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DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA CIVIL

AMÂNDIO TAVARES FERREIRA FONSECA


Licenciado em Engenharia Civil

AVALIAÇÃO DA VULNERABILIDADE SÍSMICA DE UM


EDIFÍCIO POMBALINO ATRAVÉS DE ANÁLISE
DINÂMICA INCREMENTAL

MESTRADO EM ENGENHARIA CIVIL - ESTRUTURAS E GEOTECNIA


Universidade NOVA de Lisboa
Julho, 2021 i
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA CIVIL

AVALIAÇÃO DA VULNERABILIDADE SÍSMICA DE UM


EDIFÍCIO POMBALINO ATRAVÉS DE ANÁLISE
DINÂMICA INCREMENTAL

AMÂNDIO TAVARES FERREIRA FONSECA


Licenciado em Engenharia Civil

Orientador: Doutor Corneliu Cismasiu, Professor Associado,


Universidade NOVA de Lisboa

Júri:
Presidente: Doutora Ildi Cismasiu, Professora Auxiliar,
Universidade NOVA de Lisboa
Arguente: Doutor Válter José da Guia Lúcio, Professor Associado,
Universidade NOVA de Lisboa
Vogal: Doutor Corneliu Cismasiu, Professor Associado,
Universidade NOVA de Lisboa

MESTRADO EM ENGENHARIA CIVIL - ESTRUTURAS E GEOTECNIA

Universidade NOVA de Lisboa


Julho, 2021
Avaliação da Vulnerabilidade Sísmica de Edifício Antigo em Lisboa

Copyright © Amândio Tavares Ferreira Fonseca, Faculdade de Ciências e Tecnologia,


Universidade Nova de Lisboa.

A Faculdade de Ciências e Tecnologia e a Universidade Nova de Lisboa têm o direito,


perpétuo e sem limites geográficos, de arquivar e publicar esta dissertação através de
exemplares impressos reproduzidos em papel ou de forma digital, ou por qualquer outro
meio conhecido ou que venha a ser inventado, e de a divulgar através de repositórios
científicos e de admitir a sua cópia e distribuição com objetivos educacionais ou de in-
vestigação, não comerciais, desde que seja dado crédito ao autor e editor.

i
ii
Agradecimentos

Ao terminar esta etapa quero expressar os meus sinceros agradecimentos às pessoas


que de alguma forma contribuíram para o meu crescimento pessoal, académico e para
a consecução da presente dissertação. Não podendo mencionar todos, destaco os se-
guintes sendo os outros não menos importante.

Em primeiro lugar agradeço a todos os professores que acompanharam o meu percurso


académico, em especial ao Professor Corneliu Cismasiu pela orientação do presente
trabalho, pelas importantes sugestões e pela revisão do texto, que sem ele, este traba-
lho não podia ser realizado com sucesso. Agradeço também o seu constante apoio,
motivação e paciência demostrada no decorrer deste trabalho.

Agradeço a minha família, especialmente a minha mãe e minha irmã Luísa por terem
estado sempre ao meu lado durante o meu percurso académico e por todo o incentivo
que me deram, e que ficarei grato para sempre.

O meu muito obrigado a todos os meus amigos sem exceção, aos colegas da faculdade
desta fase de mestrado, especialmente ao Wilson Spencer e Ricardino Brito por todo
apoio e companheirismo demostrado ao longo deste tempo.

Deixo ainda uma palavra de apreço muito especial ao Moisés Brito, Alvalino Costa e
Emanuel Semedo, pela amizade, companheirismo, apoio e incentivo demostrado ao
longo desta fase de mestrado.

Muito obrigado a todos!

iii
iv
Resumo

A presente dissertação tem como objetivo avaliar a vulnerabilidade sísmica de um edi-


fício pombalino através da análise dinâmica incremental. Muitos dos edifícios de alve-
naria construídos em Lisboa, em particular a construção pombalina, evidenciam um es-
tado avançado de degradação provocado, ou pela falta de manutenção ao longo do
tempo, ou por ter sofridos intervenções que alteraram as suas características sismo-
resistentes originais para acomodar novas funcionalidades. A qualquer momento, pode
ocorrer em Portugal uma ação sísmica de grande magnitude, similar ao sismo de 1755,
que pode por à prova a resistência destes tipos de edificações. A vulnerabilidade sís-
mica depende de diversas características do edifício, como a época da sua construção,
a geometria, as técnicas utilizadas e as propriedades dos materiais.

Nesta dissertação foi avaliada a vulnerabilidade sísmica de um edifício em alvenaria,


estudando o comportamento dos diversos elementos estruturais e de que forma contri-
buem para a capacidade resistente do edifício. Efetuou-se, em primeiro lugar, a carac-
terização dinâmica do edifício e posteriormente fizeram-se análises dinâmicas incre-
mentais não-lineares, e os cálculos correspondentes para a construção das curvas de
fragilidade do edifício analisado.

Recorreu-se ao programa de cálculo SAP2000 para realizar as análises dinâmicas in-


crementais, utilizando dez acelorogramas reais e destintos, escalados para respeitar o
espectro de resposta regulamentar definido no Eurocódigo 8. De forma a aferir o grau
de vulnerabilidade sísmica do edifício, definiu-se diferentes níveis de PGA de 0,2g até
1,0g, sendo o passo de incremento de 0,2g. Para se avaliar o estado de dano global do
edifício, calcularam-se as probabilidades de atingir determinado estado de dano para
um PGA de projeto de 0,55g, referente à zona sísmica de localização do edifício. Desta
forma conclui-se que para este nível de PGA, o edifício tem uma probabilidade de sofrer
danos de 100%. No entanto, existe uma probabilidade de ocorrência de danos modera-
dos (100%) a severos (92%) e apresenta-se uma probabilidade de sofrer danos extenso
ou colapso de 58%.

Palavras-chave:

Edifícios Pombalinos; Vulnerabilidade Sísmica; Paredes de Alvenaria; Paredes Frontais;


Análise Dinâmica Incremental; Curvas de Fragilidade.

v
vi
Abstract

The main objective of this dissertation is to assess the seismic vulnerability of a pomba-
line building throught incremental dynamic analysis. Most of the masonry buildings built
in Lisbon, in particular the pombaline construction, show an advanced state of degrada-
tion caused, either by the lack of maintenance over time, or because they have under-
gone interventions that altered their original earthquake-resistant characteristics to ac-
commodate new features. At any moment, a seismic action of great magnitude may oc-
cur in Portugal, similar to the 1755 earthquake, which can test the resistance of these
types of buildings. The seismic vulnerability depends on several characteristics of the
building, such as age of the construction, geometry, construction techniques used and
the properties of the materials.

In this dissertation, the seismic vulnerability of a masonry building was evaluated by


studying the behavior of the various structural elements and their contribution to the
building’s resistant capacity.

In the first stage, the dynamic characterization of the building was performed and sub-
sequently nonlinear incremental dynamic analyses and the corresponding calculations
were performed for the construction of the fragility curves of the analyzed building.

The SAP2000 software was used to perform incremental dynamic analyzes, using ten
real and distinct accelerograms, scaled to respect the design response spectrum defined
in Eurocode 8. In order to assess the degree of seismic vulnerability of the building,
different levels of PGA from 0,2g to 1,0g are defined, with increments of 0,2g. To assess
the overall damage status of the building, the probabilities of reaching a certain damage
state for a 0,55g design PGA were calculated, referring to the seismic zone of the build-
ing location. It was found that for this level of PGA, the building has a 100% probability
of suffering damage. However, there is a moderate (100%) to severe (92%) probability
of damage and 58% probability of suffering extensive damage or collapse.

Keywords:

Pombalino Buildings; Seismic Vulnerability; Masonry Walls; Front Walls; Incremental Dy-
namic Analysis; Fragility Curves.

vii
viii
Índice de Matérias

Agradecimentos ---------------------------------------------------------------------------------------- iii

Resumo ---------------------------------------------------------------------------------------------------- v

Abstract -------------------------------------------------------------------------------------------------- vii

Índice de Matérias ------------------------------------------------------------------------------------- ix

Índice de Figuras------------------------------------------------------------------------------------- xiii

Índice de Tabelas ----------------------------------------------------------------------------------- xvii

Lista de abreviaturas, siglas e símbolos ----------------------------------------------------- xix

1. Introdução --------------------------------------------------------------------------------------------- 1

1.1. Considerações Gerais ----------------------------------------------------------------------- 1

1.2. Objetivos e Metodologia -------------------------------------------------------------------- 1

1.3. Organização da Dissertação --------------------------------------------------------------- 2

2. Descrição dos Edifícios Pombalinos --------------------------------------------------------- 3

2.1. Generalidades ---------------------------------------------------------------------------------- 3

2.2. Características Construtivas -------------------------------------------------------------- 5


2.2.1. Fundações -------------------------------------------------------------------------------------------- 6
2.2.2. Pavimentos e Tetos --------------------------------------------------------------------------------- 7
2.2.3. Paredes ------------------------------------------------------------------------------------------------ 7
2.2.4. Cobertura ---------------------------------------------------------------------------------------------- 9
2.2.5. Escadas ---------------------------------------------------------------------------------------------- 10

2.3. Materiais---------------------------------------------------------------------------------------- 11
2.3.1. Alvenaria --------------------------------------------------------------------------------------------- 11
2.3.2. Madeira ---------------------------------------------------------------------------------------------- 11
2.3.3. Ferro -------------------------------------------------------------------------------------------------- 12

3. Comportamento Estrutural das Paredes -------------------------------------------------- 13

3.1. Paredes de Alvenaria ---------------------------------------------------------------------- 13


3.1.1. Ensaios Experimentais --------------------------------------------------------------------------- 13
3.1.2. Comportamento Sísmico de Paredes de Alvenaria e Mecanismos de Colapso --- 15

ix
3.1.3. Avaliação da Resistência de Paredes de Alvenaria ---------------------------------------19
3.1.4. Modelação de Paredes de Alvenaria ----------------------------------------------------------22
3.1.4.1. Método POR ------------------------------------------------------------------------------------25
3.1.4.2. Método SAM ------------------------------------------------------------------------------------26

3.2. Paredes Frontais ---------------------------------------------------------------------------- 28


3.2.1. Ensaios Experimentais e Numéricos ----------------------------------------------------------28
3.2.2. Mecanismos de Colapso -------------------------------------------------------------------------33
3.2.2.1. Mecanismo de Colapso no Plano ----------------------------------------------------------33
3.2.2.2. Mecanismo de Colapso Fora do Plano ---------------------------------------------------33
3.2.3. Modelação de Paredes Frontais --------------------------------------------------------------- 34

4. Validação da Modelação Adotada ----------------------------------------------------------- 36

4.1. Paredes de Alvenaria ---------------------------------------------------------------------- 36

4.2. Paredes Frontais ---------------------------------------------------------------------------- 44

5. Caso de Estudo e Modelação ----------------------------------------------------------------- 48

5.1. Caracterização ------------------------------------------------------------------------------- 48

5.2. Modelação ------------------------------------------------------------------------------------- 51


5.2.1. Elementos Estruturais ----------------------------------------------------------------------------51
5.2.1.1. Parede de Alvenaria --------------------------------------------------------------------------51
5.2.1.2. Paredes Frontais -------------------------------------------------------------------------------55
5.2.1.3. Pavimentos --------------------------------------------------------------------------------------56
5.2.1.4. Escadas ------------------------------------------------------------------------------------------58
5.2.1.5. Coberturas ---------------------------------------------------------------------------------------59
5.2.2. Características Mecânicas dos Materiais ----------------------------------------------------59
5.2.2.1. Madeira-------------------------------------------------------------------------------------------59
5.2.2.2. Alvenaria -----------------------------------------------------------------------------------------59
5.2.3. Atribuição da Massa -------------------------------------------------------------------------------60
5.2.4. Modelo Numérico ----------------------------------------------------------------------------------62

5.3. Análise Modal -------------------------------------------------------------------------------- 62

6. Avaliação da Vulnerabilidade Sísmica ----------------------------------------------------- 65

6.1. Definição da Ação Sísmica -------------------------------------------------------------- 65

6.2. Variabilidade Probabilística de Parâmetros Chave ------------------------------ 66

6.3. Análise Dinâmica Incremental ---------------------------------------------------------- 69


6.3.1. Procedimento e Aplicação da IDA -------------------------------------------------------------69

6.4. Estados de Dano ---------------------------------------------------------------------------- 70

x
6.5. Curvas de Fragilidade --------------------------------------------------------------------- 71

7. Conclusões e Desenvolvimentos Futuros ------------------------------------------------ 76

7.1. Conclusões------------------------------------------------------------------------------------ 76

7.2. Desenvolvimentos Futuros -------------------------------------------------------------- 77

Referências Bibliográficas ------------------------------------------------------------------------- 78

Anexos --------------------------------------------------------------------------------------------------- 83

Anexo I - Plantas de arquitetura do edifício ---------------------------------------------- 83

Anexo II - Rotina escrita em Matlab, para gerar a distribuição probabilística dos


parâmetros chaves escolhidos --------------------------------------------------------------- 87

Anexo III - Curvas para “inter-storey drift” e curvas para às ligações dos pisos
às paredes------------------------------------------------------------------------------------------- 90

xi
xii
Índice de Figuras

Figura 2.1: Evolução dos processos construtivos: 1 e 2 - anteriores a 1755; 3 -


pombalino; 4 - gaioleiro; 5 - misto (paredes de alvenaria e placa); 6 e 7 - betão armado
[7]------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 4
Figura 2.2: Exemplo de um edifício pombalino [9]------------------------------------------------ 6
Figura 2.3: Sistema de fundação e estacas de madeira [11] ---------------------------------- 6
Figura 2.4: Edifícios pombalinos: a) teto do rés-do-chão [10], b) piso dos andares [2]-- 7
Figura 2.5: Gaiola pombalina: a) com enchimento de alvenaria [2]; b) sem enchimento
de alvenaria [10] ------------------------------------------------------------------------------------------ 8
Figura 2.6: Parede do tipo tabique simples com fasquiado [2, 12] --------------------------- 9
Figura 2.7: Estrutura de asna simples [15] ------------------------------------------------------- 10
Figura 2.8: Estrutura de asna amansardada [15] ----------------------------------------------- 10
Figura 2.9: Estrutura da escada do piso térreo [11] -------------------------------------------- 11
Figura 2.10: Orientação das fibras de madeira face à carga aplicada, adaptado de [19]
-------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 12
Figura 2.11: Pregos utilizados na construção pombalina [10, 20] -------------------------- 12
Figura 3.1: Ensaio de compressão simples no LNEC: a) preparação dos provetes; b)
diagrama força deslocamento [21] ----------------------------------------------------------------- 14
Figura 3.2: Ensaio de Compressão axial no DEC FCT/UNL: a) dispositivo de ensaio; b)
início do ensaio; c) formação de uma fenda diagonal; d) colapso do murete; e) diagrama
força deslocamento [22] ------------------------------------------------------------------------------ 15
Figura 3.3: Comportamento de paredes de alvenaria isoladas atuadas por forças
horizontais: a) comportamento no plano; b) comportamento fora do plano; original de
[23] citando [24] ----------------------------------------------------------------------------------------- 16
Figura 3.4: Efeito da ligação entre paredes, original de [23] citando [24] ----------------- 16
Figura 3.5: Efeito da ligação entre as paredes e pavimentos-paredes: a) ausência de
contraventamentos; b) efeito de pavimento rígidos; adaptado de [23] citando [24] ---- 17
Figura 3.6: Derrubamento da parede por flexão composta para fora do plano [16] ---- 17
Figura 3.7: Mecanismo de rotura dos nembos, adaptado de [26] -------------------------- 18
Figura 3.8: Mecanismo de colapso dos lintéis, comportamento no plano: a) lintel sujeito
à ação sísmica; b) lintel sem reforço; c) lintel reforçado [26, 27] --------------------------- 19
Figura 3.9: Esquema de forças no nembo devidos a flexão composta no seu plano [27]
-------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 20
Figura 3.10: Esquema de forças na base do nembo, deslizamento por corte [27] ----- 21
Figura 3.11: Área de contacto entre nembo-lintel [16] ----------------------------------------- 22
Figura 3.12: Modelação de estruturas de paredes em alvenaria: micro-modelação a)
detalhada e b) simplificada; c) macro-modelação ---------------------------------------------- 24
Figura 3.13: Comportamento de uma parede de alvenaria sujeita ao carregamento
lateral cíclico [32] --------------------------------------------------------------------------------------- 25
Figura 3.14: Princípio de cálculo do método POR, original de [33] citando [34] -------- 26
Figura 3.15: Pórtico equivalente de uma parede de alvenaria, adaptado de [27] ------- 27

xiii
Figura 3.16: Definição da altura eficaz para as colunas, adaptado de [27] -------------- 27
Figura 3.17: Comprimento eficaz para vigas: a) aberturas verticais alinhadas e b)
aberturas verticais desalinhadas [27] ------------------------------------------------------------- 28
Figura 3.18: Dispositivo de ensaio [21] ----------------------------------------------------------- 28
Figura 3.19: Carregamento horizontal cíclico: a) preparação do provete; b) provete
pronto para ensaio; c) diagrama força-deslocamentos [21] --------------------------------- 29
Figura 3.20: Paredes frontais: a) simples; b) reforçada com chapa metálica; c) reforçada
com dissipadores; d) reforçada com reboco armado [35] ------------------------------------ 30
Figura 3.21: Módulos de ensaio: a) GM; b) PA [39] ------------------------------------------- 31
Figura 3.22: Curvas de capacidade (força-deslocamento): a) GM; b) PA [39] ---------- 31
Figura 3.23: Parede frontal: a) geometria do modelo; b) modelação numéricaSAP2000;
c) curva de resposta [39] ----------------------------------------------------------------------------- 32
Figura 3.24: Mecanismo de colapso no plano: a) efeito “rocking”; b) movimento do nó,
para cima e para baixo; adaptado de [41]-------------------------------------------------------- 33
Figura 3.25: a) destacamento da alvenaria da madeira; b) diagonal comprimida e início
da encurvadura; c) rotura da diagonal por encurvadura [41] -------------------------------- 34
Figura 3.26: Modelo numérico (unidades em metros) [41] ----------------------------------- 35
Figura 3.27: Paredes frontais sob carregamento horizontal cíclico, adaptado de [41] 35
Figura 4.1: Paredes a modelar---------------------------------------------------------------------- 36
Figura 4.2: Geometria do modelo experimental [42]------------------------------------------- 37
Figura 4.3: “Door wall”: a) pórtico equivalente; b) definição de zonas rígidas ----------- 37
Figura 4.4: Pórtico equivalente, diagramas de esforços e tensão: a) esforço axial,
compressão; b) tensão normal, compressão; c) esforço transverso; d) momentos
fletores ---------------------------------------------------------------------------------------------------- 39
Figura 4.5: Curvas de capacidade, modelo numérico (azul) e ensaio experimental (preto)
[42]--------------------------------------------------------------------------------------------------------- 41
Figura 4.6: Mecanismos de rotura: modelo numérico a), b) e c); d) ensaio experimental
[42]--------------------------------------------------------------------------------------------------------- 42
Figura 4.7: Diagrama força-deslocamento: a), b) e c) provetes ensaiados em [21]; d)
curva média --------------------------------------------------------------------------------------------- 43
Figura 4.8: Bilinearização da curva média ------------------------------------------------------- 43
Figura 4.9: Modelação numérica: a) configuração da parede frontal [21]; b) modelo
numérico concebido no SAP2000------------------------------------------------------------------ 45
Figura 4.10: Lei constitutiva definida nas molas ------------------------------------------------ 45
Figura 4.11: Esquema de cálculo do peso específico equivalente ------------------------- 46
Figura 4.12: a) configuração deformada, modelo numérico; b) comparação dos
resultados, numérico (curva azul) e experimental (curva preta) [21] ---------------------- 46
Figura 5.1: Fachada principal ----------------------------------------------------------------------- 49
Figura 5.2: Planta do 1º andar ---------------------------------------------------------------------- 50
Figura 5.3: Configuração simplificada (dimensões em metros) ----------------------------- 50
Figura 5.4: Rótulas plásticas: a) curva padrão SAP2000; b) e c) comportamento
assumido para os nembos; d) e e) comportamento assumido para os lintéis ----------- 52

xiv
Figura 5.5: Pórtico equivalente fachada principal----------------------------------------------- 53
Figura 5.6: Fachada principal, SAP2000: a) pórtico equivalente; b) vista “extrude” ---- 53
Figura 5.7: Deformada do nembo, sujeito a uma força horizontal, modelo de cálculo: a)
para determinar a rigidez; b) para determinar a rotação elástica --------------------------- 54
Figura 5.8: Parede frontal definida no SAP2000 ------------------------------------------------ 56
Figura 5.9: Esquema de cálculo para definição da lei constitutiva dos “links” ----------- 57
Figura 5.10: Comportamento do “link”: a) lei constitutiva; b) modelo estrutural --------- 57
Figura 5.11: Gráficos: a) lei constitutiva pré-definida no “link”; b) deslocamento - tempo;
c) reação - tempo, nó 4; d) reação - deslocamento, nó 4 ------------------------------------- 58
Figura 5.12: Determinação das forças: área de influência e pórtico equivalente ------- 61
Figura 5.13: Modelação numérica: a) vista exterior; b) vista interior; c) parede frontal
(alinhamento C); d) pavimento de madeira 1º andar------------------------------------------- 63
Figura 5.14: Quatro primeiros modos de vibração: a) 1º modo - translação em X; b) 2º
modo - translação em Y; c) e d) 3º e 4º modo - torção ---------------------------------------- 64
Figura 6.1: Espectro de resposta elástico e acelerogramas reais: a) tipo 1; b) tipo 2;- 66
Figura 6.2: Distribuição probabilística: a) Densidade da madeira; b) Módulo de
elasticidade da madeira; c) Coeficiente de atrito estático; d) Coeficiente de atrito cinético
-------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 67
Figura 6.3: Distribuição probabilística: a) Módulo de elasticidade alvenaria; b) Peso
volúmico da alvenaria; c) Resistencia à compressão da alvenaria ------------------------- 68
Figura 6.4: Análise do número de amostras: a) desvio padrão; b) erro do desvio padrão
-------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 69
Figura 6.5: Curvas de fragilidade global do edifício -------------------------------------------- 72
Figura 6.6: Aceleração do espetro elástico para a zona sísmica considerada ---------- 73
Figura 6.7: Probabilidades de cada estado de dano para um nível de PGA 0,55g ----- 74
Figura 6.8: Curvas com estado limites de dano para “inter-storey drift”: a) Direção X; b)
Direção Y ------------------------------------------------------------------------------------------------- 75
Figura 6.9: Curva com estado limites de dano para as ligações ---------------------------- 75

xv
xvi
Índice de Tabelas

Tabela 2.1 - Evolução das soluções construtivas ------------------------------------------------ 4


Tabela 2.2 - (continuação) ----------------------------------------------------------------------------- 5
Tabela 3.1 - Relação entre os níveis de conhecimento, as inspeções, os ensaios, os
métodos de análise e os coeficientes de confiança -------------------------------------------- 23
Tabela 3.2 - Trabalhos de investigação realizados -------------------------------------------- 30
Tabela 3.3 - Propriedades mecânicas dos materiais ------------------------------------------ 35
Tabela 4.1 - Dados geométricos do pórtico equivalente, nembos -------------------------- 38
Tabela 4.2 - Dados geométricos do pórtico equivalente, lintéis ----------------------------- 38
Tabela 4.3 - Cargas verticais, esforço axial e tensão nos nembos ------------------------- 39
Tabela 4.4 - Propriedades mecânicas da alvenaria -------------------------------------------- 40
Tabela 4.5 - Esforços de cedência e limites de deformação plástica ---------------------- 40
Tabela 5.1 - Dimensões dos elementos das paredes frontais ------------------------------- 55
Tabela 5.2 - Propriedades mecânicas da madeira --------------------------------------------- 59
Tabela 5.3 - Propriedades mecânicas da alvenaria -------------------------------------------- 60
Tabela 5.4 - Área de influência e números de pontos, paredes exteriores --------------- 60
Tabela 5.5 - Área de influência e números de pontos, paredes frontais ------------------ 60
Tabela 5.6 - Peso próprio cobertura (valores em kN/m2) ------------------------------------- 61
Tabela 5.7 - Peso próprio pavimentos de madeira (valores em kN/m2) ------------------- 61
Tabela 5.8 - Peso próprio dos restantes elementos (valores em kN/m2) ----------------- 62
Tabela 5.9 - Sobrecargas (valores em kN/m2) -------------------------------------------------- 62
Tabela 5.10 - Parâmetros para estimar o período do modo fundamental ---------------- 63
Tabela 5.11 - Informação modal -------------------------------------------------------------------- 64
Tabela 6.1 - Dados de acelerogramas reais ----------------------------------------------------- 66
Tabela 6.2 - Caracterização probabilística dos parâmetros chave ------------------------- 67
Tabela 6.3 - Definição dos estados limite de dano “inter-storey drift”---------------------- 70
Tabela 6.4 - Definição dos estados limite de dano para as ligações----------------------- 70
Tabela 6.5 - Identificação e classificação de dano estrutural para o “inter-storey drift” 74
Tabela 6.6 - Identificação e classificação de dano estrutural para as ligações ---------- 74

xvii
xviii
Lista de abreviaturas, siglas e símbolos

Siglas e Abreviaturas

CP Collapse Prevention
DS Damage State
DEC Departamento de Engenharia Civil
EC1 Eurocódigo 1
EC8 Eurocódigo 8
FCT Faculdade de Ciências e Tecnologia
IO Immediate Ocupance
IDA Incremental Dynamic Analysis
ICIST Instituto de Engenharia de Estruturas, Território e Construção
ISISI Institute for Sustainability and Innovation in Structural Engineering
IST Instituto Superior Técnico
LNEC Laboratório Nacional de Engenharia Civil
LS Life Safety
PEER Pacific Earthquake Engeneering Research
PGA Peak Ground Acceleration
JCSS Probabilistic Model Code
SAM Simplified Analysis Masonry Buildings
U. Minho Universidade do Minho
UNL Universidade Nova de Lisboa
U. Greece University of Greece
U. London University of London

Símbolos

𝜇 Coeficiente de atrito
𝜈 Coeficiente de poisson
𝜌 Densidade
𝐸 Módulo de elasticidade
𝐺 Módulo de distorção
𝜀 Deformação
𝜎 Tensão normal de compressão
𝜎0 Tensão normal média de compressão

xix
𝜏 Tensão de corte
𝐶𝑢 Coesão
𝑓𝑐,0,𝑘 Resistência à compressão (paralela às fibras)
𝑓𝑢 Tensão de compressão
𝛿 Deslocamento
∅ Ângulo de atrito
𝜃 Rotação
𝛼 Resistência residual
𝜓𝑖 Coeficiente de combinação
𝛽 Desvio padrão
𝛾 Peso específico
∆𝐿 Variação do comprimento
𝜉 Relação entre a altura e largura do nembo
Φ Função de probabilidade de distribuição lognormal
𝐹𝑎 Força de atrito
𝑇 Período de vibração
𝑓 Frequência de vibração
𝑎 Aceleração
𝑔 Aceleração de gravidade
𝑁 Número de andares
𝑉𝑢 Esforço de corte último
𝑉𝑟𝑑 Esforço de corte resistente
𝑀𝑢 Esforço de flexão último
𝑀𝑟𝑑 Esforço de flexão resistente
𝑑𝑟 Deslocamento entre pisos
𝑆𝑎 Aceleração espetral
𝑆𝑑 Deslocamento espetral

xx
Capítulo 1

1. Introdução

1.1. Considerações Gerais


Em Portugal os grandes centros urbanos possuem um património arquitetónico bastante
envelhecido. Nos últimos anos, observa-se uma crescente preocupação com a conser-
vação deste património, o que implica reabilitar os edifícios antigos de modo a preservá-
los. A cidade de Lisboa apresenta uma grande quantidade de edifícios que já passaram
largamente a vida útil para a qual foram projetados e, assim sendo, necessitam de in-
tervenções estruturais urgentes [1]. Face a essas necessidades, sugiram vários estudos
nas áreas de Arquitetura e Engenharia Civil, onde os técnicos são confrontados com a
tarefa de analisar a viabilidade de recuperação desses edifícios, com vista à sua reabi-
litação e reutilização.

O edifício objeto de estudo na presente dissertação, é um edifício do tipo “pombalino”


construído no final do século XVIII, situado na Baixa de Lisboa. Este edifício, não apre-
senta as características da sua construção original, tendo sido alvo de várias interven-
ções de conservação e para acomodar novas exigências funcionais [2]. O presente es-
tudo será desenvolvido apenas numa vertente de análise estrutural e, uma vez que não
foi possível recorrer a técnicas de inspeção in situ, a caracterização dos materiais, foi
feita recorrendo a dados existentes na literatura.

Devido a existência de um elevado número de edifícios pombalinos que partilham con-


dições semelhantes na Baixa de Lisboa, torna-se ainda mais pertinente estudar a vul-
nerabilidade destes edifícios antigos, principalmente os de construção em alvenaria,
face à eventualidade dum abalo sísmico de grande intensidade.

1.2. Objetivos e Metodologia


Face às intervenções nos edifícios pombalinos, torna-se fulcral compreender de que
forma estes edifícios se comportam perante uma ação sísmica e se necessário chegar
a uma solução de reforço que melhora o desempenho sísmico do edifício na sua totali-
dade. Assim sendo, o objetivo principal desta dissertação centra-se no estudo da vulne-
rabilidade sísmica de um edifício pombalino situado na Baixa de Lisboa, constituído por
paredes de alvenaria na fachada e empenas, paredes interiores constituídas por pare-
des de frontal e de tabique e pisos de madeira compostos por barrotes e soalhos.

1
Capítulo 1 - Introdução

Para estudar a vulnerabilidade sísmica, efetua-se a modelação numérica do edifício em


3D, considerando os seus elementos estruturais principais, no programa de cálculo au-
tomático SAP2000 [3]. No que se refere a ação sísmica, foram considerados dez regis-
tos de sismos históricos reais, compatibilizados de acordo com o espectro de resposta
regulamentar e escalados para diferentes níveis de PGA (“Peak Ground Acceleration”).
Para se avaliar o desempenho sísmico do edifício, realizam-se análises dinâmicas in-
crementais (IDA) não lineares. De forma a obter resultados estatisticamente fiáveis,
construíram-se cem modelos numéricos diferentes, associados a variação de alguns
parâmetros chave escolhido. Para cada modelo numérico foram consideradas cinco
análises dinâmicas incrementais, com um passo de 0,2g até 1g, perfazendo um total de
quinhentas análises. Posteriormente, definem-se os estados limites de danos estrutural
para a construção das curvas de fragilidades global do edifício.

1.3. Organização da Dissertação


Para a consecução dos objetivos definidos na seção anterior, a presente dissertação
encontra-se dividida em sete capítulos, nos quais se descrevem as atividades realiza-
das, os resultados alcançados e as respetivas conclusões.

O primeiro capítulo diz respeito à introdução, na qual se apresenta uma síntese geral
assim como os objetivos a cumprir ao longo da realização deste trabalho.

No segundo capítulo realiza-se uma descrição genérica dos edifícios pombalinos, a


forma como surgiram e a sua perduração ao longo do tempo. Descrevem-se as suas
principais características e/ou pormenores construtivos, desde fundações até à cober-
tura e os materiais utilizados na sua construção.

No terceiro capítulo aborda-se o comportamento estrutural das paredes de alvenaria


face à ação sísmica, mencionando os mecanismos de colapso e as técnicas de mode-
lação.

No quarto capítulo realiza-se a validação dos métodos de modelação dos elementos


estruturais referidos no capítulo anterior, de forma a serem implementados na modela-
ção do edifício em estudo. Efetua-se a validação do modelo numérico recorrendo aos
resultados dos ensaios experimentais existentes na bibliografia.

No quinto capítulo apresenta-se o caso de estudo. Efetua-se a caracterização e a mo-


delação do edifício e com base no resultado obtido identificam-se as suas principais
características dinâmicas, as frequências e os modos de vibração.

No sexto capítulo avalia-se a vulnerabilidade sísmica do edifício em estudo, definindo


os passos para a realização de análises dinâmicas incrementais no SAP2000 e, com
base nos resultados obtidos, construir a curva de fragilidade global correspondente do
edifício.

No sétimo capítulo expõem-se as principais conclusões do estudo realizado e os traba-


lhos futuros a desenvolver na área de estudo desta dissertação.

2
Capítulo 2

2. Descrição dos Edifícios Pombalinos

2.1. Generalidades
Na manhã do dia 1 de novembro de 1755, Lisboa sofreu um forte abalo sísmico com
magnitude estimada entre 8,5 a 8,9 na escala de Richter [4], seguido de um maremoto
e diversos incêndios. A Baixa da cidade de Lisboa ficou praticamente destruída e quase
tudo o que sobrou acabou demolido. A intensidade e a dimensão da catástrofe levaram
à necessidade de reconstrução da cidade ou, simplesmente, mudá-la para outro lado.
Assim sendo, optou-se pela reconstrução da cidade no seu local ancestral, estabele-
cendo-se uma série de critérios a que deveria obedecer a nova cidade a erguer. Os
critérios principais definidos para a reconstrução da cidade dizem respeito ao: desenho
e conceção (constituição das fachadas, altura dos edifícios, ruas largas com passeios,
etc.); e as implicações socioeconómicos (comercial, residencial, religioso e público); se-
gurança (estrutura em gaiola, resistência aos sismos e ao fogo); higiene e salubridade
(drenagem de águas residuais e pluviais). A reconstrução da Baixa de Lisboa foi feita
com o cuidado de conferir aos edifícios resistência sísmica [5].

A construção pombalina iniciou a partir de 1755 e perdurou até aproximadamente ao


ano de 1880 [6]. A Figura 2.1 situa cronologicamente e identifica as tipologias constru-
tivas do edificado lisboeta. À medida que as soluções construtivas se evoluem, os ma-
teriais utilizados vão evoluindo da madeira para alvenaria, e deste último para o betão
armado [7].

Na Tabela 2.1 apresenta-se de forma sumarizada a evolução das fases de construção


assim como os materiais dos edifícios referidos na Figura 2.1, considerando-se sete
períodos arquitetónicos, os edifícios em betão armado subdividem-se em dois subgru-
pos, betão armado 1 e 2, respetivamente [8].

3
Capítulo 2 - Descrição dos Edifícios Pombalinos

Figura 2.1: Evolução dos processos construtivos: 1 e 2 - anteriores a 1755; 3 -


pombalino; 4 - gaioleiro; 5 - misto (paredes de alvenaria e placa); 6 e 7 - betão
armado [7]

Tabela 2.1 - Evolução das soluções construtivas

Paramento Paredes
Tipologias Fundação Estrutura
Exterior Interiores

Alvenaria ordi-
Madeira Alvenaria de pe-
nária e/ou
Pré-pombali- dra, taipa e adobe Adobe e tabique de
aparelhada Paredes resisten-
nos (até 1755) tes de alvenaria Poucas aberturas madeira
Estacas de
de pedra ou tijolo para o exterior
madeira

Alvenaria ordi- Gaiola de ma- Alvenaria de pe-


nária e/ou deira dra Tabique de ma-
Pombalinos aparelhada deira
(1775-1880) Paredes-mestras Janelas de gran-
Estacas de de alvenaria de des dimensões Paredes frontais
madeira pedra nas fachadas

Alvenaria ordi- Sistema de pare- Alvenaria de pe- Tabique de ma-


nária e/ou des-mestras e pa- dra nas fachadas deira
Gaioleiros aparelhada redes resistentes Alvenaria de tijolo
(1880-1930) Paredes frontais
Estacas de de alvenaria de maciço nas em-
madeira pedra e tijolo penas Alvenaria de tijolo

4
Capítulo 2 - Descrição dos Edifícios Pombalinos

Tabela 2.2 - (continuação)

Paramento Paredes
Tipologias Fundação Estrutura
Exterior Interiores

Paredes resisten-
Alvenaria ordi-
tes de alvenaria
nária e/ou Alvenaria de pe-
Misto Alvenaria de tijolo
aparelhada Lajes e vigas de dra e de tijolo ma-
(1930-1940) betão armado que furado
Estacas de ciço
descarregam nas
madeira
paredes

Alvenaria dupla
Pórtico de betão
Betão armado 1 de tijolo furado Alvenaria de tijolo
Betão armado armado
(1940-1960) Poucas janelas furado
Lajes
nas fachadas

Alvenaria dupla
Pórtico e paredes
de tijolo furado
resistentes de be-
tão armado Elementos pré-fa-
Betão armado 2 Alvenaria de tijolo
Betão armado bricados de betão
(após 1960) Lajes furado
armado
Estrutura mista de
Várias aberturas
aço-betão armado
nas fachadas

Os edifícios pombalinos, ver Figura 2.2, costumam ser constituídos por quatro e/ou
cinco pisos incluindo águas-furtadas [6]. A sua principal característica estrutural é a cha-
mada gaiola pombalina. Designa-se por gaiola pombalina uma estrutura de madeira em
cruz de Santo André preenchido com alvenaria de pedra ordinária, capaz de resistir a
forças horizontais no plano, bem como as cargas verticais, transmitindo-as de piso para
piso até às fundações.

2.2. Características Construtivas


Para sistematizar a descrição construtiva dos edifícios pombalinos, descrevem-se as
características dos seus elementos primários. Consideram-se como elementos primá-
rios todos os elementos com função estrutural ou que contribuem de algum modo para
a definição da compartimentação. Optou-se por sistematizar os elementos primários da
seguinte forma:

▪ Fundações;
▪ Pavimentos e Tetos;
▪ Paredes;
▪ Cobertura;
▪ Escadas.

5
Capítulo 2 - Descrição dos Edifícios Pombalinos

Figura 2.2: Exemplo de um edifício pombalino [9]

2.2.1. Fundações

Os terrenos de fundação na Baixa de Lisboa apresentam fraca capacidade de carga.


Estima-se que no século XVIII, o nível freático era muito superficial, a cerca de dois
metros de profundidade relativamente ao pavimento térreo. As fundações eram diretas
e/ou semidirectas, relativamente superficiais, em alvenaria de pedra ordinária e conti-
nuas sob paredes. Regra geral, as fundações descarregam sobre um engradado de
madeira apoiado num conjunto de estacas em madeira de pequeno diâmetro (média de
15 cm) e comprimento reduzido (entre 1,5 e 5 m) [5, 10, 11]. A Figura 2.3 mostra o
esquema construtivo de fundação e estacas.

Figura 2.3: Sistema de fundação e estacas de madeira [11]

6
Capítulo 2 - Descrição dos Edifícios Pombalinos

2.2.2. Pavimentos e Tetos

Os pavimentos são estruturas horizontais em madeira, constituídas essencialmente por


vigas e soalho. Além disso poderão ser constituídas por elementos secundários, que
tem a função de melhorar o comportamento do conjunto face às ações pontuais ou no
próprio plano do elemento estrutural. Nos edifícios pombalinos, os tetos do rés-do-chão
são geralmente contruídos com arcos ou abóbadas de alvenaria (Figura 2.4), distin-
guindo-se dos pavimentos elevados, para assegurar a função corta-fogo entre o rés-do-
chão e os andares superiores e para impedir a propagação de humidades para a estru-
tura de madeira dos andares superiores. Por razões de segurança contra incêndios, ao
nível do piso térreo a estrutura da gaiola em geral não existe. No entanto, os arcos e
abóbadas do rés-do-chão apoiam-se em pilares de alvenaria de pedra e nas paredes
exteriores e de empena [10].

a) b)

Figura 2.4: Edifícios pombalinos: a) teto do rés-do-chão [10], b) piso dos andares [2]

Os pisos dos andares superiores são constituídos por vigas de madeira, colocadas per-
pendicularmente às fachadas, denominadas barrotes e elementos ortogonais denomi-
nados tarugos de modo a evitar a rotação e encurvadura das vigas. Nas construções de
melhor qualidade os barrotes são peças únicas dispostas de fachada a fachada e em
outras são emendados sobre os frontais, perdendo continuidade [10]. As vigas apresen-
tam secções retangulares, de lados entre os 16 e os 20 cm de altura, com largura se-
melhante ou inferior e espaçamentos próximos dos 50 cm (Figura 2.5) [2]. Os pisos são
revestidos superiormente por tábuas soalhos, e inferiormente, os tetos são revestidos
por forros do tipo “saia” e “camisa” ou por estuques sobre o fasquiado. Os tetos geral-
mente são constituídos por um forro de pranchas de madeira sobrepostas ou em estafe,
pregado diretamente nos barrotes.

2.2.3. Paredes

As paredes de alvenaria dos edifícios antigos são elementos construtivos resistentes,


que constituem os principais elementos de sustentação da estrutura. Encontram-se nas
fachadas (principal e posterior), empenas, caixas de escadas e por vezes nos saguões.

7
Capítulo 2 - Descrição dos Edifícios Pombalinos

No que diz respeito às paredes da fachada, a espessura varia entre os 0,80 a 1,00 m.
As paredes das empenas têm espessuras entre os 0,50 e 0,80 m, são comuns aos
edifícios de ambos os lados e em geral prolongavam-se acima da abertura, constituindo
assim uma barreira à propagação de potenciais incêndios. A sua constituição é em al-
venaria de pedras irregulares de calcário, com argamassa de cal aérea e ainda alguns
materiais cerâmicos aproveitados dos escombros das construções antigas.

a) b)

Figura 2.5: Gaiola pombalina: a) com enchimento de alvenaria [2]; b) sem


enchimento de alvenaria [10]

As paredes interiores dos edifícios pombalinos, são classificadas em dois tipos, medi-
ante as suas funcionalidades. Paredes de frontal que desempenham funções estruturais
e paredes de tabique com funções de compartimentação.

Nestes tipos edifícios, as paredes de frontal desenvolvem-se acima do rés-do-chão, são


constituídas por uma estrutura de madeira em Cruz de Santo André, preenchida com
alvenaria de pedra ordinária ou, por vezes, por materiais cerâmicos, e rebocadas com
argamassa de cal e areia em ambas as faces. Costumam ser assentes sobre caboucos
de alvenaria ou, em situações menos frequentes, sobre arcos ou abóbadas [12]. É de
referir que além da função estrutural, estas paredes desempenham funções de compar-
timentação, em conjunto com as paredes de tabique, e funcionam como apoios ao pa-
vimento [13, 14]. A sua espessura varia entre os 0,12 a 0,20 m [2].

Uma parede de frontal é constituída por três elementos principais em madeira, prumos,
travessas e diagonais, devidamente ligadas entre si, formando uma gaiola pombalina
em Cruz de Santo André preenchida com alvenaria. Por forma a vencer alguns vãos, a
estrutura pode ser reforçada com pendurais e vergas [14].

Os tabiques constituem as paredes interiores secundárias, destinadas a compartimen-


tação das divisões mais pequenas. Em geral tem espessura de 0,10 m. Com a vanta-
gem de serem leves, assentavam nos pavimentos, e quando tinham sequência na ver-
tical entre pisos conferiam um acréscimo de resistência às ações verticais e horizontais,
formando um todo com as restantes paredes. O tabique simples é o mais comum, e em
geral é formado por tábuas costaneiras, ripas e fasquias, e revestido nos paramentos
por reboco e acabamento estucado [12]. Este tipo de parede também é designado por

8
Capítulo 2 - Descrição dos Edifícios Pombalinos

tabique costaneiras, por serem constituídos por séries paralelas de pranchas de ma-
deira com 4 cm de espessura, espaçadas entre si pelo menos 1 cm e pregadas ao alto
em calhas [2, 12]. É importante sublinhar que existem diversas soluções aquando da
execução das paredes divisórias dos edifícios antigos, variando consoante a região e
disponibilidade dos materiais. Apresenta-se na Figura 2.6 o tipo de parede em tabique
mais comum.

Figura 2.6: Parede do tipo tabique simples com fasquiado [2, 12]

2.2.4. Cobertura

De uma forma geral os edifícios pombalinos apresentam dois tipos de coberturas: co-
berturas triangulares formadas por duas águas (cobertura simples) e coberturas aman-
sardadas [11]. No primeiro tipo de cobertura, a estrutura de asnas é simples (Figura 2.7)
e é semelhante à cobertura tradicional. As asnas da cobertura são compostas por per-
nas, linhas, pendurais, escoras, madres, fileiras e frechais. A estrutura da cobertura
apoia nas paredes de fachada principal e posterior. Neste tipo de coberturas denotam-
se existência de janelas de peito alto, designadas por trapeiras e o acesso dá-se através
de um corredor estreito.

A coberturas amansardadas (Figura 2.8) encontram-se nas ruas de muita importância e


nas praças. Estas coberturas distinguem-se das anteriores, por apresentar duas incli-
nações diferentes em cada água, permitindo um pé-direito superior possibilitando a uti-
lização de águas furtadas como piso de habitação.

No que se refere à composição das asnas, são diferentes para os dois tipos de cober-
turas. Nas coberturas amansardadas, verifica-se a presença de pernas de força e pru-
mos onde assentam estruturas iguais às estruturas de cobertura simples. Nos dois tipos
de cobertura são utilizadas telhas de canudo aplicadas de baixo para cima.

9
Capítulo 2 - Descrição dos Edifícios Pombalinos

Figura 2.7: Estrutura de asna simples [15]

Figura 2.8: Estrutura de asna amansardada [15]

2.2.5. Escadas

No que diz respeito às escadas dos edifícios pombalinos, estão localizadas no interior
do edifício com iluminação natural através de uma claraboia. Por razões de segurança
relacionadas com a propagação de incêndios, na maioria dos edifícios, os degraus do
primeiro lance de escadas que dá acesso aos pisos residenciais era de pedra e nos
lances seguintes a escada era de madeira, conforme mostra a Figura 2.9. As escadas
apoiam nas paredes de alvenaria e paredes de frontal que se encontram nas suas late-
rais.

10
Capítulo 2 - Descrição dos Edifícios Pombalinos

Figura 2.9: Estrutura da escada do piso térreo [11]

2.3. Materiais
No que diz respeito aos materiais, os edifícios pombalinos apresentam três tipos de
materiais: alvenaria, madeira e ferro.

2.3.1. Alvenaria

A alvenaria de pedra é o principal material estrutural utilizado em edifícios pombalinos


e, sendo assim, é um material de elevada importância no estudo dos edifícios antigos.
Trata-se de um material heterogéneo, descontínuo e anisotrópico, constituído por pe-
dras, blocos e/ou tijolos agregados por argamassa apresentando superfícies de roturas
ou de concentração de esforços. As suas características mecânicas são influenciadas
pelos materiais constituintes, pelas características das argamassas de assentamento e
das técnicas construtivas [16].

A alvenaria que constitui as paredes de edifícios pombalinos, apresenta uma resistência


à tração baixa, ao nível de 0,4 MPa, embora tenha uma aceitável resistência à compres-
são, ao nível de 4 MPa. O seu comportamento é adequado para resistir às ações verti-
cais, mas não é apropriado para as ações horizontais, associadas principalmente ao
corte [17, 18].

2.3.2. Madeira

A madeira na construção pombalina, é um material omnipresente uma vez que está


empregue nas fundações, paredes de frontal, pavimentos, escadas e coberturas. Há
uma variabilidade de espécies de madeiras presente nos edifícios pombalinos, diversi-
ficando-se consoante o elemento onde pertencem: estacas, pavimentos, frontais e co-
berturas. De forma geral distinguem-se, três tipos de madeiras utilizadas com mais fre-
quência na época pombalina, o pinheiro bravo, pinho de flandres e o carvalho [14].

11
Capítulo 2 - Descrição dos Edifícios Pombalinos

A madeira é um material anisotrópico que exibe um comportamento diferente mediante


a direção do carregamento em relação à orientação das fibras (Figura 2.10). De forma
natural, cada espécie de madeira apresenta particularidades e dentro da mesma espé-
cie as características variam. É importante sublinhar que com a identificação da espécie
é possível estimar as características mecânicas da madeira, mas não revela as peculi-
aridades, como por exemplo a existência dos nós, das fendas, da humidade e nem iden-
tifica a orientação das fibras face às cargas atuantes, aspetos com grande influência na
resistência mecânicas das peças de madeira [19].

Figura 2.10: Orientação das fibras de madeira face à carga aplicada, adaptado de [19]

2.3.3. Ferro

O ferro está presente nas construções pombalinas nos dispositivos de ligação entre os
elementos estruturais em forma de pregos em ferro forjado, proporcionando uma boa
ligação entre os principais elementos estruturais. Os pregos utilizados nos frontais e
pavimentos são caracterizados por serem fabricados manualmente, terem cabeça larga,
secção quadrada desigual, comprimento que varia em função da espessura do ele-
mento de madeira a ligar, e terminam em bico ou gume.

Figura 2.11: Pregos utilizados na construção pombalina [10, 20]

12
Capítulo 3

3. Comportamento Estrutural das Paredes


Nesta secção, serão apresentados resultados experimentais reportados na literatura re-
lacionados com o comportamento estrutural de paredes de edifícios pombalinos, assim
como várias técnicas que podem ser adotadas para a sua modelação numérica.

A resposta sísmica de um edifício depende da interação/ligação entre os elementos es-


truturais resistentes e da combinação das suas propriedades mecânicas e dinâmicas
face à solicitação sísmica. No caso dos edifícios pombalinos destacam-se dois tipos de
elementos estruturais resistentes, com contribuição relevante na presença dos sismos:
paredes de alvenaria exterior e as paredes frontais.

3.1. Paredes de Alvenaria


Nesta subsecção, apresentam-se dois ensaios experimentais realizados no LNEC e no
DEC FCT/UNL, e discute-se o comportamento e/ou mecanismo de colapso e possíveis
técnicas de modelação numérica.

3.1.1. Ensaios Experimentais

No âmbito do trabalho experimental realizado em 1997 no Laboratório Nacional de En-


genharia Civil (LNEC) da autoria do S. Pompeu Santos [21], a pedido da OZ Empresa,
Lda., procedeu-se ao ensaio de provetes de paredes de alvenaria pombalina, retirados
de paredes de empena de um dos pisos superiores de um edifício localizado na Baixa
em Lisboa. Estas paredes em alvenaria ordinária, são constituídas por materiais diver-
sos tais como pedras e pedaços de tijolos embebidos numa argamassa de cal aérea e
areia. Os provetes têm a configuração de um paralelepípedo de base sensivelmente
quadrada com cerca de 0,75 m de lado, correspondente à espessura da parede e com
aproximadamente 1,5 m de altura.

Os provetes foram preparados e ensaiados à compressão simples. Os ensaios consis-


tiram na aplicação duma força de compressão monotónica crescente até a rotura dos
provetes. O resultado obtido caracteriza os provetes com o valor da resistência à com-
pressão de 0,85 MPa para uma força de 474 kN. Os modos de rotura observado durante
os ensaios são semelhantes, com desenvolvimento de fissuras longitudinais ao longo
dos provetes. Na Figura 3.1 ilustra-se a preparação dos provetes para a realização do
ensaio e o resultado obtido.

13
Capítulo 3 - Comportamento Estrutural das Paredes

Apresenta-se também a campanha experimental realizada no Departamento de Enge-


nharia Civil, da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa
(DEC FCT/UNL) em 2007 no âmbito da tese de doutoramento de F. Pinho [22]. Para
esse estudo, foram construídos em 2002 e segundo técnicas tradicionais, 62 muretes
tendo como referência a composição das paredes de edifícios da Baixa Pombalina, por
operários com experiência em trabalhos de conservação e reabilitação de edifícios an-
tigos. O trabalho realizado por F. Pinho em [22], estuda a eficácia de diversas soluções
de reforço aplicadas a modelos experimentais de alvenaria ordinária, com objetivo de
compreender, do ponto de vista experimental, o comportamento das construções em
alvenaria ordinária, simples ou reforçada, face a diferentes tipos de ações.

a) b)

Figura 3.1: Ensaio de compressão simples no LNEC: a) preparação dos provetes; b)


diagrama força deslocamento [21]

Para o desenvolvimento do trabalho, realizaram-se trinta e cinco ensaios mecânicos,


dos quais vinte e três ensaios de compressão axial e doze ensaios de compressão-
corte, para a caracterização da resistência mecânica dos muretes em alvenaria de pe-
dra, servindo como referência para eventuais trabalhos futuros.

Os resultados obtidos caracterizam os muretes de referência (simples ou sem reforço)


com o valor médio de tensão de 0,43 MPa para uma força média de 136,8 kN. No que
se refere ao mecanismo de colapso, os muretes de referência ensaiados a compressão
axial, apresentam rotura por “esmagamento”. Este fenómeno de rotura está associado
ao desenvolvimento de fendas (vertical e inclinada) do topo para a base dos muretes,
verificando-se o desprendimento sucessivo de argamassas e pedras ao longo da linha
de desenvolvimento das fendas.

Apresenta-se na Figura 3.2 o ensaio de compressão axial de um dos muretes, antes do


início do carregamento, durante a aplicação do carregamento até ao colapso e o resul-
tado obtido.

14
Capítulo 3 - Comportamento Estrutural das Paredes

a) b) c)

d) e)

Figura 3.2: Ensaio de Compressão axial no DEC FCT/UNL: a) dispositivo de ensaio;


b) início do ensaio; c) formação de uma fenda diagonal; d) colapso do murete; e) di-
agrama força deslocamento [22]

3.1.2. Comportamento Sísmico de Paredes de Alvenaria e Mecanismos de Co-


lapso

Na presença de um sismo, as paredes de alvenaria respondem simultaneamente no


plano e perpendicular ao plano (Figura 3.3). O comportamento para fora do plano das
paredes é caracterizado por uma baixa rigidez e resistência dado que estão associados
ao eixo de menor inércia. A rigidez está associada à flexão e a resistência é condicio-
nada pelos esforços de tração e/ou compressão na base resultante da flexão composta,
provocada pelas ações horizontais e verticais. O comportamento no plano da parede
apresenta uma rigidez e resistência substancialmente superior às para fora do plano
visto que agora estão associados ao eixo de maior inércia. No plano da parede, a rigidez
é garantida pela flexão e corte, e a resistência está associada a interação entre as ten-
sões normais e tangencias que se desenvolvem devido à combinação das ações verti-
cais com as ações horizontais [23].

Tendo em conta este tipo de comportamento, pretende-se garantir uma ligação eficaz
das paredes, apoiando-se mutuamente para poder assegurar um comportamento sís-
mico satisfatório. Previamente desconhece-se a orientação dos sismos e, é vista como

15
Capítulo 3 - Comportamento Estrutural das Paredes

uma possibilidade de assegurar um bom comportamento sísmico, dispor as paredes em


duas direções ortogonais como ilustra a Figura 3.4. As paredes devem ser dispostas de
forma a explorar ao máximo os mecanismos de danos no plano e impedir os mecanis-
mos para fora do seu plano.

a) b)

Figura 3.3: Comportamento de paredes de alvenaria isoladas atuadas por forças hori-
zontais: a) comportamento no plano; b) comportamento fora do plano; original de [23]
citando [24]

Na Figura 3.5 ilustra-se uma situação em que a ligação entre as paredes por si só não
é suficiente para evitar a formação de mecanismos para fora do plano, devido ao com-
primento excessivo de duas paredes, colocando em causa a eficiência e o apoio das
paredes ortogonais ao longo da sua extensão. Para resolver esta situação, a contribui-
ção dos pavimentos no contraventamento das paredes ao nível dos pisos é importante.
Conforme a deformabilidade dos pavimentos no seu plano, pode dizer-se que os dia-
fragmas são mais flexíveis ou mais rígidos. De uma forma geral, os pavimentos de ma-
deira existentes nos edifícios antigos funcionam como diafragmas flexíveis. A influência
dos pavimentos no impedimento de deslocamentos da parede para fora do seu plano,
poderá ser consultada em [23, 25].

Figura 3.4: Efeito da ligação entre paredes, original de [23] citando [24]

16
Capítulo 3 - Comportamento Estrutural das Paredes

Uma outra solução a ter em consideração, é dispor transversalmente algumas paredes


para contraventar as paredes mais compridas dividindo-as em vários troços mais pe-
quenos, devendo-se salvaguardar uma qualidade adequada na ligação das paredes.

a) b)

Figura 3.5: Efeito da ligação entre as paredes e pavimentos-paredes: a) ausência de


contraventamentos; b) efeito de pavimento rígidos; adaptado de [23] citando [24]

O derrubamento das paredes para fora do plano é um mecanismo espectável em muitos


edifícios antigos quando sujeitos a ações sísmicas horizontais [25]. Quando o pavimento
não está adequadamente ligado às paredes adjacentes, as ligações entram em colapso
no andar de cima, seguindo-se a rotura da fachada com um efeito tipo dominó progres-
sivo para fora do plano da parede. O progresso do mecanismo referido, e ilustrado por
exemplo na Figura 3.6 a), no caso em que a charneira se forma ao nível do último piso,
provocando o colapso da fachada e da cobertura deste piso. Em alternativa, como se
constata na Figura 3.6 c), quando a charneira se forma no piso zero, origina o derruba-
mento total da parede da fachada e o colapso dos pisos acima da charneira [16].

a) b) c)

Figura 3.6: Derrubamento da parede por flexão composta para fora do plano [16]

17
Capítulo 3 - Comportamento Estrutural das Paredes

No que se refere ao mecanismo de colapso no plano da parede, este depende da geo-


metria dos nembos, lintéis e aberturas. Em geral ocorre quando a ligação entre as pa-
redes ortogonais é eficiente. Relativamente aos nembos de alvenaria a Figura 3.7 re-
presenta os principais mecanismos de rotura no plano, podendo ser resumidos da se-
guinte forma [26]:

▪ Flexão composta: à medida que as exigências em força ou deslocamento hori-


zontal aumentam, surgem fendas devido à tração no topo e na base do nembo.
O colapso final ocorre com o derrubamento e esmagamento do vértice compri-
mido;
▪ Deslizamento: está associado a presença de forças horizontais aplicadas no
nembo, superiores à resistência de corte. Este modo de colapso pode ocorrer
para baixos níveis de carga vertical e/ou coeficiente de atrito. Caracteriza-se por
fendas horizontais ao longo de toda a largura do nembo;
▪ Tração diagonal: a resistência máxima é comandada pela formação e propaga-
ção de fendas diagonais. As fendas propagam-se ao longo das juntas horizontais
e verticais, dependendo da resistência relativa das juntas de argamassa.
▪ Esmagamento: ocorrem nos vértices comprimidos dos nembos, quando a tensão
de compressão gerado pela ação sísmica for superior à capacidade resistente
da alvenaria.

No que se refere ao comportamento dos lintéis pode ser considerado análogo ao de um


nembo, desde que se tenham em consideração as diferenças existentes entre ambos:
o eixo do lintel é horizontal e não vertical como nos nembos; o esforço axial nos lintéis,
introduzido pelas cargas verticais é inferior ao dos nembos.

Figura 3.7: Mecanismo de rotura dos nembos, adaptado de [26]

Nas fachadas dos edifícios antigos, em alvenaria de pedra, a resistência à ação sísmica
e às cargas verticais é garantida pelos nembos, todavia os lintéis desempenham uma
função estrutural importante ao ligarem os nembos. Segundo [27] os lintéis podem

18
Capítulo 3 - Comportamento Estrutural das Paredes

influenciar consideravelmente o comportamento de uma parede com vários pisos. Esta


influência é tanto maior quanto maior for o número de pisos. Observando a Figura 3.8,
constata-se o mecanismo de rotura dos lintéis para ações sísmicas no plano da fachada:
no princípio desenvolvem-se esforços de corte nos lintéis (Figura 3.8 a) proporcionando
à sua rotura (Figura 3.8 b) e o derrubamento da parede passa a depender apenas da
resistência dos nembos. No caso de haver elementos de reforços horizontais resistentes
à tração, estes introduzem compressão nos lintéis e consequentemente aumentam a
resistência à flexão dos lintéis. Perante estas condições, os lintéis ficam sujeitos a dois
possíveis mecanismos de colapso: rotura devido à compressão excessiva das escoras
diagonais (Figura 3.8 c) (semelhante ao colapso dos nembos por flexão composta) e
colapso por tração diagonal (corte) [26, 27].

Figura 3.8: Mecanismo de colapso dos lintéis, comportamento no plano: a) lintel sujeito
à ação sísmica; b) lintel sem reforço; c) lintel reforçado [26, 27]

3.1.3. Avaliação da Resistência de Paredes de Alvenaria

Para determinar a resistência de paredes de alvenaria, quando solicitadas por ações


horizontais no seu plano e perpendicular ao plano, a geometria dos elementos e as
características mecânicas do material constituinte são fundamentais. Como referido na
secção 3.1.2 os mecanismos de colapso podem ser condicionados por: flexão com-
posta, fendilhação diagonal, deslizamento e derrube. A capacidade resistente de pare-
des de alvenaria, pode ser quantificada através de esforços resistentes.

Para a quantificação da resistência à flexão composta, ilustra-se na Figura 3.9 o respe-


tivo modelo de cálculo segundo G. Magenes e Della Fontana [27].

19
Capítulo 3 - Comportamento Estrutural das Paredes

Figura 3.9: Esquema de forças no nembo devidos a flexão composta no seu plano [27]

𝑀 =𝑃∙𝑒
𝑃 } 𝑀 = 𝜎0 ∙ 𝐷 ∙ 𝑡 ∙ 𝑒 (3.1)
𝜎0 =
𝐷∙𝑡
𝑃 = 𝑎 ∙ 𝑘 ∙ 𝑓𝑢 ∙ 𝑡 1 𝑃
𝐷 𝑎 } 𝑒= (𝐷 − ) (3.2)
𝑒=𝐷− − 2 𝑘 ∙ 𝑓𝑢 ∙ 𝑡
2 2
𝜎0 ∙ 𝐷2 ∙ 𝑡 𝜎0 (3.3)
𝑀𝑟𝑑 = ∙ (1 − )
2 𝑘 ∙ 𝑓𝑢
Onde:

𝜎0 é a tensão normal média de compres- 𝐻0 é a distância da secção de momento


são na secção; nulo à secção de controlo;

𝑓𝑢 é a tensão de compressão (valor de 𝑡 é a espessura da parede;


dimensionamento);
𝑘 é o fator de assimilação da distribuição
𝐷 é a largura da parede; de tensão normal a um retângulo (0,85).

Tendo como base o modelo de cálculo apresentado na Figura 3.9, é possível calcular o
esforço transverso máximo resistente do nembo, relacionando o momento resistente
com a distância da secção de momento nulo a secção de controlo, através da expressão
(3.4).

𝜎0 ∙ 𝐷2 ∙ 𝑡 𝜎0 (3.4)
𝑀𝑟𝑑 = 𝑉𝑟𝑑 ∙ 𝐻0 → 𝑉𝑟𝑑 = ∙ (1 − )
2 ∙ 𝐻0 𝑘 ∙ 𝑓𝑢

A resistência ao corte foi modelada de acordo com dois critérios de resistência. O pri-
meiro é definido para a resistência à fendilhação diagonal para ações no plano e pode
ser determinada com base na expressão (3.5) [16, 28]:

20
Capítulo 3 - Comportamento Estrutural das Paredes

1,5 ∙ 𝐶𝑢 ∙ 𝐷 ∙ 𝑡 𝜎0 (3.5)
𝑉𝑟𝑑 = ∙ √(1 + )
𝜉 1,5 ∙ 𝐶𝑢

Onde o parâmetro 𝜉 depende da geometria do nembo e considera a distribuição da


tensão de corte no centro do nembo: 𝜉 = 𝐻⁄𝐷 sendo que: 𝜉 = 1 para 𝐻⁄𝐷 ≤ 1; 𝜉 = 𝐻⁄𝐷
para 1 < 𝐻⁄𝐷 < 1,5; 𝜉 = 1,5 para 𝐻⁄𝐷 ≥ 1,5.

O segundo critério refere-se à resistência ao corte por deslizamento, formulada com


base no critério de Mohr-Coulomb e considera que a tensão máxima de corte está rela-
cionada a secção não fendilhada assumindo uma distribuição simplificada da tensão de
compressão [27]. Analisando a Figura 3.10 e relacionando as forças intervenientes é
possível deduzir o esforço resistente, admitindo que o nembo fendilha por flexão (com-
primento 𝐷 − 𝐷′), apresentando uma zona não fendilhada com o comprimento efetivo
𝐷′.

Figura 3.10: Esquema de forças na base do nembo, deslizamento por corte [27]

Assim sendo, o esforço resistente devido ao deslizamento por corte é calculado com
recurso à equação (3.8).

𝜏 = 𝐶𝑢 + 𝜎 𝑡𝑎𝑛 ∅
𝑉
𝜏= (3.6)
𝐷′ ∙ 𝑡 𝑉 = 𝐷′ ∙ 𝑡 ∙ 𝐶𝑢 + 𝑃 ∙ 𝑡𝑎𝑛∅
𝑃
𝜎=
𝐷′ ∙ 𝑡 }

𝑀 = 𝑉 ∙ 𝐻0 = 𝑃 ∙ 𝑒
𝐷 𝑉 ∙ 𝐻0 (3.7)
𝐷 𝐷′ } 𝐷′ = 3 ∙ ( − )
𝑒=𝐷− − 2 𝑃
2 3
1,5 ∙ 𝐶𝑢 + 𝜎0 ∙ 𝑡𝑎𝑛∅
𝑉𝑟𝑑 = ∙𝐷∙𝑡 (3.8)
3 ∙ 𝐻0
1 + 𝜎 ∙ 𝐷 ∙ 𝐶𝑢
0

21
Capítulo 3 - Comportamento Estrutural das Paredes

Onde:

𝐶𝑢 é a coesão; ∅ é o ângulo de atrito interno;

Como referido na secção 3.1.2, os lintéis apresentam dois possíveis mecanismos de


colapso, mas geralmente a rutura dá-se por corte. A sua resistência pode ser calculada
com recurso à equação (3.9), tendo como base o esquema apresentado na Figura 3.11.

𝑉𝑟𝑑 = 𝐷 ∙ 𝑡 ∙ 𝐶𝑢 (3.9)

Figura 3.11: Área de contacto entre nembo-lintel [16]

3.1.4. Modelação de Paredes de Alvenaria

Dada a importância da manutenção e conservação dos edifícios antigos construídos em


alvenaria de pedra, a modelação das estruturas de alvenaria tem sido um tema abor-
dado por vários técnicos e especialistas na área de Engenharia Civil. A alvenaria é um
material compósito constituído por unidades de alvenaria e ligantes, que apresenta pro-
priedades direcionais distintas devido às juntas de argamassa, que atuam como planos
frágeis na maioria dos casos [29].

No que se refere a informação para a avaliação e modelação estrutural, o conhecimento


adequado da geometria, das disposições construtivas e dos materiais são requisitos
essenciais para proceder a uma avaliação sísmica de um edifício existente. Outros as-
petos são igualmente importantes tais como as alterações introduzidas na estrutura ou
estado de conservação do edifício. A recolha de informação sobre o edifício existente
deverá ser tão exaustiva quanto possível, recorrendo possivelmente, a diversas fontes
disponível específica sobre o mesmo: dados relevantes; trabalhos de campo; medições
e ensaio in situ [30].

Salienta-se que cada edifício possui características arquitetónicas, estruturais e cons-


trutivas próprias. No EC8 - parte 3 [31] é enumerada a informação de base que é ne-
cessário recolher sobre um edifício existente e estabelece três níveis de conhecimento:
limitado (KL1); normal (KL2); integral (KL3). Os níveis de conhecimento são determina-
dos com base na quantidade e qualidade das informações obtidas sobre a geometria,
as disposições construtivas e os materiais utilizados na construção do edifício. O Anexo
C do EC8 - parte 3 [31] fornece indicações complementares sobre os dados que devem

22
Capítulo 3 - Comportamento Estrutural das Paredes

ser recolhidos sobre a geometria, as disposições construtivas e os materiais específicos


para edifícios existentes de alvenaria. Cada nível de conhecimento requer um certo nú-
mero de inspeções aos elementos estruturais e amostras por piso, devendo-se assegu-
rar qua a informação recolhida tem a quantidade e a qualidade adequadas pois isso
determina o método de análise admissível bem como os valores a adotar para o coefi-
ciente de confiança (CF). Apresenta-se na Tabela 3.1 a relação entre os níveis de co-
nhecimento, as inspeções, os ensaios, os métodos de análise e os coeficientes de con-
fiança.

Tabela 3.1 - Relação entre os níveis de conhecimento, as inspeções, os ensaios, os


métodos de análise e os coeficientes de confiança

Nível de Método de Coeficiente de


Inspeções Ensaios confiança (CF)
conhecimento análise

20% dos 1 amostra 1,35


Conhecimento limitado (KL1) Linear
elementos por piso

50% dos 2 amostras Linear e 1,20


Conhecimento normal (KL2)
elementos por piso não linear

80% dos 3 amostras Linear e 1,00


Conhecimento integral (KL3)
elementos por piso não linear

Aquando da elaboração do projeto de remodelação da estrutura do 4º e 5º andares e


da cobertura do presente edifício em estudo, foi possível obter informações sobre a
geometria, as disposições construtivas e os materiais utilizados na construção do edifí-
cio, no entanto as restantes características dos elementos estruturais são desconheci-
das, uma vez que não foram recolhidas amostras nem realizados os ensaios necessá-
rios à sua correta caracterização. Assim sendo, considera-se que o nível de conheci-
mento da estrutura é limitado, uma vez que não foram realizadas análises experimentais
aos materiais.

O nível de conhecimento limitado apenas permite a utilização de métodos de análise


linear, impossibilitando a utilização de métodos de análises não lineares. Apesar desta
limitação e de forma a poder aplicar o método de análise não linear descrito mais a
diante na presente dissertação (subcapítulo 6.3), optou-se por adotar valores a partir de
bibliografia disponível consultada. Deste modo, as características dos materiais e das
secções foram obtidas a partir de valores consultados na bibliografia especializada, e a
validação das características atribuídas foi feita comparando os resultados numéricos
com resultados experimentais descritos no capítulo seguinte.

23
Capítulo 3 - Comportamento Estrutural das Paredes

Genericamente, dependendo do nível de conhecimento a modelação de estruturas de


paredes em alvenaria pode ser realizada utilizando as estratégias de modelação apre-
sentada na Figura 3.12.

▪ Micro-modelação detalhada: as unidades de alvenaria e a argamassa nas juntas


são representadas por elementos contínuos e a interface unidade-argamassa é
representada por elementos descontínuos Figura 3.12 a);
▪ Micro-modelação simplificada: as unidades de alvenaria são representadas por
elementos contínuos enquanto que o comportamento das juntas de argamassa
e da interface unidade-argamassa são representadas por um único elemento
(junta) descontinuo Figura 3.12 b);
▪ Macro-modelação: as unidades de alvenaria, juntas de argamassa e a interface
unidade-argamassa são representadas por um elemento continuo, encarado
como material compósito homogéneo, anisotrópico e continuo Figura 3.12 c);

Figura 3.12: Modelação de estruturas de paredes em alvenaria: micro-modelação a)


detalhada e b) simplificada; c) macro-modelação

A micro-modelação é aplicável quando se pretende estudar com grande pormenor o


comportamento localizado das estruturas de alvenaria e a macro-modelação quando a
estrutura de alvenaria é composta por paredes sólidas com dimensões suficientemente
largas tal que a tensão ao longo do elemento seja essencialmente uniforme. A macro-
modelação é mais orientada para análise global de estruturas, apresentando maior ra-
pidez e facilidade de modelação com precisão e reduzido esforço computacional [29].

O comportamento global de uma estrutura é dependente do comportamento singular de


cada elemento que a constitui, de como interagem entre os vários elementos estruturais
e da forma em que estão ligados. No que se refere a análise sísmica de uma estrutura
em alvenaria, interessa estudar o comportamento no seu plano face às ações cíclicas.
Nesse âmbito, destaca-se o trabalho realizado em [32], que evidencia a possibilidade
de explorar a ductilidade das estruturas em alvenaria. Na Figura 3.13 ilustra-se a relação
força-deslocamento laterais de uma parede de alvenaria obtida por ensaio de resistên-
cia lateral cíclico.

24
Capítulo 3 - Comportamento Estrutural das Paredes

Figura 3.13: Comportamento de uma parede de alvenaria sujeita ao carregamento


lateral cíclico [32]

Na sequência de estudos sobre o comportamento de edifícios em alvenaria face às


ações sísmicas, foi proposto o primeiro método de análise estática não linear, o método
POR [33]. Este método apresentava alguma limitação, que viria a ser melhorada pela
comunidade científica. Surgiram os métodos TREMURI e SAM, desenvolvidos por Gam-
barotta e Lagomarsino em 1978 [34] e por Magenes e Della Fontana em 2000 [27],
respetivamente. Estes dois métodos mais recente de macro-modelação, baseiam-se na
definição de pórticos equivalentes constituídos por nembos e lintéis, vinculados por ele-
mentos rígidos.

Nos parágrafos seguintes começa-se por explicar os princípios do método POR e depois
os desenvolvimentos feitos no método SAM. Este último método é usado para as simu-
lações no âmbito desta dissertação. Para mais detalhes sobre o método TREMURI
aconselha-se a consulta da bibliografia [34].

3.1.4.1. Método POR

Este método foi idealizado para avaliar a segurança sísmica de edifícios de alvenaria
por Tomaževič em 1978, e baseia-se no resultado da experiência adquirida pela obser-
vação de danos causados pelos sismos. O método POR é formulado segundo as se-
guintes hipóteses [33]:

▪ Em cada piso a parede é constituída por nembos vinculados a lintéis rígidos,


admitindo-se o colapso dos nembos por corte diagonal;
▪ A repartição das ações horizontais aplicadas ao nível de cada pavimento (admi-
tido como rígido no seu plano), é proporcional à rigidez elástica dos nembos;
▪ Os esforços normais aplicados sobre cada nembo são independentes das ações
horizontais, o que conduz a soluções desequilibradas;
▪ A verificação da segurança é efetuada piso por piso, sendo o mecanismo de
colapso a rotura por corte do nembo;
▪ O material é caracterizado por uma lei constitutiva elástica-perfeitamente plás-
tica.

25
Capítulo 3 - Comportamento Estrutural das Paredes

Uma das limitações mais evidentes deste método, é considerar o colapso dos nembos
exclusivamente por corte diagonal devido ao tipo de edifícios observados que contem-
plavam fachadas, constituídas por nembos pouco esbeltos (reduzida relação al-
tura/comprimento), sujeito a esforços normais moderados e por lintéis significativamente
rígidos [33]. Esta limitação viria a ser colmatada, quando o método POR foi utilizado
para analisar edifícios com nembos esbeltos e pouco carregados axialmente, o que terá
dado resultados não fiáveis, uma vez que a rotura por flexão composta é mais condici-
onante nestes tipos de casos. Por consequente, e através da investigação experimental
posterior, além do colapso por corte diagonal foi incluído o colapso por flexão composta.
No que se refere a análise não linear para edifícios de alvenaria, o método POR, tem
como procedimento de cálculo da capacidade resistente, a soma das respostas bilinea-
res definidas para cada conjunto de nembos, como ilustrado na Figura 3.14.

Figura 3.14: Princípio de cálculo do método POR, original de [33] citando [34]

3.1.4.2. Método SAM

O método SAM (“Simplified Analysis Masonry Buildings”), inicialmente foi formulado e


proposto por Magenes e Calvi em 1996 e reformulado por Magenes e Della Fontana em
1998, possibilitando a análise não linear de paredes de alvenaria. As paredes podem
ser modeladas com recurso a pórticos equivalentes, onde os nembos e lintéis são re-
presentados por um único macro-elemento, interligados entre si por elementos de liga-
ção considerados rígidos, como se ilustra na Figura 3.15.

A geometria da modelação de paredes de alvenaria por pórticos equivalentes, tem por


base a metodologia proposta por Dolce (1989), onde as relações geométricas podem
ser definidas como ilustram as Figura 3.16 e Figura 3.17, para a definição da altura
eficaz dos nembos e lintéis, respetivamente.

26
Capítulo 3 - Comportamento Estrutural das Paredes

Lintél

Nembo

Elemento de
ligação

Figura 3.15: Pórtico equivalente de uma parede de alvenaria, adaptado de [27]

Os nembos são constituídos por troços deformáveis e rígidos, respetivamente, sendo a


altura eficaz correspondente ao troço deformável dada pela expressão (3.10) [27].

1 ̅ − ℎ′
𝐻
𝐻𝑒𝑓𝑓 = ℎ′ + ∙𝐷∙( ) (3.10)
3 ℎ′

Onde:

𝐻𝑒𝑓𝑓 é a altura eficaz; ̅ é a altura entre pisos;


𝐻

ℎ′ é a altura resultante das relações geométri- 𝐻𝑖 é a altura do elemento de liga-


cas (Figura 3.16); ção (rígido).

𝐷 é a largura e altura dos nembos e lintéis,


respetivamente;

Figura 3.16: Definição da altura eficaz para as colunas, adaptado de [27]

27
Capítulo 3 - Comportamento Estrutural das Paredes

As vigas são deformáveis ao longo do seu comprimento eficaz, com resistência finita. O
comprimento eficaz no caso de aberturas verticalmente alinhadas em pisos consecuti-
vos (Figura 3.17 a) é igual ao comprimento da abertura. Para o caso de aberturas verti-
cais desalinhadas, o comprimento eficaz é definido como ilustrado na Figura 3.17 b).

Figura 3.17: Comprimento eficaz para vigas: a) aberturas verticais alinhadas e b)


aberturas verticais desalinhadas [27]

3.2. Paredes Frontais


Nesta subsecção apresenta-se alguns ensaios reportados na bibliografia especializada,
os mecanismos de colapso e a modelação.

3.2.1. Ensaios Experimentais e Numéricos

No âmbito do mesmo trabalho experimental realizado em 1997 no LNEC [21], o Pompeu


Santos ensaiou provetes que correspondiam a troços das paredes interiores de um edi-
fício localizado na Baixa em Lisboa, com 3,5 m de altura e cerca de 0,20 m de espes-
sura, incluindo duas camadas de reboco com 2,5 cm de espessura. Estas paredes eram
do tipo “gaiola”, constituídas por uma treliça de madeira em cruz de Santo André, pre-
enchida por fragmentos de pedra e tijolo embebidos numa argamassa de cal aérea e
areia.

Figura 3.18: Dispositivo de ensaio [21]

28
Capítulo 3 - Comportamento Estrutural das Paredes

Os provetes foram devidamente preparados para a realização dos ensaios, que consis-
tiram na aplicação duma força horizontal cíclica no topo da parede, através dum dispo-
sitivo de ensaio (Figura 3.18). Os provetes apresentaram comportamento linear na pri-
meira fase, até ao início do despregamento das peças de madeira e por consequente o
surgimento das primeiras fendas, observando-se depois uma fase de comportamento
não linear. Apresenta-se na Figura 3.19 a preparação do provete para a realização do
ensaio. Constata-se através do resultado do ensaio experimental (Figura 3.19 c), que o
provete resistiu a uma força horizontal máxima de 71 kN, para um deslocamento de 10
cm aproximadamente, sem perda significativa da resistência.

Da bibliografia consultada, apresenta-se na Tabela 3.2 alguns trabalhos de investigação


realizados a nível experimental e analítico, estudando o comportamento sísmico das
paredes internas mistas de alvenaria-madeira das construções pombalinas. É impor-
tante salientar que os estudos experimentais são essenciais, pois permitem fornecer
informação crucial para calibrar ou validar os modelos analíticos.

a)

b) c)

Figura 3.19: Carregamento horizontal cíclico: a) preparação do provete; b) provete


pronto para ensaio; c) diagrama força-deslocamentos [21]

Seguindo esta linha de investigação, alguns autores publicaram resultados de estudos


experimentais, com o objetivo comum, de compreender o comportamento sísmico no
plano das paredes frontais. É de referir que, algum desses estudos foram efetuados
para paredes frontais simples (gaiola de madeira) e reforçadas (com chapas metálicas,
dissipador e reboco armado), como ilustrado na Figura 3.20.

29
Capítulo 3 - Comportamento Estrutural das Paredes

a) b)

c) d)

Figura 3.20: Paredes frontais: a) simples; b) reforçada com chapa metálica; c) refor-
çada com dissipadores; d) reforçada com reboco armado [35]

Tabela 3.2 - Trabalhos de investigação realizados

Ano Autores Instituição Título

1997 Pompeu Santos LNEC Ensaios de Paredes Pombalinas [21]

The use of FRP in the strengthening of tim-


H. Cruz, J. P. Moura e
2001 LNEC ber-reinforced masonry load-bearing walls
J. Saporiti Machado
[36]

Comportamento Cíclico de Paredes de


2010 H. Meireles e R. Bento ICIST, IST
Frontal Pombalino [37]

R. Cardoso, M. Lopes Vulnerabilidade Sísmica De Um Edifício


2004 ICIST, IST
e R. Bento Pombalino [38]

J. G. Ferreira, A. M.
Avaliação do Comportamento de Paredes
2011 Gonçalves, L. Guer- ICIST, IST
em Edifícios Pomblinos [39]
reiro e F. Branco
A. M. Gonçalves, J. G. Caracterização Experimental do Comporta-
2012 Ferreira, L. Guerreiro e IST mento Mecânico de Paredes de Frontal
F. Branco Pombalinas Com e Sem Reforço [35]

P. B. Lourenço,
ISISI, U. Edifícios Pombalinos: Comportamento e re-
2014 G.Vasconcelos e E.
Minho forço [40]
Poletti

L. A. S. Kouris, H. Mei- ICIST, U. Simple and Complex Modelling of Timber-


2014 reles, R. Bento e A. J. Greece, U. Framed Masonry Walls in Pombalino Build-
Kappos London ings [20]

30
Capítulo 3 - Comportamento Estrutural das Paredes

Entre os trabalhos indicados na Tabela 3.2, nesta dissertação destaca-se o estudo rea-
lizado em [39], por ser mais completo. No âmbito desse estudo foram realizadas duas
campanhas experimentais, modelação numérica e reforço sísmico. Na presente disser-
tação apresenta-se, apenas a primeira campanha experimental e a modelação numé-
rica, uma vez que o reforço sísmico deste tipo de paredes não será explicado.

Na campanha experimental, os módulos ensaiados (Figura 3.21) foram identificados


como gaiolas de madeira (GM) e paredes de alvenaria (PA). O procedimento do ensaio
consistiu na aplicação de deslocamento no topo dos módulos a uma velocidade média
de 14 mm/min aplicado monotonicamente e uma carga axial de 25kN. Apresenta-se na
Figura 3.22 as curvas de capacidade obtidas para as gaiolas de madeira (GM) e paredes
de alvenaria (PA).

a) b)

Figura 3.21: Módulos de ensaio: a) GM; b) PA [39]

Analisando as três curvas do gráfico da Figura 3.22 a), constata-se que as gaiolas GM1
e GM2 têm uma rigidez inicial semelhante. Observa-se também que a GM3 apresenta
uma maior rigidez e apesar disto é a primeira gaiola a apresentar uma queda brusca do
valor da força para menor deslocamento e, mesmo assim consegue recuperar alguma
rigidez e alcançar a força máxima que é aproximadamente 40 kN. Para GM2 obteve-se
valores superiores de deslocamentos para uma rotura brusca mais tardia, praticamente
sem nenhuma capacidade de recuperar a sua rigidez.

a)
b)
Figura 3.22: Curvas de capacidade (força-deslocamento): a) GM; b) PA [39]

Para os módulos “PA”, observa-se no gráfico da Figura 3.22 b) que as paredes de alve-
naria PA2 e PA3 desenvolvem um comportamento semelhante. O módulo PA1

31
Capítulo 3 - Comportamento Estrutural das Paredes

apresenta uma maior rigidez face aos outros dois módulos. Os módulos PA1 e PA2
atingem maiores valores de força, sendo que PA2 apresenta uma rotura brusca para
menor deslocamento, permitindo que o módulo PA1 atingisse maior valor da força e do
deslocamento. Em suma, analisando os dois gráficos da Figura 3.22 observa-se que a
presença da alvenaria confere maior rigidez e resistência para os módulos. Os módulos
“PA” atingiram maior valor de força de rotura para maior deslocamento, quando se com-
para com os módulos “GM”. Realça-se a importância da presença das alvenarias nos
módulos, pois resistem a carregamentos verticais.

Para simular numericamente o comportamento da parede frontal, a estrutura (Figura


3.23 a) foi modelada com base no conhecimento adquirido nos estudos experimentais,
considerando o módulo de elasticidade de 100 e 250 MPa, para alvenaria e madeira,
respetivamente. A modelação foi efetuada no SAP2000, procurando simular o compor-
tamento real da parede. Utiliza-se elementos lineares do tipo “frame” para modelar a
madeira e para simular o comportamento da alvenaria utiliza-se elementos sólidos tridi-
mensionais. Admite-se que a ligação de meia madeira entre os elementos verticais e
horizontais consegue transmitir os esforços, e que a forma como se faz a ligação das
diagonais aos restantes elementos não confere resistência à tração, devendo ser des-
prezada. Dos ensaios experimentais verificou-se que, as diagonais comprimidas apre-
sentam instabilidades e modos de rotura para fora do plano da parede. Tendo em conta
este fenómeno e de forma a evitar o modo de colapso para fora do plano, manteve-se
as diagonais no modelo numérico reduzindo a sua secção para metade, e esta solução
conduziu a resultados aceitáveis. Apresenta-se na Figura 3.23 a) a geometria do modelo
numérico e na Figura 3.23 c) a curva de resposta do modelo numérico. Constata-se na
Figura 3.23 b) a malha de elementos finitos e elementos lineares que representam a
alvenaria e madeira, respetivamente. Realça-se que a curva de resposta (Figura 3.23
c), foi obtida para pequenos deslocamentos em que o modelo numérico responde basi-
camente em regime elástico. É importante referir que, na presente dissertação, o com-
portamento da estrutura foi modelado para representar todo o comportamento não li-
near, como se verá mais a frente na secção 4.2.

a) b) c)

Figura 3.23: Parede frontal: a) geometria do modelo; b) modelação numérica-


SAP2000; c) curva de resposta [39]

32
Capítulo 3 - Comportamento Estrutural das Paredes

3.2.2. Mecanismos de Colapso

As paredes frontais definem-se como estruturas de madeira constituídas por diversos


painéis planos designados frontais, que se compatibilizam através de prumos verticais
comuns, que pela sua elasticidade adaptam-se aos movimentos do solo sacudido por
um sismo, resistindo de pé e desprendendo-se das alvenarias que podem (ou não) cair
[39]. No estudo experimental desenvolvido por H. Meireles [41], foi possível definir dois
tipos de mecanismos de colapso das paredes frontais que se apresentam a seguir nesta
subsecção: mecanismos de colapso no plano e fora do plano.

3.2.2.1. Mecanismo de Colapso no Plano

A autora definiu que o primeiro mecanismo pode ser identificado como efeito “rocking”
(Figura 3.24 a), e tem a ver com o movimento do corpo rígido da parede carregada em
torno de um ponto fixo na base da estrutura, provocando deslocamento dos nós para
cima e para baixo. Refere-se que neste tipo de mecanismo enquanto as alvenarias não
colapsarem e, por consequência, as diagonais não são solicitadas, ou seja, não são
comprimidas ou tensionadas. Observa-se na Figura 3.24 b) que o nó movimenta para
cima e para baixo, provocando esforço de tração e de compressão. O movimento do nó
para cima provoca esforço de corte, que é resistido pelos pregos que asseguram a liga-
ção entre os elementos, enquanto que o movimento do nó para baixo é resistido pelo
elemento horizontal disposto na base da estrutura.

a) b)

Figura 3.24: Mecanismo de colapso no plano: a) efeito “rocking”; b) movimento do


nó, para cima e para baixo; adaptado de [41]

3.2.2.2. Mecanismo de Colapso Fora do Plano

H. Meireles [41] mencionou que o segundo mecanismo está associado à distorção das
paredes frontais. Durante a realização dos testes experimentais, verificou-se o destaca-
mento das alvenarias de preenchimento das gaiolas de madeira para pequenos deslo-
camentos (Figura 3.25 a), com o aumento da força horizontal. Com o destacamento da
alvenaria deixa da haver confinamento, e a resistência da parede fica condicionada à
resistência das diagonais. O ponto onde cruzam as diagonais é um ponto frágil, porque

33
Capítulo 3 - Comportamento Estrutural das Paredes

a ligação é do tipo meia madeira e há sempre espaços para pequenos deslocamentos.


Assim sendo, o segundo mecanismo de colapso é caracterizado pela encurvadura e
repentina perda de resistência da estrutura com a rotura das diagonais para fora do
plano, quando estas são comprimidas, como se ilustra na Figura 3.25 b) e c) [37].

a) b) c)

Figura 3.25: a) destacamento da alvenaria da madeira; b) diagonal comprimida e iní-


cio da encurvadura; c) rotura da diagonal por encurvadura [41]

3.2.3. Modelação de Paredes Frontais

Apresenta-se nesta subsecção o modelo analítico proposto H. Meireles [41] de forma


pormenorizada, visto que serviu de base na modelação adotada nesta dissertação.

Tendo como base os conhecimentos adquiridos dos ensaios experimentais realizados,


a autora propôs um modelo analítico para simular o comportamento não linear das pa-
redes frontais. Ela simulou analiticamente o comportamento das estruturas ensaiadas
no LNEC por P. Santos [21], recorrendo-se ao programa de cálculo SAP2000. Na mo-
delação, a autora representou a alvenaria por elementos do tipo “shell” e a madeira por
elementos do tipo “frame”, com as seguintes simplificações:

▪ As diagonais não resistem à esforços de tração;


▪ Utilizou “rigid link” para ligar os elementos “shell” aos elementos “frame”;
▪ As ligações entre os elementos do tipo “frame” foram admitidas como rotuladas;
▪ Nos apoios foram utilizadas molas, para simular o efeito “rocking” da parede;
▪ As cargas verticais aplicadas, correspondem às cargas do ensaio experimental.

Ilustra-se na Figura 3.26 o modelo numérico desenvolvido no SAP2000, para simular o


comportamento da parede frontal. Nota-se que, a cor preta representa os elementos de
madeira, a cor verde representa a área da alvenaria e a cor vermelha representa os
“rigid link”. O “H” e o “V” representam, a força horizontal e as cargas verticais, respeti-
vamente, aplicada ao modelo analítico. No que se refere às propriedades mecânicas
dos materiais, apresenta-se na Tabela 3.3 os respetivos valores considerados para a
modelação numérica [41].

A validação do modelo numérico apresentado em [41], centra-se na comparação do


resultado obtido com o resultado do ensaio experimental, sobrepondo-se as curvas his-
teréticas como ilustrado na Figura 3.27, evidenciando-se uma correspondência razoável

34
Capítulo 3 - Comportamento Estrutural das Paredes

entre as curvas sobrepostas. A diferença entre as curvas é mais acentuada no recarre-


gamento da estrutura, uma vez que o declive da curva numérica é substancialmente
superior ao declive da curva obtida no ensaio experimental. Esta eventual diferença é
explicada pela não consideração da degradação da resistência verificada nas paredes
ensaiadas no LNEC no modelo numérico, que afeta diretamente à sua rigidez.

Figura 3.26: Modelo numérico (unidades em metros) [41]

Tabela 3.3 - Propriedades mecânicas dos materiais

Peso Específico Modulo de Elasticidade


Materiais Coeficiente de Poisson
(kg/m3) (MPa)

Madeira 580 12000 0,2

Alvenaria 2242,61 770 0,2

Figura 3.27: Paredes frontais sob carregamento horizontal cíclico, adaptado de [41]

35
Capítulo 4

4. Validação da Modelação Adotada


No presente capítulo, apresenta-se a modelação dos elementos estruturais dos edifícios
pombalinos, através de estruturas simples, de forma a garantir resultados numéricos
fiáveis. Os elementos estruturais em questão são: paredes de alvenaria (exteriores) e
paredes frontais. No que se refere a validação da modelação, efetua-se a comparação
dos resultados numéricos obtidos, com o resultado dos ensaios experimentais reporta-
dos na literatura especializada consultada. Apresenta-se a seguir de forma pormenori-
zada, os procedimentos adotados para efetuar a modelação e validação das paredes
de alvenaria e paredes frontais. Na Figura 4.1 ilustra-se um desenho esquemático com
os tipos de paredes a modelar.

Figura 4.1: Paredes a modelar

4.1. Paredes de Alvenaria


Tendo como base o método SAM descrito na subsecção 3.1.4.2, efetuou-se a modela-
ção da parede de alvenaria no SAP2000. A parede modelada “Door wall”, fez parte de
um edifício em alvenaria com dois pisos, ensaiada à escala real na Universidade de
Pavia por G. Magenes [42]. Apresenta-se na Figura 4.2 a geometria do modelo experi-
mental e na Figura 4.3 a) a geometria da parede “Door wall” analisada no presente caso
de estudo, cuja espessura (t) é de 0,25 m.

36
Capítulo 4 - Validação da Modelação Adotada

Figura 4.2: Geometria do modelo experimental [42]

O procedimento experimental, consistiu na realização de ensaios quase estáticos onde


foram impostos deslocamentos cíclicos ao nível dos pisos nas posições 1, 2, 3 e 4 indi-
cadas na Figura 4.2, através da qual foi possível obter a curva de comportamento (Fi-
gura 4.5), que serviu como base para calibrar e validar a presente modelação numérica.

Para representar a parede de alvenaria, definiu-se o respetivo pórtico equivalente se-


guindo as metodologias apresentadas na secção 3.1.4.2. O pórtico equivalente é cons-
tituído por nembos e lintéis, ambos deformáveis e interligados por elementos de ligação
do tipo rígido. Apresenta-se na Figura 4.3 a) o pórtico equivalente da parede “Door wall”
e na Figura 4.3 b) a definição de zonas rígidas. Refere-se que as zonas rígidas e defor-
máveis dos nembos e lintéis, estão representadas pela cor azul e preto, respetivamente,
e as secções com hachuras identificam as zonas rígidas da parede.

7 8 9

30°
4 5 6

1 2 3

a) Rótula Plástica V- Rótula plástica M- b)


Figura 4.3: “Door wall”: a) pórtico equivalente; b) definição de zonas rígidas

37
Capítulo 4 - Validação da Modelação Adotada

Com o pórtico equivalente definido, o passo seguinte é a definição das cargas a aplicar
nos nós do pórtico, numerados de 4 a 9 na Figura 4.3 a). Resumidamente, as cargas
são compostas por duas componentes: a primeira diz respeito ao peso próprio da pa-
rede e a segunda às cargas atuantes no piso. As cargas provenientes dos pisos são
calculadas com recurso a áreas de influência e devidas ao peso próprio, restante carga
permanente e sobrecargas de utilização. Uma vez que o objetivo é validar a metodologia
de cálculo utilizando o SAP2000 por comparação com os resultados obtidos em [42], os
valores das cargas a aplicar serão os mesmos que foram aplicados nesse estudo. As-
sume-se que cada nó tem a área de influência representada por linhas tracejadas (Fi-
gura 4.3 a) e que metade da carga da parede do piso térreo é encaminhada diretamente
para a fundação. Apresenta-se na Tabela 4.1 e na Tabela 4.2, os dados relevantes uti-
lizados na definição da geometria do pórtico equivalente, para nembos e lintéis, respe-
tivamente.

Tabela 4.1 - Dados geométricos do pórtico equivalente, nembos

Nembos D (m) h’ (m) Heff (m) A (m2)

Pa0/Pc0 1,16 2,48 2,54 4,31

Pb0 1,80 2,15 2,34 7,04

Pa1/Pc1 1,16 1,92 2,13 2,94

Pb1 1,80 1,24 2,06 4,84

Tabela 4.2 - Dados geométricos do pórtico equivalente, lintéis

Lintéis D (m) L (m) Leff (m)

S0/S1 1,68/1.36 2,42 0,94

Na Tabela 4.3, apresenta-se a distribuição das cargas verticais, o esforço axial, a tensão
e a distância do ponto de momento nulo à extremidade (H0), para os nembos. Para a
definição do H0 é necessário carregar a estrutura em simultâneo com as cargas verticais
e forças gravíticas horizontais (F1 = 145,1 kN e F2 = 175,1 kN) ao nível dos pisos. Ilustra-
se na Figura 4.4 os diagramas de esforços e tensão nos nembos e lintéis.

No que diz respeito ao posicionamento das rótulas plásticas de flexão nos nembos, e
tendo em conta que os diagramas de momentos apresentam valores máximos nas ex-
tremidades (Figura 4.4 d), as rótulas foram consideradas nas secções extremas dos
nembos. No presente caso de estudo, a massa da parede é concentrada no topo dos
nembos, o que faz com que o andamento dos diagramas de esforço transverso seja
constante ao longo da altura dos nembos (Figura 4.4 c). Assim sendo, opta-se pela
colocação das rótulas plásticas de corte a meia altura dos nembos. Os lintéis, estão
sujeitos a esforço transverso constante ao longo do seu comprimento, pelo que é

38
Capítulo 4 - Validação da Modelação Adotada

indiferente o posicionamento das rotulas plásticas de corte (Figura 4.4 c). Optou-se por
colocar estas rótulas a meio comprimento dos lintéis. Na Figura 4.3 b) representou-se
esquematicamente, o posicionamento das rotulas plásticas de flexão e corte, para nem-
bos e lintéis. A capacidade resistente das rótulas plásticas de flexão e de corte, foi defi-
nida conforme referido na subsecção 3.1.3, considerando as propriedades mecânicas
da alvenaria indicadas na Tabela 4.4.

Tabela 4.3 - Cargas verticais, esforço axial e tensão nos nembos

Nembos (nó) Carga (kN) N (kN) σ (kPa) H0 (m)

Pa0 (4), Pc0 (6) 54,21 106,72 366,76 1,55

Pb0 (5) 90,17 167,95 373,21 1,57

Pa1 (7), Pc1 (9) 49,78 51,23 175,62 1,05

Pb1 (8) 83,23 80,34 178,53 1,02

a) b)

c) d)

Figura 4.4: Pórtico equivalente, diagramas de esforços e tensão: a) esforço axial,


compressão; b) tensão normal, compressão; c) esforço transverso; d) momentos fle-
tores

39
Capítulo 4 - Validação da Modelação Adotada

Tabela 4.4 - Propriedades mecânicas da alvenaria

Módulo de elasticidade 𝐸 1,3 GPa

Módulo de distorção 𝐺 5 MPa

Peso volúmico 𝛾 19 kN/m3

Coeficiente de poisson 𝜈 0,2

Tensão de Compressão 𝑓𝑢 2,2* MPa

Coesão 𝐶𝑢 480 KPa

Atrito 𝜇 0,75

O momento resistente é dado pela expressão (3.3) e o esforço transverso resistente é


o valor mínimo dado pelas expressões (3.5) e (3.8), para os nembos. O esforço trans-
verso resistente para os lintéis é dado pela expressão (3.9). Para a caracterização das
rótulas plásticas no SAP2000, definiu-se limites de deformação plástica, possibilitando
calcular esforços plásticos a atribuir nestas rótulas. Apresenta-se na subsecção 5.2.1.1,
os detalhes sobre a caracterização e modelação das rótulas plásticas e recomenda-se
a consulta das bibliografias [43, 44].

Na Tabela 4.5 apresenta-se os esforços de cedência e os limites de deformação plástica


para os nembos.

Para validar o modelo numérico, realiza-se a comparação do resultado obtido através


da modelação numérica com os resultados dos ensaios experimentais obtido em [42]
para a “Door wall”. A validação centra-se, na sobreposição das curvas de capacidade e
na comparação de mecanismos de rotura. Apresenta-se na Figura 4.5 a sobreposição
das curvas de capacidade e na Figura 4.6 a comparação de mecanismos de rotura.

Tabela 4.5 - Esforços de cedência e limites de deformação plástica

Nembos Mrd (kNm) Vrd (kNm) δplástico (m) θplástico (rad)

Pa0 26,77 25,67 0,008 0,015

Pb0 49,60 34,44 0,008 0,019

Pc0 65,39 60,36 0,007 0,009

Pa1 120,96 75,82 0,008 0,017

Pb1 26,77 25,67 0,008 0,015

Pc1 49,60 34,44 0,008 0,019

̅̅̅̅̅̅̅̅
* Alvenaria de tijolo maciço.

40
Capítulo 4 - Validação da Modelação Adotada

SAM
150

100

Força [kN] 50

0
-0.025 -0.02 -0.015 -0.01 -0.005 0 0.005 0.01 0.015 0.02 0.025

-50

-100

-150
Deslocamento [m]

Figura 4.5: Curvas de capacidade, modelo numérico (azul) e ensaio experimental


(preto) [42]

Analisando o gráfico da Figura 4.5, nota-se uma correspondência bastante satisfatória


entre os resultados da modelação numérica e ensaio experimental. Conseguiu-se re-
produzir uma curva dentro da envolvente das curvas histeréticas obtidas experimental-
mente, com uma rigidez na fase elástica muito aproximada. A força máxima obtida é de
142 kN para o modelo numérico, o que subestima a capacidade resistente da parede
em 5%. Assim sendo, de uma forma geral considera-se válido o resultado alcançado.

No que se refere os mecanismos de rotura, apresenta-se na Figura 4.6 a), b) e c) a


evolução do resultado obtido através da modelação numérica e na Figura 4.6 d) o re-
sultado do ensaio experimental. Nota-se através dos resultados da modelação numé-
rica, que os nembos do piso zero e os lintéis do primeiro piso colapsaram por corte. Na
Figura 4.6 d) apresenta-se o estado de dano da parede “Door wall” após a realização
do ensaio experimental. No que se refere o mecanismo de colapso, os nembos e lintéis
colapsaram por corte. O nembo central do piso zero apresenta o mecanismo de colapso
por fendilhação diagonal enquanto que os nembos laterais do mesmo piso apresentam
um fenómeno de rotura por corte unidirecional. Com a força horizontal a atuar da es-
querda para a direita, surgem trações no nembo do lado esquerdo para além das forças
verticais que não provocam os efeitos das forças de corte, originando o modo de rotura
por corte unidirecional com desenvolvimento de fissuras do canto inferior esquerdo para
o canto superior direito. O nembo do lado direito fica sujeito a compressões elevadas
quer por corte quer por forças verticais a provocar rotura por corte unidirecional, com
desenvolvimento de fissuras do canto superior esquerdo para o canto inferior direito, ao
contrário do nembo lado esquerdo. Ambos os lintéis do primeiro piso colapsaram por
corte, com início da fendilhação a ocorrer para pequenos carregamentos [42].

41
Capítulo 4 - Validação da Modelação Adotada

a) b)

c) d)

Figura 4.6: Mecanismos de rotura: modelo numérico a), b) e c); d) ensaio experi-
mental [42]

De forma a conferir o valor do módulo de elasticidade para as paredes de empena,


considera-se que o ensaio experimental do LNEC [21] é relevante, pois trata-se do
mesmo elemento estrutural e é constituído pelo mesmo tipo de alvenaria. Os provetes
foram ensaiados à compressão simples, através da qual foi possível obter os diagramas
de força-deslocamento apresentados na Figura 4.7 a), b) e c), para os provetes P1, P2
e P3, respetivamente. Analisando os gráficos dos resultados experimentais, constata-
se um comportamento singular para cada provete, apresentando uma rigidez inicial se-
melhante e uma força de compressão média de 472 kN para deslocamento de 0,95 mm,
aproximadamente. Assim sendo, definiu-se uma curva que representa o comportamento
das três curvas obtidas experimentalmente, designada por curva média e ilustrada na
Figura 4.7 d) a cor azul.

A definição do módulo de elasticidade é feita através da bilinearização da curva média,


que por sua vez representa a curva de capacidade do ensaio experimental obtida em
[21]. A curva bilinear é caracterizada por um comportamento elástico-plástico, sendo
que a rigidez inicial foi definida de maneira que as áreas sobre e sob a curva média
sejam iguais. Apresenta-se na Figura 4.8 a bilinearização da curva média, onde o troço
elástico é caracterizado pela força de 456,4 kN e deslocamento de 0,652 mm.

42
Capítulo 4 - Validação da Modelação Adotada

500 500

400 400
Força [kN]

Força [kN]
300 300

200 200

100 100
P1 P2
0 0
0 0.2 0.4 0.6 0.8 1 1.2 0 0.2 0.4 0.6 0.8 1 1.2
a) Deslocamento [mm] b) Deslocamento [mm]

500 500

400 400
Força [kN]

Força [kN]
300 300

200 200 P1
P2
100 100 P3
P3 C. Média
0 0
0 0.2 0.4 0.6 0.8 1 1.2 0 0.2 0.4 0.6 0.8 1 1.2
c) Deslocamento [mm]
d) Deslocamento [mm]

Figura 4.7: Diagrama força-deslocamento: a), b) e c) provetes ensaiados em [21]; d)


curva média

500

400
Força [kN]

300

200

100
C. Média
C. Bilinear
0
0 0.2 0.4 0.6 0.8 1 1.2
Deslocamento [mm]

Figura 4.8: Bilinearização da curva média

Recorrendo-se à resistência dos materiais sabe-se que o módulo de elasticidade é a


relação entre a tensão e deformação. Com a definição da rigidez inicial, torna-se possí-
vel estimar o valor do módulo de elasticidade através desta relação recorrendo à ex-
pressão (4.1). Sabe-se também que, a tensão é a força por unidade de superfície e que

43
Capítulo 4 - Validação da Modelação Adotada

a extensão é a deformação linear por unidade de comprimento, assim sendo é possível


determinar o valor do módulo de elasticidade aplicando a expressão (4.2).

𝜎 = E∙𝜀 (4.1)

𝐹 𝐿
E= ∙ (4.2)
𝐴 ∆𝐿
Onde:

𝜎 é a tensão; A é a área;

𝜀 é a deformação; 𝐿 é o comprimento;

𝐸 é o módulo de elasticidade; ∆L é a variação do comprimento.

F é a força;

Com base no resultado experimental do LNEC [21] e na bibliografia consultada [22, 28,
45, 46], os valores do módulo de elasticidade para este elemento estrutural costumam
variar entre 0,3 e 3,0 GPa. O valor do E obtido através da expressão (4.2) é de aproxi-
madamente 2,14 GPa. Em suma, o valor estimado para o E está dentro da média dos
valores reportados na bibliografia consultada. É de salientar que para a modelação nu-
mérica considera-se um valor conservativo para o módulo de elasticidade de 2,0 GPa.

4.2. Paredes Frontais


Nesta secção efetua-se a modelação numérica do trabalho experimental realizado por
P. Santos [21], referido na subsecção 3.2.1. Pretende-se simular de forma analítica o
comportamento sísmico das paredes frontais ensaiadas no LNEC, recorrendo ao pro-
grama de cálculo automático SAP2000. O modelo numérico desenvolvido tem como
base as informações obtidas nos estudos realizados em [20, 39, 41] e é o resultado da
combinação de várias técnicas de modelação.

A metodologia de modelação proposta apresenta alguma simplificação, com as seguin-


tes características:

▪ Os prumos são rotulados e contínuos;


▪ As travessas são rotuladas na extremidade, garantindo a ligação entre os pru-
mos, compatibilizando às deformações;
▪ As diagonais e a alvenaria de preenchimento não foram modeladas diretamente,
mas considerou-se os seus efeitos;
▪ O comportamento não linear da parede é assegurado através de uma mola não
linear com libertação axial, modelada no lugar das diagonais.

44
Capítulo 4 - Validação da Modelação Adotada

O modelo é constituído por prumos e travessas de madeira, representados por elemen-


tos do tipo “frame” com propriedades elásticas e, no lugar das diagonais modela-se uma
mola não linear, para acomodar a deformação plástica do modelo numérico.

Apresenta-se na Figura 4.9 a configuração da parede frontal a modelar e o seu modelo


numérico concebido no ambiente SAP2000.

a) b)

Figura 4.9: Modelação numérica: a) configuração da parede frontal [21]; b) modelo


numérico concebido no SAP2000

O comportamento não linear das molas foi definido previamente por uma lei constitutiva,
como ilustrada no gráfico da Figura 4.10. No que se refere às configurações, conside-
rou-se as dimensões dos provetes ensaiados em [21], com as propriedades mecânicas
(iniciais) da madeira indicada na Tabela 3.3. Como referido, as diagonais e a alvenaria
de preenchimento não foram modeladas, mas considerou-se indiretamente as suas
massas, combinando o peso específico da alvenaria e da madeira de acordo com as
expressões (4.3) e (4.4), para prumos e travessas, respetivamente. Esta combinação
foi desenvolvida com base no esquema ilustrado na Figura 4.11.

45

30
Força [kN]

15

-15

-30

-45
-0.045 -0.03 -0.015 0 0.015 0.03 0.045
Deslocamento [m]

Figura 4.10: Lei constitutiva definida nas molas

45
Capítulo 4 - Validação da Modelação Adotada

𝛾′𝑝𝑟𝑢𝑚𝑜𝑠 ∙ 𝐴1 = 𝛾𝑚𝑎𝑑. ∙ (𝐴1 + 𝐴4 ⁄2) + 𝛾𝑎𝑙𝑣𝑛. ∙ 𝐴3 ⁄2 (4.3)

𝛾′𝑡𝑟𝑎𝑣𝑒𝑠𝑠𝑎𝑠 ∙ 𝐴2 = 𝛾𝑚𝑎𝑑. ∙ (𝐴2 + 𝐴4 ⁄2) + 𝛾𝑎𝑙𝑣𝑛. ∙ 𝐴3 /2 (4.4)

Onde:

𝛾′ é o peso específico equivalente; 𝛾𝑎𝑙𝑣𝑛. é o peso específico da alvenaria;

𝛾𝑚𝑎𝑑. é o peso específico da madeira; 𝐴𝑖 é a área.

Figura 4.11: Esquema de cálculo do peso específico equivalente

A estrutura da parede frontal modelada foi submetida à uma análise estática não linear
e obteve-se como resultado a curva de capacidade apresentada na Figura 4.12 b) (curva
azul). A validação da modelação numérica efetua-se com base na comparação dos re-
sultados obtidos por via numérica e experimental. A comparação centra-se na sobrepo-
sição da curva de capacidade no gráfico com as curvas histeréticas obtidas em [21].
Apresenta-se na Figura 4.12 a) a configuração deformada da estrutura do modelo nu-
mérico e na Figura 4.12 b) a comparação dos resultados.
Força [kN]

Deslocamento [mm] b)
a)
Figura 4.12: a) configuração deformada, modelo numérico; b) comparação dos re-
sultados, numérico (curva azul) e experimental (curva preta) [21]

46
Capítulo 4 - Validação da Modelação Adotada

Constata-se na Figura 4.12 b) que a curva de capacidade apresenta uma correspon-


dência satisfatória, reproduzindo o comportamento da parede frontal dentro da envol-
vente das curvas histeréticas do ensaio experimental. Na fase elástica, a rigidez do mo-
delo numérico é substancialmente inferior à rigidez do ensaio experimental até os 10
mm. As forças máximas obtidas no ensaio experimental são: 71 kN para deslocamento
de 110 mm e -60 kN para deslocamento de -70 mm, aproximadamente. A força máxima
obtida no modelo numérico é de ±60 kN para deslocamento de ±125 mm, estimando
muito bem a capacidade resistente da parede para deslocamentos negativos e subesti-
mando esta mesma capacidade na ordem dos 15% para deslocamentos positivos. Re-
fere-se que o resultado final do modelo numérico foi obtido com as propriedades mecâ-
nicas da alvenaria indicadas na Tabela 3.3, com exceção do módulo de elasticidade que
foi ajustado para 8,5 GPa. Apesar de apresentar pequenas diferenças entre os resulta-
dos, de uma forma geral conseguiu-se obter um resultado viável e aceitável.

47
Capítulo 5

5. Caso de Estudo e Modelação


Neste capítulo efetua-se a caracterização do edifício em estudo nesta dissertação, indi-
cando a sua localização, solução estrutural e configuração arquitetónica. Apresenta-se
as características mecânicas dos materiais, pormenores e/ou detalhes para modelar os
elementos estruturais do edifício. Por último, e com base na modelação efetuada, esti-
mam-se as principais características dinâmicas do edifício: as frequências e os modos
de vibração.

5.1. Caracterização
O edifício em análise no presente caso de estudo, é do tipo pombalino, foi construído
no final do século XVIII e situa-se na Baixa de Lisboa. A sua configuração arquitetónica
em planta é retangular, com cerca de 16,2 m de fachada e 15,3 m de empena. Possui
um piso térreo servindo para fins comerciais, um piso de sobreloja misto com espaços
de habitação e arrecadação para a loja, e quatro pisos usados para habitação e servi-
ços. Existe um sótão no quarto andar que possui mansardas para a fachada principal e
de pé-direito total para a fachada posterior. O piso térreo tem um pé-direito variável por
causa do declive da rua, a sobreloja tem um pé-direito de 2,53 m e os restantes pé-
direito dos andares são: 3,31 m para o primeiro andar; 3,34 m para o segundo andar;
2,95 m para o terceiro andar; o quarto andar são as águas furtadas do edifício, e tem
um pé-direito variável.

Este edifício é constituído por três tipos de paredes: paredes em alvenaria de pedra
ordinária; paredes frontais (mistas) em alvenaria de pedra ordinária e elementos de ma-
deira; e paredes de tabique em madeira. As paredes de alvenaria são em alvenaria de
pedra ordinária de grande espessura, com exceção da parede da fachada principal que
apresenta uma constituição diferente, sendo em alvenaria de pedra aparelhada até ao
teto da sobreloja, com nembos compostos por blocos de pedra calcária maciça e alve-
naria de pedra ordinária nos pisos superiores. No que diz respeito às espessuras, as
paredes das empenas e fachada principal têm 0,80 m de espessura e a fachada poste-
rior 1,0 m. O edifício apresenta dois tipos de paredes interiores, frontais e tabique, com
espessura de 0,20 m e 0,12 m, respetivamente.

Os pavimentos são constituídos por vigas de madeira, sobre as quais assenta o soalho
também de madeira. As vigas têm diferentes secções (0,16x0,16 m2, 0,20x0,20 m2, etc.),
afastadas entre si com cerca de 0,50 m, com tarugos dispostos perpendicularmente às
vigas, uniformizando o deslocamento lateral das vigas. O pavimento da sobreloja

48
Capítulo 5 - Caso de Estudo e Modelação

assenta diretamente sobre os arcos em alvenaria de pedra, paredes exterior e interior.


Os restantes pavimentos dos pisos elevados, assentam nas paredes frontais, nas pare-
des das fachadas e das empenas. No que se refere à cobertura, considera-se ser do
tipo simples e a sua estrutura apoia nas paredes das fachadas, principal e posterior,
respetivamente. O forro dos tetos é em madeira ou estafe.

A solução estrutural deste edifício, como inicialmente prevista, foi concebida de modo a
transferir as cargas verticais dos pavimentos às vigas de madeira e destas às paredes
estruturais de modo uniforme e sem grandes concentrações, que por sua vez encami-
nham as cargas até às fundações. Em alguns casos específicos, como por exemplo no
piso térreo deste edifício, a transferência de cargas até às fundações é efetuada por
arcos em alvenaria de pedra de cantaria aparelhada.

Apresenta-se na Figura 5.1 a fachada principal do edifício em estudo e na Figura 5.2 a


planta do 1º andar que representa as plantas dos restantes andares. Salienta-se que,
para a presente dissertação considerar-se-á o edifício na sua forma original, adotando-
se algumas simplificações de forma uniformizar e facilitar a modelação. As paredes fron-
tais distribuem-se segundo três alinhamentos perpendiculares e dois alinhamentos pa-
ralelos às fachadas, do piso térreo ao 4º andar. Apresenta-se na Figura 5.3, através
duma planta representativa a configuração simplificada assumida.

Figura 5.1: Fachada principal

49
Capítulo 5 - Caso de Estudo e Modelação

Figura 5.2: Planta do 1º andar

4
3.65

3
4.61

Paredes Frontais

Paredes Exteriores
6.24

1
5.17 3.14 4.57 2.63

A B C D E

Figura 5.3: Configuração simplificada (dimensões em metros)

50
Capítulo 5 - Caso de Estudo e Modelação

5.2. Modelação
Nesta secção efetua-se a modelação global do edifício no programa de cálculo automá-
tico SAP2000. Descrevem-se os pormenores e/ou detalhes da modelação dos elemen-
tos estruturais do edifício e a forma de atribuição da massa dos elementos (estruturais
e não estruturais) que constituem o edificado. Procedeu-se à realização da modelação
por fases, para garantir a sua funcionalidade e um reduzido esforço computacional.

5.2.1. Elementos Estruturais

Descreve-se nesta subsecção, o modo como foram modelados os elementos que cons-
tituem o edifício. Estes elementos são: paredes de alvenaria, paredes frontais, pavimen-
tos, escadas e cobertura. É de referir que, para a modelação desses elementos, foram
consideradas as dimensões presentes na literatura quando as mesmas não se encon-
travam disponíveis em [2].

5.2.1.1. Parede de Alvenaria

A modelação deste tipo de parede foi efetuada com recurso ao método SAM, seguindo
as metodologias de cálculo referidas na subsecção 3.1.4.2. A parede é representada
por um pórtico equivalente, constituído por nembos e lintéis definidos como elementos
do tipo “frame”, interligados por elementos rígidos (“rigid offset”) nas suas extremidades
e encastrados à fundação.

Para modelar os mecanismos de colapso das paredes de alvenaria referido na secção


3.1.2, foram definidas rótulas plásticas de momento-rotação (𝑀 − 𝜃) e força-desloca-
mento (𝑉 − 𝛿).

O programa SAP2000 permite modelar o comportamento não linear que resulta das
características geométricas da estrutura ou das propriedades mecânicas dos materiais
através de rótulas plásticas. Para cada grau de liberdade da rótula é definida uma curva
momento-rotação ou força-deslocamento, que limita a força de cedência, força última e
força residual, e esta última permite o aumento da deformação até atingir o colapso da
estrutura. A curva padrão que define o comportamento não linear no SAP2000 é ilus-
trada na Figura 5.4 a).

Tendo em conta as características das rótulas plásticas, adotam-se comportamentos


distintos para os nembos e os lintéis. Os nembos são modelados assumindo um com-
portamento elástico-perfeitamente plástico (Figura 5.4 b) e para as rótulas plásticas
adota-se um comportamento rígido-perfeitamente plástico traduzido pela curva apre-
sentada na Figura 5.4 c). Para os lintéis adota-se um comportamento elástico-frágil (Fi-
gura 5.4 d)) com uma resistência residual de 25% da resistência última, e para as rótulas
plásticas adota-se um comportamento rígido-plástico frágil, como ilustrado na Figura 5.4
e) [43, 44].

51
Capítulo 5 - Caso de Estudo e Modelação

Figura 5.4: Rótulas plásticas: a) curva padrão SAP2000; b) e c) comportamento as-


sumido para os nembos; d) e e) comportamento assumido para os lintéis

No que diz respeito ao posicionamento das rótulas plásticas nos nembos e lintéis, apre-
senta-se na Figura 5.5 o pórtico equivalente da fachada principal, com a definição das
zonas rígidas e deformáveis, e o posicionamento das rótulas plásticas. Nos nembos
foram introduzidas quatro rótulas plásticas de momento-rotação no final das partes de-
formáveis e uma rótula de força-deslocamento a meia altura. Nos lintéis foram inseridas
apenas uma rótula de força-deslocamento a meio vão. Ilustra-se na Figura 5.6 o pórtico
equivalente desta mesma fachada, definido no ambiente SAP2000 e a sua vista “ex-
trude”. É de referir que, as zonas rígidas do pórtico equivalente (Figura 5.5) foram defi-
nidas no SAP2000 (Figura 5.6 a) através de elementos de ligação do tipo “rigid-link” e
através de “offsets”, para os lintéis e nembos, respetivamente.

Para definir o comportamento das rótulas plásticas traduzidas pelas curvas apresenta-
das na Figura 5.4, torna-se necessário conhecer os esforços, as rotações e os desloca-
mentos últimos. Para isso, determina-se em primeiro lugar a rigidez do nembo admi-
tindo-se que o mesmo encontra-se fixo em ambas extremidades, sujeito a uma força
horizontal 𝐹 apresentando um deslocamento elástico 𝛿𝑒 , conforme ilustra o esquema da
Figura 5.7 a).

52
Capítulo 5 - Caso de Estudo e Modelação

Figura 5.5: Pórtico equivalente fachada principal

a) b)

Figura 5.6: Fachada principal, SAP2000: a) pórtico equivalente; b) vista “extrude”

53
Capítulo 5 - Caso de Estudo e Modelação

a) b)

Figura 5.7: Deformada do nembo, sujeito a uma força horizontal, modelo de cálculo:
a) para determinar a rigidez; b) para determinar a rotação elástica

Assim sendo, a rigidez elástica do nembo determina-se através da aplicação da equa-


ção (5.1) tendo em conta que apenas uma parte do nembo é deformável (ℎ𝑒𝑓 ) (Figura
5.7 b).

1 1
𝐾𝑒 = → 𝐾𝑒 = (5.1)
ℎ3 𝑘ℎ ℎ𝑒𝑓 3
𝑘ℎ𝑒𝑓
12𝐸𝐼 + 𝐺𝐴 12𝐸𝐼 + 𝐺𝐴
Onde:

ℎ é a altura do nembo; 𝐺 é o módulo de corte da alvenaria;

𝐸 é o módulo de elasticidade da alvenaria; 𝑡 é a espessura do nembo;


3 𝐷 é a largura do nembo;
𝐼 = 𝑡 ∙ 𝐷 ⁄12 é a inércia da secção;
𝑘 = 1,2 é o coeficiente de corte para
𝐴 = 𝐷 ∙ 𝑡 é a área da secção;
uma secção retangular.
ℎ𝑒𝑓 é a altura deformável;

Com a rigidez elástica definida, determina-se o deslocamento elástico (𝛿𝑒𝑙 ) e a rotação


elástica (𝜃𝑒𝑙 ) para os nembos.

𝑉𝑢 (5.2)
𝐹 = 𝐾 ∙ 𝛿 → 𝑉𝑢 = 𝐾𝑒 ∙ 𝛿𝑒 ↔ 𝛿𝑒 =
𝐾𝑒
𝛿𝑒 (5.3)
𝜃𝑒 =
ℎ𝑒𝑓

54
Capítulo 5 - Caso de Estudo e Modelação

De forma a determinar todos os parâmetros para definir as curvas representadas na


Figura 5.4, os esforços últimos de flexão e corte (𝑀𝑢 e 𝑉𝑢 ) são calculados tendo como
base a geometria dos elementos estruturais e suas propriedades mecânicas. O esforço
de flexão último 𝑀𝑢 = 𝑀𝑟𝑑 é calculado através da equação (3.3) e o esforço de corte
último 𝑉𝑢 = 𝑉𝑟𝑑 é dado pelo valor mínimo resultante das equações (3.5) e (3.8).

No que diz respeito às deformações últimas elásticas dos nembos, define-se 𝜃𝑢 igual a
0,8% da altura efetiva para a flexão e 𝛿𝑢 igual a 0,4% da altura efetiva para o corte. Para
definir o comportamento pós cedência das rótulas plásticas, determinam-se as defor-
mações plásticas recorrendo às expressões (5.4) e (5.5) [43, 44].

𝛿𝑝𝑙á𝑠𝑡𝑖𝑐𝑜 = 𝛿𝑢 − 𝛿𝑒 (5.4)

𝜃𝑝𝑙á𝑠𝑡𝑖𝑐𝑜 = 𝜃𝑢 − 𝜃𝑒 (5.5)

5.2.1.2. Paredes Frontais

A modelação das paredes frontais foi realizada segundo a metodologia descrita na sec-
ção 4.2. Sabe-se, que esta parede tem dois materiais constituintes, a madeira e a alve-
naria. É de referir que, na modelação utilizaram-se elementos do tipo “frame” para re-
presentar os elementos de madeira. A alvenaria de preenchimento não foi considerada
na modelação, considerando apenas a sua massa. Salienta-se, que foram adotadas
simplificações para facilitar a modelação das paredes frontais, assumindo a configura-
ção apresentada na Figura 5.3, alinhadas de forma contínua do piso térreo ao 4º andar.
No que se refere às dimensões, apresenta-se na Tabela 5.1 as dimensões dos elemen-
tos constituintes das paredes frontais, sendo que a altura da parede foi ajustada ao pé-
direito de cada piso do edifício em estudo. Ilustra-se na Figura 5.8 a configuração de
uma parede frontal do edifício modelada no ambiente SAP2000.

Tabela 5.1 - Dimensões dos elementos das paredes frontais

Elementos Largura Altura Espessura

Prumo 0,15 0,15 ---

Travessa 0,15 0,15 ---

Diagonal 0,15 0,10 ---

Alvenaria --- --- 0,15

55
Capítulo 5 - Caso de Estudo e Modelação

Figura 5.8: Parede frontal definida no SAP2000

5.2.1.3. Pavimentos

Os pavimentos em geral são constituídos por vigas de madeira, tábuas de soalho e


tarugos, esta última é disposta perpendicularmente às vigas, funcionando no seu con-
junto como um sistema de travamento para as vigas. No modelo numérico modelam-se
apenas as vigas e os tarugos utilizando elementos do tipo “frame”, não considerando a
pequena a rigidez das tábuas de soalho conferida ao pavimento. As vigas apresentam
secção retangular de 8x16 cm2 espaçadas entre si 0,50 m, e os tarugos têm uma de
secção 8x8 cm2 com espaçamento de 2,0 m. De forma a evitar modos locais de vibração
a massa dos elementos constituintes do pavimento na modelação, foi aplicada direta-
mente nos elementos estruturais verticais, paredes frontais e paredes exteriores, respe-
tivamente.

No que se refere às ligações das vigas de madeira às paredes de alvenaria exterior,


utilizou-se elementos de ligação do tipo “link”, funcionando essencialmente por atrito.
Definiu-se uma lei constitutiva para os “links” de modo que o mecanismo para fora do
plano da parede funcionasse por atrito. É de salientar que, o mecanismo referido tem
restrição de deslocamento segundo a direção 1 positivo e é fixo segundo as direções 2
e 3 (ver Figura 5.9). Apresenta-se na Figura 5.9 o esquema de cálculo que serviu de
base para definir a lei constitutiva dos “links”.

56
Capítulo 5 - Caso de Estudo e Modelação

Figura 5.9: Esquema de cálculo para definição da lei constitutiva dos “links”

A força de atrito (𝐹𝑎 ) é calculada através da expressão (5.6). Determinou-se esta força
para dois níveis distintos, estático e cinemático. Os coeficientes de atrito estático e ci-
nemático considerados são: 𝜇𝑒 = 0,6 e 𝜇𝑐 = 0,5 para alvenaria-madeira [47, 48].

Apresenta-se na Figura 5.10 o comportamento definido para o “link” e um modelo estru-


tural constituído por dois elementos do tipo “frame” interligados por um “link” definido
entre dois nós (2 e 3). O modelo estrutural é simples e serve de base para verificar e/ou
validar a lei constitutiva, de forma a aplicar nos elementos de ligação na modelação
global do edifício em estudo.

𝐹𝑎 ≤ 𝜇 ∙ 𝑁 (5.6)

Figura 5.10: Comportamento do “link”: a) lei constitutiva; b) modelo estrutural

57
Capítulo 5 - Caso de Estudo e Modelação

Para verificar e/ou validar a lei constitutiva a definir nos elementos “link”, modelou-se no
programa de cálculo automático SAP2000 a estrutura apresentada na Figura 5.10 b), e
para o elemento “link” definiu-se o comportamento apresentado no gráfico da Figura
5.11 a). Na modelação numérica aplicou-se um deslocamento 𝛿 = 0,02 m no nó 1 (Fi-
gura 5.10 b) e realizou-se uma análise do tipo “time history”, tendo como ação o deslo-
camento referido, que se apresenta no gráfico da Figura 5.11 a) pela linha tracejada.

18
0 1 2 3 4 5
12 0

-0.005
6
Fa [kN]

-0.01

δ [m]
0
-0.015
-6
-0.02
-12
-0.025
-0.01 0.00 0.01 0.02 0.03 0.04
δ [mm] a) t [s]
b)

16 16

12 12
R [kN]

R [kN]

8 8

4 4

0 0
0 1 2 3 4 5 0 0.005 0.01 0.015 0.02 0.025
t [s]
c) δ [m] d)

Figura 5.11: Gráficos: a) lei constitutiva pré-definida no “link”; b) deslocamento -


tempo; c) reação - tempo, nó 4; d) reação - deslocamento, nó 4

A validação da lei constitutiva pré-definida no “link”, centra-se na comparação da mesma


com o resultado da reação em função do deslocamento obtido para o nó 4 como ilus-
trado no gráfico da Figura 5.11 d). Analisando os gráficos a) e d) da Figura 5.11, cons-
tata-se que o resultado obtido reproduz perfeitamente o comportamento pré-definido
para o “link”. No que se referem os valores das forças de atrito e das reações, são
coincidentes, sendo o valor máximo de 14,6 kN e o valor mínimo de 12,4 kN. Assim
sendo, considera-se válida a técnica de modelação adotada.

5.2.1.4. Escadas

De uma forma geral as escadas dos edifícios pombalinos eram de madeira e apoiam
nas paredes frontais localizadas nas suas laterais. Elas não foram consideradas como
elementos estruturais por serem pouco relevantes, tendo pouca contribuição na mode-
lação global do edifício.

58
Capítulo 5 - Caso de Estudo e Modelação

5.2.1.5. Coberturas

No que se refere à cobertura, considerou-se uma cobertura triangular simples composta


por duas águas, apoiada nos contornos do edifício e descarregando o seu peso próprio
nas fachadas principal e posterior, por intermédio da sua estrutura de asna simples. É
de salientar que na modelação, apenas foi considerada a massa total distribuída nas
fachadas de acordo com as respetivas áreas de influência.

5.2.2. Características Mecânicas dos Materiais

Nesta secção aborda-se as características mecânicas dos materiais constituintes dos


elementos estruturais, que compõe o edifício pombalino em estudo. Esses materiais
são, a alvenaria e a madeira.

5.2.2.1. Madeira

A madeira geralmente utilizada nas construções pombalinas era pinheiro bravo. Admitiu-
se que as propriedades da madeira existente no edifício em estudo, são semelhantes a
uma madeira de classe E definida pelo LNEC [41]. A Tabela 5.2 apresenta as proprie-
dades mecânicas da madeira de classe E.

Tabela 5.2 - Propriedades mecânicas da madeira

Resistência à compressão (paralela às fibras) 𝑓𝑐,0,𝑘 18 MPa

Módulo de elasticidade 𝐸 12 GPa

Densidade 𝜌 580 kg/m3

Coeficiente de poisson 𝜈 0,2

5.2.2.2. Alvenaria

No que diz respeito às alvenarias, ela está presente nas paredes exteriores dos edifícios
pombalinos em maior percentagem. Não foi possível realizar ensaios e nem observar
as alvenarias das paredes exteriores do edifício em análise para a sua caracterização,
tendo sido utilizado valores característicos presentes na literatura para a modelação
global do edifício. Na Tabela 5.3 apresenta-se as propriedades mecânicas consideradas
para a alvenaria.

59
Capítulo 5 - Caso de Estudo e Modelação

Tabela 5.3 - Propriedades mecânicas da alvenaria

Módulo de elasticidade 𝐸 2 GPa

Módulo de distorção 𝐺 4 MPa

Peso volúmico 𝛾 22 kN/m3

Coeficiente de poisson 𝜈 0,2

Tensão de Compressão 𝑓𝑢 0,85 MPa

Coesão 𝐶𝑢 88 KPa

Atrito 𝜇 0,5

5.2.3. Atribuição da Massa

A atribuição das massas dos elementos não estruturais na modelação numérica, efetua-
se assumindo como hipótese que as cargas se distribuem para as paredes com funções
estruturais, paredes exteriores e frontais, respetivamente. Define-se a respetiva área de
influência e número de pontos para cada elemento estrutural, determinando-se a massa
distribuída e, por conseguinte, a aplicação da carga pontual ao nível dos pisos.

Apresentam-se na Tabela 5.4 e na Tabela 5.5 a área de influência e número de pontos


para cada elemento estrutural, definido com base no esquema apresentado na Figura
5.3.

Tabela 5.4 - Área de influência e números de pontos, paredes exteriores

Alinhamento Área de influência (m2) Nº de pontos

A 25,0 3

E 17,10 3

1 25,58 7

4 22,33 6

Tabela 5.5 - Área de influência e números de pontos, paredes frontais

Alinhamento Área de influência (m2) Nº de pontos

B 21,88 13

C 23,73 13

D 26,59 13

2 23,29 12

3 24,68 13

60
Capítulo 5 - Caso de Estudo e Modelação

No que se refere o peso próprio dos elementos, o mesmo foi calculado com base nos
valores presentes em [1] e [49]. É de referir que o peso próprio das paredes exteriores,
foram determinados com base na geometria e peso volúmico. Define-se o pórtico equi-
valente da parede considerando que cada nó tem uma área de influência como ilustrado
na Figura 5.12 e determina-se a força a aplicar nos nós, assumindo que a metade da
carga das paredes exteriores do piso zero são encaminhadas diretamente para a fun-
dação. Desta forma, apresentam-se na Tabela 5.6, Tabela 5.7 e Tabela 5.8 o valor do
peso próprio total considerado para a cobertura, pavimentos de madeira e restantes
elementos, respetivamente.

Figura 5.12: Determinação das forças: área de influência e pórtico equivalente

Tabela 5.6 - Peso próprio cobertura (valores em kN/m2)

Ripas 0,10

Varas 0,15

Madres 0,20

Asnas 0,40

Telha marselha 0,45

Peso total 1,30

Tabela 5.7 - Peso próprio pavimentos de madeira (valores em kN/m2)

Vigas de madeira 0,49

Tábuas de soalho 0,11

Esteira de madeira 0,20

Estuque sobre fasquiado 0,40

Peso total 1,20

61
Capítulo 5 - Caso de Estudo e Modelação

Tabela 5.8 - Peso próprio dos restantes elementos (valores em kN/m2)

Paredes de tabique 0,17

Varandas de sacada 2,81

Cornijas de remate cobertura 1,1

As sobrecargas a considerar na modelação numérica, foram definidas com base nos


valores presentes em [50]

Tabela 5.9 - Sobrecargas (valores em kN/m2)

Pavimento habitação 2,0 (ψ2 = 0,3)

Cobertura 0,4 (ψ2 = 0)

5.2.4. Modelo Numérico

Nesta secção apresenta-se o modelo numérico do edifício em estudo, realizado no pro-


grama SAP2000. O modelo é constituído essencialmente por dois tipos de elementos
finitos: “frames” e “links”. Foram utilizados 4802 e 1390 elementos “frame” e “links”, res-
petivamente, totalizando 2767 nós. Apresenta-se na Figura 5.13, uma vista 3D (exterior
e interior), parede frontal e pavimento de madeira, respetivamente.

5.3. Análise Modal


No que diz respeito á caracterização modal, é de realçar que devido a não ser realizado
nenhum ensaio experimental do edifício para identificar a frequência de vibração e os
seus respetivos modos, realizou-se a modelação assumindo características mecânicas
dos materiais presentes na literatura, conforme referido em 5.2.2. Na Figura 5.14 apre-
senta-se os primeiros quatro modos de vibração e na Tabela 5.11 apresenta-se os pe-
ríodos e as frequências dos primeiros seis modos de vibração, assim como a massa
participante. O primeiro modo de vibração corresponde à deformada da estrutura na
direção X (transversal), confirmando que a estrutura é mais flexível nesta direção devido
à menor inércia das paredes exteriores e à menor quantidade de paredes frontais. O
segundo modo de vibração é na direção Y(longitudinal), o terceiro e o quarto modo de
vibração correspondem à rotação do edifício.

De forma a conferir os valores dos períodos de vibração, utilizou-se a fórmula apresen-


tada no estudo realizado em [51] indicada na Tabela 5.10 que relaciona o período (T)
do modo fundamental com o número de andares (N), em qualquer das duas direções
horizontais de forma linear através do coeficiente de correlação (a). Apresenta-se na
Tabela 5.10 a fórmula e os parâmetros considerados relevantes para estimar o período

62
Capítulo 5 - Caso de Estudo e Modelação

do modo fundamental para as duas direções X e Y, respetivamente, para edifícios em


alvenaria de pedra com pavimentos de madeira (edifícios de classe - A).

Tabela 5.10 - Parâmetros para estimar o período do modo fundamental

Fórmula Direção Coef. correlação (a) T (s) para N = 4 T (s) para N = 5

Transv. - X 0,0649 0,26 0,33


T=a∙N
Long. - Y 0,0548 0,22 0,27

O valor dos períodos fundamentais das duas direções horizontais (1º modo - transversal
e 2º modo - longitudinal) do modelo numérico, aproximam-se dos resultados experimen-
tais obtidos em [51], conforme se constata na Tabela 5.11. Salienta-se que estes perío-
dos foram obtidos para valores de módulos de elasticidade de 8,5 e 2,0 GPa, para ma-
deira e alvenaria, respetivamente, valores considerados admissíveis.

a) b)

c) d)
Figura 5.13: Modelação numérica: a) vista exterior; b) vista interior; c) parede frontal
(alinhamento C); d) pavimento de madeira 1º andar

63
Capítulo 5 - Caso de Estudo e Modelação

Tabela 5.11 - Informação modal

Modo T [s] f [Hz] Ux Sum Ux Uy Sum Uy Uz Sum Uz

1 0.296 3.382 0.397 0.397 0.000 0.000 0.000 0.000

2 0.251 3.989 0.001 0.398 0.640 0.641 0.000 0.000

3 0.214 4.663 0.172 0.570 0.002 0.642 0.000 0.000

4 0.097 10.316 0.026 0.595 0.012 0.654 0.003 0.003

5 0.094 10.589 0.008 0.604 0.086 0.740 0.061 0.065

6 0.084 11.954 0.000 0.604 0.009 0.749 0.495 0.560

a) b)

c) d)

Figura 5.14: Quatro primeiros modos de vibração: a) 1º modo - translação em X; b)


2º modo - translação em Y; c) e d) 3º e 4º modo - torção

64
Capítulo 6

6. Avaliação da Vulnerabilidade Sísmica


No presente capítulo avalia-se a vulnerabilidade sísmica do edifício em estudo. En-
tende-se por vulnerabilidade sísmica de um edifício a propensão para sofrer danos,
quando este se encontra sujeito à uma ação sísmica. Utiliza-se uma abordagem proba-
bilística de avaliação da segurança sísmica, baseada na determinação da vulnerabili-
dade das ações sísmicas e de vários parâmetros chave da modelação numérica. Inici-
almente caracteriza-se a ação dos sismos, seguindo-se a variabilidade probabilística
dos parâmetros que definem os modelos numéricos e análises dinâmicas incrementais
subsequentes, que permitem definir vários estados de danos e construir curvas de fra-
gilidade da estrutura em análise.

No que se refere à legislação em vigor, que definem os termos em que obras de ampli-
ação, alteração ou reconstrução estão sujeitas à elaboração de relatório de avaliação
da vulnerabilidade sísmica, a portaria n.º 302/2019 [52] e o decreto lei n.º 95/2019 [53]
estabelecem nos artigos 1.º e 8.º, os requisitos e/ou exigências fundamentais para a
elaboração do relatório de avaliação da vulnerabilidade sísmica do edifício, que estabe-
lece a sua capacidade de resistência relativamente à ação sísmica definida no EC8 [31]
e suas posteriores atualizações para as condições do local. O relatório de vulnerabili-
dade sísmica do edifício é obrigatório, no caso de edifícios das classes de importância
III e IV, definidas no EC8 [54], e quando este concluir que o edifício não satisfaz as
exigências de segurança relativa a 90% da ação definida no EC8 [31], é obrigatório a
elaboração de projeto de reforço sísmico.

6.1. Definição da Ação Sísmica


Para se analisar a vulnerabilidade sísmica e os danos causados pela ação sísmica,
foram considerados no presente trabalho espectros de resposta elástico do tipo 1 e 2,
zona sísmica 1.3 e 2.3, tipo de terreno C, classe de importância II e amortecimento de
5%, do EC8 [54]. A aleatoriedade da ação sísmica foi levada em consideração, selecio-
nando dez acelerogramas reais e destintas da base de dados da Pacific Earthquake
Engineering Research (PEER) [55]. Os acelorogramas foram escalados para respeitar
o espectro de resposta regulamentar do tipo 1 e 2 definido no EC8 [54], para uma ace-
leração máxima de 1g, ou 9,81 m/s2, para serem utilizados na realização da análise
dinâmica incremental (IDA) no programa de cálculo automático SAP2000. Apresentam-
se na Tabela 6.1 os dados dos acelerogramas reais considerados. A Figura 6.1 eviden-
cia o espectro de resposta elástico e os dez acelerogramas selecionados e escalados.

65
Capítulo 6 - Avaliação da Vulnerabilidade Sísmica

Tabela 6.1 - Dados de acelerogramas reais

Nome Estação Data PGA (g) Magnitude Duração (s)

Imperial Valley El Centro 15/10/1979 0,249 6,53 40,00

Loma Prieta Hollister City Hall 18/10/1989 0,217 6,93 39,15

Northridge Hollywood 17/01/1994 0,152 6,69 34,99

Kobe Fukushima 16/01/1995 0,198 6,90 80,00

Kozani Florina 13/05/1995 0,019 6,40 31,61

Kocaeli Istanbul 17/08/1999 0,036 7,51 138,79

Chi-Chi CHY023 20/09/1999 0,018 7,62 148,00

Duzce Bolu 12/11/1999 0,200 7,14 55,90

L'Aquila Cattolica 06/04/2009 0,001 6,30 121,01

Christchurch Christchurch Hospital 21/02/2011 0,598 6,20 28,01

10 EC8 (Se-S1) 10 EC8 (Se-S2)


Chi-Chi Chi-Chi
Christchurch Christchurch
8 8
Duzce Duzce
Aceleração [m/s2]

Aceleração [m/s2]

Imperial Valley Imperial Valley


6 Kobe 6 Kobe
Kocaeli Kocaeli
Kozani Kozani
4 4
L'Aquila L'Aquila
Loma Prieta Loma Prieta
2 Northridge 2 Northridge

0 0
0 1 2 3 4 0 1 2 3 4
Período [s] Período [s]
a) b)

Figura 6.1: Espectro de resposta elástico e acelerogramas reais: a) tipo 1; b) tipo 2;

6.2. Variabilidade Probabilística de Parâmetros Chave


Nesta secção será abordada a incerteza das propriedades dos materiais e da modela-
ção numérica, com base em parâmetros chave cujo valores, são assumidos como tendo
uma distribuição probabilística [56]. Para o tratamento das incertezas relacionadas com
as características dos materiais, o modelo numérico foi concebido com base nos valores
de alguns parâmetros chave de acordo com o JCSS Probabilistic Model Code [57]. Os
parâmetros escolhidos assim como a sua caracterização probabilística são apresenta-
dos na Tabela 6.2. Para gerar a distribuição probabilística dos parâmetros escolhidos,
recorreu-se a uma rotina escrita em Matlab (Anexo II) que fornece valores aleatórios
para os parâmetros, de acordo com o tipo de distribuição, média e desvio padrão.

66
Capítulo 6 - Avaliação da Vulnerabilidade Sísmica

Tabela 6.2 - Caracterização probabilística dos parâmetros chave

Variável Distribuição Unidades Média Desvio Padrão

Densidade da madeira Normal kN/m3 5,688 0,7

Módulo de elasticidade da madeira Lognormal GPa 8,5 1,04

Peso volúmico da alvenaria Normal kN/m3 22,0 1,1

Módulo de elasticidade da alvenaria Lognormal GPa 2,0 0,75

Resistência à compressão da alve-


Lognormal MPa 0,85 0,85
naria

Coeficiente de atrito estático ma-


Lognormal - 0,6 0,114
deira-alvenaria

Coeficiente de atrito cinético ma-


Lognormal - 0,5 0,095
deira-alvenaria

A distribuição dos parâmetros gerados aleatoriamente são ilustrados na Figura 6.2 e


Figura 6.3, salienta-se que a tracejado está representado os valores dos parâmetros do
modelo numérico calibrado, presente na seção 5.3.

a) b)

c) d)

Figura 6.2: Distribuição probabilística: a) Densidade da madeira; b) Módulo de


elasticidade da madeira; c) Coeficiente de atrito estático; d) Coeficiente de atrito cinético

67
Capítulo 6 - Avaliação da Vulnerabilidade Sísmica

No que se refere a análise estatística, a determinação do número de amostras que de-


vemos ter é fulcral, pois ter um tamanho amostral muito grande, requer maior esforço
computacional e maior tempo de análise e tratamento dos dados, enquanto que peque-
nos números de amostras conduzem a soluções menos precisos e fiáveis. Para a de-
terminação do número de amostras relevantes que originam resultados em termos es-
tatísticos credíveis, efetuou-se o estudo do erro relativo do desvio padrão face ao au-
mento de número de amostras. Constata-se na Figura 6.4 a) a variação do desvio pa-
drão e a sua estabilização com o aumento do número de amostras. Evidencia-se tam-
bém na Figura 6.4 b), que o erro relativo do desvio padrão tende a estabilizar à medida
que se aumenta o número de amostras. Assim sendo, considera-se que o tamanho
amostral constituído por 240 amostras será viável para fornecer resultados estatísticos
relevantes, pois para este número de amostra o erro relativo do desvio padrão é inferior
a 10%. É de referir-se que, neste estudo foi considerado um espaço amostral com ape-
nas 100 amostras, de forma a facilitar e reduzir o tempo das análises. Subsequente-
mente, desenvolveu-se 100 modelos numéricos diferentes de acordo com a variação
dos parâmetros chaves gerados, e os modelos foram associados aleatoriamente aos
vinte acelerogramas reais e escalados (Figura 6.1), para a realização das análises di-
nâmicas incrementais de forma a construir as curvas de fragilidade e avaliar a vulnera-
bilidade sísmica do edifício em estudo na presente dissertação.

a)

b) c)

Figura 6.3: Distribuição probabilística: a) Módulo de elasticidade alvenaria; b) Peso


volúmico da alvenaria; c) Resistência à compressão da alvenaria

68
Capítulo 6 - Avaliação da Vulnerabilidade Sísmica

2.0 50%
ɣ (mad) E (mad) ɣ (mad) E (mad)
ɣ (alv) fu (alv) ɣ (alv) fu (alv)

Erro relativo de desvio padrão


1.6 E (alv) μ (est) 40% E (alv) μ (est)
μ (cin) μ (cin)
Desvio padrão

1.2 30%

0.8 20%

0.4 10%

0.0 0%
0 40 80 120 160 200 240 280 320 0 40 80 120 160 200 240 280 320
Número de amostras a) Número de amostras b)

Figura 6.4: Análise do número de amostras: a) desvio padrão; b) erro do desvio padrão

6.3. Análise Dinâmica Incremental


A análise dinâmica incremental (IDA) foi a análise considerada na presente dissertação,
para caracterizar a fragilidade sísmica do edifício em estudo. Esta análise consiste em
realizar uma série de análises dinâmicas não lineares no tempo, incrementando a ace-
leração de pico do movimento do solo (PGA) da ação sísmica considerada, com objetivo
de construir curvas de fragilidade do edifício. Salienta-se que, os incrementos devem
ser selecionados com cuidado de forma a perceber todas as fases do comportamento
estrutural, desde a fase elástica até à plástica e por fim o seu colapso. Os resultados do
pós-processamento da IDA, permitem avaliar o desempenho sísmico da estrutura com
base nos parâmetros de resposta selecionados, por exemplo, acelerações, rotações e
deslocamentos. Para se avaliar o desempenho sísmico de forma apropriada foi adotada
a metodologia proposta por Vamvatsikos e Cornell [58], que consiste na avaliação dos
danos causados à estrutura, aplicando regras preconizadas nas normas de dimensio-
namento sísmico para identificar os diferentes estados limites de dano.

6.3.1. Procedimento e Aplicação da IDA

Para implementar uma análise dinâmica incremental o modelo numérico não linear da
estrutura é submetido a uma série de análises dinâmicas em que o PGA foi incremen-
tado a partir do valor da resposta elástica, de 0,2g até 1,0g, valor que garante o colapso
do modelo numérico em mais de 50% dos casos [56]. A incrementação do PGA foi feita
em 5 passos, sendo o passo de incremento de 0,2g. Assim sendo, ao todo foram efetu-
adas 500 análises dinâmicas não lineares. Em paralelo a estas análises, foram definidos
estados de dano de forma a obter as curvas de fragilidade do edifício.

69
Capítulo 6 - Avaliação da Vulnerabilidade Sísmica

6.4. Estados de Dano


A definição dos estados de dano estrutural, permite compreender a condição de uma
estrutura após ser sujeita a ações sísmicas. Os estados de dano foram desenvolvidos
para avaliar a intensidade sísmica de uma área após sismo, e posteriormente a sua
utilização foi estendida, para avaliar os danos após o sismo e avaliar a vulnerabilidade
das estruturas [59].

No presente trabalho, a avaliação de dano estrutural foi realizada usando quatro estados
limites de danos [60], conforme descrito na Tabela 6.3. Na presente abordagem, o dano
estrutural é adotado como o principal parâmetro a ser considerado e, será avaliado em
termos de “inter-storey drift”. Para além disso, e uma vez que as ligações dos pisos às
paredes exteriores são críticas para o comportamento global do edifício em estudo, fo-
ram definidos também estados limites de dano para as ligações. A definição dos limites
para os estados de dano relativos às ligações, foi efetuado de acordo com o disposto
em [61] adaptado ao presente caso de estudo. Os estados de dano das ligações será
avaliado em termos de deslocamentos. Considera-se que o comprimento de entrega do
piso (vigamento de madeira) às paredes exteriores é de pelo menos 20 cm, que corres-
ponde a um quarto da espessura da parede exterior, e os limites dos estados de dano
das ligações foram definidas pelo autor deste trabalho conforme descrito na Tabela 6.4.

Tabela 6.3 - Definição dos estados limite de dano “inter-storey drift”

Estado de dano - descrição Limites [%]

DS1 Sem danos 0,1

DS2 Danos estruturais mínimo e/ou danos não estruturais moderado 0,3

DS3 Danos estruturais Severo e/ou danos não estruturais extensivo 0,5

DS4 Colapso > 0,5

Tabela 6.4 - Definição dos estados limite de dano para as ligações

Estado de dano - descrição Limites [m]

DS1 = 0,7 DS2 Sem danos 0,021

DS2 = 0,03 Danos moderado 0,03

DS3 = DS2 + 0,25 (DS4 - DS2) Danos Severo 0,06

DS4 = 0,15 Extensivo ou colapso ≥ 0,15

É importante salientar que no presente trabalho, optou-se por definir os estados limite
de dano estrutural de acordo com o prescrito em [60], pois este permite uma abordagem
adequada para a verificação dos limites correspondentes aos “inter-storey drift” para

70
Capítulo 6 - Avaliação da Vulnerabilidade Sísmica

edifícios existentes em alvenaria de pedra, tendo em conta o estado da degradação da


estrutura, ao contrário do EC8 [54] que apenas indica critérios de limitação de danos
para edifícios recentes, como por exemplo: edifícios com paredes em betão armado ou
alvenaria de tijolos; sujeitos à uma ação sísmica com uma probabilidade de ocorrência
maior do que a ação sísmica de cálculo correspondente ao requisito de não “ocorrência
de colapso”.

Para limitar o deslocamento entre pisos, os seguintes critérios devem ser compridos
[54]:

a) Para os edifícios com elementos não estruturais constituídos por materiais frágeis
fixos à estrutura:

𝑑𝑟 𝜈 ≤ 0,005h (6.1)

b) Para edifícios com elementos não estruturais dúcteis:

𝑑𝑟 𝜈 ≤ 0,0075h (6.2)

c) Para os edifícios com elementos não estruturais fixos de forma a não interferir com
as deformações estruturais ou sem elementos não estruturais:

𝑑𝑟 𝜈 ≤ 0,010h (6.3)

Onde:

𝑑𝑟 corresponde ao valor de cálculo do deslocamento entre pisos;

h é a altura entre os pisos;

𝜈 é o coeficiente de redução que tem em conta o mais baixo período de retorno


da ação sísmica associada ao requisito de limitação de danos. Os valores reco-
mendados de 𝜈 são 0,4 para as classes de importância III e IV e 𝜈 = 0,5 as
classes de importância I e II.

6.5. Curvas de Fragilidade


A vulnerabilidade de um edifício pode ser representada utilizando funções de fragilidade.
Estas funções representam a probabilidade de igualar ou exceder diferentes estados
limite de dano associada a uma dada intensidade sísmica. No que se refere a intensi-
dade sísmica, pode ser representada com base nos registos do nível de movimentos do
solo, quantificado utilizando diferentes parâmetros de intensidade, como por exemplo,
o PGA, a aceleração espetral (Sa) e o deslocamento espetral (Sd) [62].

As curvas de fragilidade relacionam a intensidade sísmica com a probabilidade de uma


estrutura ou um edifício igualar ou exceder um determinado nível de dano. Estas curvas
podem ser expressas como uma função de distribuição lognormal cumulativa ∅ definido
pela expressão (6.4) [56].

71
Capítulo 6 - Avaliação da Vulnerabilidade Sísmica

1 𝑑
𝑃[𝐷𝑆𝑖 /𝑑] = Φ [ 𝑙𝑛 ( )] (6.4)
𝛽𝐷𝑆𝑖 𝐷𝑆𝑖

Onde:

𝐷𝑆𝑖 representa o estado de dano 𝑖;

𝑑 é o deslocamento da IDA;

Φ representa a função de distribuição lognormal cumulativa;

𝛽𝐷𝑆𝑖 é o desvio padrão do logaritmo natural da variável 𝐷𝑆𝑖 .

As curvas de fragilidade apresentadas a seguir, dizem respeito ao conjunto de 500 aná-


lises dinâmicas incrementais consumadas no programa de cálculo automático
SAP2000. Os resultados das análises IDA são expressos em função de PGA, e repre-
sentam o comportamento global do edifício em estudo nesta dissertação. As curvas de
fragilidade global do edifício foram concebidas, combinando a informação relacionada
com o estado de dano ao nível dos deslocamentos entre pisos (“inter-storey drift”) e o
estado de dano das ligações dos pisos às paredes de alvenaria exterior, para as dire-
ções longitudinal e transversal em simultâneo. Para o estado de dano global da estru-
tura, contabilizou-se o estado de dano mais gravoso fosse ele para o “inter-storey drift”
ou para as ligações dos pisos às paredes de alvenaria exterior. Apresenta-se na Figura
6.5 as curvas de fragilidade global do edifício, evidenciando os resultados das análises
IDA.

1
DS2: 100%
Probabilidade de excedência [P(Ds ≥ ds)]

0.9

0.8 ds1
DS3: 92%
0.7 ds2
ds3
0.6
ds4
0.5
DS1
0.4
DS2
DS4: 58%
0.3 DS3
0.2 DS4

0.1

0
0 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5 0.6 0.7 0.8 0.9 1
PGA [g]

Figura 6.5: Curvas de fragilidade global do edifício

72
Capítulo 6 - Avaliação da Vulnerabilidade Sísmica

Para se avaliar o estado de dano global do edifício em estudo, calculou-se as probabili-


dades de atingir determinado estado de dano para um PGA de projeto de 0,55g, evi-
denciado na Figura 6.5, referente à zona sísmica onde o edifício está implantado, de
acordo com o EC8 [54]. Evidencia-se na Figura 6.6 o pormenor para a determinação da
aceleração do espetro elástico para a zona sísmica considerada, para o período T =
0,296 s (Tabela 5.11) representado a tracejado na Figura 6.6 correspondente ao pri-
meiro modo de vibração. Salienta-se que o nível de PGA conceituado (0,55g) é médio
e representativo para os dois tipos de sismos.

Ilustra-se na Figura 6.7 o cálculo das probabilidades de cada estado de dano para um
nível de PGA de 0,55g. Desta forma, efetuando uma análise ao gráfico da Figura 6.7
pode-se concluir que para um nível de PGA de 0,55g, o edifício tem uma probabilidade
de sofrer danos de 100%. No entanto existe uma probabilidade significativa de que o
edifício irá sofrer apenas danos moderados (100%) a severos (92%). Face às análises
e considerações efetuadas o edifício evidencia uma probabilidade de sofrer danos ex-
tensos ou colapso na ordem de 58%.

8
EC8 (Se-S1)
7
EC8 (Se-S2)
5,63 m/s2
6

5 5,24 m/s2
𝑎 [m/s2]

0
0.0 0.5 1.0 1.5 2.0 2.5 3.0 3.5 4.0
T [s]

Figura 6.6: Aceleração do espetro elástico para a zona sísmica considerada

No que se refere a identificação do tipo de dano estrutural predominante, que induz o


edifício a apresentar uma probabilidade de sofrer danos extensos ou colapso de 58% é
o “inter-storey drift”. Uma vez que a avaliação de dano estrutural neste trabalho foi rea-
lizada utilizando quatro estados limites de danos, identificou-se o estado de dano para
os cinco níveis de PGA, para o “inter-storey drift” e para as ligações. A identificação e
classificação do tipo de dano estrutural evidenciado pelo edifício é relevante e é útil para
o estudo do reforço do mesmo. Apresenta-se na Tabela 6.5 e Tabela 6.6 a identificação
e classificação de dano estrutural, salientando que para o PGA de projeto o edifício
apresenta uma percentagem de sofrer danos extensos ou colapso apenas para o “inter-

73
Capítulo 6 - Avaliação da Vulnerabilidade Sísmica

storey drift” na ordem de 77%, num conjunto de 100 modelos numéricos. No entanto
existe uma percentagem significativa de que o edifício irá sofrer danos moderados
(100%) e danos severos (92%).

1.00 1.00 1.00


0.92
Probabilidade de excedência [P(Ds ≥ ds)]

1.00

0.80
0.58

0.60

0.40

0.20

0.00
DS0 DS1 DS2 DS3 DS4

Figura 6.7: Probabilidades de cada estado de dano para um nível de PGA 0,55g

Tabela 6.5 - Identificação e classificação de dano estrutural para o “inter-storey drift”


Estado limites de dano
PGA (g)
DS1 DS2 DS3 DS4
0.2 100 90 10 0
0.4 100 100 86 14
0.55 100 100 91 77
0.6 100 100 94 82
0.8 100 100 100 88
1 100 100 100 93

Tabela 6.6 - Identificação e classificação de dano estrutural para as ligações

Estado limites de dano


PGA (g)
DS1 DS2 DS3 DS4
0.2 99 1 1 0
0.4 100 27 1 0
0.55 100 82 1 0
0.6 100 84 3 0
0.8 100 93 20 0
1 100 96 75 0

74
Capítulo 6 - Avaliação da Vulnerabilidade Sísmica

De forma a analisar os resultados obtidos em termos da definição dos estados limite de


danos, apresentam-se a seguir algumas curvas para “inter-storey drift” e para as liga-
ções dos pisos as paredes de alvenaria exterior, com a definição dos estados limites de
danos. Salienta-se que as curvas evidenciadas na Figura 6.8 e Figura 6.9 correspondem
ao PGA de projeto, sendo estas curvas ilustradas a título de exemplo das restantes
curvas construídas para todas as análises dinâmicas realizadas. Pode-se consultar no
Anexo III as curvas para “inter-storey drift” e para às ligações dos pisos às paredes, para
os cinco passos de incrementação do PGA de um modelo numérico selecionando ex-
clusivamente a título de exemplo.

a) b)

Figura 6.8: Curvas com estado limites de dano para “inter-storey drift”: a) Direção X; b)
Direção Y

Figura 6.9: Curva com estado limites de dano para as ligações

75
Capítulo 7

7. Conclusões e Desenvolvimentos Futuros


Neste capítulo, apresentam-se as conclusões sobre o trabalho desenvolvido e de se-
guida sugerem-se alguns desenvolvimentos futuros considerados pertinentes para a
continuação deste trabalho.

7.1. Conclusões
O objetivo principal do presente estudo centrou-se na avaliação da vulnerabilidade sís-
mica de um edifício pombalino localizado na Baixa de Lisboa. A avaliação do desempe-
nho sísmico do edifício foi desenvolvida com sucesso na presente dissertação. Para
alcançar este objetivo foi utilizado o programa de cálculo SAP2000 para efetuar a mo-
delação numérica 3D do edifício recorrendo ao método SAM, e para a realização de
análises dinâmicas incrementais não lineares.

A validação do modelo numérico de elementos finitos do edifício foi realizada com su-
cesso fornecendo resultados fiáveis, apesar de que não foi possível realizar campanha
experimental de identificação modal à vibração ambiental para a calibração do modelo
numérico, de uma forma mais rigorosa.

As análises dinâmicas incrementais não lineares foram realizadas com o principal obje-
tivo de avaliar a vulnerabilidade sísmica do edifício. Para isso, foram definidas cem
amostras associadas a uma abordagem probabilística que permite considerar a variabi-
lidade da ação sísmica e incertezas na definição das propriedades dos materiais, e pro-
ceder à definição dos estados limite de dano DS e a construção das curvas de fragili-
dade do edifício.

A análise das curvas de fragilidade, evidencia que para uma aceleração de projeto de
0,55g de acordo com a regulamentação para a zona sísmica de localização do edifício,
existe uma probabilidade substancial de ocorrência de colapso (58%) em relação a uma
probabilidade de ocorrência de danos moderados (100%) a severos (92%).

A análise global aos resultados obtidos, permite concluir que o edifício estudado na pre-
sente dissertação apresenta uma reduzida resistência às ações sísmicas para acelera-
ções próxima da aceleração de projeto. Como comentário final, aconselha-se uma in-
tervenção imediata, analisando diversas soluções de reforço estrutural, especificamente
a nível das ligações dos pisos às paredes exteriores de forma a satisfazer as exigências
normativas em termos de deslocamentos entre pisos “inter-storey drift”.

76
Capítulo 7 - Conclusões e Desenvolvimentos Futuros

7.2. Desenvolvimentos Futuros


De um modo geral, considera-se que foram alcançados os objetivos propostos inicial-
mente para a consecução deste trabalho. No entanto, para além do estudo aqui reali-
zado, apresentam-se de seguida algumas sugestões para a realização de trabalhos fu-
turos utilizando o mesmo edifício:

▪ Realização de campanha experimental de caracterização dinâmica com base


em vibrações ambientais para a calibração do modelo numérico e realização de
ensaios in situ com a vantagem de se estimar as propriedades mecânicas da
alvenaria de pedra, para obter modelos numéricos mais precisos;
▪ Realização de Análises Dinâmicas Incrementais com um passo de incrementa-
ção menor que 0,2g para diferentes níveis de PGA e até um PGA máximo de
0,6g (valor próximo do PGA de projeto) para maior número de amostras, origi-
nando resultados mais detalhados evidenciando maior informação que possa
ser mais relevante;
▪ Avaliação da vulnerabilidade sísmica recorrendo a outros “softwares” de cálculo,
como por exemplo o 3Muri versão científica, desenvolvido especificamente para
edifícios de alvenaria, aferindo eventuais possibilidades de modelar mecanismos
de colapso no plano e para fora do plano das paredes de alvenaria no mesmo
modelo numérico, realizando análises estáticas e dinâmicas não lineares;
▪ Avaliação de vários sistemas de reforço possíveis, e traçar novas curvas de fra-
gilidade para comparar com os resultados alcançados neste trabalho.

77
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Doutoramento, Instituto Superior Técnico, 2012.
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Story Masonry Building: Test Procedure and Measured Experimental Response",
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J. Milošević, R. Bento, A. Gago e M. Lopes, “Seismic Vulnerability of Old Masonry
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J. S. Brazão Farinha, A. Correia dos Reis, Tabelas Técnicas. Setúbal: Edição
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NP EN 1991-1-1:2009 - Eurocódigo 1 - Acções em estruturas. Parte 1-1: Acções
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Português da Qualidade, 2009.
C. S. Oliveira, “Actualização das Bases-de-dados Sobre Frequências Próprias de
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/search/123279819/details/maximized). Acesso em: 22 jul.2020.
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Reference Report 4, Publications Office of the European Union, ISBN 978-92-79-
28966-8, 2013.

82
Anexos

Anexos
De forma a complementar o trabalho desenvolvido, serão apresentados neste anexo os
casos considerados relevantes.

Anexo I - Plantas de arquitetura do edifício

Figura I.1: Planta do R/C

83
Anexos

Figura I.2: Planta do andar S/ Loja

Figura I.3: Planta do 1º andar

84
Anexos

Figura I.4: Planta do 2º andar

Figura I.5: Planta do 3º andar

85
Anexos

Figura I.6: Planta do 4º andar

86
Anexos

Anexo II - Rotina escrita em Matlab, para gerar a distribuição probabilística dos


parâmetros chaves escolhidos

%--------------------------------------------------------------%
clear all
close all
clc
%--------------------------------------------------------------%
% Set number of samples to be generated %
%---- ---------------------------------------------------------%
N = 100;
%--------------------------------------------------------------%
%CARACTERIZAÇÂO PROBABILISTICA DOS PARÂMETROS CHAVES - VARIÁVEIS%
%--------------------------------------------------------------%

% X1 - VARIÁVEIS ASSOCIADAS À CARACTERIZAÇÃO DA MADEIRA

%X1.1 - Densidade da madeira [kN/m3] - distribuição normal%


densM = 5.688; %média
SdensM = 0.7; %desvio padrão

%X1.2 - Módulo de Elasticidade da madeira [GPa] - distribuição


lognormal%
EM = 8.5; % média
SEM = 1.04; %desvio padrão

% X2 - VARIÁVEIS ASSOCIADAS À CARACTERIZAÇÃO DA ALVENARIA

%X2.1 - Densidade da alvenaria [kN/m3] - distribuição normal%


densP = 22.0; %média
SdensP = 1.1; %desvio padrão

%X2.2 - Resistência à compressão da alvenaria [MPa] - distri-


buição lognormal%
RcP = 2.5; %média
SRcP = 0.85; %desvio padrão

%X2.3 - Módulo de Elasticidade da alvenaria [GPa] - distribuição


lognormal%
EP = 2; %módulo de elasticidade média
SEP = 0.75; %desvio padrão

% X3 - VARIÁVEIS ASSOCIADAS AO COEFICIENTE DE ATRITO ALVENARIA-


MADEIRA

%X3.1 - Atrito estático - distribuição lognormal%


niuEst = 0.6;
SniuEst = 0.114; %desvio padrão

87
Anexos

%X3.2 - Atrito cinético - lognormal%


niuCin = 0.5;
SniuCin = 0.095; %desvio padrão
%--------------------------------------------------------------%
% Generate Samples %
%--------------------------------------------------------------%
for i=1:N

DensM(i)= random('norm',densM, SdensM);


ElasM(i)= random('norm',EM, SEM);

DensP(i)= random('norm',densP, SdensP);


RCP(i)= random('norm',RcP, SRcP);
ElasP(i)= random('norm',EP, SEP);

AtriEst(i) = random('norm',niuEst, SniuEst);


AtriCin(i) = random('norm',niuCin, SniuCin);

end

figure
histfit(DensM),ylabel({'Número de amostras'}),xlabel({'Peso Volú-
mico [kN/m^3]'});%Densidade da madeira

hold on
x = [5.688 5.688];
y = [0 35];
ylim([0 30]);
plot(x,y,'--k','LineWidth',2)

figure
histfit(DensP),ylabel({'Número de amostras'}),xlabel({'Peso Volú-
mico [kN/m^3]'});%Densidade da alvenaria

hold on
x = [22 22];
y = [0 35];
ylim([0 30]);
plot(x,y,'--k','LineWidth',2)

figure
histfit(AtriEst),ylabel({'Número de amostras'}),xlabel({'Coefi-
ciente de atrito estático'});%Coef. de atrito estático

hold on
x = [0.6 0.6];
y = [0 35];

88
Anexos

ylim([0 30]);
plot(x,y,'--k','LineWidth',2)

figure
histfit(AtriCin),ylabel({'Número de amostras'}),xlabel({'Coefi-
ciente de atrito cinético'});%Coef. de atrito cinético

hold on
x = [0.5 0.5];
y = [0 35];
ylim([0 30]);
plot(x,y,'--k','LineWidth',2)

figure
histfit(RCP),ylabel({'Número de amostras'}),xlabel({'Resistência
à compressão [MPa]'});%Resistência à compressão da alvenaria

hold on
x = [2.5 2.5];
y = [0 35];
ylim([0 30]);
plot(x,y,'--k','LineWidth',2)

figure
histfit(ElasM),ylabel({'Número de amostras'}),xlabel({'Módulo de
elasticidade [GPa]'});%Elasticidade da madeira

hold on
x = [8.5 8.5];
y = [0 35];
ylim([0 30]);
plot(x,y,'--k','LineWidth',2)

figure
histfit(ElasP),ylabel({'Número de amostras'}),xlabel({'Módulo de
elasticidade [GPa]'});%Elasticidade da alvenaria

hold on
x = [2 2];
y = [0 35];
ylim([0 30]);
plot(x,y,'--k','LineWidth',2)

89
Anexos

Anexo III - Curvas para “inter-storey drift” e curvas para às ligações dos pisos às
paredes

A Figura III. 1 e Figura III. 2 apresentam-se as curvas para “inter-storey drift” e a Figura
III. 3 apresenta as curvas para às ligações dos pisos às paredes exteriores, para os
cinco passos de incrementação do PGA de um modelo numérico, escolhido a título de
exemplo.

Na Figura III. 4 e Figura III. 5 apresentam-se curvas de capacidade de dois elementos


“link” que constituem as paredes frontais, evidenciando o comportamento do desses
elementos desde a fase linear até a fase não linear, para os níveis de PGA considerados
para a análise dinâmica não linear. Salienta-se que o “link 2005” integra-se na parede
frontal do alinhamento 3 e o “link 1342” integra-se na parede do alinhamento C (Figura
5.3).

Na parte final desta secção, ilustram-se gráficos de força-deslocamento na Figura III. 6


e na Figura III. 7, que evidenciam o comportamento não linear dos elementos de ligação
dos pisos às paredes de alvenaria exterior, para a cobertura do 3º andar considerando
os cinco níveis de PGA utilizados na realização de análise dinâmica não linear.

a) b)

c) d)

Figura III. 1: Curvas com estados limites de dano para os “inter-storey drift”: a) e b) Di-
reção X e Y, PGA 0,2g; c) e d) Direção X e Y, PGA 0,4g

90
Anexos

a) b)

c) d)

e) f)

Figura III. 2: Curvas com estados limites de dano para os “inter-storey drift”: a) e b) Dire-
ção X e Y, PGA 0,6g; c) e d) Direção X e Y, PGA 0,8g; e) e f) Direção X e Y, PGA 1,0g

91
Anexos

a) b)

c) d)

e)

Figura III. 3: Curvas com estados limites de dano para as ligações: a) PGA 0,2g; b)
PGA 0,4g; c) PGA 0,6g; d) PGA 0,8g; e) PGA 1,0g

92
Anexos

a) b)

c) d)

e) f)
Figura III. 4: Curvas de capacidade de elementos “link”, parede frontal: a) e b) PGA 0,2g;
c) e d) PGA 0,4g; e) e f) PGA 0,6g

93
Anexos

a) b)

c) d)

Figura III. 5: Curvas de capacidade de elementos “link”, parede frontal: a) e b) PGA 0,8g;
c) e d) PGA 1,0g

94
Anexos

a) b)

c) d)

e) f)
Figura III. 6: Curvas de força-deslocamento de elementos de ligação da cobertura do 3º
andar: a) e b) PGA 0,2g; c) e d) PGA 0,4g; e) e f) PGA 0,6g

95
Anexos

a) b)

c) d)
Figura III. 7: Curvas de força-deslocamento de elementos de ligação da cobertura do 3º
andar: a) e b) PGA 0,8g; c) e d) PGA 1,0g

96

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