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Em Arábia, não há salvamento que passe pelo mundo do trabalho 25/03/24, 15:00

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Em Arábia, não há salvamento que passe pelo Março


mundo do trabalho
Fabiane
Fabiane Secches
Secches  LEIA
16 de abril de 2018

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Em Arábia, não há salvamento que passe pelo mundo do trabalho 25/03/24, 15:00

André é um adolescente que vive com a tia e com o irmão mais novo em uma área
industrial da cidade de Ouro Preto, em Minas Gerais. O irmão tem a saúde frágil e os INATURA/)
dois parecem muito ligados. A tia trabalha como enfermeira na Vila Operária e,
quando Cristiano, um dos trabalhadores da indústria metalúrgica local, é levado para COMPRE
o hospital, pede a André que vá até a casa do moço para apanhar algumas peças de
roupa. Lá, o garoto encontra também um caderno, uma espécie de diário em que (HTTPS://WWW.CUL
Cristiano escreveu sobre sua vida. Somente quando se apossa do caderno e começa a
ler suas páginas é que o título do filme, Arábia (https://www.youtube.com/watch?
TLOJA.COM.BR/PRO
v=7cDtbbcrZHc), ocupa a tela e marca a transição do prelúdio para a história central,
deslocando o protagonismo de André para Cristiano.
DUTO/CULT-303-
A partir desse momento, escutamos a voz de Cristiano em off, recurso utilizado pelo
cinema à exaustão. Aqui, a narração ajuda a transmitir a atmosfera poética do filme.
MARCO-2024/)
Não se sabe se o que vemos é a história tal como ocorreu ou como André a imagina
conforme lê as páginas do caderno, mas a dúvida não nos persegue, somos
rapidamente transportados. A cenografia e as atuações são bastante realistas, embora
o filme não seja, sob diversos aspectos, exatamente verossímil.

Os diálogos ora impressionam pela naturalidade, ora parecem teatrais. Poucas vezes
um personagem é interrompido em cena. Cristiano e seus interlocutores falam como
se estivessem em uma peça ou sozinhos no palco, declamando. Ninguém emenda por
cima do outro como em uma conversa espontânea. O artifício pode ter algumas
(https://revis (https://revis (https://revis
interpretações: a primeira e mais óbvia é a referência à dramaturgia, já que mais tarde
tacult.uol.co tacult.uol.co tacult.uol.co
descobrimos que Cristiano se juntou ao grupo de teatro da fábrica e daí veio a ideia de
m.br/home/ m.br/home/ m.br/home/
escrever o caderno.
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icoes/cult- icoes/cult- icoes/cult-
Outra interpretação possível é de que a estranheza dessas conversas sinalize a solidão
302/) 301/) 300/)
dos personagens e marque a dificuldade de estreitar vínculos. Subjetivamente,
Cristiano está à margem de si, como se não tivesse sido autorizado sequer a habitar o
seu próprio corpo, conhecer os seus desejos. É possível que um homem que esteja VER TODAS +
sempre à sombra seja capaz de construir e sustentar laços de afeto? ( H T T P S : / / R E V I S TAC U L T. U O L . CO M . B R / H O M

Como alguém poderia, em condições tão adversas, deixar de ser objeto e passar a ser
sujeito de sua própria história? Cristiano muitas vezes se parece com um fantasma ou
com um bicho, migrando conforme a necessidade. ARTIGOS RELACIONADOS

Mas, ainda que Arábia seja um filme melancólico, um de seus acertos é não ser DOCUMENTÁRIO REPRODUZ
condescendente. Cristiano não é vitimizado, nem alçado ao posto de herói: é um EXPERIÊNCIA DE GLAUBER ROCHA NA
homem comum, que foi marginalizado e que comete erros graves, mas que vê sua TELEVISÃO
sensibilidade despertar conforme é tocado por experiências significativas, por
encontros afetivos que o transformam, quer seja com os homens com quem faz O QUE É, AFINAL, UM CINEMA DE
amizade na prisão ou nos trabalhos por onde passa; quer seja com a mulher por quem MINORIAS?
se apaixona e com quem quase conhece o que é ter uma família.
NA BERLINALE, UM BRASIL SEM
A jornada de Cristiano tem qualquer coisa de mítica, de alegórica, sendo ele próprio
CONCESSÕES
um arquétipo. Obviamente a obra tem um viés ideológico, e se em alguns momentos
esbarra no didatismo, em seguida faz a curva e escapa. Embora o enredo gire em torno
do mundo do trabalho, não há salvamento possível por aí. MARIGHELLA, NOTÍCIAS DE UM FILME NO
EXÍLIO
Arábia faz uma crítica ao discurso produtivista. Ao contrário da fábula, aqui temos
uma apologia à cigarra. A música é um elemento essencial e rende algumas das KARIM AÏNOUZ: FIZ AS PAZES COM A
passagens mais bonitas do filme. As canções escolhidas são metanarrativas que IDEIA DE CONTAR UMA HISTÓRIA
ajudam a reforçar o aspecto alegórico do enredo, como no caso de Três apitos
(https://www.youtube.com/watch?v=0hXsLS-0PsU&list=RD0hXsLS-0PsU), de Noel
Rosa, em linda interpretação de Maria Bethânia, que conta uma história de amor
vivida por um operário. Outra das melhores cenas é aquela em que Cristiano canta TV CULT
com os amigos uma versão de Cowboy fora da lei (https://www.youtube.com/watch?
v=4syrZTW2aiI), de Raul Seixas. Mais do que a dignificação pelo trabalho, é o violão
que marca as passagens em que o protagonista é subjetivado, seja nas cantorias, seja
no primeiro encontro com Ana, quando vencem um dos jogos de azar no parque de O que é fascismo, com Vladimir S…
diversões e escolhem um violão em miniatura como presente.

Perto do final do filme, um velho canta, desafinado e potente, uma versão de Marina,
de Dorival Caymmi. Contra a frieza da indústria metalúrgica e a aridez do imenso
canteiro de areia a que o título faz referência, a música se insurge como resistência.
Quando os trabalhadores ousam se divertir, também se humanizam.

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Em Arábia, não há salvamento que passe pelo mundo do trabalho 25/03/24, 15:00

Em dois momentos-chave, ouvimos relatos de sonhos: um de Ana, quando sofre um


aborto, e outro de Cristiano, sozinho na mata ao lado do fogo. Esses sonhos dão
notícia da complexidade do mundo interno dos personagens e se opõem à aparente
dificuldade de simbolização.

Se existe beleza em Arábia, e existe muita, não é a beleza que costumamos ver quando
um cineasta tenta se aproximar da pobreza e das questões sociais, mas acaba por (https://revistacult.uol.com.br/home/lugar-de-fala-cult/)
fetichizá-las como estrangeiro. Affonso Uchôa e João Dumans, diretores e roteiristas
do filme, parceiros de outro bom trabalho (A vizinhança do tigre, 2016), conseguem
retratar a beleza sincera da existência humana, com todos os seus contrastes. Ambos
são de Contagem (cidade industrial próxima a Belo Horizonte), como Cristiano, e se
colocam ao lado de seu protagonista. Como espectadores, temos a oportunidade de
acompanhá-los nessa mesma posição. A fotografia de Leonardo Feliciano é um
(https://revistacult.uol.com.br/home/onde-vende-
encanto: linda, sem forçar a mão. Coisa rara de ver. Dos campos de mexerica ao
revista-cult/)
puteiro de dona Olga, Feliciano faz belos enquadramentos que equilibram lirismo e
concretude — em algumas cenas, a gente quase pode sentir o cheiro do que vê.
Cristiano parece viajar por todo o Brasil, mas nunca sai de Minas Gerais, um estado
que é um país em si mesmo: extenso, com geografias, climas e contextos sociais tão
diversos.

Arábia dialoga com um topos do cinema nacional, a precariedade das relações de


trabalho, e também o atualiza. Assistir ao filme à luz da reforma trabalhista
ressignifica a questão, tornando o debate mais urgente. Mas, para além do contexto
sociopolítico, essa é uma história singela de um homem comum vivendo em um país
atravessado por desigualdades abissais, que vai descobrindo beleza e indignação
conforme resiste e se torna capaz de viver, e depois também de escrever, a sua própria (https://www.sescsp.org.br/projetos/oju-roda-sesc-de-
história. Se algo salva Cristiano, ou ao menos se salva sua memória em André, é a cinemas-negros/)
cigarra, e não a formiga: a saída vem da música, do teatro e da escrita, das lembranças
e das cartas de amor de Ana. O que nos torna humanos, e sujeitos singulares, é aquilo
que nos desaliena e desautomatiza, não o que perpetua uma estrutura cruel que
acentua desigualdades e aniquila diferenças.

FABIANE SECCHES é psicanalista e doutoranda em Teoria Literária e Literatura


Comparada pela Universidade de São Paulo. Escreve sobre literatura, cinema e
psicanálise.

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