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Álgebra II
Florianópolis, 2008
Universidade Federal de Santa Catarina
Consórcio ReDiSul
Comissão Editorial
Antônio Carlos Gardel Leitão
Albertina Zatelli
Elisa Zunko Toma
Igor Mozolevski
Luiz Augusto Saeger
Roberto Corrêa da Silva
Ruy Coimbra Charão
Coordenação Pedagógica das Licenciaturas à Distância UFSC/CED/CFM
Coordenação: Roseli Zen Cerny
Núcleo de Formação
Responsável: Nilza Godoy Gomes
Ficha Catalográfica
J35a
Janesch, Oscar Ricardo
Álgebra II / Oscar Ricardo Janesch. - Florianópolis : UFSC/EAD/
CED/CFM, 2008.
216p.
ISBN 978-85-99379-56-1
1.Álgebra. I. Título.
CDU 512
1 Polinômios���������������������������������������������������������������������������� 13
1.1 O Anel de Polinômios���������������������������������������������������������������� 15
1.2 Algoritmo da Divisão e Raízes������������������������������������������������� 31
1.3 Irredutibilidade�������������������������������������������������������������������������� 50
1.4 Ideais e Máximo Divisor Comum�������������������������������������������� 67
2 Grupos e Subgrupos����������������������������������������������������������� 87
2.1 Grupos����������������������������������������������������������������������������������������� 89
2.2 Grupos de Permutações,
Grupos de Rotações e Grupos Diedrais���������������������������������� 97
2.3 Subgrupos����������������������������������������������������������������������������������111
Referências���������������������������������������������������������������������������� 216
Apresentação
9
Dizemos que uma equação polinomial com coeficientes em
é solúvel por radicais sobre quando suas soluções são obtidas
a partir dos coeficientes do polinômio através de operações do
corpo e da extração de raízes. É óbvio que toda equação poli-
nomial solúvel em é solúvel por radicais sobre .
10
A resposta para esta pergunta foi dada por Evarist Galois (1811-
1832), que introduziu o conceito de grupo. Grosseiramente falan-
do, Galois associou a cada equação polinomial de grau n um
grupo formado por permutações de raízes da equação. Depois
provou que a equação é solúvel por radicais sobre se, e so-
mente se, este grupo tem propriedades específicas. Na linguagem
atual, este grupo deve ser solúvel.
A teoria de Galois está além dos objetivos deste curso. Nos res-
tringiremos a apresentar a linguagem usada no estudo de grupos
e a estudar as principais propriedades da teoria de grupos.
11
1 Polinômios
1 Polinômios
15
de x , a2 é o coeficiente de x 2 , e assim por diante. Costuma-se omi-
tir o coeficiente 1 de x j , j ∈ ∗ , escrevendo x j em vez de 1 x j .
16
Definição 1.1.2 Os polinômios p ( x) = a0 + a1 x + a2 x 2 + ... ∈ A[ x]
q ( x) = b0 + b1 x + b2 x 2 + ... ∈ A[ x]
são iguais quando ai = bi , ∀ i ∈ .
e q ( x) = b0 + b1 x + b2 x 2 + ... ∈ A[ x] .
p ( x) q ( x) = c0 + c1 x + c2 x 2 + ... ∈ A[ x] , onde
ck = ∑ab
i + j =k
i j = a0bk + a1bk −1 + + ak b0 .
17
b0 b1 b2 b3
a0 a0 b 0 a0b1 a0b2 a0b3
• p ( x) + q ( x) = (2 + 1) + (1 + 3) x + (2 + 0) x 2
= 3 + 4 x + 2 x2
1 3 0
c0 = 2
2 2 6 0 c1 = 6 + 1 = 7
c2 = 3 + 2 = 5
1 1 3 0 c3 = 6
ck = 0 para k > 3
2 2 6 0
p ( x) q ( x) = 2 + 7 x + 5 x 2 + 6 x3 .
18
O Teorema abaixo mostra que, com as operações definidas
acima, A [ x] é um anel, e que a comutatividade, a existência de
unidade e a inexistência de divisores de zero, são passadas de A
para A [ x] .
(1) A [ x] é um anel.
p ( x) = a0 + a1 x + a2 x 2 + ... ∈ A [ x] , q ( x) = b0 + b1 x + b2 x 2 + ... ∈ A[ x] e
r ( x) = c0 + c1 x + c2 x 2 + ... ∈ A[ x] .
= q ( x) + p ( x) .
= ( p ( x) + q ( x)) + r ( x) .
19
• Axioma (iii): Existência de elemento neutro
Tome f ( x) = 0 ∈ A[ x] .
= a0 + a1 x + a2 x 2 + ...
= p ( x) .
− p ( x) = − a0 + (− a1 ) x + (− a2 ) x 2 + ... ∈ A[ x] .
=0.
q ( x) r ( x) = d 0 + d1 x + d 2 x 2 + ..., di = ∑b
j + t =i
j ct
p ( x) (q ( x) r ( x)) = e0 + e1 x + e2 x 2 + ..., ei = ∑a
j + t =i
j dt
p ( x) q ( x) = l0 + l1 x + l2 x 2 + ..., li = ∑a
j + t =i
j bt
( p ( x) q ( x)) r ( x) = m0 + m1 x + m2 x 2 + ..., mi = ∑l
j + t =i
j ct
= ∑∑
n + =i j + = n
a j b c = ∑ ln c = mi
n + =i
p ( x) (q ( x) + r ( x)) = p ( x) q ( x) + p ( x) r ( x) .
Escrevendo
20
p ( x) (q ( x) + r ( x)) = 0 + 1 x + 2 x 2 + ... , i = ∑a
j + t =i
j (bt + ct )
p ( x) q ( x) = l0 + l1 x + l2 x 2 + ... , li = ∑a
j + t =i
j bt
p ( x) r ( x) = v0 + v1 x + v2 x 2 + ... , vi = ∑a
j + t =i
j ct
i i = li + vi , ∀ i ∈ . Para i ∈ temos
devemos mostrar quem
i = ∑a
j + t =i
j (bt + ct ) = ∑ (a b + a c ) = ∑ a b + ∑ a c
j + t =i
j t j t
j + t =i
j t
j + t =i
j t = li + vi .
q ( x) = b0 + b1 x + b2 x 2 + ... ∈ A[ x] .
Escrevendo p ( x) q ( x) = l0 + l1 x + l2 x 2 + ... , ∑a b ,
li =
j + t =i
j t
q ( x) p ( x) = w0 + w1 x + w2 x 2 + ... , w = ∑b a ,
i t j
j + t =i
devemos provar que li = wi , ∀ i ∈ .
li = ∑a
j + t =i
j bt = ∑b a
j + t =i
t j = wi .
Escrevendo p ( x) g ( x) = c0 + c1 x + c2 x 2 + ... , ci = ∑a
j + t =i
j bt ,
∑a
j + t =i
j bt serem não nulas é quando t = 0 . Assim,
ci = ∑a
j + t =i
j bt = ∑a
j + 0 =i
j b0 = ∑ a j = ai .
j =i
21
(4) Como A é domínio, temos que A é anel comutativo, com uni-
dade e sem divisores de zero. Segue dos itens (2) e (3), que A [ x]
também é anel comutativo com unidade. Falta provar que A [ x]
não tem divisores de zero. Faremos esta prova por absurdo, isto
é, vamos supor que A [ x] tenha divisores de zero. Então existem
p ( x) , q ( x) ∈ A[ x] , p ( x) ≠ 0 , q ( x) ≠ 0 , tais que p ( x) q ( x) = 0 . Es-
crevendo
p ( x) = a0 + a1 x + a2 x 2 + ... ,
q ( x) = b0 + b1 x + b2 x 2 + ... ,
q ( x) = b0 + b1 x + ... + bn x n , bn ≠ 0 .
Desde que
0 = p ( x) q ( x) = c0 + c1 x + c2 x 2 + ... , ci = ∑a
j + t =i
j bt
0 = cn + m = ∑
j +t = n + m
a j bt = a0bn + m + a1bn + m −1 + ... + am −1bn +1 + ambn + am +1bn −1 + ... + an + mb0
= ∑
j +t = n + m
a j bt = a0bn + m + a1bn + m −1 + ... + am −1bn +1 + ambn + am +1bn −1 + ... + an + mb0
22
• ( p ) [ x] é domínio, pois p é domínio para todo
primo positivo p .
• ( M 2×2 ()) [ x] é anel com unidade, pois M 2×2 () é anel com
unidade.
p ( x) = p0 ( x) + p1 ( x) + ... + pn ( x)
q ( x) = q0 ( x) + q1 ( x) + ... + qm ( x)
23
Usando novamente a distributividade e a comutatividade da
adição, podemos agrupar as parcelas da expressão acima de for-
ma que a soma dos índices seja constante:
p ( x) q ( x) = ( p0 ( x) q0 ( x)) + ( p0 ( x) q1 ( x) + p1 ( x) q0 ( x)) + ... + ( pn ( x) qm ( x))
(1) ax r . bx s = a b x r + s
(2) a . bx s = a b x s e ax r . b = a b x r .
p ( x) q ( x) = c0 + c1 x + c2 x 2 + ... , com ck = ∑
+ = k
a b .
0, para k ≠ r + s
ck =
ar bs = ab, para k = r + s
Portanto, ax r . bx s = p ( x) q ( x) = a b x r + s .
24
Veremos que em um anel de polinômios, os únicos elementos
inversíveis são os polinômios constantes, cujas constantes são in-
versíveis no anel. Como conseqüência, o polinômio p ( x) = x não é
inversível, portanto, nenhum anel de polinômios pode ser corpo.
(i) an ≠ 0 ;
∂ : A[ x] − {0} →
p ( x) ∂ ( p ( x)) .
1 0 0 0 2 3 1 4
q ( x) = x+ x + x ∈ ( M 2×2 ()) [ x] .
2 3 −1 0 −2 2
(1) Se p ( x) + q ( x) ≠ 0 , então
25
(3) Se p ( x) q ( x) ≠ 0 , então ∂ ( p ( x) q ( x)) ≤ ∂ ( p ( x)) + ∂ (q ( x)) .
26
(4) Novamente, escreva p ( x) q ( x) = c0 + c1 x + c2 x 2 + ... ,
ck = ∑ ai b j .
i + j =k
Lembre que an ≠ 0 e bm ≠ 0 , pois ∂ ( p ( x)) = n e ∂ (q ( x)) = m . Vi-
mos na demonstração do item anterior que ck = 0 para k > n + m .
Além disso, note que
cn + m = a0bn + m + a1bn + m −1 + ... + an −1bm +1 + anbm + am +1bm −1 + ... + an + mb0 = anbm
n + m −1 + ... + an −1bm +1 + an bm + am +1bm −1 + ... + an + m b0 = an bm
,
pois ai = 0 para i > n e b j = 0 para j > m .
Como A é domínio e an ≠ 0 ≠ bm , temos que cn + m = anbm ≠ 0 . Por-
tanto, p ( x) q ( x) ≠ 0 e ∂ ( p ( x) q ( x)) = n + m = ∂ ( p ( x)) + ∂ (q ( x)) .
q ( x) = 1 + x + 2 x 2 − 5 x 3 ∈ [ x] . Então p ( x) + q ( x) = 3 + 3 x + 2 x 2 e
27
Corolário 1.1.1 Nenhum anel de polinômios é corpo.
• ( [ x]) = () = ∗ ;
• ( [ x]) = () = ∗ ;
28
Lista de Exercícios
1) Sejam f ( x) = (a − 1) x 2 + bx + c e g ( x) = 2ax 2 + 2bx − c polinô-
mios de [ x] , determine os possíveis valores para a, b e c de
forma que valha a igualdade f ( x) = g ( x) .
2) Dados f ( x) = 1 + 5 x + 3x3 , g ( x) = x − 7 x 2 ,
h ( x) = 1 − 3 x 2 + x 4 ∈ [ x] , calcule:
a) f ( x) + g ( x) , f ( x) − g ( x) e h ( x) − g ( x) .
b) f ( x) g ( x) , f ( x) h ( x) e g ( x) h ( x) .
3) Sejam f ( x) = A + Bx , g ( x) = C + Bx + Ax 2 ∈ ( M 2 ()) [ x] ,
1 0 0 2 3 0
onde A = , B = e C = .
0 0 3 0 0 1
Calcule ( f ( x))2 e f ( x) − ( g ( x))2 .
c) 4 [ x] não é domínio.
c) C = { a0 + a1 x + ... + an x n ∈ [ x]; a0 + a1 = 0 } .
29
7) Quantos polinômios de grau m existem em n [ x] ?
8) Sejam A um domínio e f ( x) , g ( x) ∈ A[ x] . Se
∂ ( f ( x) + g ( x)) = 5 e ∂ ( f ( x) − g ( x)) = 2 , determine ∂ ( f ( x) g ( x)) ,
∂ (( f ( x))2 − ( g ( x))2 ) e ∂ (( f ( x))2 + ( g ( x))2 ) .
11) Seja f ( x) = (a − 1) x 3 + (a − b − 2) x 2 + (b − c + 5) x + (c − a − 1) ∈ [ x]
um polinômio inversível. Determine a, b, c e ( f ( x))−1 .
30
1.2 Algoritmo da Divisão e Raízes
Lembre que se a, b ∈ e b ≠ 0 , então existem únicos q, r ∈
tais que
a = b q + r com 0 ≤ r < b .
4 x3 + 6 x 2 + 4 x + 3 2 x 2 + x + 1
−(4 x 3 + 2 x 2 + 2 x) 2x + 2
4x2 + 2x + 3
− (4 x 2 + 2 x + 2)
1
4 x 3 + 6 x 2 + 4 x + 3 = (2 x 2 + x + 1) (2 x + 2) + 1
f ( x) = g ( x) q ( x) + r ( x) .
O quociente é q ( x) = 2 x + 2 .
O resto é r ( x) = 1 .
31
do como critério de parada. De outra forma, para dividir f ( x) por
g ( x) ≠ 0 , reduzimos o grau do dividendo até que reste o polinômio
nulo ou um polinômio de grau menor que o grau de g ( x) .
Demonstração. Se f ( x) = 0 tome q ( x) = r ( x) = 0 .
f ( x) = a0 + a1 x + ... + an x n , ∂ ( f ( x)) = n .
g ( x) = b0 + b1 x + ... + bm x m , ∂ ( g ( x)) = m .
Tome q ( x) = 0 e r ( x) = f ( x) .
Se n = 0 , então f ( x) = a0 ∈ K .
32
Agora considere o polinômio
h ( x) = f ( x) − (anbm −1 x n − m ) g ( x) . (*)
Se h ( x) = 0 , então f ( x) = g ( x) q ( x) + r ( x) , com r ( x) = 0 e
q ( x) = anbm −1 x n − m .
f ( x) = g ( x) (q1 ( x) + anbm −1 x n − m ) + r1 ( x) .
g ( x) (q ( x) − q ( x)) = r ( x) − r ( x) .
Suponha q ( x) ≠ q ( x) . Então q ( x) − q ( x) ≠ 0 e r ( x) − r ( x) ≠ 0 .
Logo,
33
Observação 1.2.1 Vimos que se K é um corpo, então vale o algo-
ritmo de Euclides em K [ x] . Usamos a função grau, indicada por
∂ , como critério de parada. Por isso, dizemos que ( K [ x], ∂ ) é um
domínio Euclidiano.
f ( x) = g ( x) q ( x) + r ( x) , com q ( x) = 2x 2 + 2x e r ( x) = 1 .
2
f ( x) = g ( x) q ( x) + r ( x) , com q ( x) = x + 1 e r ( x) = 0 .
3
No exemplo acima, observamos que f ( x) = 2 x + 3 e g ( x) = 3
também são polinômios do domínio [ x] . No entanto, não é pos-
sível usar o algoritmo de Euclides para efetuar a divisão de f ( x)
por g ( x) em [ x] . Basta notar que o algoritmo de Euclides for-
neceria um único quociente q ( x) ∈ [ x] ⊆ [ x] , mas o Exemplo
2
1.2.3 mostrou que tal quociente é q ( x) = x + 1∉ [ x] .
3
34
Veremos a seguir que o algoritmo de Euclides pode ser aplicado,
com restrições, para efetuar a divisão do polinômio f ( x) ∈ A[ x]
pelo polinômio g ( x) ∈ A[ x] , g ( x) ≠ 0 , quando A é anel comutati-
vo com unidade. A restrição é que o coeficiente do termo de maior
grau de g ( x) seja um elemento inversível do anel A .
g ( x) (q ( x) − q ( x)) = r ( x) − r ( x) .
Suponha q ( x) − q ( x) ≠ 0 .
Afirmação: g ( x) (q ( x) − q ( x)) ≠ 0 e
∂ ( g ( x) (q ( x) − q ( x))) ≥ ∂ ( g ( x)) .
∂ ( g ( x) (q ( x) − q ( x))) = m + t ≥ m = ∂ ( g ( x)) .
35
Assim, r ( x) ≠ 0 , e analogamente r ( x) ≠ 0 . Isso garante que pode-
mos falar em ∂ (r ( x)) e ∂ (r ( x)) .
Finalmente,
∂ ( g ( x)) ≤ ∂ ( g ( x) (q ( x) − q ( x))) = ∂ (r ( x) − r ( x)) ≤ máx { ∂ (r ( x)), ∂ (r ( x))} < ∂ ( g ( x)).
( x) (q ( x) − q ( x))) = ∂ (r ( x) − r ( x)) ≤ máx { ∂ (r ( x)), ∂ (r ( x))} < ∂ ( g ( x)).
A contradição acima mostra que não podemos ter q ( x) − q ( x) ≠ 0 .
Portanto, q ( x) = q ( x) e conseqüentemente r ( x) = r ( x) .
Notação. g ( x) | f ( x) .
f ( ) = a0 + a1 + a2 2 + ... + an n .
36
Demonstração. Comoa ∈ A , temos x − ∈ A [ x] . De acordo com o
Teorema 1.2.2, existem q ( x) , r ( x) ∈ A[ x] tais que
Logo, f ( x) = ( x − ) q ( x) + f ( ).
(a) é raiz de f ( x) .
(b) ( x − ) | f ( x) .
Avaliando f ( x) em , temos
f ( ) = ( − ) q ( ) = 0.
Logo é raiz de f ( x) .
37
Exemplo 1.2.5 Determine o resto da divisão de
f ( x) = x 5 + x 4 + x3 + x 2 + x + 1 por g ( x) = x + 1 , em [ x] .
Desde que g ( x) = x − (−1) , o resto procurado é
r ( x) = f (−1) = 0 .
0 = f (−1) = −2 + a − b − 2
0 = f (−2) = −16 + 4a − 2b − 2
a − b = 4
2a − b = 9
Logo, a = 5 e b = 1 .
38
Veremos agora que o grau de um polinômio, com coeficientes
em um domínio, é uma cota superior para o número de raízes
deste polinômio.
Se f ( x) tem raiz b ∈ A e b ≠ ,
a então é raiz de q ( x) .
De fato, 0 = f ( ) = ( − ) q ( ) , e como b ≠
a e A é domínio, vem
que q ( ) = 0 . Como A [ x] é domínio, a Proposição 1.1.1 (4) permi-
te concluir que
n = ∂ ( f ( x)) = ∂ (( x − )) + ∂ (q ( x)) = 1 + ∂ (q ( x)) .
Logo, ∂ (q ( x)) = n − 1 , e pela hipótese de indução, q ( x) tem no má-
ximo n − 1 raízes em A . Portanto, f ( x) tem no máximo n raízes
em A , pois as raízes de f ( x) são e as raízes de q ( x) .
39
Exemplo 1.2.9 O polinômio f ( x) = x 2 + x tem 4 raízes em 6 .
De fato:
f (0) = 0 ⇒ 0 é raiz
f (1) = 2 ⇒ 1 não é raiz
f (2) = 0 ⇒ 2 é raiz
f (3) = 0 ⇒ 3 é raiz
f (4) = 2 ⇒ 4 não é raiz
f (5) = 0 ⇒ 5 é raiz.
q1 ( x) = ( x − ) q2 ( x) , q2 ( x) ∈ A[ x]
f ( x) = ( x − ) 2 q2 ( x).
40
• Se q2 ( ) ≠ 0 , então é raiz de multiplicidade 2 de f ( x) .
• Se q2 ( ) = 0 , então é raiz de q2 ( x) e ( x − ) | q2 ( x) .
Segue que
q2 ( x) = ( x − ) q3 ( x) , q3 ( x) ∈ A[ x]
f ( x) = ( x − )3 q3 ( x).
• Se q3 ( ) = 0 , seguimos o processo.
qn +1 ( x) = a0 + a1 x + ... + at x t , com at ≠ 0 e t ≥ 0 .
f ( x) = ( x − ) r qr ( x) , com qr ( x) ∈ A[ x] e qr ( ) ≠ 0 .
f ( x) = ( x − ) r q ( x) , com q ( x) ∈ A [ x] e q ( ) ≠ 0 .
( x − ) r | f ( x) e ( x − ) r +1 /| f ( x) .
41
Observação 1.2.5 A multiplicidade de raiz não está definida para
o polinômio nulo.
f ( x) = ( x + 1) ( x 3 − 3 x − 2) .
42
Por recorrência,
(2)
f ( x) = f ( x) é a derivada formal de f ( x) ,
(3) (2)
f ( x) = f ( x) é a derivada formal de f ( x) ,
(r ) ( r −1)
f ( x) é a derivada formal de f ( x) .
(a) ( f ( x) + g ( x)) = f ( x) + g ( x) .
(b) ( f ( x) g ( x)) = f ( x) g ( x) + f ( x) g ( x) .
43
(b) Escreva f ( x) g ( x) = c0 + c1 x + ... + cn + m x n + m onde ck = ∑ab
i + j =k
i j .
b + a2b0 ) x + ... + m (a0bm + a1bm −1 + ... + amb0 ) x m −1 + ... + n (an − mbm + an − m +1bm −1 + ... + anb0 ) x n −1 + ... + (n + m) anbm x n + m −1.
1 1
( f ( x) g ( x)) = a0 (b1 + 2b2 x + ... + mbm x m−1 ) + a1 x (b1 + 2b2 x + ... + mbm x m−1 ) + ... +
−1
) + a1 x (b1 + 2b2 x + ... + mbm x m −1 ) + ... + an x n (b1 + 2b2 x + ... + mbm x m −1 ) + a1 (b0 + b1 x + ... + bm x m ) +
2b2 x + ... + mbm x m −1 ) + a1 (b0 + b1 x + ... + bm x m ) + 2a2 x (b0 + b1 x + ... + bm x m ) + ... + nan x n −1 (b0 + b1 x + ... + bm x m )
= f ( x) g ( x) + f ( x) g ( x) .
g ( ) = g ( ) = ... = g ( r −1) ( ) = 0 e g ( r ) ( ) ≠ 0 .
44
Devemos provar que vale para r + 1 . Para tanto, consideramos
que é raiz de multiplicidade r + 1 de f ( x) . Segue que
f ( x) = ( x − ) r +1 q ( x) , q ( x) ∈ A [ x] e q ( ) ≠ 0 .
Chame g ( x) = ( x − ) r q ( x) . Como q ( ) ≠ 0 , temos que r é raiz de
multiplicidade r de g ( x) . Pela hipótese de indução, concluímos
que g ( ) = g ( ) = ... = g ( r −1) ( ) = 0 e g ( r ) ( ) ≠ 0 .
f ( x) = g ( x) ( x − ) + g ( x) ⇒ f ( ) = g ( ) = 0 ;
f ( x) = g ( x) ( x − ) + 2 g ( x) ⇒ f ( ) = 2 g ( ) = 0 ;
f ( r −1) ( x) = g ( r −1) ( x) ( x − ) + (r − 1) g ( r − 2) ( x) ⇒ f ( r −1)
( ) = (r − 1) g ( r − 2) ( ) =
f ( r −1) ( x) = g ( r −1) ( x) ( x − ) + (r − 1) g ( r − 2) ( x) ⇒ f ( r −1) ( ) = (r − 1) g ( r − 2) ( ) = 0 ;
f ( r ) ( x) = g ( r ) ( x) ( x − ) + r g ( r −1) ( x) ⇒ f ( r ) ( ) = r g ( r −1) ( ) = 0
f ( r ) ( x) = g ( r ) ( x) ( x − ) + r g ( r −1) ( x) ⇒ f ( r ) ( ) = r g ( r −1) ( ) = 0 ;
45
Escrevendo f ( x) = ( x − ) g ( x) , g ( x) ∈ A[ x] e derivando, temos:
f ( x) = g ( x) + ( x − ) g ( x) ⇒ 0 = f ( ) = g ( ) ;
f ( x) = 2 g ( x) + ( x − ) g ( x) ⇒ 0 = f ( ) = 2 g ( ) ⇒ g ( ) = 0
f ( x) = 2 g ( x) + ( x − ) g ( x) ⇒ 0 = f ( ) = 2 g ( ) ⇒ g ( ) = 0 ;
g ( x) = ( x − ) r q ( x) , q ( ) ≠ 0.
f ( x) = ( x − ) r +1 q ( x) , q ( ) ≠ 0.
f (−1) = 0 ;
f ( x) = 4 x3 + 3x 2 − 6 x − 5 ⇒ f (−1) = 0
f ( x) = 12 x 2 + 6 x − 6 ⇒ f (−1) = 0
f ( x) = 24 x + 6 ⇒ f (−1) ≠ 0
Logo, −1 é raiz de multiplicidade 3 de f ( x) . Dividindo f ( x) por
( x + 1)3 , obtemos f ( x) = ( x + 1)3 ( x − 2) .
46
raiz de multiplicidade 1, temos que a soma das multiplicidades
das raízes não ultrapassa ∂ ( f ( x)) . Veremos agora que este resul-
tado vale para todo polinômio com coeficientes em um domínio.
f ( x) = ( x − 1 ) r1 q1 ( x) , com q1 ( x) ∈ A [ x] e q1 ( 1 ) ≠ 0 .
Seguindo o processo,
r
f ( x) = ( x − 1 ) 1 ( x − 2 ) r2 ... ( x − t ) rt qt ( x) com qt ( x) ∈ A [ x] .
≥ r1 + r2 + ... + rt .
47
Lista de Exercícios
1) Determine o quociente e o resto da divisão de f ( x) por
g ( x) .
a) f ( x) = 4 x 4 − 6 x 2 + 2 e g ( x) = x 2 − 1 em [ x] .
b) f ( x) = x 3 − 4 x + 3 e g ( x) = 2 x 2 + 2 x − 6 em [ x] .
c) f ( x) = x 2 + 1 e g ( x) = x + 1 em 2 [ x] .
6) Determine 1 2
f ( x) ∈ [ x] sabendo que ∂ ( f ( x)) = 2 , f = e
que as raízes de f ( x) são 0 e 3 . 3 3
48
10) Mostre que, se f ( x) = ax 2 + bx + c ∈ [ x] , a ≠ 0 , então as ra-
2
ízes de f ( x) são −b ± b − 4 a c .
2a
49
1.3 Irredutibilidade
Em Álgebra I, estudamos elementos irredutíveis em um do-
mínio qualquer. Agora estudaremos elementos irredutíveis em
domínios de polinômios. Tais elementos são chamados de poli-
nômios irredutíveis.
50
Teorema 1.3.1 Teorema Fundamental da Álgebra.
Todo polinômio não constante de [ x] tem todas as suas raízes em .
f ( x) = ( x − 1 ) ( x − 2 ) q2 ( x).
f ( x) = an ( x − 1 ) ( x − 2 )...( x − n ).
f ( x) = ( x − 1) ( x 2 − 2) .
f ( x) = ( x − 1) ( x 2 − 2) .
f ( x) = ( x − 1) ( x − 2) ( x + 2) .
51
Exemplo 1.3.2 O polinômio f ( x) = x 2 + 1 ∈ [ x] tem raízes ± i . A
decomposição de f ( x) em [ x] , [ x] ou [ x] é
f ( x) = x 2 + 1 .
A decomposição de f ( x) em [ x] é
f ( x) = ( x − i ) ( x + i ) .
(a’) p ( x) ∈ D [ x]∗ ( D) .
(b’) p ( x) = f ( x) g ( x) com f ( x) , g ( x) ∈ D [ x] ⇒ f ( x) ∈ ( D)
ou g ( x) ∈ ( D) .
(a) p ( x) ∈ D [ x]∗ ( D) .
52
(b) Existem f ( x) , g ( x) não inversíveis em D [ x] tais que
p ( x) = f ( x) g ( x) .
1 = ∂ ( f ( x)) + ∂ ( g ( x)) .
53
Exemplo 1.3.3 Como caso particular da proposição anterior, ve-
mos que:
(i) ∂ ( p ( x)) = 1 .
(ii) p ( x) é irredutível em [ x] .
p ( x) = ( x − ) q ( x) , q ( x) ∈ [ x] .
54
Vamos ver que p ( x) não pode ser decomposto como produto de
dois polinômios não inversíveis de [ x] , [ x] e [ x] .
Escrevendo p ( x) = f ( x) g ( x) , vem que ∂ ( f ( x)) + ∂ ( g ( x)) = 2 .
Temos as possibilidades: ∂ ( f ( x)) = 2 e ∂ ( g ( x)) = 0 ; ∂ ( g ( x)) = 2 e
∂ ( f ( x)) = 0 ; ∂ ( f ( x)) = ∂ ( g ( x)) = 1 .
As duas primeiras possibilidades são análogas, e por isso tratare-
mos apenas da primeira e da terceira.
a c = 1
a d + b c = 0 .
b d = 1
Multiplicando a segunda equação por c d e usando as outras
duas, temos:
(a c) d 2 + (b d ) c 2 = 0
1 d 2 + 1c 2 = 0
d 2 + c2 = 0
d 2 = − c2 .
Proposição 1.3.3
55
Demonstração. (a) Sejaa∈ D uma raiz de p ( x) . Segue que
p ( x) = ( x − ) q ( x) , com ( x − ) , q ( x) ∈ D [ x] .
Como ∂ ( p ( x)) > 1 , temos que ∂ ( x − ) = 1 e ∂ (q ( x)) ≥ 1 .
Assim, x − a e q ( x) são polinômios não inversíveis de D [ x] .
Logo, p ( x) é redutível em D [ x] .
• A Proposição 1.3.3 (b) (⇒) não vale para domínio que não
é corpo.
56
Pela Proposição 1.3.1, os polinômios constantes não são redutíveis
nem irredutíveis em [ x] , [ x] e [ x] . No exemplo a seguir, estu-
daremos a irredutibilidade dos polinômios constantes em [ x] .
(i) p ( x) é irredutível em [ x] .
57
1° Caso: a ∈ .
Desde que ( x − ) ∈ [ x] e ( x − ) dividam p ( x) , existe
q ( x) ∈ [ x] tal que p ( x) = ( x − ) q ( x) .
No entanto, p ( x) é irredutível em [ x] , e então q ( x) é polinô-
mio constante não nulo. Logo, ∂ ( p ( x)) = 1 .
2° Caso: a ∉ .
Escreva a = a + b i , a , b ∈ e b ≠ 0 . Sabemos que também é
raiz de p ( x) e que a ≠ . a Assim, ( x − ) ( x − ) divide p ( x) em
[ x] , isto é, existe q ( x) ∈ [ x] tal que
p ( x) = ( x − ) ( x − ) q ( x) ;
p ( x) = ( x − (a + b i )) ( x − (a − b i )) q ( x) ;
p ( x ) = ( x 2 − 2a x + a 2 + b 2 ) q ( x ) .
p ( x) = ( x 2 − 2a x + a 2 + b 2 ) q1 ( x) + r1 ( x) ,
com r1 ( x) = 0 ou ∂ (r1 ( x)) < 2 .
p ( x ) = ( x 2 − 2a x + a 2 + b 2 ) q ( x ) + 0 ;
p ( x) = ( x 2 − 2a x + a 2 + b 2 ) q1 ( x) + r1 ( x) .
Como p ( x) = ( x 2 − 2a x + a 2 + b 2 ) q ( x) e p ( x) é irredutível em
[ x] , devemos ter q ( x) constante não nulo.
Seja q ( x) = c ∈ . Então
p ( x ) = c x 2 − 2a c x + c ( a 2 + b 2 ) .
∆ = 4a 2 c 2 − 4c 2 (a 2 + b 2 ) = −4 c 2b 2 < 0 , pois b , c ≠ 0 .
58
(ii) ⇒ (i) Se ∂ ( p ( x)) = 1 , então p ( x) é irredutível em [ x] , pela
Proposição 1.3.1.
Se ∂ ( p ( x)) = 2 e p ( x) tem discriminante negativo, então p ( x)
não tem raiz em . Segue, da Proposição 1.3.3 (b), que p ( x) é
irredutível em [ x] .
7
Exemplo 1.3.8 O polinômio 7 x18 − (3 + 2) x13 + x5 − 15 x + 1631
3
é redutível em [ x] .
Isso é conseqüência imediata da proposição anterior.
59
Suponha f ( x) , g ( x) ∈ [ x] tais que d p ( x) = f ( x) g ( x) . Multipli-
cando por d −1 , temos
p ( x) = (d −1 f ( x)) g ( x) .
Por hipótese, p ( x) é irredutível, e então d −1 f ( x) ou g ( x) é inver-
sível. Segue que f ( x) ou g ( x) é inversível, e, portanto, d p ( x) é
irredutível.
(ii) ⇒ (i) Já provamos que multiplicar polinômio irredutível por
constante não nula resulta em polinômio irredutível. Por hipóte-
se, d p ( x) é irredutível, e então, multiplicando por d −1 , concluí-
mos que p ( x) é irredutível.
2 1 1 5
Exemplo 1.3.9 Seja p ( x) = + x + x 2 + x3 + x 4 ∈ [ x] .
3 2 6 2
É fácil ver que o mínimo múltiplo comum dos denominadores
dos coeficientes de p ( x) é
mmc (3, 2, 6,1) = 6 ,
e 6. p ( x) = 4 + 3 x + x 2 + 6 x3 + 15 x 4 ∈ [ x] .
Portanto, p ( x) é irredutível em [ x] se, e somente se,
4 + 3 x + x 2 + 6 x3 + 15 x 4 é irredutível em [ x] .
60
Segue que p ( x) é não nulo e não inversível em [ x] .
Supondo que p ( x) não é irredutível em [ x] , vem que p ( x) é
redutível em [ x] . Então existem f ( x) , g ( x) ∈ [ x] , polinômios
não inversíveis, tais que p ( x) = f ( x) g ( x) . Note que ∂ ( f ( x)) ≥ 1 e
∂ ( g ( x)) ≥ 1 .
Usando a propriedade do grau de polinômios, temos 1 ≤ ∂ ( f ( x)) ,
∂ ( g ( x)) < ∂ ( p ( x)) .
Também existem , b ∈ ∗ , tais que f ( x) = f1 ( x) ∈ [ x] e
g ( x) = g1 ( x) ∈ [ x] . É claro que ∂ ( f1 ( x)) = ∂ ( f ( x)) e
∂ ( g1 ( x)) = ∂ ( g ( x)) . Assim, 1 ≤ ∂ ( f1 ( x)) , ∂ ( g1 ( x)) < ∂ ( p ( x)) .
Para mm==aabb∈∈∗ ∗, podemos escrever
m p ( x) = f1 ( x) g1 ( x) .
Note que m ≠ ±1 . De fato, se m = ±1 , a igualdade acima diz que
p ( x) é redutível em [ x] . Isso contradiz nossa hipótese.
Sejam f1 ( x) = a0 + a1 x + ... + ar x r ∈ [ x] , ar ≠ 0 ;
g1 ( x) = b0 + b1 x + ... + bs x s ∈ [ x] , bs ≠ 0 .
Então r + s = ∂ ( p ( x)) .
Como m ∈ , m ≠ 0, ± 1 , existe um número primo q que divide m .
61
Escrevendo m = q m1 com m1 ∈ , temos
m p ( x) = f1 ( x) g1 ( x)
q m1 p ( x) = q f 2 ( x) g1 ( x)
m1 p ( x) = f 2 ( x) g1 ( x) .
p ( x) = f ∗( x) g ∗( x) , com f ∗( x) , g ∗( x) ∈ [ x] .
62
Exemplo 1.3.10. O polinômio p ( x) = 7 + 36 x 4 − 21x 7 é primitivo,
pois mdc (7,36, −21) = 1 .
(i) p ( x) é irredutível em [ x] .
(ii) p ( x) é irredutível em [ x] .
63
Demonstração. Inicialmente, note que p ( x) não pode ser polinô-
mio constante, pois as condições p | a0 e p /| an dizem que a0 ≠ an .
Segue que ∂ ( p ( x)) ≥ 1 . Portanto p ( x) é polinômio não nulo e não
inversível.
Supondo que p ( x) não é irredutível em [ x] , existem f1 ( x) ,
g1 ( x) ∈ [ x] tais que p ( x) = f1 ( x) g1 ( x) com 1 ≤ ∂ ( f1 ( x)) < n e
1 ≤ ∂ ( g1 ( x)) < n . Pela Observação 1.3.3, existem f ( x) , g ( x) ∈ [ x]
tais que
p ( x) = f ( x) g ( x) , com 1 ≤ ∂ ( f ( x)) , ∂ ( g ( x)) < n .
Sejam f ( x) = b0 + b1 x + ... + br x r ;
g ( x) = c0 + c1 x + ... + cs x s .
Assim, ( p | b0 e p /| c0 ) ou ( p | c0 e p /| b0 ) .
Trabalharemos apenas no primeiro caso, pois o outro é análogo.
Como p /| an e an = br cs , temos que p /| br .
Desde que p | b0 e p /| br , podemos tomar o menor i ∈ {0,1,..., r} , tal
que p /| bi . É obvio que 0 < i ≤ r < n .
Pela definição de produto de polinômios,
ai = b0 ci + b1ci −1 + ... + bi −1c1 + bi c0 .
64
1
Exemplo 1.3.12 Estude a irredutibilidade de p ( x) = x 6 + 2 x + 1
7
em [ x] .
Multiplicando p ( x) por 7 e usando a Proposição 1.3.5, vem que:
p ( x) é irredutível em [ x] ⇔ 7 p ( x) = x 6 + 14 x + 7 é irredutível
em [ x] .
Aplicando o Critério de Eisenstein com o primo p = 7 vem que
1
7 p (x ) é irredutível em [ x] . Logo, p ( x) = x 6 + 2 x + 1 é irredu-
7
tível em [ x] .
(a) p ( x) = 2 x 7 + 3x 5 + 3
(b) p ( x) = x 3 + 2 x + 10
(c) p ( x) = 10 x11 + 6 x3 + 6
Solução.
65
Lista de Exercícios
1) Decomponha f ( x) = x − 3x + x − 3 em fatores irredutíveis em
3 2
[ x] , [ x] , [ x] e [ x] .
a) f ( x) = x 4 + 45 x + 15 .
b) f ( x) = 2 x 4 + 3 x + 3 .
c) f ( x) = 2 x 7 + 3r x5 + 3 , r ∈ ∗ .
d) f ( x) = 10 x11 + 6 x3 + 15 .
e) f ( x) = x12 + 14 x 5 + 21x + 7 .
f) f ( x) = x13 + 5 x 5 + 10 .
g) f ( x) = x16 − 16 .
h) f ( x) = x n + p , n ∈ ∗ e p é um número primo.
a) f ( x) = 4 em [ x] .
b) f ( x) = 2 x + 6 em [ x] .
c) f ( x) = x 3 − x 2 − 2 x + 2 em [ x] .
d) f ( x) = x 3 − x 2 − 2 x + 2 em [ x] .
e) f ( x) = x 3 − x 2 − 2 x + 2 em [ x] .
f) f ( x) = x 3 − 7 x 2 + 3x + 3 em [ x] .
66
1.4 Ideais e Máximo Divisor Comum
No curso de Álgebra I estudamos ideais em um anel qualquer.
Agora vamos ver algumas propriedades de ideais em anéis de
polinômios. Mostraremos que, se K é corpo, então os ideais de
K [ x] são principais. Como conseqüência, obteremos a existência
de máximo divisor comum em K [ x] . Em particular, temos a exis-
tência de máximo divisor comum para polinômios de [ x] , [ x]
e [ x] . No caso de polinômios de [ x] , o máximo divisor comum
também existe como decorrência de um teorema devido a Gauss.
(i) a, b ∈ I ⇒ a − b ∈ I .
(ii) r ∈ A e a ∈ I ⇒ r a ∈ I .
( x 2 + 1) [ x] = {( x 2 + 1) f ( x); f ( x) ∈ [ x]}
no domínio [ x] .
67
Demonstração. Já sabemos que K [ x] é domínio. Veja o Teorema
1.1.1 (4). Devemos mostrar que todo ideal de K [ x] é gerado por
um polinômio de K [ x] . Seja então J um ideal de K [ x] .
Se J = {0} , temos J = p ( x) K [ x] para p ( x) = 0 . Isto é, J é o ideal
gerado pelo polinômio nulo.
Se J ≠ {0} , então J ∗ ≠ ∅ . Assim, a função grau de poli-
nômio está definida em J ∗ . Como ∂ : J ∗ → , temos que
∂ ( J ∗ ) = {∂ ( f ( x)); f ( x) ∈ J *} é subconjunto não vazio de , e
pelo Princípio do Menor Número Inteiro, existe um mínimo n
para o conjunto ∂ ( J ∗ ) .
Seja p ( x) ∈ J ∗ tal que ∂ ( p ( x)) = n , isto é, p ( x) é um polinômio
de J ∗ que tem grau mínimo. Vamos mostrar que J = p ( x) K [ x] .
É claro que p ( x) K [ x] ⊆ J , pois p ( x) ∈ J e J é ideal de K [ x] .
Por outro lado, dado g ( x) ∈ J ⊆ K [ x] , usamos o algoritmo de Eucli-
des em K [ x] (Teorema 1.2.1), para obter q ( x) , r ( x) ∈ K [ x] tais que
68
Supondo que J é ideal principal, existe p ( x) ∈ [ x] tal que
J = p ( x) [ x] .
Como 2 ∈ J , pois 2 = 2.1 + x.0
e x ∈ J , pois 2 = 2.0 + x.1 ,
temos que 2, x ∈ p ( x) [ x] . Então p ( x) | 2 e p ( x) | x em [ x] .
De p ( x) | 2 em [ x] tiramos que p ( x) = ± 1 ou p ( x) = ± 2 .
Não podemos ter p ( x) = ± 2 , pois ±2 /| x em [ x] .
Logo, p ( x) = ±1 , e daí J = p ( x) [ x] = [ x] .
Segue que 1 ∈ J = 2 [ x] + x [ x] , então existem
f ( x) , g ( x) ∈ [ x] , tais que
1 = 2 f ( x) + xg ( x) .
Isso é um absurdo, pois o lado direito da igualdade acima tem
termo independente par.
Concluímos que J não é ideal principal, portanto [ x] não é do-
mínio principal.
(a) quando d | a e d | b .
69
Quando existe máximo divisor comum, em geral, ele não é
único. No entanto, quaisquer dois máximos divisores comuns
para a e b pertencentes ao domínio D são associados. Lembre
que d , d ∈ D são associados quando d | d e d | d . Isto é, existe
u ∈ ( D) tal que d = d u .
Logo, d ~ d .
Reciprocamente, suponha que d ~ d , isto é, d | d e d | d .
• d | a , d | b e d | d ⇒ d | a e d | b .
Usaremos a notação
d = mdc (a, b)
para indicar que d é um máximo divisor comum para a e b ,
deixando claro que d não é único.
70
Teorema 1.4.1 Sejam D um domínio principal e a, b ∈ D .
J = aD + bD = {ax + b y; x, y ∈ D} .
J = aD+bD = d D.
Note que
• a, b ∈ J ⇒ a, b ∈ d D ⇒ d | a e d | b .
d D ⊆ d D , então d | d .
71
Corolário 1.4.2 Sejam K um corpo e f ( x), g ( x) ∈ K [ x] .
72
Observação 1.4.4 A partir de agora, quando trabalharmos com
polinômios de K [ x] , onde K é corpo, escrevemos
73
• Se r1 ( x) = 0 , segue do Lema 1.4.1 (a) que
mdc ( f ( x), g ( x)) = g ( x) .
6 x 3 + 15 x 2 + 12 x + 3 = (2 x 2 − x − 1) (3 x + 9) + (24 x + 12) .
Logo, q1 ( x) = 3 x + 9 e r1 ( x) = 24 x + 12 .
Dividindo g ( x) por r1 ( x) temos
1 1
2 x 2 − x − 1 = (24 x + 12) x − .
12 12
Como r2 ( x) = 0 , vem que mdc ( f ( x), g ( x)) = r1 ( x) .
x 3 + 7 x 2 + 4 x + 4 = ( x 2 + 7 x) x + (4 x + 4) .
74
Logo, q1 ( x) = x e r1 ( x) = 4 x + 4 .
Dividindo g ( x) por r1 ( x) temos
1 3
x 2 + 7 x = (4 x + 4) x + − 6 .
4 2
1 3
Logo, q2 ( x) = x + e r2 ( x) = −6 .
4 2
Dividindo r1 ( x) por r2 ( x) temos
2 2
4 x + 4 = −6 − x − + 0 .
3 3
2 2
Logo, q3 ( x) = − x − e r3 ( x) = 0 .
3 3
Portanto, mdc ( f ( x), g ( x)) = r2 ( x) , e como o polinômio mônico as-
sociado a r2 ( x) = 6 é p ( x) = 1 , temos que
mdc ( x 3 + 7 x 2 + 4 x + 4, x 2 + 7 x) = 1 .
75
Definição 1.4.3 Um domínio D é chamado domínio fatorial quando:
76
Teorema 1.4.2 Teorema de Gauss.
Se D é domínio fatorial, então D [ x] é domínio fatorial.
• Caso 1: a = 0 ou b = 0 .
Admita que a = 0 . O caso b = 0 é análogo.
Tome d = b . É claro que d | a e d | b .
Se d ∈ D , d | a e d | b , então d | d , pois d = b .
Logo, d = b = mdc (a, b) .
• Caso 2: a ∈ ( D) ou b ∈ ( D) .
Admita que a ∈ ( D) . O caso b ∈ ( D) é análogo.
Tome d = a . Claro que d | a , e como a (a −1b) = b , também
temos que d = a divide b .
Se d ∈ D e d | a , d | b , então d | d , pois d = a .
Logo, d = a = mdc (a, b) .
77
• Caso 3: a , b ∈ D∗ ( D) .
Como D é domínio fatorial, existem famílias de irredutíveis
{qi }1≤ i ≤l e {qj }1≤ j ≤ t em D tais que
a = q1q2 ...ql
b = q1 q2 ...qt .
d = q1 .q2 .....qm , onde q1 , q2 ,..., qm são irredutíveis em D ,
78
e sabendo que d t = a para algum t ∈ D∗ , temos
Para cada i ∈ {1, 2,..., m} , sabemos que qi é elemento primo (por
ser irredutível) que divide o lado esquerdo da igualdade acima.
Assim, qi deve dividir algum fator do lado direito. Note que, se
qi | u , então qi h = u , com h ∈ D . Segue que qi (h u −1 ) = 1 , donde qi
é inversível. Absurdo, pois qi é irredutível.
Segue que qi | p j para algum j ∈ {1, 2,..., t} . Assim, existe k ∈ D
tal que p j = kqi . Pela irredutibilidade de p j vem que k ∈ ( D) ,
então qi ~ p j . Isso prova que os fatores irredutíveis de d são as-
sociados a algum elemento do conjunto { p1 , p2 ,..., pn } .
Procedendo com d da mesma forma que fizemos com a e b ,
temos
d = w p1w1 p2w2 ... pnwn ,
w p1w1 ... piw−i1−1 piwi − i piw+i1+1 ... pnwn t = u p11 ... pi−i1−1 pi+i1+1 ... pnn .
Observação 1.4.6 O teorema acima pode ser usado como uma al-
ternativa ao Corolário 1.4.2, para garantir a existência de máximo
divisor comum em [ x] , [ x] e [ x] .
79
O Teorema 1.4.3 assegura que existe máximo divisor comum
entre polinômios de [ x] e fornece um procedimento para calcu-
lá-lo, baseado na decomposição em fatores irredutíveis. Vimos na
seção anterior que não se conhecem todos os fatores irredutíveis,
e conseqüentemente não sabemos decompor um polinômio qual-
quer de [ x] em fatores irredutíveis. Isso é uma restrição forte
para o cálculo de máximo divisor comum em [ x] .
f ( x) = (2 x + 1) ( x − 4) 2 ( x 2 + 2 x + 2)3
g ( x) = ( x − 4)3 ( x 2 + 2 x + 2) (3 x3 + 5 x + 10) .
f ( x) = (2 x + 1) ( x − 4) 2 ( x 2 + 2 x + 2)3
g ( x) = ( x − 4)3 ( x 2 + 2 x + 2) (3 x3 + 5 x + 10) .
f ( x) = 5 x 4 + 12 x 3 + 6 x 2 + 6 x + 4
g ( x) = 2 x3 + 7 x 2 + 4 x − 4 .
80
Além disso, f ( x) = 20 x 3 + 36 x 2 + 12 x + 6 e então f (− 2) ≠ 0 .
Segue que −2 é raiz simples de f ( x) . Dividindo f ( x) por x + 2
temos
f ( x) = ( x + 2) (5 x 3 + 2 x 2 + 2 x + 2) .
g ( x) = ( x + 2) 2 (2 x − 1) .
f ( x) = x 4 + 4 x3 + 6 x 2 + 6 x + 4
g ( x) = x3 + 3x 2 − 4 .
f ( x) = ( x 3 + 3 x 2 − 4) ( x + 1) + (3 x 2 + 10 x + 8) .
1 1 14 28
g ( x) = (3 x 2 + 10 x + 8) x − + − x − .
3 9 9 9
14 28 14
Logo, r2 ( x) = − x + = − ( x + 2) , e dividimos r1 ( x) por
r2 ( x) . 9 9 9
81
14 9
r1 ( x) = − ( x + 2) − (3 x + 4) .
9 14
82
Lista de Exercícios
1) Seja J = 2 [ x] + x [ x] = {2 f (x )+ x g (x ); f (x ), g (x )∈ [ x]} ⊆ [ x]
= {2 f ( x) + x g ( x); f ( x) , g ( x) ∈ [ x]} ⊆ [ x] .
c) J = { f ( x) ∈ [ x]; f ( 7) = 0} .
b) f ( x) = x 2 + 1 e g ( x) = x 6 + x3 + x + 1 .
b) f ( x) = ( x 2 + 1) ( x 2 − 1) e g ( x) = ( x + i )3 ( x3 − 1) .
b) f ( x) = x 5 + 5 x 4 + 10 x 3 + 30 x 2 + 10 x + 5 e g ( x) = 2 x 2 + 7 x + 14 .
83
c) f ( x) = x 3 + 4 x 2 + 6 x + 4 e g ( x) = x 6 + 2 x5 + 3 x 2 + 9 x + 6 .
(Note que −2 é raiz)
d) f ( x) = ( x 2 − 2 x + 1) ( x 2 − 5 x + 6) e g ( x) = ( x − 1) ( x 2 + x − 6)
(Note que f ( x) e g ( x) não estão decompostos em fatores irredu-
tíveis).
84
Resumo do Capítulo
Este capítulo foi dedicado ao estudo de polinômios. Os princi-
pais resultados vistos foram:
85
2 Grupos e Subgrupos
2 Grupos e Subgrupos
2.1 Grupos
Nesta seção apresentaremos a definição de grupo, mostrare-
mos algumas propriedades básicas dos grupos e destacaremos
exemplos.
89
Definição 2.1.1 Seja ∗ uma operação no conjunto não vazio G . Dize-
mos que (G, ∗) é um grupo quando:
(i) a ∗ (b ∗ c) = (a ∗ b) ∗ c , ∀a, b, c ∈ G .
(iv) a ∗ b = b ∗ a , ∀a, b ∈ G .
90
Nossa primeira proposição mostrará a unicidade do elemento
neutro, a unicidade do simétrico de cada elemento e propriedades
operacionais com simétrico.
Demonstração:
(a ∗ b) ∗ (b ∗ a ) = a ∗ (b ∗ b ) ∗ a = a ∗ e ∗ a = a ∗ a = e .
(b ∗ a ) ∗ (a ∗ b) = b ∗ (a ∗ a ) ∗ b = b ∗ e ∗ b = b ∗ b = e .
91
Observação 2.1.6. Quando G é um grupo aditivo é comum de-
notar o único elemento neutro de G por 0 , e o único simétrico de
a ∈ G por −a . Neste caso, chamamos −a de oposto de a .
92
Logo, a b ∈ ( A) e a multiplicação é fechada em ( A) .
Como a multiplicação é associativa no anel A , também será asso-
ciativa em ( A) .
É claro que 1 ∈ ( A) e que 1 é elemento neutro para ( ( A), ⋅ ) .
Dado a ∈ ( A) temos, por definição, que existe a −1 ∈ A tal que
a a −1 = a −1a = 1 . Assim, a −1 ∈ ( A) .
Até aqui provamos que ( ( A), ⋅ ) é grupo.
Se ( A, +, ⋅ ) é anel comutativo, então a multiplicação em A é comu-
tativa.
Segue que a multiplicação em ( A) é comutativa, e portanto
( ( A), ⋅ ) é grupo abeliano.
· 1 –1
1 1 –1
–1 –1 1
* e a b c
e e a b c
a a e c b
b b c e a
c c b a e
93
Olhando para a tabela, vemos que e é o elemento neutro de G ,
e que cada elemento é seu próprio simétrico. A comutatividade
também é imediata. A verificação da associatividade envolve vá-
rias combinações de elementos. Faremos algumas e deixaremos
as demais como exercício.
e ∗ ( x ∗ y ) = x ∗ y = (e ∗ x) ∗ y , ∀x, y ∈ {e, a, b, c} ;
( x ∗ e) ∗ y = x ∗ y = x ∗ (e ∗ y ) , ∀x, y ∈ {e, a, b, c} ;
( x ∗ y ) ∗ e = x ∗ y = x ∗ ( y ∗ e) , ∀x, y ∈ {e, a, b, c} .
( g , h) ∆ (eG , eH ) = ( g ∗ eG , h eH ) = ( g , h)
(eG , eH ) ∆ ( g , h) = (eG ∗ g , eH h) = ( g , h) .
94
Para ver que ∆ é associativa, usamos a associatividade de ∗ em
G e de em H .
Sejam ( g1 , h1 ) , ( g 2 , h2 ) , ( g3 , h3 ) ∈ G × H .
( g1 , h1 ) ∆ (( g 2 , h2 ) ∆ ( g3 , h3 )) = ( g1 , h1 ) ∆ ( g 2 ∗ g3 , h2 h3 ) = ( g1 ∗ ( g 2 ∗ g3 ), h1 (h2 h
h2 ) ∆ ( g3 , h3 )) = ( g1 , h1 ) ∆ ( g 2 ∗ g3 , h2 h3 ) = ( g1 ∗ ( g 2 ∗ g3 ), h1 (h2 h3 )) = (( g1 ∗ g 2 ) ∗ g3 , (h1 h2 ) h3 ) = ( g1 ∗ g 2 , h1 h2 ) ∆ ( g
= (( g1 ∗ g 2 ) ∗ g3 , (h1 h2 ) h3 ) = ( g1 ∗ g 2 , h1 h2 ) ∆ ( g3 , h3 ) = (( g1 , h1 ) ∆ ( g 2 , h2 )) ∆ ( g3 , h3 ) .
( g1 , h1 ) ∆ ( g 2 , h2 ) = ( g1 ∗ g 2 , h1 h2 ) = ( g 2 ∗ g1 , h2 h1 ) = ( g 2 , h2 ) ∆ ( g1 , h1 )
Logo, G × H é abeliano.
Reciprocamente, suponha que G × H é abeliano. Para g1 , g 2 ∈ G
e h1 , h2 ∈ H temos:
( g1 , h1 ) ∆ ( g 2 , h2 ) = ( g 2 , h2 ) ∆ ( g1 , h1 ) ⇒ ( g1 ∗ g 2 , h1 h2 ) = ( g 2 ∗ g1 , h2 h1 ) ⇒
( g1 , h1 ) ∆ ( g 2 , h2 ) = ( g 2 , h2 ) ∆ ( g1 , h1 ) ⇒ ( g1 ∗ g 2 , h1 h2 ) = ( g 2 ∗ g1 , h2 h1 ) ⇒
g1 ∗ g 2 = g 2 ∗ g1 e h1 h2 = h2 h1 .
Portanto, G e H são abelianos.
95
Lista de Exercícios
1) Sejam (G, ∗) um grupo e a, b ∈ G . Verifique se a equação
X ∗ a = b tem solução única em G .
96
2.2 Grupos de Permutações, Grupos de
Rotações e Grupos Diedrais
Trataremos aqui de três famílias de grupos: grupos de permu-
tações, grupos de rotações e grupos diedrais. Os grupos de per-
mutações são grupos formados por bijeções de um conjunto nele
mesmo. Os grupos de rotações descrevem as rotações, no plano,
de um polígono regular. Finalmente, os grupos diedrais descre-
vem os movimentos que preservam um polígono regular.
Grupos de Permutações
Seja E um conjunto não vazio, e denote por Bij ( E ) o conjunto
de todas as bijeções de E em E , isto é,
Bij ( E ) = { f : E → E ; f é bijetora} .
Assim, f ( g h) = ( f g ) h .
97
Observação 2.2.1 A notação para o grupo de permutações não é a
mesma em todos os livros. Além de Bij ( E ) , também são comuns
as notações P ( E ) e S ( E ) .
gi :{a1} → F
a1 bi .
Vamos estender gi ao conjunto E para obter bijeções de E em F .
Como E − {a1} e F − {bi } têm k elementos, a hipótese de indução
garante a existência de k ! bijeções entre estes conjuntos. Se f é
uma destas bijeções, então
f : E → F , f ( x) = f ( x), se x ≠ a1
bi , se x = a1
é uma bijeção que estende gi .
Assim, para cada i ∈ {1, 2,..., k + 1} , produzimos k ! bijeções de E
em F .
Desde que temos k + 1 possibilidades para i , obtemos
(k + 1) k ! = (k + 1)! bijeções de E em F .
Observe que estas são todas as bijeções de E em F . De fato, se
h : E → F é bijetora, então h (a1 ) = bi para algum i ∈ {1, 2,..., k + 1} .
Logo, h é uma bijeção que estende gi e, portanto, h é uma das
bijeções construídas acima.
98
Corolário 2.2.1 Se E tem n elementos, então S n tem n ! elementos.
1 2 ... n
Uma notação mais concisa é f = ∈ Sn .
a1 a2 ... an
Note que não se trata de uma matriz 2 × n , mas sim de uma no-
tação onde está subentendido que a bijeção f leva cada elemento
da linha superior, no elemento abaixo dele.
1 2 3 4
f = ∈ S4 .
2 3 1 4
1 2 3 4
Nesta nova notação, o elemento f = ∈ S 4 é escrito
2 3 1 4
f = (1 2 3) ∈ S 4 . Dizemos, neste caso, que f está representado
na notação de ciclo. A palavra “ciclo” terá um sentido preciso no
último capítulo. Por enquanto nos interessa apenas a notação de
ciclos.
1 2 3 4 5
Exemplo 2.2.1 Escrever f = ∈ S5 na notação de
4 5 3 1 2
ciclo.
99
1 2 ... n 1 2 ... n
Sejam f = , g = ∈ S n . Para ob-
a1 a2 ... an b1 b2 ... bn
ter f g basta calcular
1 2 ... n
f g = .
c1 c2 ... cn
1 2 3 4
Exemplo 2.2.2 Calcular f g para f = ,
2 3 1 4
1 2 3 4
g = ∈ S4 .
4 3 2 1
f ( g (1)) = f (4) = 4 ; f ( g (2)) = f (3) = 1 ;
1 2 3 4
Logo f g = .
4 1 3 2
(1 2 3) (14)(23) = (1 4 2) .
(1 2 3) (14)(23) = (1 4 2) .
100
O objetivo dos 3 próximos exemplos é descrever os elementos
S 2 , S3 e S 4 .
1 2 1 2
Exemplo 2.2.4 S 2 = {id , f } onde id = e f = .
1 2 2 1
É fácil calcular a tabela de operações de S 2 .
° id f
id id f
f f id
S 2 = {id , (1 2)} .
1 2 3
Exemplo 2.2.5 S3 = {id , f1 , f 2 , f3 , f 4 , f5 } , onde id = ,
1 2 3
1 2 3 1 2 3 1 2 3
f1 = , f2 = , f3 = ,
2 3 1 3 1 2 2 1 3
1 2 3 1 2 3
f4 = , f5 = .
3 2 1 1 3 2
Vamos ver como construir a tabela de operações de S3 .
É claro que id fi = fi id = f i para i ∈ {1, 2,...,5} .
Vamos calcular f1 f3 e f3 f1 .
1 2 3 1 2 3
Assim, f1 f3 = = f4 e f3 f1 = = f5 .
3 2 1 1 3 2
Seguindo desta maneira, podemos completar a tabela de opera-
ções de S3 .
101
° id f1 f2 f3 f4 f5
id id f1 f2 f3 f4 f5
f1 f1 f2 id f4 f5 f3
f2 f2 id f1 f5 f3 f4
f3 f3 f5 f4 id f2 f1
f4 f4 f3 f5 f1 id f2
f5 f5 f4 f3 f2 f1 id
Na notação de ciclos
Exemplo 2.2.6 S 4 = {id , (1 2 34), (1 2 4 3), (1 3 2 4), (1 3 4 2), (1 4 2 3), (1 4 3 2), (1 2 3),
2), (1 4 2 3), (1 4 3 2), (1 2 3), (1 2 4), (1 3 2), (1 3 4), (1 4 2), (1 4 3), (2 3 4), (2 4 3), (1 2), (1 3), (1 4), (2 3), (2 4), (3 4),
(2 4 3), (1 2), (1 3), (1 4), (2 3), (2 4), (3 4), (1 2)(3 4), (1 3)(2 4), (1 4)(2 3)}.
1 2 3 ... n 1 2 3 ... n
f = e g = .
2 1 3 ... n 2 3 1 ... n
102
Grupos de Rotações
Seja {1, 2,..., n} , n ≥ 3 , o conjunto dos vértices de um polígono
regular com n lados, conforme a figura abaixo.
Figura 2.2.1
2 2 2
Cada uma das rotações de ângulo, 0, ,2 , ..., (n − 1) ,
n n n
no sentido anti-horário, mantém o polígono invariante (move
apenas os vértices). Além disso, se olharmos para S n = Bij ( E ) ,
E = {1, 2,..., n} , vemos que estas rotações podem ser identificadas
com elementos distintos de S n .
1 2 ... n − 1 n 1 2 ... n − 1 n
e= e a= .
2 2 ... n − 1 n 2 3 ... n 1
Usando a notação a j = a a ... a , j -vezes e a convenção
a 0 = id = e , é fácil ver que as potências de a produzem todas as
rotações. De fato,
a 2 é a rotação de ângulo .
2
a n −1 é a rotação de ângulo (n − 1) .
n
a n = a 0 = e é a rotação de ângulo 0 .
103
Note que, dados a i , a j ∈ Rn , vale a i a j = a i + j . Dividindo i + j
por n obtemos q, r ∈ tais que i + j = n q + r , com 0 ≤ r < n . As-
sim, a i a j = a i + j = a n q + r = (a n ) q a r = e q a r = e a r = a r ∈ Rn .
Portanto,
: Rn × Rn → Rn
(a i , a j ) a i + j
é uma operação em Rn .
a i a j = a i + j = a j +i = a j a i .
A associatividade também é simples:
a i (a j a k ) = a i a j + k = a i +( j + k ) = a (i + j )+ k = a i + j a k = (ai a j ) a k .
1 2 3 1 2 3
O elemento neutro é e = , o elemento a = éa
1 2 3 2 3 1
1 2 3
rotação de , e o elemento a 2 = é a rotação de .A
2 1 2
tabela de operações de R3 é
104
° e a a2
e e a a2
a a a2 e
a2 a2 e a
° e a a2 a3
e e a a2 a3
a a a2 a3 e
a2 a2 a3 e a
a3 a3 e a a2
Grupos Diedrais
Considere novamente {1, 2,..., n} , n ≥ 3 , como o conjunto dos
vértices de um polígono regular de n lados. Seja b ∈ S n a reflexão
em relação ao eixo horizontal, conforme a figura abaixo.
Figura 2.2.2
105
1 2 3 ... n − 1 n
Note que b = não é uma rotação, e
1 n n − 1 ... 3 2
1 2 ... n
que b 2 = e = .
1 2 ... n
... n − 1 n 1 2 3 ... n − 1 n
= .
... n 1 n n − 1 n − 2 ... 2 1
Para calcular a n −1b , lembramos que a n −1 = a −1 , pois a n −1a = e . As-
106
1 2 3 ... n − 1 n 1 2 3 ... n − 1 n
a n −1b = a −1b = =
n 1 2 ... n − 2 n − 1 1 n n − 1 ... 3 2
1 2 3 ... n − 1 n
= .
n n − 1 n − 2 n − 2 2 1
Isso prova que b a = a n −1b .
Admita como hipótese de indução que b a k = a n − k b , para k > 1 .
Devemos provar que b a k +1 = a n −( k +1)b .
2º Caso: u = 1 .
Pelo lema anterior, sabemos que b a j = a n − j b . Então:
a i bu a j b v = a i b a j b v = a i a n − j b b v = a n +i − j b v +1 ∈ Dn .
Lembre que b 2 = e e, portanto, qualquer potência de b pode ser
reduzida a e ou b .
107
1º Caso: u = 0 .
Neste caso, a i bu = a i , e seu inverso é a n −1 ∈ Dn .
2º Caso: u = 1 .
Neste caso, a i bu = a i b cujo inverso é o próprio a i b ∈ Dn , pois
a i b a i b = a i a n −i b b = a n b 2 = e e = e .
Portanto, ( Dn , ) é grupo.
Para ver que Dn tem exatamente 2n elementos, mostraremos que
os elementos do conjunto {e, a, a 2 ,..., a n −1 , b, a b, a 2b,..., a n −1b} são
distintos dois a dois.
Sejam i, j ∈ {0,1,..., n − 1} e u , v ∈ {0,1} tais que a i bu = a j b v . Deve-
mos verificar que i = j e u = v .
Multiplicando à esquerda por (a j ) −1 e à direita por (bu ) −1 vem que
(a j ) −1 a i = b v (bu ) −1 = b v bu = bu + v ∈ {e, a,..., a n −1} , pois (a j ) −1 a i é uma
rotação.
Se u ≠ v então bu + v = b ∉ {e, a,..., a n −1} . Absurdo.
Logo, u = v e a igualdade a i bu = a j b v leva a a i = a j , e daí i = j .
Portanto, Dn tem 2n elementos.
Para ver que Dn não é abeliano, basta notar que, de acordo com o
Lema 2.2.1, temos que b a = a n −1b ≠ a b .
a (a 2b) = (aa 2 ) b = a 3b = e b = b .
(a b) (a b) = a (b a ) b = a (a 2b) b = (a a 2 ) (b b) = e .
(a 2b) a 2 = a 2 (b a 2 ) = a 2 (a b) = (a 2 a ) b = b .
108
° e a a2 b ab a2b
e e a a2 b ab a2b
a a a2 e ab a2b b
a2 a2 e a a2b b ab
b b a2b ab e a2 a
ab ab b a2b a e a2
a2b a2b ab b a2 a e
109
Lista de Exercícios
1) Calcule o simétrico de cada elemento de S . 3
1 2 3 4
2) Escreva os elementos de S 4 na notação .
a1 a2 a3 a4
1 2 3 4 1 2 3 4 1 2 3 4
id = , f1 = , f2 = ,
1 2 3 4 1 2 4 3 2 3 4 1
1 2 3 4 1 2 3 4
f3 = e f4 = .
3 4 1 2 4 1 2 3
110
2.3 Subgrupos
A partir de agora usaremos preferencialmente a notação mul-
tiplicativa para grupos. Desta forma, um grupo arbitrário (G, ∗)
será indicado por (G, ⋅ ) . Isso evitará escrever uma ∗ entre os ele-
mentos operados, isto é, a ∗ b será escrito a b . As ressalvas para
grupos aditivos serão feitas quando forem necessárias.
(i) a, b ∈ H ⇒ a b ∈ H
(ii) ( H , ⋅ ) é grupo.
(a) eH = eG .
111
(b) Por (a) podemos escrever eH = eG = e . Assim, aH−1a = a aH−1 = e e
aG−1a = a aG−1 = e , isto é, aH−1 e aG−1 são simétricos de a em G . Pela
unicidade do simétrico, temos aG−1 = aH−1 .
(i) H ≤ G
(ii) a, b ∈ H ⇒ ab −1 ∈ H .
(ii) a, b ∈ H ⇒ a − b ∈ H .
112
Exemplo 2.3.2 Usando a Proposição 2.3.2 vem que:
( ∗ , ⋅ ) ≤ ( ∗ , ⋅ ) ≤ ( ∗ , ⋅ ) ;
113
Proposição 2.3.3 Caracterização dos subgrupos de (, +) .
( H , +) ≤ (, +) ⇔ H = m , para algum m ∈ + .
(a) Z (G ) ≤ G .
(b) Z (G ) = G ⇔ G é abeliano.
114
Seja x ∈ G . Como b ∈ Z (G ) , temos que b x = x b .
Multiplicando esta igualdade à esquerda e à direita por b −1 , vem
que x b −1 = b −1 x .
Multiplicando agora à esquerda por a ∈ Z (G ) , temos
x a b −1 = a b −1 x
Portanto, a b −1 comuta com todo elemento de G , isto é, a b −1 ∈ Z (G ) .
(b) É imediato.
Exemplo 2.3.5
Z () = , Z () = , Z () = e Z () = , como grupos
aditivos.
Z ( Rn ) = Rn .
x = {x m ; m ∈ } .
e, se m = 0
m
Lembre que x = x. x ... x, m vezes, se m > 0
( x. x ... x) −1 , (−m) vezes, se m < 0.
0, se m = 0
m x = x + x + ... + x, m vezes, se m > 0
−( x + x + ... + x), (−m) vezes, se m < 0.
115
Demonstração. Sejam a, b ∈ x . Devemos mostrar que a b −1 ∈ x .
Como a, b ∈ x , existem m, n ∈ tais que a = x m e b = x n .
Desde que b −1 = x − n , temos que a b −1 = x m − n ∈ x .
Logo, x ≤ G .
Para ver que x é abeliano basta notar que para quaisquer
m, n ∈ vale
x n x m = x n+m = x m+n = x m x n .
116
Exemplo 2.3.9 ( Dn , ⋅ ) e ( S n , ⋅ ) , n ≥ 3, não são cíclicos, pois não são
abelianos.
e = {e} , pois e n = e , ∀n ∈ .
a = {e, a, a 2 } , pois a 3 = e .
a 2 = {e, a, a 2 } , pois (a 2 ) 2 = a 4 = a e (a 2 )3 = a 6 = e .
b = {e, b} , pois b 2 = e .
0 = { 0 } , 1 = 6 , 2 = { 0, 2, 4 } ,
117
Reciprocamente, admita que mdc (m, n) = 1 . Pela Identidade de Be-
zout em (Corolário 1.4.1 (b)), existem r , s ∈ tais que r m + s n = 1 .
Tomando classes em n e lembrando que n = 0 , temos
1= r m+ sn = r m+ s0 = r m = r m .
Seja u ∈ n . Como u = u.1 = (ur ) m , vem que u ∈ m .
Exemplo 2.3.14 = ∞, n = n
Rn = n , ∗p = p − 1 , p = primo
Dn = 2n , Sn = n !
118
Proposição 2.3.7 Sejam G um grupo e x ∈ G . São equivalentes:
(i) o ( x) = n < ∞ .
t = n q + l , com 0 ≤ l < n = n .
com .
Se b ≠ 0 , então ∈ X = {r ∈ ∗ ; x r = e} , pois
e = x r = x n + = ( x n ) x = e x = x . Comob < n , isso contradiz a
minimalidade de n .
Portanto,b = 0 e , isto é, n | r .
119
Vimos na Proposição 2.3.7 que, se G é um grupo e x ∈ G tem
ordem n < ∞ , então:
• Se r ∈ ∗ e x r = e , então n | r .
o (1) = 1 , o (−1) = 2 , o (i ) = 4
−1 3
o (−i ) = 4 e o + i = 3.
2 2
120
Lista de Exercícios
1) Verifique se H é subgrupo de G quando:
a) G = (∗ , ⋅ ) e H = {x ∈ ; x > 0} .
c) G = (∗ , ⋅ ) e H = {± 1, ± i} .
d) G = ( − {1}, ∗ ), x ∗ y = x + y − x y e H = 2 .
e) G = (∗ , ⋅ ) e H = {z ∈ ; z = 1} .
f) G = (, + ) e H = {a + b 2; a, b ∈ } .
cos sen
g) G = (GL2 (), ⋅ ) e H = ; ∈ .
− sen cos
h) G = ( n , + ) e
i) G = ( n , + ) e H = {(a1 , a2 ,..., an ) ∈ n ; ai ∈ } .
121
8) Mostre que G x = {a ∈ G ; a x = x a} é subgrupo do grupo G .
122
Resumo do Capítulo
Neste capítulo apresentamos os conceitos e os primeiros resul-
tados da teoria de grupos. Os tópicos abordados foram:
• Grupo cíclico.
123