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EFEITOS DOS PNEUS TRELLEBORG SOBRE PAVIMENTOS ASFÁLTICOS 13

EFEITOS DOS PNEUS TRELLEBORG SOBRE


PAVIMENTOS ASFÁLTICOS
José Leomar Fernandes Júnior
Glauco Tulio Pessa Fabbri
Alexandre Benetti Parreira
Manoel Henrique Alba Sória
Professores do Depto. de Transportes da EESC-USP,
Av. Trabalhador São-carlense, 400, CEP 13566-590, São Carlos, SP

Antônio Carlos Gigante


Técnico do Depto. de Transporte da EESC-USP,
Av. Trabalhador São-carlense, 400, CEP 13566-590, São Carlos, SP

Resumo
Neste trabalho são apresentados estudos visando à quantificação dos efeitos do uso de pneus Trelleborg sobre pavimentos
asfálticos. Esses pneus são muito mais largos do que os convencionais, apresentam grande capacidade de suporte e
permitem trafegar com baixa pressão de enchimento. Para a quantificação dos efeitos desses pneus nos pavimentos são
adotados Fatores de Equivalência de Cargas empírico-mecanísticos, considerando-se apenas formas de deterioração
associadas ao comprometimento estrutural dos pavimentos e resultantes da repetição de solicitações impostas pelos
veículos (trincas por fadiga do revestimento e deformação permanente nas trilhas das rodas). Para as análises estruturais
com o programa computacional ELSYM5 são necessárias as determinações das áreas de contato efetivas entre os pneus
e os pavimentos, uma vez que os pneus Trelleborg apresentam área de contato (footprint) com muitos vazios, o que
inviabiliza a consideração da hipótese simplificadora, válida para os pneus convencionais, de que a pressão de contato
é igual à pressão de enchimento. Conclui-se que os eixos adaptados com pneus Trelleborg, com pressão de enchimento
de até 65 psi nos eixos simples (dianteiro e traseiro) e de até 75 psi no tandem duplo, não provocam redução de
desempenho dos pavimentos superior à causada por eixos equipados com pneus convencionais e mesma carga por eixo.
Palavras-chave: pneus Trelleborg, pavimentos asfálticos, solicitações do tráfego.

Introdução
A possibilidade de utilização de pneus mais largos muito mais largos do que os convencionais, apresentam
do que os convencionais, que permitem trafegar com baixa grande capacidade de suporte e permitem trafegar com
pressão de enchimento, pode propiciar às lavouras de cana- baixa pressão de enchimento, sobre pavimentos asfálticos,
de-açúcar grandes ganhos econômicos, em razão da menor pois parte do trajeto entre a lavoura e a usina de açúcar é
compactação do solo arável e conseqüente aumento da percorrida em rodovias pavimentadas. Foram realizadas
absorção de nutrientes, crescimento da espécie cultivada análises teóricas comparativas entre os efeitos dos pneus
e redução do número de operações de adubação. Trelleborg e os efeitos dos pneus convencionais, consi-
Neste trabalho são apresentados estudos visando à derando-se as cargas aplicadas nas superfícies efetivas
quantificação dos efeitos de pneus Trelleborg, que são de contato pneu–pavimento (footprint, Figuras 1 e 2).

Figura 1 Vista geral da área onde foram determinadas as impressões das áreas de contato pneu–pavimento (footprint).

Minerva, 2(1): 13-24


14 FERNANDES JÚNIOR et al.

Figura 2 Prancha de madeira com impressão das áreas de contato pneu–pavimento.

Os pneus Trelleborg têm sido utilizados em com- • Goodyear G 186, 22-045 – 10.00 R 20 (radial);
posições formadas por um caminhão com eixo simples • 900X20 – diagonal (eixo simples padrão: rodas
(eixo dianteiro) e com um tandem duplo no eixo trator duplas, 80 KN de carga por eixo, 563 KPa de
mais um reboque formado por eixos simples, sendo essas pressão de enchimento dos pneus).
composições conhecidas comumente como “Romeu e Julieta”
Têm sido utilizados os seguintes modelos de pneu
(Figura 3). Os caminhões equipados com pneus Trelleborg
Trelleborg:
têm uma Central de Enchimento de Pneus (CEP) operada
• Eixo simples dianteiro (ESD): “steel grip 159”,
do painel de comando do caminhão, o que permite a alteração
400/65 – 26.5 12PR (Figura 4);
da pressão de enchimento conforme a superfície de rolamento
• Tandem duplo (TD): “twin 423”, 600/50B – 22.5
da estrada (menores pressões na lavoura e maiores pressões
160D (Figura 5);
no trecho pavimentado).
• Eixo simples traseiro (EST): “twin 404”, 700/
Os pneus convencionais, utilizados nas análises
40B – 22.5 162D (Figura 6).
comparativas, são:

"Romeu" "Julieta"

Figura 3 Composição em que geralmente são instalados os pneus Trelleborg.

Figura 4 Vista de pneu Trelleborg no eixo simples dianteiro (40 cm de largura).

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Figura 5 Vista de pneu Trelleborg no tandem duplo (60 cm de largura).

Figura 6 Vista de pneu Trelleborg no eixo simples traseiro (70 cm de largura).

Os Fatores de Equivalência de Cargas empíricos,


Análise dos Efeitos da Forma de
como os do Método CBR, adotado pelo DNIT (Souza,
Distribuição de Carga dos Pneus 1981), e do Método da AASHTO (1986), muito utilizado
Trelleborg no Pavimento no meio rodoviário brasileiro, foram desenvolvidos sob
Fatores de Equivalência de Cargas condições específicas de clima e, principalmente, solicitações
As cargas repetidas aplicadas pelos veículos do tráfego diferentes das que prevalecem atualmente no
rodoviários são a principal causa da deterioração dos Brasil. Apresentam, portanto, limitações inerentes, pois
pavimentos. Para a quantificação dos efeitos cumulativos não permitem a extrapolação de resultados quando são
das solicitações do tráfego tem sido utilizado o conceito consideradas situações distintas daquelas admitidas quando
de equivalência de cargas. de sua elaboração, como é o caso deste estudo, que tem
Em razão da grande variabilidade das condições do por objeto de análise pneus especiais (Trelleborg), cujas
tráfego, seus efeitos têm de ser expressos por um denominador principais características são a maior largura, a menor
comum, os Fatores de Equivalência de Cargas (FEC), que pressão de enchimento e os grandes vazios entre as áreas
permitem a conversão de aplicações de diferentes solicitações de contato (footprint).
em um número equivalente de aplicações da solicitação- Os Fatores de Equivalência de Cargas empírico-
padrão, possibilitando o dimensionamento e a previsão mecanísticos, que resultam da análise estrutural e da
do desempenho de pavimentos para o tráfego misto real. consideração de modelos para previsão do desempenho
Os Fatores de Equivalência de Cargas são importantes, dos pavimentos em função das respostas estruturais, permitem
também, para a alocação de custos, pois permitem a a quantificação dos efeitos de diferentes condições de
comparação de danos causados por diferentes solicitações. carregamento. São os adotados, portanto, para as análises

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efetuadas neste trabalho, que visam determinar os efeitos da razão entre as respostas estruturais correspondentes à
relativos dos pneus Trelleborg e dos pneus convencionais. solicitação em análise (ρi) e à solicitação-padrão (ρ0):
De uma maneira genérica, os Fatores de Equivalência
FECi =  ρ i ρ 
b
de Cargas (FEC) podem ser expressos da seguinte forma:
 (4)
0
FEC = N0 Ni (1)
em que N0 é o número de aplicações admissíveis da pois para o cálculo dos FEC apenas o expoente b tem
solicitação-padrão e Ni é o número de aplicações admissíveis importância, uma vez que o coeficiente a é cancelado
da solicitação i para a qual se quer determinar a equivalência. quando da divisão de N0 por Ni.
A aplicação de carga produz uma mudança no estado Os FEC empírico-mecanísticos são baseados, portanto,
de tensão da estrutura do pavimento, quantificada pelas em programas para cálculo das respostas estruturais dos
respostas estruturais. Pesquisas teóricas e experimentais pavimentos às solicitações individuais do tráfego e em
têm mostrado que algumas respostas estruturais podem modelos para previsão do desempenho dos pavimentos
ser utilizadas para a previsão da evolução de diferentes (equações que relacionam a vida em serviço à magnitude
formas de deterioração e, conseqüentemente, do desempenho da resposta estrutural considerada).
dos pavimentos.
De acordo com o proposto por Miner (1945), o Mecanismos de deterioração dos pavimentos
dano unitário, causado por uma aplicação de carga, Um pavimento pode deteriorar-se segundo diferentes
corresponde ao inverso do número (N) de aplicações de mecanismos: trincas por fadiga do revestimento asfáltico,
carga necessário para levar o pavimento a um estado de deformação permanente nas trilhas das rodas, trincas por
ruptura. Considerando-se válida a Lei de Miner, os Fatores fadiga das camadas tratadas com cimento, trincas por
de Equivalência de Cargas podem ser definidos pela relação contração térmica, deformações ocasionadas por subleito
entre os danos unitários causados pela solicitação em análise compressível ou expansível, perda de adesão entre asfalto
e pela solicitação-padrão, segundo a expressão: e agregados, etc.
Neste trabalho, consideram-se apenas as formas de
FECi = 1 / Ni 1 / N0 = N0 Ni (2) deterioração associadas ao comprometimento estrutural
dos pavimentos e resultantes da repetição de solicitações
em que: impostas pelos veículos, ou seja, as trincas por fadiga
FECi: Fator de Equivalência de Cargas para a solicitação do revestimento asfáltico e a deformação permanente nas
i; trilhas das rodas. São apresentados, também, os modelos
N0: número admissível de aplicações de carga previsto empírico-mecanísticos utilizados para a previsão da evolução
para a solicitação-padrão; dessas formas de deterioração.
Ni: vida em serviço prevista para a solicitação i. Estão excluídos, portanto, mecanismos de deterioração
resultantes do desgaste do revestimento por abrasão ou
Para o desenvolvimento de Fatores de Equivalência
distribuição irregular de material asfáltico, de má dosagem
de Cargas empírico-mecanísticos é preciso conhecer, além
da mistura betuminosa, de compactação inadequada, de
da hipótese de Miner, a equação para previsão de desempenho
expansão ou contração causada por fatores ambientais e
dos pavimentos, que relaciona um determinado nível de
outros não associados às solicitações do tráfego.
deterioração com o número de repetições de uma dada
resposta estrutural. Normalmente, o nível de deterioração
Trincas por fadiga do revestimento asfáltico
adotado é aquele que corresponde ao fim da vida em serviço
A repetição de deformações elásticas (resilientes)
(número de repetições admissível, N). Os modelos empírico-
causadas pelas solicitações do tráfego é responsável pelo
mecanísticos utilizados para previsão da vida em serviço
aparecimento e evolução de trincas por fadiga dos
de um pavimento apresentam a seguinte forma geral:
revestimentos asfálticos, que constituem o principal
N = a × (1 ρ ) mecanismo de deterioração observado nas rodovias brasileiras
b
(3)
(Queiroz, 1981). As trincas por fadiga do revestimento
em que: asfáltico são reconhecidas como um importante mecanismo
N é o número admissível de aplicações de carga; de deterioração por todos os métodos de dimensionamento
a e b são, respectivamente, o coeficiente e o expoente de pavimentos flexíveis, sendo também aquele que causa
associados à forma de deterioração, à resposta estrutural a maior parcela dos custos de manutenção e reabilitação
considerada, ao tipo de ensaio e à estrutura analisada; de rodovias.
ρ é uma resposta estrutural genérica. A deterioração por fadiga do revestimento asfáltico
é influenciada pela magnitude das cargas, incluindo os efeitos
Fica evidenciada a possibilidade de expressar os
da pressão de enchimento dos pneus, do tipo de rodagem,
Fatores de Equivalência de Cargas como uma potência
do tipo de pneu, do tipo de eixo e do sistema de suspensão;

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pelo número de aplicações de carga; e pelas propriedades A estrutura geral dos modelos para previsão da
das misturas asfálticas (tipo de cimento asfáltico, tipo de evolução da deformação permanente nas trilhas das rodas
agregado, compactação, volume de vazios, etc.). O processo em função das solicitações do tráfego é análoga à
de fadiga torna-se mais pronunciado à medida que os materiais desenvolvida por Deacon (1965) para a previsão da evolução
envelhecem e têm suas propriedades alteradas. das trincas por fadiga do revestimento. As várias equações
Segundo Haas et al. (1994), Deacon (1965) foi o que associam o valor-limite da deformação permanente
primeiro a propor que a ruptura de misturas asfálticas por (por exemplo, 20 mm) ao número de repetições admissível
fadiga poderia ser descrita pela relação entre a deformação da solicitação-padrão (N) consideram a resposta estrutural
horizontal de tração na fibra inferior da camada asfáltica deformação vertical de compressão no topo do subleito
(εht,1) e o número (N) de aplicações do eixo-padrão de 80 (εvc,m) segundo a forma geral:
kN. Dentre as equações mais utilizadas estão as propostas
b

N = a ×  1 
por Finn et al. (1977), que consideram dois níveis de trincas
por fadiga (inferior a 10% ou superior a 45%, em área): ε  (7)
 vc , m 

log( N ) ( ≤10%) = 15,947 − 3, 291 × log(ε ht ,1 ) − 0,854 × log( E1 ) (5)


A diferença básica entre as diferentes equações
propostas reside nos valores das constantes a e b, que
log( N ) ( ≥ 45%) = 16,086 − 3, 291 × log(ε ht ,1 ) − 0,854 × log( E1 ) (6) são obtidas de correlações das análises mecanísticas com
em que E1 é expresso em ksi (1.000 psi = 7.032 kPa) e resultados de observações de pavimentos em serviço.
εht,1 × 106. Claessen et al. (1977), com base em retroanálise dos dados
do AASHO Road Test e considerando um valor de Índice
Deformação permanente nas trilhas das rodas de Serventia Final (pt) igual a 2,5, obtiveram a = 6,15 ×
O acúmulo de deformação permanente nas trilhas 1017 e b = 4,00.
das rodas, também conhecido como trilha de roda no meio
rodoviário brasileiro (rutting na literatura de língua inglesa), Equações para cálculo dos FEC e estruturas de
altera o perfil transversal da superfície do pavimento, sendo pavimento
caracterizado por depressões longitudinais sob a trajetória Para a determinação dos Fatores de Equivalência
das rodas, que podem ser acompanhadas por pequena de Cargas, considerando-se os modelos empírico-meca-
elevação lateral. nísticos apresentados para previsão das formas de
A deformação permanente nas trilhas das rodas é deterioração “trincas por fadiga do revestimento asfáltico”
um defeito estrutural que contribui para a perda de serventia, e “acúmulo de deformação permanente nas trilhas de rodas”,
sendo indesejável também do ponto de vista da segurança, têm-se as seguintes equações:
uma vez que pode causar empoçamentos que afetam o
[
FEC(ε ht ,1 ) = (ε ht ,1 )i (ε ) ]
3, 291
controle dos veículos (aquaplanagem). ht ,1 0 (8)
A deformação permanente nas trilhas das rodas
desenvolve-se gradualmente com o aumento do número
[
FEC(ε vc ,m ) = (ε vc ,m )i (ε ) ]
4
de aplicações de carga, que causam a densificação e/ou (9)
vc , m 0
deformação por cisalhamento, em função de inadequação
estrutural, má compactação das camadas e do subleito ou em que:
ainda dosagem inadequada da mistura asfáltica. deformação horizontal de tração na fibra inferior do
Embora seja a forma mais importante de deterioração revestimento, εht,1;
dos pavimentos em muitos países, a deformação permanente deformação vertical de compressão no topo do subleito,
nas trilhas das rodas não tem a mesma importância relativa εvc,m.
para os pavimentos brasileiros, uma vez que ela dificilmente
constitui o fator deflagrador de atividades de manutenção. Programa Computacional ELSYM5
Conforme relatado por Queiroz (1981), as deformações O programa computacional ELSYM5 (Elastic
permanentes medidas durante a Pesquisa sobre o Inter- Layered System), utilizado para o cálculo de tensões,
relacionamento dos Custos Rodoviários (PICR) foram muito deformações e deslocamentos em um sistema de camadas
pequenas, com valor médio de apenas 2,5 mm e valor elástico-lineares, foi desenvolvido na Universidade da
máximo de 7,4 mm (inferior, portanto, ao limite mais Califórnia em Berkeley. Neste trabalho é utilizada a versão
conservador encontrado na literatura internacional). Em do ELSYM5 para microcomputadores, desenvolvida por
outro trabalho, Queiroz (1982) relata que 95% das rodovias Kopperman et al. (1985), sob patrocínio do FHWA (Federal
pavimentadas do Brasil apresentam deformação permanente Highway Administration), e que foi adquirida no McTrans
inferior a 5 mm. Center da Universidade da Flórida, em Gainesville.

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O programa ELSYM5 determina as respostas seguida neste trabalho para avaliação dos efeitos relativos
estruturais em um sistema tridimensional (sistema de dos pneus Trelleborg e convencionais pode ser apresentada
coordenadas X, Y, Z) de camadas elástico-lineares, submetido da seguinte forma: os dados de entrada (informações sobre
a até 10 cargas verticais aplicadas na superfície do sistema as solicitações do tráfego: carga por eixo, número de pneus
(Z = 0). As solicitações são descritas por dois dos três e área de contato pneu–pavimento) são utilizados pelos modelos
itens seguintes: carga, pressão de contato e raio da superfície que calculam as respostas estruturais (tensões, deformações
de carregamento, sendo o terceiro item determinado e deslocamentos), a partir das espessuras (Hi) e propriedades
automaticamente pelo programa. mecânicas (Ei e νi) dos materiais constituintes das camadas
Os dados de entrada do programa são: propriedades do pavimento, com as quais podem ser determinados os FEC
das camadas (espessura, módulo de elasticidade e coeficiente correspondentes a cada solicitação do tráfego.
de Poisson), localização e magnitude das cargas (uniforme- Como os Fatores de Equivalência de Cargas também
mente distribuídas sobre superfícies circulares idênticas, dependem da estrutura dos pavimentos, foram consideradas
perpendiculares às camadas do pavimento) e coordenadas duas estruturas diferentes, representativas das mais utilizadas
para determinação das respostas estruturais (máximo de nas rodovias do Estado de São Paulo e já utilizadas por
100 pontos diferentes). Fernandes Jr. (1995) em estudo sobre os efeitos de pneus
O programa admite que cada camada é formada por extralargos (supersingle): Estrutura A (Figura 7), associada
material homogêneo, isotrópico, sem peso e elástico-linear. a um tráfego de leve a médio, e Estrutura B (Figura 8),
A superfície do sistema é livre de esforços cisalhantes. Cada associada a um tráfego de médio a pesado. Do ponto de
camada tem espessura uniforme e extensão infinita na direção vista estatístico, as diferentes estruturas constituem réplicas,
horizontal. reforçando as conclusões quanto aos efeitos dos fatores
Há continuidade entre as camadas (interfaces de tráfego, uma vez que a variação entre réplicas fornece
perfeitamente atritivas ou rugosas). A camada inferior pode uma medida dos erros que afetam as comparações entre
ser semi-infinita ou suportada por uma base rígida. A seqüência os tratamentos.

H1 = 2,5 cm
Tratamento
E1 = 1.406 MPa superficial
duplo
K0 = 0,65

H2 = 20 cm

E2 = 176 MPa
Brita graduada
k1 = 49 MPa

K0 = 0,60

H3 = 30 cm

E3 =140 MPa
Sub-base arenosa
k1 = 35 MPa

K0 = 0,70

Subleito argiloso

Figura 7 Estrutura A: revestimento delgado com menor módulo de elasticidade (tratamento superficial duplo).

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H1 = 10 cm
Concreto
E1 = 4.219 MPa asfáltico
K0 = 0,65

H2 = 20 cm

E2 = 352 MPa
Brita graduada
k1 = 63 MPa

K0 = 0,60

H3 = 20 cm

E3 =176 MPa
Sub-base arenosa
k1 = 49 MPa

K0 = 0,70

Subleito argiloso

Figura 8 Estrutura B: revestimento espesso com maior módulo de elasticidade (concreto betuminoso usinado a quente).

Resultados
as superfícies de contato obtidas (Figura 2) e, com auxílio
Áreas de contato do programa computacional AutoCAD, determinavam-
Foi necessária a determinação das áreas de contato se as áreas e os centros de gravidade. Os resultados das
efetivas entre os pneus e os pavimentos, uma vez que os determinações da área efetiva de contato pneu–pavimento
pneus Trelleborg apresentam “footprint” com muitos vazios são apresentados nas Tabelas 1, 2 e 3, enquanto os resultados
e, portanto, inviabilizam a consideração da hipótese da pressão de contato são mostrados nas Tabelas 4, 5 e 6.
simplificadora, válida para os pneus convencionais, de Para o eixo-padrão (eixo simples, rodas duplas, carga
que a pressão de contato é igual à pressão de enchimento por eixo de 80 KN e pressão de enchimento igual a 563
dos pneus. KPa), tem-se:
O procedimento adotado no campo foi o seguinte: • área efetiva de contato pneu–pavimento: 780,28
com um macaco hidráulico erguia-se o semi-eixo (Figura cm2;
9), pintava-se o pneu (ou pneus, no caso de rodas duplas – • área teórica: 729,90 cm2;
Figura 10), colocava-se embaixo do pneu uma placa de • pressão de contato pneu–pavimento (média): 73
madeira e, finalmente, abaixava-se o macaco hidráulico psi;
(Figura 11). Posteriormente, no escritório, eram digitalizadas • pressão de enchimento dos pneus: 80 psi.

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Figura 9 Detalhe do levantamento de semi-eixo para pintura do pneu.

Figura 10 Detalhe da pintura do pneu.

Figura 11 Vista geral após abaixamento do pneu sobre a placa de madeira.

Tabela 1 Área efetiva de contato pneu–pavimento (cm2), para diferentes pressões dos pneus (p),
e comparação com área teórica: eixo simples dianteiro.

Condição de Pneu Trelleborg (40 cm) Pneu convencional


carregamento p = 176 KPa p = 317 KPa p = 458 KPa p = 563 KPa p = 704 KPa
Vazio 503,15 417,58 327,40 272,88 325,99
(Teórica) (996,94) (553,85) (383,44) (329,34) (263,48)
Carregado 685,14 497,36 423,98 334,56 323,52
(Teórica) (1367,23) (680,45) (525,86) (391,65) (313,32)

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Tabela 2 Área efetiva de contato pneu–pavimento (cm2), para diferentes pressões dos pneus (p),
e comparação com área teórica: tandem duplo (eixo trator).

Condição de Pneu Trelleborg (60 cm) Pneu convencional


Carregamento p = 197 KPa p = 366 KPa p = 528 KPa p = 563 KPa p = 704 KPa
Vazio 433,08 340,19 306,18 404,19 342,05
(Teórica) (1142,13) (616,24) (427,26) (391,65) (313,32)
Carregado 973,80 679,75 610,68 654,08 718,56
(Teórica) (2314,32) (1280,41) (864,01) (827,81) (665,81)

Tabela 3 Área efetiva de contato pneu–pavimento (cm2), para diferentes pressões dos pneus (p),
e comparação com área teórica: eixo simples traseiro.

Condição de Pneu Trelleborg (70 cm) Pneu convencional


carregamento p = 176 KPa p = 317 KPa p = 458 KPa p = 563 KPa p = 704 KPa
Vazio 449,39 369,91 365,72 – –
(Teórica) (1082,39) (601,33) (416,30) – –
Carregado 1493,86 780,75 756,18 – –
(Teórica) (2848,39) (1582,44) (1095,53) – –

Tabela 4 Pressão de contato média (psi): comparação com a pressão de enchimento dos
pneus para o eixo simples dianteiro.

Condição de Pneu Trelleborg (40 cm) Pneu convencional


carregamento p = 25 psi p = 45 psi p = 65 psi p = 80 psi p = 100 psi
Vazio 50 60 76 97 81
Carregado 50 62 81 94 97

Tabela 5 Pressão de contato média (psi): comparação com a pressão de enchimento dos pneus para o
tandem duplo (eixo trator).

Condição de Pneu Trelleborg (60 cm) Pneu convencional


carregamento p = 28 psi p = 52 psi p = 75 psi p = 80 psi p = 100 psi
Vazio 74 94 105 78 92
Carregado 67 98 106 101 93

Tabela 6 Pressão de contato média (psi): comparação com a pressão de enchimento dos pneus para eixo simples traseiro.

Condição de Pneu Trelleborg (70 cm) Pneu convencional


carregamento p = 25 psi p = 45 psi p = 65 psi p = 80 psi p = 100 psi
Vazio 60 73 74 – –
Carregado 48 91 94 – –

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22 FERNANDES JÚNIOR et al.

Fatores de Equivalência de Carga uma superfície de carregamento, com área total igual à
Para fins de comparação dos pneus Trelleborg com soma das áreas de contato. Para o cálculo dos FEC com a
os pneus convencionais, foram feitas análises estruturais, Estrutura B foram consideradas as superfícies de contato
utilizando-se o programa computacional ELSYM5 e as pneu–pavimento (footprint) determinadas no campo e
estruturas de pavimento apresentadas nas Figuras 7 e 8. apresentadas nas Figuras 12 a 14, sendo cada área
Foram determinadas as respostas estruturais deformação representada, para fins de cálculo das respostas estruturais
horizontal de tração na fibra inferior do revestimento com o programa ELSYM5, por uma superfície circular
asfáltico e deformação vertical de compressão no topo com área equivalente e centro coincidente com o centro
do subleito para todos os eixos de duas composições, de gravidade da figura determinada no campo, considerando-
uma equipada somente com pneus Trelleborg e outra apenas se, ainda, distribuição uniforme da pressão de contato.
com pneus convencionais, sendo consideradas, também, Os resultados obtidos (FEC) encontram-se nas Tabelas
duas condições de carregamento (vazio e carregado) e, 7 e 8, destacando-se que para as condições vazio e carregado
em ambas, pressão de enchimento máxima, para representar a linha superior apresenta os FEC calculados com a resposta
a condição de tráfego em via pavimentada. estrutural deformação horizontal de tração na fibra inferior
Para a Estrutura A, menos suscetível à forma de do revestimento (εht,1), enquanto a linha inferior apresenta
distribuição das cargas por eixo, os efeitos dos pneus os FEC calculados com a resposta estrutural deformação
Trelleborg foram determinados considerando-se apenas vertical de compressão no topo do subleito (εvc,m).

11 10
9
10
9
8 7 8
5
6 7 6
5
3
4
3 4
1 2
1

a) Vazio b) Carregado

Figura 12 Pneu Trelleborg, eixo simples dianteiro (40 cm), pressão = 65 psi.

5
4
4
3
3

2 2
1

a) Vazio b) Carregado

Figura 13 Pneu Trelleborg, tandem duplo (60 cm), pressão = 75 psi.

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EFEITOS DOS PNEUS TRELLEBORG SOBRE PAVIMENTOS ASFÁLTICOS 23

4 6

5
3
4
2
3
1 1

a) Vazio b) Carregado

Figura 14 Pneu Trelleborg, eixo simples traseiro (70 cm), pressão = 65 psi.

Tabela 7 Fatores de equivalência de carga para estrutura de pavimento A.

Pneus Pneus
Condição de Trelleborg convencionais
carregamento
ESD TD EST Σ ESD TD EST Σ
1,33 10,46 0,87 12,66 6,22 17,19 14,23 37,64
Vazio
0,10 0,46 0,13 0,69 0,04 0,21 0,06 0,31
0,99 0,50 0,03 1,52 10,74 3,29 2,08 16,11
Carregado
0,24 7,69 4,79 12,72 0,11 3,68 2,45 6,24

Tabela 8 Fatores de equivalência de carga para estrutura de pavimento B.

Pneus Pneus
Condição de Trelleborg convencionais
carregamento
ESD TD EST Σ ESD TD EST Σ
0,23 1,25 0,38 1,86 0,50 0,73 0,29 1,52
Vazio
0,08 0,28 0,09 0,45 0,07 0,20 0,06 0,33
0,33 2,78 2,14 5,25 0,98 3,31 2,08 6,37
Carregado
0,16 4,68 3,26 8,10 0,17 3,63 2,42 6,22

Análise dos resultados de tráfego de leve a médio, como é o caso dos trechos de
Pode-se observar que a composição equipada com rodovias utilizados pelos caminhões equipados com pneus
pneus Trelleborg resulta em menores Fatores de Equivalência Trelleborg para o transporte de cana-de-açúcar.
de Carga (menor deterioração dos pavimentos) quando
considerados os efeitos no revestimento asfáltico, Conclusão
principalmente na condição crítica (carregado). Diante das análises dos efeitos dos pneus Trelleborg
Por outro lado, quando considerados os efeitos sobre sobre o desempenho de pavimentos apresentadas neste
o subleito, a composição equipada com pneu Trelleborg trabalho, que consideraram análises teóricas com o programa
resulta em maiores Fatores de Equivalência de Carga que computacional ELSYM5, conclui-se que os eixos adaptados
os obtidos com os pneus convencionais, devendo-se destacar, com pneus Trelleborg, com pressão de enchimento de até
novamente, a menor importância relativa do acúmulo de 65 psi nos eixos simples (dianteiro e traseiro) e de até 75
deformação permanente nas trilhas de rodas diante das psi no tandem duplo, não provocam redução de desempenho
trincas por fadiga do revestimento asfáltico, particularmente dos pavimentos superior à causada por eixos equipados
no caso das rodovias brasileiras que apresentam volumes com pneus convencionais e mesma carga por eixo.

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24 FERNANDES JÚNIOR et al.

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