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DESENVOLVIMENTO DE UMA METODOLOGIA DE AVALIAÇÃO DA


VULNERABILIDADE SÍSMICA DO EDIFICADO EXISTENTE EM BETÃO ARMADO

Conference Paper · April 2016

CITATION READS

1 48

5 authors, including:

Tiago Miguel Ferreira Hugo Rodrigues


University of Minho Instituto Politécnico de Leiria
140 PUBLICATIONS 508 CITATIONS 286 PUBLICATIONS 1,647 CITATIONS

SEE PROFILE SEE PROFILE

Romeu Vicente A. Costa


University of Aveiro University of Aveiro
215 PUBLICATIONS 1,392 CITATIONS 445 PUBLICATIONS 2,368 CITATIONS

SEE PROFILE SEE PROFILE

Some of the authors of this publication are also working on these related projects:

Buckling Uncertainty Analysis for Steel Pipelines Buried in Elastic Soil Using FOSM and MCS Methods View project

Minisymposium “Influence of infill masonry walls in the response and safety of buildings” - COMPDYN 2019 View project

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REHABEND 2016
May 24-27, 2016. Burgos, Spain

CODE 1.7.38

DESENVOLVIMENTO DE UMA METODOLOGIA DE AVALIAÇÃO DA


VULNERABILIDADE SÍSMICA DO EDIFICADO EXISTENTE EM BETÃO
ARMADO

José Silva1; Tiago Ferreira2; Hugo Rodrigues3; Romeu Vicente4; Aníbal Costa5
1
Universidade de Aveiro, Departamento de Engenharia Civil
e-mail: miguel.silva88@ua.pt, web: www.ua.pt/decivil
2
RISCO, Universidade de Aveiro, Departamento de Engenharia Civil
e-mail: tmferreira@ua.pt, web: tmferreira.weebly.com
3
RISCO, Instituto Politécnico de Leiria, Departamento de Engenharia Civil
e-mail: hugo.f.rodrigues@ipleiria.pt, web: www.ipleiria.pt/
4
RISCO, Universidade de Aveiro, Departamento de Engenharia Civil
e-mail: romvic@ua.pt, web: www.ua.pt/decivil
5
RISCO, Universidade de Aveiro, Departamento de Engenharia Civil
e-mail: agc@ua.pt, web: www.ua.pt/decivil

PALAVRAS-CHAVE: Índice de vulnerabilidade sísmica, Edifícios de betão armado, Mecanismos de


dano, Cenários de dano.

RESUMO

Sismos recentes, um pouco por todo o mundo, demostraram que uma grande parte dos edifícios
existentes de betão armado apresenta elevada vulnerabilidade sísmica. A avaliação da
vulnerabilidade sísmica de edifícios de betão armado é um desafio que, para além de possibilitar a
construção de cenários de dano e perda no caso de um evento sísmico, permite apoiar a definição
de estratégias de reabilitação do edificado.

Assim, este artigo apresenta o desenvolvimento de uma metodologia simplificada de avaliação da


vulnerabilidade sísmica de edifícios de betão armado e a sua posterior aplicação a um conjunto de
91 edifícios afetados por diferentes intensidades sísmicas. Pretende-se que a presente metodologia
se assuma como uma ferramenta de avaliação simplificada da vulnerabilidade sísmica de edifícios
de betão armado, através da avaliação de 8 parâmetros que abordam aspetos que condicionam a sua
reposta sísmica.

INTRODUÇÃO

É indiscutível que em zonas de maior atividade sísmica, as perdas humanas e económicas devem-se, em
grande parte, aos danos severos nas construções e ao colapso de edifícios devido a um comportamento
sísmico inadequado motivada, não apenas por falta de legislação específica que contemplasse a ação
sísmica à data em que o edifício foi construído, mas também pelo incumprimento das boas práticas
construtivas e à deficiente qualidade dos materiais de construção. Deste modo, é necessário que todas
as ferramentas e recursos devam ser dispostos, numa tentativa de mitigar os efeitos dos sismos
contribuindo para uma melhor perceção e desenvolvimento da avaliação do risco sísmico.
Conceptualmente, o risco sísmico é função de três componentes probabilísticas: a perigosidade sísmica,
a exposição e a vulnerabilidade. No caso das estruturas de engenharia civil, esta última componente
assume particular importância, na medida em que uma eventual intervenção ao nível do reforço
estrutural tem influência direta na sua vulnerabilidade intrínseca e, consequentemente, no seu risco
sísmico associado.

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Para a avaliação da vulnerabilidade estrutural é fundamental o uso de metodologias adequadas a cada


situação, isto é, a natureza qualitativa ou quantitativa da abordagem a adotar em cada situação
condiciona a formulação destas metodologias e respetivo nível de detalhe da inspeção e levantamento a
ser realizado. As metodologias empíricas, baseiam-se na observação de danos pós-sismo associados a
diferentes tipologias estruturais e intensidades sísmicas, e as metodologias analíticas, implicam por sua
vez a modelação e computação da resposta de uma estrutura representativa de uma dada tipologia face
a uma determinada intensidade da ação sísmica. Existe ainda uma diferente abordagem, as metodologias
heurísticas, onde a vulnerabilidade dos edifícios é atribuída com base no conhecimento e experiência de
especialistas [1]. Embora ao longo dos últimos anos a investigação aplicada à mitigação do risco sísmico
tenha vindo a ganhar uma maior importância, ainda há muito trabalho a desenvolver e por isso, um
pouco por todo o mundo, profissionais de várias áreas, nomeadamente da engenharia e da proteção civil,
continuam a encetar esforços organizados no sentido de melhorar e estandardizar o conhecimento
técnico-científico no âmbito da avaliação e da mitigação do risco sísmico [2].

Com base no exposto, este artigo apresenta em duas fases uma proposta de metodologia de avaliação da
vulnerabilidade sísmica em edifícios de betão armado. Na primeira fase, discute-se a seleção do grupo
de parâmetros de avaliação da vulnerabilidade e a atribuição dos seus respetivos pesos e classes de
vulnerabilidade. A segunda fase consiste na atribuição de um grau de dano médio a um conjunto de 91
edifícios, avaliados e classificados de acordo com a Escala Macrossísmica Europeia [3], a partir da qual
foi definida uma função de vulnerabilidade para edifícios de betão armado. Note-se que, sendo original,
esta metodologia é baseada nas metodologias de avaliação de vulnerabilidade sísmica de edifícios de
alvenaria de pedra já existentes e que têm vindo a ser desenvolvidas e utilizadas ao longo dos últimos
anos por esta equipa de investigação (ver por exemplo [4]–[6]).

AVALIAÇÃO DA VULNERABILIDADE SÍSMICA DE EDIFÍCIOS DE BETÃO ARMADO

Tal como é amplamente discutido em [2], a seleção da metodologia de avaliação da vulnerabilidade a


utilizar, deverá ter em conta, necessariamente, a natureza, a função e a tipologia construtiva do edificado
a avaliar. A análise diferenciada destes tipos de edifícios, no que diz respeito aos aspetos a avaliar, é
orientada por diferentes critérios e sensibilidades que terão repercussão na avaliação da vulnerabilidade
e, consequentemente, na estimativa do grau de dano.

Como referido anteriormente, a presente secção é dedicado à apresentação de uma nova metodologia
simplificada para o estudo da vulnerabilidade sísmica de edifícios de betão armado, tendo por base a
metodologia apresentada por [7] para edifícios de alvenaria de pedra. Em termos conceptuais esta
metodologia é composta por 8 parâmetros de avaliação, os quais se encontram divididos em três grupos
associados a diferentes fatores relacionados com solo de fundação, com a inserção do edifício no
enquadramento urbano, e com as suas características intrínsecas. Assim, o primeiro grupo inclui o
Parâmetro P1, que analisa o tipo de solo em contacto com a fundação do edifício, o segundo grupo inclui
o parâmetro P2, que trata a interação entre construções vizinhas, e o terceiro e último grupo, que inclui
os parâmetros P3 ao P8, e que analisam, respetivamente, a idade do edifício, as suas irregularidades em
planta e em altura, a existência de potenciais mecanismos de soft-storey e de pilares curtos e de outros
elementos constituintes do comportamento. Importa notar que esta informação se encontra compilada e
detalhada sob a forma de handbook em [8].

1.1 Índice de vulnerabilidade sísmica para edifícios de betão armado

Esta metodologia assenta no cálculo de um índice de vulnerabilidade para cada edifício, em que cada
parâmetro é classificado de acordo em 4 classes de vulnerabilidade crescente, Cvi: A, B, C e D. Tal como
foi já referido anteriormente, cada parâmetro avalia um aspeto que influência o desempenho sísmico do
edifício (escolhendo a classe de vulnerabilidade que melhor a caracteriza). A cada parâmetro é associado
um peso, pi, variando desde 0.5, para os parâmetros menos importantes, até 2.0, para os parâmetros com
maior impacto na vulnerabilidade do edifício (ver Tabela 1).

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Tabela 1: Parâmetros de avaliação do índice de vulnerabilidade, Iv, respetivas classes e pesos


Classe Cvi Peso
Parâmetro
A B C D pi
P1 Implantação do Edifício 0 5 20 50 1.5
P2 Posição no Quarteirão 0 5 20 50 0.5
P3 Idade do Edifício 0 5 20 50 1.5
P4 Irregularidade em Planta 0 5 20 50 2.0
P5 Irregularidade em Altura 0 5 20 50 2.0
P6 Existência de Mecanismo de Soft-Storey 0 - - 50 2.0
P7 Presença de Pilares Curtos 0 5 20 50 2.0
P8 Outros elementos 0 5 20 50 0.5

Embora o valor do índice de vulnerabilidade, Iv*, calculado a partir de (1), varie entre 0 e 500, este índice
foi posteriormente normalizado através de uma soma ponderada normalizada para varia no intervalo de
0 a 100, assumindo a partir desse momento o símbolo, Iv.
8

𝐼𝐼𝑣𝑣∗ = � 𝐶𝐶𝑣𝑣𝑣𝑣 × 𝑝𝑝𝑣𝑣 (1)


𝑣𝑣=1

Tal como se observa na Tabela 1, os Parâmetros P4, P5, relacionados com as irregularidades em planta
e em altura do edifício, e os Parâmetros P6 e P7, relacionados com a presença de mecanismos de soft-
storey e de pilares curtos, são aqueles que assumem maior influência no cálculo do índice de
vulnerabilidade sísmica de edifícios de betão armado, Iv. A descrição detalhada de cada um dos 8
parâmetros de avaliação, com a definição e a explicação de cada uma das suas classes de vulnerabilidade
pode ser encontrada em [8].

1.2 Aplicação da metodologia a um grupo de 91 edifícios piloto

O procedimento da metodologia de análise da vulnerabilidade sísmica apresentado acima foi aplicado a


91 edifícios de betão armado atingidos nas últimas quatro décadas por sismos destruidores ocorridos um
pouco por todo o mundo, nomeadamente no Japão, China, Itália, Peru, Espanha, Turquia, Estados
Unidos da América, Haiti, Nova Zelândia, Indonésia, Índia e México (ver Figura 1). Para a análise destes
edifícios, foram utilizados registos fotográficos de relatórios de visitas técnicas de instituições e
especialistas que se deslocaram às zonas afetadas, produzindo post-earthquake damage reports. Em
alguns casos, a informação obtida através desses relatórios foi complementada com outros tipos de
registo, tais com o projeto estrutural, o registo dos materiais usados ou as características do solo. Como
será discutido à frente, nestes casos o grau de confiança associado aos resultados obtidos foi
naturalmente superior.

Assim, na presente secção são apresentados e discutidos os resultados globais obtidos a partir da
classificação do índice de vulnerabilidade sísmica para o universo total dos edifícios avaliados.
Adicionalmente, é ainda discutida a análise de grau de confiança associado à avaliação de cada
parâmetro e da amostra global, em função do detalhe da informação consultada.

Da aplicação da metodologia apresentada ao conjunto de 91 edifícios avaliados resultou um valor médio


de índice de vulnerabilidade sísmica, Iv, de 38.71, com um desvio padrão associado, 𝜎𝜎𝐼𝐼𝑣𝑣 , de 12.30. A
Figura 2 apresenta um histograma com os valores dos índices de vulnerabilidade obtidos, agrupados em
intervalos de 10 unidades. Tal como se observa, que o intervalo entre 30 e 40 é aquele que apresenta o
maior número de observações, sendo ainda possível verificar que cerca de 45% dos edifícios possui um
Iv acima do valor 40. Cerca de 18% dos edifícios avaliados apresenta mesmo um índice de
vulnerabilidade sísmica superior a 50. Os valores extremos, máximo e mínimo, obtidos para o Iv, foram
de 75 e 7.5, respetivamente.

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Figura 1: Distribuição geográfica dos conjuntos de edifícios avaliados.

35
30
30
25
Número de observações

25

20

15 12 13

10
6
5 2 2 1 0
0
00-10
a 10 10 a 20
10-20 20 a 30
20-30 30 a 40
30-40 40 a 50
40-50 50 a 60
50-60 60 a 70
60-70 70 a 80
70-80 Superior
>80 a
80
Índice de Vulnerabilidade, Iv
Figura 2: Distribuição dos edifícios analisados por intervalos de valor de índices de vulnerabilidade.

A Figura 3 apresenta a distribuição das classes de vulnerabilidade dos parâmetros Iv, pela percentagem
de edifícios analisados.

Classe A Classe B
100%
90%
80%
70%
60%
Frequência

50%
40%
30%
20%
10%
0%
P1 P2 P3 P4 P5 P6 P7 P8
Parâmetros de avaliação do Iv
Figura 3: Influência de cada um dos parâmetros avaliação no cálculo do Iv.

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Da análise da Figura 3 é possível perceber que o Parâmetro P6, correspondente à existência de


mecanismo de soft-storey, é aquele que apresenta o maior número de edifícios pertencentes à classe de
vulnerabilidade D (cerca de 70% dos edifícios analisados), seguido do Parâmetro P3 que corresponde à
idade do edifício, com cerca de 28% dos edifícios analisados, enquanto que o Parâmetro P7, que avalia
a presença de pilares curtos, é o que detém o maior número de edifícios pertencentes à classe de
vulnerabilidade A (cerca de 69% dos edifícios analisados), seguido do parâmetro P8, referente aos outros
elementos não estruturais, com 43% dos edifícios.

A classificação de cada parâmetro na análise dos vários edifícios envolveu a associação de um grau de
confiança à mesma, o qual traduz a confiança na classificação efetuada tendo em conta o detalhe e a
fiabilidade da informação utilizada. A incerteza na atribuição da classe do parâmetro pode ter diferentes
origens, tais como, a impossibilidade de observação direta de um elemento ou solução construtiva, ou a
ausência de informação. Os graus de confiança atribuídos foram, por ordem decrescente: E (elevado);
M (médio); B (baixo) e A (ausente). A Figura 4 (a) e 4 (b) apresentam, respetivamente, a distribuição
dos graus de confiança obtidos da avaliação dos parâmetros que compõem o Iv e da avaliação global dos
91 edifícios piloto.

5 30

4 25 23 24
Número de Parâmetros

Número de dificios
P2, P5, P7 19
20
3
P6, P8 15
2 10 10
P1 P3 P4 10
1
5 3
0 0 0 1 1 0 0
0 0
A

B/A

M/B

E-
B

E
A+

E/M
M-

M+
B-

B+

Grau de confiança médio Grau de confiança

(a) (b)
Figura 4: Distribuição do grau de confiança associado à avaliação dos parâmetros (a) e à avaliação global (b).

Como se pode observar na Figura 4 (a), o grau de confiança médio com maior representatividade é o
E/M, sendo aquele que foi obtido para os Parâmetros P2, P5 e P7 (posição no quarteirão, irregularidade
em altura e presença de pilares). O segundo grau de confiança com maior expressão é o E-, com os
Parâmetros P6 e P8 (existência de mecanismo soft-storey e outros elementos estruturais). Finalmente,
devido à falta de informação acerca do tipo de solo existente nas regiões em estudo, o Parâmetro P1 -
que corresponde à implantação do edifício – é aquele que apresenta o grau de confiança médio mais
baixo (A+). A Figura 4 (b) apresenta o grau de confiança médio na classificação dos edifícios, ou seja,
corresponde à média do grau de confiança atribuído em cada parâmetro na avaliação do edifício. Tal
como se observa, o grau de de confiança médio E/M é aquele que tem maior expressão, com 24 edifícios
(cerca de 22%), seguido do M+, com 23 edifícios (cerca de 21%). Desta análise é ainda possível verificar
que existem 5 edifícios com grau de confiança medio inferir a M/B. O Grau de confiança médio de B-
apresenta 3 edifícios (cerca de 3%), enquanto que os graus de confiança médio de B e B+ apresentam 1
edifício cada (cerca de 1%).

ESTIMATIVA DE DANO E CONSTRUÇÃO DE CURVAS DE VULNERABILIDADE

Após a análise do índice de vulnerabilidade para os edifícios de betão armado, interessa estimar o grau
de dano médio, μD, associado a cada um deles. A atribuição do grau de dano a cada edifício, foi realizada
individualmente por um grupo de especialistas, tendo sido assumido como valor final a media dessas
classificações. Com este procedimento, foi possível obter um grau de dano mais fiável para a obtenção

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da expressão de dano. Não existindo quaisquer curvas desenvolvidas e validadas para o caso dos
edifícios de betão armado, que correlacionassem a severidade da ação sísmica com o dano atribuído,
procedeu-se à utilização de informação e documentação obtida para os 91 edifícios piloto. Assim, e com
base nesta avaliação, foi então possível obter uma correlação entre o índice de vulnerabilidade, a
intensidade macrossísmica registada no local, e o dano observado.

A Figura 5 apresenta a variação do grau de dano médio, μD, medido de acordo com a Escala
Macrossímica Europeia, EMS-98 [3] por intensidade sísmica de cada edifício. Note-se que, devido ao
baixo número de edifício avaliados para as intensidades IEMS-98=V e IEMS-98=VI, estas intensidades foram
excluídas da amostra utilizada de seguida para a obtenção das curvas de vulnerabilidade.

IEMS-98=VII IEMS-98=VIII IEMS-98 =IX


8 12 14 13
7 7 10 12
7 12
10
8

Nº de edifícios
6
Nº de edifícios

Nº de edifícios

10
8
5 6 8
4 3 6
6 5
3
4 3
2 4
1 1
2 2
1 0 0 0
0 0 0
D1 D2 D3 D4 D5 D1 D2 D3 D4 D5 D1 D2 D3 D4 D5
Grau de dano, Dk Grau de dano, Dk Grau de dano, Dk

Figura 5: Histogramas de distribuição de dano para as Intensidades Macrossímicas VII, VIII e IX.

A análise da Figura 5 permite-nos verificar que, para um cenário com intensidade sísmica igual ou
superior a VIII, os edifícios apresentam um elevado número de grau de dano médio na ordem de Dk=4
e Dk=5, isto é, dano estrutural severos ou colapso.

A metodologia utilizada na elaboração do estudo de vulnerabilidade sísmica constitui uma versão


adaptada da Escala Macrossísmica Europeia, EMS-98, por [9]. Estes autores elaboraram um índice de
vulnerabilidade para cada tipologia construtiva com base em 5 valores representativos do valor da
vulnerabilidade: VI*,VI-,VI+,VImin e VImax. Desses valores, o VI* corresponde ao valor mais provável para
uma tipologia especifica de construção e os valores de VImin e VImax correspondem ao menor e ao maior
valor de intervalo que cada tipologia construtiva pode assumir (ver Tabela 2). A cada tipologia
construtiva associa-se um índice de vulnerabilidade, V, que assume valores entre 0 e 1 e descreve a
mesma em termos da percentagem que representa para as várias tipologias, classificadas de A a F sendo
que a tipologia A aquela que representa o pior comportamento à ação sísmica e a tipologia F o melhor
comportamento sismo-resistente.

Como se apresenta na Equação (2), a partir do valor do Índice de Vulnerabilidade, V, é construída a


função de vulnerabilidade, traduzida por uma expressão analítica para o edifício ou tipologia de
edifícios, para diferentes intensidades macrossísmicas, EMS-98 [3], com o grau de dano médio, μD, e
pode assumir valores compreendido no intervalo entre 0 e 5.

𝑥𝑥 + 𝑏𝑏 × 𝑉𝑉 − 11.6
𝜇𝜇𝐷𝐷 = 𝑎𝑎 × �1 + tanh � �� (2)
𝑄𝑄

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Tabela 2: Índices de vulnerabilidade para cada tipologias de betão armado (adaptado de [10]).
Classe de Vulnerabilidade
Tipologia construtiva
VImin VI- VI* VI+ VImax
Estrutura de betão armado sem
0.3 0.49 0.644 0.8 1.02
resistência sísmica (RC1)
Estrutura de betão armado com moderada
0.14 0.33 0.484 0.64 0.806
resistência sísmica (RC2)
Estrutura de betão armado com elevada
Betão -0.02 0.17 0.324 0.48 0.7
resistência sísmica (RC3)
Armado Paredes de betão armado sem resistência
0.3 0.367 0.544 0.67 0.86
sísmica (RC4)
Paredes de betão armado com moderada
0.14 0.21 0.384 0.51 0.7
resistência sísmica (RC5)
Paredes de betão armado com elevada
-0.02 0.047 0.224 0.35 0.54
resistência sísmica (RC6)

Este valor de grau de dano médio, μD, depende das variáveis a e b, as quais que foram obtidas neste
trabalho através de repetidas calibrações com o objetivo de obter o valor ótimo para as variáveies x, que
representa a intensidade macrossísmica, V, que é o índice de vulnerabilidade, e Q, que é um coeficiente
associado à ductilidade da tipologia estrutural. Com base no índice de vulnerabilidade, V, é então
possível calcular as probabilidades de serem alcançados ou excedidos cada um dos diversos graus de
dano propostos na EMS-98 (D1 a D5) em função da intensidade. O valor de V é obtido através da
Equação (3), onde d e e são variáveis dependentes dos valores de para cada tipologia e o Iv é o índice de
vulnerabilidade obtido da análise de cada edifício.

𝑉𝑉 = 𝑑𝑑 + 𝐼𝐼𝑣𝑣 × 𝑒𝑒 (3)

Para a obtenção do valor do índice de vulnerabilidade referente à metodologia macrossísmica, utilizou-


se o valor mais baixo do VImin e o valor mais elevado do VImax (apresentados na Tabela 2), tendo desta
forma sido possível obter o valor da variável e, igual a 0.0104, e, consequentemente, a Equação (4).
Saliente-se que a formulação desta hipótese partiu de pressuposto de que desta forma todos as tipologias
dos edifícios de betão armado presentes Tabela 3 são consideradas.

𝑉𝑉 = −0.02 + 𝐼𝐼𝑣𝑣 × 0.0104 (4)

Obtida a Equação (3), foi utilizada a curve fitting tool implementada no software Matlab para a
obtenção da expressão de dano, com base nos graus de dano médio obtido para cada um dos 91 edifícios
avaliados. Utilizando como valor fixo o valor médio do índice de vulnerabilidade (Iv,médio=38.79) e
admitindo que a curva apresenta um desenvolvimento do tipo hiperbólico, chegou-se à expressão
analítica de grau de dano médio, μD, dada pela Equação (5), onde as variáveis a e b assumem,
respetivamente, os valores de 2.839 e 10.79. Importa acrescentar que foi atribuído o valor de 5.0 ao
coeficiente Q, valor este estipulado em consonância com as indicações do “Regulamento de Estruturas
de Betão Armado e Pré-Esforçado (REBAP)” [11].

𝐼𝐼 + 10.79 × 𝑉𝑉 − 11.6
𝜇𝜇𝐷𝐷 = 2.839 × �1 + tanh � �� (5)
5
A Figura 6 ilustra a aproximação obtida entre a expressão analítica dada pela Equação (5), considerando
Iv=38.73, valor que corresponde ao índice de vulnerabilidade médio para os 91 edifícios analisados, e o
conjunto de observações de dano registadas para cada um desses edifícios. Adicionalmente, os 3 pontos
a amarelo representam as médias dos valores resultantes da aplicação Iv aos edifícios avaliados para as
intensidades consideradas. Como é possível verificar através observação da figura, de uma forma geral,
o desenvolvimento da curva obtida ajusta-se bem aos pontos resultantes da observação.

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4
Grau de dano médio, μD

uD atribuido
Grau a cada
de dano médio, μD, obtido
3 através
edificiode avaliação visual

2 uD médio
Valor obtidopara
médio obtido
determinada Intensidade
pela observação
Macrossísmica IEMS-98
1

0
5
V 6
VI 7
VII 8
VIII 9
IX 10
X 11
XI 12
XII
Intensidade Macrossísmica, IEMS-98

Figura 6: Curva de melhor ajuste aos valores médios de dano dos edifícios avaliados.

Finalmente, na Figura 7 apresentam-se as curvas de vulnerabilidade construídas com o valor médio do


índice de vulnerabilidade, e com a adição e subtração, simples e dupla, do valor do desvio padrão obtido
para a amostra dos 91 edifícios avaliados. A análise das curvas de vulnerabilidade permite concluir que
o intervalo de variação do grau de dano para uma determinada intensidade sísmica é considerável.

Ivmédio = 38,73
Grau de dano médio, μD

4
Iv = 51,08 (Ivmédio +
3 Desvio padrão)
Iv = 26,38 (Ivmédio -
Desvio padrão)
2 Iv = 63,43 (Ivmédio +
2.Desvio padrão)
1 Iv = 14,03 (Ivmédio -
2.Desvio padrão)

0
5V VI
6 VII
7 VIII
8 IX
9 X
10 XI
11 XII
12
Intensidade Macrossísmica, IEMS-98

Figura 7: Curvas de vulnerabilidade para os edifícios de betão armado.

Com base na análise da curvas de vulnerabilidade apresentadas na Figura 7 vale a pena notar que, quando
um edifício apresenta um índice de vulnerabilidade elevado, superior a 51, valor razoável para edifícios
irregulares ou que apresentam problemas estruturais como soft-storey ou pilares curtos, para uma
intensidade macrosísmica de V, este já poderá apresentar valores de grau de dano médio entre 2 e 3, o
que, na prática, significa que poderá já apresentar danos estruturais não desprezáveis. Já se for sujeito a
intensidades macrosísmicas de VIII ou IX, o valor do grau de dano espectável subirá para 4, ou superior,
o que significa danos estruturais muitos graves ou colapso. Um edifício que não apresente problemas
estruturais relevantes, com um índice de vulnerabilidade de cerca de 25, deverá apresentar um grau de
dano médio de 1, o que significa que, mesmo quando sujeito a intensidades macrosísmicas de VIII ou
IX, o edifício não deverá apresentar graus de dano superiores a 3. Desta forma, o edifício poderá
apresentar danos severos, mas não colapsar.

CONCLUSÕES

A partir da análise dos resultados obtidos e aqui apresentados, é possível retirar algumas conclusões
relevantes. A análise do índice de vulnerabilidade sísmica permitiu identificar os parâmetros que mais
influenciam o comportamento dos edifícios quando sujeitos a um sismo, possibilitando desta forma

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calibrar os pesos associados a cada um dos parâmetros que compõem o Iv. Em relação ao grau de
confiança médio dos parâmetros, a sua análise permitiu saber quais os parâmetros que deverão ter um
estudo mais detalhado, de modo a melhorar e controlar a qualidade dos resultados do índice de
vulnerabilidade. O desenvolvimento e calibração de uma expressão de grau de dano médio permitiu
obter o grau de dano do edifício, quando sujeito a uma determinada intensidade macrossísmica. De
forma geral, quando o edifício apresenta um índice de vulnerabilidade elevado, este estará mais propenso
a sofrer mais danos, mesmo que sujeito a uma intensidade sísmica reduzida.

Por fim, a metodologia proposta para a avaliação da vulnerabilidade sísmica baseada na observação de
danos, assume-se como uma abordagem de tipo first level, pois identifica 8 parâmetros fundamentais
que regem o comportamento e a resposta sísmica dos edifícios de betão armado, sendo potencialmente
interessante para avaliações de vulnerabilidade sísmica a larga escala, tendo em vista o desenvolvimento
e implementação de ações de gestão e mitigação do risco.

BIBLIOGRAFIA
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