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Como se criou um oceanólogo e mergulhador científico através de coincidências

Por Jose Nestor Cardoso, Oceanologo, Instrutor de mergulho PADI,


IANTD, CMAS, Meegulhador científico BRE001

1978, em agosto Figueiredo fora eleito Presidente do Brasil e iniciava o fim do regime militar no
País.

Eu havia vivenciado já algumas mudanças significativas na política. Desde 1960, quando o


General Lott,da espada disputava as eleições com Jânio Quadro, da vassoura.

Meu pai era PSD de Jânio da vassoura, mas eu menino queria mesmo era uma das
maravilhosas espadas douradas.

Depois, em 1961 estive imerso no movimento legalista, quando Jânio renunciou subitamente
enquanto o vice Jango Goulart estava em viagem a China.

Jango tinha fortes tendências à esquerda e junto com as ligas camponesas vinha alinhavando
uma grande reforma agrária, e este seria um grande passo para a ditadura do proletariado e o
estabelecimento de um regime socialista.

Não era a toa que estava reforçando laços com a China e União Soviética.
Cunhado de Jango, Brizola então governador do Rio Grande do Sul articulou um movimento de
resistência pela legalidade que permitiria ao vice assumir conforme estabelecido na
Constituição.

Acontece que muitos estados e as forças armadas temerosas de uma brusca guinada a
esquerda já pensavam em encarcerar Jango tão pronto colocasse os pés em solo nacional.

Por esta razão Jango desembarcou em Montevidéu de onde chegou a Porto Alegre com o
respaldo do cunhado.

Mas Brizola político matreiro já havia articulado com Minas Gerais a resistência e com apoio do
exército, parte da aeronáutica e da Brigada Militar despachou para SC, com intuito de avançar
sobre o sudeste as forças militares leais.

Um destes destacamentos acampou em Içara com o apoio de toda população da região.


Inicialmente próximo ao atual Posto de gasolina Tigrão, estrategicamente instalado na rota para
Criciúma. Um sargento, comandante do destacamento de quem infelizmente não lembro o
nome, me adotou praticamente como mascote e eu passava os dias no destacamento que
contava também com dois tanques além de mais artilharia pesada e considerável numero de
soldados.

Em dezembro de este ano ao me formar no curso de oceanologia além da família direta, meu
primo e reconhecido médico em Lavras do Sul, o Lorival e sua esposa Beatriz foram meus
únicos convidados que compareceram.

Então uma graduação não era como as grandes produções de hoje.

Uma cerimônia simples, sem beca ou capelo.

Após a cerimônia um churrasco na Churrascaria Caxias no Balneário Cassino e estava feito.

Mas logo depois começaria, sem perceber, a forjar meu futuro. De forma indelével, lentamente
a principio, mas consistente.

Procurei o Professor Osmar Möller e disse que se um dia precisasse alguém para trabalhar em
oceanografia física, especialmente nos trabalhos embarcados eu estaria disposto a assumir a
responsabilidade.

Assim, retornei a SC, sem mais, abruptamente, num átimo, transformado de estudante em
desempregado.

Quem afinal sabe exatamente o que irá fazer após a formatura?

E vale lembrar que era a primeira faculdade do país, sem um mercado estabelecido, sem
profissão reconhecida e desconhecida para a maioria. Já quase tinha dúvidas se deveria ou
maldizer o Professor Buckup do Mauá.

Meu trabalho da disciplina de projetos, ministrada pelos Professores Renato Ladeira e Carolus
Vooren um holandês que adotou Rio Grande, foi para estabelecer um curso de mergulho.
Quanta importância estes dois professores teriam no meu futuro era impossível sequer sonhar.

Afinal eu mergulhava desde oito anos de idade, com meu conjunto de mergulho azul Cobreq.
Aquele adquirido em 1963, nas Lojas Hermes Macedo, em Curitiba onde fora com meu pai e
meu tio Abílio na minha maior viagem até então.

No retorno de Curitiba vim toda a viagem usando as nadadeiras, máscara e snorkel no banco
de trás do carro. Quantos seres incríveis, qual profundidade devo ter atingido naquele Aero
Willis 1963 vermelho e brilhante de tão novo.

O mundo estava em plena guerra fria. Pouco antes, em 1960 um avião subsônico U2
americano havia sido abatido sobre a União Soviética, o piloto Gary Powers que conseguiu
sair da aerovane em queda, sem ejetar e foi preso, julgado e condenado por espionagem.

E incrivelmente, num futuro longínquo, de certa forma a história deste avião que voa mais alto
que qualquer outro cruzaria meu caminho através do mergulho.

Passamos no retorno de Curitiba por Balneário Comburiu onde um grande prédio havia
desabado provocando um desastre gigantesco e que de forma trágica se repetiria inúmeras
vezes no passado recente em todos os cantos do país.

Mesmo assim, depois de tanto usar numa longa viagem, usei por muitos anos o respirador
inadequadamente. Tentei inclusive mergulhar mais fundo comprando na loja de ferragens
vizinha um cano de um metro de comprimento.

Demorou até descobrir que apenas aumentar o tamanho do cano não só não me permitiria ir
mais fundo, mas também aumentaria os riscos de uma intoxicação por gás carbônico. Física e
fisiologia do mergulho que eu estudaria apenas no segundo semestre de 1975.

Numa excursão do colégio Marista de Criciúma, quando almoçávamos num restaurante à beira
mar em São Francisco do Sul é que vi que caçadores submarinos que ao retornar à superfície
faziam espirar água pelo respirador, sem necessidade de retirá-lo da boca para esvaziamento.

Desde 1954, quando nasci que tínhamos uma casa no Balneário Rincão. Era onde
passávamos as férias de verão que iam desde início de dezembro até início de março.
Manhã no mar e as tardes na Lagoa dos Freitas após uma longa caminhada num caminho de
dunas escaldantes. Sempre com meu conjunto de mergulho azul.

Nas eventuais excursões a Laguna e Garopaba que meu pai nos levava, o conjunto de
mergulho ia sempre junto. Ainda que meu pai não aprovasse muito a ideia de me aventurar só
no mar, eu sempre ficava longas horas na água.
Aqui já tinha um conjunto Cobra Sub

No meu último ano de científico em 1972 eu havia comprado na Casa Aquarius em Porto
Alegre, uma arma de caça submarina pneumática Cobra Júnior.

Em 1972 a Casa Aquarius na Avenida Otávio Rocha era onde, além dos aquários e peixes,
podia-se comprar algum equipamento de mergulho.

Minha primeira viagem para caça submarina foi na companhia de meu grande amigo de
infância João Paulo, mas não foi exatamente um sucesso.

Chegamos a Garopaba, na Praia do Ouvidor e estava uma grande ressaca. Um pescador nos
informou que no dia anterior alguém morreu após cair das rochas no mar.

Tocamos para a Lagoa da Conceição em Florianópolis e buscamos o cunhado de João Paulo o


Tavo, experiente caçador submarino que nos confirmou as péssimas condições de mar, e que
nesta condição a única possibilidade de encontrar algum peixe era num local conhecido como
Ponta das Almas dentro da Lagoa.

Lá fomos nós, mergulharmos por um bom tempo, mas nada de peixe, a expectativa é que
encontrássemos alguma caranha, pois segundo Tavo o local era conhecido pela presença das
mesmas. Nada de peixe e com no mínimo certa frustração retornamos, já antecipando futuras
incursões.

Mas, mesmo depois, nos mergulhos subsequentes atirei muito até pegar experiência e
começar a matar algum peixe.

Nunca fui um caçador ambicioso e normalmente matava apenas o suficiente para o almoço,
retornando à tarde para caçar a janta.

Poucas vezes levei peixe embora e jamais vendi uma única peça.

A exceção talvez tenha sido com meu primeiro aluno Garbelotto e o fotógrafo e cinegrafista
Sena, em Garopaba, quando tínhamos todas nossas famílias e amigos e capturamos garoupas
suficientes para um festival de frutos do mar com marisco e lagostas.
Assim que retornei para Santa Catarina comecei imediatamente a buscar algo para trabalhar
na área que havia acabado de cursar.

Em Florianópolis, na FATMA Fundação de Amparo a Tecnologia e Meio Ambiente, na


Universidade Federal com a Professora Blanca, uma Argentina, que tinha vários projetos de
biologia marinha, na ACARPESC que tinha projetos de cultivo de organismo aquáticos.

Mas as perspectivas eram poucas, sem verba, sem vagas, ficavam apenas promessas.

Mas a vida boa de estudante se distanciava.

Lembro quando estudante acampei com meu amigo Foltz na praia das Quatro Ilhas em
Bombinhas e lá existia apenas uma bela casa na encosta do lado norte da praia com uma
placa “Recanto do Sabiá”. Acho que está lá até hoje.

Desta vez, ainda aluno quase calouro em 1974, acampou ao nosso lado alguém com um
equipamento de mergulho completo, com regulador de traqueia e cilindros duplos. Foi meu
primeiro mergulho autônomo, pois pedi emprestado e consegui.

Acho mesmo que o camarada que me emprestou o equipamento sequer sabia usá-lo, pois não
entrou na água, e ter emprestado o equipamento para um rapazote, mesmo com todo o
discurso de especialista dos oceanos não era muito responsável.

Deveria ser os famosos cilindros Atlântida, pois pesavam imensamente para um magrelo de
pouco mais de 50 Kg.

Fiz o mergulho todo com a barriga arrastando no fundo. Mas foi a realização de um sonho
valioso e inesquecível para um futuro ainda indistinto.

E o mergulho continuava moldando meu futuro.

O dinheiro que tinha, resultado de minha sociedade com Edilen na companhia de limpeza de
reservatórios d’água dos dois últimos anos de faculdade, e o crédito educativo, empréstimo a
juros baixos do governo federal estava acabando. A carência de um ano para início do
pagamento do empréstimo também começava a fazer pressão psicológica.

Em Criciuma, março de 1979, junto a Casa dos Esportes e das Meias do Sr Fábio, que vendia
também material de mergulho, organizei um curso de caça submarina.

Foram três dias de teoria e dois dias de mergulho no mar em Garopaba. Água suja e mar alto
não permitiu que matássemos sequer um marimbá. Mas ficaram todos felizes com as aulas e a
experiência num mar de água suja e bastante revolto, talvez ainda mais com a festança de
comida que foi a excursão.

Com este curso consegui levantar algum capital para ir ao Rio de Janeiro realizar um curso de
mergulho profissional na Escola Fundação de Estudos do Mar FEMAR em Botafogo.

Foram três meses que dividi apartamento em Copacabana com meu primo Jair Cardoso que
fazia residência em cirurgia já há dois anos no Rio.
O Jair era um pouco mais velho que eu e pouco contato havia tido com ele até então. Seu
irmão mais novo João Jr é que sempre havia sido meu grande amigo.

Mas o Jair se revelou um excelente anfitrião e um grande amigo. Tanto que me permitiu
convidar para compartilhar o apartamento um professor de educação física de SP, Benigno
Naveira, que cursava comigo.

Tivemos três meses maravilhosos, pois o Benigno também era um excelente piadista,
companheiro e extremamente divertido mesmo com seus quase dois metros e estatura de
gigante ameaçador.

A FURG ficava praticamente esquecida. Só lembrava quando fazia uma visita na busca de
emprego, onde desfiava meu vasto treinamento e conhecimento sem par dos oceanos
adquiridos na Universidade mais maravilhosa do universo.

Assim visitei a companhia de águas e saneamento, onde um engenheiro muito gentil e


simpático me mostrou todo o projeto do sistema de captação e tratamento de esgoto do Rio
terminando com o emissário submarino. Como tudo fica bonito no papel, até o esgoto.

Também visitei a Hidrocean maior fábrica de equipamentos hidrográficos e oceanográficos com


sede no Rio, ainda não tinha ideia de quanto iria trabalhar com aqueles equipamentos. Quantas
vezes passei ancorado na boca da Barra em Rio Grande, com um olho no tráfego dos grandes
navios passando próximos e operando salinômetros, correntômetros, Phmetros, garrafas de
Nansen, ded Van Dorn, dragas e outras traquitanas muito especializadas e que as novas
gerações só leem nos livros de história da oceanografia.

Coletávamos amostras e dados oceanográficos a bordo da Lancha Oceanográfica Larus, uma


Carbrasmar 51 pés com dois motores Mercedes de 300 HP cada, mais que suficiente
motorização para arrastar redes de pesca e dragas sedimentares.

As aulas teóricas da FEMAR eram ministradas na sede em Botafogo, e as práticas ministradas


pelo pessoal da Subaquática Engenharia no quadrado da Urca. Um fundo imundo e a
superfície cheia de nojentos objetos não identificáveis.

Uma dupla de mergulhadores era despachada, um com equipamento dependente e o outro


com SCUBA para realizarem uma série de exercícios e frequentemente serem atormentados
pelos instrutores que criavam todo tipo de dificuldade, os que subissem ou perdessem o
parceiro eram desligados do curso.

Tive aulas com o campeão do mundo Paulo Freitas (em memória), com um dos pioneiros da
medicina submarina na Marinha do Brasil Dr. Ary de Matos e pela primeira vez entrei numa
câmara hiperbárica, e também usei uma máscara KMB em teste de tanque onde tentavam nos
afogar.
O Benigno era uma grande figura e um belo dia aparece em casa com três medalhas do
Primeiro Campeonato Brasileiro de Caça Submarina de Grumari.
Final de semana lá fomos nós com destino a Grumari, o Jaír tinha um Puma, nem imagino
como entramos todos e mais o equipamento para disputar o referido campeonato.

O Jair que nunca havia mergulhado acabou matando dois baiacus e sagrou-se o grande
campeão eu peguei uma cocoroca e fiquei em segundo, e o Benigno que arranjou as medalhas
garantiu o terceiro lugar mesmo não pescando nada. Perdi, com pesar, minha medalha numa
de minhas mudanças mais recentes.

Mas logo descobri que o mergulho profissional, que eu havia vindo atrás não era serviço que
me agradava. Ainda nos primórdios da exploração de óleo e gás no mar, as condições eram
pouco salutares ao mergulhador.

Ainda que o pagamento para os mergulhos saturados fossem indecorosos de tão altos os
riscos eram exagerados. E afinal eu gostava de viver e tinha expectativa de uma longa vida
para exercer meus recém-adquiridos conhecimentos de oceanologia. Aliás, mesmo envolvido
com mergulho minha esperança estava mais voltada para a oceanografia.

A oceanografia afinal moldaria minha vida quando fui admitido em 03 de setembro de 1979
como professor responsável pela disciplina de mergulho e pesquisador na área de
oceanografia física compartilhando sala com o professor Möller e Denis Dolci (em memória).

O Vooren votou contra minha contratação na reunião do Colegiado, depois perguntei porque e
ele justificou que a água em Rio Grande era muito suja. Argumentei que não iríamos preparar
40 oceanólogos todos os anos para todos permanecerem em Rio Grande. Coçou a cabeça e
disse que não havia pensado neste aspecto. Na próxima reunião minha contratação foi
aprovada por unanimidade.

Foram bons tempos de grande camaradagem. Tomávamos café toda manhã, parece que os
dois funcionavam a café e como me serviam um copo grande cada vez que iam se servir, eu
em pouco tempo, tomei mais café que em toda minha vida prévia.

Fizemos batimetria (o mapeamento do fundo do mar) no lado externo da raiz do molhe leste.

Fizemos o levantamento das condições oceanográficas no Projeto Tainha no Saco do Justino,


o que implicava em monitoramento a cada hora por vinte e quatro horas usando um pequeno
bote de alumínio, e a vida não era tão glamourosa nos dias de vento Minuano. Eu e Denis
fazíamos estes plantões.

Junto com Denis, Krug e um Erni Rahn,pesquisador da Superintendencia do Desenvolvimento


da Pesca – SUDEPE, fizemos pouco mais de dois meses na primeira busca aérea de
cardumes de anchova do país. Localizei um grande cardume no último dia de fretamento do
avião Seneca II da Embraer. O piloto Pitt teria que ir embora, pois estava escalado para levar
um avião da Embraer para uma feira aérea em Singapura.

Pitt havia sido da FAB, piloto na Esquadrilha da Fumaça e então era piloto de provas da
Embraer.
Nossos voos com Pitt eram bem distintos daqueles poucos que fizemos com o mesmo tipo de
aeronave, só que desta vez fretado do Curtume Lange.

Pitt era um piloto radical, a menor suspeita de presença de um cardume ele praticamente
jogava o avião em cima do local indicado.

Me permitiu pilotar no retorno de Pelotas para Rio Grande, pois que em Rio Grande não tinha
abastecimento e ao final de cada dia de voo íamos direto a Pelotas abastecer e retornávamos
para pernoitar em Rio Grande

Pedi para voar na frente com ele, pois nas buscas voávamos na parte de trás onde a Embraer
instalara umas janelas abauladas que permitia melhor observação diretamente para baixo.

Sentado na frente ele taxiou até a cabeceira da pista e ele então falou: agora é contigo. Tremi
de cima em baixo e argumentei que mal sabia voar lá atrás, quanto mais pilotar.

Ao que ele responde que já havia treinado tanta gente que um a mais não faria diferença.
Instruiu-me sobre a aceleração e velocidade para decolar, sobre a pressão no manete e como
usar o compensador e sobre a função dos pedais nas curvas.

Quando chega na velocidade para decolar eu comunico que estava pronto e ele me diz para
puxar o manete, puxei e nada aconteceu, ele me manda puxar com mais força e o avião
apontou para o céu. Tentei corrigir e vi o chão, novamente puxei e assim foi até terminar a
curva a direita no rumo para Rio Grande.

Erni já havia adquirido tanta confiança em nosso piloto que sequer esboçou qualquer reação
ante minha barbeiragem, talvez ciente que ele poderia intervir a qualquer momento com seus
controles.

Ao chegarmos a nossa altitude de voo me orientou em como manter o horizonte, o que não foi
difícil para um piloto experiente como eu.

Mais adiante, já próximo a Rio Grande pedi permissão para circundar o Saco do Justino, local
do Projeto Tainha. Fiz uma volta suave usando também os pedais e depois, ao aproximar do
aeroporto de Rio Grande, já alinhado com a pista ele me comunica que iria assumir porque o
avião tinha um trem de pouso baixo o que dificultava um pouco

Isto como se eu tivesse a menor pretensão de tentar pousar o avião, afinal sabemos que um
pouso de um equipamento mais pesado que o ar é sempre uma queda controlada.

Tecninave, desde meu primeiro curso em 1979 eu usava suas instalações para as aulas
práticas de sobrevivência no mar.

Mais uma das coincidências que permearam toda minha vida aconteceu em um dos nossos
voos de quatro horas diárias, em que efetuávamos um plano de voo semelhante a uma renda
grega, uma espécie de zig zag sem pontas, como se fossem vários retângulos abertos numa
extremidade e ligados ao próximo por um dos vértices.
Em certo momento notamos uma fumaça no horizonte quando voávamos eu e Erni. Sugerimos
que Piit desviasse o voo para o local da fumaça ao que ele respondeu que aquele ponto seria
coberto na próxima “perna” de nosso plano de voo.

Quando nos aproximamos verificamos um pesqueiro japonês, de muitos que foram arrendados
por companhias brasileiras, em chamas e nenhum sinal de tripulantes a bordo.

A busca por sobreviventes se expandiu e devido a um sinalizador encontramos uma balsa de


salvamento com todos os tripulantes já a alguma distância do pesqueiro.

Pitt fez um voo rasante sobre a balsa balançando as asas e dando a entender que tínhamos
avistado os infortunados pescadores.

Erni que era da SUDEPE e conhecia toda a indústria da pesca em Rio Grande identificou o
barco e Pitt conseguiu contato radio com um avião que sobrevoava Pelotas. Passada a
mensagem informando a situação e as cooerdenadas à companhia arrendatária, ainda antes
do final da tarde os pescadores foram recolhidos e o barco rebocado de volta ao porto visto que
o fogo se extinguiu por si só.

Um dos tripulantes, bastante meu amigo, havia sido funcionário da Tecninave e orientou todo o
processo de abandono da embarcação. Mais tarde ele voltou a trabalhar na Tecninave até esta
encerrar as atividades.

Projeto AREPE, Projeto de Material em Suspensão no Estuário da Lagoa dos Patos, Instalação
de Estações Oceanográficas com um rebocador da Petrobrás, Projeto Geocosta Sul no
NavioOceanográfico Almirante Câmara da Marinha do Brasil, Utilização de Imagens de Satélite
na Interpretação dos Fenômenos Oceanográficos na Lagoa dos Partos e, dentre outros, o mais
importante, resultado de uma série de eventos que culminou com minha participação no Navio
Oceanográfico Professor W. Besnard na Primeira Etapa da Primeira Expedição Brasileira a
Antártica.

Assim minha vida seguia, no rumo mal traçado, porém desejado que eu havia eleito.

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