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Júri:
Presidente: Doutora Ildi Cismasiu, Professora Auxiliar,
Universidade NOVA de Lisboa
Arguente: Doutor Válter José da Guia Lúcio, Professor Associado,
Universidade NOVA de Lisboa
Vogal: Doutor Corneliu Cismasiu, Professor Associado,
Universidade NOVA de Lisboa
i
ii
Agradecimentos
Agradeço a minha família, especialmente a minha mãe e minha irmã Luísa por terem
estado sempre ao meu lado durante o meu percurso académico e por todo o incentivo
que me deram, e que ficarei grato para sempre.
O meu muito obrigado a todos os meus amigos sem exceção, aos colegas da faculdade
desta fase de mestrado, especialmente ao Wilson Spencer e Ricardino Brito por todo
apoio e companheirismo demostrado ao longo deste tempo.
Deixo ainda uma palavra de apreço muito especial ao Moisés Brito, Alvalino Costa e
Emanuel Semedo, pela amizade, companheirismo, apoio e incentivo demostrado ao
longo desta fase de mestrado.
iii
iv
Resumo
Palavras-chave:
v
vi
Abstract
The main objective of this dissertation is to assess the seismic vulnerability of a pomba-
line building throught incremental dynamic analysis. Most of the masonry buildings built
in Lisbon, in particular the pombaline construction, show an advanced state of degrada-
tion caused, either by the lack of maintenance over time, or because they have under-
gone interventions that altered their original earthquake-resistant characteristics to ac-
commodate new features. At any moment, a seismic action of great magnitude may oc-
cur in Portugal, similar to the 1755 earthquake, which can test the resistance of these
types of buildings. The seismic vulnerability depends on several characteristics of the
building, such as age of the construction, geometry, construction techniques used and
the properties of the materials.
In the first stage, the dynamic characterization of the building was performed and sub-
sequently nonlinear incremental dynamic analyses and the corresponding calculations
were performed for the construction of the fragility curves of the analyzed building.
The SAP2000 software was used to perform incremental dynamic analyzes, using ten
real and distinct accelerograms, scaled to respect the design response spectrum defined
in Eurocode 8. In order to assess the degree of seismic vulnerability of the building,
different levels of PGA from 0,2g to 1,0g are defined, with increments of 0,2g. To assess
the overall damage status of the building, the probabilities of reaching a certain damage
state for a 0,55g design PGA were calculated, referring to the seismic zone of the build-
ing location. It was found that for this level of PGA, the building has a 100% probability
of suffering damage. However, there is a moderate (100%) to severe (92%) probability
of damage and 58% probability of suffering extensive damage or collapse.
Keywords:
Pombalino Buildings; Seismic Vulnerability; Masonry Walls; Front Walls; Incremental Dy-
namic Analysis; Fragility Curves.
vii
viii
Índice de Matérias
Resumo ---------------------------------------------------------------------------------------------------- v
1. Introdução --------------------------------------------------------------------------------------------- 1
2.3. Materiais---------------------------------------------------------------------------------------- 11
2.3.1. Alvenaria --------------------------------------------------------------------------------------------- 11
2.3.2. Madeira ---------------------------------------------------------------------------------------------- 11
2.3.3. Ferro -------------------------------------------------------------------------------------------------- 12
ix
3.1.3. Avaliação da Resistência de Paredes de Alvenaria ---------------------------------------19
3.1.4. Modelação de Paredes de Alvenaria ----------------------------------------------------------22
3.1.4.1. Método POR ------------------------------------------------------------------------------------25
3.1.4.2. Método SAM ------------------------------------------------------------------------------------26
x
6.5. Curvas de Fragilidade --------------------------------------------------------------------- 71
7.1. Conclusões------------------------------------------------------------------------------------ 76
Anexos --------------------------------------------------------------------------------------------------- 83
Anexo III - Curvas para “inter-storey drift” e curvas para às ligações dos pisos
às paredes------------------------------------------------------------------------------------------- 90
xi
xii
Índice de Figuras
xiii
Figura 3.16: Definição da altura eficaz para as colunas, adaptado de [27] -------------- 27
Figura 3.17: Comprimento eficaz para vigas: a) aberturas verticais alinhadas e b)
aberturas verticais desalinhadas [27] ------------------------------------------------------------- 28
Figura 3.18: Dispositivo de ensaio [21] ----------------------------------------------------------- 28
Figura 3.19: Carregamento horizontal cíclico: a) preparação do provete; b) provete
pronto para ensaio; c) diagrama força-deslocamentos [21] --------------------------------- 29
Figura 3.20: Paredes frontais: a) simples; b) reforçada com chapa metálica; c) reforçada
com dissipadores; d) reforçada com reboco armado [35] ------------------------------------ 30
Figura 3.21: Módulos de ensaio: a) GM; b) PA [39] ------------------------------------------- 31
Figura 3.22: Curvas de capacidade (força-deslocamento): a) GM; b) PA [39] ---------- 31
Figura 3.23: Parede frontal: a) geometria do modelo; b) modelação numéricaSAP2000;
c) curva de resposta [39] ----------------------------------------------------------------------------- 32
Figura 3.24: Mecanismo de colapso no plano: a) efeito “rocking”; b) movimento do nó,
para cima e para baixo; adaptado de [41]-------------------------------------------------------- 33
Figura 3.25: a) destacamento da alvenaria da madeira; b) diagonal comprimida e início
da encurvadura; c) rotura da diagonal por encurvadura [41] -------------------------------- 34
Figura 3.26: Modelo numérico (unidades em metros) [41] ----------------------------------- 35
Figura 3.27: Paredes frontais sob carregamento horizontal cíclico, adaptado de [41] 35
Figura 4.1: Paredes a modelar---------------------------------------------------------------------- 36
Figura 4.2: Geometria do modelo experimental [42]------------------------------------------- 37
Figura 4.3: “Door wall”: a) pórtico equivalente; b) definição de zonas rígidas ----------- 37
Figura 4.4: Pórtico equivalente, diagramas de esforços e tensão: a) esforço axial,
compressão; b) tensão normal, compressão; c) esforço transverso; d) momentos
fletores ---------------------------------------------------------------------------------------------------- 39
Figura 4.5: Curvas de capacidade, modelo numérico (azul) e ensaio experimental (preto)
[42]--------------------------------------------------------------------------------------------------------- 41
Figura 4.6: Mecanismos de rotura: modelo numérico a), b) e c); d) ensaio experimental
[42]--------------------------------------------------------------------------------------------------------- 42
Figura 4.7: Diagrama força-deslocamento: a), b) e c) provetes ensaiados em [21]; d)
curva média --------------------------------------------------------------------------------------------- 43
Figura 4.8: Bilinearização da curva média ------------------------------------------------------- 43
Figura 4.9: Modelação numérica: a) configuração da parede frontal [21]; b) modelo
numérico concebido no SAP2000------------------------------------------------------------------ 45
Figura 4.10: Lei constitutiva definida nas molas ------------------------------------------------ 45
Figura 4.11: Esquema de cálculo do peso específico equivalente ------------------------- 46
Figura 4.12: a) configuração deformada, modelo numérico; b) comparação dos
resultados, numérico (curva azul) e experimental (curva preta) [21] ---------------------- 46
Figura 5.1: Fachada principal ----------------------------------------------------------------------- 49
Figura 5.2: Planta do 1º andar ---------------------------------------------------------------------- 50
Figura 5.3: Configuração simplificada (dimensões em metros) ----------------------------- 50
Figura 5.4: Rótulas plásticas: a) curva padrão SAP2000; b) e c) comportamento
assumido para os nembos; d) e e) comportamento assumido para os lintéis ----------- 52
xiv
Figura 5.5: Pórtico equivalente fachada principal----------------------------------------------- 53
Figura 5.6: Fachada principal, SAP2000: a) pórtico equivalente; b) vista “extrude” ---- 53
Figura 5.7: Deformada do nembo, sujeito a uma força horizontal, modelo de cálculo: a)
para determinar a rigidez; b) para determinar a rotação elástica --------------------------- 54
Figura 5.8: Parede frontal definida no SAP2000 ------------------------------------------------ 56
Figura 5.9: Esquema de cálculo para definição da lei constitutiva dos “links” ----------- 57
Figura 5.10: Comportamento do “link”: a) lei constitutiva; b) modelo estrutural --------- 57
Figura 5.11: Gráficos: a) lei constitutiva pré-definida no “link”; b) deslocamento - tempo;
c) reação - tempo, nó 4; d) reação - deslocamento, nó 4 ------------------------------------- 58
Figura 5.12: Determinação das forças: área de influência e pórtico equivalente ------- 61
Figura 5.13: Modelação numérica: a) vista exterior; b) vista interior; c) parede frontal
(alinhamento C); d) pavimento de madeira 1º andar------------------------------------------- 63
Figura 5.14: Quatro primeiros modos de vibração: a) 1º modo - translação em X; b) 2º
modo - translação em Y; c) e d) 3º e 4º modo - torção ---------------------------------------- 64
Figura 6.1: Espectro de resposta elástico e acelerogramas reais: a) tipo 1; b) tipo 2;- 66
Figura 6.2: Distribuição probabilística: a) Densidade da madeira; b) Módulo de
elasticidade da madeira; c) Coeficiente de atrito estático; d) Coeficiente de atrito cinético
-------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 67
Figura 6.3: Distribuição probabilística: a) Módulo de elasticidade alvenaria; b) Peso
volúmico da alvenaria; c) Resistencia à compressão da alvenaria ------------------------- 68
Figura 6.4: Análise do número de amostras: a) desvio padrão; b) erro do desvio padrão
-------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 69
Figura 6.5: Curvas de fragilidade global do edifício -------------------------------------------- 72
Figura 6.6: Aceleração do espetro elástico para a zona sísmica considerada ---------- 73
Figura 6.7: Probabilidades de cada estado de dano para um nível de PGA 0,55g ----- 74
Figura 6.8: Curvas com estado limites de dano para “inter-storey drift”: a) Direção X; b)
Direção Y ------------------------------------------------------------------------------------------------- 75
Figura 6.9: Curva com estado limites de dano para as ligações ---------------------------- 75
xv
xvi
Índice de Tabelas
xvii
xviii
Lista de abreviaturas, siglas e símbolos
Siglas e Abreviaturas
CP Collapse Prevention
DS Damage State
DEC Departamento de Engenharia Civil
EC1 Eurocódigo 1
EC8 Eurocódigo 8
FCT Faculdade de Ciências e Tecnologia
IO Immediate Ocupance
IDA Incremental Dynamic Analysis
ICIST Instituto de Engenharia de Estruturas, Território e Construção
ISISI Institute for Sustainability and Innovation in Structural Engineering
IST Instituto Superior Técnico
LNEC Laboratório Nacional de Engenharia Civil
LS Life Safety
PEER Pacific Earthquake Engeneering Research
PGA Peak Ground Acceleration
JCSS Probabilistic Model Code
SAM Simplified Analysis Masonry Buildings
U. Minho Universidade do Minho
UNL Universidade Nova de Lisboa
U. Greece University of Greece
U. London University of London
Símbolos
𝜇 Coeficiente de atrito
𝜈 Coeficiente de poisson
𝜌 Densidade
𝐸 Módulo de elasticidade
𝐺 Módulo de distorção
𝜀 Deformação
𝜎 Tensão normal de compressão
𝜎0 Tensão normal média de compressão
xix
𝜏 Tensão de corte
𝐶𝑢 Coesão
𝑓𝑐,0,𝑘 Resistência à compressão (paralela às fibras)
𝑓𝑢 Tensão de compressão
𝛿 Deslocamento
∅ Ângulo de atrito
𝜃 Rotação
𝛼 Resistência residual
𝜓𝑖 Coeficiente de combinação
𝛽 Desvio padrão
𝛾 Peso específico
∆𝐿 Variação do comprimento
𝜉 Relação entre a altura e largura do nembo
Φ Função de probabilidade de distribuição lognormal
𝐹𝑎 Força de atrito
𝑇 Período de vibração
𝑓 Frequência de vibração
𝑎 Aceleração
𝑔 Aceleração de gravidade
𝑁 Número de andares
𝑉𝑢 Esforço de corte último
𝑉𝑟𝑑 Esforço de corte resistente
𝑀𝑢 Esforço de flexão último
𝑀𝑟𝑑 Esforço de flexão resistente
𝑑𝑟 Deslocamento entre pisos
𝑆𝑎 Aceleração espetral
𝑆𝑑 Deslocamento espetral
xx
Capítulo 1
1. Introdução
1
Capítulo 1 - Introdução
O primeiro capítulo diz respeito à introdução, na qual se apresenta uma síntese geral
assim como os objetivos a cumprir ao longo da realização deste trabalho.
2
Capítulo 2
2.1. Generalidades
Na manhã do dia 1 de novembro de 1755, Lisboa sofreu um forte abalo sísmico com
magnitude estimada entre 8,5 a 8,9 na escala de Richter [4], seguido de um maremoto
e diversos incêndios. A Baixa da cidade de Lisboa ficou praticamente destruída e quase
tudo o que sobrou acabou demolido. A intensidade e a dimensão da catástrofe levaram
à necessidade de reconstrução da cidade ou, simplesmente, mudá-la para outro lado.
Assim sendo, optou-se pela reconstrução da cidade no seu local ancestral, estabele-
cendo-se uma série de critérios a que deveria obedecer a nova cidade a erguer. Os
critérios principais definidos para a reconstrução da cidade dizem respeito ao: desenho
e conceção (constituição das fachadas, altura dos edifícios, ruas largas com passeios,
etc.); e as implicações socioeconómicos (comercial, residencial, religioso e público); se-
gurança (estrutura em gaiola, resistência aos sismos e ao fogo); higiene e salubridade
(drenagem de águas residuais e pluviais). A reconstrução da Baixa de Lisboa foi feita
com o cuidado de conferir aos edifícios resistência sísmica [5].
3
Capítulo 2 - Descrição dos Edifícios Pombalinos
Paramento Paredes
Tipologias Fundação Estrutura
Exterior Interiores
Alvenaria ordi-
Madeira Alvenaria de pe-
nária e/ou
Pré-pombali- dra, taipa e adobe Adobe e tabique de
aparelhada Paredes resisten-
nos (até 1755) tes de alvenaria Poucas aberturas madeira
Estacas de
de pedra ou tijolo para o exterior
madeira
4
Capítulo 2 - Descrição dos Edifícios Pombalinos
Paramento Paredes
Tipologias Fundação Estrutura
Exterior Interiores
Paredes resisten-
Alvenaria ordi-
tes de alvenaria
nária e/ou Alvenaria de pe-
Misto Alvenaria de tijolo
aparelhada Lajes e vigas de dra e de tijolo ma-
(1930-1940) betão armado que furado
Estacas de ciço
descarregam nas
madeira
paredes
Alvenaria dupla
Pórtico de betão
Betão armado 1 de tijolo furado Alvenaria de tijolo
Betão armado armado
(1940-1960) Poucas janelas furado
Lajes
nas fachadas
Alvenaria dupla
Pórtico e paredes
de tijolo furado
resistentes de be-
tão armado Elementos pré-fa-
Betão armado 2 Alvenaria de tijolo
Betão armado bricados de betão
(após 1960) Lajes furado
armado
Estrutura mista de
Várias aberturas
aço-betão armado
nas fachadas
Os edifícios pombalinos, ver Figura 2.2, costumam ser constituídos por quatro e/ou
cinco pisos incluindo águas-furtadas [6]. A sua principal característica estrutural é a cha-
mada gaiola pombalina. Designa-se por gaiola pombalina uma estrutura de madeira em
cruz de Santo André preenchido com alvenaria de pedra ordinária, capaz de resistir a
forças horizontais no plano, bem como as cargas verticais, transmitindo-as de piso para
piso até às fundações.
▪ Fundações;
▪ Pavimentos e Tetos;
▪ Paredes;
▪ Cobertura;
▪ Escadas.
5
Capítulo 2 - Descrição dos Edifícios Pombalinos
2.2.1. Fundações
6
Capítulo 2 - Descrição dos Edifícios Pombalinos
a) b)
Figura 2.4: Edifícios pombalinos: a) teto do rés-do-chão [10], b) piso dos andares [2]
Os pisos dos andares superiores são constituídos por vigas de madeira, colocadas per-
pendicularmente às fachadas, denominadas barrotes e elementos ortogonais denomi-
nados tarugos de modo a evitar a rotação e encurvadura das vigas. Nas construções de
melhor qualidade os barrotes são peças únicas dispostas de fachada a fachada e em
outras são emendados sobre os frontais, perdendo continuidade [10]. As vigas apresen-
tam secções retangulares, de lados entre os 16 e os 20 cm de altura, com largura se-
melhante ou inferior e espaçamentos próximos dos 50 cm (Figura 2.5) [2]. Os pisos são
revestidos superiormente por tábuas soalhos, e inferiormente, os tetos são revestidos
por forros do tipo “saia” e “camisa” ou por estuques sobre o fasquiado. Os tetos geral-
mente são constituídos por um forro de pranchas de madeira sobrepostas ou em estafe,
pregado diretamente nos barrotes.
2.2.3. Paredes
7
Capítulo 2 - Descrição dos Edifícios Pombalinos
No que diz respeito às paredes da fachada, a espessura varia entre os 0,80 a 1,00 m.
As paredes das empenas têm espessuras entre os 0,50 e 0,80 m, são comuns aos
edifícios de ambos os lados e em geral prolongavam-se acima da abertura, constituindo
assim uma barreira à propagação de potenciais incêndios. A sua constituição é em al-
venaria de pedras irregulares de calcário, com argamassa de cal aérea e ainda alguns
materiais cerâmicos aproveitados dos escombros das construções antigas.
a) b)
As paredes interiores dos edifícios pombalinos, são classificadas em dois tipos, medi-
ante as suas funcionalidades. Paredes de frontal que desempenham funções estruturais
e paredes de tabique com funções de compartimentação.
Uma parede de frontal é constituída por três elementos principais em madeira, prumos,
travessas e diagonais, devidamente ligadas entre si, formando uma gaiola pombalina
em Cruz de Santo André preenchida com alvenaria. Por forma a vencer alguns vãos, a
estrutura pode ser reforçada com pendurais e vergas [14].
8
Capítulo 2 - Descrição dos Edifícios Pombalinos
tabique costaneiras, por serem constituídos por séries paralelas de pranchas de ma-
deira com 4 cm de espessura, espaçadas entre si pelo menos 1 cm e pregadas ao alto
em calhas [2, 12]. É importante sublinhar que existem diversas soluções aquando da
execução das paredes divisórias dos edifícios antigos, variando consoante a região e
disponibilidade dos materiais. Apresenta-se na Figura 2.6 o tipo de parede em tabique
mais comum.
Figura 2.6: Parede do tipo tabique simples com fasquiado [2, 12]
2.2.4. Cobertura
De uma forma geral os edifícios pombalinos apresentam dois tipos de coberturas: co-
berturas triangulares formadas por duas águas (cobertura simples) e coberturas aman-
sardadas [11]. No primeiro tipo de cobertura, a estrutura de asnas é simples (Figura 2.7)
e é semelhante à cobertura tradicional. As asnas da cobertura são compostas por per-
nas, linhas, pendurais, escoras, madres, fileiras e frechais. A estrutura da cobertura
apoia nas paredes de fachada principal e posterior. Neste tipo de coberturas denotam-
se existência de janelas de peito alto, designadas por trapeiras e o acesso dá-se através
de um corredor estreito.
No que se refere à composição das asnas, são diferentes para os dois tipos de cober-
turas. Nas coberturas amansardadas, verifica-se a presença de pernas de força e pru-
mos onde assentam estruturas iguais às estruturas de cobertura simples. Nos dois tipos
de cobertura são utilizadas telhas de canudo aplicadas de baixo para cima.
9
Capítulo 2 - Descrição dos Edifícios Pombalinos
2.2.5. Escadas
No que diz respeito às escadas dos edifícios pombalinos, estão localizadas no interior
do edifício com iluminação natural através de uma claraboia. Por razões de segurança
relacionadas com a propagação de incêndios, na maioria dos edifícios, os degraus do
primeiro lance de escadas que dá acesso aos pisos residenciais era de pedra e nos
lances seguintes a escada era de madeira, conforme mostra a Figura 2.9. As escadas
apoiam nas paredes de alvenaria e paredes de frontal que se encontram nas suas late-
rais.
10
Capítulo 2 - Descrição dos Edifícios Pombalinos
2.3. Materiais
No que diz respeito aos materiais, os edifícios pombalinos apresentam três tipos de
materiais: alvenaria, madeira e ferro.
2.3.1. Alvenaria
2.3.2. Madeira
11
Capítulo 2 - Descrição dos Edifícios Pombalinos
Figura 2.10: Orientação das fibras de madeira face à carga aplicada, adaptado de [19]
2.3.3. Ferro
O ferro está presente nas construções pombalinas nos dispositivos de ligação entre os
elementos estruturais em forma de pregos em ferro forjado, proporcionando uma boa
ligação entre os principais elementos estruturais. Os pregos utilizados nos frontais e
pavimentos são caracterizados por serem fabricados manualmente, terem cabeça larga,
secção quadrada desigual, comprimento que varia em função da espessura do ele-
mento de madeira a ligar, e terminam em bico ou gume.
12
Capítulo 3
13
Capítulo 3 - Comportamento Estrutural das Paredes
a) b)
14
Capítulo 3 - Comportamento Estrutural das Paredes
a) b) c)
d) e)
Tendo em conta este tipo de comportamento, pretende-se garantir uma ligação eficaz
das paredes, apoiando-se mutuamente para poder assegurar um comportamento sís-
mico satisfatório. Previamente desconhece-se a orientação dos sismos e, é vista como
15
Capítulo 3 - Comportamento Estrutural das Paredes
a) b)
Figura 3.3: Comportamento de paredes de alvenaria isoladas atuadas por forças hori-
zontais: a) comportamento no plano; b) comportamento fora do plano; original de [23]
citando [24]
Na Figura 3.5 ilustra-se uma situação em que a ligação entre as paredes por si só não
é suficiente para evitar a formação de mecanismos para fora do plano, devido ao com-
primento excessivo de duas paredes, colocando em causa a eficiência e o apoio das
paredes ortogonais ao longo da sua extensão. Para resolver esta situação, a contribui-
ção dos pavimentos no contraventamento das paredes ao nível dos pisos é importante.
Conforme a deformabilidade dos pavimentos no seu plano, pode dizer-se que os dia-
fragmas são mais flexíveis ou mais rígidos. De uma forma geral, os pavimentos de ma-
deira existentes nos edifícios antigos funcionam como diafragmas flexíveis. A influência
dos pavimentos no impedimento de deslocamentos da parede para fora do seu plano,
poderá ser consultada em [23, 25].
Figura 3.4: Efeito da ligação entre paredes, original de [23] citando [24]
16
Capítulo 3 - Comportamento Estrutural das Paredes
a) b)
a) b) c)
Figura 3.6: Derrubamento da parede por flexão composta para fora do plano [16]
17
Capítulo 3 - Comportamento Estrutural das Paredes
Nas fachadas dos edifícios antigos, em alvenaria de pedra, a resistência à ação sísmica
e às cargas verticais é garantida pelos nembos, todavia os lintéis desempenham uma
função estrutural importante ao ligarem os nembos. Segundo [27] os lintéis podem
18
Capítulo 3 - Comportamento Estrutural das Paredes
Figura 3.8: Mecanismo de colapso dos lintéis, comportamento no plano: a) lintel sujeito
à ação sísmica; b) lintel sem reforço; c) lintel reforçado [26, 27]
19
Capítulo 3 - Comportamento Estrutural das Paredes
Figura 3.9: Esquema de forças no nembo devidos a flexão composta no seu plano [27]
𝑀 =𝑃∙𝑒
𝑃 } 𝑀 = 𝜎0 ∙ 𝐷 ∙ 𝑡 ∙ 𝑒 (3.1)
𝜎0 =
𝐷∙𝑡
𝑃 = 𝑎 ∙ 𝑘 ∙ 𝑓𝑢 ∙ 𝑡 1 𝑃
𝐷 𝑎 } 𝑒= (𝐷 − ) (3.2)
𝑒=𝐷− − 2 𝑘 ∙ 𝑓𝑢 ∙ 𝑡
2 2
𝜎0 ∙ 𝐷2 ∙ 𝑡 𝜎0 (3.3)
𝑀𝑟𝑑 = ∙ (1 − )
2 𝑘 ∙ 𝑓𝑢
Onde:
Tendo como base o modelo de cálculo apresentado na Figura 3.9, é possível calcular o
esforço transverso máximo resistente do nembo, relacionando o momento resistente
com a distância da secção de momento nulo a secção de controlo, através da expressão
(3.4).
𝜎0 ∙ 𝐷2 ∙ 𝑡 𝜎0 (3.4)
𝑀𝑟𝑑 = 𝑉𝑟𝑑 ∙ 𝐻0 → 𝑉𝑟𝑑 = ∙ (1 − )
2 ∙ 𝐻0 𝑘 ∙ 𝑓𝑢
A resistência ao corte foi modelada de acordo com dois critérios de resistência. O pri-
meiro é definido para a resistência à fendilhação diagonal para ações no plano e pode
ser determinada com base na expressão (3.5) [16, 28]:
20
Capítulo 3 - Comportamento Estrutural das Paredes
1,5 ∙ 𝐶𝑢 ∙ 𝐷 ∙ 𝑡 𝜎0 (3.5)
𝑉𝑟𝑑 = ∙ √(1 + )
𝜉 1,5 ∙ 𝐶𝑢
Figura 3.10: Esquema de forças na base do nembo, deslizamento por corte [27]
Assim sendo, o esforço resistente devido ao deslizamento por corte é calculado com
recurso à equação (3.8).
𝜏 = 𝐶𝑢 + 𝜎 𝑡𝑎𝑛 ∅
𝑉
𝜏= (3.6)
𝐷′ ∙ 𝑡 𝑉 = 𝐷′ ∙ 𝑡 ∙ 𝐶𝑢 + 𝑃 ∙ 𝑡𝑎𝑛∅
𝑃
𝜎=
𝐷′ ∙ 𝑡 }
𝑀 = 𝑉 ∙ 𝐻0 = 𝑃 ∙ 𝑒
𝐷 𝑉 ∙ 𝐻0 (3.7)
𝐷 𝐷′ } 𝐷′ = 3 ∙ ( − )
𝑒=𝐷− − 2 𝑃
2 3
1,5 ∙ 𝐶𝑢 + 𝜎0 ∙ 𝑡𝑎𝑛∅
𝑉𝑟𝑑 = ∙𝐷∙𝑡 (3.8)
3 ∙ 𝐻0
1 + 𝜎 ∙ 𝐷 ∙ 𝐶𝑢
0
21
Capítulo 3 - Comportamento Estrutural das Paredes
Onde:
𝑉𝑟𝑑 = 𝐷 ∙ 𝑡 ∙ 𝐶𝑢 (3.9)
22
Capítulo 3 - Comportamento Estrutural das Paredes
23
Capítulo 3 - Comportamento Estrutural das Paredes
24
Capítulo 3 - Comportamento Estrutural das Paredes
Nos parágrafos seguintes começa-se por explicar os princípios do método POR e depois
os desenvolvimentos feitos no método SAM. Este último método é usado para as simu-
lações no âmbito desta dissertação. Para mais detalhes sobre o método TREMURI
aconselha-se a consulta da bibliografia [34].
Este método foi idealizado para avaliar a segurança sísmica de edifícios de alvenaria
por Tomaževič em 1978, e baseia-se no resultado da experiência adquirida pela obser-
vação de danos causados pelos sismos. O método POR é formulado segundo as se-
guintes hipóteses [33]:
25
Capítulo 3 - Comportamento Estrutural das Paredes
Uma das limitações mais evidentes deste método, é considerar o colapso dos nembos
exclusivamente por corte diagonal devido ao tipo de edifícios observados que contem-
plavam fachadas, constituídas por nembos pouco esbeltos (reduzida relação al-
tura/comprimento), sujeito a esforços normais moderados e por lintéis significativamente
rígidos [33]. Esta limitação viria a ser colmatada, quando o método POR foi utilizado
para analisar edifícios com nembos esbeltos e pouco carregados axialmente, o que terá
dado resultados não fiáveis, uma vez que a rotura por flexão composta é mais condici-
onante nestes tipos de casos. Por consequente, e através da investigação experimental
posterior, além do colapso por corte diagonal foi incluído o colapso por flexão composta.
No que se refere a análise não linear para edifícios de alvenaria, o método POR, tem
como procedimento de cálculo da capacidade resistente, a soma das respostas bilinea-
res definidas para cada conjunto de nembos, como ilustrado na Figura 3.14.
Figura 3.14: Princípio de cálculo do método POR, original de [33] citando [34]
26
Capítulo 3 - Comportamento Estrutural das Paredes
Lintél
Nembo
Elemento de
ligação
1 ̅ − ℎ′
𝐻
𝐻𝑒𝑓𝑓 = ℎ′ + ∙𝐷∙( ) (3.10)
3 ℎ′
Onde:
27
Capítulo 3 - Comportamento Estrutural das Paredes
As vigas são deformáveis ao longo do seu comprimento eficaz, com resistência finita. O
comprimento eficaz no caso de aberturas verticalmente alinhadas em pisos consecuti-
vos (Figura 3.17 a) é igual ao comprimento da abertura. Para o caso de aberturas verti-
cais desalinhadas, o comprimento eficaz é definido como ilustrado na Figura 3.17 b).
28
Capítulo 3 - Comportamento Estrutural das Paredes
Os provetes foram devidamente preparados para a realização dos ensaios, que consis-
tiram na aplicação duma força horizontal cíclica no topo da parede, através dum dispo-
sitivo de ensaio (Figura 3.18). Os provetes apresentaram comportamento linear na pri-
meira fase, até ao início do despregamento das peças de madeira e por consequente o
surgimento das primeiras fendas, observando-se depois uma fase de comportamento
não linear. Apresenta-se na Figura 3.19 a preparação do provete para a realização do
ensaio. Constata-se através do resultado do ensaio experimental (Figura 3.19 c), que o
provete resistiu a uma força horizontal máxima de 71 kN, para um deslocamento de 10
cm aproximadamente, sem perda significativa da resistência.
a)
b) c)
29
Capítulo 3 - Comportamento Estrutural das Paredes
a) b)
c) d)
Figura 3.20: Paredes frontais: a) simples; b) reforçada com chapa metálica; c) refor-
çada com dissipadores; d) reforçada com reboco armado [35]
J. G. Ferreira, A. M.
Avaliação do Comportamento de Paredes
2011 Gonçalves, L. Guer- ICIST, IST
em Edifícios Pomblinos [39]
reiro e F. Branco
A. M. Gonçalves, J. G. Caracterização Experimental do Comporta-
2012 Ferreira, L. Guerreiro e IST mento Mecânico de Paredes de Frontal
F. Branco Pombalinas Com e Sem Reforço [35]
P. B. Lourenço,
ISISI, U. Edifícios Pombalinos: Comportamento e re-
2014 G.Vasconcelos e E.
Minho forço [40]
Poletti
30
Capítulo 3 - Comportamento Estrutural das Paredes
Entre os trabalhos indicados na Tabela 3.2, nesta dissertação destaca-se o estudo rea-
lizado em [39], por ser mais completo. No âmbito desse estudo foram realizadas duas
campanhas experimentais, modelação numérica e reforço sísmico. Na presente disser-
tação apresenta-se, apenas a primeira campanha experimental e a modelação numé-
rica, uma vez que o reforço sísmico deste tipo de paredes não será explicado.
a) b)
Analisando as três curvas do gráfico da Figura 3.22 a), constata-se que as gaiolas GM1
e GM2 têm uma rigidez inicial semelhante. Observa-se também que a GM3 apresenta
uma maior rigidez e apesar disto é a primeira gaiola a apresentar uma queda brusca do
valor da força para menor deslocamento e, mesmo assim consegue recuperar alguma
rigidez e alcançar a força máxima que é aproximadamente 40 kN. Para GM2 obteve-se
valores superiores de deslocamentos para uma rotura brusca mais tardia, praticamente
sem nenhuma capacidade de recuperar a sua rigidez.
a)
b)
Figura 3.22: Curvas de capacidade (força-deslocamento): a) GM; b) PA [39]
Para os módulos “PA”, observa-se no gráfico da Figura 3.22 b) que as paredes de alve-
naria PA2 e PA3 desenvolvem um comportamento semelhante. O módulo PA1
31
Capítulo 3 - Comportamento Estrutural das Paredes
apresenta uma maior rigidez face aos outros dois módulos. Os módulos PA1 e PA2
atingem maiores valores de força, sendo que PA2 apresenta uma rotura brusca para
menor deslocamento, permitindo que o módulo PA1 atingisse maior valor da força e do
deslocamento. Em suma, analisando os dois gráficos da Figura 3.22 observa-se que a
presença da alvenaria confere maior rigidez e resistência para os módulos. Os módulos
“PA” atingiram maior valor de força de rotura para maior deslocamento, quando se com-
para com os módulos “GM”. Realça-se a importância da presença das alvenarias nos
módulos, pois resistem a carregamentos verticais.
a) b) c)
32
Capítulo 3 - Comportamento Estrutural das Paredes
A autora definiu que o primeiro mecanismo pode ser identificado como efeito “rocking”
(Figura 3.24 a), e tem a ver com o movimento do corpo rígido da parede carregada em
torno de um ponto fixo na base da estrutura, provocando deslocamento dos nós para
cima e para baixo. Refere-se que neste tipo de mecanismo enquanto as alvenarias não
colapsarem e, por consequência, as diagonais não são solicitadas, ou seja, não são
comprimidas ou tensionadas. Observa-se na Figura 3.24 b) que o nó movimenta para
cima e para baixo, provocando esforço de tração e de compressão. O movimento do nó
para cima provoca esforço de corte, que é resistido pelos pregos que asseguram a liga-
ção entre os elementos, enquanto que o movimento do nó para baixo é resistido pelo
elemento horizontal disposto na base da estrutura.
a) b)
H. Meireles [41] mencionou que o segundo mecanismo está associado à distorção das
paredes frontais. Durante a realização dos testes experimentais, verificou-se o destaca-
mento das alvenarias de preenchimento das gaiolas de madeira para pequenos deslo-
camentos (Figura 3.25 a), com o aumento da força horizontal. Com o destacamento da
alvenaria deixa da haver confinamento, e a resistência da parede fica condicionada à
resistência das diagonais. O ponto onde cruzam as diagonais é um ponto frágil, porque
33
Capítulo 3 - Comportamento Estrutural das Paredes
a) b) c)
34
Capítulo 3 - Comportamento Estrutural das Paredes
Figura 3.27: Paredes frontais sob carregamento horizontal cíclico, adaptado de [41]
35
Capítulo 4
36
Capítulo 4 - Validação da Modelação Adotada
7 8 9
30°
4 5 6
1 2 3
37
Capítulo 4 - Validação da Modelação Adotada
Com o pórtico equivalente definido, o passo seguinte é a definição das cargas a aplicar
nos nós do pórtico, numerados de 4 a 9 na Figura 4.3 a). Resumidamente, as cargas
são compostas por duas componentes: a primeira diz respeito ao peso próprio da pa-
rede e a segunda às cargas atuantes no piso. As cargas provenientes dos pisos são
calculadas com recurso a áreas de influência e devidas ao peso próprio, restante carga
permanente e sobrecargas de utilização. Uma vez que o objetivo é validar a metodologia
de cálculo utilizando o SAP2000 por comparação com os resultados obtidos em [42], os
valores das cargas a aplicar serão os mesmos que foram aplicados nesse estudo. As-
sume-se que cada nó tem a área de influência representada por linhas tracejadas (Fi-
gura 4.3 a) e que metade da carga da parede do piso térreo é encaminhada diretamente
para a fundação. Apresenta-se na Tabela 4.1 e na Tabela 4.2, os dados relevantes uti-
lizados na definição da geometria do pórtico equivalente, para nembos e lintéis, respe-
tivamente.
Na Tabela 4.3, apresenta-se a distribuição das cargas verticais, o esforço axial, a tensão
e a distância do ponto de momento nulo à extremidade (H0), para os nembos. Para a
definição do H0 é necessário carregar a estrutura em simultâneo com as cargas verticais
e forças gravíticas horizontais (F1 = 145,1 kN e F2 = 175,1 kN) ao nível dos pisos. Ilustra-
se na Figura 4.4 os diagramas de esforços e tensão nos nembos e lintéis.
No que diz respeito ao posicionamento das rótulas plásticas de flexão nos nembos, e
tendo em conta que os diagramas de momentos apresentam valores máximos nas ex-
tremidades (Figura 4.4 d), as rótulas foram consideradas nas secções extremas dos
nembos. No presente caso de estudo, a massa da parede é concentrada no topo dos
nembos, o que faz com que o andamento dos diagramas de esforço transverso seja
constante ao longo da altura dos nembos (Figura 4.4 c). Assim sendo, opta-se pela
colocação das rótulas plásticas de corte a meia altura dos nembos. Os lintéis, estão
sujeitos a esforço transverso constante ao longo do seu comprimento, pelo que é
38
Capítulo 4 - Validação da Modelação Adotada
indiferente o posicionamento das rotulas plásticas de corte (Figura 4.4 c). Optou-se por
colocar estas rótulas a meio comprimento dos lintéis. Na Figura 4.3 b) representou-se
esquematicamente, o posicionamento das rotulas plásticas de flexão e corte, para nem-
bos e lintéis. A capacidade resistente das rótulas plásticas de flexão e de corte, foi defi-
nida conforme referido na subsecção 3.1.3, considerando as propriedades mecânicas
da alvenaria indicadas na Tabela 4.4.
a) b)
c) d)
39
Capítulo 4 - Validação da Modelação Adotada
Atrito 𝜇 0,75
̅̅̅̅̅̅̅̅
* Alvenaria de tijolo maciço.
40
Capítulo 4 - Validação da Modelação Adotada
SAM
150
100
Força [kN] 50
0
-0.025 -0.02 -0.015 -0.01 -0.005 0 0.005 0.01 0.015 0.02 0.025
-50
-100
-150
Deslocamento [m]
41
Capítulo 4 - Validação da Modelação Adotada
a) b)
c) d)
Figura 4.6: Mecanismos de rotura: modelo numérico a), b) e c); d) ensaio experi-
mental [42]
42
Capítulo 4 - Validação da Modelação Adotada
500 500
400 400
Força [kN]
Força [kN]
300 300
200 200
100 100
P1 P2
0 0
0 0.2 0.4 0.6 0.8 1 1.2 0 0.2 0.4 0.6 0.8 1 1.2
a) Deslocamento [mm] b) Deslocamento [mm]
500 500
400 400
Força [kN]
Força [kN]
300 300
200 200 P1
P2
100 100 P3
P3 C. Média
0 0
0 0.2 0.4 0.6 0.8 1 1.2 0 0.2 0.4 0.6 0.8 1 1.2
c) Deslocamento [mm]
d) Deslocamento [mm]
500
400
Força [kN]
300
200
100
C. Média
C. Bilinear
0
0 0.2 0.4 0.6 0.8 1 1.2
Deslocamento [mm]
43
Capítulo 4 - Validação da Modelação Adotada
𝜎 = E∙𝜀 (4.1)
𝐹 𝐿
E= ∙ (4.2)
𝐴 ∆𝐿
Onde:
𝜎 é a tensão; A é a área;
𝜀 é a deformação; 𝐿 é o comprimento;
F é a força;
Com base no resultado experimental do LNEC [21] e na bibliografia consultada [22, 28,
45, 46], os valores do módulo de elasticidade para este elemento estrutural costumam
variar entre 0,3 e 3,0 GPa. O valor do E obtido através da expressão (4.2) é de aproxi-
madamente 2,14 GPa. Em suma, o valor estimado para o E está dentro da média dos
valores reportados na bibliografia consultada. É de salientar que para a modelação nu-
mérica considera-se um valor conservativo para o módulo de elasticidade de 2,0 GPa.
44
Capítulo 4 - Validação da Modelação Adotada
a) b)
O comportamento não linear das molas foi definido previamente por uma lei constitutiva,
como ilustrada no gráfico da Figura 4.10. No que se refere às configurações, conside-
rou-se as dimensões dos provetes ensaiados em [21], com as propriedades mecânicas
(iniciais) da madeira indicada na Tabela 3.3. Como referido, as diagonais e a alvenaria
de preenchimento não foram modeladas, mas considerou-se indiretamente as suas
massas, combinando o peso específico da alvenaria e da madeira de acordo com as
expressões (4.3) e (4.4), para prumos e travessas, respetivamente. Esta combinação
foi desenvolvida com base no esquema ilustrado na Figura 4.11.
45
30
Força [kN]
15
-15
-30
-45
-0.045 -0.03 -0.015 0 0.015 0.03 0.045
Deslocamento [m]
45
Capítulo 4 - Validação da Modelação Adotada
Onde:
A estrutura da parede frontal modelada foi submetida à uma análise estática não linear
e obteve-se como resultado a curva de capacidade apresentada na Figura 4.12 b) (curva
azul). A validação da modelação numérica efetua-se com base na comparação dos re-
sultados obtidos por via numérica e experimental. A comparação centra-se na sobrepo-
sição da curva de capacidade no gráfico com as curvas histeréticas obtidas em [21].
Apresenta-se na Figura 4.12 a) a configuração deformada da estrutura do modelo nu-
mérico e na Figura 4.12 b) a comparação dos resultados.
Força [kN]
Deslocamento [mm] b)
a)
Figura 4.12: a) configuração deformada, modelo numérico; b) comparação dos re-
sultados, numérico (curva azul) e experimental (curva preta) [21]
46
Capítulo 4 - Validação da Modelação Adotada
47
Capítulo 5
5.1. Caracterização
O edifício em análise no presente caso de estudo, é do tipo pombalino, foi construído
no final do século XVIII e situa-se na Baixa de Lisboa. A sua configuração arquitetónica
em planta é retangular, com cerca de 16,2 m de fachada e 15,3 m de empena. Possui
um piso térreo servindo para fins comerciais, um piso de sobreloja misto com espaços
de habitação e arrecadação para a loja, e quatro pisos usados para habitação e servi-
ços. Existe um sótão no quarto andar que possui mansardas para a fachada principal e
de pé-direito total para a fachada posterior. O piso térreo tem um pé-direito variável por
causa do declive da rua, a sobreloja tem um pé-direito de 2,53 m e os restantes pé-
direito dos andares são: 3,31 m para o primeiro andar; 3,34 m para o segundo andar;
2,95 m para o terceiro andar; o quarto andar são as águas furtadas do edifício, e tem
um pé-direito variável.
Este edifício é constituído por três tipos de paredes: paredes em alvenaria de pedra
ordinária; paredes frontais (mistas) em alvenaria de pedra ordinária e elementos de ma-
deira; e paredes de tabique em madeira. As paredes de alvenaria são em alvenaria de
pedra ordinária de grande espessura, com exceção da parede da fachada principal que
apresenta uma constituição diferente, sendo em alvenaria de pedra aparelhada até ao
teto da sobreloja, com nembos compostos por blocos de pedra calcária maciça e alve-
naria de pedra ordinária nos pisos superiores. No que diz respeito às espessuras, as
paredes das empenas e fachada principal têm 0,80 m de espessura e a fachada poste-
rior 1,0 m. O edifício apresenta dois tipos de paredes interiores, frontais e tabique, com
espessura de 0,20 m e 0,12 m, respetivamente.
Os pavimentos são constituídos por vigas de madeira, sobre as quais assenta o soalho
também de madeira. As vigas têm diferentes secções (0,16x0,16 m2, 0,20x0,20 m2, etc.),
afastadas entre si com cerca de 0,50 m, com tarugos dispostos perpendicularmente às
vigas, uniformizando o deslocamento lateral das vigas. O pavimento da sobreloja
48
Capítulo 5 - Caso de Estudo e Modelação
A solução estrutural deste edifício, como inicialmente prevista, foi concebida de modo a
transferir as cargas verticais dos pavimentos às vigas de madeira e destas às paredes
estruturais de modo uniforme e sem grandes concentrações, que por sua vez encami-
nham as cargas até às fundações. Em alguns casos específicos, como por exemplo no
piso térreo deste edifício, a transferência de cargas até às fundações é efetuada por
arcos em alvenaria de pedra de cantaria aparelhada.
49
Capítulo 5 - Caso de Estudo e Modelação
4
3.65
3
4.61
Paredes Frontais
Paredes Exteriores
6.24
1
5.17 3.14 4.57 2.63
A B C D E
50
Capítulo 5 - Caso de Estudo e Modelação
5.2. Modelação
Nesta secção efetua-se a modelação global do edifício no programa de cálculo automá-
tico SAP2000. Descrevem-se os pormenores e/ou detalhes da modelação dos elemen-
tos estruturais do edifício e a forma de atribuição da massa dos elementos (estruturais
e não estruturais) que constituem o edificado. Procedeu-se à realização da modelação
por fases, para garantir a sua funcionalidade e um reduzido esforço computacional.
Descreve-se nesta subsecção, o modo como foram modelados os elementos que cons-
tituem o edifício. Estes elementos são: paredes de alvenaria, paredes frontais, pavimen-
tos, escadas e cobertura. É de referir que, para a modelação desses elementos, foram
consideradas as dimensões presentes na literatura quando as mesmas não se encon-
travam disponíveis em [2].
A modelação deste tipo de parede foi efetuada com recurso ao método SAM, seguindo
as metodologias de cálculo referidas na subsecção 3.1.4.2. A parede é representada
por um pórtico equivalente, constituído por nembos e lintéis definidos como elementos
do tipo “frame”, interligados por elementos rígidos (“rigid offset”) nas suas extremidades
e encastrados à fundação.
O programa SAP2000 permite modelar o comportamento não linear que resulta das
características geométricas da estrutura ou das propriedades mecânicas dos materiais
através de rótulas plásticas. Para cada grau de liberdade da rótula é definida uma curva
momento-rotação ou força-deslocamento, que limita a força de cedência, força última e
força residual, e esta última permite o aumento da deformação até atingir o colapso da
estrutura. A curva padrão que define o comportamento não linear no SAP2000 é ilus-
trada na Figura 5.4 a).
51
Capítulo 5 - Caso de Estudo e Modelação
No que diz respeito ao posicionamento das rótulas plásticas nos nembos e lintéis, apre-
senta-se na Figura 5.5 o pórtico equivalente da fachada principal, com a definição das
zonas rígidas e deformáveis, e o posicionamento das rótulas plásticas. Nos nembos
foram introduzidas quatro rótulas plásticas de momento-rotação no final das partes de-
formáveis e uma rótula de força-deslocamento a meia altura. Nos lintéis foram inseridas
apenas uma rótula de força-deslocamento a meio vão. Ilustra-se na Figura 5.6 o pórtico
equivalente desta mesma fachada, definido no ambiente SAP2000 e a sua vista “ex-
trude”. É de referir que, as zonas rígidas do pórtico equivalente (Figura 5.5) foram defi-
nidas no SAP2000 (Figura 5.6 a) através de elementos de ligação do tipo “rigid-link” e
através de “offsets”, para os lintéis e nembos, respetivamente.
Para definir o comportamento das rótulas plásticas traduzidas pelas curvas apresenta-
das na Figura 5.4, torna-se necessário conhecer os esforços, as rotações e os desloca-
mentos últimos. Para isso, determina-se em primeiro lugar a rigidez do nembo admi-
tindo-se que o mesmo encontra-se fixo em ambas extremidades, sujeito a uma força
horizontal 𝐹 apresentando um deslocamento elástico 𝛿𝑒 , conforme ilustra o esquema da
Figura 5.7 a).
52
Capítulo 5 - Caso de Estudo e Modelação
a) b)
53
Capítulo 5 - Caso de Estudo e Modelação
a) b)
Figura 5.7: Deformada do nembo, sujeito a uma força horizontal, modelo de cálculo:
a) para determinar a rigidez; b) para determinar a rotação elástica
1 1
𝐾𝑒 = → 𝐾𝑒 = (5.1)
ℎ3 𝑘ℎ ℎ𝑒𝑓 3
𝑘ℎ𝑒𝑓
12𝐸𝐼 + 𝐺𝐴 12𝐸𝐼 + 𝐺𝐴
Onde:
𝑉𝑢 (5.2)
𝐹 = 𝐾 ∙ 𝛿 → 𝑉𝑢 = 𝐾𝑒 ∙ 𝛿𝑒 ↔ 𝛿𝑒 =
𝐾𝑒
𝛿𝑒 (5.3)
𝜃𝑒 =
ℎ𝑒𝑓
54
Capítulo 5 - Caso de Estudo e Modelação
No que diz respeito às deformações últimas elásticas dos nembos, define-se 𝜃𝑢 igual a
0,8% da altura efetiva para a flexão e 𝛿𝑢 igual a 0,4% da altura efetiva para o corte. Para
definir o comportamento pós cedência das rótulas plásticas, determinam-se as defor-
mações plásticas recorrendo às expressões (5.4) e (5.5) [43, 44].
𝛿𝑝𝑙á𝑠𝑡𝑖𝑐𝑜 = 𝛿𝑢 − 𝛿𝑒 (5.4)
𝜃𝑝𝑙á𝑠𝑡𝑖𝑐𝑜 = 𝜃𝑢 − 𝜃𝑒 (5.5)
A modelação das paredes frontais foi realizada segundo a metodologia descrita na sec-
ção 4.2. Sabe-se, que esta parede tem dois materiais constituintes, a madeira e a alve-
naria. É de referir que, na modelação utilizaram-se elementos do tipo “frame” para re-
presentar os elementos de madeira. A alvenaria de preenchimento não foi considerada
na modelação, considerando apenas a sua massa. Salienta-se, que foram adotadas
simplificações para facilitar a modelação das paredes frontais, assumindo a configura-
ção apresentada na Figura 5.3, alinhadas de forma contínua do piso térreo ao 4º andar.
No que se refere às dimensões, apresenta-se na Tabela 5.1 as dimensões dos elemen-
tos constituintes das paredes frontais, sendo que a altura da parede foi ajustada ao pé-
direito de cada piso do edifício em estudo. Ilustra-se na Figura 5.8 a configuração de
uma parede frontal do edifício modelada no ambiente SAP2000.
55
Capítulo 5 - Caso de Estudo e Modelação
5.2.1.3. Pavimentos
56
Capítulo 5 - Caso de Estudo e Modelação
Figura 5.9: Esquema de cálculo para definição da lei constitutiva dos “links”
A força de atrito (𝐹𝑎 ) é calculada através da expressão (5.6). Determinou-se esta força
para dois níveis distintos, estático e cinemático. Os coeficientes de atrito estático e ci-
nemático considerados são: 𝜇𝑒 = 0,6 e 𝜇𝑐 = 0,5 para alvenaria-madeira [47, 48].
𝐹𝑎 ≤ 𝜇 ∙ 𝑁 (5.6)
57
Capítulo 5 - Caso de Estudo e Modelação
Para verificar e/ou validar a lei constitutiva a definir nos elementos “link”, modelou-se no
programa de cálculo automático SAP2000 a estrutura apresentada na Figura 5.10 b), e
para o elemento “link” definiu-se o comportamento apresentado no gráfico da Figura
5.11 a). Na modelação numérica aplicou-se um deslocamento 𝛿 = 0,02 m no nó 1 (Fi-
gura 5.10 b) e realizou-se uma análise do tipo “time history”, tendo como ação o deslo-
camento referido, que se apresenta no gráfico da Figura 5.11 a) pela linha tracejada.
18
0 1 2 3 4 5
12 0
-0.005
6
Fa [kN]
-0.01
δ [m]
0
-0.015
-6
-0.02
-12
-0.025
-0.01 0.00 0.01 0.02 0.03 0.04
δ [mm] a) t [s]
b)
16 16
12 12
R [kN]
R [kN]
8 8
4 4
0 0
0 1 2 3 4 5 0 0.005 0.01 0.015 0.02 0.025
t [s]
c) δ [m] d)
5.2.1.4. Escadas
De uma forma geral as escadas dos edifícios pombalinos eram de madeira e apoiam
nas paredes frontais localizadas nas suas laterais. Elas não foram consideradas como
elementos estruturais por serem pouco relevantes, tendo pouca contribuição na mode-
lação global do edifício.
58
Capítulo 5 - Caso de Estudo e Modelação
5.2.1.5. Coberturas
5.2.2.1. Madeira
A madeira geralmente utilizada nas construções pombalinas era pinheiro bravo. Admitiu-
se que as propriedades da madeira existente no edifício em estudo, são semelhantes a
uma madeira de classe E definida pelo LNEC [41]. A Tabela 5.2 apresenta as proprie-
dades mecânicas da madeira de classe E.
5.2.2.2. Alvenaria
No que diz respeito às alvenarias, ela está presente nas paredes exteriores dos edifícios
pombalinos em maior percentagem. Não foi possível realizar ensaios e nem observar
as alvenarias das paredes exteriores do edifício em análise para a sua caracterização,
tendo sido utilizado valores característicos presentes na literatura para a modelação
global do edifício. Na Tabela 5.3 apresenta-se as propriedades mecânicas consideradas
para a alvenaria.
59
Capítulo 5 - Caso de Estudo e Modelação
Coesão 𝐶𝑢 88 KPa
Atrito 𝜇 0,5
A atribuição das massas dos elementos não estruturais na modelação numérica, efetua-
se assumindo como hipótese que as cargas se distribuem para as paredes com funções
estruturais, paredes exteriores e frontais, respetivamente. Define-se a respetiva área de
influência e número de pontos para cada elemento estrutural, determinando-se a massa
distribuída e, por conseguinte, a aplicação da carga pontual ao nível dos pisos.
A 25,0 3
E 17,10 3
1 25,58 7
4 22,33 6
B 21,88 13
C 23,73 13
D 26,59 13
2 23,29 12
3 24,68 13
60
Capítulo 5 - Caso de Estudo e Modelação
No que se refere o peso próprio dos elementos, o mesmo foi calculado com base nos
valores presentes em [1] e [49]. É de referir que o peso próprio das paredes exteriores,
foram determinados com base na geometria e peso volúmico. Define-se o pórtico equi-
valente da parede considerando que cada nó tem uma área de influência como ilustrado
na Figura 5.12 e determina-se a força a aplicar nos nós, assumindo que a metade da
carga das paredes exteriores do piso zero são encaminhadas diretamente para a fun-
dação. Desta forma, apresentam-se na Tabela 5.6, Tabela 5.7 e Tabela 5.8 o valor do
peso próprio total considerado para a cobertura, pavimentos de madeira e restantes
elementos, respetivamente.
Ripas 0,10
Varas 0,15
Madres 0,20
Asnas 0,40
61
Capítulo 5 - Caso de Estudo e Modelação
62
Capítulo 5 - Caso de Estudo e Modelação
O valor dos períodos fundamentais das duas direções horizontais (1º modo - transversal
e 2º modo - longitudinal) do modelo numérico, aproximam-se dos resultados experimen-
tais obtidos em [51], conforme se constata na Tabela 5.11. Salienta-se que estes perío-
dos foram obtidos para valores de módulos de elasticidade de 8,5 e 2,0 GPa, para ma-
deira e alvenaria, respetivamente, valores considerados admissíveis.
a) b)
c) d)
Figura 5.13: Modelação numérica: a) vista exterior; b) vista interior; c) parede frontal
(alinhamento C); d) pavimento de madeira 1º andar
63
Capítulo 5 - Caso de Estudo e Modelação
a) b)
c) d)
64
Capítulo 6
No que se refere à legislação em vigor, que definem os termos em que obras de ampli-
ação, alteração ou reconstrução estão sujeitas à elaboração de relatório de avaliação
da vulnerabilidade sísmica, a portaria n.º 302/2019 [52] e o decreto lei n.º 95/2019 [53]
estabelecem nos artigos 1.º e 8.º, os requisitos e/ou exigências fundamentais para a
elaboração do relatório de avaliação da vulnerabilidade sísmica do edifício, que estabe-
lece a sua capacidade de resistência relativamente à ação sísmica definida no EC8 [31]
e suas posteriores atualizações para as condições do local. O relatório de vulnerabili-
dade sísmica do edifício é obrigatório, no caso de edifícios das classes de importância
III e IV, definidas no EC8 [54], e quando este concluir que o edifício não satisfaz as
exigências de segurança relativa a 90% da ação definida no EC8 [31], é obrigatório a
elaboração de projeto de reforço sísmico.
65
Capítulo 6 - Avaliação da Vulnerabilidade Sísmica
Aceleração [m/s2]
0 0
0 1 2 3 4 0 1 2 3 4
Período [s] Período [s]
a) b)
66
Capítulo 6 - Avaliação da Vulnerabilidade Sísmica
a) b)
c) d)
67
Capítulo 6 - Avaliação da Vulnerabilidade Sísmica
a)
b) c)
68
Capítulo 6 - Avaliação da Vulnerabilidade Sísmica
2.0 50%
ɣ (mad) E (mad) ɣ (mad) E (mad)
ɣ (alv) fu (alv) ɣ (alv) fu (alv)
1.2 30%
0.8 20%
0.4 10%
0.0 0%
0 40 80 120 160 200 240 280 320 0 40 80 120 160 200 240 280 320
Número de amostras a) Número de amostras b)
Figura 6.4: Análise do número de amostras: a) desvio padrão; b) erro do desvio padrão
Para implementar uma análise dinâmica incremental o modelo numérico não linear da
estrutura é submetido a uma série de análises dinâmicas em que o PGA foi incremen-
tado a partir do valor da resposta elástica, de 0,2g até 1,0g, valor que garante o colapso
do modelo numérico em mais de 50% dos casos [56]. A incrementação do PGA foi feita
em 5 passos, sendo o passo de incremento de 0,2g. Assim sendo, ao todo foram efetu-
adas 500 análises dinâmicas não lineares. Em paralelo a estas análises, foram definidos
estados de dano de forma a obter as curvas de fragilidade do edifício.
69
Capítulo 6 - Avaliação da Vulnerabilidade Sísmica
No presente trabalho, a avaliação de dano estrutural foi realizada usando quatro estados
limites de danos [60], conforme descrito na Tabela 6.3. Na presente abordagem, o dano
estrutural é adotado como o principal parâmetro a ser considerado e, será avaliado em
termos de “inter-storey drift”. Para além disso, e uma vez que as ligações dos pisos às
paredes exteriores são críticas para o comportamento global do edifício em estudo, fo-
ram definidos também estados limites de dano para as ligações. A definição dos limites
para os estados de dano relativos às ligações, foi efetuado de acordo com o disposto
em [61] adaptado ao presente caso de estudo. Os estados de dano das ligações será
avaliado em termos de deslocamentos. Considera-se que o comprimento de entrega do
piso (vigamento de madeira) às paredes exteriores é de pelo menos 20 cm, que corres-
ponde a um quarto da espessura da parede exterior, e os limites dos estados de dano
das ligações foram definidas pelo autor deste trabalho conforme descrito na Tabela 6.4.
DS2 Danos estruturais mínimo e/ou danos não estruturais moderado 0,3
DS3 Danos estruturais Severo e/ou danos não estruturais extensivo 0,5
É importante salientar que no presente trabalho, optou-se por definir os estados limite
de dano estrutural de acordo com o prescrito em [60], pois este permite uma abordagem
adequada para a verificação dos limites correspondentes aos “inter-storey drift” para
70
Capítulo 6 - Avaliação da Vulnerabilidade Sísmica
Para limitar o deslocamento entre pisos, os seguintes critérios devem ser compridos
[54]:
a) Para os edifícios com elementos não estruturais constituídos por materiais frágeis
fixos à estrutura:
𝑑𝑟 𝜈 ≤ 0,005h (6.1)
𝑑𝑟 𝜈 ≤ 0,0075h (6.2)
c) Para os edifícios com elementos não estruturais fixos de forma a não interferir com
as deformações estruturais ou sem elementos não estruturais:
𝑑𝑟 𝜈 ≤ 0,010h (6.3)
Onde:
71
Capítulo 6 - Avaliação da Vulnerabilidade Sísmica
1 𝑑
𝑃[𝐷𝑆𝑖 /𝑑] = Φ [ 𝑙𝑛 ( )] (6.4)
𝛽𝐷𝑆𝑖 𝐷𝑆𝑖
Onde:
𝑑 é o deslocamento da IDA;
1
DS2: 100%
Probabilidade de excedência [P(Ds ≥ ds)]
0.9
0.8 ds1
DS3: 92%
0.7 ds2
ds3
0.6
ds4
0.5
DS1
0.4
DS2
DS4: 58%
0.3 DS3
0.2 DS4
0.1
0
0 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5 0.6 0.7 0.8 0.9 1
PGA [g]
72
Capítulo 6 - Avaliação da Vulnerabilidade Sísmica
Ilustra-se na Figura 6.7 o cálculo das probabilidades de cada estado de dano para um
nível de PGA de 0,55g. Desta forma, efetuando uma análise ao gráfico da Figura 6.7
pode-se concluir que para um nível de PGA de 0,55g, o edifício tem uma probabilidade
de sofrer danos de 100%. No entanto existe uma probabilidade significativa de que o
edifício irá sofrer apenas danos moderados (100%) a severos (92%). Face às análises
e considerações efetuadas o edifício evidencia uma probabilidade de sofrer danos ex-
tensos ou colapso na ordem de 58%.
8
EC8 (Se-S1)
7
EC8 (Se-S2)
5,63 m/s2
6
5 5,24 m/s2
𝑎 [m/s2]
0
0.0 0.5 1.0 1.5 2.0 2.5 3.0 3.5 4.0
T [s]
73
Capítulo 6 - Avaliação da Vulnerabilidade Sísmica
storey drift” na ordem de 77%, num conjunto de 100 modelos numéricos. No entanto
existe uma percentagem significativa de que o edifício irá sofrer danos moderados
(100%) e danos severos (92%).
1.00
0.80
0.58
0.60
0.40
0.20
0.00
DS0 DS1 DS2 DS3 DS4
Figura 6.7: Probabilidades de cada estado de dano para um nível de PGA 0,55g
74
Capítulo 6 - Avaliação da Vulnerabilidade Sísmica
a) b)
Figura 6.8: Curvas com estado limites de dano para “inter-storey drift”: a) Direção X; b)
Direção Y
75
Capítulo 7
7.1. Conclusões
O objetivo principal do presente estudo centrou-se na avaliação da vulnerabilidade sís-
mica de um edifício pombalino localizado na Baixa de Lisboa. A avaliação do desempe-
nho sísmico do edifício foi desenvolvida com sucesso na presente dissertação. Para
alcançar este objetivo foi utilizado o programa de cálculo SAP2000 para efetuar a mo-
delação numérica 3D do edifício recorrendo ao método SAM, e para a realização de
análises dinâmicas incrementais não lineares.
A validação do modelo numérico de elementos finitos do edifício foi realizada com su-
cesso fornecendo resultados fiáveis, apesar de que não foi possível realizar campanha
experimental de identificação modal à vibração ambiental para a calibração do modelo
numérico, de uma forma mais rigorosa.
As análises dinâmicas incrementais não lineares foram realizadas com o principal obje-
tivo de avaliar a vulnerabilidade sísmica do edifício. Para isso, foram definidas cem
amostras associadas a uma abordagem probabilística que permite considerar a variabi-
lidade da ação sísmica e incertezas na definição das propriedades dos materiais, e pro-
ceder à definição dos estados limite de dano DS e a construção das curvas de fragili-
dade do edifício.
A análise das curvas de fragilidade, evidencia que para uma aceleração de projeto de
0,55g de acordo com a regulamentação para a zona sísmica de localização do edifício,
existe uma probabilidade substancial de ocorrência de colapso (58%) em relação a uma
probabilidade de ocorrência de danos moderados (100%) a severos (92%).
A análise global aos resultados obtidos, permite concluir que o edifício estudado na pre-
sente dissertação apresenta uma reduzida resistência às ações sísmicas para acelera-
ções próxima da aceleração de projeto. Como comentário final, aconselha-se uma in-
tervenção imediata, analisando diversas soluções de reforço estrutural, especificamente
a nível das ligações dos pisos às paredes exteriores de forma a satisfazer as exigências
normativas em termos de deslocamentos entre pisos “inter-storey drift”.
76
Capítulo 7 - Conclusões e Desenvolvimentos Futuros
77
Referências Bibliográficas
Referências Bibliográficas
78
Referências Bibliográficas
79
Referências Bibliográficas
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80
Referências Bibliográficas
81
Referências Bibliográficas
82
Anexos
Anexos
De forma a complementar o trabalho desenvolvido, serão apresentados neste anexo os
casos considerados relevantes.
83
Anexos
84
Anexos
85
Anexos
86
Anexos
%--------------------------------------------------------------%
clear all
close all
clc
%--------------------------------------------------------------%
% Set number of samples to be generated %
%---- ---------------------------------------------------------%
N = 100;
%--------------------------------------------------------------%
%CARACTERIZAÇÂO PROBABILISTICA DOS PARÂMETROS CHAVES - VARIÁVEIS%
%--------------------------------------------------------------%
87
Anexos
end
figure
histfit(DensM),ylabel({'Número de amostras'}),xlabel({'Peso Volú-
mico [kN/m^3]'});%Densidade da madeira
hold on
x = [5.688 5.688];
y = [0 35];
ylim([0 30]);
plot(x,y,'--k','LineWidth',2)
figure
histfit(DensP),ylabel({'Número de amostras'}),xlabel({'Peso Volú-
mico [kN/m^3]'});%Densidade da alvenaria
hold on
x = [22 22];
y = [0 35];
ylim([0 30]);
plot(x,y,'--k','LineWidth',2)
figure
histfit(AtriEst),ylabel({'Número de amostras'}),xlabel({'Coefi-
ciente de atrito estático'});%Coef. de atrito estático
hold on
x = [0.6 0.6];
y = [0 35];
88
Anexos
ylim([0 30]);
plot(x,y,'--k','LineWidth',2)
figure
histfit(AtriCin),ylabel({'Número de amostras'}),xlabel({'Coefi-
ciente de atrito cinético'});%Coef. de atrito cinético
hold on
x = [0.5 0.5];
y = [0 35];
ylim([0 30]);
plot(x,y,'--k','LineWidth',2)
figure
histfit(RCP),ylabel({'Número de amostras'}),xlabel({'Resistência
à compressão [MPa]'});%Resistência à compressão da alvenaria
hold on
x = [2.5 2.5];
y = [0 35];
ylim([0 30]);
plot(x,y,'--k','LineWidth',2)
figure
histfit(ElasM),ylabel({'Número de amostras'}),xlabel({'Módulo de
elasticidade [GPa]'});%Elasticidade da madeira
hold on
x = [8.5 8.5];
y = [0 35];
ylim([0 30]);
plot(x,y,'--k','LineWidth',2)
figure
histfit(ElasP),ylabel({'Número de amostras'}),xlabel({'Módulo de
elasticidade [GPa]'});%Elasticidade da alvenaria
hold on
x = [2 2];
y = [0 35];
ylim([0 30]);
plot(x,y,'--k','LineWidth',2)
89
Anexos
Anexo III - Curvas para “inter-storey drift” e curvas para às ligações dos pisos às
paredes
A Figura III. 1 e Figura III. 2 apresentam-se as curvas para “inter-storey drift” e a Figura
III. 3 apresenta as curvas para às ligações dos pisos às paredes exteriores, para os
cinco passos de incrementação do PGA de um modelo numérico, escolhido a título de
exemplo.
a) b)
c) d)
Figura III. 1: Curvas com estados limites de dano para os “inter-storey drift”: a) e b) Di-
reção X e Y, PGA 0,2g; c) e d) Direção X e Y, PGA 0,4g
90
Anexos
a) b)
c) d)
e) f)
Figura III. 2: Curvas com estados limites de dano para os “inter-storey drift”: a) e b) Dire-
ção X e Y, PGA 0,6g; c) e d) Direção X e Y, PGA 0,8g; e) e f) Direção X e Y, PGA 1,0g
91
Anexos
a) b)
c) d)
e)
Figura III. 3: Curvas com estados limites de dano para as ligações: a) PGA 0,2g; b)
PGA 0,4g; c) PGA 0,6g; d) PGA 0,8g; e) PGA 1,0g
92
Anexos
a) b)
c) d)
e) f)
Figura III. 4: Curvas de capacidade de elementos “link”, parede frontal: a) e b) PGA 0,2g;
c) e d) PGA 0,4g; e) e f) PGA 0,6g
93
Anexos
a) b)
c) d)
Figura III. 5: Curvas de capacidade de elementos “link”, parede frontal: a) e b) PGA 0,8g;
c) e d) PGA 1,0g
94
Anexos
a) b)
c) d)
e) f)
Figura III. 6: Curvas de força-deslocamento de elementos de ligação da cobertura do 3º
andar: a) e b) PGA 0,2g; c) e d) PGA 0,4g; e) e f) PGA 0,6g
95
Anexos
a) b)
c) d)
Figura III. 7: Curvas de força-deslocamento de elementos de ligação da cobertura do 3º
andar: a) e b) PGA 0,8g; c) e d) PGA 1,0g
96