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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO

Centro de Filosofia e Ciências Humanas


Departamento de História
História Contemporânea – Prof. Dr. Antonio Torres Montenegro

JEREMIAS JEFFESON GOMES DA SILVA

FICHAMENTO DO LIVRO “NADA DE NOVO NO FRONT”

RECIFE
2021
FICHAMENTO

CAPÍTULO 1, RESUMO:

O livro começa por meio da narrativa de seu narrador-personagem, ambientando


espacialmente a obra. Estamos no meio da guerra, a nove quilômetros do front, descansamos e
temos comida dobrada por causa de algum erro da distribuição, diz o narrador. Os
personagens? Um grupo de soldados, obviamente, mas em especial quatro jovens de 19 anos
saídos da mesma turma da escola que, caso não fossem a guerra, seriam tratados por todos
como covardes. Porém as pessoas não entendiam: na escola os professores viviam de
palavratório sobre a guerra, mas eles, os jovens, é que viviam a realidade. E nessa realidade
um de seus amigos, Kammerich, se encontrava no hospital ferido e em um estado deplorável:
perdera a perna na altura da coxa. Seu fim está próximo, e disso sabem os médicos do hospital
de guerra, assim como seus amigos, e isso os deixa extremamente abalados.
CAPÍTULO 1, COMENTÁRIO:
Duro, cru e cruel, assim é o primeiro capítulo. Ele é cruel por ser menos odisseico do
que se podia esperar de um livro do gênero. Essa parte “pacata” da vida na guerra nos
aproxima dos personagens. Sua comida, seu descanso, seus cigarros, sua amizade, tudo isso
nos é comum, mas isso são apenas poucos momentos, e é com isso que percebemos a
crueldade da guerra: são quatro jovens comuns, que viveram quase nada, mas que foram
jogados para matar ou morrer por sua pátria. São pessoas comuns com sonhos interrompidos,
famílias separadas e amigos perdidos. Isso nos aproxima. Eles não são grandes heróis, nem
uma “juventude de ferro”! Acerca do amigo ferido Paul refletiu: “ainda é ele, porém já não é
mais ele” e talvez isso reflita eles todos: eles ainda são eles, mas a guerra os transformou em
algo que não são, ou que não deveriam ser: pessoas comuns obrigadas a viver como animais.

CAPÍTULO 2, RESUMO:
Paul começa o capítulo com uma reflexão acerca da vida: pensa seu passado recente e
o futuro que devia estar ocorrendo. Segundo ele, os soldados mais velhos já tinham tido uma
vida, porém os jovens nada tinham. O narrador ainda reflete sobre o que ele e seus amigos
passaram na instrução militar e diz que foi ali que eles desenvolveram a coisa mais importante
para a guerra: a camaradagem. O capítulo se segue com Kammerich ainda no hospital, porém
dessa vez ele já sabe que sua morte se aproxima. Paul até tenta convencer Kammerich que ele
sairia daquela situação, mas o jovem não crê mais nisso e manda-o levar suas botas para
Müller, antes de chorar copiosamente, até, finalmente, morrer. O narrador reflete: ele “chora
porque ela” sua vida “o abandona.” O médico pergunta se Paul levará as coisas do amigo,
porque eles precisam levar seu corpo, pois precisam da cama. Ele diz que sim.
CAPÍTULO 2, COMENTÁRIO:
Vemos aqui a primeira grande perda do livro. A morte de Kammerich trás ao narrador
muitas reflexões. O contraste mais doloroso parece ser o do final do capítulo. Páginas antes
Paul pensou: todas as pessoas do mundo deviam passar pela cama de Kammerich e dizer aos
médicos “não deixem que ele morra”, mas na vida real o médico veio e disse “precisamos
desocupar a cama”. Se para Paul a camaradagem era a coisa mais importante na guerra, ele
via ali um camarada seu morrer de forma melancólica, sem esperança, longe dos amigos e
família. É aí que a reflexão do início do capítulo faz sentido: a escola não os preparou para
isso, as ideias da guerra lá eram românticas demais, porém ali eles veem a realidade dura e
crua da morte. Os heróis, a “juventude de ferro”, são apenas alguns garotos de 19 anos que
nada viveram e que choram desconsolados frente à crueldade e desesperança da guerra.

CAPÍTULO 3, RESUMO:
O capítulo descreve a chegada de novos soldados para recompor o batalhão, a
recepção dos veteranos aos calouros e a habilidade de Katczinsky para arranjar comida. Paul
passa o restante do capítulo narrando histórias sobre Kat e mostrando um ou outro diálogo
interessante deles acerca da guerra, e acerca de como, na guerra, não importa o que o homem
fez quando civil, pois o poder dado a um simples carteiro pode transformá-lo em um tirano,
porém se detém, por fim, em relatar o que ele entende como o “melhor dia” que tiveram na
guerra, que foi quando Paul, Kropp e Haie se vingaram do comandante carrasco Himmelstoss:
tamparam seus olhos e bateram nele até ele conseguir fugir. Ele ainda reflete pensando: são
esses jovens que chamaram de juventude heroica!
CAPÍTULO 3, COMENTÁRIO:
Aqui Paul parece reforçar (e realmente consegue) seu argumento acerca do quão
comum são esses jovens: eles não são heróis, não são grandiosos, não são salvadores,
perfeitos ou sei lá o quê que se pense acerca deles. São apenas uns pirralhos de 19 anos que se
amostram na frente de meninos de 18, que ridiculamente se vingam de seu comandante
carrasco, dentre outras tantas coisas fúteis. Paul nos passa simplicidade e reafirma
incessantemente que eles eram apenas jovens normais, comuns, mas que a guerra,
injustamente, os arrastou até ali. Além disso, os diálogos que citei no resumo são muito
interessantes, principalmente o que diz “se todos os exércitos tivessem soldo igual e igual
comida, a guerra seria depressa esquecida...”. Acho isso um comentário relevante que expõe a
humanidade de quem vive a guerra.

CAPÍTULO 4, RESUMO:
O primeiro capítulo de fogo cruzado incessante. Os soldados sobem aos caminhões e
se dirigem para as trincheiras, próximas ao front. O narrador descreve todo o sentimento que é
estar próximo ao front, e afirma que aqueles simples homens, uns bem-humorados, outros
carrancudos, logo se tornam animais. Já nas trincheiras há bombardeio perto deles. Um
recruta defeca nas calças, vários cavalos são atingidos e gritam até serem finalmente abatidos
pelos soldados de forma misericordiosa. Os soldados vão embora, esperam seus caminhões
para voltar ao alojamento, mas logo são novamente bombardeados. Escondem-se em um
cemitério, Paul é atingido de raspão, granadas explodem e após elas granadas de gás. Vários
homens feridos, mas finalmente o fogo cessa. O recruta que defecou nas calças estava ferido,
prestes a morrer. Ele é socorrido, e todos no caminhão vão de volta para o alojamento.
CAPÍTULO 4, COMENTÁRIO:
Essa é a primeira vez no livro que os soldados chegam próximos ao front. Vemos aqui
o terror da guerra, que se materializa de forma brutal, não mais como um conto, ou um
espectro apenas falado, como nos primeiros capítulos. Ouvem-se as balas, as explosões e os
gemidos graves perante a morte. Para Paul os soldados só conseguem sobreviver aquilo
porque agem como animais, sequer pensam. Mas no meio de tantos “animais” também vemos
jovens recrutas borrando as calças e cedendo ao medo como crianças, tendo que serem
consolados por um “veterano” (de 20 anos...). Quando os cavalos são atingidos, Paul diz: eles
gritam tanto e nem são homens. Mas, no meio daquele inferno os homens agem de forma tão
instintiva e irracional, que também não são mais homens: se tornam eles os animais... É o
desespero da guerra.
CAPÍTULO 5, RESUMO:
O capítulo se inicia com os soldados tirando piolhos, quando recebem a notícia que o
seu carrasco, o Himmelstloss, que um dia os soldados deram uma surra, estava de volta.
Nesse meio tempo os soldados tem uma longa conversa acerca de tudo o que fariam se a
guerra acabasse naquele presente dia. Alguns tem bons planos: família, profissão, mulheres...
Outros vêem com indiferença, e temem o futuro sem saber como o será. Todos falavam e só
param quando Himmelstloss chega diante deles. Tjaden é o primeiro a trocar farpas com o
superior, que sai furioso e volta com o sargento que sentencia Tjaden, que já não se encontra.
É a vez de Kropp brigar com Himmelstloss, também sentenciado, se junta a seu amigo na
prisão. É a vez de Paul e Kat entrarem em cena: saem durante a noite, furtam um ganso,
assam a ave, se alimentam e levam pedaços para os dois presos.
CAPÍTULO 5, COMENTÁRIO:
Este é um capítulo muito triste e reflexivo. Tirando todas as brigas com Himmelstloss
e a parte dos piolhos, pra mim sobram dois pontos altos: o diálogo sobre o fim da guerra e os
pensamentos de Paul sobre Kat. Comecemos por este último. Paul ao pegar o ganso, assá-lo e
come-lo com Kat, reflete de como gosta do amigo, sentindo um sentimento fraternal próximo
ao de namorados. Kat parece ser um ponto de paz para Paul: sempre com boas palavras, boa
amizade e boa comida. Creio que ele reflete toda a camaradagem que o narrador já disse ser
essencial para a guerra. Já o diálogo acerca do fim da guerra reflete a tristeza daqueles jovens
frente ao futuro. Eles sabem que perderam a juventude, não se consideram mais jovens e estão
plenamente conscientes que suas vidas nunca mais serão as mesmas depois daquilo tudo. Se
sobreviverem, não muda muito, pois, Paul reflete: “não queremos mais conquistar o mundo”.

CAPÍTULO 6, RESUMO:
Finalmente os soldados estão no front. São mandados para lá dias antes do previsto. A
batalha é travada nas trincheiras, e Paul junto com seu batalhão resiste aos bombardeios do
lado inimigo. Muitos recrutas morrem, e outros tantos vão à loucura. Todos ficam
atemorizados e mal conseguem falar. Agem como animais, pelo instinto. Falta água e comida,
pois perderam parte dela para os ratos. Depois de esperar contra-atacam. Metralhadoras,
granadas, perfurações por baionetas e pás, canhões e tudo mais que estiver à mão. Conseguem
espantar os inimigos e tomar-lhes a posição. Dezenas de inimigos morrem. Não há silêncio no
front. O narrador reflete acerca das vagas lembranças do passado que lhe sobrevêm. Procuram
um soldado ferido. Não o acham. Perdem muitos homens por causa dos bombardeios, mas os
vivos, 35, são substituídos e conseguem retornar ao alojamento, para a retaguarda.
CAPÍTULO 6, COMENTÁRIO:
Se no capítulo 4 chegaram próximos ao front, dessa vez finalmente estão neles. O
capítulo é frenético, lemos com muitos detalhes os horrores da guerra: vemos a loucura, a
fome, o medo, a coragem e até mesmo a covardia. Dói ler tudo isso e ver tanto desespero. As
borboletas que apareceram no campo de batalha parecem que demonstravam que a vida fora
da li, para muitos, seguia seu fluxo normal, mas para eles não. É aqui também que Paul faz
uma de suas reflexões, a meu ver, mais profundas: reflete que seu passado é possível de ser
recordado, mas já não é mais ele, o que me lembrou do nosso fazer historiográfico e a
impossibilidade de apreendermos a realidade. Em outra reflexão ele diz: “não lançamos
granadas contra homens, mas contra a Morte”, isso me impactou profundamente, pois, ele
completa: se fossem nossos pais ali, não hesitaríamos de lançar lhes uma granada ao peito...

CAPÍTULO 7, RESUMO:
De volta à retaguarda, Paul recebe uma licença para, finalmente, ir ver a família. Antes
da viagem ele e os amigos, os que ainda estão vivos bebem e jogam durante os dias. No nado
eles veem algo que não viam há tempos: mulheres. Três, para ser exato. Francesas. Fazem um
acordo, prometem levar-lhes comida, e ela promete os verem na casa delas. Eles vão se
divertem, comem, tem relações sexuais. Passam mais uns dias, repetem a dose, porém é a
hora de Paul visitar sua família. Paul chega à cidade, a mãe está doente, mas tudo continua
igual, menos o modo como lhe tratam: todos lhe reputam o heroísmo e a família se derrama
em saudades. Todavia, Paul não se sente parte daquilo, acredita que aquele Paul não existe
mais, que não mais conseguirá sê-lo. Ele reflete: “Fui soldado e agora nada mais sou do que
sofrimento...” Sente falta e não consegue se sentir alegre lembrando onde estão seus amigos.
CAPÍTULO 7, COMENTÁRIO:
Capítulo extremamente paradoxal. Tudo que os soldados mais queriam era ver a
família, retornar a sua cidade, rever os amigos, conhecer mulheres e se afastar da guerra por
uns dias. Paul também o queria, mas tendo isso nas mãos não consegue aproveitar. A frase
que abre o livro, que diz que ele “apenas procura mostrar o que foi uma geração de homens
que, mesmo tendo escapado às granadas, foram destruídos pela guerra” faz, agora, todo
sentido. O front os destruiu, se não físico, o fez psicologicamente. Paul não consegue mais
aproveitar aqueles dias normais, mesmo sendo tão jovem. Quando ele refletia que tinha
perdido sua juventude é disso que falava. Ele ainda é ele, porém já não mais é. O homem
Paul, ou o animal, matou aquele jovem alegre e sonhador, sobrando apenas um espectro de
tristeza e amargura que não consegue se encontrar.

CAPÍTULO 8, RESUMO:
Paul está em um alojamento para um curso de 4 semanas antes de voltar para a guerra.
Está envolto pela natureza e mesmo com a pouca comida de sempre consegue descansar. Está
de sentinela: vigia russos, prisioneiros de guerra. Se detém o capítulo quase todo a falar deles,
sua fome, seus maltratos sofridos, sua mendicância, sua miséria. Comem lixo, tem grandes
barbas e são tratados como animais. Mal falam e se movem de forma retorcida, dada sua
situação. Paul afirma guardar todas aquelas coisas para escrever sobre elas depois. Diz que
isso daria algum sentido a todo o sofrimento que passava. Já no fim dos dias de curso recebe
visita do pai e da irmã. Sua mãe continua doente e eles não tem dinheiro para a cirurgia, nem
para o tratamento.
CAPÍTULO 8, COMENTÁRIO:
É a primeira vez que sinto raiva de Paul. Claro que os russos são prisioneiros de
guerra, mas o narrador os trata como cachorros, mesmo com uma palavra aqui e um gesto ali
que transmita alguma humanidade. Chutar seres que já estão em um estado tão deplorável?
Bater em homens esfomeados, cansados e humilhados? Tratar como se fossem ratos simples
homens moribundos? Entendo seu ódio aos inimigos, mas mesmo assim é muito desumano
todas essas atitudes e ele sabe disso. Quando ele diz: “quanta miséria cabe nestes dois
pontinhos negros, nestes olhos que apenas um polegar conseguiria cobrir!” chega a beirar em
mim o ódio por ele. É medonho tudo isso, mesmo sabendo que os russos lhe fariam algo
igual...

CAPÍTULO 9, RESUMO:
Paul está de volta à guerra, mas ainda não está no front. Reencontra seus amigos. A
companhia passa por uma vistoria do Kaiser. Estão de volta ao front. Paul sai para uma
patrulha, vaga silenciosamente por entre as crateras de granada, cuida de um home até que
morra e passa dois dias desaparecido. Já encontrado, vai junto ao seu grupo patrulhar um
vilarejo. Sofrem ataques. Paul e Kropp se ferem gravemente e são mandados ao hospital, onde
passam muitos dias e criam amigos. Kropp perde a perna, posteriormente morre, já Paul,
curado, volta ao front. Conta sobre a história de morte de Detering e Berger. Müller morre. A
guerra está no fim e os alemães, em péssimo estado, são destroçados um por um pelos
inimigos. Leer também morre e já no fim da guerra é a vez de Kat, acertado na cabeça. Paul
está só, todos os seus morreram. Fala já sem esperança.
CAPÍTULO 9, COMENTÁRIO:
Este é o momento que os alemães, dos quais Paul é um deles percebem que perderão a
guerra. A morte de todos do grupo de Paul é demasiadamente triste, principalmente a de Kat
que morre sem Paul sequer perceber, mesmo estando em seus braços. A guerra lhe tirou a
juventude, os amigos e a família, e agora levava de forma cruel até os amigos que lhe deu. O
diálogo sobre as pessoas simples que lutavam na guerra deixa claro o que todos sentiam: se
alemão, francês, russo ou inglês, pouco importava, eram todos pessoas simples que
precisavam se matar por algo, ou alguém que sequer sabiam o que era, ou pouco se
importavam. A passagem do hospital também é triste, como Paul diz: ali realmente se vê o
que é a guerra.
CAPÍTULO 10, RESUMO:
Paul reflete sobre a guerra. Todos os seus amigos morreram, é o último de sua turma
ainda vivo. Reflete que as pessoas não entenderão os soldados quando voltarem, e que os
soldados mais velhos terão sua vida de volta, as pessoas mais novas não conhecerão a guerra e
no meio deles estará uma geração que sofreu e que está só. Paul, em 1918, finalmente também
morre.
CAPÍTULO 10, COMENTÁRIO:
Último capítulo. É breve, está ali apenas para fechar a história. O desamparo dos
soldados falado por Paul me lembra muito o livro “Ninguém escreve ao coronel” de Gabriel
Garcia Márquez. Não gosto do artificio usado na morte de Paul, poderia, simplesmente, não
existir, pois não adiciona nada a história além do uso da frase que dá nome ao livro. O
narrador de uma história morrer também é algo que me incomoda, aqui em especial porque
não deixa claro como ela teria sido relatada, tendo em vista que ele morre ainda na guerra
todavia isso é mais uma problematização minha, e confesso que tola. Ótimo livro.

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