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Emprego ordinário do

tripé de salvamento
Salvamento
ELIAS JOSÉ LUCIANO

Belo Horizonte - 2017


ELIAS JOSÉ LUCIANO

BELO HORIZONTE - 2017


Emprego ordinário do tripé de salvamento

O tripé é um equipamento composto por três hastes tubulares, com um encaixe


na parte superior que as mantém unidas, formando uma estrutura piramidal estável.
Ele pode ser utilizado conjugado com um guincho, com um sistema de redução de
força com polias fixas e móveis ou com trava-quedas, possibilitando a descida ou
içamento de forma altamente confiável, desde que empregado com algumas
recomendações específicas.

Nos locais onde é possível seu uso, o tripé é um material essencial para um
desenrolar seguro de uma ocorrência como de espaço confinado (EC), salvo em locais
onde já haja uma estrutura disponível e resistente o suficiente para se proceder um
ponto de ancoragem seguro imediatamente acima da boca de visita (BV). Seu objetivo
é, justamente, proporcionar um ponto de ancoragem seguro e alto o suficiente para a
retirada de uma vítima na posição vertical de dentro de um EC.

O emprego ordinário apontado como proposta deste manual, é aquele


realizado em superfícies planas ou com baixas inclinações, mas sempre com o centro
de gravidade da carga a ser içada posicionado entre suas três hastes. Tal
equipamento também pode ser empregado com este centro de gravidade deslocado
para fora das três hastes, proporcionando uma negativa para descida ou içamento,
esse formato é chamado de tripé na posição pescante, pois seu funcionamento é
similar a um mastro de pesca empregado em navios, porém não será abordado neste
trabalho as recomendações necessárias para o emprego nesta posição.

1 Partes componentes de um tripé

a) cabeçote: é parte superior do tripé, mantem a união das três hastes e é o


ponto onde se monta o ponto de ancoragem para içamento;
b) olhal do cabeçote: orifício localizado na lateral de cada um dos lados do
cabeçote, é onde se deve passar anéis de fita para se proceder a
equalização do ponto de ancoragem e para estaiamento do equipamento.
c) haste fixa: é componente da estrutura que dá altura ao equipamento, sendo
fixa em relação ao cabeçote;
d) haste extensiva: é componente da estrutura que dá altura ao equipamento,
sendo extensiva para se permitir um ganho de altura no momento da
operação e para permitir o recolhimento no momento do transporte,
ocupando menor espaço. A haste extensiva possui vários orifícios que
possibilitam a inserção do pino de travamento para estabilizar o tripé na
altura desejada;
e) sapata: para de contato do equipamento com o solo;
f) pino de travamento da haste: pino que é inserido no orifício da haste
extensiva na altura desejada para o trabalho ou para impedir a expansão
dessa haste em momento indesejado, como, por exemplo, no transporte do
equipamento.
g) olhal da sapata: orifício onde é passado a corrente ou corda para dar
estabilidade ao tripé e impedir que ele abra as hastes além do limite do
cabeçote;
h) olhal secundário da sapata: orifício para inserção de estacas para travar a
sapata em solo de compactação mais reduzida.

a) Cabeçote

b) Olhal do cabeçote

c) Hastes fixas

d) Haste extensiva

e) Sapata
f) Pino de travamento da haste

g) Olhal da sapata h) Olhal secundário da sapata

2 Especificações técnicas mínimas

Existem muitas opções de modelos disponibilizadas pelo mercado, muitos com


vantagens distintas específicas, mas geralmente com características básicas comuns.
Então, quais requisitos um bom tripé deve cumprir? Procurando essa resposta,
apontamos, inicialmente, que um tripé deve seguir padrões de fabricação que
garantam um produto de qualidade, por isso é necessário possuir certificação de
atendimento a tais padrões. No Brasil não há órgão específico para certificação de
produto destinado à atividade de busca e salvamento realizada pelo Corpo de
Bombeiros. Assim, sugere-se que esse equipamento possua especificação NFPA ou
outra específica para produtos para bombeiros.

Além da certificação, um tripé de qualidade deve possuir as seguintes


características com suas respectivas justificativas:

a) hastes: possuir tubos telescópicos e/ou dobráveis, para reduzir volume, com travas
para não alongar de forma indesejável, mas que seja fácil de se alongar quando
necessário, essas travas devem possuir mecanismos para se manterem juntas à haste
do tripé quando de sua retirada o orifício específico;
b) material: Feito de material leve, tal como ligas de alumínio, para facilitar o emprego
em locais de difícil acesso da viatura;

c) altura: ter ao menos três metros, quando alongado. Tamanho necessário para se
permitir a retirada de uma vítima imobilizada em uma maca tipo envelope, sendo içada
na posição vertical em razão do limitado diâmetro da BV. Só para frisar, as medidas da
referida maca, por exemplo, é cerca de 2 metros, à qual se soma as fitas para
ancoragem com uns 30 cm, as aselhas em oito do SRF e do encordoamento da maca
com uns 30 cm, mais uns 30 cm para uns 2 ou 3 mosquetões, ou seja, cerca de três
metros.

d) Características das sapatas: deve possuir a opção de se alternar as bases das


sapatas, pois, conforme for o terreno, usa-se a posição mais adequada: sendo uma
das opções em forma de estaca, para cravar melhor em terrenos como grama ou terra
úmida, e a outra opção com base de maior superfície possuindo borracha na parte
inferior, para terrenos como concretos, asfaltos e pedras, possuir orifícios exclusivos
para inclusão de estacas para travar as sapatas e para passagem de correntes ou
cordas para manter a estabilidade das hastes.

e) Cabeçote: possuir orifícios suficientes para fixação de pontos de ancoragem de


polias de forma equalizada e para inclusão de cordas para estaiamento nos três lados
do tripé.

3 montagem do tripé

Por ser, normalmente, um equipamento leve, por volta de 32 quilogramas, bem


como de ligas de alumínio, que possuem a característica de possuírem grandes
resistências às forças axiais, ou normais, que atuam no sentido de compressão ou
tração da secção de uma estrutura, porém com baixa resistência a momentos fletores,
que tendem a girar a secção em torno de um determinado eixo, a montagem do tripé
carece de cuidados especiais para que não ocorra acidentes no momento do
tracionamento.

Antes de iniciar a montagem, o Comandante das Operações deverá analisar se


é possível o uso de tal equipamento no local onde se pretende realizar o içamento.
Neste objetivo, ele deve observar:

a) a altura do teto, se existente, sobre a BV que permita a extensão do tripé à


altura necessária para a manobra;
b) se o terreno nas adjacências da BV possui estabilidade necessária que
permite a aplicação do peso durante o içamento, se necessário e suficiente, deve-se
utilizar lâminas de madeira para distribuir a pressão no terreno.

Abaixo, apontaremos os passos a serem seguidos na montagem de um tripé. A


sequência desses passos é a ideal a ser seguida, contudo poderá haver pequenas
alterações se a operação assim o exigir. Os resgatistas devem conhecer essa
sequência e segui-la sempre, salvo ordem contrária do Comandante de Operações.

1º Passo: posicione o
tripé na posição nas
proximidades da boca de visita
(BV), deixando-o na posição
vertical e com as hastes
afastadas. Evite montar o tripé
diretamente sobre a BV, isso
reduz a exposição da equipe ao
risco de queda assim como a
possibilidade queda de
equipamentos sobre a vítima;

2º Passo: insira o anel de fita nos


olhais do cabeçote para se proceder a
equalização do ponto de ancoragem do
Sistema de Redução de Forças (SRF). Anéis
de fita menores são mais adequados, pois
reduz a perda de altura na capacidade de
elevação da vítima no final do içamento. Por
outro lado, cuidado para não usar anel de
muito pequeno ou dobrado fazendo com que
haja ângulos de abertura da equalização
maiores que 30°.
3º Passo: passe anéis de fita nos olhais do
cabeçote para se realizar o estaiamento. Realize
estaiamento em duas direções, no lado oposto ao
que se realizará o tracionamento. O objetivo será
manter a estabilidade do tripé e evitar que ele caia
na direção em que se procede a tração da corda do
SRF. Utilize, preferencialmente, os olhais das
laterais do tripé, pois assim a força do estaiamento
será aplicada entre duas hastes do tripé, o que é
ideal, já que o tracionamento é realizado entre duas
hastes, conforme ilustração ao lado. O uso dos
orifícios retangulares existentes acima dos olhais
Tripé visto de cima
proporcionará uma estabilização inadequada indo
na mesma direção da haste ou tracionando o tripé
de forma descentralizada.

4º passo: prepare o SRF na configuração desejada. Atenção para não montar


dispositivo de captura progressiva (DCP) no local de ancoragem do SRF junto ao
cabeçote, isso poderá complicar muito a operação no momento de se retirar a vítima
devido à altura que o DCP ficará.

5º passo: proceder o check list de montagem inicial. Feito por um dos


resgatistas e sob supervisão do Comandante das Operações (a quatro olhos), deverá
ser feita em voz alta e na sequência: 1- cordas da estabilização ancoradas no
cabeçote; 2- SRF pronto; 3 mosquetões do SRF e estaiamento fechados; 4- tripé em
condição de posicionamento.

6º passo: após o correto check list, o Comandante das Operações determinará


a movimentação do tripé para o local de operação. Sendo necessário três pessoas
para transportá-lo até o local, sendo uma em cada haste. Após posicionado o tripé
estará em local de risco, devendo ter atenção redobrada nos procedimentos a seguir.
Utilize corredor de segurança.

7º passo: eleve o tripé até a altura desejada. Observar a altura necessária


conforme a operação, em especial se a vítima for retirada na posição vertical, o que
normalmente ocorre.
8º passo: passe a corda ou corrente nos olhais da sapata para manter a
estabilidade das hastes, unido suas pontas em seguida. Ao ser inserido peso no tripé,
no momento do tracionamento, suas hastes tenderão a se abrirem, caso isso ocorra o
cabeçote poderá se romper e o equipamento se colapsar. O objetivo de se travar as
hastes com a corrente ou corda é, justamente, para evitar esse perigoso
inconveniente, contudo o procedimento deve seguir alguns cuidados: após ter passado
a corda/corrente em todos os olhais das três sapatas, conduza uma das hastes por
volta de 30 a 50cm na direção do centro de gravidade do tripé; proceda a união das
extremidades da corda ou junção da corrente de forma bem justa, conforme sequência
de imagens abaixo. Por fim, reposicione as três sapatas de forma que o cabeçote fique
centralizado sobre a BV. Agora, quando a vítima estiver sustentada pelo tripé suas
hastes vão se abrir um pouco, mas não o suficiente para danificar o cabeçote.

9º passo: proceda o travamento das cordas do estaiamento. O estaiamento


deverá estar próximo do tripé, para evitar que a elasticidade da corda comprometa a
operação. Porém, não pode ser tão próxima como se fosse mais uma haste do tripé,
pois assim não aumentaria a estabilidade, uma distância adequada é em torno de 5
metros do centro de gravidade do equipamento.

10º passo: proceda a instalação do DCP no SRF. Conforme já apontado,


observe para que esse DCP esteja colocado em local de fácil alcance após o
tracionamento. Após montado, teste seu funcionamento, ele deverá permitir a
passagem da corda no sentido oposto à posição do tripé e impedir o movimento
contrário.

11º passo: proceder o check list de montagem final. Feito por um dos
resgatistas e sob supervisão do Comandante das Operações (a quatro olhos), deverá
ser feita em voz alta e na sequência: 1- tripé centralizado na BV e corda travando suas
hastes; 2- estaiamento tracionado; 3- DCP do SRF pronto e com funcionamento
testado; 4- tripé em condição de tracionamento.

12º passo: o Comandante das Operações determinará o início do içamento.


Tracione a vítima por uma pequena altura, menos que 30 cm, e observe o
funcionamento do tripé, se será necessário algum ajuste, em especial do estaiamento.
Continue tracionando de forma que o módulo da força aplicada na corda, com sentido
do cabeçote para os resgatistas, tenha sua direção o mais inclinado possível para
reduzir a tendência de se desestabilizar o equipamento.

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