineração: uma análise sócio-histórica... | 111


agricultura. Ao mesmo tempo em que se contrapunham às ati-
vidades primárias como rudimentares, os planejadores do PCN
indicavam o potencial mineral da região, mas pontuando como
um dos fatores limitativos à localização das reservas indígenas.
Fica evidenciada, assim, a continuidade da vinculação entre mi-
litares e a prospecção mineral tal como nos projetos anteriores,
sendo que o grande obstáculo a ser superado seria a conciliação
entre exploração mineral e interesses indígenas:

[...] as pesquisas geológicas, realizadas pelo


Projeto RADAM, confirmam a existência
de consideráveis reservas minerais em di-
versas áreas da região em estudo. Mas, o
grande problema da exploração mineral
[principalmente] no Território de Rorai-
ma, bem como em outras áreas na Calha
dos rios Solimões e Amazonas, reside no
fato das regiões cadastradas como mais
ricas em jazimentos minerais situarem-se
em áreas indígenas, ou presumidamente
indígenas, ressaltando-se a região habita-
da pelos índios Yanomami (BRASIL, 1985
apud OLIVEIRA, 1990, p. 25).

Principalmente por essa problemática, o PCN se propôs a


elaborar uma nova política indigenista capaz de facultar o empe-
cilho à exploração mineral em áreas indígenas.

3.5.1 A Política indigenista no PCN e suas consequências para


Roraima

A prioridade das questões indígenas seria dada ao ex-Ter-


ritório e atual estado de Roraima e se refletiu na distribuição dos
recursos entre as áreas delimitadas no PCN em que Roraima re-
cebeu quase 50% de todos os recursos da FUNAI e, somente no
primeiro ano de execução do Projeto, recebeu 56,5% deste total.
Para Oliveira (1992, FALTA PG), a “[...] nova política indigenista
preconizada pelo PCN era na verdade uma nova postura quan-
to à delimitação das terras indígenas e ao uso dos seus recursos
naturais”.

112 | Francilene dos Santos Rodrigues


Nesse sentido, o governo criou todas as condições para
viabilizar a legalização da atividade de mineração em áreas in-
dígenas. O processo iniciou-se em novembro de 1983, com a
assinatura do Decreto nº 88.985 e a regulamentação deste de-
creto através da portaria nº 01/87 da FUNAI/DNPM, assina-
da em 18/05/1987, permitindo às empresas estatais e, em casos
excepcionais, às empresas privadas nacionais, a mineração em
terras indígenas. E, ainda, o Decreto Presidencial nº 94.945 de
23/09/1987 introduziu duas instâncias no processo de definição
das áreas indígenas: o Conselho de Segurança Nacional (CSN) e
os órgãos fundiários locais com poderes para corrigir e retificar
as delimitações consideradas “anômalas”.
A portaria 160 reduziu em 13% do total a Área Indígena
(AI) e criou dentro do Parque Yanomami duas Florestas Nacio-
nais (FLONA) e um Parque Nacional (PN), em um total de 70%
da Terra Indígena. A medida feria a Constituição Federal no seu
dispositivo que garantia o usufruto exclusivo aos índios sobre os
recursos naturais de suas terras (ALBERT, 1992, p. 42).
Em 1987, o território Yanomami foi invadido por mais de
40.000 garimpeiros, cujos empresários e lideranças organizaram
um lobby junto ao governo federal no sentido de reformular a
Portaria 160. Em resposta, o governo editou a Portaria 250 que
excluiu, de um lado, quaisquer referências sobre a posse indíge-
na permanente da área total e restringindo sua posse às 19 áreas
reportadas na Portaria anterior; e de outro, o direito de uso eco-
nômico exclusivo dessas unidades pelos índios. Ainda, nesta por-
taria, é dada à FUNAI e ao IBAMA poderes para autorizarem ou
não o desenvolvimento de atividades econômicas não-indígenas
(ALBERT, 1992, p. 45). Sendo assim, o governo federal conse-
guiu burlar os dispositivos constitucionais que exigiam autoriza-
ção do Congresso Nacional e dos próprios índios para a decisão
de exploração dos recursos naturais nessas áreas.
A vinculação entre prospecção mineral e militares é, mais
uma vez, ratificada não só pelos decretos, exposições de moti-
vos ou relatórios, mas pelas articulações e ações do governo no
sentido de excluir qualquer obstáculo à mineração em áreas in-
dígenas. Desta forma, a questão mineral no PCN é posta como

Garimpagem e Mineração: uma análise sócio-histórica... | 113


uma estratégia fundamental no “ordenamento territorial da re-
gião fronteiriça” e intimamente ligada à integração regional sob
o prisma da Doutrina de Segurança Nacional que permeou todos
os projetos para a Amazônia, mesmo em períodos de “transição
democrática”.

3.6 A QUESTÃO DA MINERAÇÃO E OS DIVERSOS ATORES


NA LUTA PELA CONQUISTA OU GARANTIA DO TERRI-
TÓRIO

O projeto de incorporação da Amazônia ao contexto da


acumulação geral teve como primordial a “Operação Amazônia”
e, mais tarde, o II Plano Nacional de Desenvolvimento – PND.
Todos os projetos editados durante o regime militar refletiam os
objetivos de uma “modernização conservadora” em que inseria
a intensificação da exploração dos recursos naturais. Dentre es-
tes, os minerais colocavam-se como estratégicos para os países
desenvolvidos e, principalmente para os Estados Unidos (LEAL,
1986, p. 293).
A estratégia de abrir acesso aos recursos naturais da re-
gião amazônica aos grupos econômicos nacionais e internacio-
nais exigiu a implementação de algumas medidas. Entre elas es-
tavam o novo Código de Mineração, criado em 1967; a criação
da Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais – CPRM em
1969; o Projeto RADAM, em 1970. Para concluir o círculo estra-
tégico, em 1975, o Governo lançou o II PND que, entre outras
medidas, criava os polos de desenvolvimento agropecuários e
agrominerais, priorizando 15 áreas na região da Amazônia Legal.
O Programa de Pólos Agropecuários e Agrominerais da Ama-
zônia (POLAMAZÔNIA) tinha a finalidade de “[...] promover
o aproveitamento integrado das potencialidades agropecuárias,
agro-industriais, florestais em áreas prioritárias da Amazônia”
(Decreto nº 76.607 25/09/74).

114 | Francilene dos Santos Rodrigues


O POLAMAZÔNIA-Roraima restringiu-se a algum in-
centivo para a pecuária, conforme ressaltado no capítulo ante-
rior. Para a mineração, resultou apenas a diretriz de realizar estu-
dos nas áreas de ocorrências detectadas pelo RADAM (MINTER,
1976, p. 113). O POLAMAZÔNIA-Roraima foi apenas um pro-
jeto, que, na prática, refletiu a pouca importância de Roraima no
contexto da Amazônia e, consequentemente, do Brasil.

3.6.1 A questão da mineração em Roraima

A questão mineral em Roraima traduz-se em “questão ga-


rimpeira”, ou seja, em garimpos em áreas indígenas, em conflitos
com os países limítrofes e num acelerado processo de crescimen-
to do contingente populacional.
Desde a divulgação do Projeto RADAM-Brasil, em 1975,
revelando a existência de minerais estratégicos em áreas Yano-
mami, os garimpeiros tentaram explorar esta área. Ainda em
1975, durante oito meses, os garimpeiros exerceram intensiva-
mente a atividade de mineração para a extração de cassiterita.
Depois, foram retirados da área pela Polícia Federal.
Novamente, em fevereiro de 1985, um grupo de mais de
400 garimpeiros, liderados por José Altino Machado, invadiu a
Serra do Surucucus, localizada em área indígena Yanomami. Este
movimento foi denominado de “Operação Surucucu” e contou
com o apoio de fazendeiros e políticos da região,30 além de ter sido
financiada por “donos de garimpos” do rio Tapajós31. O objetivo

30 O então deputado Mozarildo Cavalcanti denunciou o envolvimento do ex-


governador Ottomar de Souza Pinto e da vereadora Lourdes Pinheiro, cuja pro-
priedade na região de Mucajaí serviu de base à “operação”(Jornal do Comércio,
Manaus,16/02/86\5). O CIMI publicou nota denunciando o envolvimento do
Deputado Federal João Batista Fagundes e do Diretor presidente da Gold Ama-
zon, empresa de mineração ligada ao grupo Paranapanema, Tomé Mestrinho
irmão do ex-governador do Amazonas, Gilberto Mestrinho.
31 Em seminário organizado pela Associação Comercial de Roraima para de-
bater o tema “A problemática da exploração mineral em Roraima,” como convi-
dado especial o Sr. José Altino Machado entre outras coisas diz que “[...] a[sic]
caixa da ‘Operação Surucucu’ é forte e pode chegar a Cr$ 1 bilhão de Cruzeiros
mensais, sendo mantido por garimpeiros de oito garimpos do rio Tapajós (O

Garimpagem e Mineração: uma análise sócio-histórica... | 115


central da “Operação” era criar um “grande problema social para
que o próximo Presidente da República, Tancredo Neves, não
[tivesse] condições de retirar os garimpeiros”, numa tentativa de
imitar o ocorrido em Serra Pelada (A CRÍTICA, 13/02/1985).
Apesar da prisão do líder “Zé Altino” e da apreensão dos
aviões e equipamentos, o movimento não parou e a invasão à
área intensificou-se, em 1987. Nesta data, os garimpeiros já so-
mavam 25.00032. Em meio às operações de retiradas de garim-
peiros da área Yanomami por policiais federais e às denúncias de
conflitos entre índios e garimpeiros, o Governador de Roraima,
Romero Jucá, apresentou o “Projeto Meridiano 62” que chegou
a ser aprovado pelo Ministério de Minas e Energia. A finalidade
doste projeto consistia, dentre outros, em

[...] preparar as condições básicas estrutu-


rais à consecução dessa meta de governo [o
de criação de um pólo minero-metalúrgico
basicamente orientado ao mercado exter-
no], (RORAIMA, 1989, p. 9).

O projeto propunha a transferência para o governo esta-


dual de todos os títulos de Requerimentos e Alvarás de Pesquisa,
bem como o bloqueio da área para novos pedidos de requeri-
mentos (RORAIMA, 1989, p. 11).
Esse projeto tornava evidente a defesa e prioridade do go-
verno do estado à grande mineração. Como forma de “conduzir
o desenvolvimento harmônico da região,” o Governo propunha,
no “Projeto Meridiano 62”, a criação de reservas garimpeiras em
áreas de maior concentração de garimpeiros, permitindo a ati-
vidade por dois anos. A atividade garimpeira marcaria “[...] sua
prioridade na Floresta Nacional de Roraima, naquelas áreas onde
atualmente se desenvolve[sic]” (RORAIMA, 1989, p. 11). Após o
prazo, a grande mineração assumiria a atividade de exploração
mineral.
RORAIMA, Boa Vista, 21/04/1985).
32 As informações sobre a quantidade de garimpeiros na área variam: Para a
Funai e a Igreja eram 25.000 em 1987; 30.000 em 1988; e, segundo o DNPM
40.000 em 1989.

116 | Francilene dos Santos Rodrigues


Tal medida foi ovacionada por quase todos os interessados
na mineração. Desde as grandes mineradoras, comerciantes, em-
presários, até os garimpeiros que aclamaram em praça pública o
governador Romero Jucá como o “ salvador dos garimpeiros”33.
Assim, o governador de Roraima conseguiria atender, de uma só
vez, aos interesses das mineradoras e dos garimpeiros à medida
que criava as reservas garimpeiras de Santa Rosa, Tepequém, Su-
rucucu e Catrimani/Couto de Magalhães dentro do Parque Indí-
gena Yanomami (FIGURA 12).
No entanto, as fortes pressões de organismos e governos
internacionais fizeram com que o Governo Federal não chegasse
a aprovar o Projeto. Em 1996, o ex-governador e atual senador
Romero Jucá apresentou ao Congresso Nacional um projeto de
Lei regularizando a atividade mineral em áreas indígenas, projeto
que foi aprovado pelo Senado Federal. Neste projeto, a grande
empresa de mineração era a única com permissão para exercer
esta atividade.

3.6.2 Os diversos atores sociais e a mineração em Roraima

Os atores sociais tratados aqui referem-se a todos aque-


les que têm as atividades de mineração como o centro dos seus
interesses ou que se relacionam econômica ou politicamente
com os grupos de interesse diretamente vinculados à atividade
de mineração. Os atores sociais considerados importantes são os
representantes das sociedades organizadas em que se incluem as
organizações indígenas e de Apoio: Associação dos Povos Indí-
genas de Roraima (APIR), Organização dos Professores Indíge-
nas de Roraima (OPIR), Conselho Indígena de Roraima (CIR);
Entidades Organizativas dos Garimpeiros (USAGAL); Entida-
des Representativas do empresariado; grupos políticos, Igrejas e
Missões religiosas; Empresas mineradoras e comerciais e, outros
Organismos não-governamentais.

33 O fato ocorreu numa manifestação pública no centro de Boa Vista, onde


os garimpeiros espalhavam faixas e cartazes com esse slogan e outras frases de
apoio ao governador.

Garimpagem e Mineração: uma análise sócio-histórica... | 117


As Organizações Indígenas e Organizações de Apoio às
causas indígenas – Na questão da mineração em Roraima, as po-
pulações indígenas são as que mais têm sofrido os impactos desta
atividade. Este fato levou-as a se organizarem dentro dos mes-
mos parâmetros das populações não indígenas e a buscar aliados
para a defesa de seus interesses. Entre outras questões, a mais ur-
gente para os índios tem sido a demarcação das áreas indígenas.
As entidades que compõem este segmento de Organizações In-
dígenas e de Apoio são: a) O conselho Indígena de Roraima (CIR)
– surgida em 1985, conta com apoio de 70 comunidades entre os
índios Macuxi, Taurepang, Ingaricó e Wapixana. O presidente
do CIR, em 1995, era o índio Nelino Galé. O CIR exigia a demar-
cação das suas terras e a regulamentação da Constituição. Este
segmento social e étnico representava um dos mais organizados
e contava com apoio da Igreja Católica. Eles não eram totalmente
contrários à exploração de minérios em suas áreas, mas exigiam a
regulamentação da atividade de mineração. Havia algumas etnias
envolvidas na atividade garimpagem; b) Associação dos Povos In-
dígenas de Roraima (APIR) – criada em 1987, a partir de uma
dissidência do CIR, o presidente à época da pesquisa era Alfredo
Silva; c) Associação Regional Indígena do Quinô, Cotingo e Mon-
te Roraima (ARICON) – o presidente desta entidade era o índio
Gilberto Macuxi, defendia a demarcação das áreas indígenas em
forma de ilha. Esta entidade foi favorável à construção da hidrelé-
trica do rio Cotingo; d) Organização dos Professores Indígenas de
Roraima (OPIR) – congregou todos os professores índios ou não
que atuavam em áreas indígenas, defendiam a educação bilíngue
e um currículo próprio e requisitavam a nomeação de índios para
a direção do Núcleo de Educação Indígena (NEI) da Secretaria de
Educação do estado.
Entidades organizativas dos Garimpeiros – Existia o Sin-
dicato dos Garimpeiros de Roraima – SINDIGAR e a Cooperativa
de Garimpeiros Roraima – COOGAR. Defendiam a continuidade
da atividade de mineração em Roraima, ao mesmo tempo em que
desenvolviam debates com os garimpeiros sobre as possibilida-
des e alternativas para a mineração. Esta entidade estava filiada

118 | Francilene dos Santos Rodrigues


à Federação da Indústria e do Comércio de Roraima (FIER). O
presidente da entidade era o garimpeiro Crisnel Francisco Ra-
malho. O Sindicato iniciou suas atividades em janeiro de 1991 e
possuía 500 sócios inscritos.
Entidades representativas do empresariado – Federa-
ção da Indústria e do Comércio (FIER), cujo presidente era o
empresário Edson Araújo; Associação Comercial e Industrial de
Roraima (ACIR), cujo presidente era o empresário Dorval de
Magalhães; Federação do Comércio (FECOR), o presidente era o
ex-vice-governador e empresário Aírton Dias. Todas estas enti-
dades defendiam a liberação da garimpagem em áreas indígenas.
Grupos Políticos – Formados por parlamentares, ex-par-
lamentares, políticos e autoridades locais. Os políticos que se
destacaram por sua atuação ofensiva foram: o Senador Romero
Jucá, ex-dirigente da FUNAI (1987), ex-Governador (1988/89)
autor do “Projeto Meridiano 62 (1987)”, que propunha a criação
de reservas garimpeiras em áreas indígenas e autor de Projeto de
Lei que regulamenta os Artigos 176 e 231 da Constituição Fe-
deral; Senadora Marluce Pinto, ex-primeira dama (1983-86) re-
latora do Projeto de Lei de autoria do Senador João França que
regulamenta o Art.231 da Constituição Federal; Deputados Fe-
derais – Salomão Cruz, um dos parlamentares mais atuantes na
questão da mineração em Roraima, ex-diretor do DNPM-RR e
relator da proposta de emenda à Constituição nº 133-A de auto-
ria do Deputado Nicias Ribeiro-PA, que modifica o Art. 231 da
Constituição Federal, suprimindo a competência do Congresso
Nacional para autorizar a exploração econômica em áreas in-
dígenas e introduzindo a necessidade de audiência dos estados
no processo de demarcação das áreas indígenas; Elton Ronhelt,
ex-diretor da CODESAIMA e da Companhia de Energia de Ro-
raima(CER), proprietário da empresa Gold Amazon associada à
Paranapanema.
Igrejas e Missões religiosas – A Igreja Católica defendia
a manutenção e a demarcação em área contínua das terras indí-
genas e o cumprimento da Constituição; Missão Evangélica da
Amazônia (MEVA) atuava junto a algumas etnias e defendia a

Garimpagem e Mineração: uma análise sócio-histórica... | 119


demarcação das áreas indígenas em área não-contínua, diferen-
temente da Igreja Católica. Prestava assistência médica aos ín-
dios.
Empresas Mineradoras e Comerciais – São todas as em-
presas constituídas legalmente como tais, ou empresas constituí-
das para a comercialização do minério como as casas de compra
e venda de minérios e diamantes.
Organismos não-governamentais – Comissão para a
Criação do Parque Yanomami (CCPY); Médicos sem Fronteira;
Médicos do Mundo.
Há, entre os diversos atores sociais apresentados, uma di-
versidade de interesses, porém, há aqueles cujos interesses são
conflitivos, mas unidos em favor de determinadas causas que in-
cluem, geralmente, a defesa ou conquista de territórios. A escala
de atuação de cada ator social é variada. Há atores como a Orga-
nização dos Professores Indígenas de Roraima - OPIR de atua-
ção localizada, mais restrita. Há atores como os Grupos Políticos,
Entidades Organizativas dos Garimpeiros e do empresariado em
geral que articulam o local/estadual com o regional e o nacional.
Mas há outros, como os Organismos não-governamentais e igre-
jas que são bem-sucedidas em articularem o local diretamente
com o internacional.
Os atores sociais que defendem a mineração em Roraima
articulam-se em nível de Congresso Nacional e com poder fe-
deral para modificação da legislação federal, principalmente, em
relação à questão da demarcação das áreas indígenas e da explo-
ração da atividade de mineração nestas áreas.
Os governos municipais, estadual e federal são pressiona-
dos pelos diversos agentes sociais, podendo encampar interesses
diversos, dependendo das correlações de forças na escala de suas
atuações. Os governos municipais e estaduais tendem a ser cap-
turados pelos agentes sociais mais poderosos, exercendo gestões
não democráticas nos seus domínios. Todavia, face à dependên-
cia ainda expressiva da União, estes governos tornam-se sub-
jugados às decisões dos atores sociais e políticos federais. Estes
últimos, por sua vez, sofrem pressões tanto de atores locais, esta-

120 | Francilene dos Santos Rodrigues


duais e regionais quanto de atores políticos e financeiros exter-
nos ao país. Isto explica, por exemplo, suas ações contraditórias
com a desterritorialização de um mesmo grupo social. Este fato
pode ser ilustrado pelas inúmeras ações contraditórias do Exérci-
to, da Polícia Federal, da FUNAI e do Ministério da Justiça, para
citar alguns, nos conflitos entre índios, garimpeiros, fazendeiros
e empresários.
Quanto à demarcação das áreas indígenas, não há um con-
senso entre os representantes indígenas e seus defensores. Há
um grupo, majoritário, que defende a demarcação das áreas in-
dígenas de forma contínua: CIR e OPIR. Estes grupos recebem o
apoio da Igreja Católica e organizações não-governamentais. Há
outro grupo que defende a demarcação das áreas indígenas em
forma de “ilhas”, como a ARICON, e recebem o apoio da Missão
Evangélica da Amazônia (MEVA) e de alguns políticos.
Os atores sociais que advogam a favor da demarcação das
áreas indígenas defendem a territorialização dos índios, mas nem
todos são contrários à exploração mineral em áreas indígenas.
Advogam também o direito de decisão dos povos indígenas so-
bre a forma de utilização e exploração dos recursos minerais. Este
grupo de atores sociais articula-se predominantemente com gru-
pos de pressão externos ao país e ao estado.
Essa problemática da mineração tem sido o pano de fundo
do desencadeamento dos conflitos em Roraima, principalmente,
desde os anos 1980. Tais conflitos refletem a luta pelo espaço, en-
volvendo habitantes locais e migrantes (agricultores, garimpei-
ros, fazendeiros e mesmo empresários). Dentre os empresários,
estão os que residem no estado ou em outras áreas da Amazô-
nia e empresários extrarregionais. Assim, a compreensão destes
conflitos implica na análise da sociedade local e da totalidade
amazônica, realidade que apresenta Roraima como um estado
de fronteiras “[...] como um espaço não plenamente estruturado,
gerador de realidades novas e dotado de elevado potencial políti-
co” (BECKER, 1988, p. 67). O novo potencial político ,configura-
se um estado que tem sua especificidade nas múltiplas fronteiras
geográficas, demográficas, econômicas e, ainda, fronteiras e ét-
nias étnica.
Garimpagem e Mineração: uma análise sócio-histórica... | 121
Além disso, possui uma cultura de colonização centrada
na atividade de pecuária e uma relação histórica e econômica
muito forte com a atividade de garimpagem. A garimpagem dei-
xou marcas culturais não desprezíveis no estado. Pode-se falar de
uma cultura garimpeira relevante na sociedade roraimense, as-
sim como em outras áreas da Amazônia, como Tapajós e sudeste
do Pará, nas vizinhanças de Serra Pelada. Tudo isto traduz hoje a
realidade do estado de Roraima que só poderá ser compreendida
a partir de uma análise da atividade de mineração enquanto um
fenômeno social, que se manifesta nos embates e na correlação
de força dos diversos grupos sociais para garantir ou conquistar o
“lugar”. Esta concepção da mineração enquanto fenômeno social
constitui a chave para explicar o significado político dos conflitos
sociais e, consequentemente, a realidade roraimense.

122 | Francilene dos Santos Rodrigues


CAPÍTULO IV

RORAIMA VISTA A PARTIR DA ANÁLISE DA


ATIVIDADE DE GARIMPAGEM

A discussão sobre a viabilidade econômica de Roraima


reflete a necessidade do governo em criar as condições necessá-
rias para sua autonomia financeira. Neste sentido, a mineração
é apresentada como alternativa de desenvolvimento, ao mesmo
tempo em que é o elemento central para o entendimento da rea-
lidade em Roraima.
A garimpagem foi e ainda é uma atividade importante
para Roraima. A importância desta atividade está relacionada
ao seu papel na formação econômica, social e política do estado
desde o início do século XX. Foram três períodos da atividade de
garimpagem: o primeiro iniciou-se em 1912 até 1965; o segun-
do iniciou-se em 1966 até 1979; o terceiro período iniciou-se em
1980 e, pode-se dizer, continua até hoje.
É bem possível que ocorra um quarto período na histó-
ria da mineração, tendo em vista que Roraima possui um grande
potencial para pedras e metais preciosos (ouro e diamantes). A
garimpagem foi responsável pela capitalização de algumas ati-
vidades, principalmente a agricultura e a pecuária. Os momen-
tos posteriores ao auge da produção mineral demonstraram que
houve um aumento das outras atividades, que se apresentam
como alternativas àqueles trabalhadores que vivem ou desejam
viver em Roraima.
Nesse sentido, a pecuária e a agricultura, enquanto base
da economia roraimense sofreram os impactos da garimpagem,
tanto no sentido de acolhimento de mão de obra e capital, quanto
no sentido inverso, ou seja, transferindo capital a tais atividades.
A importância da garimpagem para Roraima também estaáas-
sociada à organização espacial expressa na criação de pequenos
núcleos populacionais que deram origem hoje a municípios, tais
como Bonfim e Uiramutã.

Garimpagem e Mineração: uma análise sócio-histórica... | 123


Sendo assim, a atividade de mineração é a chave central
que poderá abrir as portas para o entendimento e a compreensão
da realidade roraimense.

4.1 GARIMPAGEM: UM FENÔMENO SOCIAL

Todas as atividades extrativas minerais, de um jeito ou de


outro, significam a transformação da paisagem na sua forma an-
terior à mineração. A atividade de garimpagem, seja de sequio
(rochas e solos), seja de rios, é uma atividade que transforma a
natureza. Esta transformação dá-se, principalmente, à medida
que a atividade provoca a remoção do solo e do leito dos rios,
o assoreamento e a contaminação dos rios com mercúrio, pro-
vocando a morte da vida aquática. Mormente desenvolve-se em
lugares insalubres, causando doenças à população envolvida na
atividade.
A atividade de garimpagem é também uma atividade que
propicia a ocupação, inicialmente de forma temporária, de um
lugar por grupos de migrantes que estão, em geral, à procura de
melhoria das condições de vida e veem nesta atividade uma al-
ternativa. A atividade de garimpagem é exercida, predominan-
temente, por homens com uma organização do trabalho e uma
base de apoio a estas atividades, tanto em nível de proximidade
geográfica, como as currutelas, quanto em nível mais distante
geograficamente, como as cidades maiores. Neste sentido, a ga-
rimpagem é uma atividade social.
O processo de transformação do lugar, do espaço geográ-
fico, é determinado pela intensidade da atividade de exploração,
dos números de trabalhadores envolvidos e das máquinas utiliza-
das. Existe, assim, uma relação diretamente proporcional entre a
transformação do lugar e o tipo da atividade de mineração exer-
cida pela pequena, média ou grande mineração (GUENETTE,
1996).
A atividade de mineração é tratada aqui como sinônimo de
atividade de garimpagem, tendo em vista que esta é a única for-
ma existente em Roraima. A mineração desenvolvida em Rorai-

124 | Francilene dos Santos Rodrigues


ma é classificada como atividade de pequena e média mineração
porque envolve, no máximo, 20 pessoas por unidade produtiva.
É necessário dizer que a pequena mineração pode estar contida
na média mineração, a partir do momento que um único centro
de administração divide ou organiza em várias outras pequenas
unidades produtivas.
A atividade de mineração possui uma forma de inserção
na sociedade civil, uma existência formal e informal, ou seja, é
uma atividade que está em respeito às considerações institucio-
nais, podendo constituir-se em relação a sua existência jurídica,
ou seja, uma atividade que é legal e/ou ilegal, atividade que está
tipificada como legal ou pelo menos não está tipificada como ile-
gal na legislação do país.
Dessa forma, a atividade de mineração, conforme sua in-
serção na sociedade civil, pode ser:

1) Uma organização formal e legal, significando que está


inserida de forma predominante na economia e em respeito às
considerações legais e institucionais, portanto, uma atividade
que é ao mesmo tempo legal e formal;
2) Mineração informal e legal – a atividade de mineração
pode se constituir também em atividade informal, ou seja, à mar-
gem das considerações institucionais, principalmente das insti-
tuições econômicas, mas enquadrada juridicamente como ativi-
dade legal ou não tipificada como ilegal;
3) Informal e ilegal ao mesmo tempo;
4) Formal, mas escondendo atividades informais por den-
tro da mineração formal.

Historicamente, a atividade de mineração ou a procura


do ouro e de gemas iniciou-se nos lugares mais altos e de difícil
acesso por mestiços, aventureiros, negros alforriados, minerado-
res, enfim, todo tipo de “desclassificado social”34 (SOUZA, 1986).
34 Laura de Mello e Souza utiliza o termo “desclassificado” social para definir
aquela camada que não fazia parte da estrutura social, desempenhava trabalhos
esporádicos e ocupava a camada intermediária nos tempos coloniais. Essas pes-
soas também eram chamadas de “vadios”, o que significava todo homem des-

Garimpagem e Mineração: uma análise sócio-histórica... | 125


Salomão (1984) apontou o dia da assinatura do Decreto Real de
expropriação das minas do Tijuco, em 1731, como sendo o mar-
co histórico que originou a figura do garimpeiro. O garimpeiro
diferenciava-se do minerador não pelo modo de extração do bem
material, visto que ambos eram manuais e detinham pouca técni-
ca, mas pela condição de ilegalidade.
O Garimpeiro era definido como aquela pessoa “que an-
da[va] à cata de metais e pedras preciosas, contrabandista que
catava furtivamente diamantes nos distritos onde era proibida a
entrada de pessoas estranhas ao serviço legal da mineração (FER-
REIRA, 1993, p. 836).
A definição jurídica da atividade de garimpagem, confor-
me o Código de Mineração de 1967, tem suscitado discussões
por configurar-se inadequada à realidade não só recente, mas em
quase todo o momento da história da mineração brasileira. O Ar-
tigo 70 do Código de Mineração define garimpagem como:

[...] o trabalho individual de quem utiliza


instrumentos rudimentares, aparelhos
manuais ou máquinas simples e portá-
teis, na extração de pedras preciosas, se-
mi-preciosas e minerais metálicos ou não
metálicos, valiosos, em depósitos de alu-
vião, nos álveos de cursos d’agua ou nas
margens reservadas, bem como nos depó-
sitos secundários ou chapadas (grupiaras),
vertentes e altos de morros, depósitos esses
genericamente denominados garimpos
(DEPARTAMENTO NACIONAL DE
PRODUÇÃO MINERAL, 1967, p. 76, gri-
fo meu).

Desta forma, o Código de Mineração caracteriza a garim-


pagem pela forma rudimentar de mineração e pela natureza dos
depósitos trabalhados. A garimpagem é assim definida em ter-
mos de atraso técnico e como atividade individual. Pode-se dizer
que quase toda atividade de garimpagem hoje é ilegal à medida

provido de dinheiro e que não fosse escravo (SOUZA, 1986, p. 63-64).

126 | Francilene dos Santos Rodrigues


que é cada vez menos rudimentar e menos individual. Os garim-
pos, atualmente, tendem a ser, na grande maioria, mecanizados
ou semi-mecanizados e o trabalho envolve diretamente entre 8 a
20 pessoas (pequena e média mineração) no processo de extra-
ção, ou seja, é uma atividade grupal.
Mesmo no período colonial, os garimpeiros andavam
sempre em grupo sob o comando de um chefe escolhido por eles
e que assumia o título de capitão. Eram justamente as condições
de trabalho, as dificuldades e a adversidade desta atividade que os
motivavam a andar em grupo, como forma de autodefesa e para
garantir a própria sobrevivência (MELLO; SOUZA, 1986).
A definição de garimpagem enquanto atividade individual
e de forma rudimentar baseia-se na oposição com o “[...] setor
formal de mineração” (CLEARY, 1992; PORTELA, s.d.), “[...]
grande empresa organizada” (FIGUEIREDO, 1984), “[...] grande
empresa de mineração” (SALOMÃO, 1984) ou, ainda, “minera-
ção industrial” (MATHIS, 1995a). Chamaremos aqui de “grande
mineração” a atividade que é caracterizada pelo uso intensivo de
capital, tecnologia e mão de obra especializada.
A definição de um sistema mineral dicotômico teve suas
origens ainda no período colonial em que a proibição de garim-
par foi uma estratégia da Coroa Portuguesa para ceder essas áreas
aos senhores de acordo com o número de escravos, garantindo,
assim, o pagamento de impostos e taxas, e transformando, por-
tanto, a atividade em garimpagem ilegal.
Dessa forma, estabelecia-se, de um lado, a mineração for-
mal e legal, representada pelo ideal de alta capacidade produti-
va e econômica (grande mineração) e inteiro ajuste à lei (legal);
de outro, a atividade de garimpagem exercida ilegalmente e in-
formalmente por mestiços, negros, alforriados, aventureiros e
mesmo mineradores que não tiveram sucesso ou não puderam
cumprir com os extorsivos preços das datas (SALOMÃO, 1984,
p. 43).
Para Portela (mimeo s/data), a polarização entre a grande
mineração (formal e legal) e a atividade de garimpagem (infor-
mal e ilegal) retornou à cena com o aumento da exploração do

Garimpagem e Mineração: uma análise sócio-histórica... | 127


ouro, a partir de meados do século XX, com a participação ex-
pressiva dos garimpos no aumento desta produção (PORTELA,
s.d., p. 25).
Na Amazônia, a atividade de garimpagem ressurgiu com
a expansão e aprimoramento de tecnologias que contribuíram
para o aumento da produção mineral. Este aumento da produção
passou a chamar a atenção do governo à medida que se constituía
na atividade mais importante que a grande mineração. Impor-
tância, aqui, no sentido da produção e do contingente populacio-
nal envolvidos que incomodou a grande empresa de mineração
ao se ver ameaçada por estar perdendo espaços para a atividade
de garimpagem. Tal evidência reflete-se nos inúmeros conflitos
ocorridos entre mineradoras e garimpeiros, como o de Serra Pe-
lada (PA) e a CVRD; a Paranapanema em Rondônia; o garimpo
de Cumaru (PA) e Oca Mineração; garimpo do rio Madeira (RO)
e Mineração Brumadinho, entre outras.
Para Salomão (1984), a garimpagem e a grande mineração
têm se diferenciado e se identificado ao longo do tempo quanto
ao modo de produção. No início do surgimento destas ativida-
des, os métodos de produção se identificavam, ou seja, em ambas
o modo de produção era manual/artesanal. Tais métodos foram
se diferenciando em meados do século XX, quando a grande mi-
neração passou a tecnicalidade e a garimpagem permaneceu basi-
camente manual. A partir da década de 1970, ocorreu novamente
esta identificação. De um lado, a mecanização dos garimpos, cujo
processo ocorreu aceleradamente, incorporando tecnologias e
aproximando-se de métodos industriais de lavra; de outro lado, a
grande mineração caminhando em direção ao garimpo, pelo es-
tímulo à produção via lavra experimental não convenientemente
precedida de pesquisas (SALOMÃO,1984, p. 67).
Segundo Cleary (1992, p. 23), que se utiliza das categorias
setor informal de mineração, a definição da garimpagem como
atividade tecnicamente rudimentar e ineficiente é, na verdade,
utilizada como argumento por aqueles que são contrários à ga-
rimpagem. Para este autor, as limitações técnicas da garimpagem
têm mais a ver com a profundidade em que estas técnicas atual-

128 | Francilene dos Santos Rodrigues


mente podem trabalhar e com o volume de processamento, do
que propriamente com a ineficiência da tecnologia. Este conceito
de eficiência tem que ser relativizado, à medida que tecnicamen-
te as duas formas de extração atendem às necessidades de uma
determinada estrutura produtiva, cada uma com suas especifi-
cidades.
As especificidades da atividade de garimpagem determi-
nam, em primeira instância, os processos devido às suas con-
dições e necessidades, tendo em vista que estão quase sempre
localizados em áreas ínvias, de difícil acesso, sem infraestrutura
básica e de apoio. Por isto, para se contrapor aos argumentos de
ineficiência e de atraso técnico, Cleary (1992) enumera várias
vantagens da tecnologia utilizada nos garimpos, tais como o fato
de serem portáteis, de baixo custo, não necessitarem de abasteci-
mento regular de energia e de possuírem os princípios de traba-
lho facilmente assimiláveis. Todos esses fatores são condizentes
com a garimpagem desenvolvida na Amazônia (CLEARY, 1992,
p. 25).
A atividade de garimpagem enquanto atividade econômi-
ca contribui para uma análise das atividades sociais de produção,
distribuição, organização e consumo. É neste sentido que o deba-
te sobre a contraposição ou dicotomia entre a grande mineração,
principalmente sobre o seu aspecto formal e legal, e a atividade
de garimpagem, que é, na maioria das vezes, informal e ilegal,
não deveria se reduzir aos aspectos econômicos. O aspecto polí-
tico, e, principalmente, o cultural são fundamentais para o enten-
dimento da atividade como um fenômeno social.
A conclusão é que devemos, pelo menos, duvidar das con-
clusões econômicas sobre a mineração em geral e a garimpagem,
em particular. Acontece que a totalidade da produção mineral de
Roraima, como em 1988, foi resultado da atividade de garimpa-
gem informal e, às vezes, ilegal. Portanto, as atividades que estão
inseridas na economia formal também não podem ser conheci-
das com precisão e certeza, à medida em que são constantes os
casos de sonegação. A definição de uma economia formal é, de
um lado, uma descrição dentro de um jogo de conceitos elabora-

Garimpagem e Mineração: uma análise sócio-histórica... | 129


dos por burocratas; de outro, um julgamento sobre o que é devi-
do ao Estado e sobre o que deveria ser declarado.
As atividades desenvolvidas à margem da oficialidade ou
da legalidade, consideradas como realidades subterrâneas, assu-
mem um sentido puramente burocrático. As realidades ilegais e
informais são assim reduzidas às dimensões de atividades já co-
nhecidas, identificadas e condenadas. Porém as atividades consi-
deradas informais ou ilegais assumem uma dimensão e propor-
ção que não podem ser ignoradas, principalmente se comparadas
a outras atividades formais e legais, como é o caso da atividade
de garimpagem.
Há, nesse sentido, uma clara conotação de preconceito em
relação à atividade de garimpagem. Sendo uma realidade social,
o julgamento é uma decisão fundamentada sobre valores, sobre
uma cultura. As referências, a obrigatoriedade da formalização
e da legalização de determinadas atividades por meio de licen-
ciamentos para funcionamento, as declarações, os cadastros, as
taxas deixam transparecer também a possibilidade de não serem
cumpridas. Em relação à garimpagem, esta perspectiva da exis-
tência fora do aspecto formal é ainda mais evidente.
Contudo, apenas os aspectos da existência oficial ou legal
não são suficientes para entender qualquer realidade social com-
plexa, evidentemente também a de Roraima, porque a economia
não é a realidade social, embora seja o resultado de uma redução
desta realidade a algumas leituras, ou seja, a redução a apenas
alguma dimensão de tal realidade. Portanto, quando existe um
lado subterrâneo ou obscuro de uma realidade social que é ou
pode ser mais importante, economicamente falando, então os
dados estimados, resultado de estimativas oficiais não podem ser
suficientes para propiciar a apreensão da complexidade destas
realidades.
Ese é o caso da atividade de garimpagem em Roraima que,
enquanto forma predominante de mineração, é também infor-
mal e em alguns casos ilegal (garimpagem em áreas indígenas).
Por ter um caráter de informalidade não é possível obter dados
oficiais. As instituições burocráticas não são capazes de obter da-

130 | Francilene dos Santos Rodrigues


dos e nem compreender o fenômeno, porque também não são
capazes de explicar o que acontece com a existência física e moral
das pessoas (GUENETTE, 1996). Assim, é fundamental analisar
a significação social da atividade de garimpagem, não apenas pelo
lado econômico, mas principalmente pelo lado cultural, isto é,
das realidades quotidianas, dos valores e dos sonhos das pessoas.

4.1.1 Definição da garimpagem enquanto atividade social

A definição de garimpagem enquanto atividade social


contempla vários aspectos. Dentre os principais encontram-se:

1) Aspecto da atividade de transformação da natureza –


a atividade de garimpagem é um processo de transformação do
meio ambiente, da natureza, do lugar. É uma atividade que pos-
sui uma organização do trabalho (em equipe) e um processo de
produção bem definido e específico (extração, transporte e be-
neficiamento) que é determinados, em parte, pela utilização de
equipamentos (máquinas, bateia, cobra fumando, long-ton). A
produção é determinada pelo tipo de substância, tipo de lavra
que, por sua vez, determina o tipo de equipamento e a escala da
produção (pequena ou média mineração). Há um contrato de
trabalho (verbal) entre o dono dos instrumentos de trabalho e o
trabalhador e uma forma específica de remuneração (percenta-
gem e diárias).
2) Aspecto econômico – é o reconhecimento, por parte de
instituições, da atividade como formal e informal e, neste sen-
tido, a garimpagem só é percebida através dos outros setores
da economia. Há o lado da determinação destas instituições no
reconhecimento da atividade como legal/ilegal. Esta também é
uma característica cultural, à medida que o conceito é baseado
em valores.
3) Aspecto cultural – há uma representação da garimpagem
enquanto atividade que é desenvolvida nas “fronteiras” onde as
relações e práticas não estão ainda consolidadas no mesmo ní-
vel de outras realidades. É, portanto, o lugar para melhorar de

Garimpagem e Mineração: uma análise sócio-histórica... | 131


vida, realizar o sonho de riqueza por meio do mineral precioso,
da busca de autonomia para poder tornar-se patrão de si mesmo.
Há um julgamento sobre a atividade de garimpagem, julgamen-
to social fundado sobre valores sociais, ou seja, a garimpagem
é vista como atividade rudimentar, depredatória, sonegadora
de impostos, exercida por homens rudes e violentos. Há ainda
o aspecto do conhecimento. O garimpeiro é alguém que detém
um conhecimento “não formal” sobre a terra, sobre a geologia,
sobre a geografia, sobre a sobrevivência em lugares de difíceis
condições e acesso, e sobre os instrumentos de trabalho. Enfim, o
garimpeiro possui um vasto conhecimento tanto técnico quanto
existencial.
A atividade de garimpagem enquanto um fenômeno social
não pode ser percebida apenas pelo seu lado de atividade eco-
nômica ou de transformação, como já dito anteriormente. Esta
atividade é muito complexa, porque é multidimensional e só
poderá ser compreendida e servir de base para a compreensão
da realidade roraimense se for concebida como um fenômeno
social.

4.1.2 Definição de garimpeiro

As múltiplas definições ou conceituação de garimpeiro


indicam, em parte, a complexidade desta categoria. As diferen-
ciações sociais dentro do mundo dos garimpos estão associadas
às funções desempenhadas pelos indivíduos na organização do
trabalho. Sendo assim, são, em geral, considerados garimpeiros
aqueles que desenvolvem as atividades diretamente ligadas ao
processo de extração mineral, como aquele que exerce a garim-
pagem de forma manual, ou ainda, aquele que mesmo sendo o
dono dos instrumentos e dos “pares de máquinas” desenvolve es-
tas atividades na forma de produção familiar (MATHIS,1995b).
Essa definição de garimpeiro é restritiva por não levar em
consideração que ele desempenha outras atividades fora e até
mesmo dentro dos garimpos. A definição de garimpeiro é com-
plexa à medida em que a autodefinição não está centrada somente

132 | Francilene dos Santos Rodrigues


em apenas uma identidade, mas também, em várias identidades
ao mesmo tempo ou em tempos diferentes. Como exemplo, tem-
se o apontamento da complexidade desta questão em Almeida
(1993):

[...] os garimpeiros tanto se auto-definem


como os donos da cantina, trabalhadores
de barranco, trabalhadores de tração ma-
nual, quanto aqueles que metalizam ou
comercializam o ouro (SEMINÁRIO A
MINERAÇÃO E A QUESTÃO DO DE-
SENVOLVIMENTO EM RORAIMA,
1993, s.p.).

A mesma preocupação e complexidade da questão aparece


em Lúcio Flávio Pinto, em artigo publicado no Jornal Pessoal, em
janeiro de 1988:

Em Serra Pelada [...] é considerado garim-


peiro tanto o secretário geral do Sindicato,
Milton Gatti, o homem mais rico de Serra
Pelada, dono de fazendas e postos de gaso-
lina, que fornece para 160 barrancos, como
Jesus Pinheiro, o ex-assessor pessoal do
então Ministro das Minas e Energia César
Cals, que possui quatro barrancos em posi-
ção privilegiada. [...]Homens como o Gat-
ti são tratados inapropriadamente como
garimpeiros. Eles pertencem a uma casta
de não mais de 100 ‘capitalistas’, a qual se
agregam os fornecedores. Os verdadeiros
garimpeiros, no significado original da pa-
lavra, são hoje os ‘homens formigas’ (JOR-
NAL PESSOAL, 01/1988, s.p.).

Há uma sobreposição das várias identidades do sujeito en-


volvido na atividade de mineração que não são pontuadas nem
apontadas pelos autores. Melhor dizendo, é justamente o fato de
um ser humano possuir múltiplas identidades, seja ao mesmo
tempo, seja em tempos diferentes, que torna complexa a defini-
ção desta categoria (GUENETTE, 1996).
Garimpagem e Mineração: uma análise sócio-histórica... | 133
Em relação à atividade de mineração, há alguns exemplos
do processo de construção das várias identidades. Os exemplos
são extraídos a partir do trabalho de campo já realizado em Te-
pequém35. Existe o dono do par de máquinas36 – assim chamado
porque é o proprietário dos instrumentos de trabalho (das má-
quinas resumidoras, dos motores) – que já foi e ainda é trabalha-
dor do garimpo, ou seja, exerce frequentemente funções dentro
do processo de trabalho (extração, transporte e beneficiamento).
E há aqueles que se consideram garimpeiros por já terem exer-
cido atividades no processo produtivo e hoje são proprietários
dos instrumentos de trabalho ou fazendeiros/pecuaristas: o Can-
tineiro e/ou Comerciante de todos os gêneros e produtos, com
sede nas currutelas ou próximo a elas, exerce a atividade de mi-
neração, geralmente como o dono dos instrumentos de trabalho
e é também comprador de diamante (diamantário); há índios que
se autodefinem ora como garimpeiros, ora como índios e com
uma cultura própria. Alguns não se consideram garimpeiros por
exercerem a atividade esporadicamente. Há ainda os colonos e
agricultores que na metade do ano são garimpeiros e na outra
metade são agricultores (MAcMILLAN, 1994).
Portanto, a questão das múltiplas identidades é apenas um
aspecto da definição da categoria garimpeiro. Além das múltiplas
identidades do garimpeiro, há ainda outros aspectos que devem
ser associados à categoria garimpeiro: a) Como alguns grupos so-
ciais o definem um homem “selvagem”, “bandido”, “ganancio-
so”, “gastador”. Para esses grupos é visto ora como desbravador
de regiões insólitas e ínvias, ora como estorvo à modernização.
Ora é ressaltado como colonizador e sentinela das fronteiras, ora
como invasor de terras indígenas e propriedades particulares. O
garimpeiro é definido, ainda, como um homem marginalizado,
um “desclassificado social”, um homem estigmatizado; b) outro
aspecto da definição é o aspecto ideológico, no qual o garimpei-
ro é então alguém que sonha ser patrão de si mesmo, de ter um
35 Esse trabalho de campo deu-se nos anos de 1993 (setembro), 1995 (novem-
bro) e 1996 (janeiro). Foram realizadas entrevistas e observações de campo.
36 Par de máquina ou máquinas resumidoras é o conjunto de maquinas com-
posto de uma motor-bomba para retirar água dos barrancos.

134 | Francilene dos Santos Rodrigues


pedaço de terra, de ser rico; c) há o aspecto da atividade em si
– o garimpeiro é um trabalhador de uma atividade árdua, que
derruba barrancos, de sol a sol, dia após dia, na esperança de um
dia “bamburrar”; destrói a natureza e não possui garantias tra-
balhistas; d) há o aspecto do modo de viver, que são pessoas que
têm que se adaptar às condições de lugares longes, insalubres,
com pouca ou nenhuma infraestrutura, e possuem código moral
e ético próprios, além de sonhos e expectativas.
Essas são algumas características e aspectos que compõem
a definição de garimpeiro, a maneira como os garimpeiros são
vistos, como se veem e como querem ser vistos. Em Boa Vista,
no centro da cidade, na praça do Centro Cívico, que represen-
ta espacialmente os três poderes (Câmara Legislativa, Palácio do
Governo, Palácio da Justiça), há um monumento em homena-
gem aos garimpeiros. Portanto, símbolos e sentimento de per-
tencimento são fundamentais para a composição da sua defini-
ção enquanto identidade e categoria social. O entendimento das
identidades passa necessariamente pela compreensão da relação
que os garimpeiros têm com a atividade, com o espaço e com a
terra, que também é uma parte da realidade cultural.

4.2 ARTICULAÇÃO ENTRE GARIMPAGEM, TERRITÓRIO,


FRONTEIRA E IDENTIDADE: A “CHAVE” DE RORAIMA

A garimpagem é uma atividade social e como tal complexa.


Ela atividade é central para o entendimento da realidade social de
Roraima, à medida em que é parte constituinte da história, da
economia e da política roraimense e, portanto, está no centro das
preocupações dos atores sociais desde o início do século passado.
Para entender as dinâmicas políticas da realidade social
em Roraima é preciso retornar ao capítulo 3, no item 3.6.2, quan-
do descrevemos e tecemos considerações sobre os atores sociais e
os interesses dos grupos. Os interesses políticos e econômicos, de
um grupo podem ser diferentes dos interesses de outro ou ainda,
os interesses de vários grupos podem coincidir em determinados
momentos. Tais interesses podem se traduzir em tomadas de po-

Garimpagem e Mineração: uma análise sócio-histórica... | 135


sição e/ ou organizações políticas dos diferentes grupos sociais.
No caso de Roraima, os interesses políticos ou econômicos estão
de uma forma ou de outra relacionados à questão do lugar, do
domínio sobre o espaço geográfico, isto é, sobre a gestão do lugar.
Nesse sentido, tanto a questão da mineração quanto a
gestão do espaço são centrais para o entendimento da realidade
roraimense. A gestão do espaço geográfico37 está relacionada ao
conceito de território. Território é aqui entendido como o espaço
de ação e de poder, ou melhor, espaço de articulação entre os
grupos de pessoas ou atores sociais que exercem ou lutam para
exercer a posse e o controle sobre esta extensão terrestre da co-
letividade. Território está, portanto, associado à ideia de poder e
de conflitos de poder.
Os conflitos que se manifestam em Roraima estão inexo-
ravelmente relacionados à luta pelo domínio de um território até
sua destruição ou sua “santificação”, seja pelos garimpeiros, pelos
índios, pelos fazendeiros, ou outros.
Assim, para entender a realidade social de Roraima é pre-
ciso também discutir as identidades das pessoas que vivem nes-
tes lugares, neste espaço geograficamente determinado. Para isto,
torna-se necessário buscar na cultura, ou seja, na maneira de vi-
ver, sentir, pensar e falar, o jogo de definições (como os outros o
veem) e autodefinições (imagem de si) dos atores presentes ou
não na realidade.
O lugar como parte integrante das realidades culturais é
peça fundamental para propiciar o entendimento das identidades
dos atores sociais. Para discutir sobre as identidades dos atores
sociais é preciso relacioná-las ao processo de construção do espa-
ço e do lugar para poder, assim, entender os conflitos, os debates,
as metas atuais e futuras. Deste modo, compreender o processo
de luta dos diversos grupos sociais para o exercício da gestão do
território é entender a sociedade de Roraima e a Amazônia, bem
como entender o que aconteceu e o que poderá acontecer.

37 Gestão entendida como uma prática científica e tecnológica de poder no es-


paço (BECKER, 1992, p. 334).

136 | Francilene dos Santos Rodrigues


Nesse processo de compreensão da realidade, fica evidente
que para qualquer cultura existe, necessariamente, a representa-
ção de um lugar, de um território. O processo de territorialida-
de38, o sentimento de pertencer a um lugar, de sentir-se em casa,
de fazer parte e de integrar um território, é fundamental para a
construção da identidade. O processo de desterritorialização as-
sume um sentindo contrário, ou seja, implica um processo de
desenraizamento do lugar, das coisas, das gentes, das ideias (NE-
VES, 1994, p. 271).
Dessa forma, torna-se essencial discutir as representações
do território pelos diversos atores ou grupos sociais como forma
de permitir uma análise, especificamente da sociedade roraimen-
se, tanto conjuntural, quanto estrutural. Isto porque a represen-
tação do território traduz os interesses de determinados grupos
dentro de uma estrutura, e a conjuntura permite uma compreen-
são das ações, articulações e também dos discursos dos grupos.

4.2.1 A construção das identidades e a relação com a fronteira

Como dito anteriormente, os atores sociais podem assu-


mir várias identidades ao mesmo tempo ou em tempos diferen-
tes. Além do território, há outras bases para a fundamentação
destas identidades, tais como a religiosidade, a etnia, a língua, a
família, a atividade de trabalho, a atuação política. A identidade
também está associada ao lugar de moradia, à cidade, ao povoa-
do, à vila, aos sítios e também às currutelas.
Dentre os atores sociais da sociedade roraimense desta-
cam-se os garimpeiros, os fazendeiros, os comerciantes, os agri-
cultores, os burocratas, os parlamentares, os missionários, os
acadêmicos. Existe, assim, um processo de construção da identi-
dade. Identidade entendida como a

[...] imagem que uma pessoa adquire ao


longo da vida referente a ela própria, à
imagem que ela constrói e apresenta aos
outros e a si própria, para acreditar na sua

38 O conceito de territorialidade é baseado em ANDRADE, 1992, p. 214.

Garimpagem e Mineração: uma análise sócio-histórica... | 137


autorrepresentação, mas também para ser
percebida da maneira como quer ser per-
cebida pelos outros. (POLLAK, 1992, p.
204).

Em Roraima, esee processo de construção de identidade se


manifesta à medida que a atividade de garimpagem está colocada
no centro das preocupações e também das ações dos diversos ato-
res sociais. Os índios reafirmam sua etnia, sua língua, sua história
e se organizam para evitar seu processo de desterritorialização,
lutam pela demarcação de suas áreas, portanto, lutam para exer-
cer a gestão de seu território e reafirmar sua identidade étnica.
Os fazendeiros articulam-se com outros grupos de interes-
ses, dentre eles empresários e políticos, reafirmando sua posição
na estrutura social. Os garimpeiros procuram seu espaço, procu-
ram um lugar para exercer sua atividade, possivelmente em áreas
indígenas. Os garimpeiros também possuem um sentimento de
territorialidade bem específico, que é próprio desta categoria pela
sua relação com o lugar, embora por tempo determinado, e sua
relação e representação da fronteira. A relação do garimpeiro
com o lugar não deixa de ser uma forma contemporânea de no-
madismo.
À medida que esses territórios se superpõem à conquista e
ao domínio por determinado grupo social, esse processo promo-
ve, por um lado, a ampliação e reafirmação da territorialidade de
um grupo e, por outro, a desterritorialização de outros grupos.
Esse processo de construção de identidade associado ao senti-
mento de ser de um território, sentimento de territorialidade,
assume características próprias à medida que se realiza na fron-
teira.
Há uma ambiguidade, quando se fala em fronteira pelo
fato de existir inúmeras dimensões e sentidos em relação a esta
categoria. À palavra fronteira tem se acrescentado frequente-
mente na literatura, diversos predicados. Os sentidos de fronteira
vão desde “fronteira geográfica”, “fronteira econômica”, “fron-
teira política”, “fronteira extrativista”, “fronteira especulativa”,
“fronteira tecnológica”, entre outras. Entende-se, neste trabalho,

138 | Francilene dos Santos Rodrigues


a fronteira no seu sentido mais amplo, ou seja, a fronteira diz
respeito a situações mais gerais e abrangentes em que ocorre uma
desconcentração espacial das formas políticas, econômicas e cul-
turais, que encontram condições favoráveis onde estas estavam
ausentes ou pouco representadas (SAWER apud LENA, 1991). A
especificidade da fronteira é justamente o fato de uma realidade
desaparecer para eventualmente deixar outra realidade subir. A
fronteira é o locus da construção de uma nova realidade, mes-
mo e provavelmente onde já existe uma realidade, indígena, por
exemplo. Melhor dizendo, a fronteira é o lugar onde as relações
não estão ainda totalmente estruturadas e, portanto, pode gerar
novas realidades, novas dinâmicas.
A fronteira traz em si a ideia de um lugar de conquista, de
riscos, de perigos, de descobertas que pode ser a descoberta de
riquezas. Ela carrega a ideia de fim, de morte. Além de compor-
tar a ideia de ascensão social inserida em formas específicas da
sociedade. Especificidade que é a própria fronteira. Então aqui,
a ideia de ascensão social chama a ideia de uma realidade fora
dessa fronteira. O sentido de ascensão social é transferido de ou-
tra sociedade para a fronteira. Isto porque existem na fronteira
roraimense sociedades estabelecidas, cujo sentido de ascensão
social diferem. Como exemplo, as comunidades indígenas dão
outro significado à ascensão social que não perpassa a aquisição
de bens de consumo, como na sociedade não indígena.
Por isso, a ascensão social pode ter vários sentidos: um
sentido de ascensão fora do mundo social da fronteira, cuja fron-
teira é a fonte para este processo, ou seja, é o lugar da conquista
de condições de ascender para poder desfrutá-la longe da fron-
teira. Ou o sentido de ascensão dentro do mundo social da fron-
teira, ou seja, a ida para a fronteira significa a possibilidade de
ascender, mas de nela permanecer.
Portanto, a representação dos diversos atores sobre a
fronteira e, consequentemente, do território, assume aqui uma
importância fundamental. A forma como os diversos atores ou
grupos sociais percebem-na pode, de certa forma determinar sua
posição política e, portanto, sua posição em relação à conquista
ou manutenção do território.
Garimpagem e Mineração: uma análise sócio-histórica... | 139
O território é um aspecto constitutivo da identidade dos
atores sociais em Roraima. O processo de construção da iden-
tidade coloca no centro de toda a questão a vida em uma terra
que é fronteira, ou melhor, é uma multiplicidade de fronteiras,
fronteira geográfica e internacional, fronteira étnica e também
fronteira econômica e política. A fronteira é, portanto, um as-
pecto fundamental tanto da constituição do sentimento de ter-
ritorialização quanto do processo de construção de identidade.

140 | Francilene dos Santos Rodrigues


CONSIDERAÇÕES FINAIS

A atividade de garimpagem é fundamental para o entendi-


mento da sociedade roraimense por ser um fenômeno social que
traz em seu bojo múltiplos aspectos. Dentre estes, há o aspecto da
garimpagem enquanto uma atividade de transformação da natu-
reza por meio de uma forma específica de organização e relação
de trabalho. Outro aspecto é o da garimpagem enquanto ativida-
de econômica definida a partir de sua inserção na sociedade civil,
ou seja, quanto a sua existência, formal ou informal. Há, ainda o
aspecto cultural da garimpagem, que é na verdade a sua essência,
principalmente à medida que traduz um modo de vida, entendi-
do “[...] como o conjunto de hábitos pelos quais os grupos que
o praticam assegura sua existência” (DERRUAN apud SOUZA,
1994, p. 14). Esta existência se realiza dentro de um espaço, em
um lugar.
A atividade de garimpagem, enquanto fenômeno social, é
a chave para entender a realidade de Roraima. É a chave para
explicar o significado político dos conflitos sociais pela terra e
pelo domínio do lugar. A importância da atividade de garimpa-
gem deve-se ao fato de ser uma atividade central na formação da
realidade histórica, econômica e política de Roraima, ou melhor,
é uma atividade central na formação da realidade social rorai-
mense.
A atividade de mineração esteve presente desde o início
do século XX e proporcionou mudanças na paisagem socioeco-
nômica de uma parcela significativa do atual estado. O primeiro
período da história da mineração iniciou-se ainda no município
de Boa Vista do Rio Branco, com as descobertas dos primeiros
diamantes, ao longo dos rios Maú e Tacutu, em 1912, e foi até
1965. Mas foi com a descoberta dos diamantes da Serra de Te-
pequém que ocorreu a primeira “corrida mineral”, provocando
certo aumento populacional e a formação de novos povoados e
ainda a diversificação da economia, baseada predominantemente
no extrativismo vegetal e na pecuária. A atividade de mineração
tornou-se, na década de 1940, a mais importante atividade eco-

Garimpagem e Mineração: uma análise sócio-histórica... | 141


nômica, sendo responsável por mais de 80% das suas exporta-
ções, do então Território Federal do Rio Branco. A década de
1940 presenciou o auge da produtividade diamantífera.
O segundo momento da história da mineração iniciou a
partir de meados da década de 1960, nos mesmos lugares, ou seja,
nos rios Maú, Cotingo, Tacutu e Serra de Tepequém e prosse-
guiu até o final da década de 1970. O então Território de Rorai-
ma viveu outra “corrida mineral”. Desta vez, proporcionada pelo
aprimoramento técnico da atividade de mineração. A atividade
deixou de ser executada prioritariamente de forma manual e pas-
sou a ser semimecanizada. Começou também o aproveitamento
do ouro como subproduto do diamante. A outra novidade deste
período consistiu na descoberta de garimpos de cassiterita a no-
roeste do Território, em terras habitadas pelos índios Yanomami.
Esta corrida também foi favorecida pela construção da BR-174,
ligando Boa Vista a Manaus e à Venezuela, e pela implantação
dos projetos de colonização.
O terceiro momento da história da mineração iniciou-se
a partir do aumento súbito no preço internacional do ouro, que
saltou de 227 dólares por onça-troy, em 1978, para 840 dólares no
início de 1980. Mas é a partir de meados da década de 1980, com
o esgotamento de jazidas de outras regiões de garimpo (Serra Pe-
lada, Cumaru, Madeira), que o capital se deslocou para Roraima,
provocando uma verdadeira “corrida do ouro”. As transforma-
ções deste período ocorreram de forma abrupta e numa veloci-
dade ainda não presenciada. A população de Roraima quase tri-
plicou nesta década. A produção aurífera foi a maior de todos
os tempos. Atingiu o seu auge entre 1988 e 1990, cuja produção
oficial chegou a mais ou menos 15 toneladas de ouro extraídas
por mais de 40 mil garimpeiros. A produção estimada foi de
mais de 20 toneladas para o mesmo período, demonstrando a
importância e o significado da produção garimpeira. A economia
e agrande parte da população passaram a viver em função desta
atividade. Após o arrefecimento da produção aurífera, a partir de
1991, Roraima voltou para suas atividades anteriores. A pecuária
e a agricultura voltaram a dar mostras de recuperação, provando

142 | Francilene dos Santos Rodrigues


também que parte da renda monetária auferida na extração do
ouro foi parcialmente gasta com investimentos nestas atividades.
A garimpagem é, assim, fundamental para o entendimen-
to da economia roraimense a partir da análise dos ciclos econô-
micos da mineração. Neste sentido, entender esta relação entre a
garimpagem e a economia é importante para o entendimento de
Roraima. Os períodos de “pico” da atividade de garimpagem são
períodos de movimentação da economia do Estado de Roraima.
Estes picos proporcionaram o surgimento e o crescimento de al-
gumas atividades, tais como a indústria moveleira e metalúrgica,
além do crescimento de parte do setor de serviços, excepcional-
mente, o subsetor de instituições financeiras e de aluguéis.
Nos períodos de declínio do ciclo de garimpagem, ocor-
reu um retorno às atividades já existentes, tais como a pecuária
e a agricultura. Isto porque a atividade de garimpagem, ao mes-
mo tempo em que desloca força de trabalho destes setores, cujo
deslocamento é relativizado pelo fato dos ciclos produtivos da
agricultura e do garimpo não serem coincidentes, serve também
como alternativa de capitalização para esses setores.
Os impactos da atividade de mineração na economia só
podem ser auferidos indiretamente, ou seja, através dos outros
setores da economia, ijá que os dados sobre esta atividade são
quase todos baseados em estimativas. Todavia, indiretamente,
está constatado que a atividade de garimpagem possuía e ainda
possui uma importância fundamental na economia de Roraima.
Apesar de, no último ciclo da mineração, ter ocorrido também
transferência de recursos intrarregional, não se pode negar que
a garimpagem serviu de capitalização para as atividades tradicio-
nais, ainda que não na medida da expectativa local.
O peso da atividade de garimpagem foi relativamente ele-
vado no período dourado (de 1987 a 1990), sem gerar, entretanto,
importantes desdobramentos econômicos para frente e para trás.
O setor terciário foi o que mais cresceu e o que mais sofreu com
o declínio da garimpagem. Os pequenos produtores puderam, de
certa forma, se beneficiar da atividade de garimpagem, investin-
do na agricultura um capital que, embora limitado, permitia-lhes

Garimpagem e Mineração: uma análise sócio-histórica... | 143


a reprodução enquanto agricultores. As elevações locais de renda
com a atividade de garimpagem cessaram com o seu declínio. A
problemática social aumentou, intensificando conflitos já ante-
riormente acentuados no estado.
Trata-se de um exemplo típico de crescimento econômico
que não se autossustentou. Neste sentido, em Roraima, o extra-
tivismo do ouro na década de 1980 teve o mesmo destino das
“economias extrativas” de que nos falam Bunker (1980) e Coelho
(1996).
É evidente que a atividade de mineração não gerou bene-
fícios fiscais ou financeiros e nem investimentos governamentais
em infraestrutura energética e de transportes. Este último pon-
to pode ser relativizado a partir da análise de outras economias,
como a do Pará. Os investimentos nestas áreas tiveram o propó-
sito de beneficiar a grande mineração. Os custos da implantação
desta infraestrutura couberam prioritariamente aos contribuin-
tes. Exemplos existem muitos: Tucuruí, que fornece energia sub-
sidiada a Abrás/Alunorte, enquanto grande parte da população
não é atendida com energia elétrica. Os benefícios fiscais são
inegáveis. O exemplo é o caso de Parauapebas (PA), que recebe
parte dos impostos pagos pela CVRD. Em contrapartida, há um
processo de gestão territorial de toda essa área, onde a CVRD é o
ator mais hegemônico.
Em Roraima, o significado histórico dos conflitos sociais
passa inexoravelmente pela conquista, defesa ou disputa pelo do-
mínio e gestão do lugar. A luta pelo domínio do lugar é uma luta
para garantir poder e controle sobre ele e, consequentemente,
impor uma determinada lógica de apropriação e utilização dos
recursos naturais. Nesta perspectiva de domínio e gestão do lu-
gar como forma de impor uma lógica de apropriação e utiliza-
ção dos recursos naturais, encontra-se como central a atividade
de garimpagem. Ela é central, tanto para os índios, quanto para
os fazendeiros, garimpeiros, agricultores ou representantes das
grandes mineradoras.

144 | Francilene dos Santos Rodrigues


O significado político dos conflitos entre esses diversos
grupos sociais está centralizado em sua percepção do território.
O território, ou o lugar, é parte constitutiva da identidade dos
atores sociais e, por isso, torna-se essencial uma análise socio-
lógica destas identidades. O sentimento de territorialidade, de
pertencer a um território, pode refletir a representação destes
atores sobre o território e, por conseguinte, traduzir os interesses
de determinados grupos dentro da estrutura social roraimense.
O território só se define a partir dos atores sociais. Sem seres hu-
manos, sem “gente”, não há território. E os atores sociais - índios,
fazendeiros, agricultores e garimpeiros - constroem suas identi-
dades, a partir, dentre outros aspectos, de um lugar, de um espa-
ço geográfico, de uma “terra” que é sua, que lhe pertence.
A disputa pelo território é também uma forma de reafir-
mação das identidades. O processo de construção das identida-
des em Roraima está condicionado ao domínio de um território
que é também a reafirmação do sentimento de territorialidade
com uma característica específica: realiza-se na fronteira, ou me-
lhor, em um estado de múltiplas fronteiras.
As análises das identidades dos atores sociais não foram
realizadas por não terem sido objeto inicial deste trabalho, en-
tretanto, a nossa preocupação com o entendimento da sociedade
roraimense e a importância da atividade de mineração nesta so-
ciedade a elas nos conduziu. No entanto, sabemos que este pode
ser um projeto de trabalho com continuidade no futuro.
Roraima era e, ainda é, um estado que possui uma das
mais baixas densidades populacionais do país. Geopoliticamente
falando, sua ocupação era vista como imprescindível para a ma-
nutenção da soberania nacional na região Amazônia. A criação
de um território Yanomami tem sido, nos últimos anos, consi-
derada uma grande ameaça por parte da sociedade roraimense.
A presença militar no novo Estado intensificou-se por meio do
empenho local do exército através do Projeto Calha Norte. To-
davia, a visão do Calha Norte, como solução para a segurança
da fronteira norte, tem sido localmente pouco discutida e pouco
avaliada. No entanto, tanto o Calha Norte e como o Sistema de

Garimpagem e Mineração: uma análise sócio-histórica... | 145


Vigilância da Amazônia-SIVAM são defendidos como parte da
segurança e do combate ao narcotráfico, que penetra e expan-
de-se no estado39 como uma alternativa econômica, ocupando os
vazios deixados pela atividade de garimpagem e pela ausência de
atividades econômico-financeiras de peso. Assim, militares vêm
encontrando na realidade geopolítica roraimense um campo fér-
til de atuação. Isto fez com que, depois de um tempo de arrefe-
cimento, voltasse o empenho militar de revitalização do Calha
Norte, a criação de mais dois territórios federais (Rio Negro e
Alto Solimões) e a implantação do SIVAM.
A atividade de garimpagem é, portanto, um fenômeno
social, e como tal, é parte constitutiva da realidade social, tan-
to do passado quanto do presente e, provavelmente, do futuro
de Roraima. As questões imediatas dizem respeito: (a) às pers-
pectivas futuras do desenvolvimento de Roraima e do lugar a ser
reservado para a atividade de mineração; (b) às possibilidades de
existência do desenvolvimento sustentável, isto é durável, e de
diferenciadas formas do uso dos recursos naturais. Logo, face ao
contingente de população nela envolvida, pergunta-se se é possí-
vel negar ao estado de Roraima e mais precisamente a sua popu-
lação, o direito de uso aos seus recursos naturais. O que está em
jogo é certamente a utilização destes recursos de forma justa, que
contemple, portanto, a maior parcela possível da população e seja
ecologicamente sustentável, isto é, não meramente depredadora
dos recursos naturais do estado.
É evidente que não é fácil definir o tipo de desenvolvi-
mento que se quer para Roraima. Sabe-se, no entanto, que isto
implica a consideração de inúmeras variáveis entre elas, o envol-
vimento das populações mais diretamente atingidas ou margi-
nalizadas nas decisões sobre as alternativas de desenvolvimento
para o Estado. Neste sentido, pensar o desenvolvimento em Ro-
raima coloca de pronto a necessidade de ratificação dos direitos
dos índios em relação ao domínio de suas terras, de um lado, e da
definição dos direitos dos garimpeiros (isto é, do pequeno e mé-
39 Lia Osório, em levantamento realizado recentemente, conseguiu refazer as
rotas de tráfico e os lugares onde existem laboratórios de refino da droga. Folha
de São Paulo, 16 /08/ 1996.

146 | Francilene dos Santos Rodrigues


dio minerador descapitalizado ou pouco capitalizado), de outro.
Definidas as posições de que a possibilidade de “indigeni-
zação” do estado de Roraima não se coloca como o grande obstá-
culo ao processo de desenvolvimento, é preciso discutir as alter-
nativas a partir do fato de que as terras são dos índios e cabe a eles
decidirem que uso lhes dar. É preciso também que toda a socie-
dade discuta e decida que uso social dar às terras não-indígenas,
isto é, uma gestão mais democrática do espaço roraimense.
A pecuária poderia voltar a ser uma atividade de grande
importância econômica para o estado, inclusive com a participa-
ção dos índios que já possuem experiências na criação de gado.
Seria fundamental para a utilização de técnicas de melhoramen-
tos dos pastos e também para a superação de outras dificulda-
des apontadas anteriormente. Existe um mercado tanto regional
quanto internacional, este último representado sobretudo pela
Venezuela.
Em relação à agricultura, os grandes projetos agrícolas,
tais como o da soja, não levam em consideração as necessidades
das populações locais. Há outras possibilidades em relação à agri-
cultura que passam pelo incentivo da produção das culturas per-
manentes. Dentre estas culturas, existe o estímulo ao cultivo de
frutos tropicais associados à indústria de pequeno e médio porte
para a transformação do fruto em polpa, doces e licores.
O que está em discussão é a velha concepção de “desen-
volvimento” que ainda perpassa os centros decisórios governa-
mentais. Era uma concepção de desenvolvimento baseada nos
grandes projetos desenvolvimentistas que viessem a beneficiar a
maior parte da população. Porém, Roraima poderá constituir-
se em um modelo experimental diferente, concernente a uma
concepção contemporânea de desenvolvimento ecológico, social
e economicamente sustentável que valorize, em primeiro lugar,
os seres humanos, sejam eles índios, garimpeiros, agricultores e
outros.

Garimpagem e Mineração: uma análise sócio-histórica... | 147


É nesta perspectiva que, entre outras alternativas, a ativi-
dade de garimpagem pode fazer parte do futuro do estado. Não
será possível ignorar a existência da atividade, nem tampouco do
garimpeiro. A discussão sobre as vantagens e as desvantagens en-
tre a garimpagem ou a grande mineração não se deve restringir
aos danos do meio ambiente. Ambas são atividades que trans-
formam a natureza, que removem a terra, que causam danos
ao meio ambiente. Olhando os exemplos da grande mineração
como em Carajás, Trombetas, Serra do Navio (AP) entre outros,
pode-se inferir que os danos podem ser incalculáveis. Se, neste
caso, a perspectiva de desenvolvimento é a de valorização dos
seres humanos, a atividade de garimpagem pode se tornar uma
alternativa, dentre outras.
A garimpagem faz parte da história de Roraima que, de
certa forma, diferencia-se de outros lugares. Localmente, a ga-
rimpagem no estado teve uma importância e contribuiu no seu
povoamento, vencendo o “vazio” demográfico apontado pelos
governantes e militares como obstáculo ao desenvolvimento. A
garimpagem foi e ainda é importante socialmente para Roraima,
embora tenha perdido o seu papel de agente de colonização do
seu interior. Portanto, ignorá-la não fará com que desapareça. É
necessário dar-lhe a atenção devida, porque também será dada a
atenção aos sujeitos sociais, como os garimpeiros que, em Tepe-
quém, vivem e talvez morrerão por lá.
É preciso pensar uma forma de inserção desta atividade
num projeto de desenvolvimento para Roraima. Inserção que
poderá ser civil, de maneira formal e legal, gerando renda para
as populações e também para o estado. Existe um modelo desta
atividade na Venezuela que parece funcionar a contento, tendo
em vista o grande número de brasileiros que lá estão exercendo
a atividade.
Apesar da tendência atual da pequena e média mineração
estar perdendo espaço para a grande mineração, dada a sua alta
capacidade tecnológica de lucrar, mesmo em condições não mui-
to favoráveis de preços ao aumentar o volume de sua produção,
a garimpagem (pequena e média mineração) deverá continuar

148 | Francilene dos Santos Rodrigues


ocupando certo espaço. Como um fenômeno social de grande di-
mensão no passado e no presente, esta vem requerendo respostas
a serem assumidas por toda a sociedade roraimense.
A garimpagem deverá ser, ainda, por muito tempo, uma
alternativa pontual, esporádica ou complementar, associada a
outras atividades, tais como a agricultura e a pecuária que podem
continuar interligadas como estiveram por todo o século passa-
do. Uma vez que a garimpagem ocupa um papel de acumulação
primitiva garantindo a reprodução simples dos descapitalizados.
Tepequém parece-nos apresentar como um exemplo, em-
bora a ser aprimorado, como uma alternativa de execução de um
projeto que concilie a mineração com outras atividades. Em tra-
balhos de campo, realizados desde 1993, constatamos algumas
especificidades deste garimpo. Existe uma população residente
que alterna a atividade de mineração com a criação de gado e
de pequenos animais e uma agricultura de subsistência. Tepe-
quém possui uma parte de sua área com alta fertilidade provada
pela alta produtividade dos experimentos com hortifrútis sem a
utilização de defensivos agrícolas ou corretivos do solo. O sin-
dicato dos garimpeiros auxiliou tecnicamente projetos com os
garimpeiros que resultaram na produção de 6 toneladas de to-
mates num único período. Em Tepequém, o garimpeiro tem um
modo de vida peculiar. Muitos possuem família que lá reside.
Eles têm uma relação com o lugar que é mais duradoura. Lá se
encontravam garimpeiros morando e trabalhando há mais de 30
anos. São velhos garimpeiros e seus familiares, inclusive jovens e
adolescentes que têm sonhos, que querem viver bem, querem ter
“futuro”.
Sendo assim, no futuro de Roraima, é provável que a ga-
rimpagem esteja presente, talvez de uma outra forma, baseada
em um outro modelo que possibilite a conciliação da valorização
dos seres humanos e do meio ambiente. É certo que as outras
atividades, principalmente a agricultura e a pecuária, também
permanecerão como atividades econômicas fundamentais para
as pessoas e para a sociedade. É fundamental descobrir uma ma-
neira de desenvolver economicamente o estado de Roraima, no

Garimpagem e Mineração: uma análise sócio-histórica... | 149


sentido de permitir aos índios, à população garimpeira e a todos,
em geral, que lá estão, viver bem. O território e o domínio sobre
o lugar, seu uso e as formas ou maneiras de povoá-la são questões
que não poderão omitir ou negar. São fatos concretos.
Nesse sentido, o território deverá ser analisado em rela-
ção às identidades dos atores e dos grupos sociais. Identidades
compreendidas como um processo dinâmico de definição de si,
dos outros e da terra a qual se pertence. Roraima é uma terra
de muitas fronteiras: geográficas, culturais e étnicas. Uma terra
de fronteira e de grupos de interesses bem diferentes, como os
garimpeiros, dos fazendeiros e até dos grandes grupos ecológi-
cos internacionais. A pergunta final é: será possível pensar um
desenvolvimento para Roraima que respeite o conjunto das po-
pulações envolvidas e a preservação, mínima, do meio ambiente?
Roraima poderia ser um laboratório para as experiências de de-
senvolvimento sustentável, conforme preconizado pela Comis-
são Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, criada
pelas Nações Unidas? Ou seja, “um desenvolvimento capaz de
suprir as necessidades da geração atual, sem comprometer a ca-
pacidade de atender às necessidades das futuras gerações”, mes-
mo nos marcos do sistema capitalista?

150 | Francilene dos Santos Rodrigues


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