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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO SUL

FACULDADE DE ENGENHARIA

APFC UTILIZANDO O CONVERSOR BOOST NO MCC GERENCIADO


POR SISTEMA MICROCONTROLADO

Porto Alegre, 11 de dezembro de 2017.

Autor: Vanderlei Amaral Vieira Junior


Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul
Curso de Engenharia de Controle e Automação
Rua Lorenço Fernandes, 245, São Lucas - CEP: 94450-430 - Viamão - RS - Brasil
Email: vanderlei.amaral@acad.pucrs.br

Orientador: Prof. Fernando Soares dos Reis


Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul
Av. Ipiranga 6681, Prédio 30 - Bloco A - Sala 312 - CEP: 90619-900 - Porto Alegre - RS-
Brasil
Email: fdosreis@pucrs.br

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AGRADECIMENTOS

Aos meus pais, que proporcioram e incentivaram meus estudos desde pequeno.
Ao meu grande primeiro professor de física, Capitão Gentil César Bruscato, pela
abordagem do mundo da física através do Clube de Radioamadores do CMPA.
A todos os meus colegas de faculdade, especialmente a Jordy Silva de Oliveira.
Aos meus companheiros do LEPUC, especialmente a Henrique Gabriel Cabral, Maurício
Saltz Santos e Eduardo Gabe Nery.
Ao meu orientador deste trabalho e de minhas bolsas de Iniciação Científica, Fernando
Soares dos Reis, e aos marcantes ensinamentos durante os anos de laboratório.
Finalmente, ao meu amigo e incentivador da ideia do trabalho, Grégory Frizon Gusberti,
com quem muito aprendi ao longo dos últimos tempos.

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RESUMO
Este trabalho apresenta um corretor ativo do fator de potência (do inglês, Power Factor
Corrector – PFC) utilizando um conversor Boost, gerando em sua saída uma tensão DC de 350
V. O controle do IGBT do conversor Boost é realizado a partir de duas malhas de realimentação,
utilizando a corrente do indutor de entrada e a tensão de saída, para garantir o comportamento
senoidal da corrente na entrada do conversor e a tensão de saída desejada. Assim, se garante
que a corrente de entrada esteja em fase com a tensão da rede elétrica. A operação do conversor
Boost no modo de condução contínua – MCC (do inglês, Continuous Conduction Mode – CCM)
permite a obtenção de baixos valores de ondulação da corrente de entrada através do adequado
dimensionamento do indutor de entrada. Entretanto, a operação no MCC requer a dupla malha
de controle mencionadas previamente. A estratégia de controle utilizada é a técnica de histerese,
possibilitando um rápido controle na comparação direta entre os sinais de realimentação e as
referências. O gerenciamento das malhas é feito por um sistema microcontrolado, rápido o
suficiente para alimentar uma carga não linear. Os resultados obtidos em simulação e bancada
foram satisfatórios e serão apresentados no final deste trabalho juntamente com as
considerações finais.

Palavras-chave: conversor estático. controle histerese. PFC ativo.

ABSTRACT
This work presents an active power factor corrector (PFC) using a Boost converter,
generating in its output a DC voltage of 350 V. The control of the IGBT of the Boost converter
is realized from two meshes using the input inductor current and the output voltage to ensure
the sinusoidal behavior of the current at the input of the converter and the desired output voltage.
This ensures that the input current is in phase with the mains voltage. Operation of the Boost
converter in the Continuous Conduction Mode (MCC) allows low input current ripple values
to be obtained through the proper input inductor design. However, the operation in the MCC
requires the double control loop previously mentioned. The control strategy used is the
hysteresis technique, allowing a quick control in the direct comparison between the feedback
signals and the references. Mesh management is done by a microcontrolled system, fast enough
to power a non-linear load. The results obtained in simulation and bench were satisfactory and
will be presented at the end of this work together with the final considerations.

Keywords: static converter, hysteresis control, active PFC.

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1 INTRODUÇÃO
A primeira vez que se ouviu falar no termo corrente contínua (CC) foi nos primórdios do
século XIX, quando Alessandro Volta idealizou a pilha voltaica, composta por discos metálicos
empilhados e separados por uma solução condutora [1]. A partir dessa invenção a ideia da
eletricidade se espalhou, atraindo a atenção de estudiosos e inventores, como Thomas Edison,
que revolucionou a humanidade com suas invenções e usos da corrente contínua [2]. A demanda
de eletricidade aumentou, e consequentemente a necessidade de transmissão a longas distâncias
também. A história da humanidade foi mais uma vez revolucionada com as descobertas da
corrente alternada (CA) por Nikola Tesla, que possibilitou a transmissão de linhas de energia
elétrica através de longas distâncias [2], com a utilização de transformadores, e é justamente o
que temos até hoje em nossas casas.
A eletrônica deu um grande salto com os estudos dos materiais semicondutores por John
Bardeen e Walter Brattain, o que lhes rendeu um Prêmio Nobel da Física em 1956, juntamente
com William Shockley pela invenção do transistor [2]. Surgia nessa época a eletrônica de
potência. A criação de tiristores e retificadores foram apenas consequências dos estudos
avançados nessa área, surgindo assim os conversores CA-CC para acionamento de motores CC
a partir da rede elétrica. Conversores de potência (ou conversores estáticos) são largamente
usados em nosso cotidiano, realizando bem suas tarefas ao reduzir (ou elevar) valores de tensão
e corrente para alimentar cargas, sejam elas um motor, uma lâmpada, um televisor ou uma
máquina de lavar roupas. As principais funções realizadas por um conversor estático podem ser
visualizadas na Figura 1 [3].
Figura 1 – Principais aplicações de conversores estáticos

Fonte: autoria própria

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Inversores de frequência são conversores que funcionam com corrente alternada na
entrada e na saída, podendo mudar a frequência da tensão de saída em relação à entrada. Os
retificadores transformam CA em CC, e são os mais comuns utilizados em nosso dia a dia. A
grande maioria dos equipamentos eletrônicos e alguns eletrodomésticos utilizam baixa tensão
de alimentação, por este motivo precisam de conversores para seu funcionamento.

Um conversor estático pode ser definido como um sistema, constituído por


elementos passivos (resistores, capacitores e indutores) e elementos ativos
(interruptores), tais como Diodos, Tiristores, Transistores, GTO’s, Triacs,
IGBT’s e MOSFET’s, associados segundo uma lei pré-estabelecida (BARBI,
Ivo. Eletrônica de Potência. Edição do Autor, 2006.).

1.1 Tema de Pesquisa


A eletrônica de potência está presente em nosso cotidiano, em quase todo e qualquer
circuito elétrico que se possa imaginar. O tema deste trabalho é o controle em malha fechada
de um conversor estático alimentado pela rede elétrica.

1.2 Justificativa do Tema


A frequência de comutação desses conversores costuma ser relativamente alta,
produzindo ondas harmônicas para a rede elétrica, gerando indução eletromagnética. Além
disso, as cargas alimentadas pela rede não costumam ser lineares (como um resistor de chuveiro
ou uma lâmpada, por exemplo), pois utilizam diversos componentes elétricos não lineares, tais
como diodos e transistores. Desses dois fatos se explica o fator de potência sendo a relação
entre a potência reativa e a potência ativa, justificando uma correção do fator de potência do
conversor de entrada, do inglês Power Factor Correction (PFC), a fim de torná-lo unitário, ou
seja, uma carga com característica ôhmica. A necessidade de obter na saída do sistema uma
tensão contínua mais elevada que a tensão da rede também justifica a necessidade de
conversores de potência.

1.3 Objetivo do Trabalho


Este trabalho aborda uma topologia de conversor estático. Um corretor de fator de
potência [10] e [11] de 2 kW baseado no conversor Boost, com duas malhas de realimentação
para garantir o adequado acionamento do IGBT. Por fim, o gerenciamento dos sinais de
referência e da malha de controle se dá por meio de um microcontrolador. O objetivo, é obter

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na saída do conversor Boost uma tensão DC no valor de 350 V, e corrente em fase com a tensão
da rede, operando no modo de condução contínua.

1.4 Delimitações do Trabalho


O foco da proposta é utilizar estratégias de controle para fechar a malha de realimentação
da comutação através de técnicas PID no conversor Boost e controle de histerese por
comparação entre o sinal realimentado e o sinal de referência na malha de controle. A correção
do fator de potência é feita através de um conversor Boost. Outros tipos de conversores também
podem realizar o PFC (Buck, Buck-Boost, FlyBack) [4], porém não serão abordados neste
trabalho.

2 REFERENCIAL TEÓRICO
Para se controlar a potência em uma carga, geralmente são utilizadas duas topologias:
fontes lineares ou conversores comutados. Fontes lineares são as mais simples, e possuem maior
facilidade de aplicação. Por outro lado as fontes chaveadas, ou conversores comutados, tem
aplicações mais abrangentes, apesar de necessitarem de um planejamento mais elaborado.
Diversas topologias de conversores estão presentes na literatura, cada uma com suas
vantagens e desvantagens. Esses conversores necessitam de um controle para seu chaveamento,
sendo o mais comum o controle por largura de pulso, (do inglês Pulse Width Modulation -
PWM).
Para diminuir o consumo e também melhorar a qualidade de energia, são utilizados
corretores de fator de potência nos conversores, também abordado neste trabalho.

2.1 Fontes lineares e comutadas


Fontes lineares tem por objetivo gerar em sua saída uma tensão contínua pré-estabelecida,
utlizando para isso transformadores, retificadores, filtros e reguladores de tensão [5]. Essas
fontes possuem rápida resposta dinâmica e são fáceis de se projetar, devido a simplicidade de
seus componentes. Entretanto, possuem maior volume e menor eficiência, visto que utilizam
transformadores e necessitam de grandes dissipadores de calor [5]. A topologia para uma fonte
linear pode ser vista na Figura 2 abaixo.
Figura 2 – Diagrama de uma fonte linear

Fonte: autoria própria


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A tensão entregue à carga em uma fonte linear é dada pela queda de tensão no resistor
série R, em relação à tensão de entrada. Isso significa que grande parte da potência gerada pela
fonte é perdida em dissipação de calor pelo resistor série, justificando a baixíssima eficiência
[6]. Devido a sua própria topologia, essas fontes não podem elevar a tensão de saída, dado que
estas apresentam um comportamento de carater resistivo. O circuito genérico de uma fonte
linear é representado na Figura 3.
Figura 3 - Fonte linear genérica

Fonte: autoria própria


Diferente das fontes lineares, conversores comutados (ou fontes chaveadas) utilizam um
elemento comutador (transistor, MOSFET ou IGBT) que controla a alimentação da carga,
operando em estados de baixíssima dissipação de potência, usando componentes reativos, como
indutores e capacitores [6]. Possuem elevada eficiência, uma vez que há poucas perdas nos
componentes do conversor. Um diagrama de uma fonte chaveada é demonstrado na Figura 4.
Figura 4 - Diagrama de uma fonte chaveada

Fonte: autoria própria


Algumas desvantagens das fontes chaveadas que podem ser citadas são a sua elevada
complexidade de construção e controle, pois exigem um driver de acionamento do elemento
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interruptor; podem possuir ruídos audíveis devido a frequência de comutação; e o tempo de
resposta à variação de tensão na entrada é maior se comparado com uma fonte linear. A
eficiência dessas fontes pode chegar a 98% [5].
A frequência de comutação tende a ser a mais alta possível, a fim de diminuir os
elementos magnéticos e capacitivos do conversor [6]. Um conversor CC-CC genérico e sua
forma de onda Vout de saída é representado na Figura 5.
Figura 5 - Conversor CC-CC genérico e sua tensão de saída

Fonte: autoria própria


A frequência FS de comutação pode ser definida pela equação (1), na qual T é o período
do chaveamento. O ciclo de trabalho (Duty Cycle) do conversor, é a relação entre o tempo de
condução da chave e o período de comutação, é dado pela equação (2).
1
FS  (1)
T

ton
D (2)
T

Conversores estáticos podem funcionar em três modos de operação: modo de condução


contínua (MCC), modo de condução descontínua (MCD) e modo de condução crítica. No modo
de condução contínuo a corrente do indutor não se anula durante o período de comutação, ao
contrário do modo de condução descontínuo, no qual a corrente é anulada por um intervalo de
tempo a cada período. No modo crítico a corrente no indutor se anula apenas no instante exato
entre a troca de um período [7].
Diversas topologias de conversores estão presentes na literatura, cada uma com suas
aplicações, vantagens e desvantagens. Os dois conversores CC-CC essenciais são o Boost
(elevador de tensão) e o Buck (rebaixador de tensão), possuindo os mesmos elementos de
funcionamento: um indutor, elemento comutador, diodo e capacitor de saída. Entre esses dois
conversores, a disposição do indutor de entrada e do componente de comutação é o que dá a

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característica de elevar ou reduzir a tensão de saída. A topologia Boost será abordada nos
tópicos a seguir.

2.2 Conversor Boost


O conversor elevador de tensão Boost, tem característica de entrada em corrente e saída
em tensão [3]. Ao contrário do conversor Buck, o indutor está na entrada, e acumula a energia
em forma de campo magnético em ambos os estágios, fornecendo corrente para a carga. Uma
característica notável dessa topologia é que a corrente de saída é sempre em modo descontínuo
devido à carga não ser alimentada durante um dos estágios, enquanto a corrente de entrada pode
ocorrer tanto em modo contínuo ou descontínuo. Seu circuito é demonstrado na Figura 6.
Figura 6 - Conversor Boost

Fonte: autoria própria


O primeiro estágio de funcionamento se dá com a chave S conduzindo, e o indutor
armazenando energia em campo magnético. O diodo está polarizado reversamente, uma vez
que a tensão na saída é maior que na entrada. No segundo estágio a chave cessa e o diodo é
polarizado diretamente, e aplica à carga a corrente do indutor de entrada. Tanto a chave quanto
o diodo devem suportar tensão igual à de saída.
O ganho estático G do conversor Boost no modo de condução contínua é definido pela
equação (3), na qual nota-se que o ciclo de trabalho possui uma relação não linear com o ganho,
conforme o Duty Cycle se aproxima de um valor unitário o ganho aumenta de forma
exponencial. Na prática, elementos parasitas e as resistências do próprio indutor e fonte
impedem que esse ganho apresente valores muito elevados [7]. Na Figura 7 está ilustrado o
ganho do conversor.
V 1
G  out  (3)
Vin 1  D

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Figura 7 - Ganho estático do conversor Boost

Fonte: Introdução aos conversores CC-CC, Ivo Barbi


Já citadas as duas topologias essências, também é utilizada uma topologia que utiliza os
conversores Buck e Boost operando juntos, podendo tanto reduzir quanto elevar a tensão,
dependendo do ciclo de trabalho de operação. Outros tipos de conversores estáticos são os
isolados, que utilizam um transformador inseridos no circuito, a fim de isolar galvanicamente
a saída do conversor em relação a sua entrada.

2.3 Power Factor Correction (PFC)


Cargas resistivas possuem características lineares, ou seja, ao serem conectadas na rede
elétrica irão produzir potência ativa, realizando um trabalho. No caso de uma lâmpada por
exemplo, o trabalho será o calor, através do efeito Joule. Ao se ligar um indutor na rede elétrica
é criado um campo magnético, porém, não há trabalho, pois a potência dissipada no indutor é
reativa. No indutor a tensão está 90º adiantada em relação a corrente, e a potência multiplicada
ponto a ponto é hora negativa, hora positiva. Isso significa que no primeiro momento a rede
fornece potência ao indutor e no momento seguinte essa potência é devolvida à rede, obtendo-
se assim uma potência média igual a zero. No entanto, o fato de haver tensão e corrente
circulando pelo indutor gera ocupação na linha de transmissão da concessionária, causando
perdas na rede. Deste modo, os órgãos reguladores, assim como as concessionárias de energia
elétrica regulamentam que é necessário haver um fator de potência mínimo de 0,92 [8].
O fator de potência (FP) é a relação entre a potência reativa e a potência ativa.
Numericamente essa relação é o arco cosseno do ângulo (ϕ) de defasagem entre a tensão e a

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corrente da carga. Isto é, uma carga com FP unitário é uma carga com característica resistiva
com tensão e corrente em fase, e quanto menor for o fator de potência, mais perdas para a rede
elétrica a carga irá gerar. Uma forma passiva de resolver este problema é adicionar um banco
de capacitores para melhorar a qualidade da energia ao alimentar um motor elétrico, por
exemplo, compensando a potência reativa das bobinas do mesmo. O ângulo de defasagem está
representado na Figura 8.
Figura 8 - Fator de potência para uma carga indutiva

Fonte: autoria própria


Outra forma de solucionar o fator de potência são os métodos ativos, utilizando
conversores controlados, que é justamente o foco deste trabalho.

2.4 Operação em malha fechada


A fim de manter a tensão de saída (ou corrente) constante, é necessária uma malha
fechada de controle. Essa malha, com realimentação negativa da tensão de saída e a corrente
que está circulando pelo circuito, fará com que o conversor atue em regime permanente com os
valores de tensão pré-estabelecidos invariantes em relação às variações sobre a carga. Esse
controle é feito variando-se a razão cíclica no elemento comutador [9]. Na prática, utilizando
um conversor Boost com realimentação negativa da tensão, isso significa que caso a tensão de
saída sofra uma queda, um erro será gerado para o comparador do controle, fazendo com que o
tempo de condução da chave aumente para tentar compensar essa queda, e vice e versa [9]. De

11
maneira simplificada, operar em malha fechada significa ajustar o ciclo de trabalho toda vez
que a variável de controle, seja ela a tensão ou corrente da carga, se desviar de um valor pré-
estabelecido.
O controle de malha fechada também é feito para a correção do fator de potência ativa,
permitindo que a corrente de entrada do conversor fique em fase com a tensão da rede,
diminuindo o FP, uma vez que o ângulo de defasagem entre as duas formas de onda irá diminuir.
Para se controlar a corrente, existem diversas maneiras, entre elas pode-se citar: corrente
média instantânea, corrente de pico, histerese e controle por portadora programada [10]. Este
trabalho trata-se de um controle por histerese em um conversor Buck e um controle de PFC no
conversor Boost de entrada. Esse controle pode ser melhor entendido com a Figura 9.
Figura 9 - Malha fechada para o conversor Boost

Fonte: autoria própria


Uma malha de controle genérica para o conversor Boost utiliza um sensor de tensão na
saída, comparando a realimentação com uma tensão de referência. A comparação entre esses
dois valores é o erro que será usado em outro comparador com uma onda dente de serra que
fará o ajuste do PWM da chave.

2.5 Controle por histerese


O controle por histerese é uma das diversas técnicas de controle da corrente em um
conversor. Sendo um controlador não-linear, não possui um espectro harmônico bem definido,
pois o chaveamento ocorre conforme o erro de corrente na carga varia [9]. Seu controle é

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considerado simples, utilizando apenas comparadores e multiplicadores entre a referência e o
erro.
Esta técnica baseia-se na limitação da corrente entre duas regiões, na qual o erro de
realimentação atua, realizando a comutação do conversor. Quando o erro ultrapassa o limite
superior da comparação, a chave é desligada. Da mesma forma, quando o erro ultrapassa o
limite inferior, a chave é então ligada. Os limites de comparação são gerados através da corrente
de referência com um multiplicador de histerese. Para a corrente de referência em forma
senoidal é preciso o uso de um sensor de tensão da entrada.
A modulação por histerese possibilita o controle da amplitude de oscilação da corrente,
bastando para isso alterar o multiplicador de comparação. Entretanto, a frequência de
chaveamento se torna variável, pois conforme a corrente se aproxima do topo da senoide, sua
frequência muda. É um controle utilizado para aplicações de alta velocidade e alto desempenho
[10]. A região de histerese pode ser melhor entendida com a Figura 10.
Figura 10 - Regiões de histerese

Fonte: Fontes de alta frequência para lâmpadas fluorescentes, Aniel Silva de Morais

3 METODOLOGIA
Este trabalho foi realizado com embasamento no referencial teórico, tomando as
topologias de conversores já conhecidas e técnicas de controle também baseadas na
bibliografia. Após uma análise qualitativa do funcionamento dos conversores estáticos, mais
especificamente do conversor Boost, partiu-se para uma análise quantitativa acerca de como
seriam controladas as malhas de tensão e corrente do mesmo.

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A primeira etapa foi realizada através do software PSIM®, para a simulação do circuito
elétrico do trabalho. A elaboração da placa de circuito impresso (do inglês Printed Circuit
Board – PCB) do driver de comando do IGBT e o controle de histerese foi realizado por meio
de um software de CAD.
A segunda parte do trabalho foi destinada para a elaboração do protótipo. Nesta etapa foi
feita a confecção do indutor e a disposição dos componentes passivos e ativos do conversor em
uma base de MDF. A confecção do driver também foi realizada nesta etapa.
A terceira etapa se deu com o uso do software Arduino®, disponibilizado pelo fabricante
do microcontrolador, no qual foi desenvolvido os sinais de controle para o driver e o
gerenciamento das malhas de realimentação, utilizando técnicas de controle moderno.

3.1 Análise em diagrama de blocos do funcionamento


O PFC deste trabalho foi projetado através de um conversor Boost com duas malhas
fechadas de controle. As malhas de tensão e corrente dão característica de PFC ativo, pois há
um controle que faz com que a corrente entre em fase com a tensão da rede.
A simulação do conversor foi possível através do uso do PSIM®, no qual pode-se testar
os valores de capacitância e indutância projetados. O controle nesta etapa utilizou-se de blocos
disponibilizados no próprio software, utilizando portas lógicas.
A Figura 11 representa a visão geral do funcionamento em um diagrama de blocos.
Figura 11 - Visão geral do PFC Boost

Fonte: autoria própria

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O primeiro bloco representa a alimentação vinda da rede elétrica e a ponte retificadora,
passando por um sensor de corrente que controla a malha de histerese. Na etapa seguinte está
contida a topologia do conversor, na qual a tensão de saída será elevada a fim de atingir os
parâmetros desejados. O sensor de tensão entrega um feedback que irá controlar a malha de
tensão do algoritmo. O controlador utilizado é um Arduino Nano, que gera o sinal de referência
para a comparação de histerese e faz o gerenciamento da leitura do sensor de corrente e a leitura
do sensor de tensão através de portas analógicas. O sinal que é calculado pela faixa de histerese
é então enviado ao driver que controla a comutação do IGBT. Deste modo o diagrama acima
explica o funcionamento geral do trabalho. Os blocos serão explicados separadamente a seguir.

3.2 Driver de controle


O driver de comando do conversor foi desenvolvido na mesma PCB que contém o
controle por histerese e o microcontrolador que gerencia os sinais de referência. Utilizou-se o
driver HCPL-316J, da Agilent Technologies, e foi tomado como base do diagrama elétrico o
próprio datasheet disponibilizado pelo fabricante, mostrado na Figura 12.
Figura 12 - Driver de comando do IGBT

Fonte: Agilent Technologies


O diagrama elétrico e layout foram realizados em software para PCB, respeitando no
layout a disposição correta dos sinais de potência e de comando. Foram utilizados
optoacopladores para ler a passagem por zero da onda senoidal da rede elétrica; amplificadores
operacionais e comparadares lógicos para a parte de controle.

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3.3 Conversor Boost
A etapa de montagem do protótipo foi reservada para a confecção do intudor de entrada
montagem e fixação do IGBT, diodo e capacitores de saída. Capacitores de polipropileno
também foram usados como filtro de saída e proteção do IGBT.
As etapas, métodos de montagem e resultados encontrados serão mostrados e detalhados
logo adiante.

4 APLICAÇÃO DA METODOLOGIA PROPOSTA


A seguir, serão apresentados e discutidos os resultados de simulação e algoritmo de
geração do sinal de comutação do IGBT. Serão apresentados também os métodos e resultados
de confecção do driver e do conversor.

4.1 Simulação
Este trabalho iniciou-se com com a simualação do conversor no programa PSIM®, onde
os elementos do conversor foram dimensionados e iniciou-se a elaboração das malhas de
controle. A visão geral da simulação pode ser vista na Figura 13.
Figura 13 - Visão geral da simulação no PSIM

Fonte: Autoria própria


No bloco superior está contido os componentes do conversor, alimentados pela rede
elétrica de 220V: ponte retificadora, indutor, diodo, IGBT, capacitor de saída e carga. Uma
fonte senoidal auxiliar de 1 V pico a pico foi adcionada para servir como sinal de referência
para a malha de controle. Foi utilizado um sensor de corrente na entrada do indutor e um sensor
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de tensão na saída. Ambos controlam as malhas de tensão e corrente do conversor em malha
fechada. Na Tabela 1 estão descritos os parâmetros dos componentes utilizados no conversor.
Tabela 1 - Parâmetros do conversor

Conversor Boost
Indutor 320 μH
Capacitor 13.600 μF
Carga 25 Ω
IBGT IRG4PC50UD
Diodo IRF637
Frequência de chaveamento 30 kHz
Fonte: autoria própria

4.1.1 Malha de tensão simulada


Na Figura 14 está a malha de controle da tensão. Essa malha possui uma referência de
350 V na entrada, que é a tensão desejada na saída do conversor. Uma realimentação negativa
Vout vinda da saída do conversor Boost é injetada no sistema, passando por um filtro passa
baixas de primeira ordem. Foi utilizado um controlador Proporcional Derivativo (PD) para
atingir a tensão desejada e um bloco limitador de 30 A para evitar saturações no indutor. A
saída do sistema é a componente DC Imalha, que será o sinal de corrente a ser comparado com
a referência na malha de corrente.
Figura 14 - Controle de tensão do conversor Boost

Fonte: autoria própria

4.1.2 Malha de corrente simulada


A malha de corrente utilizou-se de blocos comparadores, multiplicadores e somadores
para fazer a lógica de controle. O sinal de chaveamento do IGBT se deu por meio de um flip-
flop set/reset.

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Na Figura 15 a seguir está representada a malha de controle da corrente. O sinal Imalha
vindo da malha de tensão é multiplicado pelo sinal Vrect (mesma frequência da rede), que
possui forma senoidal retificada, por um valor máximo de 30 A. Esse valor é multiplicado por
uma fonte de tensão, definida no circuito pelo valor 0.92, gerando assim um senoide retificada
com amplitude levemente menor que à entrada. Essa margem formada entre as duas ondas é a
margem de histerese, na qual ocorre a comparação de erro em uma frequência média de 30 kHz.
Uma outra fonte de tensão auxiliar permite deslocar a segunda onda no eixo das ordenadas.
Dessa forma, com as das fontes que limitam a faixa de histerese, é possível obter um controle
satisfatório da margem que será utilizada para a comparação do erro. Na prática, foram
utilizados resistores variáveis para fazer esse ajuste.
Figura 15 - Controle de histerese do conversor Boost

Fonte: autoria própria


O sinal do sensor de corrente Irect é a realimentação dessa malha. A corrente que passa
pelo indutor é usada para gerar o erro entre as duas margens da histerese. No bloco comparador
inferior da Figura 15 o valor da corrente do indutor é comparado com a margem inferior da
histerese, ou seja, enquanto a corrente que passa pelo indutor é menor que essa margem, o flip
flop é setado e o IGBT está conduzindo. Analogamente, o mesmo sinal é comparado com a
margem superior, através do bloco comparador superior, e quando a corrente ultrapassa esse
limite o flip flop é resetado e a comutação é cessada .
A comutação em altíssima frequência é definida pela indutância do indutor e pela margem
de histerese, que quanto maior a margem, menor será a frequência de chaveamento [10],
conforme visto na Figura 10. A frequência também varia nesse controle, não só pela modulação

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PWM, mas também porque a própria margem varia de tamanho ao longo de cada período do
sinal de comparação.
Na Figura 16 está a região de histerese simulada no PSIM®, na qual ocorre o
chaveamento do IGBT conforme explicado no parágrafo anterior.
Figura 16 - Faixa de histerese gerada no PSIM

Fonte: autoria própria

4.1.3 Conversor simulado


Após validado o controle em malha fechada do conversor Boost, pode-se extrair as formas
de onda do mesmo. Na Figura 17 está a tensão de entrada Vmains (azul) e a corrente I(L1)
aumentada em cinco vezes (vermelho). É possível notar claramente que a corrente que passa
pelo indutor está exatamente em fase com a tensão da rede, validando o PFC.
Figura 17 - Tensão de entrada e corrente do indutor

Fonte: autoria própria

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4.2 Driver de controle
Com o presente trabalho funcionando em simulação, partiu-se para a etapa do
desenvolvimento e confecção da PCB do driver de controle. Uma mesma placa foi utilizada
para o driver, realimentação da tensão e corrente, microcontrolador, circuito de histerese e a
alimentação.

4.2.1 Desenvolvimento da PCB em software


Para a montagem do esquemático do driver HCPL-316J foi utilizado como base o próprio
esquemático disponibilizado pelo datasheet do componente. O chip possui isolamento entre os
sinais de comando e os de potência, por isso possui duas alimentações separadas, de 5 e 12 V,
respectivamente. Na Figura 18 está demonstrado o esquemático do circuito do drive de
acionamento do IGBT. O sinal Driver.Vin+ é gerado pela malha de controle de histerese, e os
outros três sinais são gerados pelo microcontrolador. Toda a parte de potência foi projetada
minimizando ao máximo as trilhas, a fim de evitar indutâncias parasitas.
Figura 18 – Driver de controle

Fonte: autoria própria


Um circuito de alimentação foi projetado tal que disponibilizasse saídas de 12 V para
alimentar o microcontrolador e 5 V para o a parte de sinal do driver, através de um regulador
de tensão. Um transformador de 12 V isolado foi usado para a parte de potência do driver. Dois
optoacopladores foram utilizados para fazer o reconhecimento pela passagem por zero da onda
senoidal da rede elétrica, e possuem um sinal de saída que é usado pelo microcontrolador para
gerar a onda de referência para o controle de histerese.

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A Figura 19 mostra o diagrama de alimentação. No conector TR2 é usado um
transformador de 12 V, que passa por uma ponte retificadora de diodos e por um regulador de
tensão. O sinal Arduino.ZC é o sinal de zero cross usado pelo microcontrolador para gerar o
sinal de referência mencionado no parágrafo acima. Foram usados capacitores para filtrar as
tensões de saída.
Figura 19 - Alimentação da PCB

Fonte: autoria própria


Para o sensor de tensão foi utilizado um divisor de tensão que realimenta a malha de
controle. Todos os componentes da PCB são em SMD (do inglês Surface Mount Device), e
apesar de a tensão de saída do conversor ser consideravelmente alta, na casa dos 350 V, foram
calculados os valores dos resistores adequadamente, utilizando a equação (4(4) e obtendo uma
tensão de 5 V no divisor de tensão.
R2
VE   VO (4)
R1  R2

21
O circuito de funcionamento está na Figura 20. A saída Arduino.VS do esquemático é o
sinal de realimentação que será enviado ao microcontrolador a fim de fazer o gerenciamento do
controle de tensão.
Figura 20 - Sensor de tensão

Fonte: autoria própria


Os resistores R28, R23 e R24 de 1/8 W de potência foram suficientes para fazer o ganho
necessário para obter 5 V na base do transistor Q2, que está presente para alimentar o LED do
optoacoplador em corrente. A saída coletora do transistor isolado do optoacoplador foi usada
para fazer a leitura A/D de 10 bits com o Arduino, a fim de que o microcontrolador pudesse ler
a tensão de saída do conversor. Como o Led possui uma resposta não linear, devida às suas
próprias características intrínsecas, utilizou-se do software Excel® para fazer uma aproximação
da curva dos valores lidos pelo divisor de tensão. Para isso, aplicou-se uma tensão de 50 V a
400 V, com uma taxa de amostragem de 25 V, a fim de obter uma função que abrangesse todos
os possíveis valores na saída do conversor. Deste modo, uma tensão de 0 V aplicada no divisor
de tensão, corresponde a 5 V na leitura do A/D do Arduino. Analogamente, uma tensão de 400
V corresponde (teoricamente) a 0 V na mesma leitura, pois assim foi projetado o divisor de
tensão.

22
Os valores injetados na placa de controle e os valores lidos pelo conversor A/D podem
ser vistos na Tabela 2.
Tabela 2 - Valores lidos pelo conversor A/D do Arduino

Tensão aplicada Tensão lida pelo A/D


50 V 4,96 V
75 V 4,56 V
100 V 3,99 V
125 V 3,41 V
150 V 2,84 V
175 V 2,27 V
200 V 1,73 V
225 V 1,29 V
250 V 1,05 V
275 V 0,91 V
300 V 0,81 V
325 V 0,73 V
350 V 0,66 V
375 V 0,61 V
400 V 0,60 V
Fonte: autoria própria
Com os valores obtidos na tabela acima, foi possível extrair uma curva na qual pudesse
ser feita a leitura real dos valores obtidos pelo conversor A/D lidos pelo microcontrolador. A
função linearizada da curva está presente na Figura 21, logo abaixo.
Figura 21 - Função aproximada

Fonte: autoria própria


23
A partir da função encontrada, foi utilizada a função inversa, de modo que o Arduino
lesse uma tensão de 0 a 5 V e interpretasse como sendo de 50 a 400 V, fechando a malha com
os valores reais.
A malha de corrente utilizou-se de um sensor que possui alimentação externa de -15 V a
+15 V, sendo a corrente lida uma relação entre o número de voltas do fio que passa pelo sensor
e também o valor do resistor utilizado para o divisor de tensão. O esquemático utilizado para o
sensor de corrente no driver pode ser visto na Figura 22. Foi utilizado um capacitor para filtrar
a tensão lida, e dois resistores de 22 Ω que somassem o valor de resistência indicado pelo
fabricante. Na saída da leitura está presente um amplificador operacional com ganho de valor
2,48 para chegar a um fundo de escala de 10 V.
A saída do sensor de corrente é o sinal Current.FeedBack, que é utilizado no controle de
histerese, servindo como referência para a comparação entre o sinal gerado pelo Arduino e o
sinal lido pelo próprio sensor. Foram projetas cinco voltas passantes do fio a ser lido o fluxo de
corrente, obtendo-se uma resposta satisfatória e de acordo com o datasheet do componente. A
montagem desta etapa será melhor explicada nos tópicos seguintes.
Figura 22 - Sensor de corrente

Fonte: autoria própria

24
A malha de controle por histerese pode ser vista na Figura 23. Para melhor entendimento,
a figura será separada em três blocos e explicados separadamente.
Figura 23 - Malha de controle por histerese

Fonte: autoria própria


O primeiro bloco do algoritmo, visto na Figura 24, é basicamente um ganho do sinal
gerado pelo microcontrolador. Há dois filtros RC para filtrar o PWM e um amplificador
operacional com ganho de valor 2. Foi utilizado um único chip, e apenas uma porta lógica, por
isso as entradas não utilizadas estão conectadas em GND.
Figura 24 - Bloco de ganho da histerese

Fonte: autoria própria

25
O bloco da Figura 25 controla as margens da histerese. Para isso foram utilizados dois
comparadores diferenciais de modelo LM311, sendo o superior usado diretamente no sinal
gerado pelo microcontrolador, e o segundo ajustado por dois resistores variáveis. Esta etapa
funciona exatamente do mesmo modo como explicado anteriormente na simulação no software
PSIM®, presente na Figura 15.
Figura 25 - Bloco de margem da histerese

Fonte: autoria própria


O bloco da Figura 26 tem a função de realizar a comutação do IGBT.
Figura 26 - Bloco de comutação do IGBT

Fonte: autoria própria

26
Para a comutação do IGBT foram utilizadas duas portas lógicas NAND, através do chip
SN7400, gerando uma memória Latch NAND. A lógica dessa memória está ilustrada na Figura
27. Desta forma, o IGBT estará conduzindo até ultrapassar a margem superior da histerese; no
momento que ultrapassar, cessará a condução, voltando a conduzir novamente quando
ultrapassar o limite inferior.
Figura 27 - Porta lógica NAND

Fonte: internet
A comutação do IGBT funciona em três estados lógicos, conforme a Figura 28 abaixo.
Na qual o estado lógico apenas irá mudar em dois pontos, indicados na figura. No intervalo 2º
região, a memória armazena o estado lógico anterior.
Figura 28 - Estados lógicos de comutação do IGBT

Fonte: autoria própria

27
Por fim, todos os sinais gerenciados pelo Arduino podem ser vistos na Figura 29. O pino
analógico A0 foi utilizado para a leitura da malha de tensão; o pino D2 para o zero cross da
rede elétrica; os pinos D3, D4 e D7 foram utilizados para os sinais de Fault, Vin- e Reset do
driver do IGBT, respectivamente. Seguindo o datasheet do driver, para tirá-lo da função Reset,
sua saída do microcontrolador foi setada como nível lógico alto, pois é um sinal negado. Do
mesmo modo, o sinal Vin- foi setado como nível lógico baixo. O sinal Fault possui nível lógico
contrário ao Reset.
Figura 29 - Esquemático do Arduino

Fonte: autoria própria


O layout completo da PCB pode ser visualizado na Figura 30 (ver próxima página). As
trilhas de potência e de sinais foram mantidas isoladas umas das outras, evitando ao máximo
que elas se cruzassem. Trilhas mais largas foram utilizadas nos locais adequados. Os conectores
foram desenhados para os fios serem soldados diretamente na placa, e todos os componentes
são em SMD, exceto o Arduino. Foram utilizadas vias para conectar as trilhas entre uma layer
e a outra. True holes foram necessários apenas no microcontrolador e nas vias.

28
Figura 30 - Layout da PCB

Fonte: autoria própria

29
4.2.2 Confecção da PCB
Para a confecção da PCB do driver de controle, foi utilizado um método fotográfico,
totalmente químico. Para tanto, foram necessários os itens listados no Quadro 1.

Quadro 1 - Lista de componentes para o processo de PCB

Dry film (azul)


Lâmpada UV
Revelador (Na2CO3)
Corroedor (HCl + H2O2)
Removedor (NaOH)
Lâminas de transparência
Placa para PCB dupla face

O primeiro passo foi a impressão do negativo das trilhas no layout em uma lâmina de
transparência. Logo após, uma camada de dry film azul foi aplicada à placa de cobre dual layer,
passando por um toner transfer para esquentar e prensar a lâmina de dry film na placa.
A seguir, as transparências com as trilhas em negativo precisaram ser alinhadas, com a
ajuda dos furos do próprio Arduino. Com as lâminas alinhadas e fixadas com a ajuda de um
vidro, bastou uma exposição à luz UV para queimar as partes expostas à luz. Ou seja, as trilhas
de cobre, que foram impressas como sendo transparentes, serão queimadas pela luz UV, e as
regiões onde não há cobre serão protegidas da exposição graças a tinta preta em negativo.
Após a exposição dos dois lados da placa, foi aplicada uma solução reveladora (Na2CO3),
a fim de retirar o dry film que não foi queimado (onde não há cobre), deixando apenas as trihas
de cobre com uma película azul.
O passo seguinte foi destinado a corroer a placa com HCl + H2O2 até remover todo o
cobre não desejado. Para tirar a película azul das trilhas de cobre desejadas foi usado uma
solução removedora (NaOH).
Por questões estéticas e também de isolamento, utilizou-se de uma máscara de solda para
o acabamento da PCB, repetindo o processo até a etapa de revelação. O resultado final mostrou-
se elegante e eficiente ao isolar os pads de solda e suas respectivas trilhas, especialmente por
se tratar de componentes em SMD. Uma grande vantagem desse método foi a rapidez: todas as
etapas juntas levam cerca de 30 minutos para ficar pronto.

30
O resultado final da PCB do driver de controle, mostrando a top layer, pode ser
visualizada na Figura 31 logo abaixo.
Figura 31 - Resultado final da PCB (top layer)

Fonte: autoria própria


A seguir, o resultado da bottom layer na Figura 32.
Figura 32 - Resultado final da PCB (bottom layer)

Fonte: autoria própria

31
4.2.3 Código C para gerar o sinal de referência
O código desenvolvido utiliza dois Timers e um módulo de interrupção externa que foram
utilizados através de programação direta por varredura de bits nos registradores periféricos do
microcontrolador ATMega324.Uma tabela de lookup armazena 100 amostras da meia senoide
retifica, que será utilizada como referência para o gerador de PWM.
O PWM é gerado através de um timer com o hardware configurado em modo de Fast-
PWM com comparação no registro OCRA, que tem um pino de saída associado diretamente ao
endereço de memória de saída. Este timer foi configurado para gerar um PWM de 10 bits na
maior frequência possível com o cristal de 16Mhz, que é aproximadamente 32kHz.
Outro timer foi utilizado para gerar os pulsos de varredura da tabela de lookup, que
acontecem aproximadamente 100 vezes para cada meio ciclo da senoide. O sincronismo é
efetuado por um DLL (do inglês Digital Locked Loop) de ordem zero que utiliza o sinal de
sincronismo da interrupção externa para alinhar o ponteiro de varredura da lookup. O código
em C pode ser lido abaixo.

#include "avr/interrupt.h"

// 100 amostras de um meio seno


int16_t lookup[100] = {0,32,65,97,130,162,194,225,257,288,
319,350,380,410,440,469,497,525,553,
580,607,632,658,682,706,729,751,773,
794,814,833,852,869,886,902,917,931,
944,956,967,977,986,994,1001,1007,1013,
1017,1020,1022,1023,1023,1022,1020,1017,
1013,1007,1001,994,986,977,967,956,944,
931,917,902,886,869,852,833,814,794,773,
751,729,706,682,658,632,607,580,553,525,
497,469,440,410,380,350,319,288,257,225,
194,162,130,97,65,32,0};

volatile uint8_t lookup_pointer = 0;

// valor de offset carregado na interrupção de sincronismo da rede


const uint8_t zero_offset = 3; // ajustar de 0 até 100

void setup()
{
/*
Configura o timer 2 para executar uma interrupção de software a cada 83us
Esta interrupção é utilizada para avançar o PWM para a próxima posição da lookup table
*/
TCCR2A = (1 << WGM21); // modo CTC
TCCR2B = (1 << CS21); // prescaler em 8x
OCR2A = 167; // estouro a cada ~83,3us
TIMSK2 = (1 << OCIE2A); // habilita interrupção por estouro

/*
Configura o timer 1 para gerar o PWM na saída OC1A, na frequência máxima possível
*/

32
TCCR1A = (1 << COM1A1); // limpa pino no match e seta no
BOTTOM
TCCR1A |= (1 << WGM11) | (1 << WGM10); // modo fast PWM de 10 bits
TCCR1B = (1 << WGM12);
TCCR1B |= (1 << CS10); // prescaler de 1x
OCR1A = 127; // PWM inicia em 50%

DDRB |= (1 << 1); // OC1A como saída

/*
Configura a interrupção externa para receber o pulso de sincronismo da rede
*/
EICRA = (1 << ISC01) | (1 << ISC00); // interrupção acontece na borda de subida de INT0
EIMSK = (1 << INT0); // INT0 ativada

pinMode(2, INPUT_PULLUP); // ativa o pullup para o par de optos

/*
Tira o driver do RESET
*/
pinMode(7, OUTPUT);
digitalWrite(7, HIGH); // nivel alto pois RESET é negado

/*
Seta o Vin- como LOW
*/
pinMode(4, OUTPUT);
digitalWrite(4, LOW); // forçar nivel baixo para o Vin-

for (uint8_t i = 0; i < 100; i++)


{
lookup[i] *= 1.3f*0.16f;
}

// ativa interrupções globais


sei();
}

void loop()
{
while(1);
}

// atualiza o PWM a cada estouro do timer 2


ISR(TIMER2_COMPA_vect)
{
OCR1A = lookup[lookup_pointer++];

if (lookup_pointer == 100)
lookup_pointer = 0;
}

// sincroniza o contador da lookup com o zero da senoide da rede


ISR(INT0_vect)
{
lookup_pointer = zero_offset;
}

33
4.3 Conversor Boost
Após a etapa de simulação do controle do IGBT e também da confecção da PCB, iniciou-
se a montagem dos componentes do conversor.
Foi utilizada uma base de MDF para servir de suporte, grande o bastatne para alocar todos
os componentes, contatora, transformadores de alimentação, PCB do driver, sensor de corrente
e os capacitores de saída (que ocupam o maior espaço). A ponte retificadora, o diodo e o IGBT
foram fixados em um mesmo dissipador de calor, colocados na posição vertical e com as haletas
estrategicamente direcionadas para um melhor fluxo de ar. Os fios das conexões foram os mais
curtos possíveis. Uma primeira montagem do conversor pode ser visualizada na Figura 33.
Figura 33 - Primeira montagem do conversor

Fonte: autoria própria

34
A fixação dos componentes se deu por meio de presilhas, que abraçam cada um deles
através da madeira. O indutor foi confeccionado utilizando cinco pares de núcleos de ferrite em
paralelo, a fim de fornecer um fluxo de corrente suficiente e com a indutância projetada de 320
μH.
O sensor de corrente utilizado foi o modelo CSNF161, do fabricante Honeywell. Esse
sensor possui uma escala de leitura 1:1000 para cada volta de fio passante e um resistor de 40
Ω para leitura da corrente em tensão. Ou seja, como no conversor foram cinco voltas, para cada
1 A que passa pelo fio, correspondem 5 mA. O componente suporta correntes alternadas de até
100 A, e medidas em AC e DC. O sensor pode ser visto na Figura 34.
Figura 34 - Sensor de corrente utilizado no conversor

Fonte: Honeywell
Os primeiros testes no conversor não foram feitos com alimentação AC, utilizou-se fonte
de bancada DC inicialmente. Nos testes em AC, ele não foi conectado diretamente na rede
elétrica, por questões de segurança, e sim a um variac. Essas medidadas garantiram os testes
adequados no conversor. O protótipo final está na Figura 35.
Figura 35 - Protótipo final do conversor

Fonte: autoria própria

35
Por fim, a corrente lida no indutor, e a tensão de entrada na rede estão representadas
abaixo na Figura 36. Utilizou-se um osciloscópio isolado da Tektronix, modelo TPS 2012B.
Figura 36 - Formas de onda da corrente e tensão da rede

Fonte: autoria própria

5 CONCLUSÃO
O presente trabalho foi de grande aprendizado na área de eletrônica de potência. As etapas
de simulação, confecção e testes foram satisfatórias, e atenderam ao esperado. A utilização do
Arduino como microcontrolador para gerenciar as malhas de controle foi muito eficiente, apesar
de ter apresentado certa dúvida no começo do trabalho, no qual foi cogitado a opção dse usar
um processador de maior capacidade de processamento. O sinal de refência gerado pelo
Arduino, em fase com a rede, foi muito satisfatório devido ao fato de não haver a certeza se ele
seria capaz de gerar o sinal.
Os testes do placa do driver levou bastante tempo, na qual foi preciso fazer ajustes e trocas
de componentes que acabaram queimando.
A conclusão do trabalho foi de grande satisfação ao trabalhar com potências e valores de
componentes elevados.

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6 REFERÊNCIAS
[1] https://www.aps.org/publications/apsnews/200603/history.cfm
[2] J.A.Pomilio, Eletrônica de Potência – Introdução à Disciplina
[3] I. Barbi, Eletrônica de Potência, 6º edição. Florianópolis, Brasil, 2006.
[4] I. Barbi, Correção Ativa do Fator de Potência, UFSC, Brasil, 2005.
[5] D.C.Martins, I.Barbi, Eletrônica de Potência – Conversores CC-CC Básicos Não
Isolados, 2º edição. Florianópolis, Brasil, 2006.
[6] C.A.Petry, Introdução aos Conversores CC-CC. Florianópolis, Brasil, 2001.
[7] I.Barbi, Conversores CC-CC Isolados de Alta Frequência com Comutação Suave,
edição dos autores. Florianópolis, Brasil, 1999.
[8] http://www.copel.com/
[9] L.R.S.Andrade, Estudo Sobre Controladores de Corrente Implementados Digitalmente.
Rio de Janeiro, Brasil, 2009.
[10] H..R.E.Larico, Conversor Boost Controlado em Corrente Aplicado ao Retificador
Monofásico. Florianópolis, Brasil, 2007.
[10] Reis, Fernando Soares dos. Prerreguladores del Factor de Potencia: Fundamentos, CEE
y CEM, 2015, 122p.
[11] Power Eletronics Handbook 3rd Edition Editors: Muhammad Rashid eBook; ISBN:
9780123820372 Hardcover ISBN: 9780123820365 Imprint: Butterworth-Heinemann
Published Date: 9th December 2010, 1362p.

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