Você está na página 1de 32

PROVAS COMENTADAS – AFT 2009/2010

PROVAS DISCURSIVAS

AUDITOR-FISCAL DO TRABALHO
PROVA DISCURSIVA 1

Tema 1 – Direito do Trabalho


Professora Deborah Paiva

Pedro Paulo da Silva foi contratado e trabalhou como porteiro


para o Centro Comercial Xique Xique Ltda. durante o período
compreendido entre março de 1997 e abril de 2003, com média
remuneratória equivalente a três salários mínimos. Foi dispensado
sem a ocorrência de justa causa. O trabalhador permaneceu
desempregado durante oito meses. Logo depois, preencheu cadastro,
atendendo à oferta de trabalho, na empresa Eficiência Prestadora de
Serviços Ltda. Submetido a determinados testes (prova escrita,
entrevista e análise curricular), foi admitido para exercer a função de
porteiro, inclusive em razão da sua experiência profissional anterior
com remuneração equivalente a dois salários mínimos. Ato contínuo,
foi deslocado para prestar serviços no Centro Comercial Xique Xique
Ltda, local onde constava no seu crachá a função de atendente de
público. Trabalhou nessas condições por aproximadamente cinco
anos.
Considerando os elementos contidos na situação hipotética
supradescrita, e a partir deles, disserte sobre o fenômeno da
terceirização de serviços, devendo constar abordagem obrigatória
sobre os seguintes aspectos:
a) serviços terceiriáveis, licitude e ilicitude da intermediação de
mão de obra, e respectivas consequências;
b) triangulação do contrato de trabalho e salário equitativo;
c) duração do contrato de prestação de serviço;
d) natureza e extensão da responsabilidade atribuída às empresas
envolvidas.
COMENTÁRIO.
Observei nesta questão que a ESAF abordou Súmula do TST. O
candidato que não conhecesse a súmula 331 do TST teria dificuldades
de dissertar sobre o tema.
O conhecimento da doutrina também era fundamental, para a boa
resolução desta prova discursiva.
Observem que o enunciado da prova pede a abordagem obrigatória
das formas de terceirização lícitas e ilícitas e respectivas
conseqüências. Assim, o candidato somente poderia dissertar com
desenvoltura se conhecesse o teor da Súmula 331 do TST!

www.pontodosconcursos.com.br
PROVAS COMENTADAS – AFT 2009/2010
PROVAS DISCURSIVAS

Recomendo iniciar o parágrafo conceituando o instituto da


terceirização, para depois mencionar as formas de terceirização.
Então, vejamos:
A terceirização é o fenômeno pelo qual o trabalhador é inserido no
processo produtivo do tomador de serviços, sem que este tenha
obrigações trabalhistas, pois estas são obrigações da empresa de
terceirização.
A terceirização lícita é aquela admitida pela lei 6.019/74 (Trabalho
Temporário), pela Lei 7.102/83 (Serviços de vigilância), pela Súmula
331 do TST e nos serviços especializados ligados à atividade-meio do
tomador de serviços, desde que sem pessoalidade e subordinação
direta.
A contratação de trabalhadores por empresa interposta somente,
será ilícita quando existir fraude na terceirização, ou seja, o tomador
de serviços necessitando de mão de obra habitual necessária a sua
própria existência, que coincide com seus fins principais (atividade-
fim), resolve contratar pessoal através de outra empresa.
Neste caso, a terceirização será considerada ilícita e o vínculo de
emprego irá formar-se diretamente com o tomador dos serviços do
empregado, incidindo sobre o contato de trabalho todas as normas
pertinentes a sua categoria.
Neste caso a responsabilidade é solidária, e o empregado poderá
escolher se ingressa com a reclamação trabalhista contra uma das
empresas ou contra todas.
Mesmo na hipótese de terceirização lícita, a empresa tomadora de
serviços é responsável subsidiariamente pelo cumprimento das
obrigações trabalhistas assumidas pela prestadora de serviços, ainda
que se trate de entes da Administração Pública.
A ESAF deixa claro que o candidato deverá considerar os elementos
descritos na situação hipotética para desenvolver a sua redação.
Assim, é necessário ressaltar a ilicitude da terceirização ligada à
atividade-fim do tomador de serviços, que é a hipótese do caso
hipotético.
Observem a dica do enunciado, que nos faz concluir que a
terceirização é ligada à atividade-fim do tomador de serviços:
“Pedro Paulo da Silva foi contratado e trabalhou como porteiro para o
Centro Comercial Xique Xique Ltda. durante o período compreendido
entre março de 1997 e abril de 2003, com média remuneratória
equivalente a três salários mínimos. Foi dispensado sem a ocorrência
de justa causa. O trabalhador permaneceu desempregado durante
oito meses. Logo depois, preencheu cadastro, atendendo à oferta de

www.pontodosconcursos.com.br
PROVAS COMENTADAS – AFT 2009/2010
PROVAS DISCURSIVAS

trabalho, na empresa Eficiência Prestadora de Serviços Ltda.


Submetido a determinados testes (prova escrita, entrevista e análise
curricular), foi admitido para exercer a função de porteiro, inclusive
em razão da sua experiência profissional anterior com remuneração
equivalente a dois salários mínimos. Ato contínuo, foi deslocado para
prestar serviços no Centro Comercial Chique Chique Ltda., local onde
constava no seu crachá a função de atendente de público. Trabalhou
nessas condições por aproximadamente cinco anos”.
A função de porteiro de um centro comercial é um serviço ligado à
atividade-fim da empresa. Assim, o candidato deverá ressaltar em
sua redação a ilicitude da terceirização em atividade-fim.
Quando a terceirização for considerada ilícita, o empregado da
empresa terceirizada poderá pleitear a equiparação salarial em
relação aos trabalhadores da empresa cliente, porque, neste caso, a
relação de emprego se estabelece diretamente com a empresa
cliente.
A responsabilidade será solidária entre o tomador e o intermediador
de mão-de-obra quando a subcontratação for irregular. Neste caso o
vínculo irá formar-se com o tomador.
A Súmula 331 do TST refere-se à responsabilidade subsidiária do
tomador quando a terceirização for regular ou legal. A situação
hipotética descrita na questão trata-se de terceirização ilícita, uma
vez que a atividade de atendente de público é atividade-fim de um
Centro Comercial.
Sendo ilícita a terceirização, o vínculo de emprego irá formar-se com
o Centro Comercial Chique Chique, havendo a responsabilidade
solidária entre a empresa tomadora e a empresa terceirizadora.
Em resumo, vejamos a proposta de solução para a
dissertação!
O candidato deverá abordar a ilicitude da terceirização, descrita no
caput da questão.
É importante apontar e dissertar sobre as hipóteses de terceirização:
lícitas e ilícitas. E, ao final, posicionar-se em relação à ilicitude da
terceirização do caso hipotético.
As conseqüências de uma terceirização ilícita, também deverão ser
abordadas na questão. É importante falar que a terceirização da
questão apresentada é ilícita e que o vínculo de emprego irá formar-
se com o centro comercial Xique Xique Ltda.
É necessário falar que a responsabilidade será solidária entre as duas
empresas, devido à ilicitude da terceirização.
A questão referente ao salário equitativo deverá ser mencionada,
porque foi pedido na questão, e por ser ilícita a terceirização, ele

www.pontodosconcursos.com.br
PROVAS COMENTADAS – AFT 2009/2010
PROVAS DISCURSIVAS

poderá postular equiparação salarial em relação aos outros


empregados da empresa, porque o vínculo formou-se diretamente
com o tomador de serviços.
Em suma, as palavras-chaves da questão são a ilicitude da
terceirização em atividade-fim (Súmula 331 do TST) e a possibilidade
de postular a equiparação salarial, em virtude da formação do vínculo
de emprego, diretamente com o tomador de serviços.
Não se esqueçam de mencionar a responsabilidade solidária entre as
empresas!

www.pontodosconcursos.com.br
PROVAS COMENTADAS – AFT 2009/2010
PROVAS DISCURSIVAS

Questão 1 – Direito Constitucional


Professora Nádia Carolina
O art. 2º da Constituição da República Federativa do Brasil
assim dispõe: “São Poderes da União, independentes e
harmônicos entre si, o Legislativo, o Executivo e o Judiciário”.
A partir do dispositivo constitucional supra, deve o candidato
discorrer sobre o tema INDEPENDÊNCIA E HARMONIA ENTRE
OS PODERES, abordando obrigatoriamente os seguintes
tópicos:
a) harmonia entre os poderes – divisão de funções entre os
órgãos de poder – princípio da indelegabilidade de funções –
absoluta ou relativa?
b) independência entre os poderes – absoluta ou relativa;
c) sistema de freios e contrapesos;
d) exceções ao princípio da divisão dos Poderes – Exemplos.
COMENTÁRIO.
Olá, concurseiro! Quem lhe dirige a palavra agora é a
professora Nádia Carolina, que o auxiliará na resolução da questão de
Direito Constitucional.
Qual foi sua impressão ao ler o enunciado acima?
Imagino que tenha se sentido aliviado! Com tantos temas que
você não leu ou estudou superficialmente em Direito Constitucional, é
uma alegria constatar que a questão trata da separação de Poderes,
assunto mais que debatido em sala de aula e cursos “online”, certo?
Mas olhemos o “caput” da questão mais atentamente...
“O art. 2º da Constituição da República Federativa do Brasil
assim dispõe: “São Poderes da União, independentes e
harmônicos entre si, o Legislativo, o Executivo e o Judiciário”.
A partir do dispositivo constitucional supra, deve o candidato
discorrer sobre o tema INDEPENDÊNCIA E HARMONIA ENTRE
OS PODERES, abordando obrigatoriamente os seguintes
tópicos:”
Percebeu? As palavras INDEPENDÊNCIA e HARMONIA estão em
destaque. Elas deverão ser usadas no seu texto.
Puxa vida, a questão não é tão fácil quanto pareceu à primeira
vista, não? Já deu para notar que será cobrado um conhecimento
profundo do tema!
Calma, meu amigo. Você estudou, sabe a matéria. Falta de
conhecimento não será, de modo algum, o problema para resolver a
questão. O que determinará o seu sucesso será o modo como

www.pontodosconcursos.com.br
PROVAS COMENTADAS – AFT 2009/2010
PROVAS DISCURSIVAS

organizará as idéias. Para isso estou aqui: para ensiná-lo a usar o


conhecimento que já tem, a partir de alguns truques que usei em
minhas provas discursivas. Preste atenção nas dicas.
Bem, o que eu faria diante dessa questão? Um breve
“brainstorm”, à medida que lesse os tópicos pedidos. Não se lembra
do que é isso? É uma “tempestade de idéias”! É anotar sucintamente
tudo o que vem à sua mente para organizar o pensamento. Vamos lá!
a) harmonia entre os poderes – divisão de funções entre os
órgãos de poder – princípio da indelegabilidade de funções –
absoluta ou relativa?
Você é esperto, não? Sabe que cada um desses tópicos é um
parágrafo. Sabe, também, que precisa de uma introdução e de uma
conclusão. Sua redação, portanto, terá 6 parágrafos. Além disso,
lembra-se de que a introdução consiste em retomar as idéias
expostas no “caput”, sempre que possível.
O que mais? Algumas palavrinhas são de uso obrigatório, para
cobrir cada tópico. Neste, usaremos, necessariamente, as palavras
HARMONIA, PRINCÍPIO DA INDELEGABILIDADE DE FUNÇÕES e
RELATIVA.
Finalmente, cada um dos 4 parágrafos do desenvolvimento,
relativos aos tópicos abordados pela questão, deverá ter em média 6
linhas. Isso para garantirmos o limite de 30 linhas exigido pelo edital!
Reservaremos 6 linhas para introdução e conclusão.
Agora é que vem o “brainstorm”. Vamos anotar o que sabemos
sobre o tema HARMONIA entre os Poderes?
- Conceito de harmonia: coordenação e colaboração entre os Poderes.
Objetivo: garantir que os Poderes expressem uniformemente a
vontade da União.
- A indelegabilidade de funções é relativa. Há uma predominância, e
não exclusividade da função exercida por cada Poder. Cada Poder
desempenha, em caráter excepcional, as funções típicas dos outros.
Que tal escrevermos nossos dois primeiros parágrafos?
A Constituição Federal, em seu art. 2º, determina que os
Poderes da União – Legislativo, Executivo e Judiciário – são
independentes e harmônicos entre si.
Por harmonia entre os Poderes, entende-se a coordenação e
colaboração de cada um com os demais. É uma característica
essencial para o funcionamento do nosso Estado, pois todos eles
pertencem à União, devendo expressar de maneira uniforme a
vontade política central. Para alcançá-la, todavia, é necessário que a
função típica de cada Poder não seja de exercício exclusivo por ele.

www.pontodosconcursos.com.br
PROVAS COMENTADAS – AFT 2009/2010
PROVAS DISCURSIVAS

Por esse motivo, a indelegabilidade das funções é relativa: cada


Poder, excepcionalmente, exerce as funções típicas dos outros.
b) independência entre os poderes – absoluta ou relativa;
No terceiro parágrafo, temos que estabelecer duas ligações:
uma com o segundo e outra com o quarto parágrafo. Perceba que as
idéias de harmonia e independência parecem, a princípio,
antagônicas. Começaremos, portanto, o terceiro parágrafo
explorando essa oposição. Usaremos, também, as palavras
INDEPENDÊNCIA e RELATIVA, para garantir os pontos referentes à
cobertura do tópico.
O que falaremos sobre a independência entre os Poderes?
Vamos à tempestade cerebral:
- Independência: ausência de subordinação, de hierarquia;
- É relativa;
- Limite: sistema de freios e contrapesos, que será abordado no
quarto parágrafo. Usaremos essa idéia para dar coerência a nosso
texto.
Vejamos como ficou nosso trabalho:
Já a independência entre os Poderes traduz-se na ausência de
subordinação de um Poder a outro. Todos eles têm, portanto, a
mesma hierarquia. Assim como a indelegabilidade de funções,
exposta anteriormente, é relativa. Isso porque é limitada pelo
controle recíproco entre os Poderes: o sistema de freios e
contrapesos.
c) sistema de freios e contrapesos;
O que falaremos sobre esse sistema? Que tal abordarmos
conceito, objetivo e um exemplo de sua aplicação? O resultado pode
ser visto abaixo:
Esse sistema, criado pela doutrina norte-americana, prevê a
interferência legítima de um Poder sobre o outro, nos limites
estabelecidos constitucionalmente. Tem como objetivo garantir o
equilíbrio necessário à concretização da soberania popular, evitando o
exercício arbitrário das funções pelos Poderes. É o que acontece, por
exemplo, quando o Executivo veta um projeto de lei por entendê-lo
inconstitucional.
d) exceções ao princípio da divisão dos Poderes – Exemplos.
Que marmelada, hein? Este é o tópico mais fácil da prova.
Chamo a atenção para a palavra EXEMPLOS. Para fechar com “chave
de ouro”, citaremos duas exceções à divisão dos Poderes em nosso
texto e utilizaremos as palavras “EXEMPLO”, “DIVISÃO DOS
PODERES” e “EXCEÇÃO”.

www.pontodosconcursos.com.br
PROVAS COMENTADAS – AFT 2009/2010
PROVAS DISCURSIVAS

A divisão dos Poderes não é absoluta. Cada um, como já foi dito
anteriormente, exerce uma função predominante e também, em
caráter excepcional, aquelas típicas dos demais. Um exemplo disso é
o exercício da função administrativa – típica do Executivo – pelo
Judiciário e pelo Legislativo, quando dispõem sobre sua organização
interna e sobre seus servidores, nomeando-os ou exonerando-os.
Outra exceção ao princípio da divisão de Poderes é a edição de
decretos autônomos pelo Chefe do Executivo. Tem-se, nessa
situação, o exercício da função de legislar, típica do Poder Legislativo,
pelo Executivo.
Só falta a conclusão! Que alegria!
Que tal fazermos um breve resumo de tudo que defendemos
em nosso texto? Lembre-se de que a conclusão só deve abordar o
que foi exposto na redação. Veja a lógica: você só pode concluir
baseado naquilo que já disse, não é mesmo? Nada de trazer idéias
novas nesse momento! Olhe como ficou a conclusão de nossa
questão:
Portanto, a relação entre os Poderes é de harmonia e
independência. Entretanto, essa independência é relativa, uma vez
que cada um exerce sua função típica e, também, excepcionalmente,
as funções dos demais. O equilíbrio dessa relação é garantido pelo
sistema de freios e contrapesos.
Vejamos como ficou nosso texto, após reunirmos todos os
parágrafos:
A Constituição Federal, em seu art. 2º, determina que os
Poderes da União – Legislativo, Executivo e Judiciário – são
independentes e harmônicos entre si.
Por harmonia entre os Poderes, entende-se a coordenação e
colaboração de cada um com os demais. É uma característica
essencial para o funcionamento do nosso Estado, pois todos eles
pertencem à União, devendo expressar de maneira uniforme a
vontade política central. Para alcançá-la, todavia, é necessário que a
função típica de cada Poder não seja de exercício exclusivo por ele.
Por esse motivo, a indelegabilidade das funções é relativa: cada
Poder, excepcionalmente, exerce as funções típicas dos outros.
Já a independência entre os Poderes traduz-se na ausência de
subordinação de um Poder a outro. Todos eles têm, portanto, a
mesma hierarquia. Assim como a indelegabilidade de funções,
exposta anteriormente, é relativa. Isso porque é limitada pelo
controle recíproco entre os Poderes: o sistema de freios e
contrapesos.
Esse sistema, criado pela doutrina norte-americana, prevê a
interferência legítima de um Poder sobre o outro, nos limites
estabelecidos constitucionalmente. Tem como objetivo garantir o

www.pontodosconcursos.com.br
PROVAS COMENTADAS – AFT 2009/2010
PROVAS DISCURSIVAS

equilíbrio necessário à concretização da soberania popular, evitando o


exercício arbitrário das funções pelos Poderes. É o que acontece, por
exemplo, quando o Executivo veta um projeto de lei por entendê-lo
inconstitucional.
A divisão dos Poderes não é absoluta. Cada um, como já foi dito
anteriormente, exerce uma função predominante e também, em
caráter excepcional, aquelas típicas dos demais. Um exemplo disso é
o exercício da função administrativa – típica do Executivo – pelo
Judiciário e pelo Legislativo, quando dispõem sobre sua organização
interna e sobre seus servidores, nomeando-os ou exonerando-os.
Outra exceção ao princípio da divisão de Poderes é a edição de
decretos autônomos pelo Chefe do Executivo. Tem-se, nessa
situação, o exercício da função de legislar, típica do Poder Legislativo,
pelo Executivo.
Portanto, a relação entre os Poderes é de harmonia e
independência. Entretanto, essa independência é relativa, uma vez
que cada um exerce sua função típica e, também, excepcionalmente,
as funções dos demais. O equilíbrio dessa relação é garantido pelo
sistema de freios e contrapesos.
Viu como valeu a pena? Vinte e oito linhas. As duas linhas que
sobraram servirão de “margem segurança” para quando você for
passar a redação a limpo.
Espero que tenha aproveitado as dicas! Quanto mais treino,
melhor! Que tal elaborar uma dissertação por dia, até a data de sua
prova, cronometrando o tempo?
Despeço-me, então, de você. A prova, contudo, continua. É
hora de explorar o Direito Administrativo!

www.pontodosconcursos.com.br
PROVAS COMENTADAS – AFT 2009/2010
PROVAS DISCURSIVAS

Questão 2 – Direito Administrativo


Professora Patrícia Lamadrid

O estudo dos atos administrativos é elemento fundamental a


possibilitar a adequada atuação dos servidores públicos e da
própria Administração. A produção de tais atos demanda uma
avaliação de aspectos atinentes à regularidade do ato, bem
assim à conveniência e à oportunidade em sua expedição.
Nesse contexto, pergunta-se: uma vez expedidos, existem
atos administrativos que não podem ser revogados?
À luz da doutrina e jurisprudência pátrias, justifique sua
resposta, indicando:
a) os fundamentos que confirmam a inexistência de atos
administrativos irrevogáveis; ou
b) no caso de resposta afirmativa à pergunta, as hipóteses de
irrevogabilidade de atos administrativos.
COMENTÁRIO.
Caro concurseiro,
Hoje vamos falar sobre a prova discursiva de Direito Administrativo
do concurso para Auditor-Fiscal do Trabalho.
Vejamos como era o caput do enunciado:
“O estudo dos atos administrativos é elemento fundamental a
possibilitar a adequada atuação dos servidores públicos e da
própria Administração. A produção de tais atos demanda uma
avaliação de aspectos atinentes à regularidade do ato, bem
assim à conveniência e à oportunidade em sua expedição.
Nesse contexto, pergunta-se: uma vez expedidos, existem
atos administrativos que não podem ser revogados?
À luz da doutrina e jurisprudência pátrias, justifique sua
resposta..."
A primeira coisa que eu quero que você saiba é que a ESAF tem
mantido uma linha muito clara e definida em suas provas discursivas.
Pelo caput que acabamos de ver acima, já dá para notar que o
assunto desta questão é o ato administrativo. Foi o mesmíssimo
assunto da prova discursiva de Direito Administrativo do AFRFB 2010,
também aplicada pela ESAF. Assunto bem básico, aliás, que eu tenho
certeza de que você estudou. Além disso, mais uma vez, o
examinador começa a questão contando toda uma história,
contextualizando o assunto que será tratado. O problema é que essa
introdução pode confundir o candidato menos experiente e mais
afoito, fazendo-o achar que a questão é difícil demais e deixando-o
desesperado! Cuidado para não cair nessa pegadinha. Vá para a sua

www.pontodosconcursos.com.br
PROVAS COMENTADAS – AFT 2009/2010
PROVAS DISCURSIVAS

prova sabendo que o que importa de verdade é a pergunta em si e


que você tem que saber separá-la da historinha inicial.
Neste caso, a pergunta era a seguinte:
“...uma vez expedidos, existem atos administrativos que não
podem ser revogados?
À luz da doutrina e jurisprudência pátrias, justifique sua
resposta, indicando:
a) os fundamentos que confirmam a inexistência de atos
administrativos irrevogáveis; ou
b) no caso de resposta afirmativa à pergunta, as hipóteses de
irrevogabilidade de atos administrativos.”
A primeira coisa, portanto, era saber se existem ou não atos
administrativos que não podem ser revogados.
O que você acha?
A resposta correta é que existem sim atos administrativos que não
podem ser revogados.
Mas....e se você não soubesse essa resposta? Você teria que
“chutar”, é claro, pois não iria deixar a questão em branco. E aqui
caberia o que nossos amigos anglofônicos costumam chamar de um
“educated guess”, ou um “chute direcionado” em português.
Como assim? Simples. Se a resposta fosse “não”, você não teria
muito o que dizer na sua redação. Em outras palavras, seria bem
difícil você preencher o mínimo de 15 linhas do texto. Por outro lado,
sendo a resposta afirmativa, haveria muito o que dizer. Portanto, isso
indicava que a resposta correta tinha mais chances de ser “sim” do
que de ser “não”.
Bom, até aí tudo bem. Agora é que vinha a parte difícil: saber as
hipóteses de irrevogabilidade dos atos administrativos, ou, em outras
palavras, saber em que casos os atos administrativos não podem ser
revogados.
Segundo os professores Marcelo Alexandrino e Vicente Paulo em seu
livro “Direito Administrativo Descomplicado”, existem seis casos em
que isso ocorre. São eles:
1) atos consumados;
2) atos vinculados;
3) atos que geraram direitos adquiridos;
4) atos que integram um procedimento;
5) atos meramente administrativos; e
6) quando se exauriu a competência da autoridade que praticou o ato.

www.pontodosconcursos.com.br
PROVAS COMENTADAS – AFT 2009/2010
PROVAS DISCURSIVAS

Na minha opinião, aqui a ESAF pegou meio pesado, porque era difícil
lembrar de todas essas situações. A maioria dos candidatos deve ter
conseguido lembrar ou pensar em um ou em dois deles, mas em
todos era muito difícil. Eu mesma não lembrei de todos quando li o
enunciado pela primeira vez! Tive que consultar para refrescar a
memória. Sorte minha que eu estava em casa, com o livro de Direito
Administrativo em mãos. Mas...e se isso tivesse acontecido na hora
da prova? O que fazer?
Primeiro e mais importante seria manter a calma. Eu sei que é difícil,
mas, infelizmente, isso é também essencial. Acho que o que pode
ajudar é ir preparado para situações desse tipo. Ou seja, ir para a
prova sabendo que isso pode acontecer e que, se acontecer, você vai
ter que manter a calma e improvisar.
Depois, você teria que inventar uma argumentação coerente para a
sua redação. Não, você não leu errado. Pode parecer estranho, mas é
isso mesmo: inventar. Só que a invenção tem que ser sobre o
assunto do enunciado e tem que fazer sentido, óbvio. Fazendo isso,
você tem chance de ganhar alguns pontinhos, ao passo que, se você
deixar a questão em branco, tudo o que você pode esperar é um
zero.
Agora que você já sabe o que fazer quando não sabe a resposta a
uma pergunta, vamos falar um pouco mais sobre a resposta correta
da questão que estamos analisando. Mais especificamente, vamos
destrinchar cada uma das hipóteses de irrevogabilidade do ato
administrativo.
Os atos consumados são aqueles que já exauriram seus efeitos, ou
seja, que já produziram todos os efeitos que tinham que produzir. O
exemplo que os professores trazem no já citado livro é o da licença
funcional que foi concedida e gozada pelo servidor. Ora, se a pessoa
já tirou a tal licença, já passou esse tempo sem trabalhar, de que
adiantaria revogar a concessão da licença? De nada, dado que é
impossível voltar no tempo!
Os atos vinculados, como você sabe, são aqueles praticados sem
nenhuma margem de liberdade de decisão, ou seja, sem análise da
oportunidade ou da conveniência da prática do ato. Nesses casos,
sempre que se verifica uma situação objetiva descrita em lei, o
agente público deve, obrigatoriamente, seguir a conduta que o
legislador determinou. E daí? Bem, para entender melhor o que isso
tudo tem a ver com revogabilidade, temos que relembrar o conceito
de revogação. A revogação é o cancelamento de um ato válido que se
tornou inoportuno ou inconveniente para a Administração, lembra?
Portanto, a revogação depende de um juízo de oportunidade e de
conveniência. Como os atos vinculados não comportam esse tipo de
juízo, não podem ser revogados.

www.pontodosconcursos.com.br
PROVAS COMENTADAS – AFT 2009/2010
PROVAS DISCURSIVAS

Os atos que geraram direitos adquiridos não podem ser


revogados pois são protegidos pelo art. 5o, inciso XXXVI da
Constituição Federal, que diz assim: “a lei não prejudicará o direito
adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada”.
Os atos que integram um procedimento são aqueles que fazem
parte de uma cadeia chamada procedimento. Um procedimento é
uma sucessão ordenada de atos. Praticado um determinado ato da
cadeia, passa-se para o próximo e, por definição, não se pode mais
apreciar o mérito, ou seja, analisar a oportunidade e a conveniência,
da prática do primeiro. Chama-se isso de preclusão administrativa.
Os atos meramente administrativos são aqueles de conteúdo
meramente declaratório ou opinativo. No primeiro caso, a revogação
é impossível simplesmente porque é impossível revogar a realidade.
No segundo caso, a revogação não faria sentido, já que o ato não
produz nenhum efeito prático.
Quando a competência da autoridade que editou determinado
ato se exauriu também não é possível revogá-lo. Isso ocorre, por
exemplo, quando um Auditor-Fiscal do Trabalho (AFT) profere uma
decisão e o administrado recorre dela. Neste caso, a competência
para julgar o recurso será de uma instância superior, e não mais do
AFT. Ou seja, a competência deste se exauriu e, como conseqüência,
ele não pode mais revogar o ato que ele mesmo praticou.
Bom, agora que já relembramos o conteúdo necessário para
responder à pergunta do examinador, estamos com a faca e o queijo
na mão para escrever. Portanto, para terminar, apresento agora uma
sugestão de redação sobre o que falamos hoje.
Um abraço,
Patrícia Lamadrid

“ O ato administrativo é a principal ferramenta de que o servidor


público dispõe para realizar suas funções. Em regra, tais atos podem
ser revogados, ou seja, retirados do mundo jurídico, ainda que
válidos, por terem se tornado inconvenientes ou inoportunos para a
Administração Pública. No entanto, existem seis hipóteses de
irrevogabilidade dos atos administrativos.
A primeira hipótese é a dos atos consumados. Por terem
exaurido seus efeitos, sua revogação não teria nenhum efeito prático.
Por isso, esse tipo de ato não pode ser revogado.
O segundo tipo de ato que não admite revogação é o vinculado.
Como não comporta juízo de oportunidade e de conveniência e como
a revogação é, per se, um ato discricionário, a revogação de um ato
vinculado é impossível.

www.pontodosconcursos.com.br
PROVAS COMENTADAS – AFT 2009/2010
PROVAS DISCURSIVAS

Os atos que geraram direitos adquiridos também não podem


ser revogados porque foram expressamente protegidos pelo artigo
quinto da Constituição Federal.
Os atos que integram um procedimento não podem ser
revogados graças à preclusão administrativa, que impede a
apreciação do mérito de um ato após o mesmo ter sido praticado.
Os atos meramente declaratórios também não podem ser
revogados, pela simples razão de que não se pode revogar a
realidade.
Os atos meramente opinativos não produzem nenhum efeito
prático por si sós. Sua revogação, portanto, também não teria
nenhum efeito e, por isso, não é realizada.
Por fim, não é possível às autoridades revogar seus próprios
atos quando sua competência em relação a eles se exauriu.
Verifica-se, portanto, que, apesar de a revogação ser um
instrumento administrativo muito útil de modo geral, sua utilização,
em alguns casos, iria contra o ordenamento jurídico ou,
simplesmente, não faria sentido. Por isso, existem limitações quanto
aos atos administrativos que podem ser revogados.”

www.pontodosconcursos.com.br
PROVAS COMENTADAS – AFT 2009/2010
PROVAS DISCURSIVAS

PROVA DISCURSIVA 2

Tema II – Direito do Trabalho


Professora Deborah Paiva

O sindicato dos empregados de bares e restaurantes do


Distrito Federal celebrou convenção coletiva de trabalho com
o sindicato dos bares e restaurantes do Distrito Federal. A
referida norma coletiva estabeleceu que, para os
trabalhadores integrantes da categoria representada pelo
sindicato profissional, a hora noturna, assim considerada
aquela compreendida entre 22 horas de um dia e 5 horas do
dia seguinte, seria computada como de 60 (sessenta) minutos.
O instrumento normativo determinou também que o labor
noturno teria remuneração acrescida de 60% (sessenta por
cento) do valor da hora diurna. Finalmente, os sindicatos
envolvidos estabeleceram o prazo de vigência de três anos
para a convenção coletiva.
Em face do caso hipotético apresentado, disserte sobre
convenções e acordos coletivos de trabalho, enfocando
necessariamente os seguintes aspectos:
(i) natureza jurídica das normas coletivas;
(ii) limite ao regramento de condições laborais por
convenções e acordos coletivos de trabalho e princípios da
proteção e da indisponibilidade dos direitos trabalhistas;
(iii) efeitos e integração das normas coletivas nos contratos
individuais de trabalho;
(iv) é válida a fixação de prazo de vigência de três anos para a
norma coletiva? Fundamente.
COMENTÁRIO.
A ESAF sinaliza para os pontos que deverão ser abordados de forma
mais contundente pelo candidato.
Observem as palavras-chaves que deverão nortear a redação do
candidato, abaixo sublinhadas:
“O sindicato dos empregados de bares e restaurantes do Distrito
Federal celebrou convenção coletiva de trabalho com o sindicato dos
bares e restaurantes do Distrito Federal. A referida norma coletiva
estabeleceu que, para os trabalhadores integrantes da categoria
representada pelo sindicato profissional, a hora noturna, assim
considerada aquela compreendida entre 22 horas de um dia e 5 horas
do dia seguinte, seria computada como de 60 (sessenta) minutos. O

www.pontodosconcursos.com.br
PROVAS COMENTADAS – AFT 2009/2010
PROVAS DISCURSIVAS

instrumento normativo determinou também que o labor noturno teria


remuneração acrescida de 60% (sessenta por cento) do valor da hora
diurna. Finalmente, os sindicatos envolvidos estabeleceram o prazo
de vigência de três anos para a convenção coletiva”.
O candidato que está fazendo uma prova discursiva, certamente, já
sabe que a hora noturna do empregado urbano é de 52 minutos e 30
segundos e que o adicional de horas extraordinárias é de 50%.
Portanto, ele deverá argumentar em sua redação a possibilidade de
norma coletiva estabelecer normas mais benéficas para o empregado,
uma vez que há um mínimo de direitos assegurados
constitucionalmente, que deverá ser respeitado devido ao princípio da
proteção ao hipossuficiente.
A banca pede que seja abordada a natureza jurídica das normas
coletivas.
Vamos relembrar doutrina!
A natureza jurídica das normas coletivas é explicada por algumas
teorias, a saber:
1ª. Teoria Contratual ou Civilista: Esta teoria enquadrava as normas
coletivas no rol dos contratos de direito civil, devido ao acordo de
vontades.
2ª. Teoria de Transição: São construções que não enfocam os
contratos civis, mas enquadram os institutos da negociação coletiva
em modelos teóricos de caráter distinto.
3ª. Teoria jurídico-social: Enfatizam a função normativa dos diplomas
coletivos negociados. Não são embasadas no acordo de vontades.
Não creio que vocês devam mencionar com detalhamento a
subdivisão das teorias nesta prova, mas optei por explicitá-la aqui
para aprofundar o conhecimento de vocês sobre o tema.

A. Teorias Civis:
1. Teoria do mandato: Para esta teoria o empregado e o empregador
são representados pelos Sindicatos na celebração de convenção
coletiva de trabalho.
2. Teoria da gestão de negócios: Para esta teoria, os sindicatos
atuam como gestores de negócios em benefício do empregado e do
empregador.
3. Teoria da estipulação em favor de terceiro: Os Sindicatos de
empregados, quando ajustam condições de trabalho atuam em favor
de terceiros (empregado).

www.pontodosconcursos.com.br
PROVAS COMENTADAS – AFT 2009/2010
PROVAS DISCURSIVAS

4. Teoria da personalidade Moral fictícia: O sindicato teria


personalidade jurídica fictícia, agindo em nome próprio para a defesa
de seus interesses.
5. Teoria da representação legal: O próprio nome já diz, o Sindicato
será o representante da categoria.

B. Teorias Mistas:
6. Teoria do pacto social: O empregado celebra um pacto social ao
ingressar no Sindicato, e por isso deverá aceitar a vontade da
maioria.
7. Teoria da solidariedade necessária: Todos estariam subordinados
ao bem da coletividade e ao à vontade da maioria.
8. Teoria do uso e costume industrial: A norma coletiva poderá
contrariar o costume. Ela somente não poderá contrariar a lei.

C. Teorias jurídico-sociais:
9. Teoria da instituição corporativa: Para esta teoria a norma coletiva
seria a expressão da vontade corporativa do grupo produtivo.
10. Teoria regulamentar: Esta teoria nega o acordo de vontades,
defendendo que a norma coletiva seria a lei interna da profissão ou
da categoria.
11. Teoria da lei delegada: Os Sindicatos poderão promulgar leis
profissionais porque o Estado delegou tal poder para eles.
12. Ato ou contrato-regra (Teoria de Duguit): Esta é a teoria
defendida pela doutrina majoritária para explicar a natureza jurídica
das normas coletivas. Segundo ela as normas coletivas teriam forma
de contrato, mas características de lei.

Vejamos, agora, o fundamento doutrinário para embasar o que pede


a ESAF no item II do enunciado da questão.
“(II) limite ao regramento de condições laborais por
convenções e acordos coletivos de trabalho e princípios da
proteção e da indisponibilidade dos direitos trabalhistas;”
A eficácia das normas oriundas de acordo e convenção coletiva em
face da legislação, prevista na Constituição Federal, na CLT e nas leis
esparsas, que são normas imperativas que regulamentam o Direito
do Trabalho, dependerá de certos limites.
O jurista Maurício Godinho Delgado denomina de “princípio da
adequação setorial negociada” os critérios de harmonização entre as

www.pontodosconcursos.com.br
PROVAS COMENTADAS – AFT 2009/2010
PROVAS DISCURSIVAS

regras jurídicas oriundas da negociação coletiva e as regras jurídicas


provenientes da legislação estatal.
Pelo princípio da adequação setorial negociada, normas autônomas
celebradas, através de acordo ou convenção coletiva, poderão
prevalecer sobre as normas estatais heterônomas desde que sejam
respeitados dois critérios.
São eles:
a) quando for implementado um padrão setorial de direitos
superior ao oriundo da legislação heterônoma estatal, porque, neste
caso não estará sendo violado o princípio da indisponibilidade dos
direitos, uma vez que as normas autônomas estarão elevando o
patamar setorial de direitos trabalhistas;
b) quando as normas autônomas transacionarem,
setorialmente, direitos de indisponibilidade relativa e não direitos de
indisponibilidade absoluta.
Por direitos de indisponibilidade relativa devemos entender, por
exemplo, os direitos referentes à modalidade de pagamento salarial,
ao tipo de jornada fixada, ao fornecimento ou não de utilidades,
dentre outros.
É oportuno ressaltar os limites objetivos à adequação setorial
negociada. Ela não prevalecerá sobre:
a) atos de renúncia do empregado, pelo qual o empregado
despoja-se unilateralmente de direitos;
b) normas de indisponibilidade absoluta que não poderão ser
transacionadas nem mesmo por interveniência sindical;
As normas de indisponibilidade absoluta são aquelas que
constituem um patamar civilizatório mínimo que não poderá ser
reduzido ou retirado, sob pena de afrontar o princípio da dignidade da
pessoa humana.
São exemplos de parcelas de indisponibilidade absoluta a anotação da
CTPS, o pagamento do salário-mínimo, as normas de medicina e
segurança do trabalho, as normas previstas na Constituição Federal
(art. 7º), dentre outras.
É importante lembrar que o art. 7º da CF/88 traz exceções,
permitindo a flexibilização das normas trabalhistas sob a tutela
sindical em seus incisos VI, XIII e XIV.
“(III) efeitos e integração das normas coletivas nos contratos
individuais de trabalho;”
Neste item, a ESAF abordou também, assim como na questão I,
Súmula do TST.

www.pontodosconcursos.com.br
PROVAS COMENTADAS – AFT 2009/2010
PROVAS DISCURSIVAS

Segundo a Súmula 277 do TST, as vantagens alcançadas em


instrumentos coletivos, somente, irão integrar os contratos
individuais de trabalho durante o período de vigência dos
instrumentos coletivos.
Súmula 277 do TST I - As condições de trabalho alcançadas por
força de sentença normativa, convenção ou acordos
coletivos vigoram no prazo assinado, não integrando, de forma
definitiva, os contratos individuais de trabalho. II - Ressalva-se da
regra enunciada no item I o período compreendido entre 23.12.1992
e 28.07.1995, em que vigorou a Lei nº 8.542, revogada pela Medida
Provisória nº 1.709, convertida na Lei nº 10.192, de 14.02.2001.
Existiu uma lei que previa que as condições alcançadas em
instrumentos coletivos integravam os contratos individuais de
trabalho até que outro instrumento coletivo as revogasse ou
modificasse. Esta lei não está em vigor, por isto a Súmula 277, II do
TST, ressalva o período em que ela vigorou.
Por fim, chegamos ao ponto forte da redação que é o prazo de
vigência proposto pelo enunciado da questão!
A duração máxima de um instrumento coletivo, seja convenção ou
acordo coletivo, é de dois anos (art. 614, parágrafo 3º da CLT).
A prorrogação de norma coletiva, somente, será possível quando não
for ultrapassado o prazo máximo de dois anos.
Há uma orientação jurisprudencial do TST (OJ 322 da SDI-1 do TST)
que estabelece a nulidade de instrumento normativo que for
pactuado por mais de dois anos.
OJ 322 da SDI-1 do TST ACORDO COLETIVO DE TRABALHO.
CLÁUSULA DE TERMO ADITIVO PRORROGANDO O ACORDO PARA
PRAZO INDETERMINADO. INVÁLIDA. Nos termos do art. 614, § 3º,
da CLT, é de 2 anos o prazo máximo de vigência dos acordos e das
convenções coletivas. Assim sendo, é inválida, naquilo que ultrapassa
o prazo total de 2 anos, a cláusula de termo aditivo que prorroga a
vigência do instrumento coletivo originário por prazo indeterminado.
Portanto, não poderá ser pactuada norma coletiva com prazo de
vigência de 3 anos, porque a OJ 322 da SDI-1 do TST considera nula
a cláusula de norma coletiva que estabelece a vigência superior à
legal ou indeterminada.
Observem que, nesta mesma questão a ESAF abordou uma Súmula e
uma Orientação Jurisprudencial do TST, que é a tendência atual das
bancas de concursos públicos em relação ao Direito do Trabalho,
como eu sempre digo em todos os cursos que ministro.
Com certeza a Súmula 277 e a OJ 322 são palavras-chaves, cujo teor
deverão ser mencionados na redação.

www.pontodosconcursos.com.br
PROVAS COMENTADAS – AFT 2009/2010
PROVAS DISCURSIVAS

Em resumo, vejamos a proposta de solução para a


dissertação!
O candidato deverá abordar, conforme formulado na questão, a
natureza jurídica das normas coletivas. Neste ponto, sugiro que o
candidato menciona a teoria majoritária que considera as normas
coletivas como um contrato-regra.
É importante falar que tal teoria considera que as normas coletivas
possuem força de lei e natureza contratual.
Em relação ao limite do regramento considero importante falar do
princípio da adequação setorial negociada, que divide as normas em
normas de indisponibilidade absoluta e normas de indisponibilidade
relativa. Nesta linha, o candidato deverá aproveitar e mencionar os
princípios da indisponibilidade e da proteção.
Em seguida, considero importante mencionar o prazo máximo de
vigência das normas coletivas que é de dois anos, mencionando a
nulidade da cláusula que fixou o prazo de 3 anos, fundamentando
com a OJ 322 da SDI – 1 do TST.
O candidato poderá concluir abordando a Súmula 277 do TST, falando
dos efeitos das normas abordadas em convenção coletiva ou acordo
coletivo e da não-integração aos contratos.
Mas, quem preferir poderá seguir as indagações da questão e
mencionar primeiro a Súmula 277 do TST e deixar para concluir com
a nulidade da cláusula da convenção coletiva que estipulou o prazo de
três anos (OJ 322).

www.pontodosconcursos.com.br
PROVAS COMENTADAS – AFT 2009/2010
PROVAS DISCURSIVAS

Questão 3 – Segurança e Saúde no Trabalho


Professor Luiz Henrique Poley
Para os fins de aplicação da Norma Regulamentadora 06-NR06,
considera-se Equipamento de Proteção Individual – EPI, todo
dispositivo ou produto, de uso individual, utilizado pelo trabalhador,
destinado à proteção de riscos suscetíveis de ameaçar a segurança e
a saúde no trabalho. Sobre essa norma, desenvolva um texto
abordando os seguintes tópicos:
a) deveres dos empregadores e trabalhadores;
b) deveres do MTE e do órgão regional do MTE;
c) condições de comercialização dos EPI;
d) validade do Certificado de Aprovação – CA dos EPI, para fins de
comercialização.
COMENTÁRIO.
Caro Candidato,
Agora passamos a analisar as questões de segurança da saúde da
Discursiva AFT.
A questão 3 (enunciado acima) pede que discorramos sobre as
disposições da NR 6: Equipamentos de Proteção Individual. Percebam
que o enunciado não possui “firulas” e vai direto ao ponto: o
candidato deve abordar as disposições da NR 6 relativas aos tópicos
dos itens “a” a “d”, dentro do espaço disponível (quinze a trinta
linhas).
Assim, montando um plano de trabalho para a questão temos duas
grandes tarefas: a primeira, selecionar o conteúdo da NR 6 que se
aplica a questão; a segunda, elaborar o texto com o conteúdo
selecionado e dentro do espaço disponível.
Com relação ao conteúdo, vamos revisar os itens da NR 6 aplicáveis.
Apresentaremos então uma sugestão de resposta.

a) deveres dos empregadores e trabalhadores...

Esse tópico deve abranger o conteúdo dos itens 6.6 e 6.7 da NR-6,
transcritos abaixo:

6.6. Cabe ao empregador


6.6.1. Cabe ao empregador quanto ao EPI :
a) adquirir o adequado ao risco de cada atividade;
b) exigir seu uso;

www.pontodosconcursos.com.br
PROVAS COMENTADAS – AFT 2009/2010
PROVAS DISCURSIVAS

c) fornecer ao trabalhador somente o aprovado pelo órgão nacional competente em matéria de


segurança e saúde no trabalho;
d) orientar e treinar o trabalhador sobre o uso adequado, guarda e conservação;
e) substituir imediatamente, quando danificado ou extraviado;
f) responsabilizar-se pela higienização e manutenção periódica; e,
g) comunicar ao MTE qualquer irregularidade observada.
h) registrar o seu fornecimento ao trabalhador, podendo ser adotados livros, fichas ou sistema
eletrônico.

6.7. Cabe ao empregado


6.7.1. Cabe ao empregado quanto ao EPI:
a) usar, utilizando-o apenas para a finalidade a que se destina;
b) responsabilizar-se pela guarda e conservação;
c) comunicar ao empregador qualquer alteração que o torne impróprio para uso; e,
d) cumprir as determinações do empregador sobre o uso adequado.

Assim, já podemos iniciar a estruturação de nosso texto. Como há


muita coisa a falar, devemos ser bem objetivos. Isso significa que
não devem ser gastas linhas com comentários desnecessários. Nas
provas que pudemos analisar, verificamos que a banca se concentrou
em duas coisas no que se refere a essa questão: correto uso do
idioma e abordagem integral do conteúdo da NR 6 relativo ao
tema.
Assim, sugerimos um primeiro parágrafo genérico, porem enxuto, tal
como o abaixo:

“A Norma Regulamentadora nº 6 define o conceito de Equipamento


de Proteção Individual – EPI e disciplina as obrigações envolvidas no
fornecimento, uso, fabricação e comercialização do EPI, bem como as
obrigações do Ministério do Trabalho e Emprego – MTE.”

Notem que como tal, o parágrafo inicial delimita o desenvolvimento


posterior do texto a partir do enunciado da questão (a definição de
EPI) e já introduz siglas que poderemos utilizar nos parágrafos
seguintes ganhando espaço.

No segundo parágrafo, escreveremos sobre o conteúdo dos itens 6.6


e no terceiro, sobre o item 6.7, respondendo ao tópico “a” da
questão.

2 º parágrafo:

www.pontodosconcursos.com.br
PROVAS COMENTADAS – AFT 2009/2010
PROVAS DISCURSIVAS

“Ao empregador cabe: a aquisição e fornecimento ao empregado de


EPI adequado ao risco e aprovado pelo MTE; o registro desse
fornecimento; a exigência do uso do EPI; sua substituição imediata
quando danificado e o treinamento do trabalhador sobre uso, guarda
e conservação do EPI. O empregador deve ainda comunicar ao MTE
qualquer irregularidade observada e responsabilizar-se pela
higienização e manutenção periódica dos EPI.”

3º parágrafo:

“O empregado deve utilizar os equipamentos de proteção individual


dentro das finalidades dos mesmos, observar as determinações do
empregador sobre uso do EPI, responsabilizar-se pela guarda e
conservação dos equipamentos fornecidos e comunicar ao
empregador qualquer alteração que torne o EPI impróprio para uso”.

Para o próximo parágrafo, abordaremos o tópico “b” da questão:


b) deveres do MTE e do órgão regional do MTE...
Esses deveres estão listados nos subitens 6.11.1 e 6.11.2 da NR-6:

6.11.1. Cabe ao órgão nacional competente em matéria de segurança e saúde no trabalho:

a) cadastrar o fabricante ou importador de EPI;

b) receber e examinar a documentação para emitir ou renovar o CA de EPI;

c) estabelecer, quando necessário, os regulamentos técnicos para ensaios de EPI;

d) emitir ou renovar o CA e o cadastro de fabricante ou importador;

e) fiscalizar a qualidade do EPI;

f) suspender o cadastramento da empresa fabricante ou importadora; e,

g) cancelar o CA.

6.11.2. Cabe ao órgão regional do MTE:

a) fiscalizar e orientar quanto ao uso adequado e a qualidade do EPI;


b) recolher amostras de EPI; e,

c) aplicar, na sua esfera de competência, as penalidades cabíveis pelo descumprimento desta


NR.

www.pontodosconcursos.com.br
PROVAS COMENTADAS – AFT 2009/2010
PROVAS DISCURSIVAS

Notem que os itens anteriores por serem extensos tomaram muitas


linhas (16 no meu caso). Assim, a preocupação com a objetividade do
texto deve ser constante. Eis a sugestão do parágrafo seguinte:

“O MTE cadastrará os fabricantes e importadores de EPI, cadastro


este sujeito a renovação e passível de suspensão. O MTE também
emitirá e renovará os Certificados de Aprovação – CA e estabelecerá
os regulamentos para ensaios de EPI. O órgão regional do MTE
fiscalizará o uso e a qualidade do EPI, recolherá amostras de EPI e
aplicará as penalidades administrativas cabíveis.”

Em nosso quinto parágrafo, trataremos do tópico “c”: condições de


comercialização dos EPI...
Esse foi o item mais difícil da questão, pois a banca exigiu a
compilação de disposições de diferentes partes da norma, transcritas
abaixo:

6.8.1. O fabricante nacional ou o importador deverá:

(...)

h) comercializar o EPI com instruções técnicas no idioma nacional, orientando sua utilização,
manutenção, restrição e demais referências ao seu uso;

6.9.3. Todo EPI deverá apresentar em caracteres indeléveis e bem visíveis, o nome comercial
da empresa fabricante, o lote de fabricação e o número do CA, ou, no caso de EPI importado, o
nome do importador, o lote de fabricação e o número do CA.

Notem que o item 6.8.1 traz diversas disposições relativas à


comercialização do EPI, imputando-as aos fabricantes e
importadores, mas somente a alínea “h” traz algo que não é
retomado no item 6.9.3: a questão das instruções de uso. Nas provas
que analisamos, os candidatos que somente explicaram o item 6.9.3
foram penalizados no “OPT” (Omissão Parcial de Tópico).
Assim, sugerimos um texto tal como abaixo:

“O EPI deve ser comercializado com a indicação visível e indelével do


nome do fabricante ou importador, lote de fabricação e número do
CA. Devem acompanhar o EPI instruções técnicas em português
sobre uso, manutenção e demais informações relevantes”.

Percebam que o uso das siglas economiza linhas, mas as mesmas


devem ter sido explicadas anteriormente.

www.pontodosconcursos.com.br
PROVAS COMENTADAS – AFT 2009/2010
PROVAS DISCURSIVAS

Fechando nosso texto, vamos escrever sobre o último tópico da


questão: a validade dos Certificados de Aprovação.
Eis o item da NR-6 sobre o assunto:

6.9.1. Para fins de comercialização o CA concedido aos EPI terá validade:

a) de 5 (cinco) anos, para aqueles equipamentos com laudos de ensaio que não tenham sua
conformidade avaliada no âmbito do SINMETRO;

b) do prazo vinculado à avaliação da conformidade no âmbito do SINMETRO, quando for o


caso;

c) de 2 (dois) anos, para os EPI desenvolvidos até a data da publicação desta Norma, quando
não existirem normas técnicas nacionais ou internacionais, oficialmente reconhecidas, ou
laboratório capacitado para realização dos ensaios, sendo que nesses casos os EPI terão sua
aprovação pelo órgão nacional competente em matéria de segurança e saúde no trabalho,
mediante apresentação e análise do Termo de Responsabilidade Técnica e da especificação
técnica de fabricação, podendo ser renovado até 2007, quando se expirarão os prazos
concedidos; e,

d) de 2 (dois) anos, renováveis por igual período, para os EPI desenvolvidos após a data da
publicação desta NR, quando não existirem normas técnicas nacionais ou internacionais,
oficialmente reconhecidas, ou laboratório capacitado para realização dos ensaios, caso em que
os EPI serão aprovados pelo órgão nacional competente em matéria de segurança e saúde no
trabalho, mediante apresentação e análise do Termo de Responsabilidade Técnica e da
especificação técnica de fabricação.

Assim a sugestão de parágrafo final fica:

“Os prazos de validade dos CA são diversos, a saber: cinco anos para
equipamentos avaliados por ensaios fora do âmbito do SINMETRO
(Sistema Nacional de Metrologia); prazo vinculado ao SINMETRO
quando for o caso e dois anos para os EPI aprovados mediante Termo
de Responsabilidade Técnica.”

Assim, elaboramos um texto “seco”, porém objetivo, com trinta linhas


manuscritas, cobrindo todos os tópicos da questão. Fica como
sugestão para vocês como treinamento a reescrita do mesmo,
inclusive fazendo variações de estrutura.
Segue abaixo a redação completa:

“A Norma Regulamentadora nº 6 define o conceito de Equipamento


de Proteção Individual – EPI e disciplina as obrigações envolvidas no

www.pontodosconcursos.com.br
PROVAS COMENTADAS – AFT 2009/2010
PROVAS DISCURSIVAS

fornecimento, uso, fabricação e comercialização do EPI, bem como as


obrigações do Ministério do Trabalho e Emprego – MTE.
Ao empregador cabe: a aquisição e fornecimento ao empregado de
EPI adequado ao risco e aprovado pelo MTE; o registro desse
fornecimento; a exigência do uso do EPI; sua substituição imediata
quando danificado e o treinamento do trabalhador sobre uso, guarda
e conservação do EPI. O empregador deve ainda comunicar ao MTE
qualquer irregularidade observada e responsabilizar-se pela
higienização e manutenção periódica dos EPI.
O empregado deve utilizar os equipamentos de proteção individual
dentro das finalidades dos mesmos, observar as determinações do
empregador sobre uso do EPI, responsabilizar-se pela guarda e
conservação dos equipamentos fornecidos e comunicar ao
empregador qualquer alteração que torne o EPI impróprio para uso.
O MTE cadastrará os fabricantes e importadores de EPI, cadastro este
sujeito a renovação e passível de suspensão. O MTE também emitirá
e renovará os Certificados de Aprovação – CA e estabelecerá os
regulamentos para ensaios de EPI. O órgão regional do MTE
fiscalizará o uso e a qualidade do EPI, recolherá amostras de EPI e
aplicará as penalidades administrativas cabíveis.
Os prazos de validade dos CA são diversos, a saber: cinco anos para
equipamentos avaliados por ensaios fora do âmbito do SINMETRO
(Sistema Nacional de Metrologia); prazo vinculado ao SINMETRO
quando for o caso e dois anos para os EPI aprovados mediante Termo
de Responsabilidade Técnica.”

www.pontodosconcursos.com.br
PROVAS COMENTADAS – AFT 2009/2010
PROVAS DISCURSIVAS

Questão 4 – Segurança E Saúde No Trabalho


Professor Luiz Henrique Poley

O artigo 7º, XXII da CRB/88 garante aos trabalhadores


direito à “redução dos riscos inerentes ao trabalho, por meio
de normas de saúde, higiene e segurança”. Ainda a CRB/88
ampliou o conceito de meio ambiente para além do natural,
incluindo o meio ambiente artificial, cultural e do trabalho, ao
determinar em seu artigo 225 que “Todos têm direito ao meio
ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do
povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao
poder público e à coletividade o dever de defendê-lo e
preservá-lo para as presentes e futuras gerações”.
A partir do contexto acima apresentado, disserte sobre
os seguintes pontos:
a) conceito e evolução da Saúde e Segurança no Trabalho, no
direito brasileiro;
b) normas de segurança e saúde do trabalhador;
c) a validade normativa em nosso ordenamento jurídico
quanto às delegações ao Ministério do Trabalho e Emprego
previstas na cabeça do artigo 200 da CLT que diz: “Cabe ao
Ministério do Trabalho e estabelecer normas de que se trata
este capítulo, tendo em vista as peculiaridades de cada
atividade ou setor de trabalho, especialmente sobre: (...)”;
d) os efeitos normativos de Cláusula de Acordo Coletivo de
Trabalho que desregulamenta norma jurídica Estatal que trata
de saúde e segurança do trabalhador.

Referência:

Constituição da República Federativa do Brasil – CRB/88


Art. 7º - São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros
que visem à melhoria de sua condição social:
(...)
XXII – “redução dos riscos inerentes ao trabalho, por meio de normas de
saúde, higiene e segurança.”
Art. 225 – “Todos têm o direito ao meio ambiente ecologicamente
equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de
vida, impondo-se ao poder público e à coletividade o dever de defendê-lo e
preservá-lo para as presentes e futuras gerações.”

www.pontodosconcursos.com.br
PROVAS COMENTADAS – AFT 2009/2010
PROVAS DISCURSIVAS

CLT
Art. 200 – “Cabe ao Ministério do Trabalho estabelecer normas de que trata
este capítulo, tendo em vista as peculiaridades de cada atividade ou setor
de trabalho, especialmente sobre: (...)”

COMENTÁRIO.
Ao contrário da questão anterior, com enunciado bastante objetivo,
essa trata o tema de forma aberta. Na verdade os temas abordados
no enunciado da questão permitem desde a escrita de um artigo
científico até uma monografia. Entretanto só temos trinta linhas de
novo...
Na verdade essa questão não versa sobre “Segurança e Saúde no
Trabalho” especificamente, mas sobre “Segurança e Saúde no Direito
Trabalhista Brasileiro”.
De forma resumida podemos afirmar que o marco da Segurança e
Saúde no Trabalho no Brasil foi a promulgação da CLT em 1943, que
dedicou capitulo especifico ao tema. Como vocês devem saber dos
estudos de Teoria Geral do Direito, a “Consolidação” representa a
reunião das disposições esparsas sobre determinado tema e precede
a “Codificação”.
A CLT no que tange à Segurança e Saúde trouxe um desenho geral
das obrigações de segurança e saúde nas empresas deixando o
detalhamento disso para o Ministério do Trabalho através de
portarias, que foram sendo publicadas de forma esparsa e distribuída
no tempo (período de 1930 a 1970).
Em 1978 essas portarias foram “consolidadas” na forma das Normas
Regulamentadoras, que é o formato vigente até hoje. Podemos
seguramente afirmar que o regulamento brasileiro de segurança e
saúde no trabalho é a Portaria 3214/1978, com as alterações e
adições introduzidas nos anos seguintes.
Notem que a CLT excluiu EXPRESSAMENTE de sua cobertura os
servidores públicos, os trabalhadores domésticos e os trabalhadores
rurais. Eis o artigo sobre o tema:

Art. 7º Os preceitos constantes da presente Consolidação salvo quando fôr em cada caso,
expressamente determinado em contrário, não se aplicam :

a) aos empregados domésticos, assim considerados, de um modo geral, os que prestam


serviços de natureza não-econômica à pessoa ou à família, no âmbito residencial destas;

b) aos trabalhadores rurais, assim considerados aqueles que, exercendo funções diretamente
ligadas à agricultura e à pecuária, não sejam empregados em atividades que, pelos métodos

www.pontodosconcursos.com.br
PROVAS COMENTADAS – AFT 2009/2010
PROVAS DISCURSIVAS

de execução dos respectivos trabalhos ou pela finalidade de suas operações, se classifiquem


como industriais ou comerciais;

c) aos servidores públicos do Estado e das entidades paraestatais;

d) aos servidores de autarquias administrativas cujos empregados estejam sujeitos a regime


especial de trabalho, em virtude de lei;

e) aos empregados das empresas de propriedade da União Federal, quando por esta ou pelos
Estados administradas, salvo em se tratando daquelas cuja propriedade ou administração
resultem de circunstâncias transitórias.

c) aos funcionários públicos da União, dos Estados e dos Municípios e aos respectivos
extranumerários em serviço nas próprias repartições;

d) aos servidores de autarquias paraestatais, desde que sujeitos a regime próprio de proteção
ao trabalho que lhes assegure situação análoga à dos funcionários públicos.

Assim, podemos afirmar que a primeira categoria de trabalhadores


amparados pelas garantias de segurança e saúde foram os
empregados urbanos.
Os empregados rurais tiveram sua relação de trabalho definida pela
Lei 5889/1973, que trouxe a garantia aos mesmos às normas de
segurança e saúde no trabalho em seu do artigo 13:

Art. 13. Nos locais de trabalho rural serão observadas as normas de segurança e higiene
estabelecidas em portaria do ministro do Trabalho e Previdência Social.

As normas citadas no Artigo 13 somente foram publicadas em abril


de 1988, sob o título de Normas Regulamentadoras Rurais – NRR. Ao
todo, eram apenas cinco NRR.
Finalmente, em outubro de 1988, com a Constituição Federal, o
direito às normas de segurança e saúde no trabalho foi conferido de
forma equiparada aos trabalhadores urbanos e rurais e a outras
categorias de trabalhadores, como é o caso dos avulsos (presentes
nos Portos e entrepostos de movimentação de mercadorias) e dos
servidores públicos.
Dessa forma podemos afirmar que a Constituição de 1988
elevou ao status Constitucional a garantia a segurança e
saúde no trabalho e ampliou a cobertura dessa garantia a
outras classes de trabalhadores.
Passando essa organização de idéias, vamos começar a responder a
questão. Temos que dissertar inicialmente sobre: conceito e
evolução da Saúde e Segurança no Trabalho, no direito
brasileiro. Mais uma vez, devemos ter em mente a construção de
um texto conciso, lógico, dentro do espaço disponível.
Segue então a sugestão de parágrafos, construídos com as idéias
acima:

www.pontodosconcursos.com.br
PROVAS COMENTADAS – AFT 2009/2010
PROVAS DISCURSIVAS

“A Segurança e Saúde no Trabalho, conjunto de normas de proteção


ao meio ambiente de trabalho sadio e à integridade física do
trabalhador, teve seu marco inicial no Brasil na Consolidação das Leis
do Trabalho - CLT, que dedicou ao tema capítulo específico. A CLT foi
inicialmente regulamentada por portarias esparsas do Ministério do
Trabalho até a publicação da Portaria 3214/1978, que criou as
Normas Regulamentadoras - NR. Em seguida surgiram as Normas
Regulamentadoras Rurais – NRR, por força da Lei 7889 de 1973, que
estendeu as garantias de segurança e saúde no trabalho aos
empregados rurais.”

“A Constituição Federal de 1988 por sua vez, equiparou


definitivamente os direitos e garantias dos empregados urbanos e
rurais e estendeu a cobertura das normas de segurança e saúde no
trabalho a outras categorias de trabalhadores, como por exemplo, os
avulsos.”

Notem que no desenvolvimento do tópico “a”, conseguimos introduzir


a primeira disposição constitucional citada no enunciado, como deseja
a banca.
Vamos agora continuar o texto, respondendo o segundo tópico:
normas de segurança e saúde do trabalhador...
Seguindo a tendência da questão, esse tópico pede nossos
comentários sobre as normas de segurança e saúde no trabalho. Uma
sugestão de caminho a seguir é um delineamento geral das normas
brasileiras, posicionando-as como uma das fontes (secundária) do
Direito do Trabalho, o que nos permitirá fazer ligação com o tópico
seguinte da questão, que trata justamente da competência do
Ministério do Trabalho em Editar tais Normas.
Assim, segue o parágrafo:

“Atualmente existem trinta e três Normas Regulamentadoras, que


detalham as aplicações dos comandos da CLT, da legislação esparsa e
das Convenções Internacionais ratificadas pelo Brasil. Entre os temas
tratados destacam-se o controle de saúde dos trabalhadores, o
gerenciamento dos riscos ambientais relacionados ao trabalho, as
medidas de proteção envolvendo eletricidade e espaços confinados.”

Agora, devemos nos manifestar sobre o tópico “c”: a validade


normativa em nosso ordenamento jurídico quanto às
delegações ao Ministério do Trabalho e Emprego.

www.pontodosconcursos.com.br
PROVAS COMENTADAS – AFT 2009/2010
PROVAS DISCURSIVAS

Como vocês já estudaram, a CLT traz diversas disposições sobre


segurança e saúde tais como necessidade de iluminação, limite de
levantamento manual de cargas, caldeiras, etc. Entretanto tais
disposições não cobrem todo o universo de situações e atividades que
demandam medidas de proteção. Exatamente por isso, o Legislador
sabiamente previu a delegação de competência ao Ministério do
Trabalho para editar normas complementares às disposições da CLT e
desta forma permitir a permanente atualização das normas. Se
assumíssemos que essa delegação não fosse válida, poderíamos de
certa foram considerar a eficácia do comando constitucional como
parcial, pois situações que carecessem de normas de proteção à
segurança e saúde ficariam “a descoberto” pela falta de previsão
legal.
Assim, segue a sugestão de parágrafo:

“As disposições relativas à Segurança e Saúde no Trabalho na CLT


permitem ao Ministério do Trabalho e Emprego editar normas
complementares para setores e atividades especificas (artigo 200).
Essa delegação é plenamente válida, pois confere força executiva
completa ao comando Constitucional de redução dos riscos inerentes
ao trabalho.”

Finalmente, tratamos do último tópico da questão: os efeitos


normativos de Cláusula de Acordo Coletivo de Trabalho que
desregulamenta norma jurídica Estatal que trata de saúde e
segurança do trabalhador.
Como sabemos a Constituição Federal consagra o direito à
negociação coletiva no âmbito das relações de trabalho. Entretanto,
essa negociação deve sempre balizar condições mais favoráveis ao
trabalhador. No caso das garantias de segurança e saúde no trabalho,
a impossibilidade jurídica de flexibilização dessas garantias é
reforçada pelo dever que o Poder Público tem na preservação do meio
ambiente (incluindo o de trabalho).
Essas serão as idéias balizadoras de nosso último parágrafo. Notem
que inserimos a outra disposição constitucional no mesmo,
perfazendo a sintonia do texto com o enunciado da questão. Assim
temos:

“Já que a proteção do meio ambiente de trabalho é direito dos


trabalhadores e dever do Poder Público, qualquer cláusula de Acordo
Coletivo de Trabalho que desregulamenta norma estatal sobre
segurança e saúde do trabalhador é nula de pleno direito, não
produzindo qualquer efeito normativo.”

www.pontodosconcursos.com.br
PROVAS COMENTADAS – AFT 2009/2010
PROVAS DISCURSIVAS

Segue abaixo a redação consolidada.


Terminamos por aqui nossos comentários sobre segurança e saúde.
Bons estudos e um abraço!
Luiz Henrique Poley

“A Segurança e Saúde no Trabalho, conjunto de normas de proteção


ao meio ambiente de trabalho sadio e à integridade física do
trabalhador, teve seu marco inicial no Brasil na Consolidação das Leis
do Trabalho - CLT, que dedicou ao tema capítulo específico. A CLT foi
inicialmente regulamentada por portarias esparsas do Ministério do
Trabalho até a publicação da Portaria 3214/1978, que criou as
Normas Regulamentadoras - NR. Em seguida surgiram as Normas
Regulamentadoras Rurais – NRR, por força da Lei 7889 de 1973, que
estendeu as garantias de segurança e saúde no trabalho aos
empregados rurais.
A Constituição Federal de 1988 por sua vez, equiparou
definitivamente os direitos e garantias dos empregados urbanos e
rurais e estendeu a cobertura das normas de segurança e saúde no
trabalho a outras categorias de trabalhadores, como por exemplo, os
avulsos.
Atualmente existem trinta e três Normas Regulamentadoras, que
detalham as aplicações dos comandos da CLT, da legislação esparsa e
das Convenções Internacionais ratificadas pelo Brasil. Entre os temas
tratados destacam-se o controle de saúde dos trabalhadores, o
gerenciamento dos riscos ambientais relacionados ao trabalho, as
medidas de proteção envolvendo eletricidade e espaços confinados.
As disposições relativas à Segurança e Saúde no Trabalho na CLT
permitem ao Ministério do Trabalho e Emprego editar normas
complementares para setores e atividades especificas (artigo 200).
Essa delegação é plenamente válida, pois confere força executiva
completa ao comando Constitucional de redução dos riscos inerentes
ao trabalho.
Já que a proteção do meio ambiente de trabalho é direito dos
trabalhadores e dever do Poder Público, qualquer cláusula de Acordo
Coletivo de Trabalho que desregulamenta norma estatal sobre
segurança e saúde do trabalhador é nula de pleno direito, não
produzindo qualquer efeito normativo.”

www.pontodosconcursos.com.br

Você também pode gostar