Você está na página 1de 50

08/04/2020

Direitos Humanos e Relações Étnico-Raciais

África
História, Islamismo e Colonização
Aula 7

A África no Planeta Terra

1
08/04/2020

A Exuberância da África
• Quando se fala em ˘frica a maioria das pessoas não tem noção da
riqueza em vários setores que esse continente proporciona.
• Muitos imaginam animais selvagens, negros, miséria, guerras tribais,
etc., mas o continente tem muito mais diversidade do que imaginamos.
• Primeiro e mais importante, nesse imenso território teve origem o
lento processo de evolução humana há cerca de 4,5 milhões de anos –
estima-se que o ser humano moderno surgiu neste continente há cerca
de 150 mil anos e dele conquistou o planeta.
• Com cerca de 22% das áreas terrestres do planeta, o continente
africano possui desertos, neve, diamantes, abriga uma das maiores
biodiversidades do planeta, é o local do maior rio do planeta, possui
inúmeros monumentos naturais e históricos, com uma variedade étnica
e cultural riquíssima.

• A formação geológica da superfície africana remonta provavelmente ao


período situado entre 3,6 bilhões e 300 milhões de anos atrás, quando
se consolidaram e se formaram a cordilheira do Cabo Fold Belt na
˘frica do Sul e os Montes Atlas no Marrocos, na extremidade norte do
Continente.
• A Antiguidade de sua formação geológica produziu diversas massas
rochosas conhecidas como cratões que ocupam mais da metade de sua
superfície, e abrigam formações minerais riquíssimas e antiquíssimas.
• Cercado por grandes volumes de água, banhado pelos oceanos ¸ndico e
Atlântico e pelos dos mares Vermelho e Mediterrâneo, em sua
superfície estão as mais impressionantes reservas naturais do planeta.
• A região ao norte da ˘frica do Sul possui reservas inesgotáveis de
ouro e diamante.
4

2
08/04/2020

• Há ainda em grandes quantidades, a platina e outros metais raros


como o rutênio, ródio irídio, níquel, cobre e cobalto.
• Em menor proporção, tais minérios podem ser encontrados de um canto
a outro do continente, que também abriga inúmeros reservatórios de
petróleo.
• Além das riquezas, a diversidade de ambientes impõe dificuldades a
população africana e aos exploradores de outros continentes.
• Aos imponentes desertos do Saara ao Norte e Kalahari ao Sul, se
sucedem amplas áreas de vegetação densa, florestas tropicais e de
vegetação mediana das savanas, bacias hidrográficas de rios
caudalosos como o Nilo, o Níger, o Cuanza e o Zambeze.
• Graças a essas riquezas naturais, a ˘frica foi o primeiro lugar do
planeta a possuir condições de abrigar vida, desde os dinossauros até
os primeiros mamíferos e humanos.

Lucy
• Lucy é um fóssil de pouco mais de 3 milhões de anos encontrado em
1974 no deserto de Afar na Etiópia, no nordeste da ˘frica.
• Foi classificado com o nome científico de Autralopithecus afarensis.
• O que facilitou muito no estudo de Lucy foi que foram encontrados um
mais de 40% do total de seu esqueleto, permitindo assim a
reconstrução de seu corpo para estudos.
• O esqueleto de Lucy desenha uma silueta muito frágil – pelas
proporções dos ossos, devia medir pouco mais de um metro.
• Era do sexo feminino e, pelo fato de que os dentes do siso estavam
pouco gastos, estudiosos afirmam que era de uma mulher jovem cuja
idade era aproximadamente de vinte anos.

3
08/04/2020

Lucy – o fóssil

Homo Habilis
• Homo habilis é uma espécie de hominídeo que viveu por volta de 1,5
milhão de anos atrás.
• Os primeiros fósseis foram descobertos em 1964 na Tanzânia, na
˘frica oriental.
• O nome foi atribuído pelo fato de possuir algumas habilidades físicas e
por conseguir manipular artefatos e atuar sobre o meio natural –
construção de objetos de ossos ou lascas de pedra para abater caçar
animais – um caçador que também era presa de felinos.
• Desenvolveu atividades em grupo, de forma gregária.
• Com o Homo Habilis se desenvolveram as primeiras manifestações de
linguagem oral, permitindo a comunicação e a transmissão de
conhecimento – provavelmente as primeiras bases da tradição social.

4
08/04/2020

• Outro fator de grande importância foi a conquista e controle do fogo


usado para aquecer o seu corpo contra o frio, se proteja da escuridão e
de ataques de animais perigosos.
• Porém, foram preciso milhares e milhares de anos para que o homem
começasse a usar o fogo para assar a carne de sua caça ou o peixe.
• Com o uso do fogo para a alimentação as variações vão modificando e
com isso o homem vai ampliando suas receitas e as possibilidades de
alimentação – pesquisadores associam o domínio do fogo e ampliação
no consumo da carne como fatores chaves para evolução humana.
• Existe consenso de que o continente africano foi o grande berço do
desenvolvimento da humanidade até o homo sapiens atual porque
apenas nesse continente pode-se acompanhar o processo completo de
transformação dos primatas em homens.

O Grande Zimbábue
 Mais para o sul, no litoral da ˘frica Austral, onde na atualidade estão
situados Moçambique e Zimbábue, floresceu a mais extraordinária e
também a mais enigmática civilização africana.
 Os vestígios materiais dessa civilização foram encontrados em 1873
perto da atual cidade de Masvingo pelo naturalista alemão Karl
Mauch.
 Quando ele se deparou com o monumento que ficou conhecido como
Grande Zimbábue, termo que designa „grande casa de pedra‰,
imaginou ter encontrado o reino perdido da rainha Sabá.
 Tempos depois ficou provado que se tratava de uma criação
genuinamente negro-africana, sem qualquer influência exterior.

10

5
08/04/2020

11

Monumento Grande Zimbábue

12

6
08/04/2020

Rio Limpopo
 Em 1932 um camponês encontrou as margens do rio Limpopo, numa
elevação considerada pelos moradores locais uma colina sagrada,
inúmeros restos de objetos revestidos em ouro, que lembravam em
muito os objetos encontrados no século passado em Zimbábue.
 Esses objetos confirmaram a riqueza cultural e política desse povo.
 Com esses objetos e outros achados, observou-se que:
 O poder central do Estado do Grande Zimbábue estava nas mãos de chefes e
sacerdotes que controlavam o culto do Mwari e os sacrifícios dedicados aos ancestrais;
 Mantinham um comércio de minérios com os comerciantes árabes e muçulmanos.

 Em 1300, estavam lançadas as bases de um Estado poderoso e


influente, cujo centro encontrava-se no Grande Zimbábue e cuja esfera
de poder atingia uma vasta região da ˘frica Austral.
13

Rio Limpopo

14

7
08/04/2020

Difusão do Islamismo na África


• Para entendermos a influência da cultura africana na formação da cultura e
sociedade brasileira, é importante entendermos o processo histórico da
própria formação africana, a sua diversidade e aculturação.
• Desde a antiguidade o norte da ˘frica manteve relações político-
econômicas com o mundo extra-africano.
• A fixação de mercadores de origem Síria (fenícios) na cidade de
Cartago (na atual Tunísia) transformou o local em pólo comercial
dinâmico que na metade do primeiro milênio a.C. controlava uma vasta
área de influência comercial.
• Após as Guerras Púnicas com a derrota de Cartago em 146 a.C a ˘frica
Mediterrânea passou ao domínio romano.
15

• Esse fator influenciou diretamente o desenvolvimento da cultura latina


no norte da ˘frica e, por esse motivo, muitos não conseguem associar
os países do norte da ˘frica como pertencentes ao „Continente Negro‰.
• Durante muitos séculos o preconceito foi tanto que se considerava
inadmissível tal cultura „profana‰ pertencer a um continente que trazia
culturas „sagradas‰ em sua construção.
• A influência cristã diminuiu após o colapso do Império Romano no fim
do século V.
• O lado de baixo do mar Mediterrâneo seria influenciado por outra
religião monoteísta de caráter universal, o islã, de modo similar ao que
tinha ocorrido com as comunidades do litoral do Oceano ¸ndico.
• O litoral do Mar Mediterrâneo funcionou como uma via privilegiada de
expressão do islamismo a partir do século VII.
16

8
08/04/2020

Difusão do Islamismo na África

17

• O ponto de partida se deu a partir do Egito – conquistado em 642 e a


partir de então o islamismo se difundiu para o sul e oeste.
• Para o Ocidente avançou através de territórios até então mantidos sob
domínio mais ou menos efetivo do Império Bizantino – ocupados pelos
povos berberes.
• Durante séculos o Islã foi dinamizando a sua aculturação e imposição
religiosa no continente africano.
• Cada vez mais se fundavam comunidades mulçumanas em cidades que
desempenhariam um importante papel como centro e rotas comerciais.
• No final do século X todo o norte da ˘frica era recortado por caravanas
de camelos que iam e vinham ao Oriente Médio, levando e trazendo
mercadorias de grande valor comercial – o destino dessas caravanas
eram as terras situadas do outro lado do Saara.

18

9
08/04/2020

As Rotas do Saara
 Desde os primórdios do Islã, a difusão dos preceitos religiosos do
corão era feita em áreas de atuação dos mercadores – assim se deu
nas estepes da ˘sia Central, na ¸ndia e na Indonésia.
 O mesmo se verifica na ˘frica subsaariana e, nesse caso, os difusores
da crença acompanhavam as caravanas oriundas do Egito e do Magreb.
 As informações sobre as atividades comerciais dos africanos estão
registradas no tratado de geografia escrito por Al-Bakri (século XI).
 No século XI havia duas rotas principais de ligação no sentido norte-
sul, bem conhecidas das populações saarianas:
 Uma partia do atual Marrocos e terminava no Sudão Ocidental, entre as atuais
Senegal e Mali;
 A outra partia das atuais Tunísia e Líbia até atingir o Sudão Central, onde está
situada a República do Chade.

19

• As caravanas eram compostas pelos Tuaregues, povos de pastores


seminômades criadores de camelos, cabras e carneiros.
• Também organizavam e protegiam as caravanas comerciais.
• Adaptaram seu estilo de vida ás condições do deserto, organizando-se
em Kabilas (tribos), entre a quais as mais importantes eram as dos
povos Lamtuna, Sanhaja e Mussafa.
• Circulavam através do extenso território que abrange hoje o sul do
Marrocos e o norte da Nigéria, correspondendo ao centro-oeste da
região norte da ˘frica.
• Ao longo dos séculos, tornaram-se especialistas no transporte de
mercadorias no lombo dos camelos, em localizar oásis e poços de água,
em atacar ou defender grupos de mercadores e em localizar negócios.

20

10
08/04/2020

• Em seu longo percurso histórico, aqueles povos construíram identidades


e desenvolveram tradições autônomas, dinâmicas e originais.
• Interagiram com culturas de matriz cristã e matriz mulçumana.
• Seu cotidiano estava ligado a aridez e as variações extremas de
temperatura no deserto além de suas dunas e tempestades de areia
que faziam o deserto mudar de forma constantemente.
• As condições de sobrevivência na viagem dependiam de quando os
caravaneiros permaneciam juntos ao grupo.
• O conhecimento da direção correta e dos pontos de apoio e de
reabastecimento de água era privilégio de poucos conhecedores do
deserto, chamados de Taksif – os guias das caravanas.

21

• A eles cabia a missão de irem a diante dos demais caravaneiros,


deixando-lhes as indicações do caminho e se adiantando nos locais de
parada, preparando a chegada dos demais.
• Como se tratava de conhecimento adquirido com a experiência, eram os
melhores que retinham de memória todo o caminho da viagem.
• As caravanas era integradas a dezenas de cameleiros.
• Das mercadorias envolvidas a mais importantes eram o sal que durante
muito tempo foi moeda de troca nas relações comerciais do deserto,
tecidos, temperos e armas, além de ouro e escravos.

22

11
08/04/2020

Colonização Portuguesa
 Em 1531 os lusitanos chegam à ˘frica Austral e constroem fortificações
nas margens do rio Zambeze para escoar ouro para Moçambique.
 Pesquisas apontam que havia uma nítida divisão social do trabalho e
grupos especializados que atuavam na organização social, com artesãos
especializados em cobre e ferro, ourives, escultores, oleiros e tecelões.
 Em 1550, o aventureiro Antônio Caiado instalou-se por sua própria
conta na região, ganhou prestígio e influência.
 Logo depois chegaram os primeiros jesuítas, tendo início a
evangelização da população local ao cristianismo.
 Desde então a cultura de Zimbábue vai se perdendo e mistura-se com a
européia – esse é um dos primeiros indícios de dominação externa.

23

• A ultrapassagem do Cabo da Boa Esperança por Bartolomeu Dias em


1488 e a conclusão da circunavegação da ˘frica pelos portugueses teve
consequências decisivas para os povos africanos da costa oriental.
• Em 1498 o navegador Vasco da Gama completou a rota que levava ao
mercado das especiarias e no caminho se deparou com vários povos e
cidades mercantis africanos.
• A partir de então, todo o século XVI seria marcado pela disputa
comercial, política e bélica entre europeus, africanos e árabes pela
hegemonia das rotas e mercados do comércio oriental.
• Nas primeiras décadas daquele século, os navegadores e mercadores de
origem lusa instalaram-se em várias cidades e, sustentados pela
ideologia cristã da luta contra o infiel muçulmano, conquistaram
territórios ocupados pelos chefes árabes, persa e muçulmanos.
24

12
08/04/2020

25

A Colonização Africana
• No século XVII outros países entram na história da conquista e
dominação no Continente Africano, travando brigas com a hegemonia
dos portugueses.
• Da parte européia eram os mercadores e navegadores holandeses,
ingleses e franceses, que se tornaram concorrentes cada vez mais bem
equipados na disputa por fatias de espaços de comercialização e
colonização até meados do século XIX.
• Da parte oriental, eram sultões de Omã, que primeiro expulsaram os
portugueses da Arábia e depois se impuseram nos negócios das
cidades costeiras, até se instalarem de forma definitiva em Zamzibar
no ano de 1840.

26

13
08/04/2020

• Devido a intensa interação entre diferentes povos devido às


sucessivas colonizações, a ˘frica tornou-se um continente forte e com
uma cultura extremamente diversificada.
• Muito da cultura brasileira tanto no que se refere a questão
patrimonial quando a questão biológica estão ligadas ao continente
africano.
• As rotas escravagistas foram as grandes responsáveis por essa fusão
já no século XVI – dois terços da população eram escravos africanos.
• Esse processo de dominação externa na ˘frica Austral deu início a um
longo período de muitas lutas e perda de identidade, que só terminaria
a partir da metade do século XX.

27

Atividades da Aula 7
1. Em que continente ocorreu a evolução do ser humano? E quantos anos estima-se que essa
evolução ocorreu? Cite algumas características do continente?
2. Quais os oceanos e mares que banham a África?
3. O que é Lucy?
4. Quais as características de Lucy?
5. O que é o homo habilis? Onde viveu? Porque era assim chamado?
6. Que evento também é creditado ao homo habilis?
7. O que é a grande Zimbábue?
8. O que se encontrou nas margens do rio Limpopo?
9. O que pode ser deduzido sobre esses achados? A África era um continente isolado a cerca
de 2000 anos atrás? Quais os fatos narrados na aula que aconteciam e onde aconteciam?
Quem dominava o território africano?
10. O que aconteceu na África a partir do século V? Onde foi o ponto de partida?
11. Qual a situação na África no final do éculo X? Quais eram as rotas do SAARA?
12. Como eram compostas as caravanas que existiam na região? Quais as suas
características?
13. Quando e porque se iniciou a colonização portuguesa na África?
14. Qual o grande impacto na população em decorrência da presença portuguesa?
15. Quais os eventos que intensificaram a presença portuguesa no sul da África?
16. Quais os outros países que participaram da colonização africana?
17. Qual a ligação da cultura brasileira com o continente africano?
28

14
08/04/2020

Direitos Humanos e Relações Étnico-Raciais

O Tráfico de Escravos
Aula 8

Tráfico de Escravos
 O tráfico internacional de escravos produziu consequências econômicas,
sociais e demográficas profundas e duradouras para os africanos e para
muitos outros países como o Brasil e os Estados Unidos.
 O aprisionamento e a privação de liberdade de milhões de seres humanos,
agravados pelo seu deslocamento forçado para outras partes do mundo,
teriam provocado a maior emigração de toda a história.
 Ao provocar o deslocamento das populações africanas, a escravidão e o
tráfico de escravos deram origem a um novo fenômeno: o da transposição
de elementos das culturas africanas.
 A cultura afro-brasileira é o conjunto de manifestações culturais do Brasil
que sofreram algum grau de influência da cultura africana desde o período
colonial até a atualidade, principalmente no período da escravidão –
influenciou as culturas européia e indígena, encontrando-se mescladas em
várias manifestações culturais.

1
08/04/2020

A Escravidão Africana
 A avaliação histórica do fenômeno da escravidão na ˘frica é difícil de
ser feita devido a carência e, em alguns casos, total ausência de fontes
primárias e, sobretudo, do caráter parcial das fontes.
 As informações disponíveis foram escritas na maioria das vezes pelos
próprio escravocratas, por não africanos ou seus representantes e
defensores, o que não permite conclusões sobre a situação real.
 A principal causa do tráfico africano era o fato de existirem interesses
comerciais extra-africano (necessidade de mão-de-obra) e interesses
comerciais de lideranças africanas, chefes locais ou chefes de linhagem
que tinham autoridade sobre seus povos.
 Foi um terreno fértil para os mercadores de escravos.

As Razões da Escravidão
 A escravidão ocorria nos vários povos do continente africano por
motivos diferentes, dos quais se destacavam:
– compra e venda;
– dívidas;
– guerras tribais.

 É importante entender que, na época, os povos africanos eram


organizados em sociedades hierarquizadas nas quais existiam os
camponeses, criadores de animais, artesãos e mercadores e as castas
privilegiadas compostas por caçadores ou guerreiros – o termo que se
usa era „escravidão de linhagem‰.
 Era uma forma de exploração cuja característica se encontra numa
relação entre dois seres humanos, um considerado sujeito e
proprietário e outro considerado objeto e propriedade.

2
08/04/2020

O Desenraizamento
 Um dos recursos encontrados por chefes para expandir o seu poder era
formar exércitos de soldados compostos por cativos.
 Esses exércitos foram importantes quando a escravidão assumiu outro
significado ao ser integrada nas relações comerciais mais amplas.
 Nessa situação, os indivíduos passavam por um duplo processo de
desenraizamento:
– Primeiro, quando eram arrancados do local e da comunidade que faziam parte e
colocados em cativeiros;
– Depois eram deslocados para terras longínquas, submetidos a outras regras
sociais e a outras formas culturais, além de sofre extrema violência física.

 Além disso, ao serem inseridos em grupos estranhos em posição de


subordinação, eram excluídos e desprovidos de espaço de convivência
com a comunidade circundante.

Panorama Geral
 Enfim, o tráfico e escravos foi um elemento muito importante para a
desagregação de diversas populações africanas, mas é importante
destacar que foi um fenômeno amplo.
 A existência de escravos negros africanos já era comprovada jdesde o
tempo das cidades greco-romanas.
 A diferença é que, naquelas épocas, o número de escravos era pequeno
porque eram utilizados pelos ricos em serviços pessoais e domésticos.
 Um novo quadro ganhou forma a partir do século VIII quando os
mercadores árabes mulçumanos passaram a comercializar em larga
escala cativos trazidos do interior do continente.
 Assim a servidão africana começa a se espalhar pelo mundo e, com a
agricultura em larga escala na América, ganha ampla dimensão.

3
08/04/2020

A Escravidão no Brasil
• Quando os portugueses se estabeleceram no Brasil no século XVI e
com o desenvolvimento da economia da cana de açúcar, a escravidão
tornou-se um negócio vultoso e organizado com uma vasta rota
triangular que uniu Europa, ˘frica e América.
• Esse fator econômico, político e social, transformou milhões de
africanos em lucrativa moeda de troca.
• Manufaturas européias eram levadas para a ˘frica e trocadas por
escravos em entrepostos costeiros.
• Os africanos eram conduzidos em porões de navios conhecidos como
„navio negreiro‰ e apelidado por muitos como „tumbeiro‰.
• Eram conduzidas no porão desses navios, comercializados nas grandes
cidades e trabalhavam até a morte nas grandes plantações.

4
08/04/2020

 No século XVII os holandeses e ingleses eram os maiores traficantes


de escravos do planeta mas, com as severas restrições impostas pelos
governantes nesses países, o cenário mudou.
 A partir do século XVIII os portugueses radicados no Brasil e os
brasileiros eram os que dominavam esse comércio, desde sua captura
na ˘frica até a sua comercialização final.
 Quando chegaram ao Brasil o portugueses já conheciam bem o negócio:
os primeiros escravos negros chegaram a Portugal em 1441 a bordo
de nau com retornando da Guiné.
 De início houve restrição real à escravização de africanos – utilizados
apenas em serviços domésticos e com certa moderação, mas com o
início da lavoura canavieira nos Açores e Cabo Verde, mais que
tolerada, passou a ser incentivada – no Brasil foi questão de tempo.

Atividades da Aula 8
1. Qual a principal dificuldade para avaliar o fenômeno da escravidão?
Quais as principais causas da escravidão africana, externa e
interna?
2. Como eram organizadas povos africanos?
3. Porque os chefes tribais escravizavam as pessoas?
4. Como os chefes expandiam seus domínios?
5. O que se fez com os exércitos de cativos?
6. Como era o desenraizamento dos cativos?
7. Existia escravidão anterior no período greco-romano? Se positivo,
como era?
8. Como era o sistema triangular que sustentou a escravidão no
Brasil?
9. Quem eram os grandes traficantes de escravos? Em que época?
Por que os ingleses cessaram de traficar escravos?

10

5
08/04/2020

Direitos Humanos e Relações Étnico-Raciais

Os Escravos no Brasil
Aula 9

Chegada ao Brasil
 A mais antiga referência à importação de africanos para o Brasil é
encontrada num documento escrito em São Vicente em março de 1533,
no qual Pero de Góis pede ao rei „dezessete peças de escravos forros
(livres) de todos os direitos e frete que soam (consigam) pagar‰.
 Em 1539, Duarte Coelho, donatário de Pernambuco, repete o pedido,
insistindo também na isenção de impostos.
 Pelo Alvará de março de 1559, o rei D. Sebastião decidiu „fazer mercê
aqueles que tinham construído engenhos no Brasil‰, permitindo-lhes
„mandar resgatar aos rios do Congo e trazer de lá para cada um dos
engenhos até 120 peças de escravos resgatadas à suas custas‰ – com
o Alvará iniciou-se o tráfico em larga escala.
 Em 1585, segundo José de Anchieta, já eram 120 mil os escravos
africanos vivendo em Pernambuco – é considerada exagerada.

1
08/04/2020

 De qualquer forma, exagerada ou não, iniciava-se o enorme e intenso


comércio de escravos envolvendo o Brasil, fato este que iria durar
cerca de 300 anos ou três séculos.
 Em grande parte o comércio de escravos iniciou-se devido ao elevado
número de mortes dos indígenas nos primeiros anos da colonização.
 As mortes dos indígenas ocorriam nos aldeamentos, nas senzalas e
engenhos devido à difícil adaptação às atividades agrícolas (viviam
livremente antes do descobrimento) e também porque os índios
Tupinambás, predominantes nas regiões, eram extremamente
violentos, o que dificultava sua domesticação.
 Mais do que isso, os jesuítas também defenderam a libertação da
mão-de-obra indígena em favor do uso da mão de obra escrava porque
suas características se encaixavam com a agricultura, o que rendia
mais e dava menos trabalho social e político ao colonizador.

 Enfim, era um negócio altamente rentável, mesmo até porque os escravos


eram muito baratos na ˘frica.
 O mesmo navio que levava o açúcar dos engenhos do Brasil para várias
cidades da Europa passava pelo continente africano para negociar
escravos com mercadorias e retornava ao Brasil abarrotado de escravos
que eram trocados por açúcar – um sistema triangular.
 Em média o dono do escravo levava cinco anos para receber o que fora
investido em um escravo, pago com trabalho do próprio escravo.
 Devido à outros rendimentos oriundos do trabalho escravos, estes eram
vistos pelos senhores como algo bem lucrativo para os seus negócios.
 Nos primeiros anos da colonização, devido aos maus tratos constantes,
jornada de trabalho de até dezoito horas, alojamento precários e rações
exíguas, os escravos viviam mais do que sete anos.

2
08/04/2020

 A dimensão do negócio era tão ampla que, nesse período, o membro da


elite que não possuía um escravo se sentia humilhado e preferia voltar
para Portugal a se submeter a tal humilhação.
 O preço baixo e a facilidade de substituir as „peças‰ facilitava a
escravidão porque entre duas opções que dividam os senhores de
escravos – criá-los ou comprá-los, sempre optaram pela segunda.
 A mortalidade infantil era intensa entre os escravos devido à
precariedade que do ambiente em que viviam.
 Além disso, nesse primeiro momento era difícil a reprodução porque o
número de mulheres comercializadas era extremamente baixo – cerca
de cinco vezes menor do que o número de homens.
 Ou seja, muitos fatores conspiraram pela manutenção do sistema
escravista.

• A máquina escravista que se estabeleceu primeiro nos engenhos (que


„gastavam‰ cerca de duzentos escravos por ano, cada) e depois nas
Minas Gerais, associada ao costume de substituir o escravo morto pelo
moribundo seguinte, transformou o Brasil na maior nação escravista
do Novo Mundo – aquela que mais dependia dos escravos.
• O resultado desse fatores estavam impregnado na economia, política,
nas questões morais e sociais, pilares da nova sociedade que se
estabelecia no Brasil.
• Enquanto isso para fortalecer e estabelecer essa realidade da
sociedade brasileira, na ˘frica, lavradores, aldeões eram capturados
aos milhares por outros africanos caçadores de homens, que, em geral,
utilizavam os mesmo métodos utilizados traficantes europeus.
• Os negros capturados nessa busca frenética eram conduzidos a
feitorias à beira-mar e a seguir embarcados para o „Novo Mundo‰.

3
08/04/2020

• No século XVII (anos de 1600), encerra-se o ciclo de Guiné e começa o


ciclo de Angola durante o qual cerca de 600 mil escravos foram
comercializados.
• A maioria desses escravos foram introduzidos em Pernambuco e Rio
de Janeiro, de onde partiam para Minas Gerais e São Paulo.
• No início do século XVIII inicia-se o ciclo da Costa da Mina
(sudaneses), período em que cerca de 1,3 milhão de escravos foram
comercializados – nessa época os traficantes portugueses, holandeses
e ingleses foram amplamente superados pelos traficantes brasileiros.
• O ciclo da Costa da Mina perdurou até 1815 quando o tráfico de
escravos passou a ser duramente reprimido pela Inglaterra.
• De 1815 até 1851, mesmo ilegalmente o tráfico persistiu e, de acordo
com alguns estudiosos, em condições mais cruéis.

“Mercadorias”
• Nas últimas fases do tráfico era o Rio de Janeiro e não mais Salvador
o grande centro escravista do Brasil – escravos eram desembarcados
no porto, pagavam impostos (5% de seu valor) e eram postos à venda
nos mercados do Valongo, no centro da cidade.
• Neste local eram expostos „nus, cabelos raspados, parecendo objetos
medonhos (...) marcados com ferro quente no peito (...) cobertos de
feridas extensas e corrosivas (...) com fisionomia estúpida e pasma‰.
• O inglês Robert Walsh relatou que até mulheres iam as compras,
examinavam suas „compras‰ e levavam-nas embora com a mais
perfeita indiferença, como se comprassem um cão ou uma mula – a
preferência recaía sobre os negros „minas‰ porque o bantos eram
considerados mais fracos e suscetíveis a doenças.
• Fortes ou fracos, quase nenhum completaria uma década trabalhando.

4
08/04/2020

O Trabalho e o Cotidiano
 Quando chegavam ao Brasil, os escravos já haviam em seu continente
ou em outros lugares trabalhado com a cana-de-açúcar.
 Além de terem outras experiências de trabalho tais como
derrubadores de mata e semeadores, vaqueiros, rameiros,
pescadores, mineiros e lavradores.
 Além disso, muitos eram artesões como os cadeeiros, marceneiros,
ferreiros, pedreiros e oleiros, além de serem trabalhadores
domésticos e pajens, guarda-costas, capangas, capitães de mato,
feitores, capatazes e até mesmo carrascos de outros negros.
 Carregavam baús, caixas, cestas, caixotes, lenha, cana, quitutes, ouro
e pedras, terra e até dejetos, transportavam cadeirinhas, redes e
liteiras onde, sentados ou deitados, seus senhores passeavam.

 Além dessas tarefas eles também se destacaram em outras funções


como os braços e olhos dos donos das minas, pastores de rebanhos e
bestas de carga.
 Foram os ombros, as costas e as pernas que fizeram andar o Brasil
colônia e, mais tarde, o império brasileiro.
 Encontravam-se escravos negros em todos os lugares do Brasil:
cidades, lavouras, vilas, senzalas, portos, mercados, palácios, etc.
 Eram as mãos e os pés dos seus senhorios.
 Também foram o ventre que gerou a imensa população mestiça e o seio
que amamentou os filhos dos senhores.
 Deixaram uma herança profunda: em mais 500 anos de história, o o
Brasil teve 300 anos de regime escravocrata.

10

5
08/04/2020

 „Se há um povo dado á preguiça, sem ser o português, então não sei
onde ele exista (...) Esta gente tudo prefere suportar a aprender uma
profissão qualquer‰, escreveu o humanista holandês Nicolau Clenardo
ao visitar Portugal em 1535.
 Quando visitou o Brasil em 1808, o inglês Jonh Luccock comentou que
os brancos se julgavam „fidalgos demais para trabalhar em público‰.
 Meio século depois, o inglês Thomas Ewbank escreveu que no Brasil
„um jovem preferia morrer de fome a abraçar uma profissão manual‰
– mais ainda, também escreveu que „a escravidão tornara o trabalho
desonroso – resultado superlativamente mau, pois inverte a ordem
natural e destrói a harmonia da civilização‰.
 E não eram arrogância britânica: para Luís Vilhena, mestre português
que ensinava grego na Bahia, o Brasil era o „Berço da Preguiça‰.

11

As Escravas
 O Brasil é um dos maiores países do mundo, nasceu no ventre escravo
– rara são as sociedades coloniais nas quais houve tamanho intercurso
sexual entre senhores e suas escravas como nos trópicos brasileiros.
 A partir do momento que o tráfico de „escravas‰ aumentou e o
trabalho forçado adquiriu feições domésticas, muitas escravas foram
transferidas da senzala para o seio da casa-grande.
 Eram amas-de-leite e mucamas „escolhidas dentre as mais limpas, as
mais bonitas e as mais fortes‰ como observou Gilberto Freyre em seu
livro Casa Grande e Senzala, clássico da historiografia brasileira.
 Tanto na sociedade portuguesa quanto na brasileira, mãe que se
prezasse jamais amamentava o seu bebê – são incontáveis as crianças
brasileiras dos períodos da colônia, do Império e mesmo do início da
República que não foram alimentadas por mães negras.

12

6
08/04/2020

 Joaquim Nabuco colheu em um manifesto escravocrata de fazendeiros


as seguintes palavras: „A parte mais produtiva da propriedade
escrava de Olinda é o ventre gerador‰.
 A mulher negra sofreu diversos abusos em todas as categorias da
sociedade colonial e imperial brasileira.
 Perseguida para ter relações com seus senhores, torturadas pelas
esposas desses senhores e espancada por membros da sociedade de
que via na mulher negra apenas um objeto para servi-lo de todas as
maneiras, suprindo todas as suas vontades.
 Mas nada do que ocorreu neste país pode esconder uma verdade nua e
crua de tudo o que ocorreu: é no ventre dessa mulher perseguida que
encontramos muito mais do que a metade do que é hoje a população
brasileira.

13

 A miscigenação ocorrida no período escravocrata é a base mais forte


da construção da cultura social brasileira, excetuando-se os aquelas
derivadas de outros povos que chegaram ao Brasil após a escravidão.
 A partir desse intenso processo de miscigenação podemos entender
grande parte da nossa identidade e, graças ao trabalho dos
historiadores, entendemos as raízes de nossa cultura.
 Essas raízes estão desde o patrimônio imaterial, como as comidas
criadas pelas mulheres, até as mais diversas danças, rezas e cantigas.
 Patrimônio inegável, as mulheres negras construíram e fortaleceram a
nossa história, enfrentaram seus senhorios, a igreja e a sociedade,
transformaram-se em vendedoras, quitandeiras e „mães de santo‰ e
atualmente se destacam dentro da formação social do Brasil.
 Essa é uma das principais razões pela qual nosso país se encontra na
condição de ser o mais diversificado culturalmente do planeta.

14

7
08/04/2020

Atividades da Aula 9
1. Qual a mais antiga referência à escravidão no Brasil?
2. Quem dava a autorização para a importação de escravos?
3. Quantos anos aproximadamente duraram a escravidão no Brasil? Entre
quais períodos?
4. Quais os fatos que contribuíram para a intensificação na importação de
escravos? Qual a justificativa dos jesuítas para apoiar a importação de
escravos?
5. Como eram as condições dos escravos os primeiros anos da escravidão?
Porque os escravos eram comprados e não criados?
6. Quantos escravos foram trazidos ao Brasil? O que representa esse valor em
termos do tráfico internacional de escravos? Por quais locais os escravos
ingressavam no Brasil? Para onde eram distribuídos?
7. Porque eram mais adaptados para a lavoura de cana-de-açúcar? Em quais
atividades trabalhavam?
8. Porque se considerava que o Brasil o “berço da preguiça”?
9. Cite influências das mulheres escravas.
15

8
08/04/2020

Direitos Humanos e Relações Étnico-Raciais

Luta dos Escravos e


Movimento Abolicionista
Aula 10

Conquista e Liberdade
 Até 50 anos atrás a historiografia brasileira preferiu adotar a tese
segundo a qual os escravos „se adaptaram bem‰ ao regime tirânico
que lhes foi imposto no Brasil – escrevia-se que a escravidão teria
sido relativamente branda.
 No início dos anos 60 surgiram os textos da chamada „Escola
Paulista‰ liderada por Florestan Fernandes e Fernando Henrique
Cardoso que elaboraram uma revisão no tema escravidão com a
finalidade de debater e combater o mito da democracia racial
defendido por Gilberto Freyre, onde se ressaltava a existência de
relações doces e benevolentes entre senhores e escravos.
 Esses pensadores questionaram e denunciaram os horrores da
escravidão, concluindo que as condições extremamente duras da vida
em cativeiro haviam destituído os negros das habilidades necessárias
para serem bem sucedidos na vida em liberdade.

1
08/04/2020

 As condições desfavoráveis da vida em cativeiro teriam retirado dos


escravos a capacidade de pensar o seu modo de vida fora do modelo de
organização político-social, econômica, jurídica e ideológica instituída
pela vontade do senhor de escravo,
 Ocorreu, assim, uma „coisificação social‰ no sentido de que a violência
exercida pelo sistema escravista fez com que os negros concebessem a
si mesmos como não-homens, como criaturas inferiores, como „coisas‰.
 Escreveu Fernando Henrique Cardoso: „Está claro que o processo de
aniquilamento pela socialização incompleta e deformadora das
possibilidades do escravo reagir como pessoa não era expressamente
deliberado pelos senhores. Ele resultava, indiretamente, das próprias
condições de trabalho, da representação do escravo como coisa e da
aceitação pelos cativos da representação de escravos que lhes era
imposta (...)‰.

 No entanto, sabe-se atualmente que a residência dos escravos foi feroz


e constante: milhares de negros lutaram de todas as formas contra
horrores que o destino lhes reservava.
 A fuga solitária ou coletiva não era a única forma de rebelião: houve
incontáveis casos de escravos que quebraram ferramentas, incendiaram
senzalas, dispararam os rebanhos ou atacaram seus feitores.
 Muitos outros optaram pelo suicídio (em geral pela ingestão de terra),
ou se deixaram acomodar pelo „banzo‰, o torpor mortal que levava à
morte por inanição.
 A forma mais comum de protesto contra a escravidão era a fuga:
mesmo com o rigor das punições (marcação com ferro em brasa,
açoitamento e até o corte do tendão de Aquiles), milhares de negros
tentaram escapar da senzala – e muitos conseguiram.
 Ou seja, certo é que, onde houve escravidão, houve resistência.

2
08/04/2020

 Quantos foram os quilombos e quantos negros neles viveram é algo


impossível de calcular – neles também se podiam encontrar indígenas e
brancos desajustados e foras-da-lei.
 Em 1930, o Guia Postal do Brasil registrava, segundo um pesquisador,
168 agências cujo nome derivava das palavras quilombo ou mocambu.
 Se espalhavam da Amazônia ao Rio Grande do Sul e alguns chegaram a
ter cerca de dez mil habitantes, como o quilombo do Ambrósio, em
Minas Gerais.
 Nessas povoações não viviam apenas negros de todos os grupos
étnicos, falando várias línguas diferentes.
 Embora autoridades e senhores de escravos constantemente se unissem
para articular expedições enviadas a todo e qualquer quilombo, muitos
desses núcleos resistiram por anos a fio.

Quilombo dos Palmares


 O maior e mais importante quilombo – Palmares, berço de Zumbi – foi
capaz de sobreviver por quase um século.
 Palmares foi o mais significativo e o mais simbólico dos quilombos não
apenas do Brasil mas também das Américas.
 Em nenhum outro lugar a resistência dos escravos fugidos foi tão
longa, bem sucedida e organizada em mocambos erguidos na Serra da
Barriga no sertão de Alagoas.
 As poucas fontes originais relatando a forte resistência e a trágica
derrota do quilombo foram regidas pelas mesmas pessoas que o
destruíram – não existe nenhum relato dos combatentes.
 Somente após três séculos depois de sua destruição a história de
Palmares começou a ser reescrita.
6

3
08/04/2020

 Palmares não era apenas um mas doze quilombos com cerca de 20 mil
habitantes e 6 mil casas unidos por uma rede de trilhas na mata – no
quilombo do Macaco, com cerca de 2 mil habitantes, viveram o „rei‰
Ganga Zumba („Grande Senhor‰) e seu sobrinho Zumbi.
 Começou a ser erguido em 1.602 por 40 escravos fugidos de engenhos
de Pernambuco e foi destruído em fevereiro de 1.694, ou seja, sua
existência prolongou-se por quase um século.
 Localizava-se na serra da Barriga a cerca de 90 quilômetros a noroeste
de Maceió mas possuía uma área de influência que alcançava cerca de
200 quilômetros,²compreendendo também o Estado de Pernambuco.
 Não se sabe qual era a língua predominante no quilombo.
 De 1.656 a 1.678 o líder do Quilombo foi Ganga Zumba.

 Em novembro de 1.678, Ganga Zumba foi ao Recife e firmou tratado


de paz com o governador Souza Castro: seriam livres os negros
nascidos em Palmares, ao passo que os outros habitantes do quilombo
deveriam ser entregues as autoridades.
 Seu sobrinho Zumbi descordou do acordo e destituiu Ganga Zumba,
assumindo o movimento de resistência dos Palmares.
 A partir disso o quilombo foi atacado dezenas de vezes.
 Em 1.692, Domingos Jorge Velho, bandeirante paulista, foi contratado
para atacar o quilombo e em 6 de fevereiro de 1.694 foi destruído,
mas Zumbi escapou.
 Foi morto por André Furtado Mendonça quase dois anos depois: sua
cabeça foi exposta em praça pública „para satisfazer os ofendidos e
justamente queixosos e aterrorizar os negros que o julgavam imortal‰.
8

4
08/04/2020

Movimento Abolicionista
 Entre os primeiros movimentos contra o tráfico escravagista esteve a
pressão estrangeira, mais propriamente a que era feita pela
Inglaterra, cuja preocupação não era com o negro pois este,
igualmente, não era reconhecido como ser humano.
 O interesse era, na verdade, sustentado por motivos econômicos
daquele momento histórico.
 Durante a sua cruzada de quarenta anos (a partir de 1.810) contra o
comércio de escravos no Brasil, a Inglaterra negociou uma série de
tratados com os governos do Brasil e de Portugal, tendo sido eles
recebidos com grande relutância por parte dos governos brasileiros.
 Os ingleses sempre tiveram consciência de que a oposição aos tratados
pela maioria dos cidadãos mais poderosos estava relacionado com a
questão dos escravos.

 Mais tarde, os brasileiros não resistiriam às pressões dos ingleses e


chegaram a um acordo para diminuição gradual do tráfico escravagista.
 O tráfico, porém, era feito às escondidas, e não demorou muito para
que os ingleses começassem a destruir os navios negreiros do Brasil.
 Na mesma época, outro movimento que sinalizou o declínio da
escravatura foi o Projeto de Lei do Ventre Livre, que estabelecia o
início do estágio de evolução para um sistema de trabalho livre e
continha previsão do nascimento livre.
 Para os proprietários de escravos, o Projeto era uma certeza de
prejuízo e perda de patrimônio e se posicionaram contra a proposição.
 No entanto, esse Projeto foi o passo mais importante para o fim do
sistema escravagista.

10

5
08/04/2020

 Seguiu-se a esse Projeto a crescente reação dos próprios negros, que


resistiam de forma cada vez mais intensa à manutenção da escravidão.
 Somou a isso as pressões dos intelectuais abolicionistas para extinguir
de vez essa condição opressora, em vez de diminuí-la.
 Anunciada com grande reforma, a lei era um compromisso intrincado
mas que contribuiu significativamente para o colapso da escravatura.
 O abolicionismo, de fato, crescia e disseminava-se pelo Brasil, com
grande contribuição dos intelectuais e juristas em favor da causa.
 Joaquim Nabuco escreveu que pouco tempo faltava para que a
humanidade estabelecesse por meio do Direito Internacional o princípio
de que não há propriedade do homem sobre o homem.
 A escravidão estaria em contradição com os direitos que confere a
natureza humana.

11

 Após a Guerra do Paraguai, configura-se a necessidade de recuperação


e de modernização da economia.
 Soma-se também o fato que muitos escravos e ex-escravos haviam
lutado na guerra e voltaram posteriormente como heróis.
 Mas a grande imprensa não se mostrava a favor da causa abolicionista
porque estava ligada aos interesses agrícolas e comerciais.
 Nesse momento da história a Lei Magna protegia o cidadão brasileiro
contra a escravidão de qualquer natureza, por meio da Constituição,
mas a Lei não considerava os escravos como cidadãos brasileiros –
eram considerados estrangeiros ou não tinham pátria.
 Mas o direito à liberdade dos escravos também tinha um fundamento
na esfera econômica porque a escravidão não era mais lucrativa para a
economia brasileira – era cada vez mais evidente que os trabalhadores
livres e assalariados como mão-de-obra.

12

6
08/04/2020

São Paulo e o fim da Escravidão


• Para os abolicionistas a escravidão já tinha acabado, mas ganhou um
impulso final quando se tornou evidente pelo resultado do interior de
São Paulo, onde a maioria da força de trabalho era de trabalhadores
livres e que o trabalho escravo era um modo de produção anacrônico.
• Ressalte-se que grande parte dos abolicionistas apoiava as
indenizações pela perda dos escravos enquanto lutavam pelo fim da
escravidão, evidenciando que as classes dominantes „abolicionistas‰
ainda entendiam que os escravos eram uma propriedade a defender.
• Mas, em 7 de maio de 1888, o Congresso anunciou a decisão pela
imediata e incondicional extinção da escravidão no Brasil.
• A partir desse momento, os senhores e os escravos teriam que
estabelecer entre si uma relação trabalhista remunerada.

13

A Lei Áurea e o Preconceito Racial


• Mas esse fato pouco aconteceu pois os negros foram preteridos em
relação aos imigrantes brancos, uma vez que estes, como
trabalhadores, eram considerados racial e economicamente superiores.
• Foram, por isso, incentivados à imigração para o trabalho em
substituição aos escravos.
• Por fim, em 13 de maio de 1888, a Princesa Isabel assinou a Lei
˘urea, dando aos negros a liberdade formal.
• Tal fato, no entanto, não impediu um universo de desigualdades pois
os negros, mesmo não sendo mais escravos, não eram tratados como
cidadãos plenos em igualdade de condições e tinham, ainda, que se
preocupar com um fator que até hoje os persegue: a desigualdade
fundada no preconceito racial.

14

7
08/04/2020

Atividades da Aula 10
1. Até 50 anos atrás qual era a forma predominante na nossa historiografia sobre o
comportamento dos escravos?
2. Qual foi o papel da “Escola Paulista” sobre a história dos escravos no Brasil?
3. O que diziam, em síntese, os pesquisadores da Escola Paulista sobre a escravidão no
Brasil?
4. O que escreveu Fernando Henrique Cardoso sobre os escravos?
5. Como foi e de que forma os escravos reagiam à situação imposta?
6. O que eram os Quilombos e quem vivia neles?
7. Como era, onde era e quanto tempo durou o quilombo dos Palmares?
8. Qual foi o episódio que terminou com o quilombo dos Palmares?
9. Qual o primeiro elemento que impulsionou o movimento abolicionista no Brasil e
porquê? O que foi a Lei do Ventre Livre?
10. O que aconteceu, relacionado com a escravidão, após a guerra do Paraguai? Qual
classe de pessoas juntou-se à cruzada contra a escravidão?
11. Qual foi o papel do interior de São Paulo no fim da escravidão?
12. Quando foi promulgada a Lei Áurea e qual foi, para os negros, o resultado efetivo
do fim da escravidão?

15

8
27/01/2020

Direitos Humanos e Relações Étnico-Raciais

A Herança Cultural
Aula 11

Danças e Música
 O Brasil tem a maior população de origem africana fora da ˘frica e, por
isso, a cultura desse continente exerce grande influência, principalmente,
na região Nordeste do Brasil.
 Hoje, a cultura afro-brasileira é resultado também das influências dos
portugueses e indígenas, que se manifestam na música, religião e
culinária.
 No início do século XIX, as manifestações, rituais e costumes africanos
eram proibidos, pois não faziam parte do universo cultural europeu e
não representavam sua prosperidade eram vistas como atrasadas.
 Mas, a partir do século XX, começaram a ser aceitos e celebrados como
expressões artísticas genuinamente nacionais e hoje fazem parte do
calendário nacional com muitas influências no dia a dia.
2

1
27/01/2020

Origens
 A dança afro-brasileira compõe-se de um conjunto de diferentes danças e
dramatizações, que apresentam em comum a raiz negra africana.
 Na sua origem eram realizadas para recordar ou relatar aos jovens fatos
históricos para reforçar tradições e fundamentos da sua cultura e
tornaram-se um importante meio de auto-afirmação do grupo familiar ou
social e também uma forma de valorização das pessoas diante do grupo.
 Muitas outras danças nasceram como meio de expressão e diversão,
relacionando o corpo, emoções e atitudes das pessoas daquele grupo.
 Trazidas ao Brasil com a escravidão, eram praticadas nas senzalas e nos
quilombos – espaços de resistência e afirmação cultural.
 Já a cultura musical africana dos escravos negros é preservada e
desenvolvida através dos quilombos.
3

 A principal influência da música africana no Brasil é, sem dúvidas, o


samba, cujo estilo é hoje um cartão-postal musical do País e está
envolvido na maioria das ações culturais da atualidade – gerou também
diversos sub-gêneros e dita o ritmo da maior festa popular, o Carnaval.
 Mas os tambores de ˘frica trouxeram também outros cantos e danças
que vai do Maracatu à Congada, Cavalhada e Moçambique.
 O samba nasceu nas casas de baianas que emigraram para o Rio de
Janeiro no princípio do século – o primeiro samba gravado foi „Pelo
telefone‰, de autoria de Donga e Mauro de Almeida, em 1917.
 Inicialmente vinculado ao carnaval, com o passar do tempo o samba
ganhou espaço próprio a partir do final dos anos 20.
 Grande tronco da MPB, o samba gerou derivados, como o samba-canção,
o samba-de-breque, o samba-enredo e, inclusive, a bossa nova.
4

2
27/01/2020

Capoeira
 Outra manifestação cultural que sobrevive até os momentos atuais e
ganhou o mundo é a capoeira.
 Inicialmente desenvolvida para ser uma defesa ensinada aos negros
cativos por escravos que eram capturados e voltavam aos engenhos.
 Os movimentos de luta foram adaptados às cantorias africanas e ficaram
mais parecidos com uma dança, permitindo assim que fossem treinadas
nos engenhos sem levantar suspeitas dos capatazes.
 Durante décadas, a capoeira foi proibida no Brasil, liberada apenas no
governo de Getúlio Vargas.
 Atualmente é Patrimônio Cultural Brasileiro e recebeu, em novembro de
2014, o título de Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade.
5

Religião
 A ˘frica é o continente com mais religiões diferentes de todo o mundo.
 Na época da escravidão, os negros trazidos da ˘frica eram batizados e
obrigados a seguir o Catolicismo.
 Porém, a conversão não tinha efeito prático e as religiões de origem
africana continuaram a ser praticadas secretamente em espaços
afastados nas florestas e quilombos.
 Na ˘frica, o culto tinha um caráter familiar e era exclusivo de uma
linhagem, clã ou grupo de sacerdotes.
 Com a vinda ao Brasil e a separação das famílias, nações e etnias,
essa estrutura se fragmentou.
 Mas os negros criaram uma unidade e partilharam cultos e
conhecimentos, preservando sua religião e cultura.

3
27/01/2020

Religiosidade e Cultura
 Essas tradições religiosas e culturais se manifestam em saberes,
ofícios, celebrações, expressões cênicas, plásticas, musicais ou lúdicas
que podem ser observadas em muitos lugares.
 As religiões afro-brasileiras constituem um fenômeno relativamente
recente na história religiosa do Brasil.
 O Candomblé, a mais tradicional e africana dessas religiões, se
originou no Nordeste, mais especificamente na Bahia, e tem sido
sinônimo de tradições religiosas afro-brasileiras em geral.
 Com raízes africanas, a Umbanda também se popularizou entre os
brasileiros.
 Agrupando práticas de vários credos, entre eles o catolicismo, a
Umbanda originou-se no Rio de Janeiro no início do século 20.

Culinária
 Outra grande contribuição da cultura africana se mostra à mesa com
pratos como o vatapá, acarajé, caruru, mungunzá, sarapatel, baba de
moça, cocada, bala de coco e muitos outros.
 São iguarias da cozinha brasileira e admirados em todo o mundo.
 Mas nenhuma receita se iguala em popularidade como a feijoada.
 Originada das senzalas, era feita das sobras de carnes que os
senhores de engenhos não comiam.
 Enquanto as partes mais nobres iam para a mesa dos seus donos, aos
escravos restavam as orelhas, pés e outras partes dos porcos, que
misturadas com feijão preto e cozidas em um grande caldeirão, deram
origem a um dos pratos mais saborosos e degustados da culinária
nacional.
8

4
27/01/2020

Vocabulário
 Existem inúmeras expressões do vocabulário com origem africana:
– acarajé: bolinho de feijão frito (feijão fradinho);
– agogô: instrumento musical constituído por uma dupla campânula de ferro,
produzindo dois sons;
– angu: massa de farinha de trigo ou de mandioca ou arroz.
– banzo: nostalgia mortal dos negros da ˘frica;
– banto: nome do grupo de idiomas africanos em que a flexão se faz por prefixos;
– batuque: dança com sapateados e palmas;
– banguela: desdentado;
– berimbau: instrumento de percussão com o qual se acompanha a capoeira;
– búzio: concha; cachaça: aguardente;
– cachimbo: aparelho para fumar;
– cafundó: lugar afastado, de acesso difícil;
– cafuné: carinho;

Vocabulário
– camundongo: rato;
– candomblé: religião dos negros iorubás;
– canjica: papa de milho verde ralado;
– carimbo: instrumento de borracha;
– catimbau: prática de feitiçaria;
– catunda: sertão;
– caxambu: grande tambor usado na dança harmônica;
– dendê: fruto do dendezeiro;
– dengo: manha, birra;
– inhame: planta medicinal e alimentícia;
– Iemanjá: deusa africana, a mãe dÊ água dos iorubanos;
– jeribata: alcóol; aguardente;
– jiló: fruto verde de gosto amargo;
10

5
27/01/2020

Vocabulário
– cassangue: grupo de negros da ˘frica;
– caxambu: grande tambor usado na dança harmônica;
– dendê: fruto do dendezeiro;
– dengo: manha, birra;
– inhame: planta medicinal e alimentícia;
– Iemanjá: deusa africana, a mãe dÊ água dos iorubanos;
– jeribata: alcóol; aguardente;
– jeguedê: dança negra;
– jiló: fruto verde de gosto amargo;
– jongo: o mesmo que samba;
– macumba: religião afro-brasileira;
– maracatu: cortejo carnavalesco que segue uma mulher que num bastão leva
uma bonequinha enfeitada, a calunga;
– marimbondo: o mesmo que vespa;

11

Vocabulário
– maracatu: cortejo carnavalesco que segue uma mulher que num bastão leva
uma bonequinha enfeitada, a calunga;
– marimbondo: o mesmo que vespa;
– maxixe: fruto verde
– miçanga: conchas de vidro, variadas e miúdas;
– milonga: certa música ao som de violão;
– mandinga: feitiçaria, bruxaria;
– moleque: negrinho, menino de pouca idade;
– muamba: contrabando;
– quenga: vasilha feita da metade do coco;
– quilombo: valhacouto de escravos fugidos;
– quitute: comida fina, iguaria delicada;
– tanga: pano que cobre desde o ventre até as coxas;
– tutu: iguaria de carne de porco salgada, toicinho, feijão e farinha de mandioca.

12

6
27/01/2020

Atividades da Aula 11
1. Como estabelecer a influência africana na música brasileira?
2. Qual o significado das músicas cantadas pelos escravos? Onde eram
praticadas?
3. Qual o principal estilo de música que é considerado a grande influência dos
africanos escravos? Como surgiu e onde era praticado, principalmente?
4. Quais os estilos de música nasceram desse estilo?
5. Qual festa popular é considerada influência dos escravos?
6. Discorra sobre a capoeira.
7. Quais as duas religiões que são consideradas derivadas do período da
escravidão?
8. Como a culinária sofreu forte influência dos escravos?
9. Cite exemplos da influência da vinda dos escravos no nosso vocabulário?

13

7
27/01/2020

Direitos Humanos e Relações Étnico-Raciais

Raça, Cor, Preconceito


Racial e Racismo
Aula 12

Legislação
 O primeiro diploma a cuidar especificamente do preconceito e da
discriminação racial foi a Lei 1.390 de 3 de julho de 1951, denominada
Lei Afonso Arinos.
 Em seguida aprovou-se a Lei 7.716/89, que até hoje está em vigor,
sendo modificada pela Lei 9.459 de 13 de maio de 1997.
 Essa Lei expandiu significativamente o tipificado já que nela está
apontado, expressamente, a discriminação, acrescentando-se os crimes
resultantes de preconceito e discriminação de raça, cor, etnia, religião e
procedência nacional.
 Entretanto, não se definem precisamente as expressões nela contidas,
como por exemplo, o que é raça e cor, que será discutido adiante.

1
27/01/2020

O que é Raça
 Raça é uma categoria das espécies de seres vivos, utilizada pela
biologia como forma de classificação.
 Em termos sociais, o termo raça é usado enquanto senso comum para
determinar grupos étnicos a partir de suas características genéticas.
 Raças humanas seriam determinadas pela cor da pele e características
físicas, associadas a origem social dos indivíduos, mas que caiu em
desuso pela comunidade científica.
 Estudos genéticos provaram que não existem subgrupos de humanos,
sendo errado classificar negros, asiáticos, indígenas ou outros grupos
como diferentes raças.
 A abordagem antropológica e sociológica da questão estabelece que os
diferentes grupos entre humanos são etnias, e apresentam diferenças
fenotípicas, como a cor de pele.
3

 Enquanto que a noção social de raça caiu em desuso, um sinônimo mais


adequado da palavra seria cor – por exemplo, ao invés de usar "a raça
negra sofre preconceito no Brasil", usa-se "as pessoas de cor negra
sofrem preconceito no Brasil".
 O conceito de raça biológico é melhor aplicado aos animais, como os
gatos e cachorros – o cachorro é uma subespécie dos lobos e as raças
são as categorias posteriores: Pug, Beagle, Maltês, etc.
 Todos apresentam diferenças de aparência evidentes e constantes
entre eles, existindo uma infinidade de características genéticas que
compõem cada raça canina.
 A palavra raça vem do latim ratio, que quer dizer categoria – dividir
algo em raças é categorizar.
 Portanto, do ponto de vista científico, a raça é subgrupo das espécies.
4

2
27/01/2020

 Sendo assim, temos os seguintes graus de classificação dos seres


vivos, com o exemplo dos humanos:
 Reino: Animalia
 Filo: Chordata
 Subfilo: Vertebrata
 Classe: Mammalia
 Ordem: Primates
 Família: Hominidae
 Gênero: Homo
 Espécie: Homo Sapiens

 Não há subgrupos genéticos da espécie Homo Sapiens, ou seja, não


existe raça.
 A palavra raça também é usada para designar algo que seja feito com
determinação, com afinco, com firmeza – "O atacante joga com raça‰.
5

O que é Cor
 Cor é um fenômeno físico melhor utilizado para definição cromática de
qualquer matéria e não para pessoas, embora seja erroneamente
empregado para a pigmentação epidérmica dos seres humanos.
 No que se refere à cor quando relacionado com seres humanos, há
implicações conectadas ao crime de racismo, ou seja, para a distinção
de pessoas, utiliza-se a expressão „de cor‰, característica clara de
diferenciação sujeita à discriminação.
 Para aplicação no direito positivo, a expressão „cor‰ deve-se ser
entendida como a tonalidade da pele, mas não há correspondência
exata entre as cores cromáticas e as „cores da pele‰.
 Essa identificação ocorre porque as cores das pessoas, no sentido de
preconceito de cor, são objeto de classificação racial, e isso não existe,
porque não existem raças (sub-espécies) da espécie homo sapiens.

3
27/01/2020

 Sobre a prática social de rotular indivíduos como sendo „de cor‰,


pode-se questionar: De que cor? Branca, bege, marrom, preta, ocre?
Quem apresenta características típicas da raça branca pode ser
classificado „cromaticamente‰ como sendo de cor rosa, bege,
acinzentada, tudo isso dentre milhares de tons. Igualmente, qual
oriental é de fato „amarelo‰ e que índio possui a „pele vermelha?
 Portanto, a cor de um negro que, porventura, tenha nascido com pele
branca não o faria deixar de pertencer à sua raça negra, embora se
possa verificar que, eventualmente, sua cor pode aproximar-se muito
mais da raça branca do que a tonalidade da pele de alguém que
pertença à própria raça chamada branca.
 Não obstante tais considerações, é importante observar que
atualmente, no Brasil, a população „da raça e da cor negra‰ é
acometida por olhares de indiferença e desconfiança e, quando não, por
palavras e insinuações rudes relacionadas à cor de sua pele.
7

Preconceito Racial
 Para que se possa entender melhor a dinâmica do preconceito racial no
Brasil, deve-se destacar o atraso com que a sociedade e lideranças
constataram a vergonha que foi a escravidão.
 O preconceito não é algo naturalmente característico do ser humano e
sim resultado da socialização e bagagem cultural que o acompanha.
 Desde crianças somos levados a acreditar que o diferente é ameaçador,
e, para a nossa proteção, precisamos diferenciá-lo e rejeitá-lo.
 Assim, preconceito pode ser entendido com um conjunto de atitudes
que provocam, favorecem ou justificam medidas de discriminação.
 Ele opera de forma depreciativa, sem qualquer exame e separado de
uma realidade de fato – é algo pré-concebido e o porque das pessoas
utilizam palavras e atitudes discriminatórias contra indivíduos.
8

4
27/01/2020

 O preconceito racial indica uma opinião ou sentimento que, favorável


ou desfavorável, vai sendo elaborado sem exame crítico.
 É um sentimento ou parecer insensato assumido em consequência da
generalização apressada de uma experiência pessoal ou imposta pelo
meio social, favorecendo, geralmente, a intolerância racial.
 No universo simbólico do homem opera a representação social, formas
simbólicas que organizam e atribuem sentido às coisas do mundo.
 Representações sociais são entidades quase tangíveis – se cristalizam
continuamente, através de palavras ou gestos.
 A representação social está diretamente relacionada à uma cultura:
quando se discrimina um grupo, se expressa não apenas preconceitos
sobre essa categoria mas também a aversão ou desprezo a que elas
são indissoluvelmente ligados.
9

 Portanto, é necessário entender o que acontece nos grupos sociais


enquanto agrupados.
 Nesses agrupamentos há uma diversidade de representações e um
universo de situações e fatos a serem explorados na tentativa de
entendermos o preconceito social.
 É possível concluir que as representações sociais contribuem para as
atitudes e crenças de um indivíduo ou grupo na elaboração das ideias
que irão guiar seu comportamento.
 Essas ideias são elaboradas em função de um objeto, de uma situação,
de um conceito, de outros indivíduos ou mesmo de grupos.
 Apresentam uma visão subjetiva e social daquele objeto em questão,
gerando uma gama plural de comportamentos sociais, entre eles o
preconceituoso e discriminatório.
10

5
27/01/2020

Racismo
 O entendimento sobre o racismo é mais preciso se o considerarmos
como ação ou proposição que minimiza e atinge a moral do indivíduo
ou grupo ao considerar características de sua identidade étnica.
 Muitos mais que apenas discriminação ou preconceito racial, é uma
doutrina que afirma haver relação entre características raciais e
culturais e que algumas raças são, por natureza superior a outras.
 As principais noções teóricas do racismo moderno derivam das idéias
desenvolvidas por Arthur de Gobineau.
 É um tratamento desigual, manifestado intelectual ou concretamente
por um indivíduo ou grupo étnico em função da raça, da cor de pele ou
de traços essenciais à constituição étnica de um ser humano ou de uma
coletividade.
11

 O racismo também pode ser entendido como qualquer outro ato em


que se identifique a constituição de desigualdade sob critérios
racialmente estabelecidos.
 Em regra, o racismo ou preconceito racial leva à intolerância e à
marginalização.
 Discorrendo sobre racismo no Brasil e Estados Unidos em função das
origens que remontam ao período da escravidão, os Estados Unidos
preencheram a função de expressar uma espécie de caso concreto de
higiene racial (preconceito de origem), em oposição ao caso brasileiro
– aqui não ocorre esse fenômeno e sim uma forte miscigenação.
 O racismo brasileiro tem uma marca de plasticidade, é mais estético
onde a beleza é preterida ao negro em função da posição que ocupam
no espaço social – mas a partir do momento em que é socialmente
construído, torna-se um critério autônomo de julgamento. 12

6
27/01/2020

 A Declaração das Nações Unidas traz, em seu artigo 1À, todas as formas
de discriminação racial, bem como o seu significado.
 O texto declara que discriminação racial „significa toda distinção,
exclusão, restrição ou preferência baseada em raça, cor, descendência ou
origem nacional ou étnica que tenha por objeto ou resultado anular ou
restringir o reconhecimento, gozo ou exercício em um mesmo plano de
direitos humanos e liberdades fundamentais nos campos político,
econômico, social, cultural ou qualquer outro campo da vida pública‰
 Assim, todo cidadão, com suas diferenças étnicas, deve ser tratado
igualitariamente pois todos nós temos o direito subjetivo da igualdade
na diversidade.
 Dessa forma, o princípio constitucional que atende a esse direito será o
da Igualdade ou da Isonomia, segundo o qual todos, sem distinção,
devem ser tratados de forma igualitária, não importando a sua cor da
pele ou a raça a que pertencem. 13

 Finalizando, cabe destacar que o racismo é, no Brasil, crime de maior


gravidade, ao qual a lei atribui um tratamento mais duro ao autor.
 É imprescritível, inafiançável e de ação penal pública incondicionada, ou
seja, é promovida pelo Ministério Público com oferecimento de
denúncia, que é a petição inicial dessa ação.
 Por ser incondicionada, seu exercício não depende da manifestação de
vontade de quem quer que seja.
 Portanto, a discriminação racial expressa a ruptura do princípio da
igualdade, como a exclusão, a restrição ou as preferências, motivadas
por raça, cor, sexo, idade, trabalho, credo religioso ou convicções
políticas.

14

7
27/01/2020

Bibliografia
- ˘frica no Brasil - José Luiz Fiorin, Margarida Petter (orgs.) - Editora Contexto
- História e cultura afro-brasileira - Regiane Augusto de Mattos - Editora Contexto
- Dicionário da escravidão negra no Brasil - Clóvis Steiger de Assis Moura – EDUSP
- Rediscutindo a mestiçagem no Brasil-Identidade nacional versus identidade negra - Kabenguele
Munanga - Autêntica Editora
- ˘frica na sala de aula - Leila Leite Hernandez - Selo Negro Edições
- Racismo no Brasil: percepções da discriminação e do preconceito no século XXI - Gevanilda Gomes
Santos e Maria Palmira da Silva (orgs.) - Editora Fundação Perseu Abramo
- Negritude sem etnicidade - Livio Sansone - EDUFBA - Pallas Editora
- Psicologia social do racismo - Iray Carone e Maria aparecida Silva Bento (orgs.) - Editora Vozes
- Somos todos iguais? Escola, discriminação e educação em direitos humanos - Vera Maria Candau - DP&A
Editora
- Superando o racismo na escola - Kabengele Munanga (org.) - PNDU – Ministério da Cultura – Fundação
Cultural Palmares

15

Atividades da Aula 12
1. Qual foi a primeira lei a tratar do preconceito e da discriminação racial?
Quantos anos foi publicados após a Lei Áurea? Quais leis vieram na
seqüência?
2. O que é raça? Quais as raças humanas?
3. O que é cor? Como caracterizar a utilização da “cor” para seres humanos?
4. Como pode ser entendido o preconceito racial? Como ele opera?
5. Qual a relação da representação social e cultura no que tange à
discriminação racial?
6. Como entender o racismo?
7. Discorra sobre as idéias racistas de Arthur de Gabineau.
8. Qual o tipo de racismo praticado nos Estados Unidos? Porque não ocorreu
esse tipo de racismo no Brasil?
9. Como é o racismo no Brasil?
10. O que é etnia?

16

Você também pode gostar