Você está na página 1de 2

O LADRÃO DE OLHOS

Certo dia em uma cidadezinha no meio desse mundo, presenciou algo, no mínimo
inusitado. Como todo vilarejo calmo e pacato, todos conheciam todos e nada de novidade
se ouvia há muito tempo.
- José! José!
Gritava a empregada da mulher mais rica do vilarejo para seu marido.
- O que é? – Responde rispidamente o marido.
- A patroa ta cega! A patroa ta cega!
E os dois dispararam em direção a casa da mulher, chegando lá se depararam com o
terror!
A mulher com os olhos fechados, gritando de dor e desespero, sem poder ver nada.
Após um tempo e mais calma a rica mulher descreve a situação:
- Ontem à noite um fantasma chegou aos meus ouvidos e cantou uma canção:

“Com seus olhos eu ficarei,


com seus olhos eu ficarei
Nunca mais abra seus olhos
Pois seus olhos eu roubei

Pode chorar o quanto for


Com a dor ficará
Nunca mais abra seus olhos
Ou sua mente apagará!”

Todos que estavam em volta da mulher ficaram tristes, não por ela ter ficado cega,
mas por acharem que ela estava louca.
E por alguns dias tudo transcorreu normalmente. Até que certo domingo o vilarejo
parou, pois eles realmente se assustaram. O padre e o coroinha que morava com ele
também estavam cegos! Não houve dúvida, a rica mulher não estava louca. Existia mesmo
um ladrão de olhos.
Os dias foram passando e cada vez mais pessoas foram ficando cegas, o medo se
espalhava, mas não havia muito o que se fazer afinal o ladrão de olhos era mais sorrateiro e
esperto que o habitantes da modesta cidadezinha, ou talvez fosse mesmo uma entidade do
além.
até chegar um ponto que o vilarejo inteiro estava cego.
Os homens andavam armados pelas ruas, as plantações pararam, mulheres andavam
sempre juntas, as crianças não tinham aulas, até as missas tinham sido adiadas até que se
resolvesse o problema.
Nada fazia efeito, homens armados dando tiros para todos os lados depois de terem
ouvido a suave canção no pé-do-ouvido e ficado cegos, mulheres ficando cegas em grupos
e mesmo as crianças não foram poupadas. Os que tentavam fugir, tanto de dia como de
noite, tinha a mesma sorte.
Não havia dúvidas quanto a paranormalidade do elemento: O ladrão de olhos. Era
impossível que ele estivesse em tantos lugares ao mesmo tempo. Era uma maldição de deus
sobre a pequena vila e nada podia ser feito.
Os camponeses desistiram de tudo, o como é obvio, não tinham condições de
trabalhar. Mas tudo está para mudar, caro leitor.
Certo dia depois de alguns anos – dois talvez – apareceu um homem nesse lugar e
começou a bater nas portas das pessoas e dizer:
- Olá, meu nome é Feliz e posso cura-los. Mas há um custo.
- A qualquer custo senhor! – Diziam todos os camponeses esperançosos da
salvação.
- Você e sua família deveram dar seus pertences para mim e meus parentes e me
servirão para sempre.
- Sim! Qualquer coisa! – Foi o que o tal Feliz ouviu de todos.
Começaram as curas, o homem chagava perto das pessoas e cantava uma canção:

“Abre o olho, abre o olho,


Pois enganado foi
Agüente as conseqüências
Pois enganado foi!”

E todos começaram a abrir seus olhos e enxergar novamente.


Mas não ache que foi um final feliz, pois a primeira coisa que viram foi um vilarejo,
seco, pobre, vazio. Tudo o que tinham de riqueza tinha sido roubado pelo ladrão de olhos, e
nada podia ser feito e além de tudo agora deviam servidão ao homem que os salvou e seus
parentes.
Nesse ponto, o caro leito já deve ter percebido que a cegueira dessas pessoas não
passou de uma sugestão psicológica. Parece estranho, mas a mente pode nos pregar
algumas peças e essa não foi uma exceção.
Agora, ninguém sabe dizer se o homem que os salvou é o mesmo que os havia
condenado, a única coisa que aprenderam é que aquele velho ditado faz muito sentido. “Na
terra de cegos quem tem um olho é rei”.

FIN

Você também pode gostar