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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS

Faculdade de Engenharia Elétrica e de Computação


Departamento de Sistemas e Controle de Energia

Pré-reguladores de
Fator de Potência

José Antenor Pomilio

Publicação FEE 03/95


Revisado e atualizado em Janeiro de 2007
Apresentação

O texto que se segue foi originalmente elaborado em função da disciplina "Fontes de


Alimentação com Correção de Fator de Potência". Atualmente é parte do conteúdo da disciplina
“Fontes Chaveadas”, ministrada nos cursos de pós-graduação em Engenharia Elétrica na
Faculdade de Engenharia Elétrica e de Computação da Universidade Estadual de Campinas.
Este é um material que deve sofrer freqüentes atualizações, em função da constante
evolução tecnológica na área da Eletrônica de Potência, além do que, o próprio texto pode ainda
conter eventuais erros, para os quais pedimos a colaboração dos estudantes e profissionais que
eventualmente fizerem uso do mesmo, no sentido de enviarem ao autor uma comunicação sobre
as falhas detectadas.
Os resultados experimentais incluídos no texto referem-se a trabalhos executados pelo
autor, juntamente com estudantes e outros pesquisadores e foram motivo de publicações em
congressos e revistas, conforme indicado nas referências bibliográficas.
Textos semelhantes foram produzidos referentes às disciplinas de "Fontes Chaveadas" e
"Eletrônica de Potência".

Campinas, 4 de janeiro de 2007

José Antenor Pomilio

José Antenor Pomilio é Engenheiro Eletricista, Mestre e Doutor em Engenharia Elétrica pela Universidade
Estadual de Campinas - UNICAMP (1983, 1986 e 1991, respectivamente). É professor junto à Faculdade
de Engenharia Elétrica e de Computação da UNICAMP desde 1984. Participou do Grupo de Eletrônica de
Potência do Laboratório Nacional de Luz Síncrotron (CNPq) entre 1988 e 1993, sendo chefe do Grupo
entre 1988 e 1991. Realizou estágios de pós-doutoramento junto ao Departamento de Engenharia Elétrica
da Universidade de Pádua (1993/1994) e ao Departamento de Engenharia Industrial da Terceira
Universidade de Roma (2003), ambas na Itália. Foi “Liaison” da IEEE Power Electronics Society para a
Região 9 (América Latina) em 1998/1999. Foi membro do Comitê de Administração da IEEE Power
Electronics Society no triênio 2000/2002. Foi editor da Revista Eletrônica de Potência (SOBRAEP) em
1999-2000 e 2005. Atualmente é editor associado das revistas IEEE Trans. on Power Electronics e
Controle & Automação (SBA). Foi presidente da Associação Brasileira de Eletrônica de Potência –
SOBRAEP (2000-2002). É membro do Conselho Deliberativo da SOBRAEP e do Conselho Superior da
Sociedade Brasileira de Automática.
Conteúdo

1. NORMAS RELATIVAS À CORRENTE DE LINHA: HARMÔNICAS DE BAIXA


FREQUÊNCIA E INTERFERÊNCIA ELETROMAGNÉTICA CONDUZIDA

1.1 EFEITO DE HARMÔNICAS EM COMPONENTES DO SISTEMA DE ENERGIA ELÉTRICA


1.2 FATOR DE POTÊNCIA
1.2.1 DEFINIÇÃO DE FATOR DE POTÊNCIA
1.3NORMA IEC 1000-3-2: LIMITES PARA EMISSÃO DE HARMÔNICAS DE CORRENTE (<16 A POR FASE)

1.4 RECOMENDAÇÃO IEEE PARA PRÁTICAS E REQUISITOS PARA CONTROLE DE HARMÔNICAS NO


SISTEMA ELÉTRICO DE POTÊNCIA: IEEE-519
1.5 NORMAS RELATIVAS ÀS LIMITAÇÕES DE NÍVEIS DE INTERFERÊNCIA ELETROMAGNÉTICA
CONDUZIDA PELA REDE
1.5.1 IEM CONDUZIDA PELA REDE
1.6A FAIXA INTERMEDIÁRIA (3 KHZ A 148,5 KHZ): TRANSMISSÃO DE SINAIS PELA REDE ELÉTRICA DE
BAIXA TENSÃO
1.7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

2. CARACTERÍSTICAS GERAIS DOS PRÉ-REGULADORES DE FATOR DE POTÊNCIA

2.1 DESVANTAGENS DO BAIXO FATOR DE POTÊNCIA (FP) E DA ALTA DISTORÇÃO DA CORRENTE


2.2 SOLUÇÕES PASSIVAS
2.3 SOLUÇÕES ATIVAS
2.3.1 ELEMENTOS DE ARMAZENAMENTO DE ENERGIA
2.4 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

3. CONVERSOR ELEVADOR DE TENSÃO (BOOST) COMO PFP

3.1 O CONVERSOR ELEVADOR DE TENSÃO COM ENTRADA CC


3.1.1 CONDUÇÃO CONTÍNUA
3.1.2 CONDUÇÃO DESCONTÍNUA
3.2 CONVERSOR ELEVADOR DE TENSÃO OPERANDO COMO PFP EM CONDUÇÃO DESCONTÍNUA
3.2.1 CARACTERÍSTICA DE ENTRADA
3.2.2 CARACTERÍSTICA DE SAÍDA
3.2.3 INDUTÂNCIA DE ENTRADA
3.3 CONVERSOR ELEVADOR DE TENSÃO OPERANDO COMO PFP EM CONDUÇÃO CRÍTICA
3.4 CONVERSOR ELEVADOR DE TENSÃO OPERANDO COMO PFP EM CONDUÇÃO CONTÍNUA
3.4.1 PRINCÍPIO DE OPERAÇÃO
3.5 CONVERSOR ELEVADOR DE TENSÃO OPERANDO EM CONDUÇÃO CONTÍNUA E CONTROLE POR
HISTERESE
3.6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

4. CONVERSOR ABAIXADOR-ELEVADOR DE TENSÃO COMO PRÉ-REGULADOR DE


FATOR DE POTÊNCIA

4.1 CONVERSOR ABAIXADOR-ELEVADOR COM ENTRADA CC


4.1.1 MODO CONTÍNUO
4.1.2 MODO DESCONTÍNUO
4.2 CONVERSOR ABAIXADOR-ELEVADOR DE TENSÃO COMO PFP
4.2.1 CÁLCULO DAS VARIÁVEIS MÉDIAS DE ENTRADA
4.2.2 CÁLCULO DAS VARIÁVEIS EFICAZES DE ENTRADA
4.3 CONVERSOR ABAIXADOR-ELEVADOR COM 2 INTERRUPTORES
4.4 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

5. CONVERSOR ABAIXADOR DE TENSÃO COMO PFP

5.1 CONVERSOR ABAIXADOR DE TENSÃO COM ENTRADA CC


5.2 CONVERSOR ABAIXADOR DE TENSÃO COMO PFP
5.3 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

6. CONVERSORES CUK, SEPIC E ZETA COMO PFP

6.1 CONVERSOR CUK COM ENTRADA CC


6.2 CONVERSOR SEPIC COM ENTRADA CC
6.3 CONVERSOR ZETA COM ENTRADA CC
6.4 CONVERSORES CUK, SEPIC E ZETA ISOLADOS COM ENTRADA CC
6.5 CONVERSOR CUK COMO PFP
6.5.1 OPERAÇÃO NO MODO DESCONTÍNUO
6.5.2 LIMITE DE OPERAÇÃO NO MODO DESCONTÍNUO
6.5.3 CONSIDERAÇÕES SOBRE OS CAPACITORES C1 E CO
6.5.4 O CONTROLE DO CONVERSOR
6.5.5 CONVERSOR CUK COM TRANSFORMADOR
6.5.6 NÃO-IDEALIDADES QUE CAUSAM DISTORÇÃO NA FORMA DE ONDA
6.5.7 ACOPLAMENTO DAS INDUTÂNCIAS
6.5.8 OPERAÇÃO NO MODO CONTÍNUO
6.6 CONVERSOR SEPIC COMO PFP
6.7 CONVERSOR ZETA COMO PFP
6.8 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

7. DETERMINAÇÃO DOS LIMITES PARA OPERAÇÃO NO MODO DESCONTÍNUO DE PFP

7.1 LIMITES PARA CONVERSORES CC-CC


7.2 LIMITES PARA CONVERSORES CA-CC OPERANDO COMO PFP
7.3 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

8. CONVERSORES TRIFÁSICOS COM RETIFICADOR A DIODOS COMO PFP

8.1 CONVERSOR CUK COM ENTRADA TRIFÁSICA INDUTIVA COMO PFP


8.1.1 EQUAÇÕES BÁSICAS DO CONVERSOR
8.1.2 DIMENSIONAMENTO DO CIRCUITO
8.1.3 DETERMINAÇÃO DO FATOR DE POTÊNCIA
8.2 CONVERSORES TRIFÁSICOS COM ENTRADA CAPACITIVA COMO PFP
8.2.1 DETERMINAÇÃO DA TENSÃO MÉDIA DE ENTRADA
8.3 MELHORIA NO FP DE RETIFICADOR TRIFÁSICO ALIMENTANDO CARGA CAPACITIVA
8.3.1 PRINCÍPIO DE FUNCIONAMENTO
8.3.2 CONSIDERAÇÕES SOBRE A TOPOLOGIA
8.4 CONVERSOR A DIODOS COM FILTRO CAPACITIVO
8.5 CONVERSOR TIPO FLY-BACK
8.6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
9. PRÉ-REGULADORES DE FATOR DE POTÊNCIA COM RETIFICADORES
CONTROLADOS

9.1 CONVERSOR TRIFÁSICO TIPO ELEVADOR DE TENSÃO COM RETIFICADOR CONTROLADO


9.1.1 PRINCÍPIO DE OPERAÇÃO
9.2 CONVERSOR CA-CC TRIFÁSICO COM CONTROLE PWM
9.2.1 EQUAÇÕES BÁSICAS
9.2.2 ABSORÇÃO DE REATIVOS
9.2.3 OUTRAS SEQÜÊNCIAS DE COMUTAÇÃO
9.3 CONVERSOR TIPO FLYBACK
9.4 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

10. CIRCUITOS INTEGRADOS DEDICADOS AO ACIONAMENTO E CONTROLE DE


FONTES CHAVEADAS COM CORREÇÃO DE FATOR DE POTÊNCIA

10.1 REALIMENTAÇÕES DE TENSÃO E DE CORRENTE


10.2 UC1524A (OU 2524 OU 3524)
10.3 LT1249
10.4 LT1248
10.5 MC34262
10.6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

11. INTERAÇÃO CONVERSOR-FILTRO DE LINHA EM PRÉ-REGULADORES DE FATOR


DE POTÊNCIA

11.1 INTRODUÇÃO
11.2 ANÁLISE DA INTERAÇÃO FILTRO-CONVERSOR
11.3 ADMITÂNCIA DE ENTRADA DE PFPS
11.3.1 ANÁLISE DO CONTROLADOR.
11.3.2 BOOST PFP
11.3.3 CONVERSORES CUK E SEPIC
11.4 PREDIÇÕES DO MODELO
11.5 RESULTADOS EXPERIMENTAIS
11.5.1 BOOST
11.5.2 SEPIC
11.6 MODIFICAÇÃO NA MALHA DE CORRENTE
11.7 REVISÃO DO CIRCUITO DE CONTROLE DE PFP COM CONTROLE POR CORRENTE MÉDIA
11.8 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Pré-reguladores de Fator de Potência J. A. Pomilio

1. NORMAS RELATIVAS À CORRENTE DE LINHA: HARMÔNICAS DE


BAIXA FREQÜÊNCIA E INTERFERÊNCIA ELETROMAGNÉTICA
CONDUZIDA

1.1 Efeito de harmônicas em componentes do sistema de energia elétrica

O grau com que harmônicas podem ser toleradas em um sistema de alimentação depende
da susceptibilidade da carga (ou da fonte de potência). Os equipamentos menos sensíveis,
geralmente, são os de aquecimento (carga resistiva), para os quais a forma de onda não é
relevante. Os mais sensíveis são aqueles que, em seu projeto, assumem a existência de uma
alimentação senoidal. No entanto, mesmo para as cargas de baixa susceptibilidade, a presença de
harmônicas (de tensão ou de corrente) pode ser prejudicial, produzindo maiores esforços nos
componentes e isolantes.

Motores e geradores
O maior efeito dos harmônicos em máquinas rotativas (indução e síncrona) é o aumento
do aquecimento devido ao aumento das perdas no ferro e no cobre. Afeta-se, assim, sua
eficiência e o torque disponível. Além disso, tem-se um possível aumento do ruído audível,
quando comparado com alimentação senoidal. Outro fenômeno é a presença de harmônicos no
fluxo, produzindo alterações no acionamento, como componentes de torque que atuam no sentido
oposto ao da fundamental (como o 5o harmônico).
Alguns pares de componentes (por exemplo, 5a e 7a) podem produzir oscilações
mecânicas em sistemas turbina-gerador ou motor-carga, devido a uma potencial excitação de
ressonâncias mecânicas.

Transformadores
Também neste caso tem-se um aumento nas perdas. Harmônicos na tensão aumentam as
perdas ferro, enquanto harmônicos na corrente elevam as perdas cobre. Além disso o efeito das
reatâncias de dispersão fica ampliado, uma vez que seu valor aumenta com a freqüência.
Tem-se ainda uma maior influência das capacitâncias parasitas (entre espiras e entre
enrolamento) que podem realizar acoplamentos não desejados e, eventualmente, produzir
ressonâncias no próprio dispositivo.

Cabos de alimentação
Em razão do efeito pelicular, que restringe a secção condutora para componentes de
freqüência elevada, também os cabos de alimentação têm um aumento de perdas devido às
harmônicas de corrente. Além disso, caso os cabos sejam longos e os sistemas conectados tenham
suas ressonâncias excitadas pelas componentes harmônicas, podem aparecer elevadas sobre-
tensões ao longo da linha, podendo danificar o cabo.

Capacitores
O maior problema aqui é a possibilidade de ocorrência de ressonâncias (excitadas pelas
harmônicas), podendo produzir níveis excessivos de corrente e/ou de tensão. Além disso, como a

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reatância capacitiva diminui com a freqüência, tem-se um aumento nas correntes relativas às
harmônicas presentes na tensão.

Equipamentos eletrônicos
Alguns equipamentos podem ser muito sensíveis a distorções na forma de onda de tensão.
Por exemplo, se um aparelho utiliza os cruzamentos com o zero (ou outros aspectos da onda de
tensão) para realizar alguma ação, distorções na forma de onda podem alterar, ou mesmo
inviabilizar, seu funcionamento.
Caso as harmônicas penetrem na alimentação do equipamento por meio de acoplamentos
indutivos e capacitivos (que se tornam mais efetivos com o aumento da freqüência), eles podem
também alterar o bom funcionamento do aparelho.

1.2 Fator de Potência

A atual regulamentação brasileira do fator de potência [1.1] estabelece que o mínimo fator
de potência (FP) das unidades consumidoras é de 0,92. A partir de abril de 1996 o cálculo do FP
deve ser feito por média horária. O consumo de reativos além do permitido (0,425 VArh por
cada Wh) é cobrado do consumidor. No intervalo entre 6 e 24 horas isto ocorre se a energia
reativa absorvida for indutiva e das 0 às 6 horas, se for capacitiva.
Consideremos, para efeito das definições posteriores o esquema da figura 1.1.

Ii
Vi Equipamento

Figura 1.1 Circuito genérico utilizado nas definições de FP

1.2.1 Definição de Fator de Potência


Fator de potência é definido como a relação entre a potência ativa e a potência aparente
consumidas por um dispositivo ou equipamento, independentemente das formas que as ondas de
tensão e corrente apresentem. Os sinais variantes no tempo devem ser periódicos.

1
P T∫ i
v ( t ) ⋅ i i ( t ) ⋅ dt
FP = = (1.1)
S VRMS ⋅ I RMS

Em um sistema com formas de onda senoidais, a equação 1.1 torna-se igual ao cosseno
da defasagem entre as ondas de tensão e de corrente:

FPsen o = cos φ (1.2)

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Quando apenas a tensão de entrada for senoidal, o FP é expresso por:


I
FPV = 1 ⋅ cos φ1 (1.3)
sen o
I RMS

Neste caso, a potência ativa de entrada é dada pelo produto da tensão (senoidal) por todas
as componentes harmônicas da corrente (não-senoidal). Este produto é nulo para todas as
harmônicas exceto para a fundamental, devendo-se ponderar tal produto pelo cosseno da
defasagem entre a tensão e a primeira harmônica da corrente. Desta forma, o fator de potência é
expresso como a relação entre o valor RMS da componente fundamental da corrente e a corrente
RMS de entrada, multiplicado pelo cosseno da defasagem entre a tensão e a primeira harmônica
da corrente.
A relação entre as correntes é chamada de fator de forma e o termo em cosseno é
chamado de fator de deslocamento.
Por sua vez, o valor RMS da corrente de entrada também pode ser expresso em função
das componentes harmônicas:


I RMS = I12 + ∑ I 2n (1.4)
n=2

Define-se a Taxa de Distorção Harmônica (TDH) como sendo a relação entre o valor
RMS das componentes harmônicas da corrente e a fundamental:

∑I 2
n
n=2
TDH = (1.5)
I1

Assim, o FP pode ser reescrito como:


cosφ1
FP = (1.6)
1 + TDH 2

É evidente a relação entre o FP e a distorção da corrente absorvida da linha. Neste


sentido, existem normas internacionais que regulamentam os valores máximos das harmônicas de
corrente que um dispositivo ou equipamento pode injetar na linha de alimentação.

1.3 Norma IEC 61000-3-2: Limites para emissão de harmônicas de corrente (<16 A por fase)

Esta norma [1.2], incluindo as alterações feitas pela emenda 14, de janeiro de 2001,
refere-se às limitações das harmônicas de corrente injetadas na rede pública de alimentação.
Aplica-se a equipamentos elétricos e eletrônicos que tenham uma corrente de entrada de até 16 A
por fase, conectado a uma rede pública de baixa tensão alternada, de 50 ou 60 Hz, com tensão
fase-neutro entre 220 e 240 V. Para tensões inferiores, os limites não foram estabelecidos, pois
esta norma tem aplicação principalmente na comunidade européia, onda as tensões fase-neutro
encontra-se na faixa especificada.
Os equipamentos são classificados em 4 classes:

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Classe A: Equipamentos com alimentação trifásica equilibrada; aparelhos de uso doméstico,


excluindo os classe D; ferramentas, exceto as portáteis; “dimmers” para lâmpadas
incandescentes; equipamentos de áudio e todos os demais não incluídos nas classes
seguintes.

Classe B: Ferramentas portáteis.

Classe C: Dispositivos de iluminação.

Classe D: Computadores pessoais, monitores de vídeo e aparelhos de televisão, caso a corrente


de entrada apresente a forma mostrada na figura 1.2. A potência ativa de entrada deve
ser igual ou inferior a 600W, medida esta feita obedecendo às condições de ensaio
estabelecidas na norma (que variam de acordo com o tipo de equipamento).

Antes da emenda 14, a definição de classe D era feita a partir de um envelope dentro do
qual estaria a corrente de entrada, atingindo qualquer equipamento monofásico, como mostra a
figura 1.2. Tal definição mostrou-se inadequada devido ao fato de que os problemas mais
relevantes referem-se aos equipamentos agora incluídos na classe D e na classe C (reatores
eletrônicos), permitindo retirar dos demais aparelhos estas restrições.

i/i pico
π/3 π/3 π/3
1

0,35

0
π/2 π
Figura 1.2. Envelope da corrente de entrada que definia um equipamento como classe D
(anteriormente à emenda 14)

A inclusão apenas destes aparelhos como classe D deve-se ao fato de seu uso se dar em
larga escala e ser difundido por todo sistema. Outros equipamentos poderão ser incluídos nesta
categoria caso passem a apresentar tais características.
Os valores de cada harmônica são obtidos após a passagem do sinal por um filtro passa-
baixas de primeira ordem com constante de tempo de 1,5s. Aplica-se a transformada discreta de
Fourier (DFT), com uma janela de medição entre 4 e 30 ciclos da fundamental, com um número
inteiro de ciclos. Calcula-se a média aritmética dos valores da DFT durante todo período de
observação. Este período varia de acordo com o tipo de equipamento, tendo como regra geral um
valor que permita a repetibilidade dos resultados.
A medição da potência ativa é feita de maneira análoga, devendo-se, no entanto, tomar o
máximo valor que ocorrer dentro do período de observação. Este é o valor que um fabricante
deve indicar em seu produto (com uma tolerância de +/- 10%), conjuntamente como fator de
potência (para classe C). Caso o valor medido seja superior ao indicado, deve-se usar o valor
medido.

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Para cada harmônica medida da forma descrita, o valor deve ser inferior a 150% do limite
da Tabela I, em qualquer situação de operação do aparelho.
As correntes harmônicas com valor inferior a 0,6% da corrente de entrada (medida dentro
das condições de ensaio), ou inferiores a 5mA não são consideradas.
Foi definida a corrente harmônica parcial de ordem ímpar, para componentes entre a 21a e
a
a 39 como sendo:
39
I 21−39 = ∑ I2n (1.7)
n = 21, 23...
Para a componente de ordem 21 ou superior (ímpar), o valor individual para cada uma
delas, pode exceder o limite em mais 50% desde que a corrente harmônica parcial de ordem
ímpar medida não exceda o valor teórico (obtido com os valores da tabela), nem excedam o
limite individual de 150% do valor da tabela.
A Tabela I indica os valores máximos para os harmônicos de corrente, no fio de fase (não
no de neutro).
Os valores limites para a classe B são os mesmos da classe A, acrescidos de 50%.

Tabela I
Limites para os Harmônicos de Corrente

Ordem do Harmônico Classe A Classe B Classe C Classe D


n Máxima Máxima (>25W) (>75W,
corrente [A] corrente[A] % da <600W)
fundamental [mA/W]

Harmônicas Ímpares
3 2,30 3,45 30.FP 3,4
5 1,14 1,71 10 1,9
7 0,77 1,155 7 1,0
9 0,40 0,60 5 0,5
11 0,33 0,495 3 0,35
13 0,21 0,315 3 0,296
15<n<39 15 15 3 3,85/n
. ⋅
015 0.225 ⋅
n n
Harmônicos Pares
2 1,08 1,62 2
4 0,43 0,645
6 0,3 0,45
8<n<40 8 8
0.23 ⋅ 0.35 ⋅
n n
FP: fator de potência

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1.4 Recomendação IEEE para práticas e requisitos para controle de harmônicas no sistema
elétrico de potência: IEEE-519

Esta recomendação (não é uma norma) produzida pelo IEEE [1.4] descreve os principais
fenômenos causadores de distorção harmônica, indica métodos de medição e limites de distorção.
Seu enfoque é diverso daquele da IEC, uma vez que os limites estabelecidos referem-se aos
valores medidos no Ponto de Acoplamento Comum (PAC), e não em cada equipamento
individual. A filosofia é que não interessa ao sistema o que ocorre dentro de uma instalação, mas
sim o que ela reflete para o exterior, ou seja, para os outros consumidores conectados à mesma
alimentação.
Os limites diferem de acordo com o nível de tensão e com o nível de curto-circuito do
PAC. Obviamente, quanto maior for a corrente de curto-circuito (Icc) em relação à corrente de
carga, maiores são as distorções de corrente admissíveis, uma vez que elas distorcerão em menor
intensidade a tensão no PAC. À medida que se eleva o nível de tensão, menores são os limites
aceitáveis.
A grandeza TDD - Total Demand Distortion - é definida como a distorção harmônica da
corrente, em % da máxima demanda da corrente de carga (demanda de 15 ou 30 minutos). Isto
significa que a medição da TDD deve ser feita no pico de consumo.
Harmônicas pares são limitadas a 25% dos valores acima. Distorções de corrente que
resultem em nível CC não são admissíveis.

Tabela II
Limites de Distorção da Corrente para Sistemas de Distribuição (120V a 69kV)

Máxima corrente harmônica em % da corrente de carga (Io - valor da componente fundamental)


Harmônicas ímpares:
Icc/Io <11 11<n<17 17<n<23 23<n<35 35<n TDD(%)
<20 4 2 1,5 0,6 0,3 5
20<50 7 3,5 2,5 1 0,5 8
50<100 10 4,5 4 1,5 0,7 12
100<1000 12 5,5 5 2 1 15
>1000 15 7 6 2,5 1,4 20

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Tabela III
Limites de Distorção da Corrente para Sistemas de Subdistribuição (69001V a 161kV)

Limites para harmônicas de corrente de cargas não-lineares no PAC com outras cargas
Harmônicas ímpares:
Icc/Io <11 11<n<17 17<n<23 23<n<35 35<n TDD(%)
<20 2 1 0,75 0,3 0,15 2,5
20<50 3.5 1,75 1,25 0,5 0,25 4
50<100 5 2,25 2 0,75 0,35 6
100<1000 6 2,75 2,5 1 0,5 7,5
>1000 7.5 3,5 3 1,25 0,7 10

Tabela IV
Limites de distorção de corrente para sistemas de alta tensão (>161kV) e sistemas de geração e
co-geração isolados.

Harmônicas ímpares:
Icc/Io <11 11<n<17 17<n<23 23<n<35 35<n THD(%)
<50 2 1 0,75 0,3 0,15 2,5
>50 3 1,5 1,15 0,45 0,22 3,75

Para os limites de tensão, os valores mais severos são para as tensões menores (nível de
distribuição). Estabelece-se um limite individual por componente e um limite para a distorção
harmônica total.
Tabela V
Limites de distorção de tensão

Distorção individual THD


69kV e abaixo 3% 5%
69001V até 161kV 1,5% 2,5%
Acima de 161kV 1% 1,5%

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1.5 Normas relativas às limitações de níveis de Interferência Eletromagnética Conduzida pela


rede

Dois tipos de interferência podem ser considerados: a conduzida pela rede de alimentação
e a irradiada.
Diferentes normas, nacionais (VDE - Alemanha, FCC - EUA) e internacionais (CISPR -
IEC), determinam os valores limites admissíveis para o ruído eletromagnético produzido pelo
equipamento. No Brasil, a adoção de normas específicas sobre este assunto está em discussão,
seguindo-se, em princípio, as normas CISPR.
Tais normas, além dos limites de sinal irradiado ou conduzido, determinam os métodos de
medida, os equipamento de teste e classificam os produtos a serem testados em função de suas
características próprias e do local onde devem ser utilizados (CISPR 16) [1.6]. Os limites mais
severos referem-se a produtos utilizados em ambiente "doméstico" (classe B), o que significa,
que são alimentados por uma rede na qual existem usuários que não são indústrias ou
estabelecimentos comerciais. Ambientes industriais e comerciais tem seus equipamentos
incluídos na chamada classe A.
No que se refere à IEM conduzida, equipamentos de informática possuem suas normas
(CISPR 22), enquanto os aparelhos de uso industrial, científico e médico (ISM), são regulados
pela CISPR 11 [1.5]; eletrodomésticos, pela CISPR 14 e os dispositivos de iluminação pela
CISPR 15.
De modo simplificado, os testes de IEM irradiada podem ser feitos em ambientes
anecóicos, quer seja um campo aberto ou uma câmara especial. Já as medidas de IEM conduzida
fazem uso de uma impedância artificial de linha, sobre a qual se realiza a medida dos sinais de
alta freqüência injetados pelo equipamento.

1.5.1 IEM conduzida pela rede


A principal motivação para que se exija um limitante para a IEM que um equipamento
injeta na rede é evitar que tal interferência afete o funcionamento de outros aparelhos que estejam
sendo alimentados pela mesma rede [1.7]. Esta susceptibilidade dos aparelhos aos ruídos
presentes na alimentação não está sujeita a normalização, embora cada fabricante procure atingir
níveis de baixa susceptibilidade.
A medição deste tipo de interferência é feita através de uma impedância (LISN - Line
Impedance Stabilization Network) colocada entre a rede e o equipamento sob teste, cujo esquema
está mostrado na figura 1.3 A indutância em série evita que os ruídos produzidos pelo
equipamento fluam para a rede, sendo direcionados para a resistência de 1kΩ, sobre a qual é feita
a medição (com um analisador de espectro com impedância de entrada de 50Ω). Os eventuais
ruídos presentes na linha são desviados pelo capacitor colocado do lado da rede de 1µF, não
afetando a medição.
Esta impedância de linha pode ser utilizada na faixa entre 150kHz e 30MHz, que é a
banda normalizada pela CISPR. A faixa entre 10kHz e 150kHz é definida apenas pela VDE,
estando em estudo por outras agências. Nesta faixa inferior, a LISN é implementada com outros
componentes, como mostrado na mesma figura 1.3.
Também são feitas as distinções quanto à aplicação e ao local de instalação do
equipamento. A figura 1.4 mostra estes limites para a norma CISPR 11 (equipamentos ISM). O
ambiente de medida é composto basicamente por um plano terra sobre o qual é colocada a LISN.
Acima deste plano, e isolado dele, coloca-se o equipamento a ser testado.

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. L1
. L2
. 9 a 150 kHz
L1=250uH
150kHz a 30MHz
L1=0
C1 C2 C3 L2=50uH L2=50uH
Fonte C1=4uF C1=0
Rede Vo C2=8uF C2=1uF
CA R1 R2 R3 C3=250nF C3=100nF

.. . . R1=10
R2=5
R3=1k
R2=0
R3=1k

Analisador
de Espectro
(50 ohms)

Figura 1.3 Impedância de linha normalizada (LISN).

dBuV
100

90

80

70

60 Classe A

50 Classe B

10k 100k 1M 10M 100M


f (Hz)

Figura 1.4 Limites de IEM conduzida pela norma CISPR 11 (equipamentos de uso Industrial,
Científico e Médico - ISM)

As elevadas taxas de variação de tensão presentes numa fonte chaveada e as correntes


pulsadas presentes em estágios de entrada (como nos conversores para correção de fator de
potência) são os principais responsáveis pela existência de IEM conduzida pela rede.
No caso das correntes pulsadas, esta razão é óbvia, uma vez que a corrente presente na
entrada do conversor está sendo chaveada em alta freqüência, tendo suas harmônicas dentro da
faixa de verificação de IEM conduzida.

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Seja uma forma de corrente como a mostrada na figura 1.5, típica de um pré-conversor
tipo flyback, atuando para correção de fator de potência, suponhamos que a corrente seja
chaveada em 30kHz.
Tomemos como exemplo uma forma triangular com amplitude da harmônica fundamental
de 5A. Sabendo que a amplitude das harmônicas decai com o quadrado da freqüência, para a 5ª
componente (150 kHz), a amplitude será de 200mA. Tal corrente, passando por uma resistência
de 50Ω, provocará uma queda de tensão de 10V, o que corresponde a 140dB/µV. Esse valor
está muito além do limite estabelecido pelas normas, o que implica na necessidade do uso de
algum tipo de filtro de linha para evitar que tal sinal penetre na rede.
Já no caso dos elevados dv/dt, devem ser considerados alguns efeitos de segunda ordem
presentes numa fonte chaveada. Tomemos a forma de onda mostrada na figura 1.6 como sendo a
tensão de coletor do transistor de uma fonte genérica em relação à terra .
O chaveamento do transistor faz com que, em relação à terra tenha-se onda de tensão
como indicada. Tal forma trapezoidal leva a componentes harmônicas cujas amplitudes são dadas
por:

2 ⋅ E sin( n ⋅ π ⋅ f ⋅ ξ) ⎛n ⋅ π⎞
Vn = ⋅ ⋅ sin 2 ⎜ ⎟ (1.8)
n⋅π n⋅π ⋅ f ⋅ξ ⎝ 2 ⎠

Tensão de entrada

Corrente de entrada

Figura 1.5 Corrente de entrada de um pré-regulador de fator de potência tipo flyback

+E/2

-E/2 T/2

Figura 1.6. Tensão típica entre coletor de transistor e terra em fonte chaveada

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A amplitude depende da tensão de alimentação, da freqüência de chaveamento e dos


tempos de comutação.
São estas componentes harmônicas que, através das capacitâncias parasitas presentes na
montagem, produzirão as correntes em alta freqüência que circularão para a rede.
A necessidade do uso de dissipadores de calor é muito comum em fontes chaveadas.
Quando o transistor tem se coletor conectado ao corpo metálico do componente, normalmente é
necessária uma isolação, evitando que o dissipador fique num potencial elevado, uma vez que é
preferível, dadas suas dimensões, que ele fique aterrado. Esta montagem, com um isolante
colocado entre duas placas metálicas em potenciais diferentes, cria uma capacitância que acopla a
fonte à terra. O valor desta capacitância pode ser obtido, conhecida a constante dielétrica do
isolante e as dimensões do transistor.
Considerando um transistor encapsulado em TO-3, para um isolante de mica, com
espessura de 0,1mm, tem-se uma capacitância de aproximadamente 150pF. Já com isolante
plástico (0,2mm), este valor cai para 95pF. Um isolante cerâmico de 2mm de espessura leva a
20pF.
Como exemplo, consideremos uma onda trapezoidal com as seguintes características:
E=300V, f=30kHz, n=5, ξ=1µs.
A amplitude da 5ª harmônica será de 36,8V.
Em 150kHz a reatância de uma capacitância de 150pF é de 7080Ω. Isto conduz a uma
corrente de 5,2mA a circular pela LISN. Tal corrente implica numa tensão de 260mV sobre 50Ω,
ou seja, 108dB/µV.
Em um circuito que faça uso de um transformador entre primário e secundário e tenha um
dos terminais de saída aterrado, tem-se um outro caminho possível para a fuga de corrente em
alta freqüência, que é através da capacitância entre os enrolamentos do transformador.
A redução dos níveis de IEM conduzida pode ser obtida por 2 enfoques básicos: a
minimização dos fenômenos parasitas associados à sua produção e o uso de filtros de linha.
A redução do corrente relacionada à fuga entre transistor e dissipador pode ser obtida com
o uso de isolantes que impliquem em menor capacitância, o que nem sempre é possível conciliar
com a potência a ser dissipada ou com o custo (isolantes cerâmicos são mais caros e frágeis).
Outra idéia é isolar o dissipador do condutor terra. O efeito prático desta medida é criar
uma capacitância entre o dissipador e a carcaça da fonte, que pode ser de valor muito menor que
a capacitância com o transistor. Como ambas estão associadas em série, o efeito resultante é
minimizado, em geral, atingindo-se poucos pF.
A redução da capacitância entre enrolamentos de um transformador pode ser obtida por
meio do uso de uma blindagem eletrostática colocada entre primário e secundário.
Quanto aos filtros de linha, seu objetivo é criar um caminho de baixa impedância de modo
que a componentes de corrente em alta freqüência circulem por tais caminhos, e não pela linha.
Deve-se considerar 2 tipos de corrente: a simétrica e a assimétrica.
No caso de correntes simétricas (ou de modo diferencial), sua existência na linha de
alimentação se deve ao próprio chaveamento da fonte. A figura a seguir mostra esta situação. A
redução da circulação pela linha pode ser obtida pelo uso de um filtro de segunda ordem, com a
capacitância oferecendo um caminho de baixa impedância para a componente de corrente que se
deseja atenuar. Os indutores criam uma oposição à fuga da corrente para a rede. Em 60Hz a
queda sobre tais indutâncias deve ser mínima.
Já para as correntes assimétricas (ou de modo comum), como sua principal origem está no
acoplamento capacitivo do transistor com a terra, a redução se faz também com um filtro de

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segunda ordem. No entanto, o elemento indutivo deve ser do tipo acoplado e com polaridade
adequada de enrolamentos, de modo que represente uma impedância elevada para correntes
assimétricas, mas não implique em nenhuma impedância para a corrente simétrica. Os
capacitores fornecem o caminho alternativo para a passagem de tal componente de corrente,
como se observa na figura 1.7.

rede
.. fonte

aterramento
Filtro de linha

Figura 1.7 Circuito típico com filtro de linha.

1.6 A faixa intermediária (3 kHz a 148,5 kHz): Transmissão de sinais pela rede elétrica de
baixa tensão

Nesta faixa de freqüência, a rede elétrica (baixa tensão) pode ser utilizada para a
transmissão de sinais, seja na rede de distribuição pública, seja no interior de uma instalação de
consumidor [1.8]. Indicam-se as bandas de freqüência indicadas a cada tipo de usuário, os limites
de tensão de saída dos sinais e os limites de distúrbios conduzido e irradiado, além dos métodos
de medida.
A faixa de 3 a 9 kHz é limitada aos fornecedores de energia elétrica. Eventualmente, com
autorização do fornecedor, o usuário pode utilizar também esta faixa dentro de suas instalações.
Na faixa de 9 a 95 kHz, o uso é exclusivo do fornecedor de energia elétrica e seus licenciados.
Nas faixas de 95 a 125 kHz e de 140 a 148,5 kHz, o uso é exclusivamente privado, e seu uso não
exige um protocolo de acesso. Entre 125 e 140 kHz o uso é também privado, mas com a
necessidade de um protocolo de acesso.

1.7 Bibliografia:

[1.1] Mauro Crestani, "Com uma terceira portaria, o novo fator de potência já vale em Abril".
Eletricidade Moderna, Ano XXII, n° 239, Fevereiro de 1994

[1.2] IEC 1000-3-2: "Electromagnetic Compatibility (EMC) - Part 3: Limits - Section 2: Limits
for Harmonic Current Emissions (Equipment input current < 16A per phase)".
International Electrotechnical Commision,, First edition 1995-03.

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[1.3] Ivo Barbi e Alexandre F. de Souza, Curso de "Correção de Fator de Potência de Fontes de
Alimentação". Florianópolis, Julho de 1993.

[1.4] IEEE Recommended Practices and Requirements for Harmonic Control in Electric Power
System. Project IEEE-519. Outubro 1991.

[1.5] International Standard CISPR11, International Committee on Radio Interference: "Limits


and Methods of Measurements of Electromagnetic Disturbance Characteristics of
Industrial, Scientific and Medical (ISM) Radio-frequency Equipment", 1990

[1.6] International Standard CISPR16, International Committee on Radio Interference:


"C.I.S.P.R. Specification for Radio Interference Measuring Apparatus and Measuring
Methods", 1993.

[1.7] E. F. Magnus, J. C. M. de Lima, V. M. Canali, J. A. Pomilio and F. S. dos Reis: “Tool for
Conducted EMI and Filter Design”, Proc. Of the IEEE IECON 2003, Roanoke, USA,
Nov. 2003, pp. 23262331.

[1.8] European Standard 50065-1, European Committee for Eletrotechnical Standardization:


“Signaling on low-voltage electrical installations in the frequency range 3 kHz to 148.5
kHz - Part 1: General requirements, frequency bands and electromagnetic disturbances”,
Jan. 1991

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2. CARACTERÍSTICAS GERAIS DOS PRÉ-REGULADORES DE


FATOR DE POTÊNCIA

2.1 Desvantagens do baixo fator de potência (FP) e da alta distorção da corrente

Consideremos aqui aspectos relacionados com o estágio de entrada de fontes de


alimentação. As tomadas da rede elétrica doméstica ou industrial possuem uma corrente
(RMS) máxima que pode ser absorvida (tipicamente 15A nas tomadas domésticas).
A figura 2.1 mostra uma forma de onda típica de um circuito retificador
alimentando um filtro capacitivo. Notem-se os picos de corrente e a distorção provocada
na tensão de entrada, devido à impedância da linha de alimentação. O espectro da corrente
mostra o elevado conteúdo harmônico, cujas harmônicas excedem as especificações da
norma IEC 1000-3-2.

Vin
Vcc
Vac Carga

10A

1.0A

100mA
0

10mA
-

1.0mA
0Hz 0.2KHz 0.4KHz 0.6KHz 0.8KHz 1.0KHz 1.2KHz 1.4KHz1.6KH
-
0

Figura 2.1 Circuito, corrente de entrada e tensão de alimentação (Vin) de retificador


alimentando filtro capacitivo. Espectro da corrente.

Consideremos os dados comparativos da tabela I [2.1]

Tabela I
Comparação da potência ativa de saída

Convencional PFP
Potência disponível 1440 VA 1440 VA
Fator de potência 0,65 0,99
Eficiência do PFP 100% 95%
Eficiência da fonte 75% 75%
Potência disponível 702 W 1015 W

Nota-se que o baixo fator de potência da solução convencional (filtro capacitivo) é


o grande responsável pela reduzida potência ativa disponível para a carga alimentada.

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Podem ser citadas como desvantagens de um baixo FP e elevada distorção os


seguintes fatos [2.1]:
• A máxima potência ativa absorvível da rede é fortemente limitada pelo FP;
• As harmônicas de corrente exigem um sobre-dimensionamento da instalação elétrica e
dos transformadores, além de aumentar as perdas (efeito pelicular);
• A componente de 3a harmônica da corrente, em sistema trifásico com neutro, pode ser
muito maior do que o normal;
• O achatamento da onda de tensão, devido ao pico da corrente, além da distorção da
forma de onda, pode causar mau funcionamento de outros equipamentos conectados à
mesma rede;
• As componentes harmônicas podem excitar ressonâncias no sistema de potência,
levando a picos de tensão e de corrente, podendo danificar dispositivos conectados à linha.

2.2 Soluções passivas

Soluções passivas para a correção do FP [2.2] [2.3] [2.4] oferecem características


como robustez, alta confiabilidade, insensibilidade a surtos, operação silenciosa. No
entanto, existem diversas desvantagens, tais como:
• São pesados e volumosos (em comparação com soluções ativas);
• Afetam as formas de onda na freqüência fundamental;
• Alguns circuitos não podem operar numa larga faixa da tensão de entrada (90 a 240V);
• Não possibilitam regulação da tensão;
• A resposta dinâmica é pobre;
• O correto dimensionamento não é simples.
A principal vantagem, óbvia, é a não-presença de elementos ativos.
A colocação de um filtro indutivo na saída do retificador (sem capacitor) produz
uma melhoria significativa do FP uma vez que é absorvida uma corrente quadrada da rede,
o que leva a um FP de 0,90. Como grandes indutâncias são indesejáveis, um filtro LC pode
permitir ainda o mesmo FP, mas com elementos significativamente menores [2.2].
Obviamente a presença do indutor em série com o retificador reduz o valor de pico com
que se carrega o capacitor (cerca de 72% num projeto otimizado). A figura 2.2 mostra a
estrutura do filtro e formas de onda com os respectivos espectros..

vac Carga

Figura 2.2 a) Filtro LC de saída

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50
tensão

C
LC

-50
0s 20ms 40ms 60ms 80ms 100ms

Time
20A

LC

0A
0Hz 0.2KHz 0.4KHz 0.6KHz 0.8KHz 1.0KHz 1.2KHz

Frequency

Figura 2.2 b) Formas de onda e espectro da corrente de retificador monofásico com filtro
capacitivo e com filtro LC (ideal).

Outras alternativas, que não provocam a redução da componente fundamental da


tensão empregam filtros LC paralelo sintonizados (na 3a harmônica) na entrada do
retificador [2.3]. Com tal circuito, mostrado na figura 2.3. chega-se a FP elevador (0,95),
especialmente pela redução da terceira harmônica.

Vac Carga

Figura 2.3 a) Filtro LC de entrada, sintonizado na 3a harmônica


20A

-20A
0s 20ms 40ms 60ms 80ms 100ms
Time
12A

0A
0Hz 0.2KHz 0.4KHz 0.6KHz 0.8KHz 1.0KHz
Frequency

Figura 2.3 b) Correntes na rede e na entrada do retificador e respectivos espectros.

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2.3 Soluções ativas

Os pré-reguladores de FP ativos empregam interruptores controlados associados a


elementos passivos.
Algumas topologias operam o interruptor na freqüência da rede (retificada), o que
implica no uso de indutores e capacitores dimensionados para baixa freqüência. A figura
2.4 mostra as formas de onda referentes a um conversor funcionando desta maneira [2.5].
O interruptor é acionado de modo a iniciar a corrente de linha antecipadamente (em
relação a quando aconteceria a carga do capacitor de saída).

0 Vac

120Hz

0s 5ms 10ms 15ms 20ms 25ms 30ms 35ms 40ms


.
Figura 2.4 Formas de onda e circuito com interruptor controlado na freqüência da rede
O emprego de um chaveamento em alta freqüência, no entanto, é mais utilizado,
uma vez que leva a uma drástica redução nos valores dos elementos passivos (indutores e
capacitores) utilizados.

2.3.1 Elementos de armazenamento de energia

A figura 2.5 mostra tensão e corrente senoidais e em fase, características ideais de


um PFP. A potência instantânea é também indicada. Usualmente as cargas alimentadas
consomem uma potência ativa constante, cujo valor é a média do produto da tensão pela
corrente (em 1/2 ciclo da rede). Quando a energia absorvida da rede é superior à
consumida pela carga, a diferença deve ser armazenada, de modo que possa ser recuperada
no intervalo em que a entrada é menor do que a saída.

Pot. saída

Tensão

Corrente

0s 10ms 20ms 30ms


Figura 2.5 Potência instantânea de entrada para tensão e corrente senoidais.

A energia consumida pela carga em 1/4 do período da rede é dada por:


T
Wdc = Pout (2.1)
4

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A energia absorvida da rede no mesmo intervalo é:


⎛T T ⎞
T/4

Wac = ∫ Pout ⋅ ( 1 − sin(2 wt ) dt = Pout ⎜ − ⎟ (2.2)


0
⎝ 4 2π ⎠

A mínima energia a ser armazenada é a diferença entre os 2 valores anteriores:


T Pout
Wmin = Wdc − Wac = Pout = (2.3)
2π ω

A energia pode ser acumulada num indutor ou num capacitor. A mínima indutância
é:
Pout
L min = (2.4)
ω ⋅ I 2pk

onde I2pk é a corrente de pico pelo indutor.


A mínima capacitância é:
P
C min = out2 (2.5)
ω ⋅ Vpk

onde V2pk é a tensão de pico sobre o capacitor.


Note-se que se os valores mínimos fossem utilizados, a energia acumulada nos
elementos se esgotaria (por exemplo, a tensão cairia a zero no capacitor). Tal situação, em
geral, não é admissível para a carga ligada após o PFP, o que leva à exigência de
componentes com valor muito maior do que o mínimo.
Devido ao elevado valor das indutâncias geralmente necessário para o uso de
acumulação indutiva (possível nos conversores abaixador e abaixador-elevador de tensão),
tal tipo de solução não é normalmente usada. Desta forma, o estágio de saída dos PFP
utiliza capacitores, cuja função é manter razoavelmente constante a tensão em sua saída,
mesmo com a elevada variação da tensão de entrada (retificador monofásico). Ou seja, este
capacitor deve ser capaz de absorver toda a ondulação em 120Hz.

2.4 Referências Bibliográficas

[2.1] J. Klein and M. K. Nalbant: “Power Factor Correction - Incentives. Standards and
Techniques”. PCIM, June 1990, pp. 26-31
[2.2] S. B. Dewan: “Optimum Input and Output Filters for a Single-Phase Rectifier
Power Supply”. IEEE Trans. On Industry Applications, vol. IA-17, no. 3, May/June
1981
[2.3] A. R. Prasad, P. D. Ziogas and S. Manlas: “A Novel Passive Waveshaping Method
for Single-Phase Diode Rectifier”. Proc. Of IECON ‘90, pp. 1041-1050
[2.4] R. Gohr Jr. and A. J. Perin: “Three-Phase Rectifier Filters Analysis”. Proc. Of
Brazilian Power Electronics Conference, COBEP ‘91,Florianópolis - SC, pp. 281-
286.
[2.5] I. Suga, M. Kimata, Y. Ohnishi and R. Uchida: “New Switching Method for Single-
phase AC to DC converter”. IEEE PCC ‘93, Yokohama, Japan, 1993.

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3. CONVERSOR ELEVADOR DE TENSÃO (BOOST) COMO PFP

Este tipo de conversor tem sido o mais utilizado como PFP em função de suas vantagens
estruturais como [3.1]:
• a presença do indutor na entrada absorve variações bruscas na tensão de rede (“spikes”), de
modo a não afetar o restante do circuito, além de facilitar a obtenção da forma desejada da
corrente (senoidal).
• Energia é armazenada no capacitor de saída, o qual opera em alta tensão (Vo>E), permitindo
valores relativamente menores de capacitância.
• O controle da forma de onda é mantido para todo valor instantâneo da tensão de entrada,
inclusive o zero.
• Como a corrente de entrada não é interrompida (no modo de condução contínuo), as
exigências de filtros de IEM são minimizadas.
• O transistor deve suportar uma tensão igual à tensão de saída e seu acionamento é simples,
uma vez que pode ser feito por um sinal de baixa tensão referenciado ao terra.

Como desvantagens tem-se:


• O conversor posterior deve operar com uma tensão de entrada relativamente elevada.
• A posição do interruptor não permite proteção contra curto-circuito na carga ou sobre-
corrente.
• Não é possível isolação entre entrada e saída.

É analisado a seguir o princípio de funcionamento deste conversor.

3.4 O Conversor elevador de tensão com entrada CC

L io D
ii +
+ Ro
E Vs
S Co Vo
-

Figura 3.1 Conversor elevador de tensão com entrada CC

Consideremos inicialmente um conversor Elevador de tensão com entrada CC (fig. 3.1).


As formas de onda típicas estão mostradas na figura 3.2.
Quando o transistor é ligado (intervalo t1=δ.T), a tensão E é aplicada ao indutor. O diodo
fica reversamente polarizado (pois Vo>E). Acumula-se energia em L, a qual será enviada ao
capacitor e à carga quando T desligar. A corrente de saída, io, é sempre descontínua, enquanto ii
(corrente de entrada) pode ser contínua ou descontínua.

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Condução contínua Condução descontínua


δT t2 tx δT
ΔI
ii

io

is

Vo Vo
vs E
E

0 T 0 T
is: corrente pelo transitor vs: tensão sobre o transistor

Figura 3.2 Formas de onda típicas de conversor elevador de tensão com entrada CC

3.4.1 Condução contínua


Com o transistor ligado, a corrente pelo indutor cresce linearmente. O diodo está
reversamente polarizado (Vo>E) e a carga é alimentada apenas pelo capacitor Co. Quando o
interruptor S é aberto, a corrente da indutância tem continuidade pela condução do diodo. A
energia armazenada em L é transferida para a saída, recarregando o capacitor e alimentando a
carga. No modo contínuo, ao se iniciar o ciclo seguinte, ainda existe corrente pelo indutor.
Quando o transistor conduz (intervalo δT), a tensão sobre a indutância é igual à tensão de
alimentação, E. Durante a condução do diodo de saída, esta tensão se torna (Vo-E). Do balanço
de tensões, obtém-se a relação estática no modo contínuo:

E
Vo = (3.1)
1− δ

Teoricamente a tensão de saída vai para valores infinitos para ciclos de trabalho que
tendam à unidade. No entanto, devido principalmente às perdas resistivas da fonte, dos
semicondutores e do indutor, o valor máximo da tensão fica limitado, uma vez que a potência
dissipada se torna maior do que a potência entregue à saída.

3.4.2 Condução descontínua


Caso, durante a condução do diodo de saída, a energia armazenada na indutância durante a
condução do transistor se esgote, ou seja, se a corrente vai a zero, tem-se caracterizado o modo de
condução descontínuo.
Neste caso tem-se um terceiro intervalo, chamado tx na figura 3.2, no qual não existe
corrente pelo indutor. A característica estática é escrita como:

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tx
1− E 2 ⋅ T ⋅ δ2
T
Vo = E ⋅ =E+ (3.2)
tx 2 ⋅ L ⋅ Io
1− δ −
T

O limiar para a passagem de uma situação de condução contínua para a descontínua


ocorre quando a ondulação da corrente (ΔI) é igual ao dobro da corrente média de entrada, Ii.
Esta situação implica num limite inferior para a indutância, a qual depende de um valor mínimo
para a corrente de saída. Para permitir condução contínua a indutância deve ser:

E ⋅ δ ⋅ (1 − δ) ⋅ T
L min = (3.3)
2 ⋅ Io min

No modo de condução descontínua o transistor entra em condução com corrente zero e o


diodo desliga também com corrente nula, o que colabora para reduzir as perdas da topologia. Por
outro lado, para obter uma mesma corrente média de entrada os valores de pico da corrente
devem ser maiores, aumentando as perdas em condução.

3.5 Conversor elevador de tensão operando como PFP em condução descontínua

Consideremos o circuito da figura 3.3, a qual mostra um conversor elevador de tensão


funcionando como PFP monofásico [3.2].

ii

Va c

Figura 3.3 Conversor elevador de tensão operando como pré-regulador de fator de potência

Consideremos que o conversor opera em condução descontínua, ou seja, a cada período de


chaveamento a corrente pelo indutor vai a zero.
Com freqüência constante e modulação por largura de pulso, com o tempo de condução
determinado diretamente pelo erro da tensão de saída, o valor do pico da corrente no indutor de
entrada é diretamente proporcional à tensão de alimentação. A figura 3.4 mostra formas de onda
típicas, indicando a tensão de entrada (senoidal) e a corrente pelo indutor (que é a corrente
absorvida da rede), a qual apresenta uma variação, em baixa freqüência, praticamente senoidal.
Seja a tensão de entrada dada por:

v ac ( t ) = Vp ⋅ sin(ωt ) (3.4)

A corrente de pico em cada período de chaveamento é:


δ⋅T
Î i ( t ) = v ac ( t ) ⋅ (3.5)
L

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Tensão de entrada

Corrente no indutor

Figura 3.4 Formas de onda de conversor elevador de tensão, operando como PFP no modo
descontínuo.

O intervalo de diminuição da corrente, de seu valor de pico até zero, em cada período de
comutação, é:

v ac
t2 = ⋅δ⋅T (3.6)
Vo − v ac

Existe um máximo ciclo de trabalho que permite ainda condução descontínua, o qual é
determinado no pico da tensão de entrada, e vale:

Vo − Vp
δ max = (3.7)
Vo

Sejam:
Vp
α= ≤1 (3.8)
Vo

É fácil demonstrar que


α = 1 − δ max (3.9)

3.5.1 Característica de entrada


A corrente de entrada tem uma forma triangular. Seu valor médio, calculado em cada ciclo
de chaveamento, é dado por:

Vo ⋅ δ 2 ⋅ T α ⋅ sin( ωt )
I i S (t) = ⋅ (3.10)
2⋅L 1 − α ⋅ sin( ωt )

A corrente média de entrada, calculada em um semi-período da rede será:

Vo ⋅ δ 2 ⋅ T ⎧⎪ 2 ⎡π −1 ⎤⎫⎪
Ii = ⎨ −π + ⋅ ⎢ + sin (α) ⎥⎬ (3.11)
2 ⋅ π ⋅ L ⎪⎩ 1 − α2 ⎣2 ⎦⎪⎭

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Note-se que a corrente média instantânea de entrada (eq. 3.10) não é senoidal! Isto ocorre
porque no intervalo t2 a redução da corrente depende também da tensão de saída - que é
constante, e não apenas da tensão senoidal de entrada. Quanto maior for Vo, menor será t2.
Assim, a corrente média dependerá mais efetivamente apenas de Îi(t), tendendo a uma forma
senoidal.
A figura 3.5 mostra a corrente no indutor de entrada (não filtrada) e a corrente na rede,
após a ação de um filtro que praticamente elimina as componentes de alta freqüência.

Figura 3.5 Corrente no indutor (superior) e na rede (inferior), após filtragem.

A corrente eficaz de entrada, calculada a partir da expressão para a corrente média


instantânea de entrada é dada por:

Vo ⋅ δ 2 ⋅ α ⋅ T
Ii RMS = ⋅ Z(α) (3.12)
2⋅ π ⋅L

onde
2 π 2 ⋅ α2 − 1 2 ⎡π ⎤
Z(α) = 2 + + 2 ⋅ ⋅ ⎢ + a sin(α) ⎥ (3.13)
(1 − α ) α α ⋅ (1 − α ) 1 − α 2 ⎣2 ⎦

A potência ativa de entrada é:

1
π
Vp ⋅ δ 2 ⋅ Vo ⋅ T
Pi = ⋅ ∫ v ac ⋅ I is ⋅ dωt = ⋅ Y ( α) (3.14)
π 0 2⋅π⋅L

onde
π 2 ⎡π ⎤
Y(α) = −2 − + ⋅ ⎢ + a sin(α) ⎥ (3.15)
α α ⋅ 1− α2 ⎣2 ⎦

O fator de potência é dado por:

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2 ⋅ Y(α)
FP = (3.16)
π ⋅ α ⋅ Z(α)

A figura 3.6 mostra a variação do FP e da TDH com a tensão de saída.

1 0.6

0.4
FP( α ) 0.95 TDH( α )

0.2

0.9 0
0 0.5 1 0 0.5 1
α α
Figura 3.6 Variação do fator de potência e da taxa de distorção harmônica.

O FP é menor do que a unidade porque a corrente de entrada é não-senoidal. Quando α


tende a zero, a corrente média tende a ser senoidal e, assim, o fator de potência tende a 1.
Como estes resultados são obtidos a partir da expressão da corrente média instantânea de
entrada, eles ignoram o efeito advindo do chaveamento em alta freqüência sobre o valor eficaz
da corrente e sobre o fator de potência. Em outras palavras, estes valores para o Fator de Potência
seriam os obtidos com a inclusão de um filtro passa-baixas na entrada do conversor, de modo que
a corrente absorvida da rede fosse apenas a sua componente média instantânea, ficando as
harmônicas de alta freqüência sendo fornecidas pela capacitância deste filtro.
Refazendo este estudo e considerando os efeitos do chaveamento em alta freqüência, tem-
se que a nova expressão para a corrente eficaz de entrada será:

Vo ⋅ T ⋅ δ α ⋅ δ ⋅ Y(α)
I *i = ⋅ (3.17)
RMS
L 3⋅ π

Recalculando o fator de potência tem-se:

3 ⋅ (1 − α) ⋅ Y(α)
FP * =
2⋅π ⋅α
1
(3.18)
0.8
A figura 3.7 mostra a FP( α)
variação do fator de potência,
0.6
considerando o efeito do
chaveamento em alta freqüência,
em função de α. Como era de se 0.4
0 0.2 0.4 0.6 0.8 1
esperar, o valor obtido é menor do α
que o mostrado na figura 3.6, uma Figura 3.7 Variação do fator de potência
vez que a distorção harmônica considerando o efeito do chaveamento em alta
relativa ao chaveamento é levada freqüência.
em consideração.

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3.5.2 Característica de saída


A corrente de saída existe durante a condução do diodo. Seu valor médio, em cada
período de chaveamento vale:

Î i (t) ⋅ t 2
Io' = (3.19)
2⋅T

Substituindo as expressões de Îi(t) e t2, tem-se


Vp ⋅ δ 2 ⋅ T α ⋅ sin 2 (ωt )
Io' = ⋅ (3.20)
2⋅L 1 − α ⋅ sin(ωt )

A corrente média de saída em um semi-período da rede é:

π Vp ⋅ δ 2 ⋅ T
Io = ⋅ ∫ Io'⋅d(ωt ) =
1
⋅ Y(α) = K'⋅δ 2 ⋅ Y(α) (3.21)
π 0 2⋅π⋅L

Vp ⋅ T
onde K' = (3.21.a)
2⋅π⋅L

A figura 3.8 mostra a variação da corrente de saída (normalizada em relação a K’) para
diferentes valores de α (relação de tensão entrada/saída), em função do ciclo de trabalho.

0.5

0.4 α=0,5
α=0,3
α=0,7
Ιο

0.2
α=0,1

0
0 0.2 0.4 0.6 0.8 1
δ
Figura 3.8 Variação da corrente média de saída (normalizada em relação a K’), em função do
ciclo de trabalho, para diferentes relações de tensão, com limitação de δ-max..

3.5.3 Indutância de entrada


O máximo ciclo de trabalho obtido anteriormente define uma máxima corrente de saída a
qual, para uma certa tensão de saída, implica na máxima potência para o conversor. Esta potência
é dada por:

Po max = Vo ⋅ Io max = Vo ⋅ K'⋅δ max 2 ⋅ Y(α) = Vo ⋅ K'⋅(1 − α) 2 ⋅ Y(α) (3.22)

Com (3.21) e (3.23) determina-se a máxima indutância de entrada para a qual ocorre
operação no modo descontínuo:

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Vp2 ⋅ T (1 − α) 2 (1 − α) 2
L max = ⋅ ⋅ Y(α) = K"⋅ ⋅ Y(α) (3.23)
2 ⋅ π ⋅ Po max α α

A figura 3.9 mostra o valor da indutância máxima (parametrizada em relação a K”) em


função da relação de tensões.

L( α ) 1

0
0 0.2 0.4 0.6 0.8 1
α
Figura 3.9 Máxima indutância de entrada (parametrizada) em função de α

3.6 Conversor elevador de tensão operando como PFP em condução crítica

A fim de reduzir a corrente eficaz pelos interruptores, que é relativamente elevada em


função da operação no modo descontínuo, pode-se fazer o circuito operar no modo de condução
crítico [3.3], ou seja, fazendo o transistor entrar em condução no momento em que a corrente
atinge o zero. Desta forma se mantém a característica de fazer o desligamento do diodo e a
entrada em condução do transistor sob corrente nula. Como não existe o intervalo de corrente
zero, naturalmente a corrente eficaz de entrada é menor do que a do caso anterior.
A obtenção de um elevado FP é feita naturalmente, definindo-se um tempo de condução
constante para o transistor. Isto faz com que os picos da corrente de entrada naturalmente sigam
uma envoltória senoidal. O tempo desligado é variável, o que faz com que a freqüência de
funcionamento não seja fixa.
O circuito, também aqui, tem necessidade apenas da malha de tensão, que determina a
duração do tempo de condução. O controle pode ser feito por CIs dedicados os quais detectam o
momento em que a corrente se anula, levando à nova condução do transistor.
Consideremos a corrente do indutor como mostrada na figura 3.10.
Do balanço de tensão sobre a indutância, obtém-se uma expressão para o ciclo de
trabalho:

Vo − Vp ⋅ sin(ωt)
δ( t) = = 1 − α ⋅ sin(ωt) (3.24)
Vo

Os picos de corrente na entrada são obtidos de:

Vp ⋅ sin(ωt ) ⋅ δ ⋅ T
Î( t ) = (3.25)
L

A corrente média de entrada em cada período de chaveamento é dada por:

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1 ⎡ Î( t ) ⋅ δ ⋅ T Î( t ) ⋅ (1 − δ) ⋅ T ⎤ Î p ( t )
Ii s ( t ) = ⋅ + ⎥= 2
T ⎢⎣
(3.26)
2 2 ⎦

A corrente média de entrada, que segue um


δ T (1−δ)Τ
comportamento senoidal, tem seu valor máximo
coincidente com o pico da tensão.
Îp Seja Îp o valor de pico máximo da corrente de
entrada. A potência ativa de entrada, em cada
semiciclo da rede, é dada por:

1π Îp Vp ⋅ Î p
Pi = ∫ Vp ⋅ sinθ ⋅ ⋅ sinθ ⋅ dθ = (3.27)
T π0 2 4

Figura 3.10 Corrente no indutor no O valor eficaz da corrente de entrada


modo de condução crítico. considerando cada ciclo de chaveamento, segue uma
variação senoidal, cujo valor é:

Îp
Ii RMS ( t ) = ⋅ sin(ωt ) (3.28)
3

Esta expressão inclui os efeitos do chaveamento em alta freqüência. A corrente eficaz de


entrada e o fator de potência são, respectivamente:

Îp
Ii = (3.29)
6

Vp ⋅ Î p 2 6
FP = ⋅ ⋅ = 0,866 (3.30)
4 Vp Î p

A TDH é de 57%.
Note que neste caso o FP é constante, independendo da tensão de saída. Seu valor
coincide com o valor máximo obtido no modo descontínuo (figura 3.8 para α=0).
Uma melhoria deste resultado pode ser conseguida com a inclusão de um filtro na entrada
do retificador, de modo que as componentes de alta freqüência sejam fornecidas pelo capacitor,
enquanto a rede fornece apenas a corrente média do indutor. Desta forma, idealmente, o FP se
eleva para 1.
Do ponto de vista dos níveis de IEM conduzida, uma topologia que opere com freqüência
variável é, em princípio, mais interessante, uma vez que o espectro aparece distribuído em torno
da freqüência média e não concentrado na freqüência de chaveamento [3.4], reduzindo a
amplitude. Por outro lado, a variação da freqüência obriga dimensionar os componentes de filtro
para a mínima freqüência, de modo que, em valores mais elevados tem-se um super-
dimensionamento.

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3.7 Conversor elevador de tensão operando como PFP em condução contínua

O conversor elevador de tensão operando no modo contínuo tem sido a topologia mais
utilizada como PFP devido às suas vantagens, especialmente a reduzida ondulação presente na
corrente de entrada. Além disso os componentes ficam sujeitos a menores valores de corrente (em
relação às soluções apresentadas anteriormente). Por outro lado, exige, além da realimentação da
tensão de saída (variável a ser controlada), uma medida do valor instantâneo da tensão de entrada,
a fim de permitir o adequado controle da corrente absorvida da rede. Problemas de estabilidade
também são característicos, devido à não-linearidade do sistema.

3.7.1 Princípio de operação


Considere-se como exemplo o funcionamento da topologia utilizando um circuito
integrado típico, o qual opera a freqüência constante, com controle tipo MLP.
O CI produz uma corrente de referência que acompanha a forma da tensão de entrada.
Esta referência é formada pela multiplicação de um sinal de sincronismo (que define a forma e a
freqüência da corrente de referência) e de um sinal da realimentação da tensão de saída (o qual
determina a amplitude da referência de corrente).
Mede-se a corrente de entrada, a qual será regulada de acordo com a referência gerada.
Gera-se um sinal que determina a largura de pulso a ser utilizada para dar à corrente a forma
desejada. A figura 3.11 mostra o diagrama geral do circuito e do controle. O filtro passa-baixas
(FPB) faz uma estimativa do valor eficaz da tensão, com um tempo de resposta menor que o da
malha da tensão de saída, de modo que funciona como um ajuste antecipativo da amplitude da
referência de corrente frente a variações na tensão de entrada.
O ciclo de trabalho varia com o valor instantâneo da tensão de entrada. Dada a eq. (3.1), o
valor da largura de pulso, para cada semiciclo da rede, é obtido de:

Vp ⋅ sin(θ)
δ(θ) = 1 − (3.31)
Vo

Vac Vo

MLP

Regulador
de corrente

+ Iref
K A
A.B - Vref
Regulador
FPB C C2 B de Tensão
+

Figura 3.11 Diagrama de blocos do conversor elevador de tensão, com circuito de controle por
corrente média.

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A figura 3.12 mostra uma forma de onda típica da corrente no conversor. A ondulação da
corrente também depende do valor instantâneo da tensão de entrada:

T
ΔI = Vp ⋅ sin(θ) ⋅ δ ⋅ (3.32)
L

Substituindo (3.31) em (3.32) tem-se:

Vp ⋅ T ⎡ Vp ⎤
ΔI = ⋅ ⎢ sin(θ) − ⋅ sin 2 (θ) ⎥ (3.33)
L ⎣ Vo ⎦

Corrente no interruptor
Corrente no indutor

Figura 3.12 Formas de onda típicas da corrente pelo indutor e no interruptor.

A figura 3.13 mostra as formas de onda para um conversor SEPIC PFP. O fator de
potência resultante é unitário. A corrente segue a forma de onda da tensão de entrada.

Figura 3.13 – Tensão e corrente de entrada em conversor PFP: (ug(t) 100V/div; ig(t) 5A/div;
pg(t) = ig(t)⋅ug(t) 1kW/div

A figura 3.14 mostra a variação parametrizada da ondulação da corrente (a) e o ângulo em


que ocorre a máxima ondulação (b).
Derivando a equação (3.33) em relação ao ângulo θ e igualando a zero, obtém-se, em
função da relação de tensão (Vp/Vo=α), o ângulo em que é máxima a variação da corrente.
Conhecido este ângulo, θmax, pode-se determinar a variação (normalizada) da corrente, ΔI*, como
mostrado na figura 3.13. Note-se que para valores α<0,5 θmax é constante.

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0.6

(a) α=0,5
0.4

α=0,7
0.2

α=0,9
0
0 0.5 1 1.5 2 2.5 3 θ
(b) θ max (rad) 2

1.5

0.5
0 0.5 1 α
Figura 3.13 (a) Variação da ondulação de corrente (normalizada) em função do ângulo da tensão
da rede, parametrizada em relação ao parâmetro α;
(b) Ângulo em que ocorre a máxima ondulação, em função da relação ao parâmetro α.

Uma expressão para o valor da indutância pode ser dada por:

ΔI * ⋅Vp ⋅ T
L= (3.34)
ΔI MAX
onde:
ΔI* = sin θ − α ⋅ sin 2 θ (3.35)

O valor máximo recomendado para a ondulação da corrente, ΔIMAX é em torno de 20% do


seu valor de pico.

3.8 Conversor elevador de tensão operando em condução contínua e controle por histerese

Neste caso, a ondulação da corrente de entrada é mantida constante, fazendo-se com que
seu valor médio siga uma referência senoidal. Como a ondulação é constante, a freqüência de
chaveamento varia em função da tensão de entrada. A figura 3.15 mostra o diagrama esquemático
do sistema.
Como ΔI é constante, pode-se escrever:

δ⋅T T
ΔI = Vp ⋅ sin θ ⋅ = ( Vo − Vp ⋅ sin θ) ⋅ (1 − δ) ⋅ (3.36)
L L

O valor do ciclo de trabalho é obtido de (3.36):

δ = 1 − α ⋅ sin θ (3.37)

De (3.36) e (3.37) pode-se obter uma expressão para a freqüência de chaveamento:

Vp
f CHAV = ⋅ [ sin θ − α ⋅ sin 2 θ] (3.38)
L ⋅ ΔI

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Esta última equação é igual a (3.33), apenas tendo a freqüência como variável.
Em relação ao método anterior, uma vantagem é a melhor estabilidade do sistema, dada a
robustez do controle por histerese. A variação da freqüência é um inconveniente para um
dimensionamento ótimo dos elementos de filtragem. A figura 3.15. mostra resultado de
simulação. Nota-se que a ondulação da corrente se mantém constante para qualquer tensão de
entrada.

Vac Vo

Comparador com histerese

Iref
K A
A.B - Vref
Regulador
FPB C C2 B de Tensão
+

Figura 3.15 Diagrama do circuito controlado via histerese

Tensão de entrada

Corrente de entrada

0
0s 2ms 4ms 6ms 8ms 10ms

Figura 3.16 Simulação de conversor elevador de tensão operando como PFP, com controle por
histerese.

3.9 Referências Bibliográficas

[3.1] B. Mammano and L. Dixon: “Choose the Optimum Topology for High Power Factor
Supplies”. PCIM, March 1991, pp. 8-18.
[3.2] I. Barbi e A. F. De Souza: Curso de “Correção de Fator de Potência de Fontes de
Alimentação”. Florianópolis, Julho de 1993.
[3.3] J. H. Alberkrack and S. M. Barrow: “Power Factor Controller IC Minimizes External
Components”. PCIM, Jan. 1993, pp. 42-48.
[3.4] J. M. Bourgeois: “Circuits for Power Factor Correction with Regards to Mains Filtering”.
Application Note SGS-Thomson, April 1993.

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4. CONVERSOR ABAIXADOR-ELEVADOR DE TENSÃO COMO PRÉ-


REGULADOR DE FATOR DE POTÊNCIA

Este tipo de conversor permite ter na saída tensões menores ou maiores do que a tensão de
entrada. Funcionando como PFP suas principais vantagens são:
• Facilidade de introdução de isolamento entre entrada e saída.
• Em condução descontínua, operando em freqüência fixa e MLP, o circuito emula uma carga
resistiva, ou seja, funciona como PFP. Desta forma, não há necessidade de um multiplicador no
circuito de controle.
• Sobre-corrente e curto-circuitos na carga podem ser controlados pelo interruptor.

Como desvantagens pode-se citar:


• Inversão na polaridade da tensão de saída no circuito não isolado, trazendo alguma dificuldade
adicional para o controle.
• Elevado “stress” do interruptor (soma das tensões de entrada e de saída).
• Elevadas correntes RMS e de IEM conduzida, devido à operação no modo descontínuo.

4.4 Conversor abaixador-elevador com entrada CC

O circuito mostrado na figura 4.1.a. ilustra um conversor abaixador-elevador de tensão


(buck-boost ou flyback), com entrada CC. Em 4.1.b. tem-se o circuito com saída isolada.

Ro
E Vo E Vo

+ +
Np : Ns
(a) (b)
Figura 4.1 Conversor abaixador-elevador de tensão com entrada CC (a) e isolado (b)

Durante a condução do transistor, a tensão aplicada ao indutor é a tensão de entrada, a


corrente por ele cresce, acumulando energia no dispositivo. A saída é alimentada pelo capacitor.
Quando o transistor desliga, a continuidade da corrente se faz pela condução do diodo. A energia
acumulada em L é transferida para a saída, recarregando o capacitor e alimentando a carga. Note-
se a inversão na polaridade da tensão de saída em relação à entrada (circuito não isolado).
No caso da topologia com isolamento (que recebe usualmente o nome de "flyback"), é
importante observar-se que o elemento magnético opera como um indutor bifilar e não como um
transformador, uma vez que a corrente circula, em cada intervalo, em um dos enrolamentos e
nunca nos dois simultaneamente. Isto é, quando o transistor desliga, a continuidade no fluxo é
mantida pela condução de corrente pelo outro enrolamento.
Consideremos as formas de onda mostradas na figura 4.2, nas situações de condução
contínua e descontínua.

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Condução contínua Condução descontínua


δT t2 tx δT
ΔI
iL

io

is

E+Vo E+Vo
vs
E
E

0 T 0 T
is: corrente pelo transitor vs: tensão sobre o transistor
(a) (b)
Figura 4.2 Formas de onda do conversor abaixador-elevador de tensão operando em condução
contínua (a) e descontínua (b).

4.4.1 Modo contínuo


Neste caso a corrente pela indutância não vai a zero dentro de cada ciclo de chaveamento.
A tensão aplicada sobre ela é E, quando o transistor conduz e Vo quando o diodo conduz. Do
balanço de tensões, obtém-se a característica estática do conversor. Observe-se a inversão na
polaridade da tensão de saída. Para larguras de pulso inferiores a 50% a tensão de saída é menor
do que a tensão de entrada. Para valores maiores que 50%, a saída é maior.

Vo δ
= (4.1)
E 1− δ

O valor da indutância que determina a passagem da operação no modo contínuo para o


modo descontínuo é:

E ⋅ T ⋅ δ ⋅ (1 − δ) T ⋅ (1 − δ) 2 ⋅ Ro
L min = = (4.2)
2 ⋅ Io min 2

4.4.2 Modo descontínuo


A corrente de entrada, no modo descontínuo, independe da carga e tem o seguinte valor
médio:

δ2 ⋅ E ⋅ T
Ii = (4.3)
2⋅L

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Nesta situação, a corrente pelo diodo (no secundário) vai a zero antes do início da próxima
condução do transistor, existindo um intervalo (tx) no qual não existe corrente circulando pelo
elemento magnético. Desta maneira, a entrada em condução do transistor e o desligamento do
diodo ocorrem a corrente nula. A característica estática é descrita como:

Vo δ δ t2 2⋅L
= = , onde δ 2 = = (4.4)
E tx δ 2 T T ⋅ Ro
1− δ −
T

Uma característica interessante deste modo de operação é que o conversor funciona como
uma fonte de potência constante, pois Po independe da carga [4.1]:

E 2 ⋅ T ⋅ δ2
Po = Vo ⋅ Io = (4.5)
2⋅L

4.5 Conversor abaixador-elevador de tensão como PFP

A aplicação deste circuito como PFP ocorre com operação no modo descontínuo, uma vez
que naturalmente é emulada uma carga resistiva. A figura 4.3 mostra o diagrama do circuito.

ii Ro
Vac
L Vo
+

Figura 4.3. Conversor abaixador-elevador de tensão como PFP

A corrente média de entrada, em cada ciclo de chaveamento, tem uma forma triangular,
como mostrado na figura 4.2.b. (a corrente de entrada é igual à corrente pelo transistor, a menos
da retificação). O valor de pico depende do valor instantâneo da tensão de entrada [4.2] e, dados
os valores de entrada e de saída, existe uma máxima largura de pulso possível que garante a
operação no MCD.

Vp ⋅ δ max = Vo (1 − δ max ) ⇒ δ max =


Vo
Vp + Vo
δ δ 2 ⋅ T ⋅ v ac (ωt )
ii (t) = I p (t) ⋅ = (4.6)
2 2⋅L

Definindo uma resistência emulada, a qual é constante e dependente de parâmetros do


circuito, tem-se:

2⋅L
R em = (4.7)
δ2 ⋅ T

Ou seja, para freqüência e largura de pulso fixas, a rede “enxerga” uma carga resistiva,
isto é, a corrente média de entrada segue a variação da tensão.

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A figura 4.4 mostra a forma típica da corrente de entrada deste conversor (não filtrada),
juntamente com a corrente na rede após a filtragem. Nota-se uma forma de onda praticamente
senoidal.

Corrente de
entrada

Tensão da
rede
Corrente da
rede

Figura 4.4. Corrente de entrada de um pré-regulador de fator de potência tipo flyback

4.5.1 Cálculo das variáveis médias de entrada


Consideremos o chaveamento que ocorre quando a tensão de entrada está no pico. A
corrente média, calculada neste período de chaveamento é dada por:

Vp ⋅ δ 2 ⋅ T
Ii p = (4.8)
2⋅L

Os valores médios, calculados em cada período de chaveamento, seguem uma lei


senoidal. A potência média de entrada (ativa), calculada em um semiciclo da rede é dada por:

1π Vp ⋅ sin θ ⋅ δ 2 ⋅ T Vp2 ⋅ δ 2 ⋅ T
Pi = ∫ Vp ⋅ sin θ ⋅ ⋅ dθ = (4.9)
π0 2⋅L 4⋅L

4.5.2 Cálculo das variáveis eficazes de entrada


A corrente eficaz, calculada no período de chaveamento correspondente ao pico da tensão
de entrada é:

2
1 δ⋅T ⎛ Vp ⋅ t ⎞ V ⋅T⋅δ⋅ δ
IiRMS = ⋅ ∫ ⎜⎜ ⎟⎟ ⋅ dt = p (4.10)
T 0 ⎝ L ⎠ 3⋅L

A potência aparente de entrada e o fator de potência associado, levando em conta as


componentes de alta freqüência presentes na corrente, são:

Vp2 ⋅ T ⋅ δ ⋅ δ
Si = (4.11)
2⋅ 3⋅L

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FP = 0,866 ⋅ δ (4.12)

Nota-se que o FP depende da largura de pulso. O valor relativamente baixo (assim como o
do conversor elevador de tensão em condução descontínua e crítica) pode ser elevado com a
inclusão de um filtro capacitivo na entrada do retificador, de modo que as componentes
harmônicas sejam fornecidas por este componente, vindo da rede apenas a componente média da
corrente. Neste caso, como a corrente fornecida pela rede será a corrente média de entrada e,
como ela é senoidal, o fator de potência teórico é unitário.

4.6 Conversor abaixador-elevador com 2 interruptores

O circuito mostrado na figura 4.5 mostra um conversor não isolado, com característica de
abaixador-elevador de tensão. O interruptor de entrada (S1) permite uma redução da tensão média
(funcionando como abaixador de tensão) fornecida ao estágio seguinte, o qual é um conversor
elevador de tensão.
D1

ii L +
S2 Ro
Vac
D2 S1 Vo

Figura 4.5 Conversor abaixador-elevador de tensão com 2 interruptores

Se o interruptor S1 for mantido sempre aberto, o circuito opera como um abaixador de


tensão. Com S2 sempre conduzindo, o funcionamento é como um elevador de tensão. Com
ambos operando em sincronismo, tem-se a característica de um abaixador-elevador de tensão.
As razões para utilizar este arranjo são:
• não inversão da tensão de saída;
• redução do esforço de tensão sobre as chaves;
• possibilidade de proteção contra sobre-corrente.
Alternativamente, para elevar a eficiência do conversor, S2 pode entrar em operação
apenas quando a tensão de entrada se torna maior do que a de saída.
A corrente de entrada é recortada por S1, como no conversor flyback. O ciclo de trabalho,
para permitir condução descontínua em L, é limitado, como para o conversor elevador de tensão
[4.3]:

1 Vp
δ max = , onde α = (4.12)
1+ α Vo

4.7 Referências Bibliográficas

[4.1] E. R. Hnatek: “Design of Solid State Power Supplies”. Van Nostrand Reinhold, New
York, USA, Third edition, 1989.
[4.2] M. Brkovic and S. Cuk: “Input Current Shaper Using Cuk Converter”. Proc. of INTELEC
‘92, Washington, USA, pp. 532-539.
[4.3] I. Barbi e A. F. de Souza: Curso “Correção de Fator de Potência de Fontes de
Alimentação”. Florianópolis, Julho de 1993.

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5. CONVERSOR ABAIXADOR DE TENSÃO COMO PFP

O conversor abaixador de tensão (buck ou forward, se for isolado) tem uso muito restrito
como PFP, uma vez que introduz uma zona de corrente nula na entrada. Isto ocorre quando a
tensão de entrada é menor do que a tensão de saída. Alternativamente, é possível alto FP desde
que se opere com um controle MLP dentro de cada semiciclo da rede.

5.1 Conversor abaixador de tensão com entrada CC

A figura 5.1. mostra o conversor com entrada CC. As formas de onda para os modos de
condução contínua e descontínua estão mostradas na figura 5.2.

iL
+ vs -
is +
iD L Ro
S
E D Vo

Figura 5.1 Conversor abaixador de tensão com entrada CC

Condução contínua Condução descontínua


δT t2 tx δT
ΔI iL

iD

iS

E E
Vo vS
E-Vo

0 T 0 T
Figura 5.2 Formas de onda típicas nos modos de condução contínua e descontínua

As características estáticas nos modos de condução contínua e descontínua são,


respectivamente:

Vo = E ⋅δ (5.1)

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Vo δ δ t2
= = , onde δ 2 = (5.2)
E tx δ + δ2 T
1−
T

A indutância mínima que permite condução contínua é:

E ⋅ (1 − δ) ⋅ δ ⋅ T (1 − δ) ⋅ T ⋅ Ro
L min = = (5.3)
2 ⋅ Io min 2

5.2 Conversor abaixador de tensão como PFP

O conversor abaixador de tensão operando como PFP está mostrado na figura 5.3. A
posição do transistor permite a proteção contra sobre-correntes e partida suave.
A figura 5.4. mostra as formas de onda típicas para condução descontínua no indutor,
indicando também a corrente pela rede (após filtragem) e seu espectro.

ii L +
Ro
Vac S
D Vo

Figura 5.3. Conversor abaixador de tensão como PFP

ϕ
Vi
Vo

Figura 5.4. Formas de onda típicas de conversor abaixador de tensão como PFP e espectro da
corrente filtrada (THD=53%)

O ângulo até o qual não há corrente na entrada é dado por:

⎛ Vo ⎞
ϕ = a sin⎜ ⎟ (5.4)
⎝ Vp ⎠
Onde: Vp é o valor de pico da tensão de alimentação e θ=ωt.
A evolução da corrente média de entrada é:

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i i = I p ⋅ [sin( ωt ) − sin(ϕ)] válido para (π− ϕ ) >ωt>ϕ (5.5)

O valor de pico desta corrente é calculado no pico da tensão da rede e é obtido através da
área relativa à corrente instantânea de entrada:

Vp ⋅ δ 2 ⋅ T
Ip = (5.6)
2⋅L

A potência média (ativa) de entrada, calculada em meio ciclo da rede é [5.1]:


π −ϕ
Vp ⋅ I p π − 2ϕ + sin(2ϕ)

1
Pi = ⋅ Vp ⋅ I p ⋅ sin(θ) ⋅ [ sin(θ) − sin(ϕ)] ⋅ dθ = ⋅ (5.7)
π ϕ 2 π

A corrente eficaz de entrada é:

Vp ⋅ T ⋅ δ ⋅ δ
I iRMS = ⋅ X(ϕ) (5.8)
3π ⋅ L

Onde X(ϕ) é:

⎛π ⎞ 3 ⋅ sin(2 ⋅ ϕ)
X(ϕ) = ⎜ − ϕ⎟ ⋅ [ 2 − cos(2 ⋅ ϕ)] − (5.9)
⎝2 ⎠ 2

Considerando o efeito do chaveamento de alta freqüência, pode-se fazer o cálculo do fator


de potência. O valor obtido é:

FP =
[π − 2ϕ − sin(2ϕ)] ⋅ δ⋅ 6
(5.10)
4 ⋅ π ⋅ X( ϕ )

Para ϕ=0, a equação (5.10) fornece um resultado igual ao do conversor abaixador-


elevador de tensão visto anteriormente (0,866).
A figura 5.5 mostra o valor do FP em função da tensão de saída (M=Vo/Vp=1/α). Observe
que quanto maior a tensão de saída, pior o fator de potência, uma vez que a corrente se concentra
próxima ao pico da tensão. Dada a dependência da largura de pulso, para valores reduzidos de δ,
o FP se reduz sensivelmente, pois ocorre um aumento no conteúdo harmônico da corrente. Uma
melhoria no FP é obtida com a inclusão de um capacitor de filtro, junto ao retificador, o qual
oferece um caminho de baixa impedância para as componentes harmônicas, de modo que,
idealmente, pela linha circula apenas o valor médio da corrente pulsada de entrada.
Se forem considerados os limites da norma IEC, é possível, dentro de certas faixas de
operação, utilizar este conversor [5.2].

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FP 0.9

δ=0,9
0.8

δ=0,7
0.7

δ=0,5
0.6

0.5
0 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5 0.6
Μ

Figura 5.5. Variação do fator de potência com a tensão de saída, para diferentes valores de ciclo
de trabalho, considerando o efeito do chaveamento em alta freqüência.

O fator de potência obtido através do valor médio da corrente será:

π − 2 ⋅ ϕ − sin( 2 ⋅ ϕ ) 1
FP = ⋅ (5.11)
3 ⋅ sin( 2 ⋅ ϕ ) (π − 2 ⋅ ϕ ) ⋅ cos( 2 ⋅ ϕ ) 2⋅π
π − 2⋅ϕ − −
2 2

Observa-se na figura 5.6 que quando a tensão de saída tende a zero o fator de potência
tende à unidade (considerando a corrente média de entrada, ou seja, desprezando as componentes
de alta freqüência na análise). À medida que aumenta a tensão de saída, como o ângulo
ϕ aumenta, o FP diminui.

FP
1

0.8

0.6

0.4

0.2

0
0 0.2 0.4 0.6 0.8 1
M
Figura 5.6 Fator de potência de conversor abaixador de tensão como PFP (considerando a
corrente média de entrada).

Outra possibilidade é utilizar uma indutância de saída elevada o suficiente de modo que,
pelo ajuste da largura de pulso do interruptor, seja possível sintetizar uma corrente senoidal
(depois de filtrada) na rede, como mostra a figura 5.7 ( obtida na referência [5.3]), e as formas de
onda mostradas na figura 5.8.

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Figura 5.7 Conversor buck PFP, com elevada indutância de saída e controle MLP do interruptor.

Figura 5.8 Formas de onda do conversor buck PFP com elevada indutância de saída (tensão de
entrada, corrente de entrada e sinal MLP).

Pode-se relaxar a exigência de mínima ondulação na corrente do indutor de saída desde


que seja introduzida uma realimentação desta corrente, como mostra a figura 5.9 [5.3]. A
restrição que permanece é que o valor mínimo da corrente do indutor de saída seja sempre
superior ao valor instantâneo (filtrado) da corrente da rede. Caso esta restrição não seja atendida
ainda será possível obter alto FP, mas com maior distorção da corrente, como mostra a figura
5.10.

Figura 5.9 Conversor buck PFP, com controle MLP e realimentação da corrente de saída (figura
obtida em [5.3]).

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Figura 5.10 Formas de onda de conversor buck PFP com realimentação da corrente de saída. a)
corrente CC sempre maior que corrente CA. b) corrente CC inferior a corrente CA em algum
intervalo (obtido em [5.3]).

5.3 Referências Bibliográficas

[5.1] J. Sebastián, J. A. Cobos, P. Gil and J. Uceda: “The Determination of the Boundaries
between Continuous and Discontinuous Conduction Modes in PWM DC-to-DC
Converters Used as Power Factor Preregulators”. Proc. of PESC ‘92, pp. 1061-1070.
Toledo, Spain, Jun. 1992.
[5.2] G. Spiazzi: “Analysis of Buck Converters Used as Power Factor Preregulators”. Proc. Of
IEEE PESC’97, pp. 564-570, St. Louis, USA, June 1997.
[5.3] I. Barbi and F. A. P. de Souza: “A Unity Power Factor Buck Pre-Regulator with
Feedforward of the Output Inductor Current”. Proc. of IEEE APEC 1999.

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6. CONVERSORES CUK, SEPIC E ZETA COMO PFP

O emprego destes conversores como pré-reguladores de fator de potência apresenta as


seguintes vantagens:

•Emula uma carga resistiva quando opera com freqüência e ciclo de trabalho fixos (quando
operando no modo descontínuo);
•Baixa ondulação de corrente de entrada mesmo em condução descontínua (Cuk e SEPIC);
•Larga faixa de tensão de saída (abaixador-elevador de tensão);
•Pequena corrente de partida devido à posição do capacitor de acoplamento (C1);
•Transistor com emissor (source) aterrado, facilitando acionamento (Cuk e SEPIC);
•Facilidade de isolação entre entrada e saída.

Como desvantagens tem-se:

•Maiores esforços de corrente e de tensão sobre os componentes;


•Maior número de componentes.

6.1 Conversor Cuk com entrada CC

A figura 6.1 mostra o conversor Cuk com entrada CC. Nota-se, em relação às topologias
estudadas anteriormente, a existência de um indutor e um capacitor a mais. Como no abaixador-
elevador já visto, neste caso também ocorre uma inversão na polaridade da tensão de saída. A
transferência de energia da entrada para a saída é feita por meio do capacitor C1.
i L1 + V1 - i L2

L1 C1 L2 Ro
is
D Co
E S Vo

Figura 6.1 Conversor Cuk com entrada CC

A tensão média sobre C1 é a soma das tensões de entrada e de saída. Assim, é esta a
tensão que os interruptores devem suportar. A presença de uma indutância na entrada e uma na
saída faz com que ambas correntes não sejam recortadas.
Durante a condução do transistor, a corrente cresce por ambas indutâncias. Ao final do
ciclo de trabalho, as correntes passam a circular pelo diodo.
A figura 6.2 mostra formas de onda típicas nos modos de condução contínuo e
descontínuo.

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Condução contínua Condução descontínua


i L1
i L1
I1
Ix

i L2
i L2
I2

v C1 -Ix
E+Vo δΤ t2 tx

δΤ

Figura 6.2. Formas de onda do conversor Cuk em condução contínua e descontínua

Do balanço de tensões sobre as indutâncias pode-se obter a característica de transferência


estática. Para condução contínua tem-se a equação (6.1), na qual se nota que para larguras de
pulso inferiores a 50% o circuito funciona como abaixador de tensão e acima de 50%, como
elevador:

δ
Vo = E ⋅ (6.1)
1− δ

No caso descontínuo, a característica estática é:

δ δ t2
Vo = E ⋅ = E⋅ , onde δ 2 = (6.2)
1− δ −
tx δ2 T
T

O fundamental no modo de condução descontínuo é que as correntes por L1 e L2 não se


anulam, mas sim assumem o mesmo valor. Na figura 6.2., durante a condução do diodo, a
corrente por L2 se inverte. Enquanto ela for menor (em valor absoluto) do que a corrente por L1,
ainda existe corrente pelo diodo. Quando ambas se igualam, o diodo deixa de conduzir (sob
corrente nula). Uma vez que a soma das tensões na malha externa do circuito é zero, não há
diferença de potencial sobre as indutâncias e a corrente permanece constante. Quando o transistor
entrar em condução, o fará também sob corrente nula.

6.2 Conversor SEPIC com entrada CC

O conversor SEPIC tem as mesmas características estáticas do conversor Cuk,


apresentando também as mesmas formas de onda de corrente mostradas na figura 6.2. As tensões
sobre os interruptores também têm o mesmo valor, ou seja, as chaves devem suportar a soma das

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tensões de entrada e de saída. O capacitor C1, no entanto, deve suportar apenas a tensão de
entrada. Neste conversor a corrente de saída é recortada. A figura 6.3 mostra o conversor.

+ V1 -

i L1 C1 i L2 D
L1
+
Co
E S L2 Vo

Ro

Figura 6.3. Conversor SEPIC com entrada CC.

6.3 Conversor Zeta com entrada CC

O conversor Zeta, cuja topologia está mostrada na figura 6.4, também possui uma
característica abaixadora-elevadora de tensão. Na verdade, a diferença entre este conversor, o
Cuk e o SEPIC é apenas a posição relativa dos componentes.
Aqui a corrente de entrada é sempre descontínua (como no conversor abaixador-elevador
de tensão visto anteriormente) e a de saída é continua. A transferência de energia se faz via
capacitor. A operação no modo descontínuo também se caracteriza pela inversão do sentido da
corrente por uma das indutâncias. A posição do interruptor permite uma natural proteção contra
sobre-correntes. A tensão a ser suportada pelo transistor e pelo diodo é igual a Vo+E.

- Vo + i L2

T C1 L2
+
L1 D Co Vo
E

i L1 Ro

Figura 6.4 Topologia do conversor Zeta.

6.4 Conversores Cuk, SEPIC e Zeta isolados com entrada CC

A introdução de isolação nestes conversores é muito simples. A figura 6.5 mostra o


conversor Cuk e a figura 6.6, o SEPIC e a figura 6.7, o Zeta. No conversor Cuk o elemento
magnético comporta-se efetivamente como um transformador, uma vez que a corrente média por
ambos enrolamentos é nula, o que é garantido pela presença dos capacitores em série, de modo
que não é necessário entreferro no transformador. Já para os conversores SEPIC e Zeta isto não
ocorre. No SEPIC circula corrente pelo “secundário” apenas quando o diodo conduz, e seu valor
médio, portanto, não é nulo. Isto ocorre no conversor Zeta em relação à corrente do primário.

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L1 C1 C2 L2 Ro

E Co
S D Vo

Np Ns
Figura 6.5. Conversor Cuk isolado.

No conversor Cuk, a tensão no capacitor C2 é igual à tensão de saída e sobre C1 tem-se a


tensão de entrada. O transistor deve suportar uma tensão igual à soma da tensão de entrada com a
tensão de saída refletida ao primário. As formas de onda de corrente mostradas na figura 6.2.
continuam válidas.

+E -

L1 C1 D
+
Lm Co
E S Vo

Ro

Np Ns
Figura 6.6 Conversor SEPIC isolado.

No conversor SEPIC, o elemento magnético pode ser dimensionado de modo que a


própria indutância de magnetização seja a indutância L2, reduzindo o número de componentes.
Note que existe acúmulo de energia no “primário”.
Também para o conversor Zeta a indutância L1 pode ser a própria indutância de
magnetização do transformador.
- Vo +

T C1 L2 +
Vo
L1 D Co
E

Ro

Figura 6.7 Conversor Zeta isolado.

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6.5 Conversor Cuk como PFP

A figura 6.8 mostra um conversor Cuk operando como pré-regulador de fator de potência
[6.1].

6.5.1 Operação no modo de condução descontínua


Neste modo de funcionamento o circuito opera com freqüência e ciclo de trabalho
constantes (modulação por largura de pulso).

i L1 L1 i L2
C1 L2 Ro

vac |vac | Co
S D Vo

Figura 6.8 Conversor Cuk como PFP

Conforme definido pela equação (6.2) para o caso de alimentação CC, a característica
estática no modo de condução descontínua é:

Vo δ
=
E δ2

Ampliando este resultado para o caso de entrada CA, nota-se que o intervalo normalizado
δ2 torna-se variante no tempo, e sua duração depende do valor instantâneo da tensão de entrada:

Vo Vo δ
M' = = = (6.3)
v ac Vp ⋅ sin( ωt ) δ 2 ( t )

As correntes médias de entrada e de saída em cada período de chaveamento são:

v ac ( t ) i L1 v ac
i L1 ( t ) = ⋅ δ ⋅ T ⋅ (δ + δ 2 ( t )) + I x ( t ) (6.4)
2 ⋅ L1
Ix
v ac ( t )
i L2 ( t ) = ⋅ δ ⋅ T ⋅ (δ + δ 2 ( t )) − I x ( t ) (6.5)
2 ⋅ L2
i L2
A soma destas duas correntes é dada por:

v ac ( t ) 2 ⎛ v (t) ⎞
i L1 + i L2 = ⋅ δ ⋅ T ⋅ ⎜1 + ac ⎟
2 ⋅ Le ⎝ Vo ⎠ -Ix
(6.6) δ δ2
Le é a indutância equivalente do circuito, T
dada por:

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L1 ⋅ L 2
Le =
L1 + L 2

Do balanço de potências (supondo eficiência de 100%), calculado em cada ciclo de


chaveamento, tem-se que a relação entre as correntes é:

i L1 ( t ) δ
= (6.7)
i L2 ( t ) δ 2 ( t )

Substituindo (6.7) em (6.6) tem-se:

δ2 ⋅ T
i L1 ( t ) = ⋅ v ac ( t ) (6.8)
2 ⋅ Le

De (6.8) tem-se que a corrente de entrada, para frequência e largura de pulso fixas, segue
a forma de onda da tensão de entrada, donde se conclui que este conversor, operando no modo
descontínuo, emula uma carga resistiva, funcionando como pré-regulador de fator de potência.
A amplitude desta onda senoidal que representa a corrente média calculada em cada ciclo
de chaveamento é:

Vp ⋅ T ⋅ δ 2
I L1 = (6.9)
2 ⋅ Le

6.5.2 Limite de operação no modo descontínuo


Estando tensão e corrente na entrada em fase, a potência de entrada é dada pelo produto
dos respectivos valores RMS. Esta potência é igual à potência de saída.

Vp ⋅ I L1 Vp2 ⋅ δ 2 ⋅ T Vo 2
Pi = = = Po = (6.10)
2 4 ⋅ Le Ro

De (6.10) tem-se:

Vo δ R o ⋅ T 1
M≡ = ⋅ = (6.11)
Vp 2 Le α

Substituindo (6.11) em (6.3) tem-se:

Vo δ Ro ⋅ T δ
M' ≡ = ⋅ =
Vp ⋅ sin(ωt ) 2 ⋅ sin(ωt ) Le K

O parâmetro K é descrito por:

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2 ⋅ Le
K = 2 ⋅ K e ⋅ sin 2 (ωt) , onde K e = (6.12)
Ro ⋅ T

Demonstra-se [6.4] que ocorre operação no modo descontínuo se:

1
Ke < (6.13)
2 ⋅ ( M + 1) 2

2 ⋅ Le
K e MAX = (6.14)
R o MIN ⋅ T

De (6.13) e (6.14) determina-se a máxima indutância equivalente que permite operação no


modo descontínuo. Mmax é o valor de M para a mínima tensão de pico de entrada.

R o MIN ⋅ T
Le MAX < (6.15)
4 ⋅(1 + M max) 2

O valor do termo Ix é dado por:

δ 2 ⋅ T ⋅ v ac (ωt ) ⎡ L1 ⎤
Ix = ⋅ ⎢ − α⎥ (6.16)
2 ⋅ L1 ⎣ L2 ⎦

Note-se que a corrente Ix também segue um comportamento igual ao da tensão de entrada.


Dada a presença do retificador, iL1 não pode se inverter (Ix>0), logo, a operação no modo
descontínuo só pode ocorrer quando a corrente por L2 se inverte [6.3]. De (6.16) obtém-se uma
relação entre L1 e L2 que permite operação no modo descontínuo e faz inverter a corrente por
L2:

L2
L1 > (6.17)
M

A inequação (6.17) é a condição limite em que (6.8) é válida.


Um vínculo que permite determinar as indutâncias pode ser obtido definindo-se a
ondulação de corrente admissível na entrada:

v ac ⋅ δ ⋅ T
ΔI L1 = (6.18)
L1

Dividindo-se (6.18) por (6.8) tem-se a ondulação relativa (que pode ser um parâmetro de
projeto) que permite, juntamente com a definição da indutância equivalente, a obtenção de L1 e
de L2:

ΔI L1 2 ⋅ L2
= (6.19)
i L1 δ ⋅(L1 + L2 )

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A figura 6.9 mostra o resultado de simulação de um conversor Cuk como PFP. Observe-se
na figura que a componente pulsada da corrente sobrepõe-se a uma componente que também
segue a forma de onda da tensão e que é a corrente definida anteriormente como Ix. A amplitude
dos pulsos de corrente depende das indutâncias utilizadas.

Tensão de entrada

Corrente de entrada

Figura 6.9 Corrente e tensão de entrada em conversor Cuk como PFP, em condução descontínua

6.5.3 Considerações sobre os capacitores C1 e Co


O capacitor C1 é escolhido de modo a apresentar uma baixa ondulação de tensão na
freqüência de chaveamento, no entanto, deve ser pequeno o suficiente para acompanhar a
variação da tensão de entrada. Seu valor tem grande influência sobre a corrente de entrada. As
ressonâncias entre C1 e L1 e L2 devem ser numa freqüência muito maior do que a da rede, a fim
de evitar oscilações na corrente de linha. Por outro lado, as mesmas ressonâncias devem ser em
freqüência bem menor do que a freqüência de chaveamento, para manter o funcionamento como
PFP.
As figuras 6.10 e 6.11 mostram a corrente de entrada para valores inadequados de C1. Em
6.10 tem-se uma capacitância muito elevada. Note-se que existe um tempo morto no qual não há
corrente na entrada, uma vez que o capacitor não se descarrega totalmente.
Com um valor muito pequeno, a tensão neste capacitor varia muito durante o período de
chaveamento, de modo que, durante a condução do diodo, sua tensão cresce rapidamente,
dificultando a absorção da energia contida em L1. Com isso a corrente nesta indutância não
consegue acompanhar a variação da tensão de entrada, como se vê na figura 6.11.
O capacitor de saída, Co, deve ser suficientemente grande para armazenar a energia
necessária à carga, uma vez que a energia proveniente da entrada varia ciclicamente, enquanto a
de saída é, tipicamente, constante.

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Figura 6.10 Corrente de entrada com capacitor C1 com valor muito elevado

Figura 6.11 Corrente de entrada com capacitor C1 de baixo valor

6.5.4 O controle do conversor


A banda passante da malha de controle da tensão de saída deve ser muito inferior a
120Hz, de modo que não ocorra alteração na largura de pulso durante cada semi-ciclo da rede (o
que alteraria a forma da corrente absorvida).
Como o controle é feito a freqüência fixa e por MLP, circuitos integrados usados em
conversores CC-CC podem ser empregados sem qualquer necessidade de circuitos adicionais.

6.5.5 Conversor Cuk com transformador


A figura 6.12 mostra o conversor Cuk isolado, como PFP. Neste caso o capacitor C2
apresenta uma tensão constante igual à tensão de saída, enquanto em C1 tem-se uma tensão
média que acompanha a tensão de entrada (senóide retificada).
A operação no modo descontínuo não traz problemas quanto à saturação do núcleo do
transformador, uma vez que, a cada ciclo de chaveamento, ocorre a desmagnetização do mesmo.

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i L1 L1 C1 C2 L2 Ro

vac |vac | Co Vo
S D

Np Ns

Figura 3.12 Conversor Cuk isolado, operando como PFP

Neste caso, algumas das equações apresentadas anteriormente são alteradas, uma vez que
os componentes do secundário refletem-se no primário ponderados pelo quadrado da relação de
espiras (n=Ns/Np).
A indutância equivalente é:

L1 ⋅ L2
Le = (6.20)
n ⋅ L1 + L2
2

As equações (6.17) e (6.19) são reescritas como:

L2
L1 > (6.21)
n⋅M

ΔI L1 2 ⋅ L2
= (6.22)
i L1 δ ⋅(n ⋅ L1 + L2 )
2

6.5.6 Não-idealidades que causam distorção na forma de onda


Idealmente, quando operando no modo descontínuo, este conversor emula uma carga
resistiva. Logo, o fator de potência, considerando a corrente média de entrada (filtrada das
componentes de alta freqüência) é unitário.
No entanto, duas não-idealidades, inerentes a qualquer topologia de conversor CC-CC
utilizado como PFP, estão presentes também aqui. Elas são: o "atraso" na corrente quando a
tensão cruza o zero e a ondulação da corrente de entrada.
O "atraso" observado na corrente é devido à limitada taxa de crescimento da corrente
quando a tensão de entrada é muito baixa. Isto pode ser contornado com o uso de indutâncias L1
relativamente baixas.
Por outro lado, indutâncias de baixo valor elevam a ondulação da corrente, implicando em
maiores níveis de IEM conduzida, solicitando filtros mais eficientes.
A figura 3.13 mostra formas de onda em um protótipo de 250W, indicando claramente o
"atraso" na corrente. Mesmo com as distorções observadas, o fator de potência medido foi de
0,98.

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ii

300 mA

30 mA
vi
3 mA

(a) (b)
Figura 3.13 (a) Corrente (filtrada) e tensão de entrada.
(b) Corrente de entrada, não-filtrada, e seu espectro em alta freqüência (25kHz/div).

6.5.7 Acoplamento das indutâncias


Uma das características importantes do conversor Cuk (e também dos conversores SEPIC
e Zeta) é a possibilidade de se construir ambas indutâncias em um mesmo núcleo, uma vez que a
tensão instantânea sobre elas é idêntica. Com um projeto adequando do elemento magnético, é
possível se obter uma ondulação nula na corrente de uma das indutâncias. Com isso, consegue-se
uma redução do peso e do volume dos indutores, além de minimizar os níveis de IEM, anulando-
se o ripple da indutância de entrada.

6.5.8 Operação no modo contínuo


É também possível utilizar este conversor operando no modo contínuo. Neste caso é
necessário empregar um CI de controle do tipo utilizado nos conversores elevadores de tensão,
quando operando com controle da corrente média (figura 3.10).
Na versão isolada é necessário um cuidado adicional para evitar a saturação do núcleo do
transformador. Uma vez que a largura de pulso é modificada em função do valor da tensão de
entrada e que o intervalo em que a tensão de saída é aplicada ao transformador varia
complementarmente, a condição para que se consiga manter o balanço de tensões é que a tensão
presente no capacitor C1 (que é efetivamente aplicada ao enrolamento primário) siga exatamente
a variação da tensão de entrada (retificada) [6.5].
A figura 3.14 mostra resultados experimentais de um conversor operando no modo
contínuo. O fator de potência medido foi de 0,99. As distorções nas proximidades do cruzamento
com o zero já foram discutidas anteriormente e aplicam-se também para este modo de
funcionamento.
A THD medida é inferior a 10%. O espectro (baixa freqüência) da corrente está mostrado
também na figura 3.14. A presença significativa da quinta harmônica deve-se à distorção
normalmente presente na tensão de alimentação.

6.6 Conversor SEPIC como PFP

A figura 3.15 mostra um conversor SEPIC isolado, funcionando como PFP. A indutância
de magnetização do transformador faz as vezes da indutância L2. As formas de onda são iguais às
do conversor Cuk. A operação no modo descontínuo não implica em aumento da ondulação da
corrente de entrada, pelas mesmas razões já descritas para o conversor Cuk. Este conversor

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também emula, idealmente, uma carga resistiva, apresentando um fator de potência unitário caso
se considere a corrente média de entrada (filtrada das altas freqüências).

V (dB)
0
-10
I -20
-30
-40
-50
-60
60 180 300 420 540 660
Frequencia (Hz)
(a) (b)
Figura 3.14 (a) Tensão (50 V/div.) e corrente de linha (5 A/div.). Horiz.: 5 ms/div.
(b) Espectro da corrente de entrada.

Algumas equações se modificam em função da indutância L2 encontrar-se no lado do


primário do transformador. A indutância equivalente é:

L1 ⋅ L2
Le = (6.23)
L1 + L2
iL1 i L2
L1 C1 D
+
Vac L2 Co Vo
S
Ro

Np Ns

Figura 3.15 Conversor SEPIC isolado operando como PFP

A indutância limite de entrada, que garante uma corrente Ix positiva é:

L2
L1 > (6.24)
n⋅M

A ondulação relativa de corrente será:

ΔI L1 2 ⋅ L2
= (6.25)
i L1 δ ⋅(L1 + L2 )

Também para este caso são válidas as considerações sobre a operação nos modos de
condução contínua e descontínua.

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6.7 Conversor Zeta como PFP

O conversor Zeta operando como PFP [6.6] está indicado na figura 6.16 Note que seu
estágio de entrada é idêntico ao do conversor flyback, no entanto, o comportamento na
descontinuidade é como nos conversores Cuk e SEPIC, ou seja, a corrente inverte de sentido em
uma das indutâncias (L2 ou Lm - indutância de magnetização do transformador).

- Vo +

T C1 L2

vac L1 D Co Vo

Ro

Figura 3.16 Conversor Zeta (isolado) como PFP.

Quando operando no modo descontínuo, ao ser ligado o transistor, sua corrente, que é a
própria corrente de entrada, parte sempre do zero e cresce a um valor de pico proporcional ao
valor instantâneo da tensão de entrada e à largura de pulso. A corrente média de entrada também
obedecerá a uma lei senoidal, de onde se conclui que o conversor emula uma carga resistiva
levando, idealmente, a um fator de potência unitário (considerando a corrente média de entrada,
já filtrada das componentes de alta freqüência produzidas pelo chaveamento).

6.8 Referências Bibliográficas

[6.1] M. Brkovic and S. Cuk: "Input Current Shaper using Cuk Converter". Proc. of INTELEC
'92, Washington, USA, 1992, pp. 532-539.
[6.2] S. Cuk: "Discontinuous Inductor Current Mode in the Optimum Topology Switching
Converter". IEEE PESC, Syracuse, NY, June 13-15, 1978, pp. 105-123.
[6.3] D. S. L. Simonetti, J. Sebastián, F. S. dos Reis and J. Uceda: "Design Criteria for SEPIC
and Cuk Converters as Power Factor Preregulator in Discontinuous Conduction Mode".
Proc. of IECON '92, pp. 283-288.
[6.4] J. Sebastián, J. A. Cobos, P. Gil and J. Uceda: "The Determination of the Boundaries
Between Continuous and Discontinuous Conduction Modes in PWM DC-to-DC
Converters Used as Power Factor Preregulators". Proc. of IEEE PESC '92, Toledo, Spain,
June 1992, pp. 1061-1070.
[6.5] G. Spiazzi and P. Mattavelli: "Design Criteria for Power Factor Preregulators Based on
SEPIC and Cuk Converters in Continuous Conduction Mode". Proc. of IEEE IAS Annual
Meeting, Denver, USA, Oct. 1994, pp. 1084-1089.
[6.6] D. C. Martins, A. Peres and I. Barbi: "Zeta Converter with High Power Factor Operating in
Discontinuous Conduction Mode". Proc. of 2nd COBEP, Uberlândia, MG, Dez. 1993,
pp. 28-31.

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7. DETERMINAÇÃO DOS LIMITES PARA OPERAÇÃO NO MODO


DESCONTÍNUO de PFP
7.1 Limites para conversores CC-CC

Considere-se como exemplo o circuito de um conversor tipo abaixador-elevador [7.1] de


tensão (figura 7.1) e as suas respectivas formas de onda mostradas na figura 7.2, as quais indicam
a tensão sobre a indutância e a corrente no modo de condução descontínuo.

i D
Ii S L

E L vL Co Ro
Vo
_
+

Figura 7.1 Conversor abaixador-elevador de tensão


v
L i
L T
E δ Τ
2

0
T t I

-Vo δΤ
t
δΤ δ Τ δ Τ
2 3

Figura 7.2 Tensão e corrente (modo descontínuo) sobre a indutância em conversor tipo
abaixador-elevador de tensão

A característica estática de transferência no modo de condução descontínua pode ser


escrita como:

Vo δ
= =H (7.1)
E δ2

A corrente média fornecida pela fonte (que existe somente durante a condução do
transistor), calculada em cada ciclo de chaveamento, é dada por:
δ2 ⋅ E ⋅ T
Ii = (7.2)
2⋅L

As potências de entrada e de saída são, respectivamente:

δ2 ⋅ E 2 ⋅ T
Pi = (7.3)
2⋅L

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Vo 2
Po = (7.4)
Ro

Considerando um rendimento de 100%, da igualdade entre (7.3) e (7.4) obtém-se a relação


estática de tensões no modo descontínuo:

Vo T ⋅ Ro
= δ⋅ (7.5)
E 2⋅L

Definindo o parâmetro adimensional Ke:

2⋅L
Ke ≡ (7.6)
Ro ⋅ T

De (7.1) e (7.5) vem:

δ2 = K e (7.7)

Assim, o parâmetro Ke determina a duração do intervalo δ2 de um conversor abaixador-


elevador de tensão.
Demonstra-se em [7.1] que ocorre condução descontínua sempre que o parâmetro Ke for
menor do que um certo valor crítico, Kcrit, o qual pode ser definido para cada tipo de conversor. A
condição crítica é quando o intervalo δ2 se encerra exatamente no final do período de
chaveamento. Para um conversor abaixador-elevador tem-se:

1
δ2 = 1 − δ = = Ke (7.8)
1+ H

1
K crit = (7.9)
(1 + H ) 2

Agindo analogamente para os demais tipos de conversores pode-se estabelecer uma


expressão equivalente para o intervalo δ2. Determina-se também o valor de Kcrit, como mostrado
na tabela 7.I.
TABELA 7.I
Conversor Kcrít
Abaixador de tensão 1-H
Forward, push-pull, ponte (isolados) H
1−
n
Abaixador-elevador, Zeta, Cuk e SEPIC 1
(1 + H ) 2
Flyback, Zeta, Cuk e SEPIC (isolados) 1
(n + H ) 2
Boost H −1
H3
n é a relação de transformação Ns/Np

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7.2 Limites para conversores CA-CC operando como PFP

Considere-se o circuito genérico da figura 7.3.

ii io

Conversor
|vac | Genérico Vo Ro

Figura 7.3 Diagrama genérico de conversor operando como PFP.

Sejam a tensão e a corrente (média) de entrada de um conversor genérico (após a


retificação), dadas por [7.2]:

v ac = Vp ⋅ sin(ωt) (7.10)
i i = I p ⋅ sin(ωt) (7.11)

Note que, como a hipótese é que a corrente de entrada é senoidal, a análise que se segue
não se aplica ao conversor abaixador de tensão. Para o conversor elevador de tensão operando no
modo descontínuo, a análise também não é rigorosa, uma vez que a corrente de entrada, conforme
foi visto anteriormente, também não é senoidal, embora possa se aproximar desta forma de onda.
Sendo constante a tensão de saída, Vo, a característica estática é:

Vo Vo M
m(ωt)= = = (7.12)
v ac Vp ⋅ sin(ωt) sin(ωt)

Como se vê, a característica estática varia com o valor instantâneo da entrada, entre os
valores M (ωt=π/2) e infinito (ωt=0 e ωt=π).
A potência absorvida da rede (instantânea e média em meio ciclo da rede) são,
respectivamente:

p i (ωt ) = Vp ⋅ I p ⋅ sin 2 (ωt ) (7.13)


Vp ⋅ I p
Pi = (7.14)
2

A potência instantânea de saída pode ser expressa por:

p o (ωt ) = i o (ωt ) ⋅ Vo (7.15)

Do balanço de potências obtém-se uma expressão para io:

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Vp ⋅ I p ⋅ sin2 (ωt)
i o (ωt)= (7.16)
Vo

Define-se a resistência "vista" pelo conversor como:

Vo Vo 2
r(ωt)= = (7.17)
i o (ωt) Vp ⋅ I p ⋅ sin2 (ωt)

A potência CC absorvida pela carga é:

Vo 2
Po = (7.18)
Ro

A relação entre as resistências será:

Ro
r(ωt)= (7.19)
2 ⋅ sin2 (ωt)

Nos conversores CC-CC, a passagem de uma situação de condução contínua para


descontínua depende apenas da relação de tensões, H. No caso dos PFP, como o ganho estático
varia ao longo do semi-ciclo, o valor de Kcrit depende de m(ωt), ao invés da constante H (veja eq.
7.9), ou seja, a passagem de condução contínua para condução descontínua se daria para
diferentes valores de Ke ao longo do semi-ciclo.
Redefina-se o parâmetro de descontinuidade substituindo (7.19) em (7.6):

2⋅L
K crit ( ωt ) = = 2 ⋅ K e ⋅ sin 2 ( ωt ) (7.20)
r ( ωt ) ⋅ T

Kcrit(ωt) varia entre 0 e 2. Ocorrerá operação no modo descontínuo quando:

K crit ( ωt )
Ke < (7.21)
2 ⋅ sin 2 ( ωt )

Definindo:

K crit ( ωt )
K ' crit ( ωt ) ≡ (7.22)
2 ⋅ sin 2 ( ωt )

Substituindo m(ωt) nas relações da tabela 7.I (no lugar de H), obtém-se os seguintes
valores para Kcrit:

2
sin
Buck-boost: K crit = (7.23)
(M + sin )2
sin
2
(M − sin )
Boost: K crit = (7.24)
M3

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O circuito funcionará sempre no modo descontínuo se Ke for menor do que o valor


mínimo de K’crit. O funcionamento será sempre no modo contínuo se Ke for maior do que o valor
máximo de K’crit. Valores intermediários apresentaram ambos comportamentos, dependendo do
valor da tensão de entrada.
A tabela 7.II mostra os limites para diversos conversores.

TABELA 7.II
Conversor K’crit K’crit (max) K’crit(min)
Buck-boost, SEPIC, Cuk, 1 1 1
2 ⋅ ( M + 1) 2
2 ⋅ [ M + sin(ωt ) ] 2 ⋅ M2
2
Zeta
Flyback, SEPIC, Cuk, 1 1 1
2 ⋅ [ M + n ⋅ sin(ωt ) ] 2 ⋅ M2 2 ⋅ ( M + n) 2
2
Zeta (isolados)
Boost M − sin(ωt ) 1 M −1
2 ⋅ M3
2 ⋅ M3 2 ⋅ M2

Conforme já foi dito, este resultado não é exato para o conversor elevador de tensão.
Calculando-se a indutância máxima com os resultados da Tabela 7.II e comparando com a valor
determinado pela equação (3.23), a diferença é o fator Y(α), que identifica a diferença entre a
corrente média obtida no conversor e uma senóide.
A figura 7.4 mostra formas de onda de um conversor boost, com um Ke de valor
intermediário entre o mínimo e o máximo, de forma que, num mesmo semiciclo da rede
coexistem períodos de condução contínua e descontínua.

Figura 7.4 Formas de onda de conversor boost com modos de condução contínuo e descontínuo.

7.3 Referências Bibliográficas

[7.1] S. Cuk and R. D. Middelbrook: "A General Unified Approach to Modeling Switching
DC-to-DC Converters in Discontinuous Conduction Mode". Proc. of IEEE PESC '77,
1977, pp. 36-57.
[7.2] J. Sebastián, J. A. Cobos, P. Gil and J. Uceda: "The Determination of the Boundaries
Between Continuous and Discontinuous Conduction Modes in PWM DC-to-DC
Converters Used as Power Factor Preregulators". Proc. of IEEE PESC '92, Toledo, Spain,
June 1992, pp. 1061-1070.

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8. CONVERSORES TRIFÁSICOS COM RETIFICADOR A DIODOS


COMO PFP

Em conversores que alimentam cargas com potência na faixa acima de 1kW, é usual o
emprego de uma entrada trifásica, uma vez que os alimentadores monofásicos são limitados,
tipicamente, a uma corrente de 15A.
A obtenção de correntes de entrada com a mesma formas da tensão de alimentação pode
ser obtida com o uso de retificadores trifásicos operando em MLP, assunto este tratado no
próximo capítulo.
Quando se utiliza um retificador a diodos, é possível adaptar algumas das topologias
vistas anteriormente, as quais devem operar com corrente descontínua na entrada, de modo que a
corrente média de entrada siga a forma da tensão ali presente.
É possível ainda o uso de três conversores monofásicos, alimentados a partir de cada uma
das fases, o que, certamente, não é a solução ótima, devido ao maior número de circuitos
envolvidos.

8.1 Conversor Cuk com entrada trifásica indutiva como PFP

A figura 8.1 mostra a topologia de um conversor Cuk com uma entrada trifásica e
retificador a diodos [8.1]. A indutância de entrada é colocada antes do retificador, dividida entre
as 3 fases. A tensão sobre C1 é aproximadamente igual à tensão retificada, enquanto em C2 tem-
se uma tensão igual à tensão de saída.

+ V1 - + V2 -

ir i C1 C1 i L2 L2
e1 Lf Li C2 Ro
+ i1
+ -
e2 + i2
e Co
i3 r Vs Vd D Vo
+
S - +
e3 +
Cf
Np Ns Io

Figura 8.1 Conversor Cuk, isolado, com entrada trifásica

O funcionamento como PFP ocorre com o circuito operando em freqüência e ciclo de


trabalho constantes e com a corrente de entrada, em cada indutância de entrada, descontínua. A
figura 8.2 mostra uma situação deste tipo, vendo-se que a corrente de pico obedece a uma
variação senoidal. Já quando esta corrente de entrada é contínua (figura 8.3), o circuito não emula
uma carga resistiva.
O elevado conteúdo harmônico, na freqüência de chaveamento, pode ser minimizado pela
inclusão de filtros capacitivos a montante das indutâncias de entrada, de modo que da rede
absorva-se apenas a corrente média (componente em 60Hz).

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e1

i
1

Figura 8.2. Tensão e corrente de entrada em condução descontínua (na indutância de entrada)

e1

i1

Figura 8.3. Tensão e corrente de entrada com condução contínua (na indutância de entrada)

8.1.1 Equações básicas do conversor


Consideremos, para a análise que se segue:
a) O período de chaveamento, T, é muito menor do que o período da rede;
b) A ondulação de tensão nos capacitores durante cada período de chaveamento é desprezível;
c) Os indutores de entrada têm componente resistiva desprezível;
d) Os interruptores são ideais;
e) As correntes de entrada são nulas no início de cada período de chaveamento;
f) Tensões de entrada são senoidais e simétricas, de acordo com o sistema (8.1).

e1 = E p ⋅ sin(ωt)
e 2 = E p ⋅ sin(ωt − 120o ) (8.1)
e 3 = E p ⋅ sin(ωt + 120o )

A relação de espiras do transformador é: N=Np/Ns.

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Comportamento da corrente de entrada;


Consideremos que as tensões de entrada estão com um ângulo θ=ωt compreendido entre
0<θ<π/6. Neste intervalo e1 e e3 são positivas e e2 tem a maior amplitude (negativa) dentre as
três tensões. Uma forma de onda típica da corrente retificada está mostrada na figura 8.4.

ir

0 Ton T1 T2 T
t
Figura 8.4. Corrente retificada típica.

Durante o intervalo em que o interruptor está fechado o circuito equivalente do estágio de


entrada está mostrado na figura 8.5.a. As tensões de alimentação estão aplicadas sobre as
indutâncias, fazendo com que as correntes cresçam linearmente, a partir do zero:

t
i i = ei ⋅ , para i=1,2,3 (8.2)
Li

onde t é o tempo relativo contado a partir do início do período de chaveamento.


A corrente pelo interruptor é dada por:

i L2
is = i r + (8.3)
N

onde ir é a corrente de saída do retificador e iL2 á a corrente pela indutância do lado do


secundário do conversor. Ao final do tempo de condução as correntes atingem seus valores
máximos dados por:

e i ⋅ Ton e i ⋅ δ ⋅ T
I pi = = (8.4)
Li Li

Quando o transistor deixa de conduzir o estágio de entrada altera sua topologia para
aquela mostrada na figura 8.5.b. A corrente retificada circula pelo capacitor C1, transformador,
capacitor C2 e diodo de saída. A corrente iL2 também passa por este diodo. A fase conectada à
tensão (em módulo) maior conduz a soma da corrente das outras duas fases. A tensão Uo é
definida como a tensão num capacitor equivalente, refletido ao primário, tendo como valor:

Uo = V1 + V2 ⋅ N (8.5)

Esta tensão é a que aparece nos terminais do transistor durante seu bloqueio.

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Li i1
e1 +
Li i2
e2 +
A
a) N B
Li i3
e3 +

Li i1
e1 +
Li i2
e2 +
B A
b) N - +
Li i3 Uo
e3 +

Li i1
e1 +

Li i2
e2 +
B A
c) N - +
Li i3 Uo
e3 +

Figura 8.5. Circuitos equivalentes do estágio de entrada: a) durante a condução do transistor; b)


durante a condução do diodo e enquanto há corrente nas 3 fases
c) durante a condução do diodo e quando há corrente em apenas 2 fases

Entre Ton e T1, uma vez que as 3 indutâncias de entrada são iguais, chega-se a:

Uo
U AN =
3
(8.6)
2 ⋅ Uo
U BN =−
3

A evolução temporal das correntes de fase é:

t − Ton
i1 = I1P +(e1 − U AN )⋅
Li
t − Ton
i 2 = I 2 P +(e 2 − U BN )⋅ (8.7)
Li
t − Ton
i 3 = I 3P +(e 3 − U AN )⋅
Li

A menor corrente no intervalo considerado como exemplo é i1, a qual vai a zero no
instante:

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e1 ⋅ δ ⋅ T
T1 = + δ⋅T (8.8)
(U AN − e1)

Após este instante o circuito equivalente de entrada é o mostrado na figura 8.5.c. Como só
2 indutâncias permanecem no circuito:

Uo
U AN =
2
(8.9)
− Uo
U BN =
2

As correntes i2 e i3 vão a zero no mesmo momento, dado por:

2 ⋅ Uo ⋅(T1 − δ ⋅ T)
2 ⋅ e 3 ⋅ T1 −
T2 = T1 + 3 (8.10)
Uo + e 2 − e 3

Após T2 as correntes permanecem nulas até o início do ciclo seguinte.


Repetindo um procedimento similar para os demais intervalos típicos das tensões de
entrada durante um período da rede, pode-se encontrar que a equação (8.10) é válida sempre,
utilizando as tensões pertinentes a cada intervalo de 60°.

Relação entre a tensão equivalente Uo e a tensão de saída Vo


Considerando que a corrente iL2 é contínua, o estágio de saída se comporta como um
abaixador de tensão. De fato, a tensão sobre o diodo de saída, vd, vale Uo/N durante o tempo de
condução do transistor e vale zero durante a condução do diodo. Uma vez que o valor médio da
tensão sobre o diodo é igual à tensão de saída (pois a tensão média sobre a indutância é nula),
tem-se:

δ ⋅ Uo N ⋅ Vo
Vo = ou Uo = (8.11)
N δ

Para Vo constante, note-se aqui que a tensão Uo, que é a tensão a ser suportada pelo
transistor, aumenta para valores reduzidos do ciclo de trabalho, o que faz com que esta tensão
possa crescer a valores proibitivos para pequenas cargas.

Determinação da tensão de saída


A dependência da tensão de saída com os parâmetros do circuito, as tensões de entrada e a
largura de pulso pode ser obtida do balanço de energia, supondo eficiência de 100%. Wo é a
energia consumida pela carga num intervalo de chaveamento. Wc é a energia transferida através
do capacitor equivalente. ΔQ é a carga tomada do capacitor equivalente durante o intervalo de
condução do transistor.

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Wc = Wo
Wo = Vo ⋅ Io ⋅ T (8.12)
Io ⋅ δ ⋅ T
Wc = U o ⋅ ΔQ = U o ⋅
N

Consideremos um caso especial quando θ=π/6, ou seja, quando as tensões e1 e e3 são


iguais, o que faz com que todas as correntes vão a zero no mesmo instante. Ou seja, T2 é igual a
T1 e a corrente retificada tem uma forma triangular. Neste instante tem-se que e1=e3=Ep/2 e e2=-
Ep.
Em regime, a carga média que flui por um capacitor é nula. Durante a condução do diodo,
a carga que flui através do capacitor equivalente é:

I rP ⋅(T2 − δ ⋅ T)
ΔQ = (8.13)
2

Ep ⋅δ⋅ T
onde I rp =
Li

Das equações (8.10) e (8.12) tem-se:

3 ⋅ E 2p ⋅ δ 2 ⋅ T 3⋅ Ep ⋅ δ
Vo = + (8.14)
4 ⋅ L i ⋅ Io 2⋅N

Pode-se demonstrar que a equação (8.14) é válida também para θ=π/3. Uma análise global
para a tensão de saída não é simples. Análises numéricas, no entanto, demonstram que a tensão
real de saída difere do valor dado em (8.14) em menos de 1% para qualquer valor possível de δ,
Io e θ. Levando em conta que a tensão real presente possui uma ondulação na frequência de
360Hz, tal componente será observada sobre a saída.

8.1.2 Dimensionamento do circuito


Operação com condução descontínua na entrada:
A condição para que aconteça condução descontínua na corrente de entrada é que o
instante T2 seja menor ou igual ao período de chaveamento, o que leva a:

Uo − e r N ⋅ Vo N ⋅ Vo
δ< = = (8.15)
Uo N ⋅ Vo + e r min 3⋅ Ep
N ⋅ Vo +
2

As indutâncias de entrada devem ser determinadas para garantir a operação no modo


descontínuo. A situação de pior caso é quando a tensão de fase está em seu valor máximo:

E 2p ⋅ T ⋅ δ max
Li ≤ (8.15.a)
2 ⋅ Po

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Corrente pelo transistor:


A máxima corrente pelo interruptor, desprezando a ondulação na corrente do indutor de
saída é dada por:

Io E p ⋅ δ ⋅ T Io
I sMAX = I rP + = + (8.16)
N Li N

Tensão sobre o transistor:

Conforme já foi dito, a tensão a ser suportada pelo transistor é a mesma tensão sobre o
capacitor equivalente, Uo, a qual cresce para cargas leves, ou seja, para valores reduzidos de
largura de pulso:

N ⋅ Vo
Vs = Uo = (8.17)
δ

A equação 8.17 é válida na hipótese de condução contínua no indutor de saída, L2.


Admitindo-se condução descontínua nesta indutância, a tensão Uo se mantém constante,
independentemente da corrente de saída, Io. O valor de Uo (e de Vs) neste caso será o dado pela
equação 8.17 no ponto de passagem da condução contínua para descontínua, sendo dado por:

N ⋅ Vo N ⋅ Vo
Uo = Vs = = (8.18)
2 ⋅ L2 1 − δ2
1−
T ⋅ Ro

Dada a presença de uma ondulação na tensão de saída na freqüência de 360Hz, o circuito


de controle pode atuar de modo a tentar compensá-la, de modo que pode existir uma pequena
modulação na largura de pulso durante cada semiciclo da rede. Esta pequena mudança no valor
de δ, no entanto, não afeta significativamente a forma de onda da corrente, como se vê na figura
8.6., a qual mostra um resultado experimental de um conversor deste tipo. A corrente é observada
a montante dos capacitores de filtragem (note-se o ligeiro adiantamento da corrente). O fator de
potência medido é de 0,98.

e1

i1

Figura 8.6. Tensão (50V/div) e corrente de fase (1A/div) Horiz.: 4ms/div

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8.1.3 Determinação do Fator de Potência


Consideremos, sem perda de generalidade, o conversor Cuk não isolado mostrado na
figura 8.7.
As equações das correntes de entrada já foram expressas em (8.2) e (8.4).
A corrente média de entrada é dada por [8.2]:

⎛ Ep ⎞ sin(ωt ) π 2π
i1 = ⎜ ⎟ ⋅ , para 0 ≤ ωt ≤ e ≤ ωt ≤ π (8.19)
⎝ R e ⎠ 1 − 2 ⋅ μ ⋅ sin(ωt ) 3 3

⎛ Ep ⎞ sin(ωt ) π 2π
i1 = ⎜ ⎟ ⋅ , para ≤ ωt ≤ (8.20)
⎝ R e ⎠ 1 − μ sin(ωt ) 3 3

onde:

3⋅δ ⋅ Ep 2 ⋅ Li
μ= e Re =
Uo δ2 ⋅ T

+ V1 -

ir i L2 L2
e1 Li C1 Ro
+ i1
e2 i2 +
+
e Co Vo
i3 r Vs D
+
S -
e3 +
Io
Figura 8.7. Conversor Cuk não isolado (sem o filtro de entrada).

As equações (8.19) e (8.20) mostram que a corrente se torna mais senoidal à medida que μ
tende a zero, ou seja, quando a tensão de saída tende a valores elevados, pois Uo é a soma das
tensões de entrada e de saída.
Do ponto de vista da forma da corrente de entrada, isto significa que o intervalo de
decaimento da corrente (T2-Ton) se reduz e a corrente média passa a depender mais efetivamente
do valor de pico, o qual é função da tensão de entrada e da largura de pulso.
A potência de entrada é dada por:

1π B(μ) ⋅ E 2p
Pi = ∫ 3 ⋅ e 1 ⋅ i 1 ⋅ d (ωt ) = (8.21)
π0 π ⋅ Re

A corrente eficaz de entrada é:

1π Ep A ( μ)
Ii RMS
=
π
∫i 2
1 ⋅ d (ωt ) =
Re

π
(8.22)
0

O FP é expresso por:

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2
FP = B(μ) ⋅ (8.23)
π ⋅ A ( μ)

Os valores de A(μ) e B(μ) são:

⎡ ⎛ ⎞ ⎛ ⎞ ⎛ −2μ ⎞⎤
π 1 − 2(1 − 4μ 2 ) ⎢ π − tan −1 ⎜ 3 − 2μ −1 ⎜ 1 − 2 μ 3 ⎟
A(μ) = 2 + ⎜ ⎟⎟ + tan − tan −1 ⎜⎜ ⎟⎟⎥
⎢2 ⎜ 3( 1 − 4μ 2 ) ⎟
2μ ⎠⎥⎦
3
2μ 2 (1 − 4μ 2 ) 2 ⎝ 1 − 4μ ⎠ ⎝ 1 − 4μ
2 2
⎣ ⎝ ⎠
⎡ ⎛ 3−μ ⎞ ⎛ 1 − μ 3 ⎞⎤
2 − 4(1 − μ 2 ) 1 − 2 3μ 2
+ ⎢ tan −1 ⎜ ⎟⎟ − tan −1 ⎜⎜ ⎟⎥ + +
⎜ 2 ⎟
⎢⎣ ⎝ 3(1 − μ ) ⎠⎥⎦ 2μ(1 − 4μ )(1 − 3μ) μ(1 − μ )(2 − 3μ)
3
⎝ 1− μ
2 2
μ 2 (1 − μ 2 ) ⎠
2 2

⎡ ⎛ ⎞ ⎛ ⎞ ⎛ −2 μ ⎞⎤
−π 3 1 ⎢ π − tan −1 ⎜ 3 − 2μ −1 ⎜ 1 − 2 3μ ⎟
B(μ) = 2 − + 2 ⎜ ⎟⎟ + tan − tan −1 ⎜⎜ ⎟⎟⎥
⎢2 ⎜ 3( 1 − 4μ 2 ) ⎟
2μ 2μ 2μ 1 − 4μ 2 ⎝ 1 − 4μ ⎠ ⎝ 1 − 4μ ⎠⎥⎦
2 2
⎣ ⎝ ⎠
⎡ ⎛ 3−μ ⎞ ⎛ 1 − 3μ ⎞⎤
2
+ ⎢ tan −1 ⎜ ⎟⎟ − tan −1 ⎜⎜ ⎟⎥
⎜ 2 ⎟
μ2 1 − μ 2 ⎢⎣ ⎝ 1− μ
2
⎠ ⎝ 3(1 − μ ) ⎠⎥⎦

A figura 8.8. mostra a variação do FP com a largura de pulso, para diferentes valores do
parâmetro μ (ou seja, para a relação entrada/saída de tensões). Note-se que quanto menor o valor
de δ, mais o FP se aproxima da unidade. Valores reduzidos de μ também produzem maiores
fatores de potência. Este resultado, obviamente pressupõe a existência de um filtro na entrada, de
modo que pela linha circule apenas a componente média da corrente.
1
μ=0,3
0.98
μ=0,5

0.96

FP
0.94

0.92

μ=0,7
0.9

0.88
0.1 0.2 0.3 0.4 0.5 0.6 0.7 0.8
δ

Figura 8.8. Variação do FP com a largura de pulso (parametrizado em μ)

A análise realizada na seção precedente pode ser estendida, com mínimas alterações, para
os outros conversores que possuem uma indutância de entrada, quais sejam, o boost [8.3] e o
SEPIC. A figura 8.9. mostra estas topologias.

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Np Ns
ir C1 +
e1 Li i1 D
+ Ro
e2 i2 +
+
e Co
i3 r Vs Vo
+
S -
e3

(a)
ir +
e1 Li i1 D
+ Ro
e2 i2 +
+ Co
e Vs Vo
i3 r
+
S -
e3

(b)
Figura 8.9. Conversores SEPIC isolado (a) e boost (b) trifásicos como PFP (sem filtro de
entrada).

8.2 Conversores trifásicos com entrada capacitiva como PFP

O estágio de entrada destes conversores é o dual do caso anterior, ou seja, obtém-se um


elevado FP com uma tensão descontínua (em cada período de chaveamento) alimentando o
conversor. Esta tensão de alimentação descontínua tem seu valor de pico proporcional à corrente
de linha, a qual apresenta-se aproximadamente senoidal. A figura 8.10 mostra alguns destes
conversores.

Li Lo Io +
e1 i1
+ Ro
e2 + i2
Co Vo
D
+

e3 i3

(a)

e1 Li i1 S D
+ Ro
e2 + i2
L Co Vo
+

i3 Io +
e3

(b)

Figura 8.10. Conversores com entrada capacitiva tipo buck (a) e buck-boost (b).

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Estes circuitos produzem uma tensão média sobre os capacitores de entrada


aproximadamente senoidal, a qual segue a forma da corrente pelos indutores de entrada. Se os
capacitores são pequenos o suficiente eles podem operar no modo descontínuo (de tensão). Com
uma freqüência de chaveamento maior do que a freqüência da rede, a tensão de entrada do
conversor (em relação ao neutro) consiste de uma seqüência de pulsos triangulares cuja amplitude
é proporcional à corrente de linha. Assim, a tensão média sobre os capacitores é também
aproximadamente proporcional à corrente de linha.
Diferentemente do que acontece com o circuito monofásico, um conversor abaixador de
tensão funciona adequadamente com uma entrada trifásica como a apresentada aqui, uma vez que
a tensão com que os capacitores de entrada se carregam é mais elevada do que a tensão normal
(média) da rede.

8.2.1 Determinação da tensão média de entrada


Dada a simetria do circuito, basta considerar um intervalo de 30o. Analisemos, pois, o
intervalo 0<ωt<π/6. A figura 8.11. mostra as formas ideais das tensões nos capacitores de
entrada.

vc3

vc1
0

vc2

t1 t2 t3 T

Figura 8.11. Tensões sobre os capacitores de entrada em um ciclo de chaveamento

Idealmente, as correntes de entrada são expressas por:

i1 = I p ⋅ sin(ωt)
i 2 = I p ⋅ sin(ωt − 120o ) (8.24)
i 3 = I p ⋅ sin(ωt + 120o )

Subintervalo 1: to<t<t1
Neste intervalo o transistor está bloqueado e o diodo de saída conduz (δ'=1−δ). Os
circuitos de entrada e de saída estão desacoplados, conforme se vê na figura 8.12. Cada capacitor
da entrada é carregado linearmente (as correntes de entrada são suposta constantes neste pequeno
intervalo) e as tensões finais dependem do valor instantâneo de cada corrente:

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ii ⋅ δ ' ⋅ T
v ci P = , para i=1,2,3 (8.25)
C

Li Lo Io +
e1 i1
+ Ro
e2 + i2
Co Vo
D
+

e3 i3

Figura 8.12. Funcionamento do circuito no subintervalo 1.

Subintervalo 2: t1<t<t2
O transistor entra em condução, levando ao bloqueio do diodo de saída. No intervalo aqui
analisado, cujo circuito equivalente está mostrado na figura 8.13., a máxima tensão de linha está
presente entre as fases 3 e 2. A corrente de saída é fornecida por estas fases, cujos capacitores se
descarregam, enquanto o capacitor ligado à fase 1 continua a se carregar com a corrente de
entrada de sua fase, uma vez que os diodos a ela conectados não conduzem. Neste intervalo tem-
se:

i1
v c1 = v c1 + ⋅ (t − t 1 )
P
C
( i 2 + Io)
v c2 = v c2 + ⋅ (t − t 1 )
P
C
( i 3 − Io) (8.26)
v c3 = v c3 + ⋅ (t − t 1 )
P
C
i c1 = i 1
i c 2 = i 2 + Io
i c 3 = i 3 − Io

A tensão na fase 3 vai diminuindo enquanto a da fase 1 aumenta, Quando vc1=vc3 o


diodo conectado à fase 1 também entra em condução.

Li Lo Io +
e1 i1
+ Ro
e2 + i2
Co Vo
+

e3 i3

Figura 8.13. Circuito equivalente durante o subintervalo 2.

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Subintervalo 3: t2<t<t3

i 2 + Io i
v c1 = v c3 = − ⋅(t − t 2 )+ 1 ⋅ δ 2 ⋅ T + v c1P
2C C
(8.27)
i + Io
v c2 = 2 ⋅ ( t − t 2 )+ δ 2 ⋅ T + v c 2 P
C

onde δ2=(t2-t1).

Este subintervalo se encerra quando as tensões dos capacitores vão a zero e o diodo da
saída se torna diretamente polarizado. A figura 8.14 mostra o circuito equivalente neste
subintervalo.

Li Lo Io
e1 i1 +
+ Ro
e2 + i2
Co Vo
+

e3 i3

Figura 8.14. Circuito equivalente no subintervalo 3.

O conversor permanece neste estado até que o transistor seja desligado.


Diferentemente do expresso em (8.24), as expressões para as correntes médias de entrada
em um semiciclo da rede são:

e1 ⋅(1 + λ ⋅ e1) π
i1 = , para 0 ≤ ω t ≤
R e ⋅(1 − λ ⋅ e 2 )⋅(1 + λ ⋅ e 3) 6
e1 π π
i1 = , para ≤ ωt ≤
R e ⋅( 1 − λ ⋅ e 2 ) 6 3
e1 π 2π
i1 = , para ≤ ωt ≤
R e ⋅(1 + λ ⋅ e1) 3 3
e1 2π 5π
i1 = , para ≤ ωt ≤
R e ⋅(1 − λ ⋅ e 3) 3 6
e1 ⋅(1 + λ ⋅ e1) 5π
i1 = , para ≤ ωt ≤ π (8.28)
R e ⋅(1 − λ ⋅ e 3)⋅(1 + λ ⋅ e 2 ) 6

1 δ’2 ⋅T
onde: λ = e Re =
Io ⋅ R e 2⋅C

Das equações (8.28) nota-se que quando λ aproxima-se de zero, a corrente tende à forma
e
senoidal, convergindo para a mesma expressão, qual seja: i1 → 1
Re

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A razão para isto é que uma redução de λ equivale a um aumento na corrente de saída.
Esta corrente é a responsável pela descarga dos capacitores. Se eles se descarregam mais
rapidamente, a tensão média sobre os capacitores dependerá mais fortemente dos valores de pico
com que foram carregados e, assim, tendem a um valor médio senoidal.
A figura 8.15 mostra o comportamento da corrente média calculada de acordo com a eq.
8.28. A figura 8.16 mostra os elevados valores do fator de potência obtidos para diferentes
combinações de corrente de carga e ciclo de trabalho.
4

i1
2

0
0 0.5 1 1.5 2 2.5 3

θ = ωt

Figura 8.15. Corrente média de entrada para conversor trifásico com entrada tipo capacitiva
(Io=5A, δ=50%).

FP 1

0.999 Io=20A

0.997 Io=10A
0.996
Io=5A
0.994
0.2 0.35 0.5 0.65 0.8
δ

1
FP

δ=80%
δ=50%

0.996

δ=20%
5 10 15 20 25 30 35 40 45 50
Io

Figura 8.16. Comportamento do fator de potência.

A figura 8.17. mostra a corrente de entrada de um conversor abaixador de tensão com


entrada trifásica (figura 8.10.a). A figura 8.18. mostra um detalhe das tensões nos capacitores de
entrada, verificando-se o mesmo comportamento descrito anteriormente.

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Figura 8.17. Corrente de entrada em conversor abaixador de tensão, com entrada trifásica e
condução descontínua na tensão de entrada

Figura 8.18. Tensão sobre os capacitores de entrada de conversor buck.

8.3 Melhoria no FP de retificador trifásico a diodo alimentando carga capacitiva

Os circuitos vistos anteriormente se baseiam no aproveitamento de topologias de


conversores CC-CC existentes. Industrialmente, no entanto, a grande maioria das fontes de tensão
é constituída por simples retificadores a diodo alimentando um filtro capacitivo, como já visto
anteriormente. Circuitos que permitam, sem alterações significativas, elevar o FP destes
conversores, com baixo custo, são de grande interesse.
A idéia é forçar a existência de uma corrente na fase que estaria desenergizada. Tal
corrente circula inicialmente apenas pela alimentação, não alterando o comportamento da saída.
O circuito do conversor mostrado na figura 8.19 [8.4] permite minimizar grandemente a
distorção da corrente, adicionando a capacidade de regular a tensão de saída contra variações na
carga ou na alimentação. Os interruptores são bidirecionais em tensão e em corrente.
Caso os capacitores sejam de valor elevado, comportam-se como fontes de tensão. Com
valor reduzido, ocorre uma ressonância com os indutores de entrada [8.5], o que pode suavizar a

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forma de onda da corrente de entrada, garantindo que a distorção harmônica sempre esteja dentro
dos limites da norma IEC 61000-3-4 [8.6].
Com o chaveamento em baixa freqüência, as perdas de comutação nos interruptores são
mínimas. Os indutores possuem, tipicamente, núcleo de ferro e, embora de baixo custo e fácil
realização, são pesados e potencialmente fonte de ruído acústico.
Uma importante vantagem é que este circuito pode ser adicionado a retificadores
existentes sem a necessidade de “abrir” o circuito.
Uma variação nos tempos de condução dos interruptores permite um ajuste na tensão de
saída, funcionando como uma espécie de conversor boost operando em baixa freqüência.
A figura 8.20 mostra as formas de onda típicas do conversor.
A figura 8.21 mostra formas de onda para diferentes valores de carga alimentada. O ajuste
nos tempos de condução dos interruptores garante a regulação da tensão de saída e todas as
correntes estão dentro dos limites da norma.

D1 D3 D5
ua ia u1 +
L Sa C1
+
ub L ib Sb
+ +
N
M CL U R L
uc L ic Sc o
+
+
u2 C 2
D4 D6 D2

Figura 8.19. Retificador com alto fator de potência e comutação em baixa freqüência.

ua
ia

π/6 π/2 5π/6


0 π/3 2π/3 π ωit

Uo u2
u1
U1

Uo-U1

uga 1° 2° 3° 4° 5° 6° ωit
ugb ωit
ugc ωit
ωit
Figura 8.20 De cima para baixo: Tensão de fase e corrente de entrada; Tensão nos capacitores
ressonantes; Sinais de comando para os interruptores.

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3720 W 10 kW
5820 W

Figura 8.21 Formas de onda da corrrente de entrada para diferentes potências. Tensão de fase
(50V/div.) e corrente de linha (10A/div.)

8.4 Conversor tipo Flyback

A figura 8.22. mostra uma topologia [8.7] que opera baseada no conversor flyback.

Va
Iap

Ian Ias
Vb Vce
Ibp S

Ibn Vo
Ibs
Vc
Icp

Icn Ics

Figura 8.22 Conversor trifásico, meia-onda, tipo flyback, com alto FP

O conversor é construído com 3 "transformadores" tipo flyback. Cada um possui um


enrolamento primário bipartido, com o ponto médio conectado à alimentação. As extremidades
dos enrolamentos de primário são conectadas aos diodos, de modo que a corrente sempre produza
um fluxo no mesmo sentido, seja ela positiva ou negativa. O circuito opera no modo de condução
descontínuo, ou seja, o fluxo inicial em cada "transformador" é nulo.
Com a entrada em condução do interruptor, as correntes pelos primários crescem, com
uma inclinação que depende do valor instantânea da tensão de fase. O valor de pico alcançado ao
final do ciclo de trabalho é, assim, proporcional à tensão de alimentação. Isto garante uma
variação da corrente média, em cada semiperíodo da rede, de forma senoidal, implicando num
elevado FP, como se observa na figura 8.23.
Durante a condução do transistor não existe corrente nos secundários. Quando o
interruptor é aberto, o fluxo nos “transformadores” é garantido pela condução nos enrolamentos
secundários. Supondo constante a tensão de saída, a taxa de decaimento destas correntes é a
mesma, de modo que o tempo necessário para o anulamento de cada corrente varia em função do
valor inicial.

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Figura 8.23. Tensão e corrente de entrada do conversor flyback trifásico

8.5 Referências Bibliográficas

[8.1] L. Malesani, L. Rossetto, G. Spiazzi, P. Tenti, I. Toigo and F. del Lago: "Single-Switch
Three-Phase AC/DC Converter with High Power Factor and Wide Regulation
Capability". Proc. of INTELEC '92, Washington, USA, 1992, pp. 279-285.
[8.2] E. Ismail and R. W. Erickson: “A Single Transistor Three Phase Resonant Switch for
High Quality Rectification”. Proc. Of IEEE PESC ‘92.
[8.3] A. R. Prasad, P. D. Ziogas and S. Manias: “An active Power Factor Correction Technique
for Three-Phase Diode Rectifier”. IEEE PESC ‘89 Record, pp. 58-66.
[8.4] E. L. de M. Mehl and I. Barbi: “The Curi Circuit: A High Power Factor and Low Cost
Three-Phase Rectifier”. Proc. Of 3th COBEP, São Paulo, Dec. 1995.
[8.5] Joanna A. G. Marafao,, Jose A. Pomilio, and Giorgio Spiazzi: “Improved Three-Phase
High-Quality Rectifier with Line-Commutated Switches”, IEEE Trans. on Power
Electronics, vol.
[8.6] Commission Electrotechnique Internationale, IEC 1000-3-4, “Limitation of emission of
harmonic currents in low-voltage power supply systems for equipment with rated current
greater than 16 A per phase”, 3, rue de Varembé, Genève, Switzerland, 1998.
[8.7] O. Apeldoorn and P. Schmidt: "Single Transistor Three Phase Power Conditioners with
High Power Factor and Isolated Output". Proc. of APEC '94, Orlando, USA, March 1994,
pp. 731-737

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9. PRÉ-REGULADORES DE FATOR DE POTÊNCIA COM


RETIFICADORES CONTROLADOS

Diferentemente do que foi visto no capítulo anterior, onde os retificadores eram não
controlados, nos casos aqui apresentados, o retificador é constituído por interruptores
controlados, de modo a ser possível a síntese de uma corrente senoidal de entrada com o uso
de técnicas de Modulação por Largura de Pulso (MLP) ou Modulação em Freqüência (FM).

9.1 Conversor trifásico tipo elevador de tensão com retificador controlado

O circuito da figura 9.1. mostra um conversor tipo boost, com entrada trifásica, com o
controle de tensão de saída feito por meio dos transistores localizados na semiponte inferior
[9.1]. A entrada se comporta como fonte de corrente e a saída como fonte de tensão.
Sua operação é com condução crítica da corrente de entrada, ou seja, os transistores
são comandados simultaneamente e conduzem por um intervalo de tempo fixo (determinado
em função da tensão de saída desejada). Desligados no mesmo instante, as correntes por eles
se reduzem. Quando todas as três correntes se anulam, inicia-se um novo período. A entrada
em condução dos interruptores é sob corrente zero. O circuito pode também operar no modo
de condução descontínua quando, do ponto de vista da rede, comporta-se como um conversor
a diodos, visto no capítulo anterior.

S1 S2 S3
Is Ia

Va A +
N Vb Co
B Vo
C Ro
Vc
Lf Li
Cf
T1 D1 T2 D2 T3 D3

Figura 9.1 Conversor boost trifásico com retificador controlado

Em relação ao conversor boost apresentado anteriormente (com retificador a diodos),


as vantagens apresentadas são: a existência de duas quedas de tensão em dispositivos
semicondutores (ao invés de três, no retificador a diodos); a possibilidade de limitação de
correntes de partida e de sobre-correntes.
O papel dos tiristores na semiponte superior é o de permitir uma partida suave e
limitar a corrente de saída. Em operação normal eles operam como diodos, ou seja, entram em
condução apenas fiquem diretamente polarizados.
A figura 9.1. mostra ainda os filtros de entrada necessários para que pela linha circule
apenas a corrente média, sendo as componentes de alta freqüência fornecidas pelos
capacitores de filtragem. As tensões sobre estes capacitores acompanham as tensões de
entrada.

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A figura 9.2 mostra as correntes em cada fase para um ângulo relativo às tensões de
entrada entre 0 e 30o. Neste intervalo a tensão na fase b é negativa e tem o maior valor em
módulo. A tensão da fase a (positiva) está crescendo a partir do zero e a da fase c (positiva)
está se reduzindo, indo a zero no final do intervalo.

t1 t2 t3=T
ic

ia

ib

modo I modo II modo III

Figura 9.2. Correntes por fase em um ciclo de chaveamento (0<ωt<π/3)

9.1.1 Princípio de operação


Modo I: ( 0 < t < t1: T1, D2 e T3 em condução)
Neste intervalo os interruptores recebem o sinal de acionamento. Como T2 está
reversamente polarizado ele não conduz. A corrente circula apenas pelo estágio de entrada,
uma vez que a tensão de saída é maior do que as tensões de entrada, polarizando reversamente
os tiristores. A carga é alimentada pelo capacitor Co. Como a tensão vb é a maior em módulo,
a corrente ib atinge o máximo valor de pico (em módulo). Os valores de pico (iap, ibp, icp)
são proporcionais ao valor instantâneo das tensões de entrada. Quanto t=t1, as correntes estão
em seus valores de pico. Dentro de cada período de chaveamento as tensões de entrada são
supostas constantes. As tensões nos pontos A, B e C em relação ao neutro são nulas, pois os
componentes em condução curto-circuitam estes pontos.
A figura 9.3 mostra o circuito equivalente neste modo de funcionamento. As equações
das correntes são:
t ⋅ va
ia =
Li
t ⋅ vb
ib = (9.1)
Li
t ⋅ vc
ic =
Li

Modo II: (t1 < t < t2: S1, S3 e D2 conduzindo)


Em t1 os transistores são desligados, o que força as correntes que por eles passavam a
circularem pelos tiristores S1 e S3 (que devem permanecer habilitados). D2 continua
conduzindo. O circuito equivalente é mostrado na figura 9.4. A energia acumulada nos
indutores é enviada à saída, fazendo com que as correntes diminuam.

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is ia

Va A +
N Vb Co
B Vo
C Ro
Vc
Lf Li
Cf
T1 D2 T3

Figura 9.3 Circuito equivalente no Modo I de funcionamento

As equações relativas a este modo de operação são:

Vo
VAN = VCN =
3
(9.2)
− 2 ⋅ Vo
VBN =
3

(t − t 1 ) ⎛ Vo ⎞
i a = i ap + ⋅ ⎜v a − ⎟ (9.3)
Li ⎝ 3 ⎠

(t − t 1 ) ⎛ 2 ⋅ Vo ⎞
i b = i bp + ⋅ ⎜v b + ⎟ (9.4)
Li ⎝ 3 ⎠

(t − t 1 ) ⎛ Vo ⎞
i c = i cp + ⋅ ⎜vc − ⎟ (9.5)
Li ⎝ 3 ⎠

Em t=t2 a corrente da fase a vai a zero e continua a haver corrente pelas fases b e c
(iguais em módulo).

S1 S3
is ia
va
Va A +
N Vb vb Co
B Vo
vc C Ro
Vc
Lf Li
Cf
D2

Figura 9.4 Circuito equivalente no modo II de funcionamento

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Modo III: (t2 < t < t3: D2 e S3 conduzindo)


Como a corrente da fase a se anula, S1 deixa de conduzir. Neste intervalo as equações
são:

VAN = v a
− Vo − v a
VBN = (9.6)
2
Vo − v a
VCN =
2

(t − t 2 )
i b = i b (t 2 )+ ⋅(v b − VBN ) (9.7)
Li

(t − t 2 )
i c = i c ( t 2 )+ ⋅(v c − VCN ) (9.8)
Li

Os intervalos de tempo são:

Li ⋅ i bp
t1 = (9.9)
vb

3 ⋅ Li ⋅ i ap
(t 2 − t 1)= (9.10)
Vo − 3 ⋅ v a

2 ⋅ L i ⋅ i b (t 2 )
( t 3 − t 2 )= (9.11)
− Vo − v a − 2 ⋅ v b

Em termos do fator de potência, a dificuldade de se obter uma expressão analítica é


similar àquela vista no capítulo anterior para um retificador a diodos. Neste caso, como se tem
condução crítica, a não existência do intervalo com corrente nula na entrada faz com que o FP
tenda a ser maior do que o caso com retificador a diodos.

9.2 Conversor CA-CC trifásico com controle PWM

O circuito mostrado na figura 9.5 é de um conversor CA-CC trifásico, controlado por


MLP. O lado CC comporta-se como uma fonte de corrente, enquanto na entrada tem-se uma
fonte de tensão. O uso de uma técnica de controle adequada permite, simultaneamente, obter
o desempenho desejado na saída, absorvendo uma corrente média senoidal da rede. A
inclusão de um filtro capacitivo após a indutância de saída não altera o comportamento do
conversor, o qual tem uma característica de abaixador de tensão.
Se as chaves forem unidirecionais em corrente, o conversor pode operar em 2
quadrantes. Com chaves bidirecionais, o funcionamento em quatro quadrantes é possível.

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Lo

va ia S3
S1 S2

vb ib
v V
o o

vc ic

S6 Io
S4 S5

Figura 9.5. Topologia do conversor CA-CC trifásico, operando em MLP, com saída de
corrente.

A figura 9.6. mostra as tensões de entrada e referências de corrente a serem seguidas


para a obtenção de fator de potência unitário. Em cada período da rede existem 6 intervalos,
que se iniciam nos cruzamentos das referências de corrente. Cada intervalo corresponde a um
modo de funcionamento distinto.

va vb vc

ira irb irc

t1 t1' t2 t3 t4 t5 t6 t7

Figura 9.6. Tensões de entrada e referência de corrente

Consideremos o intervalo (t1 - t2). A referência ira é a maior positiva e irb é a maior
negativa.. Considerando que a corrente de saída Io é perfeitamente contínua, o interruptor S1
pode ser acionado de acordo com uma lei de modulação senoidal, m1, de modo que a corrente
ia siga a referência ira em termos dos componentes de baixa freqüência do espectro.
Da mesma forma, uma lei de modulação m5 pode ser adotada para S5, fazendo com
que ib siga a referência irb.
Quando a chave S1 é aberta, uma outra chave da semiponte superior deve ser fechada
para permitir a continuidade da corrente. Quando S5 é aberto, outro interruptor da semiponte

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negativa deve entrar em condução. Para estas funções, S3 e S6 são usadas, uma vez que elas
não alteram as correntes pelas fases a e b. A forma senoidal desejada para a fase c é resultado
do fato que a soma das correntes nas 3 fases é nula. Quando S3 e S6 conduzirem
simultaneamente, cria-se um caminho de livre-circulação para a corrente da saída. A figura
9.7 mostra os sinais de comando para os interruptores e a forma de onda da tensão de saída, a
qual apresenta um comportamento de três níveis. As formas de onda correspondem ao
intervalo t1’<t<t2, no qual va>vb, em módulo e, conseqüentemente, δa>δb.

S1

S5

S6

S3

δ5
δ1
Τ
va-vb
va-vc
vo

Figura 9.7. Sinais de comando para os interruptores e tensão de saída

As correntes instantâneas pelas fases têm forma retangular, com amplitude dada pela
corrente de saída e largura determinada pela lei de modulação (figura 9.8.). Simultaneamente
haverá corrente apenas por 2 das 3 fases, uma vez que a existência de 3 correntes simultâneas
colocaria em curto 2 das fases.

+Io

-Io

Figura 9.8. Forma de onda instantânea das correntes de entrada

9.2.1 Equações básicas

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Seja x(t) uma função lógica que descreve o estado de uma chave genérica S.
Correspondentemente, a lei de modulação m(t) pode ser definida como uma função contínua
dada pelo conteúdo de baixa freqüência de x(t). Como x(t) assume apenas valores 0 e 1, m(t)
é limitada entre 0 e 1.
O fato de apenas um interruptor estar fechado em cada semiponte ao mesmo tempo,
faz com que apenas um x(t), relacionado a cada semiponte, a cada instante, possa ser 1:

i a = ( x1 − x 4 ) ⋅ Io
i b = ( x 2 − x5 ) ⋅ Io (9.12)
i c = ( x 3 − x 6 ) ⋅ Io

v o = ( x1 − x 4 ) ⋅ v a + ( x 2 − x 5 ) ⋅ v b + (x 3 − x 6 ) ⋅ v c (9.13)

Desprezando as componentes de alta freqüência no espectro de x(t), as equações 9.12


e 9.13 podem ser reescritas como:

i a = ( m1 − m 4 ) ⋅ Io
i b = ( m 2 − m5 ) ⋅ Io (9.14)
i c = ( m 3 − m 6 ) ⋅ Io

v o = ( m1 − m 4 ) ⋅ v a + ( m 2 − m 5 ) ⋅ v b + ( m 3 − m 6 ) ⋅ v c (9.15)

No intervalo t1 - t2, as seguintes condições devem ser satisfeitas:

x4 =0
x2 =0
(9.16)
x3 = x1
x6 = x5

Para obter as correntes senoidais de entrada tem-se:

m1 = M ⋅ sin(ωt )
m 3 = 1 − m1 = 1 − M ⋅ sin(ωt )
m5 = − M ⋅ sin(ωt − 120 o ) (9.17)
m 6 = 1 − m5 = 1 + M ⋅ sin(ωt − 120 ) o

m4 = m2 = 0

onde M é o índice de modulação.


De 9.14. e 9.17. tem-se:

i a = Io ⋅ M ⋅ sin(ωt )
i b = Io ⋅ M ⋅ sin(ωt − 120 o ) (9.18)
i c = Io ⋅ M ⋅ sin(ωt + 120 ) o

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Assim, desde que a corrente de saída seja perfeitamente contínua, as correntes de


entrada desejadas serão obtidas.
Procedendo analogamente para a expressão da tensão média de saída, e considerando
as tensões de entrada senoidais, simétricas e em fase com as referências de corrente, a tensão
de saída apresenta-se constante, sendo dada por:

3 ⋅ Vp ⋅ M
v o = M ⋅ [ v a ⋅ sin(ωt ) + v b ⋅ sin(ωt − 120 o ) + v c ⋅ sin(ωt + 120 o )] = (9.19)
2

onde Vp é a valor de pico das tensões de alimentação (fase - neutro).


Ou seja, a tensão CC não é afetada por componentes de baixa freqüência, e seu valor
máximo é apenas 10% menor do que aquele fornecido por uma ponte não controlada.
O índice de modulação, M, determina tanto a amplitude da tensão média de saída
quanto a amplitude das correntes alternadas de entrada, de acordo com o balanço de potência.

9.2.2 Absorção de reativos


Esta técnica de controle pode ser estendida variando-se a fase entre a tensão de
entrada e as respectivas correntes, permitindo assim a absorção de uma quantidade
controlável de potência reativa.
Para este objetivo, as referências de corrente, ir, devem estar defasadas das tensões de
entrada de uma fase adequada, φ. As equações das correntes não sofrem alterações, enquanto
a tensão de saída passa a ser expressa por:

3 ⋅ Vp ⋅ M
vo = ⋅ cosφ (9.20)
2

ou seja, a absorção de reativos reduz a máxima tensão possível de saída.


Generalizando um pouco mais, qualquer forma de corrente pode ser absorvida da rede,
desde que uma referência adequada seja utilizada, o que torna esta topologia bastante própria
para a implementação de filtros ativos de potência [9.3].

9.2.3 Outras seqüências de comutação


Diversas outras seqüências de comando para os interruptores podem ser utilizadas.
Aquela descrita anteriormente realiza o estado de livre-circulação no ramo conectado à
referência cujo valor instantâneo seja intermediário às duas referências com valores absolutos
maiores. Assim, dentro de cada período de chaveamento ocorrem 4 comutações, como se
observa na figura 9.7.
Sem alterar as formas da tensão de saída e da corrente de entrada, pode-se usar uma
seqüência de acionamento como a da figura 9.9. Neste caso, o interruptor ligado à referência
de maior valor (em módulo), permanece sempre ligado [9.4]. É sobre este mesmo ramo que se
fará o intervalo de livre-circulação. Com isto se reduz a quantidade de chaveamentos por
ciclo, aumentando a eficiência do conversor. No exemplo usado, S1 permanece em condução
enquanto a referência de corrente da fase a for a maior em módulo. A condução de S5 coloca
na saída a máxima tensão entre fases disponível. Quando S5 desliga (ao final de seu ciclo de
trabalho, δ5), entra em condução S6, de modo que a tensão de saída assume o valor
intermediário. Ao final do ciclo de trabalho δ1, S6 é desligado e S4 ligado.

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S1

S5

S6

S4

δ5
δ1
Τ
va-vb
va-vc
vo

Figura 9.9. Sinais de comando e tensão de saída com mínimo número de chaveamentos

A figura 9. 10 mostra um resultado experimental de um conversor operando desta


maneira. A corrente de entrada apresenta uma ondulação superposta, relativa à ressonância do
filtro de entrada.

v a

ia

Figura 9.10 Tensão (40V/div) e corrente (10A/div) de entrada. Horiz.: 4ms/div.

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9.3 Conversor tipo Flyback

O conversor apresentado em 9.2. opera como abaixador de tensão. Caso se deseje uma
característica abaixadora-elevadora de tensão, pode-se utilizar um conversor baseado nesta
topologia, mantendo, no entanto, a hipótese de corrente constante pelo indutor [9.5].
A figura 9.11. mostra este conversor. Os interruptores utilizados permitem ao
conversor um comportamento como o do um retificador MLP com operação em 2 quadrantes.
As correntes de entrada são formadas por retângulos de corrente, cuja amplitude é a
mesma da corrente pelo indutor e cuja largura é determinada pelo comando MLP utilizado. À
semelhança do que foi visto no item anterior, é possível sintetizar-se uma corrente de entrada
cuja componente fundamental seja senoidal e em fase com a tensão. As componentes de alta
freqüência são fornecidas pelos capacitores de filtro, de modo que pela linha circule apenas a
corrente média.

D1 D2 D3

Ia
A
Va

N Vb B Co
Vo
C Ro
Vc L
Lf
Cf +
D4 D5 D6
Figura 9.11. Conversor trifásico tipo flyback

9.4 Referências Bibliográficas

[9.1] S. Kim and P. Enjeti: "A New Three Phase AC to DC Rectifier with Active Power
Factor Correction". Proc. of APEC '94, Orlando, USA, March 1994, pp. 752-759.
[9.2] L. Malesani and P. Tenti: "Three-Phase AC/DC PWM Converter with Sinusoidal AC
Currents and Minimum Filter Requirements". IEEE Trans. on Industry Applications,
vol. IA-23, no. 1, Jan/Feb. 1987, pp. 71-77.
[9.3] L. Rossetto and P. Tenti: “Using AC-fed PWM Converters as Instantaneous Reactive
power Compensators”. Trans. On Power Electronics, vol. 7, no. 1, Jan. 1992, pp. 224-
230.
[9.4] J. A. Pomilio, L. Rossetto, P. Tenti and P. Tomasin: “Performance Improvement of
Soft-Switched PWM Rectifier with Inductive Load”. Proc. Of PESC ‘94, Taiwan,
June 1994, pp. 1425-1430.
[9.5] R. Itoh and K. Ishizaka: “Three-Phase Flyback AC-DC Convertor with Sinusoidal
Supply Currents”. IEE Proceedings - B, vol. 138, No. 3, May 1991, pp. 143-151.

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10. CIRCUITOS INTEGRADOS DEDICADOS AO ACIONAMENTO E


CONTROLE DE FONTES CHAVEADAS COM CORREÇÃO DE FATOR
DE POTÊNCIA

Nos últimos anos, uma variedade de circuitos integrados dedicados ao controle de


fontes chaveadas com correção de fator de potência foi desenvolvida.
Diferentes tipos de controle são possíveis:
a) No modo de condução descontínuo, circuitos que produzem sinal PWM a partir do erro da
tensão de saída são usados. Neste caso o CI pode ser o mesmo utilizado em fontes chaveadas
normais.
b) No modo de condução crítico, o CI deve prever a detecção de corrente nula, operando em
freqüência variável e largura de pulso fixa.
c) No modo de condução contínuo o CI deve ter um circuito multiplicador a fim de gerar a
referência de corrente, corrente esta que deve ser realimentada.
Além disso, a maioria possui um amplificador de erro e uma referência interna,
permitindo a implementação da malha de controle.
As características específicas de cada CI variam em função da aplicação, do grau de
desempenho esperado, das proteções implementadas, etc. Em linhas gerais pode-se dizer que
os atuais CIs possuem as seguintes características [10.1,10.2]:
. oscilador interno ou programável (freqüência até 500kHz)
. sinal MLP linear, com ciclo de trabalho de 0 a 100%
. amplificador de erro integrado
. referência de tensão integrada
. inibição por subtensão e sobre-tensão
. elevada corrente de saída no acionador
. "soft start"
. limitação de corrente
. capacidade de sincronização com outros osciladores.

10.1 Realimentações de tensão e de corrente

Os pré-reguladores de fator de potência, via de regra, apresentam sua tensão CC não


isolada eletricamente da tensão de entrada. Eventuais isolamentos são feitos no estágio
posterior.
Desta forma é possível ter sempre um ponto comum entre a tensão na saída do
retificador (onde se faz a medida da tensão de entrada a qual definirá a forma da corrente de
entrada) e a tensão CC de saída, permitindo as realimentações necessárias.
A figura 10.1 indica 2 possibilidades de implementação destas realimentações, num
conversor elevador de tensão e num conversor Cuk.
Diferentes métodos de se observar a corrente podem ser usados. O método resistivo é o
mais simples, embora em geral, para diminuir a dissipação de potência, tenha-se uma tensão
reduzida. Um filtro RC é recomendado para eliminar ruídos espúrios, os quais poderiam
acionar proteções de maneira errada. Um acoplamento via transformador permite isolação e
aumento de eficiência, embora aumente a complexidade e o custo do sistema. A figura 10.2
mostra algumas possibilidades de medida da corrente.
O uso de sensores tipo Hall permite uma medição de valores CC e CA, com ampla
faixa de resposta e isolada eletricamente.

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Real. Real. Real.


da tensão da corrente da tensão
de entrada de linha (negativa) de saída

Real. Real. Real.


da tensão da corrente da tensão
de entrada de linha (negativa) de saída (negativa)

Figura 10.1 Realimentações de tensão e de corrente.

Rs
+ 4
X3
+ Rs - 3
3
X3
-
(c)
4

(a)

+ 4 I
X3
+ - 3
Cf Rs
3
X3 Trafo de corrente
-
4
(d)
Spike

(b)

Figura 10.2 Métodos para medição da corrente

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10.2 UC1524A (ou 2524 ou 3524)

O circuito integrado UC1524A é uma versão melhorada dos primeiros controladores


MLP, o SG1524. O diagrama de blocos está mostrado na figura 10.3.
Como se trata de um CI que produz um sinal MLP, sua aplicação se dá em conversores
que operam no modo descontínuo, com ciclo de trabalho constante.
Um gerador de onda dente de serra tem sua freqüência determinada por um par RC
conectado externamente. O limite usual é de 500kHz. A rampa gerada tem uma excursão de
aproximadamente 2,5V. O comparador MLP tem uma entrada (positiva) proveniente deste
gerador de rampa e a outra pode ser fornecida pelo amplificador de erro da tensão de saída ou
pelo limitador de corrente da saída.
O integrado possui uma fonte interna de referência de 5V, +1%. Desta forma, tal tensão
pode ser usada no amplificador de erro como referência direta para saídas de 5V. Caso a saída
seja de maior valor, usa-se um divisor de tensão. O amplificador de erro é do tipo
transcondutância, ou seja, apresenta uma elevada impedância de saída, comportando-se como
uma fonte de corrente. O compensador pode ser utilizado tanto entre a saída (pino 9) e a
entrada inversora ou entre a saída e o terra, ou seja, conectada apenas ao pino 9. O
amplificador limitador de corrente pode ser usado no modo linear ou com limitação pulso a
pulso. Sua tensão de limiar é de 200mV.
Um sensor de subtensão inibe o funcionamento dos circuitos internos, exceto a
referência, até que a tensão de entrada (Vin, pino 15) seja superior a 8V.
O sinal do oscilador aciona um flip-flop de modo a selecionar a qual das saídas será
enviado o sinal MLP. Este sinal passa por um latch, de modo a garantir um único pulso por
ciclo, podendo ainda ser inibido pela entrada de shutdown (pino 10), o qual atua em 200ns. A
saída dupla permite o acionamento de uma topologia push-pull. Os transistores podem fornecer
200mA, suportando 60V, podendo ser paralelados.

Vin
15
. + 5V
Referência 16
Vref

Sub- Para circuitos internos


tensão
Osc. Flip- . 12
Ca

Rt
3
6
. Osc. . .Clock Flop
. . 11
Ea

Ct
7
+
R
. 13
Cb

Compensação
9 Ampl. Erro
. -
PWM
S Latch
14
Eb

Inv.

N. Inv.
1 -
+
. 8
GND

4
200mV
-
+
. 1k 10
Shutdown
5
Limite de corrente . 10k

Figura 10.3 Diagrama de blocos interno do UC1524A

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10.3 LT1249

Este CI [10.3] possui apenas 8 pinos, de modo que os recursos acessíveis ao usuário são
restritos. Dedica-se ao acionamento de conversores tipo elevador de tensão no modo contínuo,
com controle da corrente média.
São ajustes internos: a referência de tensão (7,5 V) e a freqüência de chaveamento (100
kHz). O multiplicador apresenta um ganho quadrático para a corrente CA, de modo a reduzir
as distorções que tendem a ocorrer nas proximidades do cruzamento com o zero e manter a
estabilidade para situações de baixa corrente de carga.
Além disso, como nesta região o ciclo de trabalho tende à unidade, existe a
possibilidade de ocorrerem instabilidades. Tais instabilidades são possíveis quando a largura
de pulso se torna maior do que 50% e ocorre uma perturbação na carga ou na alimentação. Este
é um comportamento típico do controle no modo corrente.
O CI prevê a implementação de proteções contra sobre-tensão e limitação da corrente.
O amplificador de erro de tensão possui um ganho de 100dB (CC) e uma faixa de
ganho unitário de 1,5 MHz. O amplificador de corrente é do tipo transcondutância (320 μmho
e ganho de 60 dB com saída em aberto). A resistência de saída é de 4MΩ.
Este CI pode ser sincronizado por um sinal externo na faixa de 127kHz a 160 kHz.
Sincronização é possível quando a tensão no pino 2 é levada abaixo de 5,5 V.
A proteção contra sobre-tensão é necessária devido à lenta resposta do sistema a
variações na carga (o filtro de saída é projetado para atenuar 120Hz). Ela é implementada
colocando-se uma rede RC entre a entrada e a saída do amplificador de erro de tensão (pinos 6
e 5, respectivamente), de modo que rapidamente o sistema atue no sentido de limitar a sobre-
tensão.
Como o consumo de corrente do CI é baixo (250uA, sem que ocorra acionamento da
saída), a partida pode ser feita com uma alimentação obtida da própria rede, através de um
resistor de elevado valor (90k). Com o funcionamento da fonte, a alimentação pode ser provida
por um circuito auxiliar, como se vê na figura 10.4.

90 k, 1W

Linha
. Indutor principal

. . . . D3
Vcc
D2 D1
. C1
C3 C4
. . .
C2
GND
Figura 10.4. Esquema para alimentação do CI.

O diagrama esquemático do CI em uma aplicação está mostrado na figura 10.5.


Os pinos têm as seguintes funções:
Pino 1: Terra
Pino 2 (CAout): É a saída do amplificador de corrente, a qual sensora e força a corrente de
linha a seguir o sinal de referência que vem do multiplicador. Isto é feito controlando o
modulador de largura de pulso. Quando CAout é baixo, o modulador apresenta um ciclo de
trabalho nulo.

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Pino 3 (Mout): A corrente de saída do multiplicador sai por este pino através de um resistor de
4k (RMOUT). A tensão sobre este resistor é a referência para o laço de corrente, estando limitada
a 1,1V. A entrada não inversora do amplificador de corrente também está conectada ao mesmo
resistor. Em operação Mout tem normalmente um valor negativo e apenas sinais CA aparecem
neste ponto.
Pino 4 (Iac): Este pino é o que sensora a tensão CA da alimentação, servindo como entrada
para o multiplicador. Esta é uma entrada em corrente, que é polarizada em 2 V para minimizar
a zona morta que ocorre nos cruzamentos com zero. Um resistor de 25k é colocado em série
com a entrada e um pequeno capacitor (externo) é usado para filtrar os ruídos de chaveamento.
Note-se que a ondulação produzida pelo chaveamento chega ao multiplicador através do pino
IAC e pode causar instabilidades.
Pino 5 (VAout): É a saída do amplificador de erro de tensão. A tensão é limitada a 12 V.
Quando a saída cai abaixo de 1,5 V, a saída do multiplicador é zero.
Pino 6 (Vsense): É a entrada inversora do amplificador de erro de tensão, pino no qual se faz a
realimentação da tensão de saída.
Pino 7 ( GTRD): É a saída de acionamento, capaz de fornecer 1,5 A, com tensão limitada a 15
V. Cargas capacitivas como um gate de MOSFET podem provocar uma sobre-tensão, que
pode ser eliminada por uma resistência série de, no mínimo, 5Ω.
Pino 8 (Vcc): É o pino de alimentação do CI, cujo valor máximo é de 27V. O CI entra em
condução para uma tensão superior a 16V, desabilitando-se para uma tensão inferior a 10V.
Para permitir o suprimento do pico de corrente necessário na saída (pino 7), deve-se usar um
capacitor de "bypass" tipo cerâmico (100 nF), associado a um eletrolítico (maior que 56μF)
com baixa resistência série equivalente.

Figura 10.5 Diagrama esquemático do LT1249 em aplicação típica.

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10.4 LT1248

Este CI [10.3] possui recursos mais amplos que o LT1249, mantendo características de
operação do mesmo tipo, como o multiplicador quadrático, as tensões de operação, a referência
interna, a possibilidade de sincronização, as proteções contra sobre-tensão e picos de corrente.
As características dos amplificadores de erro, do acionador de saída e do modulador MLP
também se mantém.
Neste CI a freqüência é definida por um par RC conectado externamente, operando até
300 kHz.
O diagrama esquemático e uma aplicação estão mostrados na figura 10.6.
A pinagem tem as seguintes funções:
Pino 1: Terra
Pino 2 (PKLIM): Estabelece o limite de corrente (valor de pico), utilizando um divisor resistivo
conectado à referência interna.
Pino 3 (CAout): É a saída do amplificador de corrente, a qual sensora e força a corrente de
linha a seguir o sinal de referência que vem do multiplicador. Isto é feito controlando o
modulador de largura de pulso. Quando CAout é baixo, o modulador apresenta um ciclo de
trabalho nulo.
Pino 4 (Isense): É a entrada inversora do amplificador de corrente. A tensão é grampeada em -
0,6V por um diodo de proteção.

Figura 10.6. LT1248 em aplicação típica.

Pino 5 (Mout): É a saída de alta impedância do multiplicador de corrente e a entrada não


inversora do amplificador de corrente. A tensão é limitada entre -0,6V e 2V.

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Pino 6 (Iac): Este pino é o que sensora a tensão CA da alimentação, servindo como entrada
para o multiplicador. Esta é uma entrada em corrente, que é polarizada em 2 V para minimizar
a zona morta que ocorre nos cruzamentos com zero. Um resistor de 25k é colocado em série
com a entrada e um pequeno capacitor (externo) é usado para filtrar os ruídos de chaveamento.
Pino 7 (VAout): É a saída do amplificador de erro de tensão. A tensão é limitada a 13,5 V.
Quando a saída cai abaixo de 2,5 V, a saída do multiplicador é zero.
Pino 8 (OVP): É a entrada do comparador de sobre-tensão. O limiar é 1,05 vezes o valor da
tensão de referência. Quando o comparador atua, o multiplicador é rapidamente inibido.
Pino 9 (Vref): É a referência interna de 7,5V. Esta tensão será nula quando a alimentação for
menor do que a mínima especificada ou quando EN/SYNC estiver em um nível baixo. Esta
fonte pode fornecer 5mA.
Pino 10 (EN/SYNC): Com uma tensão inferior a 2,6V o CI está inibido, drenando uma
corrente mínima da fonte. Pulsos neste pino abaixo do limiar de 5V sincronizam o
funcionamento do CI com outra referência de freqüência. Os pulsos de sincronismo devem ter,
no mínimo 200 ns.
Pino 11 (Vsense): É a entrada inversora do amplificador de erro de tensão, pino no qual se faz
a realimentação da tensão de saída.
Pino 12 (Rset): Um resistor colocado para o terra determina a corrente de carga do oscilador e
a máxima corrente de saída do multiplicador, que estabelece a máxima corrente da linha
I M(max) = 3,75V R set
Pino 13 (SS): Partida suave. Quando Vcc ou EN/SYNC estiver em nível baixo, o pino SS
estará em zero. Com um capacitor deste pino para o terra, uma corrente (12uA) lentamente
traz esta tensão até 8V; abaixo de 7,5V, SS funciona como a referência para o amplificador de
tensão. Com a queda na alimentação ou a inibição do CI este capacitor rapidamente se
descarrega.
Pino 14 (Cset): Juntamente com Rset determina a freqüência de oscilação. A rampa observada
sobre o capacitor tem amplitude de 5V. A freqüência de oscilação é dada por
f = 1,5 (R set ⋅ Cset )
Pino 15 (Vcc): É o pino de alimentação do CI, cujo valor máximo é de 27V. O CI entra em
condução para uma tensão superior a 16V, desabilitando-se para uma tensão inferior a 10V.
Para permitir o suprimento do pico de corrente necessário na saída (pino 7), deve-se usar um
capacitor de "bypass" tipo cerâmico (100 nF), associado a um eletrolítico com baixa ESR
(maior que 56uF).
Pino 16 ( GTRD): É a saída de acionamento, capaz de fornecer 1,5 A, com tensão limitada a
15 V. Cargas capacitivas como um gate de MOSFET pode provocar uma sobre-tensão, que
pode ser eliminada por uma resistência série de no mínimo 5Ω.

10.5 MC34262

O MC34262 é um CI [10.4] adequado ao acionamento de um conversor elevador de


tensão, operando no modo crítico corrente, ou seja, permitindo que a corrente atinja o zero,
mas não a deixando neste nível, como pode ser visto na figura 10.7.
O diagrama de blocos do circuito, em uma aplicação típica, está mostrado na figura
10.8.
O amplificador de erro é do tipo transcondutância, ou seja, tem elevada impedância de
saída, o que permite realizar a função do controlador conectando-se os componentes
adequados apenas em sua saída (pino 2). A entrada não inversora deste amplificador não é
acessível, dispondo internamente de uma tensão de referência de 2,5V. O sinal da tensão de
saída, por meio de um divisor de tensão adequado, é conectado à entrada inversora (pino 1).

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Este mesmo sinal é usado pelo sensor de sobre-tensão de saída, o qual inibe a liberação de
pulsos para o transistor de potência.
A saída deste amplificador de erro é uma das entradas do bloco multiplicador, o qual
permite adequar a amplitude da referência da corrente para que se obtenha a potência desejada
na saída. A outra entrada do multiplicador vem da tensão de entrada, após o retificador de onda
completa (pino 3). A saída do multiplicador determina o nível de tensão utilizado no
comparador de corrente, definindo assim o comportamento da corrente, em sua forma e
amplitude. Ao ser detectado um erro na tensão de saída, o multiplicador atua no sentido de
modificar a largura do pulso, a fim de corrigir o desvio.
A corrente média consumida pelo pré-conversor passará a seguir uma forma senoidal,
estando em fase com a tensão, o que garante o fator de potência elevado.

Tensão da rede
ID6
Corrente de IQ1
entrada

corrente média

ON

OFF

Figura 10.7 Formas de onda no modo de condução crítico.

O transistor de saída permanece em condução até que o valor instantâneo da corrente


atinja o limite estabelecido pela saída do multiplicador. Com seu desligamento, a corrente
circula pelo diodo D5, diminuindo, até atingir zero. A detecção do zero é feita por um
comparador com histerese, a partir de um sinal vindo de um enrolamento auxiliar acoplado ao
indutor. Quando se verifica tal situação, o latch RS libera a saída de um novo e único pulso
para acionamento do transistor de potência.
O mesmo enrolamento auxiliar possibilita a alimentação do CI, sendo a partida
determinada pela carga do capacitor C4 através do resistor R6.
O temporizador permite o início ou reinício de funcionamento do conversor caso a
saída fique em nível baixo por 400us após a corrente do indutor ter atingido zero. Isto pode
ocorrer, por exemplo, se um ruído for detectado pela entrada do pino 4, levando ao
desligamento incorreto da saída.
O detector de subtensão fica monitorando a tensão CC de alimentação do CI, a qual
deve ficar entre 8 e 14V (comparador com histerese). Um diodo zener interno de 36V protege
o integrado contra sobre-tensões.
O "quickstart" carrega o capacitor de compensação, C1, com 1,6V, o que o coloca no
limiar de atuação do multiplicador. Deste modo, assim que o circuito inicia a partida o controle
passa a atuar.
Os transistores de acionamento podem fornecer picos de 500mA, com tempos de
subida e descida de 50ns, com uma carga de 1nF. Um zener de 16V protege a junção
gate/source do MOSFET.

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230V/3.5A

Figura 10.8. Diagrama de blocos e circuito de aplicação do MC34262

10.6 Referências bibliográficas

[10.1] Linear/Switchmode Voltage Regulator Handbook


Motorola Inc.
4ª Ed., 1989, USA

[10.2] Alberkrack, J.H.; Barrow, S.M.


Power Factor Controller IC Minimizes External Components
PCIM, Feb. 1993

[10.3] Linear Technology Corporation


1993, USA

[10.4] J. H. Alberkrack e S. M. Barrow


“Power Factor Controller IC Minimizes External Components”
PCIM, Fev. 1993, pp. 42-48

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11. INTERAÇÃO CONVERSOR-FILTRO DE LINHA EM PRÉ-


REGULADORES DE FATOR DE POTÊNCIA
11.1 Introdução

O uso de Pré-reguladores de Fator de Potência (PFP) tem se tornado importante


devido à necessidade de redução do conteúdo harmônico da corrente absorvida da rede pelos
equipamentos eletro-eletrônicos. Em particular, a norma internacional IEC61000-3-2,
estabelece limites máximos para as componentes harmônicas da corrente absorvida da rede
[11.1].
Nos últimos anos têm sido exaustivamente estudados circuitos PFP [11.2 a 11.17].
Dentre eles, o conversor boost operando no modo de condução contínua (MCC), com controle
pela corrente média é provavelmente o mais popular para soluções monofásicas, devido à sua
simplicidade, baixa ondulação na corrente de entrada e disponibilidade de CIs dedicados ao
controle de tal topologia.
Além disso, o projeto de tal conversor é largamente descrito [11.2 a 11.5]. A mesma
estratégia de controle pode ser aplicada às topologias com indutores na entrada, como a Cuk e
SEPIC, as quais, diferentemente do boost, permitem isolação em alta freqüência, operação
como abaixador-elevador de tensão, proteção contra curto-circuito e minimização da
ondulação da corrente de entrada pelo acoplamento dos indutores da topologia, etc. [11.11].
O fator de potência obtido com estes conversores se aproxima da unidade. Entretanto,
devido ao ruído eletromagnético produzido pela operação em alta freqüência das topologias
citadas, deve-se fazer uso de filtros de Interferência Eletromagnética - IEM, de modo que o
equipamento adeque-se às normas pertinentes, como, por exemplo, a série IEC CISPR.
Para este fim, um filtro de IEM é colocado entre a entrada do conversor e a rede. Este
fato pode levar um sistema estável a apresentar instabilidades devido à interação entre filtro e
conversor. Este fenômeno é bem conhecido [11.19 a 11.22].
Faz-se também a extensão da mesma modelagem para outras topologias de PFP, como
Cuk e SEPIC. Os resultados do método apresentado sugerem uma simples modificação na
malha interna de corrente, a qual permite uma grande melhoria na robustez do sistema contra
instabilidades induzidas pelo filtro.

11.2 Análise da Interação Filtro-Conversor

A fim de ilustrar a natureza do problema, consideremos o conversor PFP boost cujo


esquema simplificado, com controle por corrente média, está mostrado na fig. 11.1,
juntamente com o filtro de IEM. Consegue-se dar à corrente o formato desejado graças à
malha interna de controle que força a corrente pelo indutor de entrada seguir a referência IREF.
Tal referência é obtida a partir da tensão retificada ug (bloco k é um fator de escala), que é
multiplicada pela saída uc do amplificador de erro de tensão, que se apresenta praticamente
como um nível CC. Esta mesma estrutura de controle pode ser usada nos conversores Cuk e
SEPIC. Na mesma figura tem-se um modelo que representa a interface entre o filtro e o
conversor, utilizando-se o equivalente de Thevenin para o filtro (HF é a atenuação do filtro).

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Z OF
RF LF L
CF +
ui EMI
ug S C Uo
Filter
-

Z IC RS U oREF
I
reg
Z OF
k U-reg
+ IREF
H F ui ug Z IC uC
X
-
Multiplier

Fig. 11.1- Esquema básico de conversor boost PFP, com controle por corrente média e filtro
de IEM.

Pode-se, então escrever uma relação de divisor de tensão:

ug HF HF
= =
1 + OF 1 + TF
ui Z
ZIC (11.1)
ZOF
TF = = ZOFYIC
ZIC

onde TF pode ser interpretado como o ganho da malha que satisfaz ao critério de estabilidade
de Nyquist. Se |TF(jω)| for sempre menor que 1, não há instabilidade no sistema. Este critério
tem sido largamente utilizado no projeto de conversores, principalmente os CC-CC [11.19 e
11.20]. Entretanto, no caso de PFPs existem limitações adicionais tanto em termos do filtro
quanto do conversor [11.18].
É comum ter-se |TF(jω)| > 1 numa faixa de freqüência acima da freqüência de
cruzamento da malha de corrente, principalmente para baixas tensões de entrada e altas
correntes de saída. De (11.1), vê-se que o conhecimento da impedância de entrada do
conversor é pré-requisito para a análise da estabilidade.
A seguir faz-se a determinação das admitâncias de entrada para os conversores boost,
Cuk e SEPIC. Considera-se a tensão de saída Uo constante.

11.3 Admitância de entrada de PFPs

Da fig. 11.1, e como demonstrado na seção 11.7, as relações impostas pelo


controlador entre o ciclo de trabalho e perturbações na tensão de entrada e na corrente são:

d̂ = K u (s )û g + K i (s )î g + K c (s )û c ≈ K u (s )û g + K i (s )î g (11.2)

sendo considerado û c = 0 , dado que a malha de tensão tem resposta muito lenta, podendo-se
considerar uc constante na faixa de freqüências de interesse. A notação ^ significa perturbação
em relação a valor de regime permanente.

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Do modelo de pequenos sinais, a relação entre corrente de entrada, ciclo de trabalho e


perturbações na tensão de entrada é:

î g = YHF (s )û g + G id (s )d̂ + C(s )û o ≈ YHF (s )û g + G id (s )d̂ (11.3)

ûg îg
+
YHF
+

Gid Ki

d
Ku
+ +
Figura 11.2 Relação entre as variáveis de entrada e a largura de pulso.

O símbolo YHF é usado para o primeiro coeficiente em (11.3) porque representa a


admitância do conversor em alta freqüência, isto é, a admitância em freqüência acima do
cruzamento da malha de corrente, quando d é constante. Gid representa a função de
transferência entre ciclo de trabalho e corrente de entrada, sendo usada para o cálculo do
ganho da malha de corrente. De fato, de (11.2) e (11.3), o ganho da malha Ti(s) pode ser
determinado considerando u$ g = 0 :

Ti (s ) = −G id K i (s ) (11.4)

11.3.1 Análise do controlador.


Da análise colocada na seção 11.7, que se refere a CIs como o UC3854 ou o L4981, a
expressão para os coeficientes Ku(s) e Ki(s) são:

RS
K i (s ) = − G ri (s ) (11.5a)
U OSC
Ig
K u (s ) = − K i (s ) = −G IC K i (s ) (11.5.b)
Ug

onde RS é a resistência sensora da corrente, UOSC é a amplitude da rampa do controlador,


Gri(s) é a função de transferência do amplificador de erro de corrente e Ug e Ig são valores
eficazes de tensão e de corrente respectivamente.
A malha de corrente normalmente usa um regulador PI com um pólo adicional em alta
freqüência a fim de rejeitar a ondulação de alta freqüência presente na corrente.:

ωri ⎛ 1 + sτ zi ⎞
G ri (s ) = 1 + ⎜ ⎟ (11.6)
s ⎜ 1 + sτ ⎟
⎝ pi ⎠

Usando (11.2 a 11.4), uma expressão geral para a admitância de entrada dos PFPs,
independente da topologia, pode ser obtida:

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î g Ti (s )
= YIC (s ) = YHF (s )
1
+ G IC (11.7)
û g 1 + Ti (s ) 1 + Ti (s )

Nota-se que abaixo da largura de faixa da malha de corrente (|Ti(jω)|>>1) a


impedância de entrada é constante e igual a GIC. Em freqüência acima desta faixa
(|Ti(jω)|<<1) ela coincide com YHF. De (11.5.b) tem-se que, em baixa freqüência, a
admitância de entrada GIC depende do ponto de operação do conversor.

Ig Po
G IC = = (11.8)
Ug U 2g

onde Po é a potência de saída. De (11.8) vê-se que a impedância de entrada de baixa


freqüência diminui para potências altas e tensões baixas, tornando o sistema mais susceptível
a instabilidades induzidas pela interação com o filtro de IEM.

11.3.2 Boost PFP


A eq. (11.3) para o conversor boost é obtida utilizando o modelagem por variáveis de
estado médias (fig. 11.33.a). Neste caso d’=1-d é o complemento de ciclo de trabalho. Sendo
Uo constante, o modelo se simplifica (fig. 11.3.b).
i Ud
g L o
ig L Uod

D’ig C
ug D’uo uo R ug
Ig d
a) b)
Fig. 11.3 - a) Modelo de conversor boost no espaço de estado médio em MCC; b) modelo
simplificado para cálculo da impedância de entrada.

Obtém-se então:

1 U
î g = û g + o d̂ (11.9)
sL sL

Uo
Seja G id (s) =
sL
Conseqüentemente as expressões para o ganho da malha de corrente, Ti(s), e a
admitância de alta freqüência YHF(s) são, respectivamente:

Uo RS
Ti (s ) = ⋅ ⋅ G ri (s ) (11.10)
sL U osc

YHF (s ) =
1
(11.11)
sL
Utilizando tais valores na eq. 11.7, nota-se que a impedância de entrada do conversor
boost não depende do valor instantâneo da tensão de entrada, mas apenas de seu valor eficaz,
através de GIC.

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11.3.3 Conversores Cuk e SEPIC


Os esquemas básico dos conversores Cuk e SEPIC operando como PFP estão
mostrados na fig. 11.4. Note o circuito de amortecimento colocado junto ao capacitor C1
(Rd-Cd) usado para alisar a função de transferência, como sugerido em [11.11]. A
determinação da admitância de entrada utiliza o modelo de chave PWM [11.23]. O modelo
simplificado para pequenos sinais, que resulta curto-circuitando o capacitor de saída ( u$ o = 0 )
é mostrado na figura 11.4.c).
As expressões para Gid(s) e YHF(s) são:

L′
G id (s ) = DU D ⋅
[(
L 2 L1 ⋅ s 1 + s τd + s L′(C1 + Cd ) + s3 L′C1τd
2
)]
(11.12)
⎡ ⎛ I C D′ ⎞ L ⎛ I ⎞ LC ⎤
⎢1 + s⎜⎜ L 2 + τd ⎟⎟ + s 2 2 ⎜⎜ C1 + Cd + C D′τd ⎟⎟ + s3 2 1 τd ⎥
⎣ ⎝ UD D ⎠ D⎝ UD ⎠ D ⎦

L2
1
(C1 + Cd ) + s3 L2C2 1 τd
1 + s τd + s 2
YHF (s ) =
2
D D
⎛ 2
s L1 ⎜⎜1 + 2 2 ⎟⎟
(
D′ L ⎞ 1 + s τ d + s L′(C1 + Cd ) + s L′C1τd
2 3
) (11.12)

⎝ D L1 ⎠

onde UD(θ) = ug(θ)+Uo e IC(θ) = ig(θ)+i2(θ) são parâmetros que, juntamente com o ciclo de
trabalho, dependem do ponto de trabalho instantâneo do conversor, isto é, do ângulo relativo à
tensão da rede θ = ωi⋅t. L’ é dado por:

L ′(θ) =
L1 L 2
(11.13)
D L1 + D ′ 2 L 2
2

Expressões sem a rede de amortecimento são obtidas fazendo Cd = 0 em (11.11) e


(11.12).
Um exemplo de diagramas de Bode da impedância de entrada ZIC(s) para os
conversores boost e Cuk ou SEPIC são mostradas na figura 11.5 para diferentes tensões de
entrada e para θ = π/2 no caso das impedâncias dos conversores Cuk e SEPIC. Os parâmetros
dos conversores estão mostrados nas tabelas 11.I e 11.II.

Tabela 11.I – Parâmetros do conversor boost


Ug = 127 VRMS ±20% Uo = 300 V Po = 600 W fS = 70 kHz L = 650 μH C = 235 μF
RS = 33 mΩ Uosc = 5 V ωri = 1.92⋅10 5
fzi = 1.8 kHz fpi = 34.5 kHz fci = 8.3 kHz

Tabela 11.II - Parâmetros do conversor SEPIC


Ug = 127 VRMS ±20% Uo = 200 V Po = 600 W fS = 70 kHz
L1 = 650 μH L2 = 1,1 mH C1 = 0,94 μF C = 330 μF Rd = 68 Ω Cd = 2,2 μF
RS = 33 mΩ Uosc = 5 V ωri = 1,62⋅10 5
fzi = 1,5 kHz fpi = 28,6 kHz fci = 7÷12 kHz

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a)

b)

c)
Fig. 11.4 – Topologias básicas de conversor (PFP): a) Cuk; b) SEPIC; c) modelo para
pequenos sinais para determinação da impedância de entrada.
Como se pode ver, todas as curvas tendem a convergir para ZHF(s) = sL (boost) ou
ZHF(s) = sL1 (Cuk ou SEPIC) para f > fci onde fci é a freqüência de cruzamento da malha de
corrente (fci = 8,3kHz para boost e fci = 6,4÷11.5kHz para Cuk ou SEPIC dependendo do
valor da fase da tensão de entrada, θ). Felizmente, a dependência das impedâncias de entrada
dos conversores Cuk e SEPIC com o ângulo θ não é muito intensa, de modo que a análise
pode ser feita supondo um valor fixo de θ.

11.4 Predições do modelo

De (11.1) e (11.7) podem-se prever as instabilidades em alta freqüência decorrentes da


interação filtro-conversor. Consideremos como exemplo um conversor PFP SEPIC com um
filtro de IEM de célula única, como na fig. 11.1. Os elementos de filtro são: RF = 1Ω,
LF = 0,55mH, CF = 470nF.
O diagrama de Bode resultante para TF(jω) está na fig. 11.6 para 2 valores de tensão
de entrada. Para valores reduzidos de tensão de entrada, o sistema torna-se instável, uma vez
que na freqüência de cruzamento fca = 20kHz (veja curva a)) a margem de fase é –8º.. Para
tensões mais altas o sistema é estável (em fcb = 18kHz a margem de fase é +15o). Estas curvas
são obtidas num ponto de operação correspondente ao pico da tensão de entrada (θ = π/2).
A dependência de TF(jω) com o ângulo θ está mostrada na fig. 11.6 (direita) para a
mínima tensão de entrada, considerando os ângulos (curva a) θ = π/2 e (curva b) θ = π/200.
Nesta análise vê-se que o pior caso ocorre para o pico da tensão de entrada.

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Fig. 11.5 – Diagramas de Bode do módulo e fase da impedância de entrada dos conversores
PFP boost (à esquerda) e Cuk ou SEPIC (à direita para θ = π/2).
a) Ug = 127V+20%, b) Ug = 127V, c) Ug = 127V-20%

Fig. 11.6 - Diagrama de Bode de TF(jω) para conversor SEPIC.


Esquerda: θ = π/2; a) Ug = 127V-20%, b) Ug = 127V+20%.
Direita: Ug = 127V-20%; a) θ = π/2, b) θ = π/200.

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11.5 Resultados Experimentais


Protótipos foram construídos com os seguintes parâmetros indicados nas tabelas 11.I e
11.II.

11.5.1 Boost
A faixa de passagem da malha de corrente varia entre 5kHz e 8.3kHz para uma tensão
de saída entre 180 e 300V. Comparações entre medições e predições do modelo estão na
Tabela 11.III, para diferentes pontos de operação.
A coluna relativa às medições registra o valor de pico da tensão de entrada no qual o
sistema se tornou instável, juntamente com a correspondente freqüência de oscilação. A
coluna MODELO I reporta as mesmas informações mas obtidas pelo modelo. Na coluna
MODELO II indica-se a freqüência de cruzamento e a margem de fase obtida pelo modelo em
correspondência com o valor da tensão de entrada no qual foi detectada a instabilidade. Como
se nota há uma aproximação muito boa entre os resultados.

Tabela 11.III – Comparação entre resultados experimentais e da modelagem proposto para


conversor boost PFP

N° Ponto de Parâmetros do filtro EXPERIMENTAL MODELO I MODELO II


operação
1 Uo = 180V LF = 0,89mH Ûg = 119V Ûg = 125V fcr = 16,7kHz
Io = 2,75A CF = 0,47μF fosc = 17,24kHz fosc = 16,34kHz mφ = -1,4deg
2 Uo = 220V LF = 1,12mH Ûg = 76,4V Ûg = 71V fcr = 16,6kHz
Io = 0,8A CF = 0,47μF fosc = 17,86kHz fosc = 17,2kHz mφ = 2,3deg
3 Uo = 220V LF = 1,12mH Ûg = 84,4V Ûg = 79,6V fcr = 16,7kHz
Io = 1A CF = 0,47μF fosc = 18,12kHz fosc = 17,2kHz mφ = 2deg
4 Uo = 220V LF = 1,07mH Ûg = 100V Ûg = 98V fcr = 17kHz
Io = 1,5A CF = 0,47μF fosc = 18,2kHz fosc = 17,2kHz mφ = 0,7deg
5 Uo = 220V LF = 0,89mH Ûg = 118V Ûg = 115V fcr = 17,13kHz
Io = 2A CF = 0,47μF fosc = 18kHz fosc = 17,34kHz mφ = 0,9deg
6 Uo = 300V LF = 1mH Ûg = 105V Ûg = 90V fcr = 17,74kHz
Io = 1A CF = 0,47μF fosc = 18,5kHz fosc = 19,3kHz mφ = 6,1deg
7 Uo = 300V LF = 0,67mH Ûg = 127V Ûg = 114V fcr = 18,5KHz
Io = 1,5A CF = 0,47μF fosc = 17,86kHz fosc = 19,5kHz mφ = 4,1deg
8 Uo = 300V LF = 0,55mH Ûg = 144V Ûg = 136V fcr = 19,2KHz
Io = 2A CF = 0,47μF fosc = 18,2kHz fosc = 19,8kHz mφ = 2,3deg

11.5.2 SEPIC
Com os parâmetros já indicados anteriormente, a faixa de passagem da malha de
corrente varia entre 6.4kHz e 11.5kHz, em condições nominais. A figura 11.7 mostra formas
de onda deste conversor no ponto em que foi detectada a instabilidade, correspondendo a uma
tensão de pico de 150V e corrente de pico de 6A. Também para este caso foi feita análise
semelhante àquela feita para o boost. Tais resultados, indicados na Tabela 11.IV, também
mostraram muita concordância entre as medições e a previsão do modelo.

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Fig. 11.7 – Resultado experimental de conversor PFP SEPIC. De cima para baixo: detalhe
de ig(t); detalhe de ug(t); ug(t) 50V/div; ig(t) 2A/div.

Tabela 11.IV - Comparação entre resultados experimentais e da modelagem proposto para


conversor SEPIC PFP

N° Ponto de Parâmetros do filtro EXPERIMENTAL MODELO I MODELO II


operação
1 Uo = 200V LF = 1,14mH Ûg = 97,6V Ûg = 91V fcr = 17kHz
Io = 1,11A CF = 0,47μF fosc = 18kHz fosc = 17,4kHz mφ = 3,7deg
2 Uo = 200V LF = 0,8mH Ûg = 126V Ûg = 117V fcr = 17,7kHz
Io = 1,69A CF = 0,47μF fosc = 18kHz fosc = 18,1kHz mφ = 3,5deg
3 Uo = 200V LF = 0,55mH Ûg = 143V Ûg = 142V fcr = 18,9kHz
Io = 2,25A CF = 0,47μF fosc = 18kHz fosc = 18,9kHz mφ = 0,3deg
4 Uo = 200V LF = 0,55mH Ûg = 176V Ûg = 167V fcr = 19kHz
Io = 2,94A CF = 0,47μF fosc = 18kHz fosc = 19,3kHz mφ = 3deg
5 Uo = 180V LF = 1,1mH Ûg = 100V Ûg = 95V fcr = 16,8kHz
Io = 1,29A CF = 0,47μF fosc = 18kHz fosc = 17kHz mφ = 2,3deg
6 Uo = 180V LF = 0,98mH Ûg = 112V Ûg = 106V fcr = 17kHz
Io = 1,54A CF = 0,47μF fosc = 18kHz fosc = 17,3kHz mφ = 2,6deg
7 Uo = 168V LF = 0,55mH Ûg = 143V Ûg = 146V fcr = 18,4kHz
Io = 2,57A CF = 0,47μF fosc = 18kHz fosc = 18,3kHz mφ = -1deg

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11.6 Modificação na Malha de Corrente

A expressão (11.7) sugere uma modificação simples no controlador de modo a aumentar a


robustez do sistema. Em particular pode-se notar que o segundo termo à direita de (11.7) vem
do termo Ku(s) em (11.2), ou seja, da passagem de ug para IREF (fig. 11.1), sendo o termo que
depende do valor eficaz da tensão de entrada. Se for inserido um filtro passa-baixas na
referência de corrente, com uma freqüência de corte suficientemente alta de modo a não
degradar significativamente a forma senoidal da referência, então a admitância de entrada do
conversor, YIC(s), se modifica:

Ti (s )
YIC (s ) = YHF (s )
1 1
+ G IC (11.14)
1 + Ti (s ) 1 + Ti (s ) 1 + sτ PB

Comparação entre o ganho da malha, TF(jω), com esta alteração e sem ela, é mostrado
na fig. 11.8 (fPB = 1/(2π⋅τPB) = 1,85kHz) para o conversor SEPIC, no ponto de trabalho
relativo à situação 7 da Tabela 11.IV. Como se nota, esta simples alteração no controlador
reduz a freqüência de cruzamento de 18kHz (fca) para 13,6kHz (fcb) e aumenta a margem de
fase de 2,5° para 38,4°.
Este filtro passa-baixas pode ser inserido no circuito simplesmente modificando o
esquema do controlador, com a colocação do capacitor Cb , como mostrado na fig. 11.9.
O mesmo procedimento foi utilizado para o conversor boost com idênticos benefícios,
ou seja, eliminando as instabilidades em todos os pontos de operação, mesmo com elevada
faixa de passagem na malha de corrente (17kHz).

Fig. 11.8 – Ganho e fase de TF(jω) para conversor SEPIC (situação 7 da Tabela 11.IV)
a)controle convencional; b)com filtro passa-baixas na malha de corrente (fPB = 1,85kHz)

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11.7 Revisão do circuito de controle de PFP com controle por corrente média

Do esquema da Fig. 11.9, que representa a implementação padrão de um controle pela


corrente média [11.3], pode-se obter a seguinte expressão para o ciclo de trabalho:

G ri (s )
d (θ) = (R 7 i M (θ) − R S i g (θ)) (11.15)
U OSC

Fig. 11.9 – Esquema de controle por corrente média.

O multiplicador produz uma corrente de saída iM que é dada por:

u g (θ)
i M (θ) = uc (11.16)
k

onde
k = (R 6a + R 6 b )U 2RMS (11.17)

Note que o sinal URMS na Fig. 11.9, que representa uma entrada antecipativa
(“feedforward”), é constante durante um período da rede e pode ser considerado constante nas
freqüências nas quais tem-se interesse nesse trabalho.
Em regime permanente, a corrente média de entrada (a cada ciclo de comutação) é
igual à sua referência:

R 7 I M (θ) = R S I g (θ) (11.18)

onde os caracteres em maiúsculo significam condição de regime permanente. Considerando


uma perturbação instantânea (considerando um ciclo da rede) em torno de um ponto de
trabalho, de (11.16) obtém-se:

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Pré-Reguladores de Fator de Potência J. A. Pomilio

Uc U g (θ) I (θ) I (θ)


î M = û g + û c = M û g + M û c (11.19)
k k U g (θ) Uc

Substituindo (11.19) em (11.15) e usando (11.18) pode-se escrever, relembrando que


foi assumido û c = 0 :

G ri (s ) ⎛ I (θ) ⎞
d̂ = ⎜RS g û g − R S î g ⎟ (11.20)
U OSC ⎜⎝ U g (θ) ⎟

de onde se pode facilmente obter os coeficientes de (11.2):

RS
K i (s ) = − G ri (s ) (11.21)
U OSC

I g (θ) Ig
K u (s ) = − K i (s ) = − K i (s ) = −G IC K i (s ) (11.22)
U g (θ) Ug

onde uma corrente de entrada senoidal foi assumida.


Nesta análise foi desprezado o capacitor Cb , que é a modificação no controle
proposta. Caso ele seja incluído no estudo, (11.16) se modifica:

u g (θ)u c
i M (θ) =
1
(11.23)
k 1 + sτ PB

R 6a R 6 b
onde τ PB = C b (11.24)
R 6a + R 6 b

Conseqüentemente (11.7) fica igual a (11.14).

11.8 Referências Bibliográficas

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Mode Power Supply Using a Single Switch," APEC Conf. Proc., 1991, pp. 430-436.
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and Cuk Converters as Power Factor Preregulators in Discontinuous Conduction
Mode," IECON Conf. Proc., 1992, pp. 283-288.
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Topology," PESC Conf. Proc., 1994, pp. 336-341.
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