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ESTUDANTES

MATERIAL DE REPERTÓRIO
TEMA:

Os impactos socioambientais
causados pelo garimpo ilegal
no Brasil
O Garimpo na História do Brasil ………….…. p. 4
As marcas em territórios indígenas ... p. 5
Teorizando ………………………………………………………………. p. 6
De olho nos dados ………………………….………………….. p. 7
Universo artístico .……………………….………………….. p. 8
Saiba mais! .……………………….………………………………..….. p. 9
Selecionar, relacionar e organizar ..….. p. 10
Referências bibliográficas ……………………….. p. 11
O Garimpo na História do Brasil
O garimpo de ouro e diamantes teve seu início ainda no Brasil Colônia,
quando Portugal explorava o país. Lendas como a do Eldorado — uma
suposta cidade de ouro — eram criadas para manter o interesse dos
europeus na exploração da América do Sul, os quais, realmente, se
locomoviam até aqui em busca de preciosidades.
Além disso, a construção de uma sociedade urbana perto das minas,
presentes, majoritariamente, nas regiões de Minas Gerais, Mato Grosso e
Goiás, fez com que se tornasse de conhecimento público a existência de
ouro por ali. Logo, diversos escravizados africanos foram levados a esses
lugares pelos mineiros, que acreditavam em recursos infinitos. Contudo,
ao notarem que a realidade não era tão simples, e que o preço para se
alimentar era exorbitante, esses grupos de migrantes notaram que o
cultivo de alimentos era uma prática mais promissora do que o garimpo.

Mais tarde, com o crescimento da


Lavagem dos diamantes, Minas Gerais, 1812.

população de Minas Gerais, o contrabando de


preciosidades se tornou comum entre as
pessoas, fossem elas religiosas, garimpeiras
John Mawe.

ou escravizadas. No caso dos últimos, o acesso


às relíquias parecia uma forma de conquistar
a liberdade. Por conta disso, e da ausência de
fiscalização a respeito das minerações, a
Coroa portuguesa passou a exigir que a
prática do minério fosse exclusivamente dela.

O garimpo ressurge com mais força nos anos de 1970, época em


que novas tecnologias aparecem para expandir um trabalho que antes era
artesanal e extremamente manual. BARRETO (2000), em sua tese de
doutorado, afirma que “houve sempre, contudo, uma dificuldade de
entender e enquadrá-la [a prática do garimpo] tanto no seio do setor
mineral como da sociedade, levando à sua marginalização e ilegalidade. Esta
situação tem criado inúmeros problemas para o setor mineral e para a
sociedade brasileira e não tem permitido que a atividade contribua para o
desenvolvimento econômico do país.”

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As marcas em territórios
indígenas
O território Munduruku é um dos afetados pela mineração e pelo
garimpo desde o Brasil colonial. Esse conflito de interesses ocorre, por
exemplo, pela diferença de perspectiva sobre o rio Tapajós. Por um lado,
Tapajós é uma herança de uma divindade indígena, por outro, é um dos
principais rios da bacia hidrográfica Tapajós Teles-Pires, que se inicia no
Mato Grosso e segue até o rio Amazonas. Nesse sentido, o território é
como uma “base potencial para hidrelétricas e meio de navegação a
partir da instalação de uma hidrovia, e como parte da chamada Província
Mineral do Tapajós (PMT), uma área aurífera de cerca de 100 mil
quilômetros quadrados considerada uma das maiores jazidas submersas
de ouro do mundo.” (PORTO; ROCHA, 2022)

Outro território bastante afetado é o


que pertence aos Yanomami, no norte do
Brasil. Dário Kopenawa, um líder indígena,
em uma entrevista para a Fiocruz conta
que cresceu vendo homens brancos
arrancarem ouro e construírem estradas.
Uma das consequências de cavar para
conseguirem pedras preciosas, segundo
Dário, é a libertação das xawara, que
seriam as doenças enterradas pelo criador
Omama. Dário Kopenawa. Líder do povo Yanomami.

Um primeiro exemplo de xawara foi a epidemia de sarampo, que


aconteceu durante a Ditadura Militar com a construção da
rodovia Perimetral Norte (BR-210) e dizimou muitas comunidades,
tanto pela contaminação quanto por assassinato. Segundo o líder, “Os
Yanomami estão sendo infectados pelos garimpeiros. As pessoas estão
adoecendo. A gente está muito preocupado e muito triste. Onde tem
garimpo tem sintomas de covid-19. [...] Na década de 1980, 40.000
garimpeiros invadiram novamente e mataram 22% dos yanomami pelo
garimpo ilegal, pela epidemia, por assassinato. Muitos parentes meus
morreram. Foi a época em que nasci e cresci. Então eu estudei pra
falar uma língua que não é minha e pra poder me defender e defen-
der meu povo.″
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Teorizando

Você já se perguntou o que define o valor do ouro?


O metal dourado tem o seu valor atribuído ao poder, visto que as
posições ocupadas por aqueles que o detém estão ligadas a uma classe
social e econômica mais alta. No período colonial, o cristianismo europeu
via o ouro como um “presente divino”, que atraiu os colonizadores que
catequizaram os indígenas, os quais eram vistos como povos sem
civilidade, sem beleza, mas necessitados de salvação.
Nos dias atuais, de acordo com Luiz Wanderley (2015), Mestre e
Doutor em Geografia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro,

“O valor do ouro não reside em sua utilidade prática, mas no


resultado de uma valoração histórica e simbólica atribuída a partir
da beleza estética do metal, aliada à condição de escassez.” (p. 8)

Por isso, um dos problemas atrelados à cobiça do ouro é a


precarização do trabalho, uma vez que, historicamente, isso custou a
exploração dos indígenas e africanos escravizados no Brasil e,
atualmente, o aumento de mão de obra precária, sem regulamentação e
inseguras, na prática do garimpo.

E aí, estudante,
Que tal passar a observar quem são as pessoas ao seu redor
que possuem objetos de ouro e entender o porquê delas
possuírem? Navegue um pouco pela internet e descubra o preço
de jóias fabricadas a partir deste metal. Ficar por dentro desse
assunto na atualidade pode te auxiliar a escrever sobre isso e a
criar um posicionamento próprio.

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De olho nos dados

A
Veja alguns dados do relatório da Hutukara Associação Yanomami e
Associação Wanasseduume Ye’kwana (HAY/SEDUUME) em 2022, analisados
por Epifânio e Oliveira Júnior (2022):
Cerca de 3.200 hectares foram devastados no território Yanomami
entre os anos de 2018 e 2021. Quando se compara com dados de outubro de
2018, os quais evidenciam um total de 1200 hectares de área devastada,
essas informações indicam um crescimento percentual de áreas
afetadas em 172,6% nos quatro anos analisados. Ou seja, desmatamento
desenfreado, assoreamento de rios e igarapés, explosão de doenças
infectocontagiosas (principalmente a malária), além da contaminação de
corpos hídricos pelo mercúrio.

B
O infográfico ao lado foi desenvolvido
pelo Greenpeace em 2021. De acordo com
a organização ambiental, os dados
contidos no infográfico foram
monitorados por meio de imagens via
satélite e, a partir dessas imagens,
conclui-se que os rios mais prejudicados
foram:
➜ Rio Marupá (Pará)
➜ Rio das Tropas (Pará)
➜ Rio Cabitutu (Pará)
➜ Igarapé Mutum (Pará-Roraima)
➜ Igarapé Joari/Joarizal (Amazonas)

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Universo artístico

Estudante,
Que tal escolher uma dessas referências para compor a
sua introdução, a fim de contextualizar o tema para o
leitor? A partir de uma analogia, é possível escrever um
texto super coeso, pois ela pode ser retomada em
outras partes do texto e em conjunto com novos
argumentos. Basta se planejar!

Cidade Invisível (2ª temporada)


A segunda temporada da série da Netflix se
passa no Pará e na Amazônia, sendo a exploração
dos recursos naturais um dos principais
assuntos da trama. Um grupo de empresários do
garimpo, entre eles Débora — interpretada por
Zahy Guajajara —, tenta adentrar o lugar sagrado
Marangatu a todo custo, em busca de ouro.

Garimpo, natureza e conflitos


ambientais no Médio Tapajós
O documentário foi feito a partir de uma pesquisa
das instituições Fiocruz/Neepes/ENSP. Seu foco
está em proporcionar um diálogo intercultural
com o povo Munduruku acerca da defesa de seu
território, em especial o Rio Tapajós, e de suas
vidas. Marina Fasanello, uma das pesquisadoras,
descreve a abordagem de pesquisa como
“teórico-poética”.

Nenê Macaggi - Uma história


para ser lembrada!
O poema de cordel, escrito por Zanny Adairalba,
faz uma homenagem a Nenê Macaggi, uma
paranaense que migrou para o norte do Brasil e,
em Roraima, consagrou-se como “a verdadeira
inauguradora do discurso literário do estado”.
Macaggi escreveu o romance autobiográfico “A
mulher do garimpo” (1976), um livro raro de se
encontrar.
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I BA IS
A
S M A
Você já pensou na literatura como uma
possível representação da história?
No artigo “Cascalhos inclementes: Garimpo e violência no conto “Sua
alma, sua palma”, de Bernardo Élis, Ricardo Gonçalves, Professor Doutor dos
cursos de Graduação e Pós-Graduação em Geografia da Universidade
Estadual de Goiás (UEG), discorre sobre como a prática do garimpo é
presente historicamente no território goiano e, por conta disso, os
garimpeiros são como “personagens que atravessaram o século” (p.
88) e estão presentes em diversos livros, como o próprio “O Garimpeiro”, de
Bernardo Guimarães”. Gonçalves diz:

“[...] os garimpos e garimpeiros estão presentes em


textos de livros historiográficos, contos e romances
que versam sobre Goiás. Escritores como Bariani
Ortencio (no livro Sertão sem fim), Edival Lourenço
(com o romance Naqueles morros, depois da chuva) e
Bernardo Élis (no conto Sua alma, sua palma),
exemplificam estas constatações. Garimpos e
garimpeiros comparecem nestas obras
protagonizando narrativas e servindo de matéria
prima simbólica e concreta para a leitura e
interpretação do espaço, dos lugares, das paisagens e
da sociedade goianas. Logo, as narrativas que
representam esta atividade e seus personagens
tecem múltiplas imagens de um ambiente atravessado
Bernardo Élis (1915-1997), autor goiano, por violência, prostituição, aventura, sonho e
por Amaury de Menezes solidariedade.

O garimpo comparece como espaço rude e violento assim como lugar de


harmonia e ajuda mútua. Da mesma maneira, o garimpeiro é ilustrado como
sujeito destemido, desagregado da família, aventureiro, fanfarrão ou sonhador.”
(p. 88-89)

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Selecionar, relacionar
e organizar Criamos o fluxograma abaixo para auxiliar o
planejamento do seu texto. Lembre-se de que a
tese é o seu ponto de vista sobre o tema e que ela
e seus argumentos devem trazer repertórios
socioculturais. Este é apenas o começo de um dos
caminhos que você pode seguir!

Os impactos socioambientais causados pelo


garimpo ilegal no Brasil
TESE
O garimpo ilegal é um sintoma da cobiça pelo
ouro, herdada do Brasil Colônia, e tem gerado
diversos impactos socioambientais, como a
destruição de rios e a contaminação de
indígenas.

ARGUMENTO 1
ARGUMENTO 2
A prática do garimpo,
Por usufruírem da natureza ao
especialmente a prática ilegal
seu redor, a quantidade de
em territórios indígenas,
indígenas afetadas pelo
destrói o leito dos rios e
mercúrio é bastante grande.
contamina a água com metais.

PROPOSTA DE INTERVENÇÃO

AGENTE: Ministério do Meio Ambiente;


Ministério dos povos indígenas;
Secretaria De Geologia, Mineração E
Transformação Mineral.

AÇÃO: Chegar a um consenso


acerca da regulamentação
da prática do garimpo.

Não se esqueça:
A ideia de concretude que se espera da proposta de intervenção está ancorada em cinco elementos
explicitados textualmente, sendo eles: ação, agente, meio/modo, efeito e detalhamento.

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Referências
bibliográficas

BARRETO, Maria Laura Taveira da Mota Geraldes de Carvalho. Garimpo de ouro no


Brasil: desafios da legalização. 2000. Tese (Doutorado) – Universidade de São Paulo,
São Paulo, 2000. Disponível em: <https://repositorio.usp.br/item/001096135> Acesso
em: 9 maio 2023.

BRASIL; Ministério da Educação. Cadernos da TV Escola: Brasil colônia. Disponível


em: <http://portal.mec.gov.br/seed/arquivos/pdf/500anos2.pdf>. Acesso em: 9 maio
2023.

EPIFÂNIO; Haroldo; OLIVEIRA JÚNIOR, Zedequias de. Degradação e violência na Terra


Indígena Yanomami: análise do contato entre o indígena e o garimpeiro. Revista
Brasileira de Meio Ambiente, v.10, n.3. 225-238 (2022).

GONÇALVES, Ricardo Junior de Assis Fernandes. Cascalhos inclementes: garimpo e


violência no conto “Sua alma, sua palma”, de Bernardo Élis. Revista Sapiência: v.9,
n.1, p.87-106 (2020). Disponível em: <https://www.revista.ueg.br/index.php/sapiencia/
article/view/10073>. Acesso em: 8 maio 2023.

PORTO, Marcelo Firpo de Souza; ROCHA, Diogo. Neoextrativismo, garimpo e


vulnerabilização dos povos indígenas como expressão de um colonialismo
persistente no Brasil. Scielo, 2022. Disponível em:
<https://www.scielo.br/j/sdeb/a/6HXzdpDBsqYQsjxXS6qFVmr/?lang=pt#>. Acesso em:
8 maio 2023.

WANDERLEY, Luiz Jardim. Ouro como moeda, ouro como commodity. Revista de
Economia Política e História Econômica, 34, 5-47. 2015. Disponível em:
<https://www.ufjf.br/poemas/files/2015/08/Wanderley-2015-Ouro-como-mo
eda-ouro-como-commodity.pdf>. Acesso em: 10 maio 2023.

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Referências
bibliográficas

Imagens utilizadas

UFPR. Lavagem de Diamantes, Minas Gerais. Disponível em:


<https://docs.ufpr.br/~lgeraldo/imagensminas.html>. Acesso em: 9 maio 2023.

Greenpeace. A morte dos rios. Disponível em:


<https://www.greenpeace.org/brasil/blog/a-morte-dos-rios/>. Acesso em: 10 maio
2023.

Boomerang music. Cidade Invisível. Disponível em:


<https://boomerangmusic.com.br/com-estreia-no-dia-22-de-marco-segunda-temp
orada-de-cidade-invisivel-ganha-trailer-e-poster/>. Acesso em: 8 maio 2023.

Folha Boa Vista. Nenê Macaggi. Disponível em:


<https://folhabv.com.br/coluna/NENE-MACAGGI/6073>. Acesso em: 8 maio 2023.

Templo Cultural Delfos. Bernardo Élis. Disponível em:


<https://www.elfikurten.com.br/2016/06/bernardo-elis.html>. Acesso em: 22 maio
2023.

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