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Projeto de Ergonomia e Arquitetura com Follow-up da Construção do Centro Nacional de Controle de Dutos (Transpetro, Rio de Janeiro) View project
All content following this page was uploaded by Carolina Souza da Conceição on 24 April 2017.
RECOMENDAÇÕES ERGONÔMICAS
PARA O PROJETO DE PLATAFORMAS
OFF-SHORE
Francisco José de Castro Moura Duarte (UFRJ)
duarte@pep.ufrj.br
Luciano do Valle Garotti (PETROBRAS)
luciano.garotti@petrobras.com.br
Nora de Castro Maia (PETROBRAS)
nora@petrobras.com.br
Gislaine Cyrino Capistrano da Silva (UFRJ)
gislaine_capistrano@yahoo.com
Carolina Souza da Conceição (UFRJ)
carolina@pep.ufrj.br
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determinam as situações que se efetivarão no futuro? Como assegurar que as recomendações
oriundas de situações atuais sejam seguidas em novos projetos, se estes assumem novos
compromissos e se o projeto inicial se transforma durante o ciclo de vida, dos estudos de base
à execução e, posteriormente, no uso?
Conforme já mencionado, a geração de recomendações técnicas em ergonomia visa apoiar
projetistas e usuários desde o início do projeto de base, ou seja, ao nível de diretrizes de
concepção (conceito do produto). O compromisso entre criar recomendações que não sejam
completamente genéricas (ou pouco operacionais) e que não restrinjam a criatividade, deu
origem ao conceito de configurações de uso, que serão apresentadas nesse artigo.
2. Metodologia
Durante os dois anos de duração deste projeto, procedeu-se a avaliações ergonômicas de
diferentes situações de trabalho, durante visitas curtas a plataformas definidas como situações
de referência (a principal foi a P-43). Nestas visitas foram identificadas situações típicas de
trabalho e estimou-se sua criticidade. A partir deste levantamento que equivale a um pré-
diagnóstico ergonômico (conforme Guérin et al.; 1991), foram utilizados diferentes métodos
de análise e registro, em função das especificidades das situações analisadas: entrevistas,
registros fotográficos e filmagens, análises de dados de saúde e das características da
população de trabalhadores, análises de posturas, esforços, ambientes e espaços físicos,
layout, organização do trabalho, dispositivos de informação e comando, mobiliário e
equipamentos. Se a metodologia de base em todos os casos permaneceu sendo a análise
ergonômica do trabalho, (que pressupõe o acompanhamento das situações típicas de trabalho
consideradas críticas e a entrevista em auto-confrontação), diversas variantes foram
introduzidas conforme permitido pela situação de trabalho.
Como é sabido, em observações de campo, o pesquisador deve adaptar técnicas e
procedimentos às circunstâncias que encontra, uma vez que não tem controle sobre a situação
como em um laboratório. Em uma plataforma, as restrições são ainda mais fortes, seja em
termos de tempo de observação (os dias de embarque são um recurso disputado devido às
limitações de vagas ou do POB – people on board), seja de ocorrência da atividade. Dessa
forma as possibilidades de aprofundamento das situações críticas foram bastante variáveis,
exigindo um leque diversificado de técnicas e procedimentos.
As análises da atividade na principal situação de referência do projeto foram confrontadas a
soluções de projeto adotadas em outras plataformas como forma de validar as análises, no
sentido de generalizá-las ou de limitar sua pertinência a situações particulares. Dessa forma,
puderam-se formular recomendações que abarcassem uma diversidade maior de experiências,
ou indicar a relação entre certas filosofias de projeto e as recomendações de soluções
específicas.
O projeto foi desenvolvido por meio de diversas ações, distribuídas nas seguintes etapas, com
ou sem superposição, dependendo das necessidades metodológicas:
1. Identificação e mapeamento das situações críticas de trabalho em termos de
confiabilidade, segurança operacional e carga física (esforços e posturas) em
diferentes áreas e ambientes de trabalho da plataforma P-43. Essa criticidade foi
avaliada para operadores de produção e de manutenção.
2. Realização da Análise Ergonômica do Trabalho (AET) em ambientes definidos com
base no mapeamento de criticidade realizado. Conforme mencionado, as análises
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detalhadas foram todas realizadas em uma determinada plataforma (P-43) em 14
visitas realizadas de maio de 2007 a fevereiro de 2009.
3. Avaliação das condições de trabalho em outras plataformas (P-50, P-52, P-38, P-53 e
PRA-1) para se conhecer outras situações de referência e as soluções implementadas
nestas situações.
4. Redação das recomendações técnicas – RTs em ergonomia (guidelines) para o projeto
básico dos diferentes ambientes analisados (princípios ergonômicos básicos de
projeto).
5. Validação das recomendações junto aos projetistas.
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2. Válvulas
3. Escadas e Acessos
4. Turbogerador
5. Movimentação de Cargas
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O critério que distingue esses grupos é a atividade: num caso, o que cria a situação, as
relações entre as coisas e/ou pessoas presentes, é uma ação humana, um sujeito
desenvolvendo uma atividade; noutro, as relações se resolvem entre as próprias coisas. No
momento do projeto de um sistema, ambas as relações (que, para simplificar, denominamos
de configurações de uso e de configurações técnicas) devem ser consideradas pelos
engenheiros. Também não é improvável que certas configurações técnicas se transmutem para
o grupo de configurações de uso assim que a presença humana se manifeste em uma ação
(podemos imaginar a manutenção ou limpeza de um material corrosível no banheiro). Esta é
precisamente a definição de uma configuração de uso: o encontro entre um certo padrão de
comportamento humano e um dado padrão espacial (Alexander, 1981).
No entanto, em termos de rigor metodológico, faz sentido distinguir configurações técnicas de
configurações de uso. A rigor, a análise ergonômica do trabalho se presta à identificação de
configurações de uso, via atividade e experiência dos operadores/usuários. Já as configurações
técnicas ou parte delas são percebidas apenas pela presença desses atores em um dado espaço,
sem necessidade de conhecimentos especializados. Nesse sentido, a ergonomia da atividade
está em condições, ao menos potencialmente, de fazer um levantamento exaustivo de
inadequações do espaço a partir de sua utilização, apoiando-se na vivência subjetiva dos
usuários. Por esta via, pode também ter acesso a problemas de configurações essencialmente
técnicas que os trabalhadores reportam a partir de sua experiência profissional ou enquanto
observadores leigos, apoiados no senso comum. Nas recomendações técnicas, as análises e
recomendações evitam misturar em um mesmo momento esses dois tipos de configurações
por razões de coerência metodológica.
O levantamento e o diagnóstico de configurações técnicas, por exemplo, as patologias de
edificações ou incompatibilidades de projeto, exigem metodologias específicas que a análise
ergonômica do trabalho não domina nem utiliza, por não ser este o seu campo de atuação.
Evidentemente, se percebidas pelo ergonomista ou relatadas pelos trabalhadores, essas
configurações técnicas foram mantidas na medida em que contribuem para melhorar os novos
projetos, mas possuem um status diferente, apenas como recomendações adicionais, não
sistemáticas. Não se pode entender as RTs em ergonomia para uma instalação ou espaço
como uma norma técnica que aborda todos os determinantes do projeto, evitando diluir sua
contribuição específica no campo das normas técnicas.
O conteúdo das recomendações também foi objeto de uma adequação à atividade dos
projetistas. Nas recomendações tradicionais, nem sempre se procura explicitar a razão de uma
proposição, como se sua justificativa fosse auto-evidente. A noção de configurações de uso
ajuda a situar uma recomendação no contexto de uma atividade, que também se procurou
preservar na formulação das recomendações que, além do conteúdo técnico, propositivo,
explicita seu objetivo/finalidade ou problema a resolver. Sempre que possível, foram
detalhados parâmetros de projeto, explicando o porquê e como foram calculados e/ou
exemplificando-os com situações de referência visitadas ou conhecidas. Assim, as
recomendações procuraram conter o que fazer, o porquê e, em certa medida, o como. Abaixo
serão apresentados alguns exemplos das configurações de uso e recomendações técnicas
geradas.
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O objetivo da passagem de “pig” é remover a parafina e outros resíduos aderidos acumulados
nas linhas de produção. Como dito anteriormente, as configurações de uso descrevem como
são realizadas as diversas etapas que compõem a operação em questão. Como exemplos são
citados duas das oito configurações de uso propostas para esse sistema:
Com base nas configurações de uso, nas condicionantes e variáveis de projeto e nas normas e
regulamentações, aplicáveis a esse sistema, foram geradas recomendações técnicas como
essas abaixo:
A área em frente à portinhola das câmaras deve ficar o mais livre possível de
dispositivos como tubulações ou volantes de válvulas. Prever espaço mínimo de 2,00
m livre de obstrução, diante da necessidade de utilização de instrumentos que
demandem espaço, tais como bastões e cestas para recebimento (Figura 1).
5. Válvulas
São os principais mecanismos de controle de uma planta de processo. Há grande diversidade
de tipos e modelos e enorme representatividade em uma instalação de processo químico, cuja
quantidade é da ordem de milhares na maioria das instalações, tanto onshore quanto offshore.
Nesse caso não foram geradas as configurações de uso, mas uma tabela com os principais
problemas relacionados à atuação manual de válvulas e seus fatores. Foi também gerada uma
categorização, de acordo com o grau de criticidade, funções e freqüência de utilização das
válvulas.
Exemplos de recomendações técnicas:
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Os volantes devem ser acessíveis permanentemente no nível do deck ou através de
superfície elevada. Caso essas duas alternativas não sejam viáveis, é aceitável o acesso
através de escada.
6. Escadas e acessos
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Figura 3 – Posicionamento de escada dificultando manutenção de válvula
Exemplos de recomendações:
Projetar vias ou plataformas de ligação entre as diferentes elevações dos módulos
evitando deslocamentos por escadas. É importante prever estas ligações durante as
etapas de construção dos módulos, homogeneizando as alturas dos diferentes níveis de
cada módulo.
Prever acessos (escada e plataforma que substituiriam andaimes) a pontes rolantes e
equipamentos suspensos que necessitam de manutenção.
7. Turbogerador
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Exemplos de recomendações geradas:
Prever porta de acesso ao plenum, uma vez que se faz necessária a entrada para
inspeção e giro das palhetas, com o objetivo de melhoria da boroscopia nas inspeções
rotineiras, evitando esforços na entrada de um espaço confinado e facilitando o resgate
de um operador em caso de acidente.
Prever porta de acesso à descarga da geradora de gás (GG) da turbina para inspeção
dos struts, uma vez que este é um local considerado confinado, permitindo a entrada
do mantenedor de forma segura. A inspeção dos struts das turbinas é uma manutenção
preventiva realizada a fim de diminuir a possibilidade de danos ao equipamento. Outra
alternativa é a instalação de uma janela de visita de onde o operador possa ter acesso
direto, ou seja, sem a necessidade de montagem de dispositivos para sua entrada.
8. Movimentação de cargas
Dentre as atividades mais intensas, sob o ponto de vista de esforço e postura, desenvolvidas
na plataforma estão as atividades de movimentação de cargas. Os operadores recebem e
enviam cargas, além de transportá-las dentro da plataforma.
Configurações de uso (exemplos):
Movimentação de cargas pela plataforma – Consiste no transporte de cargas
espalhadas pela plataforma. Por exemplo, quando uma válvula está com defeito no
processo e deve ser retirada para manutenção. A equipe de movimentação de cargas é
chamada para transportar a válvula defeituosa do ponto de desmontagem até a área
onde sofrerá manutenção e para transporte de uma válvula nova para o local onde será
montada.
Recepção de rebocadores – Consiste na retirada da carga do rebocador com a ajuda do
guindaste e o seu posicionamento na plataforma. O guindasteiro conta com a ajuda de
“homens de área” que aplicam sua força e assumem posturas inadequadas durante o
posicionamento das embalagens paletizadas/contêineres na área de recepção de cargas
ou na área de produtos químicos.
9. Conclusão
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As recomendações técnicas (RTs) e as configurações de uso propostas neste estudo não
substituem os futuros ergonomistas e as recomendações detalhadas, a serem elaboradas em
cooperação com projetistas e com os futuros usuários que participarão dos projetos. As RTs
oferecem apenas orientações básicas para que o trabalho dos futuros usuários seja considerado
desde o início do projeto básico. Desta forma pode-se antecipar problemas em termos de:
esforços e posturas inadequadas, dificuldades de acesso e deslocamentos, dificuldade de
execução (ou operacionalidade/funcionalidade), riscos de acidentes, necessidade de aumento
do número de operadores envolvidos com a execução da tarefa etc.
A continuidade desses estudos demanda a aplicação dessas recomendações em um projeto em
andamento, ou ainda sua confrontação com outras situações de referência como plataformas
projetadas sob outras filosofias de operação (ex.: contratadas por afretamento) para que se
possa verificar a sua eficácia, bem como aprimorá-las quando necessário.
Referências
ALEXANDER, C. (1981). El modo intemporal de construir. Barcelona: Gustavo Gili.
DANIELLOU, F. (1987). Les modalités d'une ergonomie de conception: introduction dans la conduite de projets
industriels. Note documentaire. ND 1647-129-87. Paris: INRS.
DANIELLOU, F. (1988). Ergonomie et démarche de conception dans les industries de process continus, quelques
étapes clefs. Le Travail Humain, 51, 2, pp.184-194.
DANIELLOU, F. E GARRIGOU, A. (1991). Human factors in design : sociotechnics or ergonomics? In M.
Helander, (Ed.), Design for Manufactorability and Process Planning. pp 55-63. Londres: Taylor & Francis.
DUARTE, F; LIMA, F.A,L E RENÉ, R. & MAIA, N. (2009) Settings of usage for the design process, Anais do
IEA, China.
DUARTE, F; LIMA, F.A,L E RENE, R. & MAIA, N. (2008) Situations d’action caracteristiques et
configurations d’usage pour la conception, 43º Congresso da SELF, França.
GUERIN, F. ET AL. (1991). Comprende le travail pour le transformer. ANACT, Paris.
MALINE, J. (1994). Simuler le travail. Paris: Editions de l’ANACT.
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