Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Janeiro/2024
0
Conteúdo
Introdução ........................................................................................................................................ 2
Metodologia...................................................................................................................................... 6
Conclusão........................................................................................................................................ 16
1
Introdução
O instrumento metodológico que utilizamos foi criado e desenvolvido pelo Grupo ESSA
– Estudos Sociológicos da Sala de Aula – Instituto de Educação da Universidade de Lisboa. O
Grupo ESSA contou com a coordenação e colaboração, por mais de vinte anos, de Ana Maria
Morais e Isabel Pestana Neves, entre outros investigadores, onde desenvolveram e
aprofundaram novas possibilidades de análise segundo o desenvolvimento da teoria do
discurso pedagógico do sociólogo inglês Basil Bernstein, articulando a teoria com os objetos
empíricos. Estudos estes que permitiram a investigadores de diversas áreas científicas e
nacionalidades, utilizarem-se da metodologia desenvolvida para compor seus trabalhos
acadêmicos. Pela importância que o grupo atribuía ao trabalho em equipa, onde os
investigadores validavam os resultados mutuamente, este exercício de análise pode ser
contemplado igualmente por duas mestrandas.
2
Fundamentação Teórica
Este trabalho teve como ponto de partida o trabalho intitulado “Currículos, Manuais
Escolares e Práticas Pedagógicas – Estudo de processos de estabilidade e mudança no sistema
educativo”, de autoria das colaboradoras do Grupo ESSA, Doutoras Morais, Neves e Ferreira.
3
As diversas camadas que percorrem o DPO são recontextualizações, trata-se de
diversas reinterpretações a partir do DPO, que em contextos pedagógicos diferentes sofre
uma releitura resultando em interpretações novas. Os processos de recontextualização do
DPO traduzem-se por um novo discurso pedagógico de reprodução (DPR) veiculado aos
manuais escolares, que por sua vez sofre outra recontextualização na prática pedagógica em
sala de aula.
Outro fator fundamental para analisarmos um currículo, é o que foi definido por Ana
Maria Morais define Exigência Conceptual como a “complexidade do processo de ensino e
aprendizagem em termos de capacidades científicas” e, divide em duas categorias, a se saber:
4
O conceito de Exigência Conceptual foi se complementando ao longo do
desenvolvimento das análises do Grupo ESSA, através das investigadoras Isabel Pestana
Neves e Ana Maria Morais do ESSA, que somaram a complexidade das capacidades cognitivas
com a complexidade do conhecimento científico, e posteriormente com a contribuição de
Sílvia Calado, onde acrescenta a integração das relações intradisciplinares, que considera a
“força das fronteiras entre conhecimentos distintos dentro de uma dada disciplina.”
5
Metodologia
6
Abaixo apresentamos o modelo de instrumento, desenvolvido por Morais e Neves que
utilizamos para analisar/avaliar as Aprendizagens Essenciais do 3.ºano do Ensino Básico.
Grau Grau
1 Factos C++ Ausência de relação
2 Conceitos Simples C+ Ordem complexa; mesmo tema
3 Conceitos Complexos C- Ordem simples; temas diferentes
4 Modelos teóricos C-- Ordem complexa; temas diferentes
7
Aprendizagens Essenciais
8
d) Identificar acontecimentos relacionados com a história pessoal e familiar, local e
nacional, localizando-os no espaço e no tempo, utilizando diferentes representações
cartográficas e unidades de referência temporal;
No 3.º ano de escolaridade, como frisado acima, dá-se continuidade a algumas das
temáticas propostas para o 1.º e 2.º ano, apresentando as aprendizagens um maior grau de
complexidade. Houve, também, a preocupação de integrar temas atuais, como as questões
ambientais e sociais, a importância dos media e os Direitos da Criança. Neste ano de
escolaridade, privilegia-se ainda o aprofundamento do ensino experimental das ciências e das
produções/utilizações tecnológicas.
9
pelo que a articulação destes saberes com outros, de outras componentes do currículo,
potencia a construção de novas aprendizagens.
a) Centrar os processos de ensino nos alunos, enquanto agentes ativos na construção do seu
próprio conhecimento;
10
Análise das Aprendizagens Essenciais de Estudo do Meio 3.º ano
11
TEMA: “NATUREZA” Análise
Complexidade Relação
Excertos dos intradisciplinar
conhecimentos
Conhecer procedimentos adequados em situação de Grau 2 C+
queimaduras, hemorragias, distensões, fraturas,
mordeduras de animais e hematomas.
Relacionar hábitos quotidianos com estilos de vida saudável, Grau 2 C++
reconhecendo que o consumo de álcool, de tabaco e de
outras drogas é prejudicial para a saúde.
Compreender que os seres vivos dependem uns dos outros, Grau 3 C-
nomeadamente através de relações alimentares, e do meio
físico, reconhecendo a importância da preservação da
Natureza.
Reconhecer que os seres vivos se reproduzem e que os seus Grau 2 C++
descendentes apresentam características semelhantes aos
progenitores, mas também diferem em algumas delas.
Relacionar fatores do ambiente (ar, luz, temperatura, água, Grau 2 C+
solo) com condições indispensáveis a diferentes etapas da
vida das plantas e dos animais, a partir da realização de
atividades experimentais.
Localizar, no planisfério ou no globo terrestre, as principais Grau 1 C++
formas físicas da superfície da Terra (continentes, oceanos,
cadeias montanhosas, rios, florestas, desertos).
Distinguir formas de relevo (diferentes elevações, vales e Grau 2 C+
planícies) e recursos hídricos (cursos de água, oceano, lagos,
lagoas, etc.), do meio local, localizando-os em plantas ou
mapas de grande escala.
Identificar os diferentes agentes erosivos (vento, águas Grau 2 C++
correntes, ondas, precipitação, etc.), reconhecendo que dão
origem a diferentes paisagens à superfície da Terra.
Relacionar os movimentos de rotação e translação da Terra Grau 3 C- -
com a sucessão do dia e da noite e a existência de estações
do ano.
Compreender, recorrendo a um modelo, que as fases da Lua Grau 3 C+
resultam do seu movimento em torno da Terra e dependem
das posições relativas da Terra e da Lua em relação ao Sol.
Utilizar instrumentos de medida para orientação e Grau 4 C+
localização no espaço de elementos naturais e humanos do
meio local e da região onde vive, tendo como referência os
pontos cardeais.
Distinguir as diferenças existentes entre sólidos, líquidos e Grau 2 C++
gases.
Identificar a existência de transformações reversíveis Grau 2 C+
(condensação, evaporação, solidificação, dissolução, fusão).
12
O segundo tema da disciplina “Natureza”, apresenta treze (13) subtemas, e o mesmo,
segundo a análise feita atendem maioritariamente ao Grau 2 (Conhecimento de nível de
complexidade superior ao grau 1, como factos generalizados ou conceitos simples) isto é,
quanto a Complexidade dos conhecimentos. Em relação a intradisciplinaridade do mesmo
tema atende em um número maior ao Grau 2, onde regista-se a relação entre conhecimentos
(simples ou complexos) do mesmo tema.
O terceiro tema da disciplina “Tecnologia”, apresenta cinco (5) subtemas, e o mesmo segundo
a análise feita atendem maioritariamente ao Grau 2 (Conhecimento de nível de complexidade
superior ao grau 1, como factos generalizados ou conceitos simples) e Grau 4 (Conhecimento
de nível de complexidade muito elevado, envolvendo temas unificadores e/ou teorias) isto é,
quanto a Complexidade dos conhecimentos. Em relação a intradisciplinariedade o mesmo
tema atende em um número maior ao Grau 1, onde regista-se a ausência de relação entre
conhecimentos e ao Grau 2, onde há relação entre conhecimentos (simples ou complexos do
mesmo tema).
13
TEMA: “SOCIEDADE/ NATUREZA/ TECNOLOGIA” Análise
Complexidade Relação
Excertos dos intradisciplinar
conhecimentos
Distinguir diferentes formas de interferência do Grau 3 C-
Oceano na vida humana (clima, saúde, alimentação,
etc.).
Reconhecer o modo como as modificações Grau 4 C- -
ambientais (desflorestação, incêndios,
assoreamento, poluição) provocam desequilíbrios
nos ecossistemas e influenciam a vida dos seres
vivos (sobrevivência, morte e migração) e da
sociedade.
Identificar um problema ambiental ou social Grau 4 C+
existente na sua comunidade (resíduos sólidos
urbanos, poluição, pobreza, desemprego, exclusão
social, etc.), propondo soluções de resolução.
Identificar diferenças e semelhanças entre o Grau 3 C-
passado e o presente de um lugar quanto a aspetos
naturais, sociais, culturais e tecnológicos.
Reconhecer as potencialidades da internet, Grau 4 C+
utilizando as tecnologias de informação e da
comunicação com segurança e respeito, mantendo
as informações pessoais em sigilo.
Reconhecer o papel dos media na informação sobre Grau 1 C++
o mundo atual.
Saber colocar questões, levantar hipóteses, fazer Grau 3 C- -
inferências, comprovar resultados e saber
comunicá-los, reconhecendo como se constrói o
conhecimento.
14
Grau 2/C+ Onde os mesmos, apresentam relação entre conhecimentos
complexos do mesmo tema, conhecimentos simples de temas
Grau 3/C-
diferentes e entre conhecimentos complexos de temas diferentes.
Grau 4/C- -
Em relação a análise feita, podemos afirmar que os objetivos traçados pelo Ministério
da Educação, ajudam os alunos a desenvolver, mas não há um nível elevado como desenhado
e esperado pela OCDE, visto que a mesma organização opta por elevar o grau de exigência
conceptual, afim de tornar os alunos em indivíduos capazes de usar o conhecimento em prol
do desenvolvimento da sociedade.
15
Conclusão
O nível de exigência conceptual não é tão elevado, visto que quanto a complexidade
dos conhecimentos a maior percentagem recai ao conceito simples e quanto a relação
intradisciplinar a sua maior percentagem recai na ausência de relação entre conhecimentos;
o que acaba por dificultar o desenvolvimento dos alunos, a um nível elevado assim como
propostos pela OCDE.
16
Referências Bibliográficas
ALVES, Vanda; MORAIS, Ana M. Currículo e práticas pedagógicas: uma análise sociológica de
textos e contextos da educação em ciências. Revista Portuguesa de Educação , Lisboa, 2013.
FERREIRA, Sílvia; MORAIS, Ana M. A natureza da ciência nos currículos de ciências: estudo do
currículo de ciências naturais do 3.º ciclo do ensino básico. Revista Portuguesa de Educação ,
Lisboa, 2010.
MORAIS, Ana M.; NEVES, Isabel Pestana. A Teoria de Basil Bernstein – Alguns Aspetos
Fundamentais. Revista Práxis Educativa, 2 (2). Lisboa. 2007.
MORAIS, Ana M.; NEVES, Isabel Pestana; FERREIRA, Sílvia. Currículos, Manuais Escolares e
Práticas Pedagógicas – Estudo de processos de estabilidade e mudança no sistema educativo.
Edições Sílabo, cap. 2. Lisboa, 2014.
MORAIS, Ana M.; NEVES, Isabel Pestana; FERREIRA, Sílvia. O currículo nas suas dimensões
estrutural e interacional: perspetiva de Basil Bernstein. Revista Práxis Educativa v.14, n2.001,
Lisboa, Junho - 2019.
NEVES, Isabel Pestana. Ensino das Ciências numa Perspetiva Sociológica. Reflexões sobre uma
trajetória de Investigação. IE Universidade de Lisboa, 2023.
17