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Colégio EPE

Texto complementar
Aprendizagem baseada em projetos - ABP
Prof. Ms. Cristian Junior

Contextualização: Exploração Mineral no Brasil – Processos e formas


A mineração é extremamente dispendiosa, mas que pode gerar grandes lucros. É uma atividade
econômica que envolve uma série de processos como a extração, preparo e refino de materiais que
são extraídos da natureza em seu estado natural. Podem ser materiais sólidos, tais como metais e
pedras preciosas; podem ser líquidos como petróleo ou água mineral; ou gasosos como o gás
natural. Nesse sentido, é necessária uma série de processos que possibilitam essa exploração. E
também podem ser feitas de diversas maneiras.

A forma mais disseminada no imaginário popular de exploração mineral são as minas de carvão e
pedras preciosas. Também chamadas de lavras subterrâneas, exigem uma grande engenharia para
que possam ser implantadas com a construção de túneis, meios de transporte e exploração de
muita mão de obra. Foram e são amplamente utilizadas para a extração de carvão natural, principal
combustível para as máquinas e trens durante a Revolução Industrial, por exemplo.

Nessa modalidade de exploração do solo, o aumento dos processos erosivos é a principal


consequência para o meio ambiente. Os processos erosivos resultantes da construção de túneis
também geram grandes problemas e impactos trabalhistas, como acidentes de trabalho causados
pelo desmoronamento de paredes ou o sufocamento de parte dos trabalhadores, além de
problemas respiratórios e motores.

Outra forma de exploração muito comum são as lavras a céu aberto, mais comuns para a extração
de pedras, cascalhos, granito, mármore e etc. Ela consiste em abrir grandes sulcos nas encostas de
montanhas e pedreiras e explora o meio até o seu completo esgotamento. Gera, além de enormes
impactos ambientais tais como a remoção da vegetação ao redor; a poluição hídrica tanto de rios,
quanto de lençóis freáticos; a contaminação do solo e do ar e a poluição sonora. Como
consequência, a mortandade de animais e peixes; o êxodo de moradores tanto para o local, quanto
do local, causando um impacto em culturas tradicionais; as mudanças econômicas com a
diminuição da economia local e circular e deslizamentos de terras e de moradias.

As lavras a céu aberto são bastante realizadas no Brasil, sobretudo em Minas Gerais, Goiás e Pará.
A empresa Vale do Rio Doce, criada em 1942 por Getúlio Vargas e privatizada em 1997 por
Fernando Henrique Cardoso, é hoje uma empresa de capital aberto e a segunda maior mineradora
do mundo. Isso não impediu que também fosse a protagonista de duas das maiores tragédias
ambientais ocorridas no Brasil: o rompimento das barragens da mineradora nas cidades de
Mariana, em novembro de 2015 e em Brumadinho, em janeiro de 2019.
Os incidentes foram causados pelo excesso de resíduos oriundos do tratamento do minério que
eram depositados em grandes valas. Estas deveriam ser limpas com frequência e passar por séria
e constante manutenção, mas não estavam regularizadas ou cumprindo de forma adequada a
legislação. Dessa forma, em ambos os casos houve não só impactos ambientais como a poluição
que chegou, inclusive, ao mar, mas sobretudo impactos sociais com a morte de dezenas de
habitantes da região e trabalhadores da empresa, o fim do enraizamento de populações
tradicionais e a destruição de patrimônio material e imaterial.

A exploração do petróleo é outra atividade mineradora extremamente lucrativa e que gera


profundos impactos trabalhistas, sociais e ambientais. Ela pode ser feita através da perfuração de
grandes profundidades de terra sendo, sobretudo em alto mar, mas também pode ser feita na terra.
Para isso são construídas plataformas com sondas e brocas que perfuram até 6000 metros. Essa
forma de retirada de materiais pode poluir, tanto a água quanto a terra, o ar e o solo. Por se tratar de
um óleo mais denso do que a água e com pouco poder de dispersão, as consequências de
acidentes que envolvem vazamento de petróleo podem perdurar por anos. Além disso, explosões
em plataformas causam incêndios e a morte de trabalhadores, animais marítimos e da população
ao redor.

Todas as formas citadas de exploração necessitam de análises técnicas muito dispendiosas e de


maquinário especializados, além de trabalhadores com formações específicas. O garimpo, por sua
vez, é uma forma de exploração muito mais barata, com altos ganhos e que pode ser feita por
apenas uma pessoa ou em esquema de cooperativas e associativismo.

Formas e técnicas de garimpo


O garimpo pode ser feito a partir de diversas técnicas. Entre as formas artesanais a mais antiga é a
forma de aluvião, também chamada de “garimpo de baixão”, na qual o garimpeiro utiliza uma
ferramenta chamada bateia para peneirar e assim separar a areia e o cascalho de pedras preciosas
e ouro do fundo de rios, explorando apenas a camada superficial. É uma técnica que necessita de
pouco dinheiro, mas que exige uma grande quantidade de tempo. A técnica de grupiara, também
antiga, consiste em retirar grandes quantidades de terra das encostas dos rios e despejar no curso
desses, ou ainda, artificialmente aumentar o fluxo das águas para que mais minérios desçam o rio.

Em ambos os casos é usado o mercúrio para ajudar a separar e localizar o ouro e outros metais em
meio à terra, já que o produto ajuda a destacar os metais da terra e areia. O mercúrio é
extremamente prejudicial ao meio ambiente, animais e pessoas, já que ele causa impactos tanto no
ar, quanto na terra e nos rios, eliminando a flora, favorecendo a migração da fauna e através da
alimentação e água atingindo também os seres humanos. A grupiara, ainda, favorece o
assoreamento de rios e a mudança de suas margens, permitindo deslizamentos e trombas d’água.
As duas formas de exploração foram, ao longo do tempo, se associando ao uso de maquinário, tais
como dragas e tratores, o que aumentou seu potencial exploratório e de contaminação,
prejudicando diretamente a sobrevivência de povos originários e comunidades tradicionais. Essa
forma super exploratória não respeita a legislação que limita a exploração predatória. Apesar disso,
essa forma é a principal maneira de exploração na Floresta Amazônica e do Centro Oeste brasileiro.
Exploração mineral, garimpo e ocupação territorial
Durante o século XVII e parte do XVIII, a mineração despontou como atividade econômica no país.
Impulsionada sobretudo pelos bandeirantes paulistas que enveredaram pelo interior do país em
busca de ouro, ervas e plantas e escravizados indígenas. As bandeiras foram um movimento
violento de colonização, exploração de terra e dominação sobre os povos indígenas e escravizados
que viviam fora das costas brasileiras, em contrapartida, cumpriram o papel de abrir novos
caminhos e integrar o território nacional.
Com a descoberta de jazidas de ouro em Minas Gerais, Goiás e Mato Grosso, houve um grande
movimento migratório para a área central do país. De início realizada pelos bandeirantes de forma
individual, a empreitada passou a ser controlada pela Coroa Portuguesa que cobrava altos
impostos sobre a extração e que colocava metas de quantidade de ouro a ser atingida, levando
também a uma maior exploração da mão de obra escravizada para tanto. As cidades cresceram
exponencialmente ao redor das minas de exploração, a capital do Brasil foi transferida de Salvador
para o Rio de Janeiro para ficar mais próximo dessa região e uma série de revoltas contra a
colonização datam desse período, como a Guerra dos Emboabas e a Inconfidência Mineira.
Essa expansão para o interior aumentou a população em áreas até então pouco exploradas pelos
colonizadores e povoadas pelos povos originários e indígenas. O mito associado ao
bandeirantismo e aos bandeirantes pode ser visto através da construção e manutenção de
monumentos em homenagem a seus principais expoentes e na nomeação de rodovias, escolas e
outros. Essa memória expressa uma visão colonizadora que associa esses homens ao domínio
tanto da natureza quanto dos indígenas.
A questão da expansão territorial persistiu também durante o período imperial, mas foi no Estado
Novo de Getúlio Vargas, a partir de 1937, que ocorre a Corrida para o Oeste, incentivada pelo
governo federal para ocupar e povoar regiões do Centro Oeste e Norte brasileiros através da
exploração do território e construção de estradas. Foi um grande projeto de integração nacional na
qual colonos pobres oriundos sobretudo da região nordeste pudessem receber um lote de terra e
nela realizar uma agricultura familiar. Essa intenção, no entanto, não ocorreu da forma como se
imaginava.
Em primeiro lugar, os latifúndios existentes nessas regiões não se desarticularam, ao contrário, se
mantiveram fortes e em competição com a pequena agricultura familiar não permitiram seu
desenvolvimento. Em segundo lugar, muitos colonos migraram para essa região não pela promessa
de produção agrícola, mas pela corrida pelo ouro, já que eram regiões onde se acreditava que
pudesse existir um pequeno Eldorado Brasileiro. Isso atraiu aventureiros que causaram
desequilíbrio social na região, além de aumentar a proliferação de doenças e a morte dos povos
originários que, até então, haviam tido pouco ou nenhum contato com não indígenas.
Em 1934, Getúlio Vargas regulamentou o subsolo brasileiro como pertencente à União e nesse
sentido, a exploração aurífera e de metais preciosos teria que ser fiscalizada e permitida pelo
governo federal, o que nem sempre aconteceu. Nas regiões do Amazonas, Mato Grosso e Pará, o
garimpo ilegal, ou seja, o que ocorre sem respeitar a legislação, teve um aumento enorme nesse
período, gerando consequências para o meio ambiente e para a população.
A ânsia pela integração nacional e pela formação de uma identidade nacional opôs os interesses
dos povos indígenas aos interesses nacionais e estatais. Durante o período da Ditadura Militar,
outros incentivos à ocupação do Norte e do Centro Oeste brasileiro, o chamado PIN – Plano de
Integração Nacional –, através da propaganda do ouro fácil e da exploração de terras virgens com
grande potencial comercial favoreceu nova migração predatória para essas regiões do país.
O Plano de Integração Nacional, tal como a expansão getulista, previa a construção de estradas e a
mineração e garimpo nas terras pouco exploradas. A Ditadura Militar, ainda, criou a FUNAI –
Fundação Nacional do Índio – cuja função era a de proteger as populações originárias do Brasil,
mas que segundo a Comissão Nacional da Verdade não interviu no assassinato prepetado pelo
próprio governo. A proposta do governo militar para a integração dos indígenas à população
brasileira era a de aculturação, ou seja, que para que houvesse a proximidade com a identidade
brasileira, os indígenas deveriam deixar de ser indígenas, abandonar suas tradições e forma de vida,
dessa maneira permitindo – e para alguns até usufruindo – da exploração mineral do solo, já que
não seriam mais um entrave.
Ainda durante a Ditadura Militar, o governo brasileiro foi denunciado no IV Tribunal Russel, na
Holanda, pelo genocídio dos indígenas da etnia Waimiri Atroari, cuja ditadura havia sido
responsável por cerca de 2000 mortes. A corte concluiu a responsabilidade do governo brasileiro
sobre o etnocídio cometido na região.
Quando se fala de expansão territorial baseado nos eixos de construção de estradas e instalação
de garimpos e mineradoras, podemos elencar, além dos impactos ambientais já citados, os fortes
impactos sociais. A poluição da água e do solo impede a alimentação indígena. A mesma água
contaminada auxilia na desidratação e na proliferação de doenças gastrointestinais. Além disso,
viroses como sarampo e malária se disseminam mais rápido com o aumento da mobilidade pelas
estradas e aumento populacional. A cultura e modo de vida também é afetado quando suas
práticas são interrompidas por ocupação territorial indevida, atrapalhando festas, casamentos,
enterros e etc. A miscigenação forçada causada pelo estupro me meninas e mulheres indígenas é
também uma forma de etnocídio e aculturação. Quando as mineradoras e garimpeiros alteram a
forma de viver de um grupo inteiro de pessoas, essas passam a trabalhar para essas empresas em
condições trabalhistas péssimas, já que tem pouca ou nenhuma escolha.
Além do PIN, a Ditadura Militar também criou o PND – Plano Nacional de Desenvolvimento –
famoso pelo projeto de construção da rodovia Transamazônica (BR-230) que cobre mais de 4000
quilômetros entre os estados da Paraíba, Piauí, Maranhão, Pará e Amazonas. Essa rodovia tinha
como principal intenção a política indigenista de integrar os estados do Norte ao restante do país,
sobretudo ao nordeste. Estima-se que a construção da rodovia gerou impactos em mais de 29
grupos indígenas diferentes. A rodovia desmatou, atrapalhando a caça e a pesca, depois graças a
elas as mineradoras chegaram ao seu território, causando enormes sulcos na terra e
transformando os indígenas, agora sem alimento e adoecidos, em trabalhadores precários.

Serra Pelada – O que foi e quando aconteceu


O maior exemplo de garimpo e exploração das terras indígenas do período da Ditadura Militar é o
caso emblemático de Serra Pelada, maior garimpo a céu aberto do mundo, em área localizada no
estado do Pará. Atraídos pela promessa de enriquecimento rápido, houve na década de 1980 uma
intensa onda migratória para essa região do estado. Não só garimpeiros se moveram, quanto
engenheiros, médicos e outros profissionais, alterando todo o ecossistema tanto biológico quanto
social da região.
Apesar de o garimpo da Serra Pelada ter autorização de acontecer por parte do governo ditatorial,
não eram todos os garimpeiros que estavam lá que respeitavam a legislação. Os garimpeiros
compravam um lote, ou um valão, na qual entravam cerca de 15 homens com suas peneiras. Cada
um deles tinha uma função e existia vigilância por parte dos garimpeiros que adquiriram o lote para
evitar roubos do ouro encontrado. Quando mais ouro era encontrado, mais se abriam novos poços
e mais e mais pessoas trabalhavam lá.
Além disso, as condições de trabalho a que eram submetidos ou se submetiam eram humilhantes.
Calor e sol intermitentes, situações de deslizamentos de terras e soterramentos, o ar e a água
poluída pelo monóxido de carbono e mercúrio e ausência total de legislação trabalhista. Também
presentes estavam as doenças como febre amarela, malária e outras viroses. Manifestações de
garimpeiros exigindo melhores condições de trabalho foram reprimidas, tendo maior exemplo
dessa situação O Massacre da Ponte de Marabá, na qual cerca de 300 pessoas que estavam
protestando foram encurraladas por policiais e dezenas delas mortas.
Em 1992, o então presidente Fernando Henrique Cardoso fechou a jazida e apreendeu o
maquinário, mas a busca predatória de ouro na região causou uma cratera que permanece aberta
com cerca de 24 mil m2 e 80 metros de profundidade. Um imenso lago de produtos tóxicos e
mercúrio. Em aproximadamente dez anos – 1980 a 1992 – estima-se que tenham sido retiradas 45
toneladas de ouro da região.

Estatuto do Garimpeiro: técnicas e legislação no Brasil


Em 2008, o vice-presidente à época, José Alencar, sancionou o Estatuto do Garimpeiro
regulamentando e regularizando a exploração por essa técnica no Brasil. Nele, há a definição de
garimpo e autorização para que alguns grupos possam explorar determinadas terras, sobretudo em
regime autônomo, economia familiar e cooperativa. Dessa maneira, busca-se evitar uma exploração
com maquinário e industrial. Além disso, o estatuto também prevê a recuperação das áreas
degradadas pela atividade; a não ocupação de terras indígenas e de comunidades tradicionais; a
proibição do trabalho de menores e a atenção aos direitos trabalhistas.

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