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Estudo da interação pneu-solo deformável de um veículo off-road baseado na


Teoria de Wong-Reece

Conference Paper · October 2020

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Lucas Castro Sousa


Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro
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2020-36-0010

Estudo da interação pneu-solo deformável de um veículo


off-road baseado na Teoria de Wong-Reece

Sousa, L. C.
Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro

Resumo modelo de Wong-Reece [7, 8] é utilizado. O modelo contempla o


estudo do conjunto de rodas-pneus submetidos ao torque de tração
(conjunto trator) e do conjunto sem a presença do torque de tração
O estudo da interação entre pneu e solo deformável aplicado a
(conjunto rebocado). Esforços radiais delimitados por uma área de
veículos off-road tem sido comumente simplificado por modelos
contato permitem o entendimento dos esforços longitudinais. Além
adequados a veículos de passeio, onde, no entanto, a física do
disso, é necessário que se considere que o conjunto se comporte
problema é caracterizada pela diferente interação entre o pneu e a
como um corpo rígido, onde a deformação da banda de rodagem é
superfície de contato. A correta implementação desses modelos
menor do que o afundamento do conjunto no solo deformável [2, 3].
permite um melhor entendimento sobre a mobilidade do veículo.
Neste trabalho é utilizado o modelo semiempírico de Wong-Reece, o
qual permite avaliar os esforços radiais e longitudinais produzidos na Neste trabalho é utilizado um veículo leve off-road com
superfície de contato entre o pneu e o solo deformável. O modelo é características semelhantes ao apresentado na competição Baja
aplicado no estudo de um veículo leve off-road com tração traseira promovido pela SAE. Um veículo com tração traseira e com o eixo
quando trafega sobre dois tipos de solos arenosos: compacto e macio. dianteiro dito rebocado.
Com isso, são analisados os comportamentos do conjunto de rodas
traseiras (tratoras) e dianteiras (rebocadas) no intuito de se verificar Modelagens de Wong-Reece para Pneus Rígidos
os esforços na superfície de contato entre o pneu e o solo deformável em Solos Deformáveis
para posterior trabalho de implementação em um modelo dinâmico
do veículo. Os resultados encontrados no estudo foram satisfatórios e
condizentes com o apresentado na literatura. As modelagens de Wong-Reece assumem que os pneus se
comportam como corpos rígidos quando submetidos ou não ao torque
de transmissão. O comportamento rígido se deve ao fato de que a
Introdução pressão interna do pneu somada à pressão de sua carcaça é maior do
que a pressão suportada pelo solo [2, 3, 9]. Assim, o pneu afunda e a
Os veículos off-road ou fora de estrada são caracterizados deformação no mesmo é mínima.
principalmente pela capacidade de trafegar sobre terrenos
acidentados de tal maneira que veículos convencionais de passeio não Duas modelagens foram desenvolvidas para a verificação do
são capazes de assim fazer com facilidade [1]. O estudo de comportamento do pneu rígido sobre um solo deformável. A primeira
mobilidade e desenvolvimento de veículos off-road por muito tempo modelagem trata do comportamento do conjunto submetido ao torque
foi baseado em observações empíricas [2]. No entanto, com a transmitido pelo sistema de transmissão e, devido à diferença de
facilidade de atolamento de veículos militares no final da Segunda fenômeno físico na região de contato entre o pneu e o solo, uma
Guerra e também, devido à corrida espacial em que era necessário um segunda modelagem adequada foi desenvolvida para o conjunto dado
veículo para o tráfego em solo lunar, foi dada maior ênfase ao estudo como rebocado ou arrastado.
de desenvolvimento destes tipos de veículos, denominado
Terramecânica, que pode ser dividido em: interação veículo-solo e
efeitos da passagem de máquinas de trabalho no solo [2, 3].
Modelo de Pneu Rígido Submetido à Tração

A trafegabilidade de veículos off-road é influenciada pela interação Veículos off-road podem ter sua mobilidade comprometida caso sua
entre o pneu e o solo, pois um solo deformável tende a reduzir a capacidade trativa em solo deformável não seja capaz de movê-lo
tração desenvolvida refletindo em esforços produzidos na superfície adiante. Isso se deve ao fato de que o fenômeno de deslizamento na
de contato [4, 5, 6]. Dessa forma, modelos físico-matemáticos são região de contato, além do afundamento no solo influenciam na força
implementados como forma de previsão da interação e longitudinal resultante [10, 11]. Essa força pode ter seu valor
consequentemente da mobilidade do veículo. Modelos físico- reduzido caso as resistências decorrentes do afundamento no solo
matemáticos tem se tornado importantes na indústria automotiva deformável sejam elevadas.
devido à redução de custos e tempos de operação, fazendo com que
protótipos físicos sejam utilizados apenas como uma forma de Estudiosos da terramecânica geralmente formulam suas teorias e
validação final dos testes de modelos computacionais previamente modelos baseados na equação de tensão normal de Bekker [7], um
realizados. dos pioneiros no estudo de trafegabilidade de veículos sobre solos
deformáveis.
No estudo de interação pneu-solo, três modelos principais são
utilizados: empíricos, semiempíricos e analíticos [3]. Neste trabalho o
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A modelagem de Wong-Reece [7, 8] integra a distribuição de tensões No entanto, a equação de Bekker é utilizada apenas para aplicação de
normais e cisalhantes na região de contato entre o pneu e o solo (ver carga vertical. Assim, Wong-Reece realizam a aproximação da tensão
figura 1), com o objetivo de se determinar, a partir de suas normal (𝜎) ao longo de toda a região de contato pela equação 3.
componentes horizontais, os esforços longitudinais resultantes, que
refletem na previsão da mobilidade do veículo. 𝜎 (𝜃), 𝑝𝑎𝑟𝑎 𝜃𝑚 ≤ 𝜃 < 𝜃𝑒
𝜎(𝜃) = { 1 } (3)
𝜎2 (𝜃), 𝑝𝑎𝑟𝑎 𝜃𝑠 ≤ 𝜃 < 𝜃𝑚

onde,

𝑟 𝑛
𝜎1 (𝜃) = (𝑘1 + 𝑏𝑘2 ) ( ) (cos(𝜃) − cos(𝜃𝑒 ))𝑛 (4)
𝑏

𝑟 𝑛
𝜎2 (𝜃) = (𝑘1 + 𝑏𝑘2 ) ( ) …
𝑏

𝑛
𝜃 − 𝜃𝑠
… [cos (𝜃𝑒 − ( ) (𝜃𝑒 − 𝜃𝑚 )) − cos(𝜃𝑒 )] (5)
𝜃𝑚 − 𝜃𝑠

É necessário que se tenha uma correta estimativa para o ângulo onde


ocorre a máxima tensão (𝜃𝑚 ), visto que este ângulo é influenciado
pelo deslizamento longitudinal [3]. Segundo [7], o ângulo 𝜃𝑚 pode
ser determinado pela equação 6, a qual requer o conhecimento de
dois parâmetros empíricos do solo 𝑐1 e 𝑐2 , além do ângulo de entrada
do contato (𝜃𝑒 ) e o deslizamento longitudinal (𝑖). Estudos anteriores
Figura 1. Diagrama de corpo livre do pneu submetido à tração. Fonte:
Adaptado de [9].
em areia comprovam a utilização deste equacionamento como forma
de estimativa para a determinação do ângulo 𝜃𝑚 em pneus sujeitos à
tração [3].
Para a aplicação adequada da modelagem, é necessário que se façam
algumas considerações [9]:
𝜃𝑚 (𝜃) = (𝑐1 + 𝑐2 𝑖)𝜃𝑒 (6)
1. O solo empregado é modelado segundo o critério de falha
plástica de Mohr-Coulomb, fazendo uso do equilíbrio quase-estático
Para a estimativa do cisalhamento (𝜏) na interface pneu-solo é
de uma placa de seção retangular;
empregada a equação 7, introduzida por [12, 13] que leva em
consideração a tensão normal ao longo da superfície de contato bem
2. Dados do terreno e características dos pneus são
como o critério de falha plástica de Mohr-Coulomb:
considerados durante todo o tempo de simulação, constantes;

3. O solo é considerado isotrópico e homogêneo; 𝜏(𝜃) = (𝑐 + 𝜎(𝜃)𝑡𝑎𝑛(𝜑))(1 − 𝑒 −𝑗 ⁄𝐾 ) (7)

Na figura 1, duas regiões principais podem ser verificadas. Regiões Onde, 𝑐 é a coesão do solo, 𝜎 é a tensão normal ao longo da
de distribuição de tensões (cisalhante e normal) na parte frontal e superfície de contato, 𝜑 é o ângulo de resistência ao cisalhamento, 𝑗 é
traseira do pneu. Ambas as regiões são limitadas por dois ângulos o deslocamento por cisalhamento e 𝐾 é o módulo de deformação por
principais: ângulo de entrada do contato (𝜃𝑒 ) e o ângulo de saída do cisalhamento.
contato (𝜃𝑠 ). Para o ângulo de saída são comumente utilizados
valores pequenos, mas neste trabalho, assim como utilizado pelo
O deslocamento por cisalhamento pode ser determinado pela equação
trabalho de [7], considera-se o ângulo de saída igual a zero (𝜃𝑠 = 0).
8:
Nota-se ainda que tensões normais e cisalhantes apresentam seu valor
de pico máximo no ângulo (𝜃𝑚 ).
𝑗(𝜃) = 𝑟[(𝜃𝑒 − 𝜃) − (1 − 𝑖)(𝑠𝑒𝑛(𝜃𝑒 ) − 𝑠𝑒𝑛(𝜃)] (8)
A modelagem de Wong-Reece [7, 8] tem como base uma
modificação da equação da tensão normal (𝜎) de Bekker (equação 1) Assim, seguindo as condições de equilíbrio estático, podem ser
onde 𝑘1 e 𝑘2 são parâmetros de afundamento do solo, 𝑛 relaciona o determinadas as distribuições de tensões normais e cisalhantes, os
afundamento com a largura do pneu e 𝑧 é o afundamento no solo. Na esforços verticais e longitudinais, além do torque de reação do solo
equação 2, 𝑟 é o raio do pneu. na superfície do pneu submetido ao torque de transmissão:

𝑘1 𝜃𝑒 𝜃𝑒
𝜎 = ( + 𝑘2 ) 𝑧 𝑛 (1)
𝑏 𝑊 = 𝑟𝑏 (∫ 𝜎(𝜃)𝑐𝑜𝑠(𝜃)𝑑𝜃 + ∫ 𝜏(𝜃)𝑠𝑒𝑛(𝜃)𝑑𝜃 ) (9)
𝜃𝑠 𝜃𝑠

𝑧 = 𝑟(1 − cos(𝜃𝑒 )) (2)

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𝜃𝑒 𝜃𝑒 de fenômeno, outro equacionamento é utilizado para a determinação
𝐹𝑥 = 𝑟𝑏 (∫ 𝜏(𝜃)𝑐𝑜𝑠(𝜃)𝑑𝜃 − ∫ 𝜎(𝜃)𝑠𝑒𝑛(𝜃)𝑑𝜃 ) (10) deste ângulo (equação 12), sendo função do deslizamento
𝜃𝑠 𝜃𝑠 longitudinal (𝑖𝑠 ) e do ângulo de resistência ao cisalhamento (𝜑). O
deslizamento longitudinal considerado para as rodas rebocadas,
𝜃𝑒 apresenta valor negativo. Isso se deve ao fato de a modelagem de
𝑇 = 𝑟 2 𝑏 (∫ 𝜏(𝜃)𝑑𝜃 ) (11) Wong-Reece considerar que o fenômeno de rodas rebocadas, as quais
𝜃𝑠 tendem a ser empurradas, ser semelhante ao de frenagem,
denominando este deslizamento longitudinal de skid. Já no conjunto
Onde, 𝑊 é a força vertical que equilibra a carga sobre o pneu, 𝐹𝑥 é a trator, o deslizamento longitudinal é denominado slip. A literatura de
força longitudinal resultante dada pela diferença entre a força de [2, 3] explica de forma mais aprofundada a essência destas
propulsão (𝐹) e a resistência à compactação (𝑅𝑐 ) e, 𝑇 é o torque de considerações.
reação do solo.
O equacionamento de [12, 13] é aplicado nas regiões dianteira e
traseira de contato (equações 13 e 14).
Modelo de Pneu Rígido sem Tração
𝑐𝑜𝑠 (𝜋⁄4 − 𝜑⁄2) 𝜋 𝜑
As rodas sem tração são ditas rebocadas ou arrastadas e estão 𝜃𝑚 (𝜃) = 𝑎𝑟𝑐𝑐𝑜𝑠 ( )− + (12)
presentes em veículos que não possuem tração nas quatro rodas como 1 + |𝑖𝑠 | 4 2
o veículo em estudo que possui somente tração traseira. Assim, as
rodas traseiras do veículo comportam-se como apresentado
(𝑠𝑒𝑛(𝜃𝑒 ) − 𝑠𝑒𝑛(𝜃𝑚 ))
anteriormente e, as dianteiras comportam-se de maneira a ser descrita 𝑗1 (𝜃) = 𝑟 {(𝜃𝑒 − 𝜃) [(1 + |𝑖𝑠 |) ]
a seguir. Abaixo do conjunto dito rebocado, a distribuição de tensão (𝜃𝑒 − 𝜃𝑚 )
(13)
normal ao longo da superfície de contato é similar ao apresentado no
− (1 + |𝑖𝑠 |)(𝑠𝑒𝑛(𝜃𝑒 ) − 𝑠𝑒𝑛(𝜃𝑚 ))}
conjunto trator, porém, devido à ausência de torque, o conjunto tende
primeiramente a ser arrastado antes do movimento de rotação. Dessa
forma, o solo a frente do contato, tende a ser empurrado para cima,
produzindo cisalhamento positivo e na posterior do contato, o solo 𝑗2 (𝜃) = −𝑟[(𝜃𝑚 − 𝜃) − (1 + |𝑖𝑠 |)(𝑠𝑒𝑛(𝜃𝑒 ) − 𝑠𝑒𝑛(𝜃)] (14)
tende a se mover para frente, produzindo cisalhamento negativo [8].
Sendo assim, a distribuição de tensão de cisalhamento na região de
A figura 2 apresenta o diagrama de corpo livre do conjunto rebocado. contato pode ser definida:
Nota-se a semelhança ao apresentado para o conjunto trator, porém
devido a mudança de fenômeno físico, tem-se duas regiões distintas
de cisalhamento, uma positiva e uma negativa. 𝜏 (𝜃), 𝑝𝑎𝑟𝑎 𝜃𝑚 ≤ 𝜃 < 𝜃𝑒
𝜏(𝜃) = { 1 } (15)
𝜏2 (𝜃), 𝑝𝑎𝑟𝑎 𝜃𝑠 ≤ 𝜃 < 𝜃𝑚

𝜏1 (𝜃) = (𝑐 + 𝜎(𝜃)𝑡𝑎𝑛(𝜑))(1 − 𝑒 −𝑗1 ⁄𝐾 ) (16)

𝜏2 (𝜃) = (𝑐 + 𝜎(𝜃)𝑡𝑎𝑛(𝜑))(1 − 𝑒 −𝑗2⁄𝐾 ) (17)

Ao serem determinadas as distribuições de tensões, os esforços


longitudinais e verticais podem ser determinados, bem como o torque
de reação do solo, como verificado anteriormente para o conjunto
trator, seguindo as condições de equilíbrio estático:

𝜃𝑒 𝜃𝑒
𝑊 = 𝑟𝑏 (∫ 𝜎(𝜃)𝑐𝑜𝑠(𝜃)𝑑𝜃 + ∫ 𝜏1 (𝜃)𝑠𝑒𝑛(𝜃)𝑑𝜃
𝜃𝑠 𝜃𝑚
𝜃𝑚 (18)
−∫ 𝜏2 (𝜃)𝑠𝑒𝑛(𝜃)𝑑𝜃 )
𝜃𝑠

𝜃𝑒
𝐹𝑥 = 𝑟𝑏 (∫ 𝜎(𝜃)𝑐𝑜𝑠(𝜃)𝑑𝜃
𝜃𝑠
Figura 2. Diagrama de corpo livre do pneu submetido à tração. Fonte: 𝜃𝑒
Adaptado de [9]. − (∫ 𝜏1 (𝜃)𝑐𝑜𝑠(𝜃)𝑑𝜃 (19)
𝜃𝑚
Devido ao fato de a tensão normal ser idêntica ao apresentado para o 𝜃𝑚
conjunto trator, as equações 1-5 podem ser utilizadas para a −∫ 𝜏2 (𝜃)𝑐𝑜𝑠(𝜃)𝑑𝜃 ))
determinação de seu comportamento na região de contato do 𝜃𝑠
conjunto rebocado.

O ângulo onde ocorre a máxima tensão normal, também é o mesmo


onde ocorre a mudança de sentidos do cisalhamento. Com a mudança

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𝜃𝑒 𝜃𝑚
𝑇 = 𝑟 2 𝑏 (∫ 𝜏1 (𝜃)𝑑𝜃 − ∫ 𝜏2 (𝜃)𝑑𝜃 ) (20)
𝜃𝑚 𝜃𝑠

Onde, 𝑊 é a força vertical que equilibra a carga sobre o pneu, 𝐹𝑥 é a


força longitudinal resultante dada pela diferença entre as
componentes relativas à resistência à compactação (𝑅𝑐 ) e a força de
reboque (𝐹𝑟𝑏 ); 𝑇 é o torque de reação do solo.

Resultados
No trabalho são utilizadas três configurações diferentes de veículos.
Mantendo as configurações de distribuição de peso e propriedades do
pneu, é variada a massa total do veículo (tabela 1). A tabela 2
apresenta os dados relativos aos solos de areia compacta e areia
macia com parâmetros obtidos em [7, 8]. Além disso, para a
resolução das integrais fez-se uso do método de Runge-Kutta de 4ª
ordem com passo fixo de 0,001.

Tabela 1. Parâmetros do veículo adotados. Figura 3. Forças longitudinais (força de propulsão e resistência à
compactação) do conjunto trator em areia macia.
Veículo 1: 170 kg Veículo 2: 200 kg Veículo 3: 230 kg
Observando a figura 3, nota-se o comportamento das forças
Distribuição de peso eixo traseiro-dianteiro 60-40
longitudinais de força de propulsão e resistência à compactação.
Raio do pneu 0,267 m Variando-se a massa do veículo, aumenta-se a área de contato entre o
Largura do pneu 0,178 m pneu e o solo, fazendo com que maior seja a força de propulsão
produzida e maior o afundamento no solo, o que reflete em uma
maior resistência à compactação. Além disso, verifica-se o fenômeno
conhecido como deslizamento-afundamento, onde com o aumento do
Tabela 2. Parâmetros dos solos deformáveis. Fonte: [7, 8]
deslizamento longitudinal, o conjunto trator tende a afundar cada vez
mais no solo aumentando assim a resistência ao movimento (figura
Parâmetros Solo 1: compacto Solo 2: macio
5). Este fenômeno pôde ser verificado também nos trabalhos de [4, 7,
n 0,4706 1,1504 9, 14].
𝑘𝑐 137895,14 N/𝑚2 0 N/𝑚2
𝑘𝜑 678849,65 N/𝑚3 543079 N/𝑚3 Com o aumento da resistência ao movimento, é esperado que a força
2 2 longitudinal resultante (figura 4) dada pela diferença entre a força de
c 827,37 N/𝑚 689,47 N/𝑚
propulsão e a força de resistência ao rolamento, diminua com o
φ 33,3º 31º aumento do deslizamento longitudinal. Além disso, nota-se que não
K 0,0381 m 0,0381 m há grande discrepância entre as forças longitudinais resultantes nas
três configurações de veículos.
𝑐𝛼 0,43 0,32
𝑐𝛽 0,18 0,32

Nas figuras de 3 a 6 são apresentados os resultados do conjunto trator


em solo de areia macia. O solo de areia macia é caracterizado pelo
menor valor de coesão se comparado ao solo compacto. Dessa forma,
ele tende a ser mais deformável, provocando um maior afundamento
no solo.

Figura 4. Forças longitudinal resultante do conjunto trator em areia macia.

A figura 5 apresenta o afundamento no solo do conjunto trator em


areia macia. Nota-se um alto afundamento em areia macia, o que
pode representar a não trafegabilidade do veículo. Quanto maior a

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carga do veículo sobre o solo, maior o afundamento, o que é esperado
pela física do problema.

Figura 7. Forças longitudinais (força de propulsão e resistência à


compactação) do conjunto trator em areia compacta.

A figura 7 apresenta as forças longitudinais de força de propulsão e


Figura 5. Afundamento no solo do conjunto trator em areia macia. resistência à compactação do conjunto em areia compacta. Verifica-
se que menores valores de resistência à compactação são encontrados
Mesmo para um veículo considerado leve (170 kg) o afundamento de se comparado ao solo de areia macia, o que resulta em maiores
6 cm pode impossibilitar o tráfego do veículo em estudo. Para isso, é valores de força longitudinal resultante (figura 8). De maneira
necessário um estudo mais completo que leve em consideração não semelhante ao apresentado em areia macia, nota-se o fenômeno do
somente o estudo dos pneus, mas também a dinâmica longitudinal do deslizamento-afundamento. Apesar do aumento do deslizamento
veículo por completo. O estudo utilizando as modelagens de Wong- longitudinal e consequentemente da resistência à compactação, a
Reece servem como um estudo prévio de trafegabilidade. força de propulsão continua em alta magnitude mantendo assim a
força longitudinal resultante sempre com valor elevado.
Por fim, a figura 6 apresenta o torque de reação do solo, ou seja,
como o solo reage ao torque desenvolvido pelo conjunto trator.
Verifica-se que com o aumento da carga, maiores são os valores de
torque de reação, o que pode ser explicado pela grande moção de
terreno deslocado devido a esse acréscimo de carga sobre o solo
deformável.

Figura 8. Força longitudinal resultante do conjunto trator em areia compacta.

A figura 9 apresenta o afundamento do conjunto trator em areia


compacta. Se comparado à figura 5 que diz respeito ao afundamento
em solo de areia macia, verifica-se que em areia compacta tem-se um
menor afundamento. Isso se deve à natureza em si do solo de areia
compacta que resulta em um menor afundamento mesmo para o
Figura 6. Torque de reação do solo do conjunto trator em areia macia. veículo com mais massa (230 kg).

Nas figuras de 7 a 10 são apresentados os resultados do conjunto


trator em solo de areia compacta. O solo de areia compacta é mais
rígido que o de areia macia aqui considerado sendo caracterizado
pelo maior valor de coesão.

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Figura 9. Afundamento no solo do conjunto trator em areia compacta. Figura 11. Forças longitudinais (força de reboque e resistência à compactação)
do conjunto rebocado em areia macia.
Por fim, a figura 10 apresenta a reação do solo ao torque
desenvolvido pelo conjunto trator. Nota-se que de forma semelhante Verifica-se que quanto maior a carga sobre o eixo ou maior a carga
à areia macia com o aumento da carga vertical, maiores são os do veículo, maior é o valor da resistência à compactação, o que é
valores de torque de reação. Apesar disso, em areia compacta devido esperado pela grande moção de terreno. De forma semelhante
a menor moção de terreno, tem-se menores valores correspondentes acontece com a força de reboque, onde, no entanto, uma menor
de torque de reação. variação na magnitude desta força é verificada.

Figura 10. Torque de reação do solo do conjunto trator em areia macia. Figura 12. Força longitudinal resultante do conjunto rebocado em areia macia.

Nas figuras de 11 a 14 são apresentados os resultados do conjunto A figura 12 apresenta a força longitudinal resultante dada pela
rebocado em areia macia. Diferentemente ao apresentado para o diferença entre as componentes longitudinais de tensão normal e
conjunto trator, devido à modelagem e orientação das componentes tensão cisalhante (força de resistência à compactação e força de
das tensões normal e cisalhante na interface pneu-solo deformável, reboque). De maneira semelhante ao apresentado para o conjunto
tem-se que a resistência à compactação (advinda da componente de rebocado, quanto maior a carga vertical sobre o solo, maior é a
tensão normal) apresenta valores positivos no gráfico e a força de resultante da força longitudinal.
reboque (advinda de componentes de tensão cisalhante) apresenta
valores positivos e negativos, devendo-se ao fato de apresentar duas
regiões de cisalhamento, uma negativa localizada na região traseira
da região de contato, e uma positiva, na região frontal. Nota-se ainda
os valores negativos de deslizamento longitudinal (skid) para a
abordagem do fenômeno de rodas rebocadas.

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conjunto trator e demonstra que a natureza física do problema está
presente.

Mesmo para pequenos valores de deslizamento longitudinal, o


aumento de massa do veículo não influencia na magnitude da força
de reboque, situação semelhante a que ocorre em areia macia.

Figura 13. Ângulo de entrada no solo do conjunto rebocado em areia macia.

O alto afundamento no solo é totalmente vinculado a um alto ângulo


de entrada bem como a uma alta carga vertical sobre o solo. Além
disso, verifica-se na figura 13 o fenômeno de deslizamento-
afundamento, visto que quanto maior o deslizamento longitudinal,
maior é o ângulo de entrada. De maneira semelhante ao apresentado
para o conjunto trator em areia macia, espera-se que o veículo não Figura 15. Forças longitudinais (força de reboque e resistência à compactação)
consiga trafegar devido ao alto afundamento no solo. do conjunto rebocado em areia compacta.

Figura 14. Torque de reação do solo do conjunto rebocado em areia macia. Figura 16. Força longitudinal resultante do conjunto rebocado em areia
compacta.
Na figura 14 é apresentado o resultado para o torque de reação do
solo. Verifica-se que os valores de torque tendem a ser negativos, O ângulo de entrada (figura 17) é reduzido devido ao solo compacto
devendo-se ao fato de que o torque de reação é o único torque que ser mais coeso, impedindo assim o afundamento no solo, como
atua no conjunto rebocado. Dessa forma, o valor de torque apresenta verificado nos resultados para o conjunto trator. E ainda,
valor negativo, compatível com a modelagem adotada. Resultados diferentemente do ocorrido em areia macia, mesmo com o aumento
semelhantes podem ser verificados no trabalho de [8], onde o estudo da massa do veículo, em alto deslizamento longitudinal, não se tem
de um veículo de grande porte com conjunto rebocado é apresentado. diferença notável entre os valores do ângulo de entrada.

Analisando os resultados das forças longitudinais no conjunto


rebocado atuando em areia compacta (figuras 15 e 16), nota-se
semelhança aos resultados do conjunto em areia macia (figuras 11 e
12). No entanto, é perceptível que quanto menos coeso é o solo,
maior é a resistência ao rolamento dada pela resistência à
compactação. Este fenômeno é semelhante ao apresentado para o

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capacidade ou não de um veículo trafegar em determinado solo
deformável.

Assim, um veículo off-road baseado na competição Baja SAE Brasil


foi utilizado para o estudo. Foi utilizado o modelo de pneu 21x7R10
o qual deve trafegar sobre dois tipos distintos de solos arenosos cujos
dados foram obtidos experimentais de [7].

Foram apresentados como resultados os esforços longitudinais de


força de tração, força de reboque e resistência à compactação, além
da força longitudinal resultante na interface de contato e, também, do
torque de reação para o conjunto dito trator e o conjunto dito
rebocado.

Os resultados foram considerados satisfatórios e condizentes com o


fenômeno físico em estudo. Estudos como os de [4-9, 14] validam os
resultados qualitativamente, apresentando resultados condizentes com
o apresentado neste trabalho.

Referências
Figura 17. Ângulo de entrada no solo do conjunto rebocado em areia
compacta.
1. Taghavifar, H. and Mardani, A. Off-road vehicle dynamics:
analysis, modelling and optimization. Springer, 2006.
Por fim, a figura 18 apresenta os resultados do torque de reação em 2. Wong, J. Y., “Theory of ground vehicles,” John Wiley & Sons,
areia compacta. Devido ao único torque no conjunto rebocado ser 3ª ed, 2001.
advindo da força longitudinal resultante na interface pneu-solo, é 3. Wong, J. Y., “Terramechanics and off-road vehicle engineering:
esperado que no solo compacto, o qual é mais coeso que o solo de terrain behavior, off-road vehicle performance and design,”
areia macia, o veículo trafegue mais facilmente. Assim, a força Butterworh-Heinemann, 2ª ed, 2010.
longitudinal resultante neste conjunto deve ser maior, de modo a 4. Senatore, C. “Prediction of mobility, handling, and tractive
produzir um maior torque no conjunto. Assim, como verificado nas efficiency of wheeled off-road vehicles,” Tese para obtenção de
figuras 14 e 18, a força longitudinal resultante em areia compacta grau de Doutora em engenharia mecânica, Faculty of the
apresenta maior magnitude que a apresentada em areia macia, Virginia Polytechnic Institute and State University, 2010.
refletindo portando em um maior valor de torque de reação neste tipo 5. Senatore, C. and Sandu, C., “Torque distribution influence on
de solo e, por conseguinte, uma maior facilidade de mobilidade em tractive force efficiency and mobility of off-road wheeled
tal terreno. vehicles,” Journal of Terramechanics, 48(5):372-383, 2011, doi:
10.1016/j.jterra.2011.06.008.
6. Senatore, C. and Sandu, C., “Off-road tire modeling and multi-
passing effect for vehicle dynamics simulation,” Journal of
Terramechanics, 48(4):265-276, 2011, doi:
10.1016/j.jterra.2011.06.006.
7. Wong, J. Y. and Reece, A. R., “Prediction of rigid wheel
performance based on the analysis of soil-wheel stresses, part I.
performance of driven rigid wheels,” Journal of Terramechanics,
4(1):81-98, 19, doi: https://doi.org/10.1016/0022-
4898(67)90105-X
8. Wong, J. Y. and Reece, A. R., “Prediction of rigid wheel
performance based on the analysis of soil-wheel stresses, part II.
performance of towed rigid wheels,” Journal of Terramechanics,
4(2):7-25, 19, doi: https://doi.org/10.1016/0022-4898(67)90047-
X
9. Gomes, M. S., “Contribuição ao controle de tração aplicado a
veículos terrestres em solos deformáveis,” Tese para obtenção
de grau de Doutor em engenharia mecânica, UFRJ, 2017.
10. Lopes, E. D. R., “Análise do comportamento dinâmico de um
veículo leve 4 x 4 com sistema de controle de tração,”
Dissertação para obtenção de grau de Mestre em engenharia
mecânica, IME, 2015.
Figura 18. Torque de reação do solo do conjunto rebocado em areia compacta. 11. Bekker, M. G., “Theory of Ground Locomotion,” University of
Michigan Press, 1956.
Conclusão 12. Janosi, J. and Hanamoto, B. “Analytical determination of
drawbar pull as a function of slip for tracked vehicles in
Este trabalho apresenta a aplicação dos modelos de Wong-Reece para deformable terrains,” International Conference on the mechanics
estimativa dos esforços presentes na região de contato entre o pneu of soil-vehicle systems, Edizioni Minerva Tecnica, 1961.
rígido e o solo deformável. Assim, pode-se avaliar inicialmente a 13. Janosi, J. and Hanamoto, B. “Analytical determination of
drawbar pull as a function of slip for tracked vehicles in

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deformable terrains,” International Conference on the mechanics
of soil-vehicle systems, Edizioni Minerva Tecnica, 1961.
14. Chan, B. J., “Development of an off-road capable tire model for
vehicle dynamics simulation,” Tese para obtenção de grau de
Doutor em engenharia mecânica, Polytechnic Institute and State
University, 2008.

Informação para Contato


Eng. Lucas Castro Sousa – lucascastro.mec@gmail.com

Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro – PUC-Rio

R. Marquês de São Vicente, 225 - Gávea, Rio de Janeiro - RJ,

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