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UM OLHAR VIOLONÍSTICO:
Raphael Rabello e as músicas Luiza e Passarim de Tom Jobim
SÃO PAULO
2019
LUÍSA CAMPELO DE FREITAS
UM OLHAR VIOLONÍSTICO:
Raphael Rabello e as músicas Luiza e Passarim de Tom Jobim
SÃO PAULO
2019
LUÍSA CAMPELO DE FREITAS
UM OLHAR VIOLONÍSTICO:
Raphael Rabello e as músicas Luiza e Passarim de Tom Jobim
COMISSÃO JULGADORA
_________________________________________
Prof. Msª Andrea Paula Pichersky
Faculdade Santa Marcelina
_________________________________________
Prof. Dr. Sidney José Molina Júnior
Faculdade Santa Marcelina
RESUMO
Índice de imagens
Índice de tabelas
1. INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 9
1.1. ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO ................................................................................ 11
2. CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICO-BIOGRÁFICA ..................................................... 13
2.1. RAPHAEL RABELLO .................................................................................................... 13
2.2. TOM JOBIM .................................................................................................................. 20
2.3. AS MÚSICAS ................................................................................................................ 27
2.4. TODOS OS TONS ........................................................................................................ 30
3. ARRANJO E INTERPRETAÇÃO .................................................................................... 35
4. ASPECTOS ESPECÍFICOS DO VIOLÃO ....................................................................... 41
4.1. TONALIDADE ............................................................................................................... 44
4.2. REGIÕES DO BRAÇO E SUAS SONORIDADES ....................................................... 46
4.3. HARMÔNICOS ............................................................................................................. 47
4.4. DEMAIS CONSIDERAÇÕES ..................................................................................... 488
5. REFERENCIAL TEÓRICO .............................................................................................. 50
6. DISCUSSÕES .................................................................................................................. 53
6.1. DESCRIÇÃO DOS ÁUDIOS ......................................................................................... 57
6.2. ANÁLISES ..................................................................................................................... 58
6.2.1. Luiza....................................................................................................................... 59
6.2.2. Passarim ................................................................................................................ 66
7. CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................. 76
REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 788
9
1. INTRODUÇÃO
Tom Jobim e Raphael Rabello são figuras bastante híbridas no que diz
respeito à formação musical. Foram inovadores dentro de seu nicho de atuação,
abrindo caminho para novas formas de pensar e tocar. Ambos tiveram aulas com
grandes mestres (Jobim com Koellreutter1, Rabello com Meira2 e Turíbio Santos), e
em especial conviveram intimamente e foram muito influenciados por Radamés
Gnattali, um dos músicos que estabeleceu diálogos entre o erudito e o popular,
influenciando fortemente as gerações seguintes.
Apesar de inicialmente ligados a diferentes tradições dentro da música
brasileira, ambos se dedicaram a estudar música de maneira ampla e utilizaram o
conhecimento adquirido como caminho para expandir a compreensão, suas técnicas
e o fazer musical, com uma preocupação de atingir a maior quantidade possível de
pessoas. Tom Jobim marca a música brasileira ao encabeçar o movimento da Bossa
Nova, contribuindo com o enriquecimento da harmonia e com novas tendências
melódicas (CABRAL in CHEDIAK, 1994a, p. 16). Além disso, eleva a música
brasileira a um nível de reconhecimento e estima internacional muito maior,
influenciando também o Jazz, através de seu conhecimento de música erudita, em
especial Chopin, Villa-Lobos e Debussy (CHEDIAK, 1994a; JOBIM, P., 2000).
Raphael Rabello por sua vez “redimensionou o choro com harmonias modernas,
inserindo elementos da música flamenca, concebendo uma estética harmoniosa e
significativa, no âmbito até então, tradicional” (SILVA, 2010, p. 14), além de todas as
inovações técnicas no instrumento que abriram possibilidades para todos os
violonistas que vieram depois dele. Já em seu primeiro LP (Rafael Sete Cordas),
Rabello dava sinais de que seria um marco no violão brasileiro, pois já trazia
inovações como: o uso de cordas de nylon (numa tradição em que só se usava
cordas de aço); a não utilização de dedeira (como se fazia antes na escola de seu
1
Hans Joachim Koellreutter (1915-2005) foi um professor de música alemão que viveu e foi
naturalizado no Brasil, ensinou e influenciou diversos artistas no país. Trouxe o dodecafonismo e a
harmonia funcional para o Brasil e criou o movimento Música Viva, entre outras atividades. Defendia
que a formação intelectual e artística deveria ocorrer em contextos multidisciplinares. (BRITO in
MATEIRO; ILARI, 2016, p. 141; JOBIM, P., 2000, p. 25).
2
Jayme Thomás Florence, mais conhecido como Meira, foi violonista e professor de violão, nascido
em Pernambuco em 1909. “Diferentemente da maior parte dos chorões de sua geração, Meira tinha
intensa atividade didática, tendo colaborado para a formação de sentenas de violonistas, como Baden
Powell e Raphael Rabello” (CAZES, 1998, p. 68).
10
3
O autor indica a segunda fase começando em seu primeiro LP solo (Rafael Sete Cordas) e este
segundo momento desta segunda fase é o reflexo da incorporação da linguagem de Radamés
Gnattali, Garoto e de elementos técnicos do violão flamenco.
4
Durante a pesquisa conseguimos ter acesso a 4 trabalhos acadêmicos com enfoque musical sobre
sua obra, a saber: Trajetória estilística do choro: o idiomatismo do violão de sete cordas, da
consolidação a Raphael Rabello (BORGES, L. 2008), Características do acompanhamento de
Raphael Rabello: análise comparativa de dois fonogramas (MATARAZZO, 2018), Odeon de Ernesto
Nazareth: Interpretação, arranjo e improvisação de Raphael Rabello (NUNES, 2007) e O Violão do
Brasil no Século XX: O Legado de Raphael Rabello (SILVA, 2010). Alguns outros trabalhos foram
encontrados, porém com enfoque majoritariamente biográfico, como O Violão de Raphael Rabello
(BORGES, P., 2010) e a própria biografia de apoio, Raphael Rabello: O Violão em Erupção (NOBILE,
2018).
12
devem ser considerados antes de desenvolver uma peça para este instrumento ou
uma análise, utilizando principalmente o livro The study of orchestration de Samuel
Adler e a tese de mestrado de Fanuel Lima Júnior (A elaboração de arranjos de
canções populares para violão solo) como referenciais teóricos. Em seguida
discutiremos os métodos de análise que serão utilizados neste trabalho. A ausência
de uma metodologia que englobe todos os aspectos pertinentes às duas músicas
não favorece o uso de uma linha única de análise, de modo que consideraremos
pontos pertinentes de diferentes autores: Douglass Green (Form In Tonal Music),
Arnold Schönberg (Fundamentos da composição musical), Paulo de Tarso Salles
(Análise musical: etapas) e Dirk Stederoth (Sound, groove, performance: Categorias
de realização estético--musical para caracterizar a música popular). Por fim, algumas
características de Rabello enquanto intérprete e arranjador serão pontuadas, e
apresentaremos as músicas, discutindo algumas escolhas específicas de cada
arranjo. Contaremos com apoio de partituras e de áudios para a análise.
13
2. CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICO-BIOGRÁFICA
5
Nascido Rafael Baptista Rabello, o músico adotou o nome artístico com [ph] em determinado
momento da carreira e assim será referenciado neste trabalho, por ser o nome artístico utilizado no
disco aqui analisado.
14
Como muitos de seus conselhos foram seguidos por Raphael e outros jovens
músicos, Radamés também se inspirou através do convívio com essa geração
interessada:
Gnattali compôs muitas obras para esta nova geração de chorões e integrou
um grupo com alguns deles, a Camerata Carioca. O grupo surgiu em 1979 com uma
proposta ambiciosa: fazer uma nova versão da Suíte Retratos de Gnattali, composta
originalmente para Jacob do Bandolim e orquestra nos dez anos da morte de Jacob,
com a formação tradicional de um regional de Choro. A ideia de Joel Nascimento
exigia chorões que tivessem uma boa leitura musical, o que o fez buscar muitos dos
membros do conjunto Os Carioquinhas - entre eles Raphael e sua irmã Luciana.
Após shows deste Tributo a Jacob do Bandolim em capitais do país, o grupo foi
nomeado Camerata Carioca, e, sendo uma camerata, Radamés declarou que
escreveria arranjos também de concertos clássicos para o grupo incorporar em seu
repertório (CAZES, 1998). Com isso, foram incluídas algumas obras de Vivaldi junto
ao repertório de Choro.
A partir desta experiência, Rabello foi aprofundando seu estudo técnico para
dedicar-se a este repertório. Nobile aponta:
Pela primeira vez, um violonista que fora gestado musicalmente num berço
popular - o do choro, o do samba e o da seresta -, e que vinha estudando
posterior e seriamente para aprimorar sua técnica de concertista, dedicava-
se aquele repertório com uma visão ao mesmo tempo mais ampla e mais
aprofundada. (NOBILE, 2018, p. 138)
6
O livro de Nobile (2018) listou todas as participações de Rabello em discos de outros artistas.
18
Rabello tinha em sua música uma junção de estilos que refletia não somente
seu estudo, mas também os repertórios que escutava. Tárik de Souza no Jornal do
Brasil em 1987 chamou atenção para os discos que Rabello costumava ouvir, que
incluíam David Bowie, Prince, Miles Davis, Wes Montgomery, Django Reinhardt e
Chick Corea (SOUZA apud NOBILE, 2018). Estas influências diversas, que contam
com execuções musicais com técnicas muito particulares, mostram um
instrumentista que não se limitava a uma bolha cultural. Um dos estilos que mais o
fascinou e envolveu foi o flamenco, muito influenciado pelo amigo Paco de Lucía
(inclusive foi um dos convidados no disco Todos os Tons). Após o contato com o
instrumentista espanhol, Rabello incorporou muitos elementos técnicos do flamenco,
entretanto esse fascínio pela música flamenca e a intimidade com este repertório já
o acompanhavam desde a infância:
tinha entre 10 e 11 anos, Rafael disse que “tentava imitar aqueles violões do
Tárrega”. (NOBILE, 2018, p. 161-162)
Para que pudesse ter tal versatilidade, não era só necessária uma abertura
pessoal, mas também técnica, e Raphael buscou aprender com diversos mestres,
sem se limitar a uma única escola:
Interessante destacar que seu primeiro disco (Os Carioquinhas no choro) foi
lançado em 1977 (Rabello tinha apenas 15 anos), logo no ano seguinte da sua
estreia profissional. Além dos diversos registros em áudio, há gravações de vídeos
caseiros com Rabello tocando e algumas participações em programas de TV. Como
parte de seu legado, foi fundada em 1998 a Escola Brasileira de Choro Raphael
Rabello em Brasília (NOBILE, 2018, p. 300). Rabello foi muito reconhecido em vida
por músicos no Brasil e no exterior. Paco de Lucía disse em entrevista “Rafael é um
dos melhores guitarristas, é o melhor de seu país” (NOBILE, 2018, p. 153); “Baden
[Powell] disse a Paulinho [da Viola]: ‘Olha, eu queria te dizer outra coisa: violão aí no
Brasil só tem o Rafael’” (NOBILE, 2018, p. 155). Por todo seu trabalho, manter sua
memória viva é uma homenagem justa e necessária. Sua obra ainda representa um
campo vasto de pesquisa musical.
Tom Jobim foi pianista, arranjador e compositor, além de cantar e tocar violão.
Suas músicas alcançaram fama nacional e internacional ainda quando jovem e é
reconhecido até hoje como um dos grandes expoentes da música brasileira.
21
7
As informações biográficas foram retiradas do site http://portal.jobim.org/jobim e dos livros de Sérgio
Cabral indicados nas referências.
8
Tocava no Clube da Chave (CABRAL in CHEDIAK, 1990c, p. 10).
22
que Garota de Ipanema já teve mais de 300” (CABRAL in CHEDIAK, 1990c, p. 10)9.
Sua carreira foi também um reflexo do próprio momento político do Brasil, que vivia
um período desenvolvimentista com Juscelino Kubitschek. O próprio Jobim em
entrevista explica:
Seu primeiro disco assinando como intérprete saiu em 1964, gravado nos
Estados Unidos, intitulado Antônio Carlos Jobim, the composer of Desafinado, plays,
título bastante sugestivo, que mostra que seu trabalho como compositor foi a
alavanca para sua carreira como intérprete. Suas obras foram tocadas por diversos
intérpretes renomados no mundo inteiro, incluindo nomes como Frank Sinatra e Ella
Fitzgerald, para não falar de Elis Regina10. O antológico disco Getz / Gilberto
lançado em 1964 (de Stan Getz e João Gilberto) trazia apenas composições de
Jobim, e, além de ganhar 4 Grammys, ficou 96 semanas nas paradas de sucesso,
chegando ao segundo lugar de vendas e execuções, atrás apenas dos Beatles. O
disco Francis Albert Sinatra and Antônio Carlos Jobim também alcançou a mesma
marca de vendas e execuções em 1967.
A amizade e parceria com Chico Buarque surgiu em 1966, destacando-se em
sua carreira e na música brasileira como um todo. A década de 60 foi marcada por
muitos discos, muitas canções de sucesso e projetos no exterior. Ganhou o Festival
da Canção em 1968.
A década de 70 foi igualmente recheada de discos. Em 1970 lançou dois
álbuns: Stone Flower e Tide, sendo este segundo instrumental e com toques
orquestrais, numa linguagem bastante jazzística. Tom Jobim em muitos momentos
se aproximou da música orquestral e erudita - o exemplo mais forte disto é a peça
encomendada Sinfonia da Alvorada de 1960, mas também a música Lenda de 1954,
e mesmo na sua maneira de compor algumas peças populares, com toques da
9
Vale destacar que estes números que impressionam já estão bastante desatualizados, por terem
sido recolhidos 29 anos antes do desenvolvimento desta pesquisa – hoje o número de gravações é
ainda mais elevado do que os dados apresentados por Chediak.
10
Tom Jobim foi o compositor mais gravado por Elis Regina, com um total de 24 músicas diferentes
(KFOURI apud CABRAL, 1997, p. 314)
25
tradição erudita. Para ele, muito influenciado pelo seu professor Koellreutter 11, não
existiam fronteiras rígidas entre o erudito e o popular (JOBIM, P., 2000, p. 26). Em
1972 compõe Águas de Março e em 1973 lança no Brasil o disco Matita Perê. Elis &
Tom é de 1974, só para citar alguns exemplos de sua intensa atividade.
Também na década de 70 Jobim passa a adotar uma postura mais firme
quanto a questões ecológicas, que muitas vezes serviam inclusive de inspiração
para suas músicas e discos. Jairo Severiano e Zuza Homem de Mello identificam
que o lançamento de Águas de Março e Matita Perê marcam o início de “uma
intensificação em sua obra do uso de temas ligados à natureza” (SEVERIANO,
MELLO, 1998, p. 170). Essas temáticas se tornam recorrentes na obra de Jobim,
vide Urubu, em homenagem ao pássaro que Jobim dizia que “é a nossa águia”
(Jobim, T. apud CABRAL, 1997, p. 330), fazendo referência ao símbolo do
nacionalismo estadunidense. Muitas músicas e discos levam nome de animais e
elementos da natureza, ou se relacionam diretamente com a fauna e flora brasileira.
Na música Correnteza por exemplo recriou toda a paisagem natural através da
canção de amor, narrando o movimento do rio, de flores, frutas, pássaros, do clima,
do céu, e até de como o barro fica marcado pela passagem do gado. Tal criação
imagética é também feita de certo modo em Águas de Março ao descrever a
natureza brasileira no final do verão. Ao adaptar esta letra para o inglês, relatou que
a dificuldade não estava apenas em traduzir as palavras, mas sim em fazer
compreender as imagens criadas poeticamente, fato que o levou a abandonar a
fidelidade ao texto em português, recriando-o para que as imagens pudessem ser
mais impactantes e mais facilmente assimiladas na cultura estadunidense (CABRAL,
1997, p. 303).
Toda sua vida foi marcada por dezenas de homenagens e reconhecimentos
ao seu trabalho, apesar de ter sempre denunciado a resistência do mercado
nacional para a música brasileira (os músicos brasileiros eram mais reconhecidos no
exterior e as rádios nacionais tocavam programação estrangeira o dia inteiro12).
11
A influência do pensamento de Koellreutter em Tom Jobim não se faz tão presente em aspectos
especificamente musicais, mas sim enquanto concepção de arte de modo geral. Jobim fez pouco uso
das tradições musicais contemporâneas trazidas ao Brasil pelo professor alemão, entretanto a
filosofia de ensino e pensamento musical de Koellreutter encontra diversos paralelos na obra de
Jobim, que apresentava uma erudição para além do campo musical exclusivamente, propondo
interações e diálogos com outras áreas do conhecimento, mostrando um estudo e aprofundamento
pessoal amplo, tal qual recomendava seu mestre.
12
CABRAL, 1997.
26
2.3. AS MÚSICAS
Tom foi convidado por Aloísio de Oliveira para tocar piano no clássico Pra
dizer adeus (Edu Lobo e Torquato Neto) do long-play que Edu Lobo ia
começar a gravar com a participação de vários músicos e cantores. Mas
não deu outra. No estúdio, após criar uma nova introdução em Pra dizer
adeus, Tom pediu para participar da faixa Canção do amanhecer (Edu Lobo
e Vinícius de Morais). Aloísio de Oliveira, com a experiência de quem
produzira os discos de Miúcha, propôs que o LP fosse dividido entre Edu
Lobo e Antônio Carlos Jobim. Saiu um disco antológico, não só pela
qualidade das músicas e da apresentação de cada uma, mas também pela
perfeita identidade entre dois criadores de gerações diferentes que se
admiravam mutuamente. (CABRAL, 1997, p. 357)
Para Tom, pôr música numa minissérie baseada na obra de Érico Verissimo
foi mais que uma honra, foi um reencontro com suas raízes gaúchas, uma
homenagem indireta a seu pai, que, por sinal, os Verissimo haviam
conhecido em Porto Alegre. Gravada em março de 1985, no estúdio da Som
Livre, com Tom ao piano e a Banda Nova, Zé Renato, Kleiton e Kledir e o
Conjunto Farroupilha nos vocais, a trilha de O tempo e o vento tinha ao todo
seis temas: “Passarim”, “Chanson pour Michelle”, “Bangzália”, e mais três
(“Um certo capitão Rodrigo”, “Senhora Dona Bibiana”, e “Rodrigo, meu
capitão”). (JOBIM, P., 2001, p. 12-13).
28
sul do país, e por fim há uma coincidência na própria personalidade de Jorge Jobim
com Rodrigo: a figura do típico galanteador mulherengo.
Como não poderia deixar de ser, a música era assunto recorrente naquelas
reuniões de botequim. Naquele contato informal, Raphael pediu a Tom que
ele passasse a partitura de “Garoto”, de autoria do pianista e gravada pelo
próprio Jobim com o título de “Choro” em seu disco Stone Flower, de 1970.
Ali, no Lucas, os dois conversaram despretensiosamente pela primeira vez
sobre o projeto de um dia gravar temas de Tom em arranjos para violão.
Três anos depois, quando gravou “Garoto”, o choro-homenagem de Jobim
ao genial Aníbal Augusto Sardinha, em seu primeiro LP solo, Raphael
contou com o auxílio luxuoso do compositor na transcrição da música do
piano para o violão sete cordas. (NOBILE, 2018, p. 229)
Este foi o primeiro contato estabelecido entre os dois músicos, e que seria o
início de uma colaboração de longa data, não só com Tom Jobim, mas também com
seu filho, Paulo Jobim, que também era violonista e conhecia as músicas muito bem
(tanto que foi o responsável pela organização das composições de seu pai no
Cancioneiro Jobim e no acervo online do Instituto Antônio Carlos Jobim, ambas com
sua obra completa). Como Jobim tinha muitos compromissos internacionais, e às
vezes passava longos períodos nos Estados Unidos, Paulo se tornou um importante
aliado de Rabello em seu projeto.
Dez anos depois de a semente daquele projeto ser lançada, quando tudo
começava finalmente a se desenrolar de forma mais veloz, o imponderável
deu as caras. Cinquenta dias após a mídia noticiar que o disco seria
32
Para efeito de comparação, entre 1982 e 1991 Rabello gravou e lançou oito
álbuns. Já Tom fez menos da metade disso, embora devesse se considerar
que aquelas produções, por suas características, consumissem mais tempo
mesmo. Eram duas trilhas, uma para o filme Gabriela (dirigido por Bruno
Barreto e inspirado no romance de Jorge Amado), de 1983, e outra para a
minissérie O Tempo e o Vento lançada pela TV Globo em 1985. Além delas,
33
Duas vezes ele entraria num estúdio em 1991. Em nenhuma delas para
gravar um disco seu. No álbum Todos os Tons, com o melhor do compositor
recriado pelo violão de Raphael Rabello, Tom o acompanhou ao piano no
choro ‘Garoto’ - justamente a música que, dez anos antes, ensinara a
Raphael a transcrever para violão. (JOBIM, P., 2001, p. 20)
O sucesso de vendas também não foi à toa. Tom Jobim já era um cancionista
aclamado pelo público geral - suas músicas eram trilhas sonoras de novelas e
minisséries na Globo, um dos canais mais influentes da televisão brasileira. Um
disco inteiramente dedicado à sua obra tem potencial de atrair um público que não
costuma consumir música instrumental, por conta de músicas de sucesso (como
Garota de Ipanema), especialmente as trilhas consagradas (como Luiza). Mas o fato
é que as vendas, acima da média deste gênero, abriram mais espaço nas
gravadoras para novos discos de música instrumental. Com este disco, Rabello
conseguiu atrair mais público, popularizar sua música, ter um retorno financeiro
interessante, e ainda deixou para outros músicos do ramo instrumental uma abertura
um pouco mais favorável com as gravadoras.
Com esse breve panorama sobre a circunstância do álbum, pode-se
compreender o caráter único no qual se desenvolveu o projeto: um disco
colaborativo, com ativa participação do compositor, com explorações sonoras e
técnicas do intérprete, de participações diversas, contribuindo para diferentes
sonoridades entre as faixas, com um resultado de vendas surpreendentemente
positivo para um disco instrumental no mercado nacional, fruto de anos de
dedicação, que não encontraria paralelo em nada que o violonista havia feito ou viria
a realizar no seu tempo de vida restante.
35
3. ARRANJO E INTERPRETAÇÃO
Sendo uma arte do tempo, a música depende da ação humana para existir, e
só pode existir de fato no momento de sua execução. A música só sobrevive para
além do momento de execução através de formas de grafia (e, a partir do início do
século passado, também por gravação de áudio) que conservam sua essência até o
momento em que outra pessoa a faça reviver na sua natureza temporal, executando-
a novamente (FUBINI, 2008). Através da escrita e dos recursos tecnológicos de
gravação estabelecemos uma comunicação entre passado, presente e futuro: pode-
se executar uma música escrita 500 anos atrás e escrever uma peça que poderá ser
tocada daqui a 100 anos. Porém essa comunicação não é totalmente controlada; a
partitura acaba sendo apenas uma guia para os executantes do que o compositor
desejava que soasse, de modo que duas interpretações de uma mesma música não
são nunca plenamente iguais.
Por conta das suas particularidades, a música é também essencialmente
colaborativa. Há mais de uma pessoa atuando no momento em que uma música é
tocada; podemos ter envolvidos, numa única música, compositor, intérprete, técnico
de som, copista, além de relações indiretas, por exemplo a pessoa que construiu o
instrumento que está sendo tocado. Cada um que participa neste processo que
transforma a música idealizada em sons deixa inevitavelmente uma marca pessoal
no resultado sonoro daquela música, em maior ou menor grau. Vamos buscar neste
capítulo compreender diferentes visões sobre algumas destas funções, mais
especificamente compositor, arranjador e intérprete.
Tradicionalmente, considera-se o compositor como o início do processo. Dele
parte a ideia inicial da composição, que pode ser desenvolvida com ou sem a ajuda
de outros parceiros. Na música popular, é muito comum o processo de criações
coletivas, onde, a partir de uma ideia inicial (melódica, harmônica, de condução ou
de letra), desenvolve-se conjuntamente o restante da música. Uma composição
também pode partir de um tema, motivo ou estilema 14 já pré-existente. Para ilustrar
14
Segundo o dicionário Michaelis, estilema é o “Termo usado para designar um traço central de estilo
e que indica uma constante estilística que se impõe como padrão recorrente” (MICHAELIS
DICIONÁRIO BRASILEIRO DA LÍNGUA PORTUGUESA, 2019)
36
15
O livro é uma edição portuguesa anterior ao prazo de implementação do Acordo Ortográfico da
Língua Portuguesa - algumas palavras estão grafadas segundo a antiga tradição do português de
Portugal, podendo causar certo estranhamento ao leitor, porém as citações foram mantidas tal como
estão nesta edição do livro.
37
parte das edições para violão das peças para violino e violoncelo seria
melhor descrita como arranjo, por conta das notas adicionadas e
reconstrução subjetiva do original. (KOONCE, 2013, p. 1, tradução da
autora)16
Neste trecho, o autor pontua que de fato transcrições são mais fiéis ao
original, enquanto os arranjos são mais interpretativos (e não “menos cuidadosos”
como na definição do Dicionário de Música). Esta definição será o nosso guia para
distinguir estes conceitos neste trabalho.
É comum que um compositor que tenha uma música composta para uma
formação mais simples peça a um arranjador que orquestre sua música: que
adicione um ou mais naipes de instrumentos que refinem a sonoridade e somem em
conteúdo tímbrico. Rogério Duprat17 foi um dos grandes arranjadores de música
popular no Brasil nesse ramo. No trabalho de Lima Júnior esta função de
orquestrador de um arranjador não é discutida em seu levantamento, o que nos
mostra que delimitar as funções e atuações possíveis de um arranjador é de fato
uma tarefa complexa e extensa. Tendo isso em vista, faremos um breve panorama
de alguns aspectos mais pertinentes às análises propostas neste trabalho, sem
pretensões de aprofundar demais ou concluir algo sobre o assunto.
Lima Júnior divide o modo de trabalhar com arranjos em duas principais
vertentes. Na primeira, busca-se preservar as características originais de melodia,
harmonia e ritmo e na segunda a intenção é justamente transformar o material
original através de técnicas de variação em alguns elementos da música (LIMA
JÚNIOR, 2003, p. 24).
16
“Transcriptions, strictly speaking, are more faithful to the original, while arrangements are more
interpretive. For example, most modern guitar editions of Bach’s lute works are close enough to the
original that they may be called transcriptions, whereas most guitar editions of Bach’s violin and cello
works might better be called arrangements because of added notes and subjective reconstruction of
the original.”
17
Rogério Duprat (1932-2006) participou do Movimento Música Nova, foi à Darmstadt em 1962
estudar com Boulez, Stockhausen e Pousseur (junto de Gilberto Mendes, Willy Corrêa de Oliveira e
outros). Fez arranjos icônicos, como de Domingo no Parque (Gilberto Gil), Construção (Chico
Buarque), além de estar intimamente ligado ao Tropicalismo (JARDIM, 2016).
39
Ambos têm que lidar com questões tais como planejamento formal,
tratamento textural, uso de técnicas de variação, exploração adequada do
meio escolhido, etc., com a mesma proficiência. O compositor quando varia,
também pratica a arte de arranjar a partir de uma ideia inicial que nesse
caso, foi concebida por ele próprio. (LIMA JÚNIOR, 2003, p. 18)
18
Neste trecho fica bastante evidente a postura contrária e crítica de Lima Júnior em relação às
definições presentes no Dicionário de Música de Horta.
40
19
Há pequenas divergências sobre o alcance agudo do violão, pois pode variar conforme o
instrumento, e também porque alguns autores consideram apenas o mais agudo que o violão pode de
fato utilizar de maneira funcional e com fluência, como é o caso de Samuel Adler (neste caso
específico, sua funcionalidade dentro do contexto orquestral).
43
20
Foi mantida aqui a exemplificação de Adler pela facilidade do recurso visual utilizado pelo autor –
porém consideraremos um alcance maior no agudo do que o apresentado nesta figura.
44
É importante destacar que a adaptação pode ser mais fiel ao original ou mais
inovadora, dependendo da intenção do arranjador, sem que isso signifique
necessariamente uma adaptação “melhor” ou “pior” (conforme discutido no capítulo
3).
Para compreender melhor as escolhas que precisam ser tomadas pelo
arranjador que transcreve para o violão, utilizou-se como principal referencial a
dissertação de mestrado A elaboração de arranjos de canções populares para violão
solo de Fanuel Maciel de Lima Júnior defendida na UNICAMP. Apresentaremos
alguns tópicos levantados pelo autor e outros que serão relevantes em nossas
análises.
4.1. TONALIDADE
Lima Júnior (2003, p. 36) defende que um dos aspectos determinantes para o
bom resultado do arranjo é a escolha de uma tonalidade adequada à tessitura da
melodia, considerando a região que se deseja explorar e que melhor caracterize o
gênero da obra pelo acompanhamento. "Em primeiro lugar, poder-se-ia afirmar que
há uma preferência por tonalidades nas quais as funções harmônicas principais
utilizem o maior número possível de cordas soltas” (LIMA JÚNIOR, 2003, p. 44-45),
sugerindo portanto que as tonalidades de Mi (maior e menor), Lá (maior e menor), e
Ré (maior e menor) são muito exploradas (por terem suas fundamentais e
dominantes ou subdominantes disponíveis em cordas soltas). Outras tonalidades
45
indicadas pelo autor são Sol maior, Dó maior e Si menor, pois permitem o uso de
recursos idiomáticos violonísticos sem impor um grau de dificuldade técnica muito
elevado para o instrumentista.
Um dos aspectos que o autor compreende como dificuldade técnica está
relacionado ao uso de muitos acordes formados por pestanas. Esta dificuldade
gerada pelas pestanas é, primeiramente, por exigir maior resistência física do
instrumentista. Além disso, o uso de pestanas limita a fluência da digitação e da
realização do arranjo, restringindo a liberdade textural e de tessitura (LIMA JÚNIOR,
2003, p. 45).
Importante considerar que a tonalidade também está associada a tessitura da
obra original e do que se pretende explorar no arranjo. “Quanto a tessitura da obra, é
necessário adaptá-la aos recursos expressivos do violão, seja em termos de região,
seja em termos da própria tonalidade escolhida” (LIMA JÚNIOR, 2003, p. 46), de
modo a atingir a textura desejada.
Além da dificuldade técnica destacada pelo autor também convêm considerar
que a ressonância do instrumento como um todo muda com o uso de cordas soltas,
e isso não é algo que pode ser alterado pelo domínio técnico do intérprete. Com
cordas soltas o tampo do instrumento vibra mais e o violão produz mais harmônicos,
de modo que a escolha por estas tonalidades indicadas pelo autor pode ser também
por questões puramente tímbricas.
Um bom exemplo de adaptações de tonalidades ao se arranjar ou transcrever
músicas para o violão está nas obras de Johann Sebastian Bach. Koonce trabalhou
com adaptação da obra de Bach para violão e alaúde, e mostra que o próprio
compositor modificava aspectos de suas composições ao desenvolver as peças para
outro instrumento: “Quando Bach reutilizava suas próprias composições, entretanto,
ele não transferia simplesmente a mesma música de um instrumento para outro; ao
invés disso a modificava considerando os pontos fortes e fracos do novo
instrumento."21 (KOONCE, 2013, p. 1, tradução da autora). Aqui vemos que muitas
vezes se dá preferência para o que cada instrumento pode expressar, e não tanto
para uma prerrogativa inicial do compositor, que adapta sua ideia para cada situação
(e nesse sentido podemos associar diretamente este processo com o caso da
21
“When Bach recycled his own compositions, however, he did not simply transfer the same music
from one instrument to another; instead, he modified it by taking into account the strengths and
weaknesses of the new instrument.”
46
22
Estas partituras podem ser encontradas no livro The Solo Lute Works of Johann Sebastian Bach:
edited for guitar by Frank Koonce (KOONCE, 1989).
23
Demais notas alcançadas através de harmônicos também são incluídas como região aguda.
24
A região aguda do violão não é de fato uma tessitura considerada aguda, mas mantivemos a
nomenclatura padrão para organizar a tessitura do violão dentro de seu próprio alcance, e não em
comparação com outros instrumentos
47
polifônica é menos explorada, por conta de oferecer pouca comodidade para a mão
esquerda (especialmente em instrumentos que não possuem o recorte inferior no
corpo do instrumento) e pelo fato de que as notas são sustentadas por menos tempo
nesta região extremo aguda (Ibidem, p. 47).
4.3. HARMÔNICOS
25
Também chamado de pedal damper ou de pedal de sustain.
48
pensamento motor do intérprete. Este recurso pode ser usado para resolver
problemas listados nos itens anteriores como tonalidade e tessitura da peça.
No violão também é possível pedir ao intérprete que explore sons
percussivos, percutindo o tampo ou o diapasão do violão. Esta técnica pode ser
combinada com o uso de harmônicos, gerando o que é chamado de tâmbora:
“Percutir com o dorso do polegar direito sobre os trastes indicados (12º, 16º),
obtendo uma fusão entre harmônicos e percussão” (ROMÃO, 2012, p. 1301). O
próprio Rabello utiliza elementos percussivos no violão na primeira faixa do Todos os
Tons, Samba do Avião, no início da introdução. Outro exemplo auditivo que pode
auxiliar o leitor a compreender estes efeitos percussivos no violão é o último
movimento (Crótalo) do Romancero Gitano, de Mario Castelnuovo-Tedesco. Na
segunda seção deste movimento, o compositor pede que o violonista toque as notas
batendo a mão direita no rastilho.
Uma das técnicas flamencas que foram identificadas em nossas análises foi o
trêmolo, que, segundo Emílio Pujol, é “um procedimento que permite a continuidade
de um desenho melódico mediante a repetição regular e rápida de cada nota”
(PUJOL, 1956 apud STEFAN, 2012). Esta técnica é utilizada não só no flamenco,
mas também no violão clássico, porém a digitação é levemente diferente em cada
uma destas escolas: na técnica clássica, o polegar toca as notas graves e executa-
se o trêmolo utilizando os dedos anelar, médio e indicador (nesta ordem), enquanto
na técnica flamenca, inclui-se uma nota adicional tocada com o indicador
(STIMPSON, 1993 apud STEFAN, 2012). Existem diversas técnicas estendidas
flamencas, porém este trabalho não se voltará para lista-las e exemplifica-las, visto
que existem outros trabalhos acadêmicos com este enfoque que poderão fornecer
ao leitor um panorama mais completo e aprofundado.
50
5. REFERENCIAL TEÓRICO
Curioso notar que recentemente têm surgido diversas propostas sobre análise
de música popular. A música popular tem gradativamente conquistado espaço nas
discussões acadêmicas. Nota-se, no entanto, que nem sempre os recursos
tradicionais de análise, empregados na música erudita, são úteis ou pertinentes à
análise de outras expressões musicais. Com isso, autores têm proposto métodos
alternativos de análise para a música popular.
Dirk Stederoth propõe um paralelo entre música popular e erudita ao
comparar tonalidade, rítmica/métrica e composição com groove, sound e
performance respectivamente, numa proposta de análise voltada para a música pop.
Porém Rabello e Jobim não são do universo pop nem tampouco eruditos, de
modo que, para a análise proposta, é preciso encontrar uma linha de raciocínio
ainda além destas duas. Alguns elementos de uma e de outra são pertinentes,
porém a interação dos fatores (musicais e contextuais) são bastante particulares a
estes grandes nichos. Na comparação elaborada por Stederoth a música erudita é
associada à compreensão e a música pop à vivência (2017, p. 173). É indispensável
destacar, portanto, que tanto Rabello quanto Jobim se dedicaram ao estudo formal
da música desde cedo e ambos tinham também uma vivência preciosa da cena
cultural carioca - Jobim com todo o movimento de surgimento da Bossa Nova e sua
vivência dos bares e boates cariocas (com destaque para o Beco das Garrafas) e
Rabello com sua participação intensa em rodas de choro desde muito jovem
(conforme apresentado no capítulo 2). É, portanto, um quadro que, ao mesmo tempo
em que encontra correspondência em ambas, não se enquadra em nenhuma das
categorias musicais propostas por Stederoth. O autor por exemplo afirma que
“complexidade harmônica e tonal não pode de modo algum ser vista como uma
marca registrada da música pop” (STEDEROTH, 2017, p. 177) 26. Tom Jobim possui
em suas músicas um desenvolvimento harmônico refinado, que trouxe a admiração
26
Podemos perceber aqui também um posicionamento levemente tendencioso sobre a música pop
deste autor – reforçando que a música popular de modo geral (mesmo nos autores que se propõe a
estudá-la em profundidade) ainda é bastante marcada por tentativas de padronizações, buscando
encaixá-las em métodos e fórmulas, deixando pouca margem para a pluralidade das manifestações
culturais populares.
51
dos jazzistas mundo a fora (vide Samba de Uma Nota Só, em que a canção consiste
em contrastar variações harmônicas em uma mesma nota, baseando a obra na ideia
de como essa interação harmônica modifica a escuta). Neste sentido, Tom Jobim se
mostra fora do objeto de estudo trabalhado por Stederoth, não podendo ser
analisado apenas através destes seus métodos.
Isso mostra que o campo de análise em música popular ainda é muito vasto e
oferece diversos caminhos a serem traçados. Tal como na música erudita, em que a
música do século XX e do final do romantismo passaram a exigir novas explicações
para os aspectos composicionais e interpretativos, também a música popular tem
uma dimensão e uma diversidade que pede aos acadêmicos um aprofundamento e
um olhar mais consciente da sua complexidade.
Portanto, dadas as limitações dos materiais, será feita uma combinação de
referenciais teóricos que possam tentar contemplar os aspectos diversos e
complexos que compõem músicas como as que nos propomos a analisar neste
trabalho. Na questão formal e motívica utilizaremos conceitos de Douglass Green
(Form in tonal music: an introduction to analysis) e de Arnold Schoenberg
(Fundamentos da composição musical). Alguns termos específicos serão pontuados
ao longo das análises, conforme a desambiguação se fizer necessária ou pertinente
ao bom entendimento dos apontamentos, e os demais conceitos apenas seguirão as
definições propostas por estes autores (tais como tema e motivo). Comentaremos
brevemente sobre a espacialidade dos áudios, conforme sugere Stederoth. Para a
elaboração do processo de análise, utilizamos alguns procedimentos sugeridos por
Paulo de Tarso Salles (Análise musical: etapas).
Salles defende que a análise musical precedida de investigação bibliográfica
favorece a compreensão de elementos da peça. O autor recomenda a leitura de
críticas, de relatos históricos (sobre o período histórico e sobre o compositor), da
contracapa do álbum, de outras análises, e também a investigação acerca do
contexto da composição, por exemplo se a peça foi escrita para alguém ou para
alguma função específica. Estes elementos extra-musicais, apresentados nos
capítulos anteriores, mostraram-se importantes para uma compreensão mais ampla
das interpretações analisadas.
Green também será utilizado como referência para a concepção de análise.
Este autor propõe que a análise seja mais concentrada na escuta do que na música
escrita, de modo que a partitura seja apenas um apoio e não o foco. A ausência de
52
6. DISCUSSÕES
Com o título Todos os Tons, o disco não mostrava nem Tom Jobim nem o
verdadeiro Raphael Rabello, ainda que fosse bem cuidado, bem produzido.
Na tentativa de revelar diferentes aspectos da obra do compositor, o
protagonista acabou usando “percussão caribenha, bongôs, baterias de
jazz, tamborins, congas, cuícas, tabas indianas”. Aquilo, claramente, não
tinha nada de jobiniano. Se havia algum quê de neonacionalismo, ele era
totalmente “flex” e irremediavelmente pop. (NOBILE, 2018, p. 234)
54
Quero fazer música nacional, como o Paco faz a música flamenca, sem
qualquer ranço de xenofobia, mas com o apuro técnico que confunde o
popular e o erudito, rompe fronteiras e deixa confusos os críticos. Quem
seria capaz de classificar Piazzolla? (RABELLO, R. apud NOBILE, 2018, p.
163)
A primeira coisa que a gente deve fazer é preparar-se para sofrer a crítica
dos que descobrem e condenam as influências que a gente sofreu. Num
país que se construiu recebendo todas as influências, num país que
importou o índio da Indonésia, o português de Portugal, o negro da África, o
holandês, o italiano, o polonês, o alemão, e, recentemente, o japonês, os
críticos não toleram e condenam todas as influências. (JOBIM, T. apud
CABRAL, 1997, p. 374)
Estas técnicas foram aparecendo em seu repertório a partir dos anos 1980: a
técnica do alzapúa aparece em sua execução de Lamentos do Morro, com os
movimentos do polegar da mão direita na corda Ré; utilizando golpes no tampo em
Desvairada; “Em ‘Graúna’, por sua vez, divisões e fraseados do violonista
explicitavam pontos em comum entre as músicas da região da Andaluzia e do
Nordeste brasileiro, ambos com forte influência secular exercida pelos mouros”
(NOBILE, 2018, p. 166). Rabello passou a notar semelhanças culturais das músicas
de Brasil e Espanha, e decidiu incorporar o espírito do flamenco, além da técnica, ao
tocar música brasileira: “Durante esse tempo venho estudando a guitarra clássica e
27
Não é pertinente a este trabalho discutir quem “melhor” executa esta mescla de influências na
nossa música, mas a mistura de elementos se faz de fato presente e é relevante para nossas
discussões. Assumiremos apenas que a música brasileira apresenta a mistura de elementos
africanos e europeus e que Tom Jobim se utiliza desta interação.
56
a flamenca para dar ao violão brasileiro uma técnica mais extrovertida, mais
agressiva” (RABELLO, R. apud NOBILE, 2018, p. 168). Apesar desta incorporação
do flamenco ter iniciado na década de 80, foi na década seguinte que se intensificou:
“Os efeitos desta fusão são encontrados em diversos discos do músico, sobretudo
no ‘Todos os Tons’ 1992, que reúne música de Tom Jobim” (SILVA, 2010, p.15).
No trabalho de Silva (2010), transcrições de peças solo interpretadas por
Rabello já haviam revelado a constante coexistência de elementos tradicionais e
não-tradicionais, tanto em composições próprias quanto em arranjos:
As duas músicas que serão trabalhadas em detalhe aqui são destacadas por
Silva (2010) como arranjos de referência para violonistas e demais arranjadores,
sendo portanto importante compreender quais elementos relevantes elas
apresentam. Luciana Rabello defende que “todo grande intérprete é um co-autor”
(RABELLO, L. apud SILVA, 2010, p. 18). Como irmã do violonista, ela acompanhou
de perto muitas vezes ao longo da vida sua atividade criativa, e relata que suas
criações vinham muito da execução. Isso facilita que, mesmo em arranjos
elaborados, haja uma naturalidade para a execução do instrumentista, pois a
concepção da interpretação vinha atrelada ao fazer musical, e não unicamente a um
exercício cerebral de elaboração.
Não escrevia, apesar de saber escrever música muito bem, porque não
tinha sentido escrever pra ele mesmo tocar. Tocava horas e horas seguidas
todos os dias. Passava a maior parte do dia com o violão na mão. Tocar pra
ele era como falar, respirar. Criava todo o tempo, portanto. E era tocando
que vinham as idéias. (RABELLO, L. apud SILVA, 2010, p. 19)
minutagem foi feito com base no álbum Todos os Tons disponibilizado na plataforma
Deezer. Em outras plataformas, poderá ocorrer variações na minutagem28.
Tabela 1 - Descrição áudio minutada - Luiza (áudio de referência: Deezer). Tempo total: 2'24''
Tabela 2 - Descrição de áudio minutada - Passarim (áudio de referência: Deezer). Tempo total: 4’40”
0’00” - 0’20”
28
No link do YouTube https://www.youtube.com/watch?v=NiPc4aGFCdw a minutagem de Luiza
equivale a encontrada no Deezer, e no link https://www.youtube.com/watch?v=N-zFtxOQMGk temos
Passarim com a minutagem também equivalente ao Deezer (consideramos minutagens equivalentes
aquelas que apresentaram variações inferiores a 2 segundos).
58
6.2. ANÁLISES
6.2.1. Luiza
A música segue exatamente a mesma forma feita no disco Edu & Tom Tom &
Edu (de 1981). Analisando pelo referencial de Green, podemos dizer que Luiza é
uma música em forma única (one-part). Não serão aprofundadas aqui análises sobre
as composições em si, pois o foco deste trabalho são os aspectos interpretativos de
Rabello, porém sobre este tópico específico convém especificarmos o conceito de
forma única.
Green (1979) define forma única como músicas que não são divisíveis - não
há cadências fortes e conclusivas exceto no final e não há um contraste
diferenciando partes distintas da música. Em alguns casos de peças de forma única,
não se consegue afirmar com certeza a tonalidade em questão até o momento da
cadência final. A forma única pode ter repetições: o autor cita o exemplo do Prelúdio
Op. 28 n. 2 de Chopin que apresenta a forma única estruturada em três seções
(AA’A”)29. A ideia de forma única em seções é baseada em uma estrutura linear,
sem contraste de tonalidade, estrutura, textura ou nenhum outro parâmetro musical,
que pode entretanto ter uma ou mais repetições, com pequenas variações na
reexposição.
Este é precisamente o caso de Luiza. Esta canção não é estruturada em
versos e refrões, e a própria letra constrói também uma ideia contínua. O final do
tema A conecta diretamente com a repetição A’, configurando não uma quebra
contrastante, mas sim um movimento natural 30. Não significa que a música seja
estática ou não seja elaborada, mas sim que este desenvolvimento se dá de maneira
contínua e linear. Deste modo, qualquer alteração na continuidade do tema
quebraria de fato com a fluidez da canção. Rabello manteve esta ideia musical tal
como foi proposta por Jobim. Os únicos espaços para alterações são a introdução
29
Para Green, formas AA’ podem em alguns casos representar formas binárias contínuas, entretanto
para esta categorização consta uma diferenciação acentuada pelo design antes da repetição - ou
seja, a retomada do início da peça configura uma quebra clara da estrutura.
30
De modo geral, o método de análise proposto por Green é mais focado no que é apreendido
através escuta do que pela leitura de uma partitura - e esta foi uma das razões para a escolha para
este livro nas análises deste trabalho. Algumas ideias podem soar vagas ou sujeitas a interpretações
pessoais, mas isto se dá pelo fato de Green propor uma análise sobretudo auditiva, e, portanto,
bastante sensorial e não puramente racional ou matemática.
60
Figura 6 - Introdução de Luiza feita por Raphael Rabello no disco Todos os Tons, transcrita em som
real31
31
A transcrição foi feita tal como soa (e não escrita oitava acima como usualmente é feito para violão)
para padronizar a leitura em relação ao piano e à voz, simplificando a compreensão e comparação.
Escolhemos escrever também em dois pentagramas (escrita utilizada algumas vezes para violão)
para facilitar a visualidade da sobreposição dos harmônicos (reduzindo a necessidade de linhas
suplementares) e a comparação com a partitura de referência do Cancioneiro Jobim.
63
32
Referência de minutagem: https://www.youtube.com/watch?v=m_dZQPZQEBk
65
Lobo, de modo que provavelmente foi uma maneira que Rabello encontrou para
referenciar esta sobreposição de vozes no violão. Também na gravação com piano e
voz, Jobim inclui no compasso 12 (a partir da palavra “firmamento”) um contracanto
passivo vocal – bem próximo ao trecho em que Rabello muda a textura do
acompanhamento na sua versão. Deste modo, podemos ver que Rabello dialoga
com detalhes interpretativos de Jobim e Edu Lobo em sua gravação.
Podemos também destacar a pequena transição a partir de 1'01, em que o
intérprete desenvolve uma frase que consegue conectar o espaço entre a exposição
do tema, através de uma melodia ascendente, diretamente com a reexposição
temática em 1'04", de modo que a última nota da seção de transição já se apresenta
também como a primeira nota do tema que será reapresentado – ou seja, utiliza uma
nota de elisão. Com isso, o intérprete funde o acompanhamento e a melodia em uma
linha fluente. Por se tratar de um arranjo para violão solo, Rabello precisa englobar
as duas funções, e a escolha de criar esta elisão conecta duas ideias que, em
princípio, são distintas, fornecendo maior coesão para a música em sua
horizontalidade.
Na reexposição muitas soluções são reaproveitadas. Em 1'29" o intérprete
volta a fazer uso de notas duplas no desenho melódico descendente, até 1'31"
acompanhadas também por um baixo no violão, e depois em solo. A coda é
estilizada por Rabello incluindo elementos flamencos. O violonista inicia a coda
mudando o caráter e a textura, porém mantendo essencialmente o contorno
melódico da coda da música. A partir de 1'47" utiliza escalas e frases que
ornamentam com um caráter tipicamente flamenco. De 1'55" em diante, o aspecto
flamenco aparece principalmente pelo uso de trêmolo. O final da melodia, feita
originalmente valorizando notas longas na palavra “Luiza”, aparece aqui sendo
tocado com esta técnica de trêmolo, rearticulando cada nota várias vezes,
mantendo-a soando, contornando a característica do violão de não sustentar notas
longas (por conta do seu decaimento). Esta é uma solução encontrada por Rabello
para resolver a questão levantada no capítulo 4.4. ao comparar violão e piano com
voz. Após 2'09 a melodia já foi encerrada e Rabello passa a improvisar em cima de
motivos e acordes flamencos.
Importante apontar que Rabello altera a tonalidade da música de Dó menor
para Mi menor, ou seja, modula a música para uma terça maior acima. Aqui vemos
uma aplicação do conceito abordado por Lima Júnior sobre escolha de tonalidade: O
66
autor escreve que Mi menor é uma tonalidade muito utilizada no violão por conta da
facilidade de poder utilizar cordas soltas, e não coloca Dó menor como uma boa
tonalidade (ver capítulo 4.1). Ao escolher transpor a música para Mi menor, o
intérprete conseguiu a possibilidade de explorar em cordas soltas: o Mi (tônica)
grave e agudo na sexta e primeira cordas, respectivamente; o Lá (subdominante) na
quinta corda; o Si (dominante) na segunda corda; e ainda o Sol (terça menor) na
terceira corda.
Além disso, podemos destacar que, por conta de ser uma execução solo, o
violonista apresenta muita liberdade com o tempo, fazendo uso de rubatos e
fermatas, como a fermata feita no trecho aos 36 segundos da música, logo antes da
parte que na letra corresponderia à frase “pra te esquecer Luiza” (compasso 18 do
Cancioneiro Jobim e início do quarto sistema da partitura de Chediak), e o trecho da
introdução mostrado com variação na ideia de pulsação.
A música não explora variações no panorama sonoro. Talvez pela própria
formação (em violão solo), tenha sido decidido que seria mais interessante
proporcionar uma sonoridade em estéreo, de modo que o violão preencha o
panorama sonoro completamente, dando ao ouvinte a sensação de um som que
completa o espaço.
6.2.2. Passarim
modo que o intérprete abandona o final escrito pelo compositor e parte para uma
solução diferente, explorando a improvisação.
Ao citar o tema na introdução, Rabello usa o mesmo recurso que
identificamos em Jobim na introdução de Luiza. No tema, Rabello expõe o tema com
bastante liberdade, sugerindo variações rítmicas desde a primeira exposição. Na
seção que identificamos com a letra B, Rabello faz notas em staccato com ataques
fortes, dando ênfase nos contratempos, proporcionando uma sonoridade swingada.
O silêncio nos demais instrumentos no início desta parte B proporciona ainda mais
destaque para a melodia do violão. Essa liberdade interpretativa sugere que sua
gravação se dispõe a ser uma gravação que propõe uma intertextualidade com a
gravação de Jobim, de modo que, se o ouvinte tiver o referencial da melodia original,
sua variação seja um elemento de destaque durante a escuta. Na gravação de
Jobim explora-se muito a abertura de vozes, e por vezes, em tessituras bastante
contrastantes. Rabello então cria um paralelo com esta sonoridade executando
diversos trechos da melodia com notas duplas, como neste próprio B. A liberdade na
seção B atinge seu ápice na terceira exposição do tema, em que o intérprete utiliza a
seção para improvisar em cima da harmonia, baseando-se em motivos da
composição.
Novamente, a coda é a seção em que mais se destacam os elementos
flamencos. Entretanto, este elemento aparece menos intensamente do que em
Luiza. O primeiro gestual ascendente da coda sugere um diálogo com o flamenco
(em 3’42” da gravação33), e só voltam a aparecer fraseados com aspectos flamencos
em 3’57, utilizando escalas típicas, técnicas de dedilhados característicos (4’00”).
Porém estas técnicas aparecem diluídas em improvisações que caminham pelo
contexto da canção, até mesmo citando motivos que lembram desenhos melódicos
da canção de Jobim (como em 4’06”).
Deste modo, podemos ver que mesmo a exploração das técnicas flamencas
não foi feita de uma única maneira no álbum, de modo que cada faixa recebeu, além
de um desenvolvimento formal pensado para cada música, a inserção de estilemas
através de um olhar aprofundado nos elementos presentes em cada canção - não foi
realizada de maneira uniforme, o que torna o álbum menos previsível para o ouvinte.
33
Conforme a minutagem do Deezer apresentada na Tabela 2.
75
Nesta música, temos uma leve exploração da espacialidade. Fica mais nítido
esse uso do panorama na bateria, em que os pratos em alguns momentos soam
totalmente na lateral, como se a fonte sonora estivesse a 90º para a esquerda do
ouvinte34. O violão nesta faixa acaba soando levemente à direita do ouvinte (porém
ainda bem próximo do centro), e tendendo para a esquerda ouve-se o reverb deste
instrumento. A primeira vez que é possível notar esse panorama bastante aberto é
aos 37 segundos, na primeira vez que o baterista usa o prato.
34
Considerando o 0º referencial como a direção em frente ao ouvinte, como na linha do nariz.
76
7. CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
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VERÍSSIMO, Érico. Um Certo Capitão Rodrigo. 4ª edição. São Paulo, SP: Edibolso,
1975.
81