Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
NA AMAZONIA
BRASILEIRA
na
Amazônia Brasileira
GAMA E SILVA
Olho Grande
na
Amazônia Brasileira
r t RIOFUNOO
EDITORA
© Copyright 1991 by Roberto Gama e Silva
Re'(isores: Alberto Fernando de Araújo
Norma Cristina
Editoração Eletrônica: Script Computação Gráfica
Produtor Gráfico: José Carlos Leal da Silva
Impresso no Brasil
Printed in Brazi/
1991
CIP-Brasil. Catalogação-na-fonte
Sindicato Nacional dos Editores de Livros, RJ.
Silva, Roberto Gama e, 1932-
S5830 Olho grande na Amazônia brasileira / Roberto Ga-
ma e Silva. - Rio de Janeiro: Rio Fundo Ed., 1991
Bibliografia
ISBN 85-85297-44-1
Prefácio . . . . . . . . . . . . 7
O Eldorado Real . . . . . . . . 11
Os Bens da Natureza Mineral . 21
O Dinamismo da Hiléia. . . . . 35
O Universo Vegetal . . . . . . 47
As Seringueiras e o "Bolivian Syndicate" . 59
A Extirpação dos Últimos Quistos Coloniais . . 71
O Espaço ímpar . . . . . 93
O Império das Águas .. . 99
Os Mitos Pré-Moldados . ·107
A Disciplina de Ocupação 123
O Zoneamento Ecológico-Econômico . 137
5
PREFÁCIO
...
o ELDORADO REAL
AMAZÓNIA GEOGRÁFICA
6 =
Ombrófila é uma palavra de origem grega composta de ómbros chuva
=
e filo amigo, que significa, no linguajar fito-ecológico, "pluvial".
7 Savana é a denominação geral atribuída ao tipo de vegetação que pode
comportar dois estratos: um rasteiro, dominado por gramíneas, e o outro
arbustivo, formado de árvores baixas. Engloba todos os tipos de cerrado
e os campos gerais.
Gama e Silva 27
fazê-lo com inteira liberdade, por não violarem o espaço aéreo ex-
clusivo dos Estados, restrito ao limite da biosfera. Não obstante a
incrível definição dessas imagens, a chave para sua correta inter-
pretação, no que concerne ao subsolo, ainda é a observação de
campo.
Daí a necessidade, cada vez mais premente, de se controlar as
incursões de pesquisadores de fora pelo interior da Amazônia. Há que
trilhar as pegadas dos portugueses, responsáveis primários pela
unidade nacional, tão bem cantada nos versos do poeta antigo:
"habitat", nos altos cursos dos rios Purus e Juruá, a montante respecti-
vamente de Boca do Acre e da foz do Juruá-Mirim.
Para completar a área enquadrada como "floresta tropical úmida",
segundo o critério de Schimper, faz-se necessário acrescentar dois
terços do espaço ocupado pelas chamadas "áreas de tensão ecológica"
- faixas de contato entre formações vegetais distintas -, e mais um
terço dos espaços em fase de povoamento pelas formações pioneiras e
pela campinarana.
Esclareça-se, por oportuno, o significado dos termos "forma-
ções pioneiras"e "campinarana", agora ventilados.
As formações pioneiras 'são comunidades vegetais em fase de
sucessão, daí o fato de serem chamadas, também, de comunidades
serais. Ocupam as planícies aluviais dos rios de água barrenta da
Bacia do Amazonas, incluindo desde as fases submersa ou flutuante
de plantas aquáticas até a fase de floresta densa.
A campinarana, muitas vezes chamada de "caatinga do rio
Negro" com bastante imprecisão, é também uma comunidade em
fase de sucessão que vem recobrindo os solos arenosos do tipo
podzol hidromórfico, muito comuns na bacia do rio Negro. Para
colonizar solo tão estéril é imperiosa a presença de clima super-
úmido e sem período seco, como o que existe no alto curso do rio
Negro.
O ecossistema de campinarana compreende três tipologias:
arbórea densa, arbórea aberta e gramíneo-Ienhosa, que bem retratam
três fases da sucessão. O ecossistema da campinarana arbórea densa
já satisfaz as condições estabelecidas por Schimper, parecendo
muito com a floresta tropical úmida, tipologia densa, com diferenças
na composição florística, pela presença compulsória de árvores espe-
cializadas ou adaptadas aos ambientes encharcados; no porte das
árvores, que raramente atingem a altura de 20 metros, e ainda na
dimensão dos troncos, normalmente mais finos.
Isoladamente, os 3,3 milhões de quilômetros quadrados de
floresta tropical úmida conferem ao Brasil direitos soberanos sobre
10,6% das áreas florestadas do planeta, agora restritas a 31 milhões
de quilômetros quadrados, menos de 23% da superfície total das
terras emersas, sem contar o continente antártico.
A Amazônia brasileira, outrossim, compreende quase 30% da
superfície de todas as florestas tropicais úmidas remanescentes na face
da Terra, que totalizam, hoje em dia, uns 11 milhões de quilômetros
Gama e Silva 39
ÁREA RESERVATÓRIO
50.000Ha
1
VOLUME BRUTO MADEIRA
SEM CASCA
DAP?!30cm
5.662.350 m3
•
VOLUME BRUTO •
VOLUME BRUTO
,
VOLUME BRUTO
EXPORTAÇÃO MERCADO NACIONAL MERCADO REGIONAL VOLUME
BRUTO
SEM
1.498.823 m3 1.491.463 m3 922.963 m3 COTAÇÃO
1.749.101 m3
TORAS
DEFEITUOSAS
374.706m 3
TORAS
-
25%
TORAS
DEFEITUOSAS
372.866m 3
TORAS
- TORAS
DEFEITUOSAS
230.741 m3
TORAS
SELECIONADAS SELECIONADAS SELECIONADAS
1. 124.118 m3 1.118.597 m3 692.222 m3 USO
POTENCIAL
SERRARIA - CELULOSE
- AGLOME-
-
DESCONTO DESCONTO DESCONTO RADOS
30%
CONICIDADE CONICIDADE CONICIDADE -ENERGIA
I-
MADEIRA
45%
---
REFUGO
352.358
MADEIRA
m3
- REFUGO
218.050 m3
MADEIRA
t
5,531x10 12
Kcal
VALORFOB VALORFOB VALORFOB
US$ US$ US$ ou
1.769 GWh
129.835.500 114.102.500 48.750.000
que produz, mas também pelo porte majestoso e vida centenária que
fazem dela o símbolo da vegetação hileiana.
Conhecida cientificamente como "Bertholletia excelsa", espécie
da famnia "Lecythidaceae", é uma árvore típica da "terra-firme", de
demorado ciclo de maturação, compatfvel com a idade avançada que
alcança, mais de mil anos mesmo. Pode-se encontrá-Ia dos dois lados
do curso do rio Amazonas, com maior incidência nas florestas densas
tipo planalto.
Seu fruto, a castanha-do-pará, é coletado no "inverno" ama-
zônico, ou seja, no princípio do ano, quando é concluída a temporada
de extração do látex das seringueiras. Essa defasagem entre as duas
coletas, em muitos casos, significa a garantia de trabalho para os
extratores durante todo o ano.
A castanha, sem ter experimentado o esplendor da borracha,
tem participado contínua e ativamente da economia regional, com
uma produção média de 36 mil toneladas anuais, avaliada em US$
48,6 milhões.
É importante assinalar que, nas áreas onde a presença das
castanheiras é endêmica, o valor da produção de castanhas pode
gerar rendas bem maiores do que as das madeiras locais bene-
ficiadas, mesmo simulando a situação ideal de trechos submetidos a
manejo sustentado com densificação de espécies nobres.
Portanto, é absolutamente acertada a decisão do Poder Público,
bem antiga, de proibir o abate das castanheiras, muito embora não
se disponha de guardas-florestais em número suficiente para forçar o
cumprimento da prescrição. Aliás, o prolongado ciclo de maturação
da castanheira, aproximadamente 40 anos para atingir a idade adulta, -')
torna ainda mais premente a proteção dessa espécie, que só per-
manece exclusiva da Hiléia devido a essa característica.
As considerações sobre a proteção que deve ser dispensada à
árvore em si, trazem à tona um outro problema de muita atualidade,
qual seja o da conservação, como unidades indivisíveis, dos casta-
nhais nativos.
A partir do momento em que se manifesta a pressão popu-
lacional sobre zonas tradicionais de produção da castanha, há que
chamar a atenção da sociedade e, em particular, das autoridades
públicas, que a Amazônia não pode ser regida por normas universais.
Em outras palavras: o que é bom para as regiões Sul ou Nordeste nem
sempre o será para os domínios hileianos.
Gama e Silva 55
IQ~uA ~
100 20' S
PERU
BoLíVIA
"-__________-'-'--______ 1' •_ __
Gama e Silva 63
PARÁ AMAPÁ
MACAPÁ
I
I
d~a
O
Jr
t O
ILHA GRAtJNÇlE
V,
-
DE GURUPA
LOCALIZAÇÃO DA
FAZENDA SARACURA
" ~
hutl
PROPRIEDADES
ARRENDAMENTOS
DOURA~O..
.;':.:'.::',:~~
........ \~ . ~~
•. . .
itJ
r.;;:t;Al
GQ\l>/
~~
ESTAÇÃO ECOLÓGICA
~ (PROPOSTA PELO GEBAM) -----/Q
..,":" t:;Jh# URUGURICAIA
107771
GLEBA PARÚ. REVERTIDA
~ AO ESTADO DO PARÃ POR DECISÃO ,n"'l-S ._ C?O
DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL ""~ ()
p
ESCALA: 1 :2.000.000
~ ALMEIRIM 1'6. PORTO DE MOZ
z
CE
Unidade
Projeto
Pará (ha) Amapá (ha)
Agropecuária 130.000 -
Mineral - 36.000
outra medida, qual seja a ação anulatória do registro das glebas não
legitimadas, de modo a reduzir drasticamente a indenização por-
ventura devida à empresa.
Não obstante ter recebido o mapeamento detalhado da área,
executado pelo GEBAM, o INCRA retardou sobremaneira as provi-
dências que o caso requeria, notadamente a ação anulatória.
O titular do órgão, Paulo Yokota, certa vez, chegou a solicitar
audiência ao presidente do GEBAM para revelar que se deparava
com dificuldades para cumprir o que lhe fora determinado fázer,
devido às pressões que vinha sofrendo. Confessou, inclusive, que
não sabia como enfrentar um dos advogados de Eisenberg, nada
mais nada menos que o Sr. William Rodgers, ex-secretáro de Estado
norte-americano.
Foi-lhe perguntado, ato contínuo, se conhecia o teor da resposta
do Presidente Floriano Peixoto ao embaixador inglês, quando este lhe
perguntara como o governo do Brasil receberia a entrada, na Baía da
Guanabara, de dois navios de guerra britânicos, para cá despachados
com a finalidade óbvia de pressionar por uma solução agradável na
"Questão Christie". Como não se recordasse do episódio histórico,
sua memória foi avivada com a narração da passagem, ao mesmo
tempo que recebeu a sugestão de reagir às pressões à moda de
Floriano, isto é, à bala ...
Como resultado desse insólito diálogo, entre 18 de julho e 12 de
agosto de 1983, tramitavam três ações na Comarca de Macapá, que,
ajuizadas, deram ganho de causa à União, fazendo reverter ao patri-
mônio público terras ilegalmente adquiridas por estrangeiros não
residentes no País.
Além da missão cumprida, uma gratificação e uma decepção
restaram desse episódio.
Gratificante foi ter podido realizar, com os bravos rapazes do
"RADAMBRASIL", o Zoneamento Ecológico-Econômico de toda a
área desapropriada, de modo a facilitar o seu aproveitamento racional.
O trabalho, executado em cima de uma superfície mil vezes menor do
que a Amazônia Legal, também forneceu valiosos subsídios para a
concepção de programa mais amplo, abrangendo toda a grande
região, posteriormente sugerido ao governo.
Decepcionante foi não se ter conseguido a punição do Procu-
rador Regional da República no Pará, o advogado Paulo Rúbio de
Souza Meira, por ter participado, passiva ou ativamente, de atas
Gama e Silva 89
9
Area em 10 ha
Temperada-Fria
0,05 0,19 1,73 1,97
Boreal
Temperada Quente
0,55 0,84 1,37 2,76
Subtropical
Área em 106 ha %
Popu- Área
Culti-
lação Culti-
Continente vada/
(10 6 Total
Culti- Culti- vada/
vável vada Culti-
Hab.) Hab.
vável
Austrália e
18 822 154 18 1,00 12
Nova Zelândia
Total 15.328
Gama e Silva 101
Amazonas Japurá 40 10 20
Negro 4.300 2.240 226
Branco 4.350 . 1.889 240
Uatumã-Jatapú 810 , 406 -
-; Trombetas 5.450 2.670 -
.c
.:
Curuá 390 193 -
.
-=;;
V'J Maicurú 180 91 -
'c". Parú 1.100 533 -
'S
" Jari 1.130 548 -
~ ---------------.- ------------ ----------- - - -- - - - - - - ---
Atlântico Norte Oiapoque 540 135 270
Araguari 520 262
Cassiporé 95 47
Calçoene 80 41
8ubtotal 18.985 9.065 756
Amazonas Juruá 20 10
Purús 200 133
Madeira 16.610 8.180 1.866
I
-; Thpajós** 17.914 8.967
c
.S
~.. Curuá-uma 20 10
. ::1: Xingú*** 19.686 10.416
'e" ---------_ .. _------ -----_.' ... _-- ----------- .. __ .. _---_._--
..E
'S Tocantins-
Araguaia**** Tocantins 16.500 8.280
<:
Araguaia 1.600 803
Atlântico
Nordeste Mojú 10 6
Gurupi 70 55
Subtotal 72.630 36.860 1.866
--------------------
C02
3 X 10141'~
(/)!Il
::lUJ
III(/)
::E(/)
C02 0-0
OIL
L· -."
EVAPORA ÃIJ
SOLlJÇAO
,.,,~
L 0 13
....:9:. ;,; . . (j"lklJ"i,: ~." •• - •
I
realimentação negativa, bem sintonizado para equilibrar os ciclos de 1
carbono e oxigênio da atmosfera.
ATMosrERA
0:2' 3,8 X 10
19
I
16 SUPERFíCIE
CO2 ' 5,6 X 10
17
C (ORGÂNICO): 2X 10
6
HC0 3' 5xloI
OCEANOS
~----~----~------ . ---
SOLUÇÃO SEDIMENTOS
21
HCO- , 32 X 10 18 C(ORGÂNICO):10
3 '
21
Cd CO ' 5 X 10
3
[,:/<:iJ GELEIRAS
:!CI r----.;.... ZC I
JANEIRO
60°L-__________________________________________ ~
JULHO
• GELEIRAS PERMANENTES
o
dinamismo reinante na floresta tropical não admite esse clfmax
estático. No que concerne à vegetação, viu-se que o único indicador
de uma situação semelhante é a medida da biomassa.
!2J HAFFER
O PRANCE
Amazônia Geográfica
(Tipologias Vegetais)
2
Tipo Area(km )
*Floresta sujeita a uma estação seca ou fria, na qual uma parte das folhas,
no caso menos de 50%, cai.
25 Solos eutróficos são aqueles que têm uma concentração ótima de nutrientes
para o desenvolvimento da flora e da fauna.
136 Olho Grande na Amazônia Brasileira
28 VOo librado é aquele em que o helicóptero apenas flutua no ar, sem mudar
de posição.
142 Olho Grande na Amazônia Brasileira
r,
~ RlOFUNOO
EOITORA
NASCENTE
DE UM LIVRO
MELHOR