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O peixe luminoso (conto italiano)

Há muito tempo, havia um homem velho cujos filhos tinham morrido e ele não tinha a
menor ideia de como ele e sua esposa iriam sobreviver, pois ela era também idosa e doente.
Todos os dias, ele ia à floresta para recolher lenha e vender um punhado para comprar pão
para manter corpo e alma juntos.

Um dia, enquanto caminhava resmungando em direção à floresta, encontrou um


homem de longas barbas, que lhe disse:

– “Conheço todos os seus problemas e quero ajudá-lo”.

Deu ao velho uma pequena bolsa de couro e quando este olhou dentro dela, desmaiou
de espanto: a bolsa estava cheia de ouro! Quando voltou a si, o estranho havia desaparecido.
Então o velho jogou a lenha fora e correu para casa. No caminho, começou a pensar: ‘se eu
contar à minha esposa sobre esse dinheiro, ela vai gastá-lo todo’.

Quando chegou em casa, não mencionou nada à esposa. Em vez disso, escondeu o
dinheiro sob um monte de estrume.

No dia seguinte, ao acordar, o velho viu que a esposa havia preparado um esplêndido
desjejum, com pão e chouriço.

– “Onde você arrumou dinheiro para tudo isso?” – perguntou à esposa.

– “Ontem você não trouxe lenha para vender” – ela disse – “de forma que vendi o estrume
para o fazendeiro lá de baixo”.

O velho fugiu gritando desolado. Então, tristemente, foi trabalhar na floresta,


suspirando. No fundo da mata, encontrou novamente o estranho. O homem das longas barbas
riu.

– “Eu sei da sua má sorte. Acalme-se. Ainda quero ajudá-lo”.

Então deu ao velho outra bolsa de cheia de ouro. O velho correu para casa, mas no
caminho de novo começou a pensar: ‘se eu contar a minha esposa, ela vai esbanjar esta
fortuna…’

E ele, então, escondeu o dinheiro na lareira, sob as cinzas.


No dia seguinte, ao acordar, viu que sua esposa havia preparado outro delicioso
desjejum.

– “Como você não trouxe lenha, eu vendi as cinzas para o fazendeiro lá de cima”.

O velho correu para a floresta, arrancando os cabelos de desespero. No fundo da


floresta, encontrou o estranho pela terceira vez. O homem de longas barbas sorriu tristemente.

– “Parece que você não está destinado a ser rico, meu amigo” – disse o estranho – “mas ainda
quero ajudá-lo. Desta vez, não te darei nenhum dinheiro. Pegue estas duas dúzias de rãs e vá
vendê-las na aldeia. Então use o dinheiro para comprar o maior peixe que encontrar, mas
nada de peixe seco, moluscos, chouriço, bolos ou pão. Apenas o maior peixe!”. Dizendo isso,
desapareceu.

O velho correu à aldeia e vendeu as rãs. Com o dinheiro na mão, viu coisas
estupendas que poderia comprar no mercado e achou peculiar o conselho do estranho. Apesar
disso, decidiu seguir as instruções à risca e comprou o maior peixe que encontrou.

À noite, percebeu que o peixe brilhava; irradiava uma luz intensa que iluminava tudo
ao redor. Ao segurá-lo, era como se tivesse uma lanterna nas mãos. Ele pendurou o peixe em
sua janela, para mantê-lo fresco durante a noite.

Naquela noite caiu uma forte tempestade. Os pescadores não conseguiam encontrar
seu caminho de volta, com tanta escuridão. Assim que chegaram à terra firme, bateram à
porta do velho:

– “Obrigado por salvar nossas vidas!” – disseram ao velho.

– “Do que estão falando?” – ele perguntou. Então os pescadores contaram que haviam sido
surpreendidos no mar pela tempestade e não sabiam para que lado remar, até que o velho
acendeu uma luz para eles.

Então o velho entendeu que o seu peixe, pendurado na janela, brilhando com uma luz
tão forte, podia ser visto de muito longe. Desse dia em diante, o velho, todas as noites,
pendurava o peixe para trazer os jovens pescadores de volta e eles dividiam o produto de sua
pescaria com ele. E assim, o velho e sua esposa viveram sem privações e dificuldades.

(Ítalo Calvino. Shining fish, em Italian Folk Tales selected and retold by Italo Calvino, 1980)

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