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Recomendações ergonômicas para o projeto de plataformas offshore

Conference Paper · October 2010

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5 authors, including:

Francisco Duarte Nora De Castro Maia


Federal University of Rio de Janeiro Petróleo Brasileiro S.A.
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Carolina Souza da Conceição


Technical University of Denmark
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Projeto de Ergonomia e Arquitetura com Follow-up da Construção do Centro Nacional de Controle de Dutos (Transpetro, Rio de Janeiro) View project

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XXX ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO
Maturidade e desafios da Engenharia de Produção: competitividade das empresas, condições de trabalho, meio ambiente.
São Carlos, SP, Brasil, 12 a15 de outubro de 2010.

RECOMENDAÇÕES ERGONÔMICAS
PARA O PROJETO DE PLATAFORMAS
OFF-SHORE
Francisco José de Castro Moura Duarte (UFRJ)
duarte@pep.ufrj.br
Luciano do Valle Garotti (PETROBRAS)
luciano.garotti@petrobras.com.br
Nora de Castro Maia (PETROBRAS)
nora@petrobras.com.br
Gislaine Cyrino Capistrano da Silva (UFRJ)
gislaine_capistrano@yahoo.com
Carolina Souza da Conceição (UFRJ)
carolina@pep.ufrj.br

Este artigo apresenta recomendações ergonômicas para o projeto de


plataformas de petróleo. Baseados num estudo de caso, estas
recomendações tem por objetivo considerar o trabalho dos futuros
usuários desde o início do projeto, antecipando pproblemas relativos
às condições de trabalho. As recomendações aqui apresentadas são
relativas ao sistema de PIGs, válvulas, escadas, turbogeradores e
movimentação de carga. Os Manuais de fatores humanos apresentam
recomendações ergonômicas que são pouco utilizadas pelos
projetistas. Eles não compreendem as regras produzidas e não sabem,
muitas vezes, como utilizá-las nos projetos. Ao contrário destes
manuais focados nas propriedades humanas e em tarefas abstratas, a
abordagem utilizada para a construção das recomendações aqui
apresentadas tem como base a experiência das diferentes equipes de
operação (náutica, produção, facilidades e manutenção) em
plataformas em operação.

Palavras-chaves: ergonomia, projeto, petróleo, plataforma


1. Introdução
Este artigo tem como base pesquisa realizada durante dois anos com o objetivo de construir
recomendações técnicas (RTs) para o projeto básico de futuras plataformas de petróleo.
Diferentemente da maior parte das recomendações em ergonomia, a proposta deste projeto de
pesquisa era construir recomendações baseadas no uso ou, mais especificamente, na análise
detalhada das situações existentes (plataformas offshore em operação). Dito de outra forma, o
que se procurava era a transferência de experiência das plataformas em operação para o
projeto de futuras plataformas.

Essa transferência de conhecimento operacional e a reflexão sobre as experiências e projetos


do passado se fazem necessários no atual contexto brasileiro de exploração e produção de
petróleo. As descobertas recentes de novas áreas de produção, como o pré-sal demandarão
diversos projetos e inovações tecnológicas que precisam se apoiar na reflexão sobre a prática
atual. Os projetos de plataformas em águas ultra profundas, de alto custo de operação,
situadas a grandes distâncias da costa marítima e com dificuldades inerentes de logística de
transporte e manutenção, demandarão esforços de inovação consideráveis que deverão ter
como base a realidade do trabalho de operação.
Assim, os resultados deste projeto de pesquisa pretendem apoiar a intervenção da ergonomia
em etapas iniciais do projeto onde as possibilidades de transformação são maiores. A
compreensão do uso, base para elaboração das recomendações aqui apresentadas, não
significa necessariamente ampliação de espaços e maiores custos para o projeto como um
todo. As intervenções ergonômicas podem significar reduções de custos importantes, na
medida em que elas ajudam a antecipar problemas de incompatibilidades entre as diferentes
disciplinas de projeto, incompatibilidades estas que estão na origem dos principais problemas
relacionados às condições de trabalho existentes nas plataformas atualmente em operação.
Intervir na fase inicial do projeto, integrando princípios e recomendações ergonômicas
oriundas da análise das situações atuais, visa a integrar desde o início do projeto a dimensão
do trabalho. O conhecimento da realidade do trabalho em situações de referência, tal qual ela
ocorre no momento da operação, é uma dimensão estratégica para o êxito dos projetos, na
medida em que possibilita antecipar problemas que o futuro corpo técnico de operação poderá
enfrentar. Devido ao elevado valor dos investimentos, é necessário que as novas unidades de
produção entrem em funcionamento estável nas datas previstas e com a qualidade e a
quantidade da produção asseguradas.
Conhecer o saber fazer é objetivo fundamental da Análise Ergonômica do Trabalho (AET).
Esse saber é essencial não apenas para operar os sistemas tecnológicos, mas também, para
projetá-los. Assim, seria uma contradição pretender projetar sem transferir a experiência
operacional das plataformas existentes. Não se trata aqui de consultar usuários, o que mesmo
Taylor praticava, em seus projetos de racionalização da produção. A análise ergonômica do
trabalho amplia a ação dos operadores sobre o projeto, em especial quando a intervenção em
projetos acontece desde suas etapas iniciais.
Já se conhece a dialética do projeto enquanto desenvolvimento permanente da conversação
entre projetista e a situação (Shön, 1983 e Béguin, 1994). Os desafios para a construção
dessas recomendações técnicas são muitos e diversas questões se colocam: como navegar
entre orientações sobre o trabalho futuro e o conhecimento específico das situações atuais
existentes (paradoxo da ergonomia de concepção)? Até que ponto, o certo e o provável

2
determinam as situações que se efetivarão no futuro? Como assegurar que as recomendações
oriundas de situações atuais sejam seguidas em novos projetos, se estes assumem novos
compromissos e se o projeto inicial se transforma durante o ciclo de vida, dos estudos de base
à execução e, posteriormente, no uso?
Conforme já mencionado, a geração de recomendações técnicas em ergonomia visa apoiar
projetistas e usuários desde o início do projeto de base, ou seja, ao nível de diretrizes de
concepção (conceito do produto). O compromisso entre criar recomendações que não sejam
completamente genéricas (ou pouco operacionais) e que não restrinjam a criatividade, deu
origem ao conceito de configurações de uso, que serão apresentadas nesse artigo.

2. Metodologia
Durante os dois anos de duração deste projeto, procedeu-se a avaliações ergonômicas de
diferentes situações de trabalho, durante visitas curtas a plataformas definidas como situações
de referência (a principal foi a P-43). Nestas visitas foram identificadas situações típicas de
trabalho e estimou-se sua criticidade. A partir deste levantamento que equivale a um pré-
diagnóstico ergonômico (conforme Guérin et al.; 1991), foram utilizados diferentes métodos
de análise e registro, em função das especificidades das situações analisadas: entrevistas,
registros fotográficos e filmagens, análises de dados de saúde e das características da
população de trabalhadores, análises de posturas, esforços, ambientes e espaços físicos,
layout, organização do trabalho, dispositivos de informação e comando, mobiliário e
equipamentos. Se a metodologia de base em todos os casos permaneceu sendo a análise
ergonômica do trabalho, (que pressupõe o acompanhamento das situações típicas de trabalho
consideradas críticas e a entrevista em auto-confrontação), diversas variantes foram
introduzidas conforme permitido pela situação de trabalho.
Como é sabido, em observações de campo, o pesquisador deve adaptar técnicas e
procedimentos às circunstâncias que encontra, uma vez que não tem controle sobre a situação
como em um laboratório. Em uma plataforma, as restrições são ainda mais fortes, seja em
termos de tempo de observação (os dias de embarque são um recurso disputado devido às
limitações de vagas ou do POB – people on board), seja de ocorrência da atividade. Dessa
forma as possibilidades de aprofundamento das situações críticas foram bastante variáveis,
exigindo um leque diversificado de técnicas e procedimentos.
As análises da atividade na principal situação de referência do projeto foram confrontadas a
soluções de projeto adotadas em outras plataformas como forma de validar as análises, no
sentido de generalizá-las ou de limitar sua pertinência a situações particulares. Dessa forma,
puderam-se formular recomendações que abarcassem uma diversidade maior de experiências,
ou indicar a relação entre certas filosofias de projeto e as recomendações de soluções
específicas.
O projeto foi desenvolvido por meio de diversas ações, distribuídas nas seguintes etapas, com
ou sem superposição, dependendo das necessidades metodológicas:
1. Identificação e mapeamento das situações críticas de trabalho em termos de
confiabilidade, segurança operacional e carga física (esforços e posturas) em
diferentes áreas e ambientes de trabalho da plataforma P-43. Essa criticidade foi
avaliada para operadores de produção e de manutenção.
2. Realização da Análise Ergonômica do Trabalho (AET) em ambientes definidos com
base no mapeamento de criticidade realizado. Conforme mencionado, as análises

3
detalhadas foram todas realizadas em uma determinada plataforma (P-43) em 14
visitas realizadas de maio de 2007 a fevereiro de 2009.
3. Avaliação das condições de trabalho em outras plataformas (P-50, P-52, P-38, P-53 e
PRA-1) para se conhecer outras situações de referência e as soluções implementadas
nestas situações.
4. Redação das recomendações técnicas – RTs em ergonomia (guidelines) para o projeto
básico dos diferentes ambientes analisados (princípios ergonômicos básicos de
projeto).
5. Validação das recomendações junto aos projetistas.

As visitas e observações do trabalho em plataformas offshore, tiveram o objetivo de


compreender o trabalho de operação. Procurou-se durante as análises realizadas identificar os
elementos e os determinantes das atuais condições de trabalho e de uso que poderiam ser
objeto de melhorias em futuros projetos. A observação e o registro das diversas atividades
ligadas à operação, aliados às verbalizações dos operadores e aos dados técnicos do
funcionamento das plataformas formaram a base para a construção do diagnóstico
ergonômico e das recomendações para transformação destas condições de trabalho.
Ao responder a uma demanda de concepção de novas situações de trabalho, as análises
realizadas se apoiaram em conceitos articulados na construção da abordagem da atividade
futura possível – AFP (Daniellou, 1988 e 2002, Maline, 1994). Em particular a noção de
situação de referência e a noção de situação de ação característica (SAC) ajudam a
compreender como as análises foram conduzidas.
Situações de referência são situações existentes com características semelhantes às futuras
situações de trabalho a serem projetadas. Nestas situações são realizadas as AETs e as
observações sistemáticas da atividade. Tais análises são realizadas em situações típicas de
trabalho conhecidas como Situações de Ação Características – SAC, definidas por Daniellou
(1992) como um conjunto de determinantes cuja presença simultânea vai condicionar a
estruturação da atividade. Esses determinantes são notadamente: os objetivos a atingir, as
pessoas engajadas na ação, as exigências de tempo e qualidade, a disponibilidade de meios de
trabalho e os fatores susceptíveis de influenciar o estado interno dos operadores (por exemplo,
o trabalho noturno). Para Maline (1994), as SACs são as unidades elementares da ergonomia
de concepção, constituindo o traço de união irredutível e operacional que permite a instrução
do futuro a partir do existente (Maline, 1994).
Trata-se, neste caso, de evidenciar as dificuldades vivenciadas na prática profissional, tais
como a expressão de percepções e sensações corporais, intuições e experiências vivenciadas,
o que exige a problematização na noção de “participação” (deixa de ser espontânea) e o
desenvolvimento correlato de teorias da prática (teorias da ação e da atividade) e da cognição
situada. Devidamente estimulada e orientada, a experiência vivida consegue antecipar
situações de trabalho futuras, validando ou alertando os projetistas para possíveis
inadequações ergonômicas.
Partindo da AET de situações concretas (plataformas em operação) e de especificações de
projeto mais ou menos genéricas, avaliadas criticamente à luz das observações das situações
de referência, foram formuladas recomendações na forma de especificações técnicas para
diversos ambientes, áreas e equipamentos da planta. Para apresentação nesse artigo foram
escolhidas cinco áreas do estudo:
1. Sistema de lançamento e recebimento de “pig”;

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2. Válvulas
3. Escadas e Acessos
4. Turbogerador
5. Movimentação de Cargas

3. Recomendações baseadas no uso


Uma das maiores dificuldades encontradas neste projeto para elaboração das RTs foi extrair
as configurações de uso (Duarte et al., 2008 e 2009) a partir dos casos diversos, evitando se
prender ao caso da situação de referência ou às opções adotadas em outras plataformas.
Mesmo quando uma situação de referência oferecia um bom exemplo a ser copiado, a
recomendação assumiu um tom mais geral, para não se prender ao caso específico. Tentamos,
assim, evitar que a recomendação assumisse o status de um padrão obrigatório, ao invés de
servir como referência, como pretendemos, deixando margem de manobra para a equipe de
projeto inovar e, mesmo, melhorar em relação ao estado da arte.
A noção de configuração de uso (Duarte et al., 2008 e 2009) permite entender melhor como as
RTs foram construídas e, também, como devem ser utilizadas. O que define uma configuração
de uso é sempre a reunião entre, de um lado, aspectos físico-tecnológicos (ambiente, espaço,
instrumento, objeto, equipamento...), contexto social e orientações cognitivas (exemplo: “abrir
uma válvula para...”) e, de outro lado, um esquema prático, que está subjacente a uma dada
atividade. Como exemplo, podemos citar: como verificar a posição do PIG, como checar a
pressão nos sistemas de lançamento e recebimento de PIGs etc.
Adotando as configurações de uso como unidade mínima de análise e base das
recomendações, foi possível abstrair detalhes e especificidades observadas durante a análise
ergonômica do trabalho que não precisam constar das configurações de uso apesar destas
terem se originado desse material. Por serem de caráter mais geral, as configurações de uso
podem abstrair de variabilidades e especificidades de cada plataforma, de detalhes dos
procedimentos e modos operatórios e de problemas específicos.
As situações de trabalho consideradas típicas, abstraídas da análise ergonômica do trabalho,
assim como as recomendações que nelas se inspiram, podem ser agrupadas em 2 tipos: um
que inclui a atividade, outro que considera apenas relações entre elementos materiais.
Incluem-se no primeiro grupo, situações como:
 extração de disjuntor em painéis elétricos
 limpeza de filtros
 recepção de aeronaves
 Manipulação de válvulas
 Transporte de carga (materiais e equipamentos)
No segundo grupo podem ser incluídas as situações de projeto do espaço, equipamentos e
instalações que também interessam aos projetistas, como interferências entre variáveis de
projeto e incompatibilidades de projeto. Por exemplo:
 padronização do tamanho de degraus
 material da área de estoque de produtos químicos
 utilizações de tubulações de PVC no sistema de sewage

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O critério que distingue esses grupos é a atividade: num caso, o que cria a situação, as
relações entre as coisas e/ou pessoas presentes, é uma ação humana, um sujeito
desenvolvendo uma atividade; noutro, as relações se resolvem entre as próprias coisas. No
momento do projeto de um sistema, ambas as relações (que, para simplificar, denominamos
de configurações de uso e de configurações técnicas) devem ser consideradas pelos
engenheiros. Também não é improvável que certas configurações técnicas se transmutem para
o grupo de configurações de uso assim que a presença humana se manifeste em uma ação
(podemos imaginar a manutenção ou limpeza de um material corrosível no banheiro). Esta é
precisamente a definição de uma configuração de uso: o encontro entre um certo padrão de
comportamento humano e um dado padrão espacial (Alexander, 1981).
No entanto, em termos de rigor metodológico, faz sentido distinguir configurações técnicas de
configurações de uso. A rigor, a análise ergonômica do trabalho se presta à identificação de
configurações de uso, via atividade e experiência dos operadores/usuários. Já as configurações
técnicas ou parte delas são percebidas apenas pela presença desses atores em um dado espaço,
sem necessidade de conhecimentos especializados. Nesse sentido, a ergonomia da atividade
está em condições, ao menos potencialmente, de fazer um levantamento exaustivo de
inadequações do espaço a partir de sua utilização, apoiando-se na vivência subjetiva dos
usuários. Por esta via, pode também ter acesso a problemas de configurações essencialmente
técnicas que os trabalhadores reportam a partir de sua experiência profissional ou enquanto
observadores leigos, apoiados no senso comum. Nas recomendações técnicas, as análises e
recomendações evitam misturar em um mesmo momento esses dois tipos de configurações
por razões de coerência metodológica.
O levantamento e o diagnóstico de configurações técnicas, por exemplo, as patologias de
edificações ou incompatibilidades de projeto, exigem metodologias específicas que a análise
ergonômica do trabalho não domina nem utiliza, por não ser este o seu campo de atuação.
Evidentemente, se percebidas pelo ergonomista ou relatadas pelos trabalhadores, essas
configurações técnicas foram mantidas na medida em que contribuem para melhorar os novos
projetos, mas possuem um status diferente, apenas como recomendações adicionais, não
sistemáticas. Não se pode entender as RTs em ergonomia para uma instalação ou espaço
como uma norma técnica que aborda todos os determinantes do projeto, evitando diluir sua
contribuição específica no campo das normas técnicas.

O conteúdo das recomendações também foi objeto de uma adequação à atividade dos
projetistas. Nas recomendações tradicionais, nem sempre se procura explicitar a razão de uma
proposição, como se sua justificativa fosse auto-evidente. A noção de configurações de uso
ajuda a situar uma recomendação no contexto de uma atividade, que também se procurou
preservar na formulação das recomendações que, além do conteúdo técnico, propositivo,
explicita seu objetivo/finalidade ou problema a resolver. Sempre que possível, foram
detalhados parâmetros de projeto, explicando o porquê e como foram calculados e/ou
exemplificando-os com situações de referência visitadas ou conhecidas. Assim, as
recomendações procuraram conter o que fazer, o porquê e, em certa medida, o como. Abaixo
serão apresentados alguns exemplos das configurações de uso e recomendações técnicas
geradas.

4. Sistema de lançamento e recebimento de “pig” para operação de limpeza em poços


produtores

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O objetivo da passagem de “pig” é remover a parafina e outros resíduos aderidos acumulados
nas linhas de produção. Como dito anteriormente, as configurações de uso descrevem como
são realizadas as diversas etapas que compõem a operação em questão. Como exemplos são
citados duas das oito configurações de uso propostas para esse sistema:

 Inserção e retirada da cesta de recebimento - o operador insere manualmente a cesta


no recebedor de “pig”, evitando que a espuma se desvie em direção às linhas de
produção, dreno ou bypass na sua chegada. Após o recebimento, o operador faz a
retirada da cesta para retirar o “pig”.
 Alinhamento (ou realinhamento) dos recebedores e lançadores de “pig” -
direcionamento do óleo ou gás para a câmara realizado através da atuação manual
sobre válvulas. O propósito é desviar o fluxo nos momentos adequados, viabilizando o
lançamento e o recebimento do “pig”

Com base nas configurações de uso, nas condicionantes e variáveis de projeto e nas normas e
regulamentações, aplicáveis a esse sistema, foram geradas recomendações técnicas como
essas abaixo:

 A área em frente à portinhola das câmaras deve ficar o mais livre possível de
dispositivos como tubulações ou volantes de válvulas. Prever espaço mínimo de 2,00
m livre de obstrução, diante da necessidade de utilização de instrumentos que
demandem espaço, tais como bastões e cestas para recebimento (Figura 1).

Figura 1– Utilização de bastão para colocação do “pig” e inserção de cesta de recebimento

 É importante que o manômetro da câmara esteja disposto de forma visível para o


operador no momento em que manuseia a válvula de bypass da PSV, de forma a evitar
deslocamentos desnecessários entre as estações e a área das PSVs.

5. Válvulas
São os principais mecanismos de controle de uma planta de processo. Há grande diversidade
de tipos e modelos e enorme representatividade em uma instalação de processo químico, cuja
quantidade é da ordem de milhares na maioria das instalações, tanto onshore quanto offshore.
Nesse caso não foram geradas as configurações de uso, mas uma tabela com os principais
problemas relacionados à atuação manual de válvulas e seus fatores. Foi também gerada uma
categorização, de acordo com o grau de criticidade, funções e freqüência de utilização das
válvulas.
Exemplos de recomendações técnicas:

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 Os volantes devem ser acessíveis permanentemente no nível do deck ou através de
superfície elevada. Caso essas duas alternativas não sejam viáveis, é aceitável o acesso
através de escada.

 Regiões de acesso a volantes de válvulas que possivelmente requeiram amaciamento


(Figura2) devem ter pelo menos 0,50 m2 de espaço livre.

Figura 2 – Amaciamento de válvulas em um lançador de “pig”

6. Escadas e acessos

A construção de uma plataforma de petróleo ocorre geralmente com a fragmentação das


áreas/módulos, como, por exemplo, módulo de geração, módulo de compressão etc. Cada um
dos módulos passa a ser construído por um fornecedor, que fica responsável por todos os
equipamentos e dispositivos presentes nele, considerando restrições de área e a distribuição de
pesos pelos diferentes pontos da embarcação. Diante da limitação dos espaços, a alternativa
muitas vezes utilizada pelos fornecedores é a verticalização dos módulos, acarretando a
existência de inúmeras escadas de acesso aos diferentes equipamentos/sistemas. Foram
observados problemas frequentes como a falta de acesso a locais onde ocorrem manutenções
gerando necessidade de montagem de andaimes e utilização de acessos alternativos e
posicionamento inadequado de escadas dificultando a operação (Figura 3). A sequência de
tarefas relacionadas com uma única atividade de trabalho deve ser considerada em projeto de
modo a evitar deslocamentos excessivos do operador.

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Figura 3 – Posicionamento de escada dificultando manutenção de válvula

Exemplos de recomendações:
 Projetar vias ou plataformas de ligação entre as diferentes elevações dos módulos
evitando deslocamentos por escadas. É importante prever estas ligações durante as
etapas de construção dos módulos, homogeneizando as alturas dos diferentes níveis de
cada módulo.
 Prever acessos (escada e plataforma que substituiriam andaimes) a pontes rolantes e
equipamentos suspensos que necessitam de manutenção.

7. Turbogerador

Sistema responsável por manter o abastecimento de energia da plataforma.

Configurações de uso (exemplos):


 Lavagem do TG – Nesta lavagem é preciso abastecer o sistema de água destilada e
sabão e, em seguida, acionar os painéis para dar partida à lavagem. Ao final da
lavagem, é necessário acessar as válvulas de dreno que geralmente ficam localizadas
abaixo do HOOD, a fim de verificar se a água está límpida, após o que se faz
necessária a secagem dos instrumentos abaixo da turbina.
 Inspeção da palheta – A inspeção das palhetas da turbina (Figura 4) é realizada a fim
de diagnosticar a existência de algum princípio de falha ou dano permanente nas
palhetas. Esta inspeção ocorre em média a cada 4000 horas de operação do TG
(aproximadamente a cada 6 meses), antes e depois da lavagem, podendo ser realizada
de forma visual ou com a utilização de equipamentos como boroscópios, sendo
necessária a entrada do operador no plenum para girar as palhetas do eixo interno,
objetivando melhorar o resultado das inspeções boroscópicas .

Figura 4 – Limpeza das palhetas do TG

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Exemplos de recomendações geradas:
 Prever porta de acesso ao plenum, uma vez que se faz necessária a entrada para
inspeção e giro das palhetas, com o objetivo de melhoria da boroscopia nas inspeções
rotineiras, evitando esforços na entrada de um espaço confinado e facilitando o resgate
de um operador em caso de acidente.
 Prever porta de acesso à descarga da geradora de gás (GG) da turbina para inspeção
dos struts, uma vez que este é um local considerado confinado, permitindo a entrada
do mantenedor de forma segura. A inspeção dos struts das turbinas é uma manutenção
preventiva realizada a fim de diminuir a possibilidade de danos ao equipamento. Outra
alternativa é a instalação de uma janela de visita de onde o operador possa ter acesso
direto, ou seja, sem a necessidade de montagem de dispositivos para sua entrada.

8. Movimentação de cargas
Dentre as atividades mais intensas, sob o ponto de vista de esforço e postura, desenvolvidas
na plataforma estão as atividades de movimentação de cargas. Os operadores recebem e
enviam cargas, além de transportá-las dentro da plataforma.
Configurações de uso (exemplos):
 Movimentação de cargas pela plataforma – Consiste no transporte de cargas
espalhadas pela plataforma. Por exemplo, quando uma válvula está com defeito no
processo e deve ser retirada para manutenção. A equipe de movimentação de cargas é
chamada para transportar a válvula defeituosa do ponto de desmontagem até a área
onde sofrerá manutenção e para transporte de uma válvula nova para o local onde será
montada.
 Recepção de rebocadores – Consiste na retirada da carga do rebocador com a ajuda do
guindaste e o seu posicionamento na plataforma. O guindasteiro conta com a ajuda de
“homens de área” que aplicam sua força e assumem posturas inadequadas durante o
posicionamento das embalagens paletizadas/contêineres na área de recepção de cargas
ou na área de produtos químicos.

Exemplos de recomendações geradas para plataformas tipo navio:


 Sugere-se o posicionamento dos guindastes de forma a alcançar todas as extremidades
das plataformas evitando deslocamentos com manipulação de cargas, como, por
exemplo, guindastes a popa, meia nau e proa, sendo o guindaste a meia-nau para apoio
a equipamentos da produção e guindastes na proa e na popa para auxílio em sistemas
de offloading e de ancoragem.

 Posicionar os guindastes da popa (boreste e bombordo) junto à área de movimentação


de cargas e dimensioná-los para suportar as cargas mais pesadas como, por exemplo,
bomba de injeção, fecho tubular de permutador, turbogeradores e geradores de
emergência.

9. Conclusão

10
As recomendações técnicas (RTs) e as configurações de uso propostas neste estudo não
substituem os futuros ergonomistas e as recomendações detalhadas, a serem elaboradas em
cooperação com projetistas e com os futuros usuários que participarão dos projetos. As RTs
oferecem apenas orientações básicas para que o trabalho dos futuros usuários seja considerado
desde o início do projeto básico. Desta forma pode-se antecipar problemas em termos de:
esforços e posturas inadequadas, dificuldades de acesso e deslocamentos, dificuldade de
execução (ou operacionalidade/funcionalidade), riscos de acidentes, necessidade de aumento
do número de operadores envolvidos com a execução da tarefa etc.
A continuidade desses estudos demanda a aplicação dessas recomendações em um projeto em
andamento, ou ainda sua confrontação com outras situações de referência como plataformas
projetadas sob outras filosofias de operação (ex.: contratadas por afretamento) para que se
possa verificar a sua eficácia, bem como aprimorá-las quando necessário.

Referências
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GUERIN, F. ET AL. (1991). Comprende le travail pour le transformer. ANACT, Paris.
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