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net/publication/282703661
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3 authors:
A. Silva
Technical University of Lisbon
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JORGE DE BRITO (1); PEDRO LIMA GASPAR (2); ANA SILVA (3)
RESUMO
No presente estudo, aborda-se uma metodologia geral de previsão da vida útil dos
revestimentos de fachada. Esta metodologia baseia-se no levantamento, através de
inspecções visuais, do estado de degradação dos revestimentos de fachada,
modelando a sua degradação ao longo do tempo. A metodologia proposta,
inicialmente validade através da análise dos rebocos exteriores correntes, foi já
aplicada num conjunto de trabalhos de investigação em revestimentos de fachada
(revestimentos cerâmicos aderentes em fachada, revestimentos de parede em pedra
natural, revestimentos de superfícies pintadas em paredes exteriores, sistemas de
isolamento térmico pelo exterior (ETICS)).
ABSTRACT
In this study a general methodology for service life prediction of external walls
claddings is presented. The methodology adopted is based on field work, which
consists on the visual inspection of the degradation state of the external walls
claddings, modeling their degradation over time. The proposed methodology, initially
validated for cementitious facade renders, has been successfully applied to a set of
research works in external walls (adhesive ceramic tiling, stone wall claddings (directly
adhered to the substrate), painted surfaces in external walls, external thermal
insulation composite systems (ETICS)).
Besides this methodology, this study also addresses the statistical modeling of service
life prediction of external walls claddings. The statistical tools applied give an
indication of the most relevant factors for the explanation of the degradation of
claddings, allowing incorporating the notion of uncertainty and provide a probabilistic
vision of its durability and service life.
A utilização dos métodos estatísticos na previsão da vida útil tem vindo a aumentar
nos últimos anos. Estes métodos implicam, por vezes, um tratamento estatístico
complexo e a sua utilização depende da quantidade de dados disponíveis, sendo
necessários tanto mais dados quanto maior a complexidade do fenómeno que se
pretende modelar estatisticamente. No entanto, através destes métodos, é possível
incluir nos modelos de previsão da vida útil a noção de risco e incerteza, fornecendo
uma visão probabilística dos fenómenos de degradação.
2. METODOLOGIA GERAL
S=
∑ (An ⋅ kn ⋅ ka,n ) (A)
(A ⋅ k )
Conhecendo a idade das fachadas ou a data das mais recentes intervenções nestas, é
possível expressar graficamente o processo de degradação através do conjunto de
pontos definidos pelos pares (x, y), onde as abcissas (x) correspondem à variável
“idade” e as ordenadas (y) à variável “severidade da degradação” para a amostra
estudada. Através de uma análise de regressão simples (não linear), é possível
determinar os parâmetros da equação que melhor se ajusta à amostra,
correspondente à curva média de degradação da amostra. Na Figura 1, ilustra-se a
curva de degradação correspondente ao caso concreto dos rebocos correntes, para
uma amostra de 100 casos de estudo(7).
Onde, segundo a norma ISO 15686:2000(2): VUE - vida útil estimada; VUR - vida útil de
referência; A - factor relacionado com a qualidade dos materiais; B - factor relacionado
com o nível de projecto; C - factor relacionado com o nível de execução; D - factor
relacionado com as condições do ambiente interior; E - factor relacionado com as
condições do ambiente exterior; F - factor relacionado com as condições de uso; G -
factor relacionado com o nível de manutenção.
Onde: VUE - vida útil estimada; VUR - vida útil de referência; A1 - acabamento do ladrilho
cerâmico (vidrado ou não vidrado); A2 - cor do ladrilho; A3 - dimensão; B1 - condições do
substrato; B2 - tipo de juntas; B3 - protecção periférica do ladrilho ; C1 - nível de execução;
E1 - orientação da fachada; E2 - acção vento / chuva; E3 - proximidade do mar; E5 -
humidade; G1 - existência de manutenção; G2 - facilidade de inspecção.
Emídio(14), com base na amostra de Silva et al.(13) e através da recolha de novos casos
(obtendo um total de 269 casos de estudo), aplica o método factorial aos
revestimentos pétreos. O modelo proposto para estimativa da durabilidade dos
revestimentos de pedra natural, baseado no método factorial, é definido de acordo
com a expressão (D).
Onde: VUE - vida útil estimada; VUR - vida útil de referência; A1 - tipo de pedra; A2 -
tipo de acabamento; A3 - cor; B1 - tipo de fixação; B2 - tipo de juntas; B3 -
pormenorização do material; C1 - nível de execução; E1 - orientação da fachada; E2 -
acção vento / chuva; E3 - proximidade do mar; E4 - temperatura; E5 - humidade; G1 -
existência de manutenção; G2 - facilidade de inspecção.
4. MODELAÇÃO ESTATÍSTICA
A análise de regressão é uma das técnicas estatísticas mais utilizadas quando se quer
explicar determinada realidade, tentando antever o comportamento da variável
dependente em função do conhecimento das variáveis independentes. Com recurso a
uma regressão múltipla linear, é possível determinar quais as características dos
revestimentos de fachada (variáveis independentes) que mais contribuem para
explicar a sua severidade da degradação (variável dependente). Procedendo a uma
análise deste tipo para o caso dos revestimentos pétreos e utilizando 140 casos de
estudo, Silva et al.(8) analisaram as características destes revestimentos que
influenciam a sua severidade da degradação. Foram assim analisadas 12
características: a idade; o tipo de pedra natural; a cor da pedra; o tipo de acabamento;
a localização do revestimento; a exposição à humidade; a orientação; a acção vento -
chuva; o tipo de utilização; a altura do edifício; a dimensão das placas pétreas; e a
proximidade do mar. Os autores concluíram que, de entre as variáveis analisadas,
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apenas quatro eram estatisticamente significativas. Assim, foi possível concluir que a
severidade da degradação deste tipo de revestimentos depende em primeira instância
da idade das fachadas, em seguida da proximidade do mar, depois do tipo de
acabamento da pedra natural e, por fim, da área das placas pétreas que constituem o
revestimento. Foi assim possível obter uma expressão matemática que permite
determinar a severidade da degradação para cada caso de estudo em função destas
quatro variáveis. Com a utilização desta expressão e para um nível máximo de
degradação de 20%, obtém-se uma vida útil estimada média de 77 anos, com um
desvio padrão de 11,2 anos.
Uma vez que das doze características analisadas apenas quatro eram estatisticamente
significativas, afigurou-se interessante proceder à análise das relações causais entre
variáveis, tentando assim perceber se as restantes variáveis contribuem de forma
indirecta para a explicação da severidade da degradação. Para isso, utilizou-se uma
análise de trajectórias, que se trata, grosso modo, de uma generalização da regressão
múltipla linear. Este tipo de análise permite decompor a associação entre variáveis.
Estabeleceram-se assim novos modelos de regressão, onde em cada um deles se
introduz como variável dependente uma das varáveis consideradas como explicativas
da severidade da degradação. Esta análise permitiu concluir que a proximidade do mar
se encontra directamente relacionada com a localização do revestimento, a exposição
à humidade, a orientação e a exposição à acção vento - chuva. Por sua vez, o tipo de
acabamento está directamente relacionado com a cor e tipo de pedra natural e com a
altura do edifício. Já a área da placa pétrea está directamente relacionada com o tipo
de utilização e altura do edifício e o tipo de pedra. Desta forma, é possível traçar o
diagrama de trajectórias que relaciona a severidade da degradação com as
características dos revestimentos de fachada (Figura 7). A análise de trajectórias
permitiu assim obter uma fórmula matemática para determinar a severidade da
degradação para cada caso de estudo em função da sua idade, da localização do
revestimento, da exposição à humidade, da orientação, da acção vento - chuva, da cor
e tipo de pedra natural, do tipo de utilização e altura do edifício. Com a utilização desta
expressão e para um nível máximo de degradação de 20%, obtém-se uma vida útil
estimada média de 77 anos, com um desvio padrão de 7,9 anos.
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Figura 7 - Diagrama de trajectórias(8)
Um estudo análogo foi desenvolvido por Chai et al.(18) para as superfícies pintadas. Neste
estudo, são consideradas as variáveis: idade; exposição à humidade; proximidade do
mar; orientção da fachada; acção combinada vento - chuva; textura do revestimento.
Neste caso, as variáveis estatisticamente significativas para explicar a degradação das
superfícies pintadas são a idade, proximidade do mar e orientação da fachada. A
utilização deste método conduziu a uma vida útil estimada média de 8,5 anos com um
desvio-padrão de 0,5 anos, para um nível máximo de degradação admissível de 20%.
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Existem ainda ferramentas estatísticas, como a regressão logística multinomial, que
permite, por exemplo, representar a distribuição probabilística da condição da
degradação das fachadas ao longo do tempo. Silva et al.(22) definem, para os
revestimentos pétreos, a probabilidade de pertencer a uma dada condição de
degradação em função da idade dos revestimentos (Figura 8). A escala de condição de
degradação adoptada compreende três níveis de degradação, correspondendo o nível 1
à condição mais favorável e o nível 3 à condição mais desfavorável (correspondendo ao
limite de vida útil). Assim, e tal como seria expectável, os autores constataram que a
probabilidade de ser do nível 1 vai diminuindo ao longo do tempo. Verifica-se que a
probabilidade de um caso de estudo pertencer ao nível 3 de degradação aumenta ao
longo do tempo, sendo praticamente inexpressiva até a 50 anos. Verifica-se ainda que, a
partir de 70 anos, a probabilidade de um revestimento pétreo ter atingido o fim da vida
útil é superior a 90%. O modelo proposto através da regressão logística multinomial
classifica correctamente 81,4% dos casos analisados, o que assegura a validade
estatística do modelo. Além disso, é ainda possível analisar a probabilidade da condição
da degradação ao longo do tempo em função, por exemplo, dos agentes ambientais que
contribuem para e fomentam a degradação dos revestimentos de fachada.
Outro dos métodos estatísticos que pode ser utilizado na previsão da vida útil dos
revestimentos de fachada consiste nas redes neuronais artificiais (RNAs). Estas são,
regra geral, emulações do cérebro humano. As RNAs são concebidas de modo a
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“aprender” com um conjunto de dados de entrada e de saída pertencentes a um dado
problema (amostra de aprendizagem), sendo capazes de generalizar e prever o
comportamento de novos dados com base no conhecimento adquirido através da
amostra de aprendizagem. Silva et al.(23) demonstraram a aplicabilidade desta
ferramenta na previsão da vida útil dos revestimentos pétreos. Utilizando como
variáveis de entrada a idade dos revestimentos, o tipo de acabamento, a proximidade
do mar e a área da placa pétrea, os autores exploram diferentes arquitecturas para a
rede neuronal, seleccionando aquela que apresenta um melhor desempenho global,
em função de diferentes parâmetros estatísticos analisados. Concluídos os
procedimentos de selecção da rede neuronal, é possível obter uma formulação
explícita da severidade da degradação, assim, a severidade da degradação (Sv) é uma
função das quatro variáveis de entrada (expressões (D) e (E)).
4
Sv = h0 + ∑ hi Hi (D)
i =1
Desta forma, e admitindo, uma vez mais, um nível máximo de degradação de 20%,
obtém-se uma vida útil estimada média de 80 anos, com um desvio padrão de 9,3 anos.
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Foi realizado um estudo semelhante para as fachadas rebocadas(21). Neste estudo, são
definidos dois modelos com recurso às redes neuronais artificiais. No primeiro modelo,
a severidade da degradação das fachadas rebocadas é função do tipo de argamassa, da
altura do edifício, da orientação e da idade (Figura 9). Para este modelo e admitindo
um nível máximo de degradação de 20%, obtém-se uma vida útil estimada média de
20,91 anos, com um desvio padrão de 8,60 anos. Para o segundo modelo, a severidade
da degradação é função do tipo de argamassa, da exposição à humidade, da existência
de protecção da fachada e da idade (Figura 10). Para este modelo, a vida útil estimada
média é de 17,50 anos, com um desvio padrão de 2,74 anos.
5. CONCLUSÕES
6. AGRADECIMENTOS
7. REFERÊNCIAS