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Princípios básicos para projetos de salas de controle em plataformas de


petróleo

Conference Paper · October 2008

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5 authors, including:

Carolina Souza da Conceição Francisco Duarte


Technical University of Denmark Federal University of Rio de Janeiro
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Nora De Castro Maia


Petróleo Brasileiro S.A.
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XXVIII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO
A integração de cadeias produtivas com a abordagem da manufatura sustentável.
Rio de Janeiro, RJ, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2008

PRINCÍPIOS BÁSICOS PARA PROJETOS


DE SALAS DE CONTROLE EM
PLATAFORMAS DE PETRÓLEO
Carolina Souza da Conceição (COPPE/UFRJ)
carolina@pep.ufrj.br
Francisco José de Castro Moura Duarte (COPPE/UFRJ)
duarte@pep.ufrj.br
Gislaine Cyrino Capistrano da Silva (COPPE/UFRJ)
gislaine@pep.ufrj.br
Rafael René Leal Remiro (COPPE/UFRJ)
rafael@pep.ufrj.br
Nora de Castro Maia (PETROBRAS)
nora@petrobras.com.br

A ergonomia tem se tornado presente em projetos de plataformas de


petróleo, visando introduzir a lógica do trabalho no processo de
concepção dos espaços de trabalho. As salas de controle, por sua
importância no bom funcionamento e operação das plataformas,
acaba sendo priorizada nas demandas por revitalização em
plataformas mais antigas em operação. Neste trabalho são
apresentados dois casos de intervenção ergonômica em salas de
controle de plataformas com cerca de 25 e 6 anos de operação. A
partir da análise ergonômica do trabalho foi possível identificar as
situações típicas de trabalho dos operadores e, assim, gerar
recomendações para o re-projeto desses espaços. As principais
características observadas nos casos estudados deram origem aos
princípios gerais de projeto elaborados e aqui apresentados.

Palavras-chaves: Ergonomia, sala de controle, off-shore.


XXVIII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO
A integração de cadeias produtivas com a abordagem da manufatura sustentável.
Rio de Janeiro, RJ, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2008

1. Introdução
Os projetos de plataformas de petróleo vêm sofrendo transformações e a participação da
ergonomia tem se intensificado a partir dos anos 2000. São muitos os projetistas envolvidos e
muitos deles, em geral, possuem uma representação incompleta ou falha do trabalho de
operação, já que alguns, inclusive, não conhecem uma plataforma em funcionamento. Assim,
os projetos nem sempre atendem às reais demandas verificadas nas situações de trabalho,
devido a esse desconhecimento e, consequentemente, a falhas nas definições dos problemas a
serem solucionados.
A necessidade de atender a cronogramas, normalmente exíguos, para este tipo de projeto, leva
à utilização de projetos anteriores como ponto de partida para os projetos seguintes, sem a
realização da necessária avaliação da usabilidade e adequação dos diferentes ambientes às
atividades de trabalho que neles serão realizadas. Contudo, transformações em determinados
locais de trabalho vêm ocorrendo nos projetos mais recentes (MAIA et al., 2008).
No caso de plataformas mais antigas, ainda em operação, surgem novos projetos para
recuperação das instalações, demandados principalmente pelo setor de SMS, cujo objetivo
principal é a melhoria das questões relacionadas à saúde dos operadores. A ergonomia é então
incluída neste contexto, onde, além de buscar melhorias nas condições de saúde do
trabalhador, objetiva aliar melhorias das condições de trabalho à eficácia produtiva, através do
foco na “atividade” ou “ação” dos operadores.
Dentro dessa perspectiva de atualização de ambientes em plataformas antigas, o espaço
geralmente priorizado é a sala de controle. Esse interesse é justificado pelo “papel-chave”
desse ambiente para a operação das plataformas. Trata-se do local onde é feito o controle de
todo o processo e onde são tomadas decisões estratégicas e produtivas. Quando dos primeiros
projetos para as salas de controle das plataformas, eram considerados aspectos
antropométricos da ergonomia clássica, mas ainda não se consideravam aspectos cognitivos,
como a interface entre operadores e telas de comando ou a interação entre operadores.
Assim, as salas de controle têm sido re-projetadas para se adequarem a alguns princípios
básicos, antes deixados de lado, e aos conceitos atuais já usados em novos projetos. Neste
trabalho são apresentados dois projetos para revitalização de salas de controle de plataformas
off-shore em operação na Bacia de Campos (Rio de Janeiro). Em ambos os casos estudados a
base da intervenção foi a análise ergonômica do trabalho (AET) nas situações de referência,
ou seja, as próprias salas de controle em funcionamento. A partir dessa análise foi possível
apresentar as demandas reais para o projeto, bem como evidenciar os inconvenientes
observados in locco. Após a AET nas salas de controle existentes, foram geradas
recomendações (guidelines) para os projetos de transformação e re-concepção dessas salas de
controle.
Diante da participação nestes dois projetos, e com base em experiências anteriores em
projetos de salas de controle, foi possível observar algumas características comuns às
diferentes salas. São apresentadas as características específicas desses dois casos, assim como
as características típicas que puderam ser generalizadas e evidenciaram princípios básicos que
podem ser considerados em novos projetos (ou re-projetos) de salas de controle.

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2. A ergonomia na concepção ou re-concepção dos espaços de trabalho


“Uma característica essencial de toda intervenção ergonômica é que ela não se contenta em
produzir um conhecimento sobre as situações de trabalho: ela visa a ação.” (DANIELLOU e
BÉGUIN, 2007, p.282) E, segundo os autores, as situações objeto da ação podem ou não ser
as mesmas que as situações objeto de análise. Desta forma, a distinção entre “ergonomia de
correção” e “ergonomia de concepção” tende a se atenuar, pois qualquer intervenção
ergonômica numa situação existente visa contribuir com a definição de uma situação futura
mais favorável: para uma transformação limitada da mesma situação ou para a concepção de
novos meios de trabalho (DANIELLOU e BÉGUIN, 2007).
Uma vez que o trabalho efetivamente realizado (atividade) não coincide com os
procedimentos que o definem ou com as descrições dadas pelos diferentes atores, esse
trabalho comporta diferentes fontes de prescrições, eventualmente contraditórias entre elas,
que a atividade vai tentar compatibilizar. “A atividade nunca pode, portanto, ser interpretada
como a simples execução das tarefas prescritas.” (DANIELLOU e BÉGUIN, 2007, p.286)
Segundo os autores, é a compreensão da estrutura interna da atividade que permite, de fato,
compreender os problemas da forma como são tratados pelos operadores. A identificação de
situações de ação características e a construção de cenários para a atividade futura permitem
levantar questões pertinentes que devem ser consideradas desde o início nos projetos.
Algumas dessas situações podem ser discutidas com o cliente para definição das prioridades,
o que será determinante nas escolhas a serem feitas pelos projetistas (MARTIN et al., 1995).
A análise da atividade pode revelar ainda pontos de rigidez e mau funcionamento
incompatíveis com a evolução do sistema a que se destina, permitindo uma avaliação do que
está sendo proposto ainda na fase de projeto (MARTIN et al., 1995). O objetivo, segundo os
autores, não é aumentar a quantidade de informação, mas garantir que haverá as informações
relevantes e necessárias para os projetistas entenderem o que o projeto realmente é. A
consideração da variabilidade e da diversidade de situações existentes é indispensável para
generalizar as observações efetuadas. O objetivo da ergonomia, portanto, não consiste em
reduzir a diversidade ou a variabilidade das situações, mas em caracterizá-las para considerá-
las nos planos técnico, organizacional e social (DANIELLOU e BÉGUIN, 2007).
Assim, a introdução dessa lógica do trabalho, evidenciada pela ação ergonômica, permite a
criação de novas soluções para o espaço (CONCEIÇÃO et al., 2008). E a validação dos
resultados obtidos pelo ergonomista permite uma melhor visualização da situação estudada,
explicitando os diferentes pontos de vista sobre o trabalho. De acordo com Daniellou (2004),
essa validação dos conhecimentos produzidos pela análise do trabalho fundamenta-se em uma
dupla construção: 1) a construção técnica, a partir dos métodos que asseguram a congruência
dos fatos; e 2) a construção social, a partir da difusão e da discussão das descrições
produzidas junto aos atores.

3. A intervenção ergonômica em salas de controle


Para a realização dos projetos de revitalização de duas salas de controle – de uma plataforma
fixa e de uma plataforma semi-submersível – foi usada a abordagem da atividade futura
(DANIELLOU, 1992). Vale destacar a participação dos usuários durante todo o processo: os
operadores fornecem um conhecimento extenso e detalhado do processo e experiência prática,
que não estão documentados para os projetistas ou demais atores (PIKAAR et al., 1990).

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Inicialmente foram feitas visitas às salas de controle em funcionamento e, através da


metodologia da análise ergonômica do trabalho (GUÉRIN et al., 2001), foi possível
compreender seu funcionamento e identificar as principais situações de ação características da
operação. Além disso, foram realizados: 1) levantamento fotográfico das salas de controle
existentes, bem como verificação de medidas (as built); 2) identificação dos terminais de
vídeo e sistemas, rádios e telefones necessários em cada console; 3) visitas às demais
instalações de apoio à sala de controle – como ambientes de equipamentos, abrigos dos
operadores de campo, dentre outros; e 4) reuniões e entrevistas com operadores,
coordenadores e os respectivos gerentes das plataformas (GEPLATs). Nessa primeira fase de
cada projeto foram gerados relatórios das visitas relatando as principais questões identificadas
a serem levadas em consideração durante o projeto para as novas salas de controle.
Em seguida, foram desenvolvidos os primeiros estudos e avaliadas as possibilidades de layout
para as salas de controle. Durante essa fase foram feitas reuniões com usuários em terra e
embarcados, através de vídeo conferência. A participação direta dos usuários foi de grande
importância na discussão das possibilidades. E quando da definição de uma opção de layout,
foi elaborada uma maquete eletrônica para uma validação final com os usuários. De acordo
com Maia et al. (2008), diante da necessidade de conectar conceitos teóricos (lógicas dos
projetistas) e conceitos “práticos” (lógica dos operadores), a maquete eletrônica é uma
importante ferramenta de diálogo para validação das soluções propostas.
Por fim, depois dessa última validação com os usuários, foram gerados documentos com
especificações técnicas para o projeto dos espaços e respectivos mobiliários. Essas
especificações seriam utilizadas quando da elaboração do projeto de detalhamento para essas
revitalizações das salas de controle.
3.1. A sala de controle de uma plataforma fixa
A primeira intervenção, na sala de controle de uma plataforma fixa com cerca de 25 anos de
operação, ocorreu de julho a outubro de 2007. Tratava-se de um processo de transformação de
toda a unidade com vistas a um aumento de produção, durante a qual foi contratada a equipe
de ergonomia para a realização de estudo e especificação para a revitalização da sala de
controle.
A plataforma possuía apenas um ambiente para a sala de controle, contemplando operação e
equipamentos, como pode ser observado na Figura 1. A equipe de operação com postos de
trabalho na sala de controle era composta de apenas 2 operadores de produção e um SUPROD
(supervisor de produção). Como apoio à operação havia 3 postos de trabalho para a equipe de
facilidades e a equipe das turbo-máquinas (um supervisor, 1 operador de turbo-geradores e 1
operador de turbo-compressores) na sala de painéis dos turbo-compressores, e, ainda, algumas
“salas” improvisadas usadas pelos operadores de campo de produção para emissão de PTs
(permissões de trabalho).

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Figura 1 – Planta baixa da sala de controle existente na plataforma fixa

A principal demanda para o projeto da nova sala de controle era a separação entre os
ambientes de operação (a sala de controle propriamente dita) e de equipamentos (os racks de
automação). E, para o ambiente de operação (foco principal do estudo), a demanda era de
alocação de todos os envolvidos com a operação (fora os operadores de campo) em seis
consoles de operação para 2 operadores de produção (posto P1), 2 operadores de facilidades
(posto F1), 1 operador dos TCs (turbo-compressores) e 1 operador dos TGs (turbo-geradores).
Além disso, foram previstos 4 postos de trabalho para a equipe de automação e um posto de
trabalho para o SUPROD (supervisor de produção). As emissões de PTs continuariam fora da
sala de controle, concentradas num container para os operadores de campo.
Havia também a demanda pela colocação de janelas, inexistentes na sala de controle em
funcionamento. A presença de janelas em salas de controle é de grande importância não só
pelo aproveitamento da iluminação natural, como também pela possibilidade dos operadores
terem a noção de dia e noite. Em ambientes confinados, como o das salas de controle das
plataformas, a luz do dia é essencial para o bom funcionamento do relógio biológico das
pessoas.
Com o layout proposto para a nova sala de controle (Figura 2), com a separação entre os
ambientes de operação e equipamentos, foi possível atender, não só às demandas solicitadas,
mas também às necessidades observadas durante a análise do trabalho na sala de controle
existente. Para o ambiente de operação, pode-se destacar algumas soluções adotadas:
− Três janelas no ambiente de operação, com tratamento em relação à segurança de incêndio
(propagação de fogo e explosões) e ao conforto térmico, acústico e lumínico dessa área;
− Um posto de trabalho para o SUPROD fora da bancada com os consoles de operação,
porém com visibilidade para eles;
− Um local para a equipe de automação dentro do ambiente de operação, mas também fora
dos consoles de operação;
− Um local para pequenas reuniões e leituras de plantas;
− Um local para guarda de capacetes dos operadores da sala de controle e demais operadores
que precisem entrar no ambiente de operação;
− A proximidade entre os operadores de produção e o operador dos TCs em uma mesma
bancada de consoles, face à necessidade constante de comunicação entre eles; e
− Algumas telas (monitores) para controle do sistema de câmeras (CCTV) junto ao teto,
visíveis a todos os operadores.

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Figura 2 – Planta baixa com o layout proposto para a sala de controle na plataforma fixa

Além das demandas mencionadas, as recomendações propostas para a revitalização da sala de


controle incluíram especificações de acústica, iluminação, materiais e cores de acabamento,
layout e design do mobiliário. A proposta final de projeto pode ser observada na maquete
eletrônica elaborada para uma última validação com os usuários (Figura 3).

Figura 3 – Maquete eletrônica da solução adotada para a sala de controle na plataforma fixa

3.2. A sala de controle de uma plataforma semi-submersível


A segunda intervenção, na sala de controle de uma plataforma semi-submersível com 6 anos
de operação, ocorreu de novembro de 2007 a março de 2008. A equipe de ergonomia foi
contratada para realização da AET na sala de controle em funcionamento para
desenvolvimento de um projeto de transformação para essa sala. Este projeto foi motivado
pelo afastamento, em 2006, de um operador de produção que trabalhava no posto P1 desde
2003 por motivo de saúde: o laudo do médico especialista apontou as condições de trabalho
como responsáveis por uma lesão no tendão do músculo supra-espinoso direito, responsável

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pela funcionalidade do ombro.


Neste projeto a facilidade de implantação foi uma premissa básica norteadora das
modificações propostas. Não havia demanda para alteração do espaço ocupado pela sala de
controle, que já contava com dois ambientes distintos (Figura 4) – operação e equipamentos.
E o foco do projeto foi no ambiente de operação da sala de controle, mesmo existindo alguns
postos de trabalho no ambiente de equipamentos (operadores F2 ao F5 da equipe de
facilidades).
No ambiente de operação atuavam as equipes de produção (2 operadores P1, 1 operador P2 e
1 SUPROD), facilidades (1 operador F1), embarcação (1 operador E1 e 1 operador E2) e
automação (2 técnicos) da plataforma. Havia ainda um posto de trabalho para o controle de
emergências e um micro-computador dedicado a um sistema referente à legislação ambiental,
mas que era usado por pessoas que não pertenciam à equipe de operação para consultar a
internet. Com relação às emissões de PTs, parte era feita no ambiente de operação (operadores
P2 e E2), parte no ambiente de equipamentos (equipe de facilidades) e parte em uma sala de
apoio fora da sala de controle (operadores de campo da equipe de produção).

Figura 4 – Planta baixa da sala de controle existente na plataforma semi-submersível

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Na nova sala de controle, seriam mantidos os postos de trabalho para as mesmas equipes que
já ocupavam o ambiente de operação, com exceção do micro-computador referente à
legislação ambiental que, como não era obrigatório, teve sua retirada solicitada. E havia a
demanda para a alocação da área do café (coffee shop) no ambiente de operação, já que seu
posicionamento no ambiente de equipamentos não era adequado e já tinha gerado incidentes
(queima de um servidor corporativo por respingo de iogurte jogado no lixo).
Durante a intervenção, surgiram algumas restrições para o projeto por parte da equipe de
automação (de terra) responsável pelas novas instalações necessárias durante o re-projeto da
sala. Havia algumas instalações elétricas e de dados que gerariam muitos riscos de shut down
(parada de operação) se realocados. Assim, face a essa demanda, não foi possível alterar o
local ocupado pela equipe de automação, embora a proposta feita depois da análise do
trabalho tenha sido alterar esse posicionamento para a outra extremidade da sala, mais isolada
e, portanto, com menos riscos de choques das pessoas com os equipamentos.
Atendendo a essas demandas e restrições, chegou-se ao layout proposto para a nova sala de
controle (Figura 5), que atendeu também às necessidades observadas durante a análise do
trabalho na sala de controle existente. Os pontos principais para essa solução foram:
− Consoles independentes entre si, porém posicionados lado a lado para facilitar a
comunicação entre os operadores;
− Postos de trabalho para o SUPROD, para o operador E2 e para situações de controle de
emergências fora da bancada com os consoles de operação, porém com visibilidade para
eles;
− Realocação da área do café no ambiente de operação, já que seu posicionamento no
ambiente de equipamentos já tinha gerado incidentes;
− Local para a equipe de automação dentro do ambiente de operação, também fora dos
consoles de operação, mas limitada por porta e divisórias; e
− Local para guarda de capacetes dos operadores da sala de controle e demais operadores que
precisem entrar no ambiente de operação, e de botas dos operadores da sala de controle.

Figura 5 – Planta baixa com o layout proposto para a sala de controle na plataforma semi-submersível

Assim como na primeira intervenção apresentada, as recomendações propostas para esta

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revitalização da sala de controle também incluíram especificações de acústica, iluminação,


materiais e cores de acabamento, layout e design do mobiliário. Com a maquete eletrônica
(Figura 6), elaborada para uma última validação com os usuários, pode-se ter uma visão geral
da proposta para o projeto da nova sala de controle.

Figura 6 – Maquete eletrônica da solução adotada para a sala de controle na plataforma semi-submersível

4. Princípios básicos para projetos de salas de controle a partir da análise do trabalho


O objetivo das especificações técnicas elaboradas era apresentar recomendações ergonômicas
para o projeto das salas de controle, a serem levadas em consideração durante a etapa de
detalhamento desses projetos. Essas recomendações englobavam layout, mobiliário,
iluminação, acústica e demais aspectos referentes às ambiências das salas de controle
relevantes para a adaptação das condições de trabalho às características psicofisiológicas dos
operadores.
Alguns aspectos observados foram similares nos casos apresentados. Com base em
experiências anteriores no projeto de salas de controle, observou-se que alguns princípios
básicos podem ser generalizados e utilizados em projetos de diferentes plataformas. O foco
dos estudos realizados e das recomendações elaboradas foi o ambiente de operação da sala de
controle. Contudo, vale ressaltar a existência de diversas áreas de apoio a esse ambiente.
Portanto, algumas questões mais abrangentes devem ser consideradas:
− A separação entre os ambientes de operação e de equipamentos é importante, uma vez que
as máquinas geram calor e ruído, e a temperatura do ar condicionado para seu bom
funcionamento é demasiadamente baixa para a ocupação humana. Além disso, o risco de
choques ou outros “acidentes” que possam danificar os equipamentos ou comprometer o
funcionamento do sistema são minimizados sem a circulação permanente de pessoas;
− A localização dos escritórios do GEPLAT e dos coordenadores nas proximidades da sala
de controle é desejável, mas sem comunicação direta para evitar a circulação desnecessária
no ambiente de operação. Da mesma forma, uma sala de reunião próxima à sala de
controle é recomendável, principalmente para o caso de situações críticas, por exemplo,
onde a proximidade da operação é fundamental;
− O posicionamento de um banheiro (feminino e masculino) e uma copa (coffee shop)
próximos à sala de controle é fundamental, já que os operadores não podem se ausentar
demoradamente de seus postos de trabalho; e

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− A previsão de um abrigo para os operadores de campo junto à área de processo, tanto para
o uso eventual de computadores pelos operadores, como para a emissão diária de PTs, é
importante, uma vez que permite a liberação do ambiente de operação de uma circulação
elevada de pessoas.

Para o ambiente de operação propriamente dito, é recomendável a presença de janelas, o que


contribui para a iluminação do ambiente e para o bom funcionamento do relógio biológico das
pessoas através da noção de dia e noite. Porém, vale destacar a importância de tratamento das
janelas em relação à segurança de incêndio (propagação de fogo e explosões) e em relação ao
conforto térmico, acústico e lumínico do ambiente.
O fluxo de pessoas na área de operação das salas de controle também merece atenção
especial, já que deve ser limitado ao que se refere às atividades de operação. É desejável que
toda atividade que puder ser realizada fora deste ambiente seja localizada em ambiente
próprio, a fim de minimizar as interferências e se manter um ambiente adequado ao nível de
atenção necessário à atividade de operação.
Contudo, o foco da atenção passa a ser, na maior parte dos casos, nos consoles de operação.
Considerando-se que os consoles são os postos de trabalho ocupados pelos operadores durante
quase a totalidade das 12 horas de cada turno de trabalho, algumas questões podem ser
destacadas:
− O nível de interação entre os operadores deve ser estudado em cada caso para a definição
do posicionamento dos consoles;
− O contato visual e a comunicação entre operadores devem ser encorajados para facilitar a
troca de informações, muitas vezes necessárias para a confiabilidade e a eficácia do
sistema;
− Cada console deve comportar até duas pessoas, o que pode ocorrer em diversas situações:
partida da unidade, treinamento, manutenção, trocas de turno, situações críticas e de
emergência, dentre outras; e
− O número de monitores para controle do sistema em cada console deve ser avaliado de
acordo com o número e o nível de informações a ser controlado em cada um deles. Pikaar
et al. (1990) sugerem um máximo de 4 monitores por console, face ao limite de apreensão
das informações pelos operadores.

Outra questão que deve ser observada é a presença da equipe de automação no ambiente de
operação, e não no ambiente de equipamentos, por exemplo. Há uma interação forte com os
operadores que justifica essa proximidade para agilizar as comunicações necessárias e garantir
o bom funcionamento do sistema. Porém, vale mencionar que nem sempre os técnicos de
automação ficam junto aos consoles de operação, como nos casos apresentados, em que havia
uma área reservada para essa equipe na sala de controle. Cada situação tem suas
particularidades que irão determinar esse posicionamento.
Por fim, é interessante considerar algumas variáveis que devem ser verificadas e
dimensionadas de acordo com cada sala: um local para pequenas reuniões e leituras de
plantas, e um local para guarda de EPIs (equipamentos de proteção individual) – como
capacetes e/ou botas – no ambiente de operação. Contudo, a validação dessas variáveis e dos
demais princípios de projeto com os usuários é fundamental para atingir o funcionamento
esperado de toda a operação.

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5. Conclusão
As intervenções ergonômicas nos projetos ou re-projetos de salas de controle de plataformas
off-shore têm se tornado mais frequentes e se mostrado eficazes no alcance dos objetivos das
demandas. A participação dos usuários é uma questão fundamental para esse “sucesso”, já que
contribui para o bom funcionamento do sistema, como esperado. Para Pikaar et al. (1990),
envolver um grupo de representantes dos usuários no projeto de salas de controle de processo
automatizado também é necessário para a aceitação do resultado final pelos próprios usuários.
“Num número limitado de áreas, os conhecimentos estão suficientemente estabilizados para
serem expressos na forma de recomendações gerais ou normas.” (DANIELLOU e BÉGUIN,
2007, p.289) Segundo os autores, é necessário ao ergonomista o conhecimento dessas
ferramentas a fim de dominar seu uso e ser capaz de discutir sua validade. A partir das
situações identificadas durante a análise do trabalho em situações de referência – seja a
própria situação de projeto ou não – esse conhecimento de normas e recomendações faz com
que a confrontação e a validação dessas situações com os usuários sejam mais proveitosas.
A experiência pessoal dos ergonomistas, ou sua “biblioteca de informações”, também é uma
dimensão importante de seu conhecimento (DANIELLOU e BÉGUIN, 2007). Em
intervenções ergonômicas como as apresentadas, essa experiência, segundo os autores,
permite gerar mais facilmente hipóteses exploratórias que vão guiar a busca de informações,
identificando rapidamente o que é “típico” e o que é “específico” de cada situação.
Assim, foi com base no conhecimento de normas e recomendações gerais, na experiência
prévia em projetos de salas de controle e na análise do trabalho nas salas de controle em
funcionamento que foi possível identificar algumas características típicas. Essas
características, então, deram origem a princípios básicos que podem nortear projetos (novos
ou não) de salas de controle em outras plataformas.

Referências
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DANIELLOU, F. & BÉGUIN, P. Metodologia da Ação Ergonômica: Abordagens do Trabalho Real.
Ergonomia, Editora Blucher, p.281-301, 2007.
GUÉRIN, F., LAVILLE, A., DANIELLOU, F. et al. Compreender o Trabalho para Transformá-lo: a Prática
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MAIA, N.; GAROTTI, L.; DUARTE, F. & JACKSON, J. Work Activity and the Workers-designers
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A integração de cadeias produtivas com a abordagem da manufatura sustentável.
Rio de Janeiro, RJ, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2008

PIKAAR, R.; THOMASSEN, P.; DEGELING, P. & VAN ANDEL, H. Ergonomics in Control Room Design.
Ergonomics, Vol. 33, No. 5, p.589-600, 1990.

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