A infância de Mozart foi indispensável para o seu crescimento como músico.
Foi graças à família que o mesmo se tornou o grande compositor que conhecemos hoje. O pai de Wolfgang, Johann Georg Leopold Mozart, nasceu de uma família de artesãos em Augsburgo, no sul da Alemanha, em novembro de 1719. Mudou-se para Salzburgo com 17 anos, com o intuito de estudar direito e filosofia na Universidade “Beneditina”, hoje Universidade de Salzburgo. Acabou por ser expulso da mesma por falta de assiduidade e comportamento. Depois de falhar nestes estudos decide seguir uma carreira musical. Começa por trabalhar como camareiro e músico para o conde Johann Baptist Thurn- Valsassina und Taxis e, em 1743, torna-se violinista na corte do Príncipe- Arcebispo de Salzburgo. Um dos seus trabalhos mais conhecidos é o tratado que expõe o seu método de ensino de violino, o Versuch einer gründlichen Violinschule, coincidentemente publicado em 1756, o ano do nascimento de Wolfgang. Este seu trabalho foi durante muito tempo um texto padrão, sendo amplamente reimpresso e traduzido. Entre as suas composições musicais contam-se concertos para vários instrumentos, sinfonias e outras peças. A mãe, Anna Maria Walburga Pertl, foi batizada no dia 25 de dezembro de 1720 em St Gilgen, povoação nos arredores de Salzburgo, tendo-se mudado para lá para após o falecimento do seu pai. O casal conheceu-se em 1740, quando Leopold trabalhava como músico da corte em Salzburgo. Depois de alguns anos de namoro, casaram-se em 1747. Nos 10 anos seguintes, tiveram sete filhos, no entanto só dois sobreviveram. A primeira a ultrapassar a infância foi Maria Anna Walburga Ignatia, a quarta filha do casal, também conhecida como “Nannerl"ou “Marianne”. Esta nasce a 30 de julho de 1751. Quatro anos e meio depois nasceu o famoso Wolfgang Mozart, a 27 de janeiro de 1756 e batizado no dia seguinte como Joannes Chrysostomus Wolfgangus Theophilus. "Wolfgangus" era o nome do seu avô materno. "Theophilus" era o nome do seu padrinho, o negociante Johannes Theophilus Pergmayr. Mozart continuou, mais tarde, a fazer modificações ao seu nome, em especial ao nome do meio, "Theophilus" (Teófilo) que significa, em grego, "Amigo de Deus". Só em raras ocasiões usou a versão latina deste nome, "Amadeus", que hoje tornou-se a mais vulgar. Preferia a versão francesa Amadé ou Amadè. Usou também as formas italiana "Amadeo" e alemã "Gottlieb". O famoso compositor, tal como a irmã tinha também um apelido, “Wolferl”. A casa em que a família vivia quando Amadeo nasceu, era um apartamento humilde em Salzburgo, apesar das relações que o pai tinha com a nobreza de Salzburgo. Quando Wolfgang tinha três anos, Leopold começou a ensinar música à irmã Nannerl. As rápidas capacidades de aprendizagem da menina encantaram o pai, nomeadamente no cravo. Wolfgang, consequentemente, assistia às aulas e com isso começou a ganhar iniciativa própria para aprender algumas coisas, apesar de ter apenas três anos. Um ano depois, já era capaz de tocar peças de memória e mais tarde de compor as suas primeiras peças. Acredita-se que terá escrito a sua primeira peça, um concerto para piano, quando tinha apenas quatro anos. No entanto, o seu catálogo, organizado por Leopold, só começa com a sua primeira publicação aos sete anos. Em 1761, estreou-se como executante na Universidade de Salzburgo. Tanto ele, como a irmã Nannerl, ultrapassavam já as capacidades dos restantes músicos que existiam, sendo motivo de orgulho do pai, Leopold. Com um talento tão revolucionário dos filhos, Leopold decidiu começar a realizar viagens para poder demonstrar a música feita pelos mesmos. Foram muitas as rotas realizadas pela família Mozart, no entanto a grande maioria sem a mãe Anna Maria, devido ao seu papel como mulher na sociedade da altura, que não a permitia viajar. Também é de salientar que estas viagens só foram realizadas graças ao Arcebispo Schrattenbach, que por gostar muito da família, dava a Leopold licenças para o mesmo poder viajar com os filhos. A primeira viagem dos irmãos Mozart foi em 1762, a Munique (Alemanha), onde tocaram para Maximiliano III, Eleitor da Baviera. De Setembro a Dezembro desse mesmo ano, viajaram para Viena, onde as crianças iriam conquistar toda a nobreza vienense. Durante a viagem até ao seu destino principal, pararam em Passau (Alemanha), onde tocaram na residência do Bispo Joseph Laria, Conde Thun-Hohenstein e em Linz, onde Mozart deu o seu primeiro concerto público na Trindade, que segundo Leopold teve bastante sucesso. Na chegada à capital austríaca, tocaram para alguns condes como Thomas Collalto e para o Príncipe Rudolf Joseph Colloredo-Melz. Tocaram também no Palácio de Schonbrunn, após despertarem interesse da família real, nomeadamente na Imperatriz Maria Teresa. A mesma gostou imenso dos irmãos Mozart e, a partir daí, começaram a tocar cada vez mais para outros nobres de Viena. Voltaram a Salzburgo em 1763, onde Wolfgang ficou seriamente doente. Devido à exaustão tanto física e psicológica das crianças, era bastante frequente as mesmas ficarem doentes. O tempo de descanso e recuperação não foi muito, já que em junho do mesmo ano a família saiu toda numa grande viagem que iria envolver destinos como Paris, onde tocou para o rei Luís XV e Londres, para o rei George III. Ainda na Grã-Bretanha conheceu Johann Chistian Bach, filho de Johann Sebastian Bach, o famoso compositor alemão, que exerceu influência nas suas primeiras sinfonias: K.16 e K.19. Aqui, Mozart entrou em contacto com as óperas francesas e italianas, gêneros musicais bastante populares na altura. As cortes que visitava, ficavam encantadas não só com as suas composições, mas também com as suas capacidades de improvisação. Nesta época foram-lhe encomendadas as suas primeiras grandes obras: o oratório Die Schuldigkeit des ersten Gebotes (A obrigação do primeiro andamento) e a sua primeira ópera Apollo et Hyacinthus, ambas de 1767. Nesse mesmo ano, os Mozart voltam a Salzburgo para Wolfgang compor a ópera Buffa La finta Semplice, para o arcebispo Schrattenbach, terminada em 1769. Nesse mesmo ano, é nomeado Konzertmeister (“mestre de concerto”) por Schrattenbach. Uma vez que o cargo não lhe dava nenhuma quantia financeira, foi-lhe oferecida uma viagem a Itália, onde ingressou na Academia Filarmónica de Bolonha, um dos centros de formação musical mais importantes da época. Em Roma, foi à Capela Sistina para ouvir o famoso Miserere, de Gregório Allegri. A igreja proibia a execução da peça fora de seus domínios, tornando-a ainda mais sagrada. Mas Wolfgang ouviu tudo atentamente, voltou para o seu quarto e transcreveu o concerto inteiro de memória. O sucesso foi tão grande que chegou a receber, na Itália, das mãos do papa Clemente XIV, a Ordem de Cavaleiro da Espora Dourada, uma altíssima honra para um músico. Em Milão, começou a trabalhar na nova ópera, Mitridate, rè di Ponto ("Mitrídates, Rei do Ponto"). Teve de reescrever vários números para satisfazer os cantores, mas, após uma série de ensaios, a estreia no Regio Ducal Teatro, foi um sucesso notável. Durante estes anos de viagens em Itália e de regresso a Salzburgo entre viagens, produziu as suas primeiras configurações em grande escala de ópera seria (isto é, ópera da corte sobre temas sérios): Mitridate (1770), Ascanio in Alba (1771), e Lucio Silla (1772), bem como os seus primeiros quartetos de cordas. Em Salzburgo, no final de 1771, renovou a sua escrita de Sinfonias (n.ºs 14-21). Depois de uma breve excursão a Veneza, ele e o seu pai regressaram a Salzburgo em 1771, altura em que o arcebispo Schrattenbach faleceu. Aqui inicia um longo período de música instrumental, pois Colloredo, novo arcebispo, não era tão liberal como Schrattenbach. A Sociedade da Corte vienense implicava com a origem burguesa e os modos de Mozart, e Colloredo não admitia que um mero empregado passasse tanto tempo em viagens ao estrangeiro. O resto desta década, até 1781, foi passado em Salzburgo, onde cumpriu os seus deveres de "Konzertmeister" (mestre de concerto), compondo missas, sonatas de igreja, serenatas, divertimentos e outras obras. Mas o ambiente de Salzburgo, cada vez mais sem perspectivas, levava a uma constante insatisfação de Mozart com a sua situação.