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All content following this page was uploaded by Carolina Souza da Conceição on 10 June 2015.
1. Introdução
Os projetos de plataformas de petróleo vêm sofrendo transformações e a participação da
ergonomia tem se intensificado a partir dos anos 2000. São muitos os projetistas envolvidos e
muitos deles, em geral, possuem uma representação incompleta ou falha do trabalho de
operação, já que alguns, inclusive, não conhecem uma plataforma em funcionamento. Assim,
os projetos nem sempre atendem às reais demandas verificadas nas situações de trabalho,
devido a esse desconhecimento e, consequentemente, a falhas nas definições dos problemas a
serem solucionados.
A necessidade de atender a cronogramas, normalmente exíguos, para este tipo de projeto, leva
à utilização de projetos anteriores como ponto de partida para os projetos seguintes, sem a
realização da necessária avaliação da usabilidade e adequação dos diferentes ambientes às
atividades de trabalho que neles serão realizadas. Contudo, transformações em determinados
locais de trabalho vêm ocorrendo nos projetos mais recentes (MAIA et al., 2008).
No caso de plataformas mais antigas, ainda em operação, surgem novos projetos para
recuperação das instalações, demandados principalmente pelo setor de SMS, cujo objetivo
principal é a melhoria das questões relacionadas à saúde dos operadores. A ergonomia é então
incluída neste contexto, onde, além de buscar melhorias nas condições de saúde do
trabalhador, objetiva aliar melhorias das condições de trabalho à eficácia produtiva, através do
foco na “atividade” ou “ação” dos operadores.
Dentro dessa perspectiva de atualização de ambientes em plataformas antigas, o espaço
geralmente priorizado é a sala de controle. Esse interesse é justificado pelo “papel-chave”
desse ambiente para a operação das plataformas. Trata-se do local onde é feito o controle de
todo o processo e onde são tomadas decisões estratégicas e produtivas. Quando dos primeiros
projetos para as salas de controle das plataformas, eram considerados aspectos
antropométricos da ergonomia clássica, mas ainda não se consideravam aspectos cognitivos,
como a interface entre operadores e telas de comando ou a interação entre operadores.
Assim, as salas de controle têm sido re-projetadas para se adequarem a alguns princípios
básicos, antes deixados de lado, e aos conceitos atuais já usados em novos projetos. Neste
trabalho são apresentados dois projetos para revitalização de salas de controle de plataformas
off-shore em operação na Bacia de Campos (Rio de Janeiro). Em ambos os casos estudados a
base da intervenção foi a análise ergonômica do trabalho (AET) nas situações de referência,
ou seja, as próprias salas de controle em funcionamento. A partir dessa análise foi possível
apresentar as demandas reais para o projeto, bem como evidenciar os inconvenientes
observados in locco. Após a AET nas salas de controle existentes, foram geradas
recomendações (guidelines) para os projetos de transformação e re-concepção dessas salas de
controle.
Diante da participação nestes dois projetos, e com base em experiências anteriores em
projetos de salas de controle, foi possível observar algumas características comuns às
diferentes salas. São apresentadas as características específicas desses dois casos, assim como
as características típicas que puderam ser generalizadas e evidenciaram princípios básicos que
podem ser considerados em novos projetos (ou re-projetos) de salas de controle.
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XXVIII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO
A integração de cadeias produtivas com a abordagem da manufatura sustentável.
Rio de Janeiro, RJ, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2008
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XXVIII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO
A integração de cadeias produtivas com a abordagem da manufatura sustentável.
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XXVIII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO
A integração de cadeias produtivas com a abordagem da manufatura sustentável.
Rio de Janeiro, RJ, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2008
A principal demanda para o projeto da nova sala de controle era a separação entre os
ambientes de operação (a sala de controle propriamente dita) e de equipamentos (os racks de
automação). E, para o ambiente de operação (foco principal do estudo), a demanda era de
alocação de todos os envolvidos com a operação (fora os operadores de campo) em seis
consoles de operação para 2 operadores de produção (posto P1), 2 operadores de facilidades
(posto F1), 1 operador dos TCs (turbo-compressores) e 1 operador dos TGs (turbo-geradores).
Além disso, foram previstos 4 postos de trabalho para a equipe de automação e um posto de
trabalho para o SUPROD (supervisor de produção). As emissões de PTs continuariam fora da
sala de controle, concentradas num container para os operadores de campo.
Havia também a demanda pela colocação de janelas, inexistentes na sala de controle em
funcionamento. A presença de janelas em salas de controle é de grande importância não só
pelo aproveitamento da iluminação natural, como também pela possibilidade dos operadores
terem a noção de dia e noite. Em ambientes confinados, como o das salas de controle das
plataformas, a luz do dia é essencial para o bom funcionamento do relógio biológico das
pessoas.
Com o layout proposto para a nova sala de controle (Figura 2), com a separação entre os
ambientes de operação e equipamentos, foi possível atender, não só às demandas solicitadas,
mas também às necessidades observadas durante a análise do trabalho na sala de controle
existente. Para o ambiente de operação, pode-se destacar algumas soluções adotadas:
− Três janelas no ambiente de operação, com tratamento em relação à segurança de incêndio
(propagação de fogo e explosões) e ao conforto térmico, acústico e lumínico dessa área;
− Um posto de trabalho para o SUPROD fora da bancada com os consoles de operação,
porém com visibilidade para eles;
− Um local para a equipe de automação dentro do ambiente de operação, mas também fora
dos consoles de operação;
− Um local para pequenas reuniões e leituras de plantas;
− Um local para guarda de capacetes dos operadores da sala de controle e demais operadores
que precisem entrar no ambiente de operação;
− A proximidade entre os operadores de produção e o operador dos TCs em uma mesma
bancada de consoles, face à necessidade constante de comunicação entre eles; e
− Algumas telas (monitores) para controle do sistema de câmeras (CCTV) junto ao teto,
visíveis a todos os operadores.
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Figura 2 – Planta baixa com o layout proposto para a sala de controle na plataforma fixa
Figura 3 – Maquete eletrônica da solução adotada para a sala de controle na plataforma fixa
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Na nova sala de controle, seriam mantidos os postos de trabalho para as mesmas equipes que
já ocupavam o ambiente de operação, com exceção do micro-computador referente à
legislação ambiental que, como não era obrigatório, teve sua retirada solicitada. E havia a
demanda para a alocação da área do café (coffee shop) no ambiente de operação, já que seu
posicionamento no ambiente de equipamentos não era adequado e já tinha gerado incidentes
(queima de um servidor corporativo por respingo de iogurte jogado no lixo).
Durante a intervenção, surgiram algumas restrições para o projeto por parte da equipe de
automação (de terra) responsável pelas novas instalações necessárias durante o re-projeto da
sala. Havia algumas instalações elétricas e de dados que gerariam muitos riscos de shut down
(parada de operação) se realocados. Assim, face a essa demanda, não foi possível alterar o
local ocupado pela equipe de automação, embora a proposta feita depois da análise do
trabalho tenha sido alterar esse posicionamento para a outra extremidade da sala, mais isolada
e, portanto, com menos riscos de choques das pessoas com os equipamentos.
Atendendo a essas demandas e restrições, chegou-se ao layout proposto para a nova sala de
controle (Figura 5), que atendeu também às necessidades observadas durante a análise do
trabalho na sala de controle existente. Os pontos principais para essa solução foram:
− Consoles independentes entre si, porém posicionados lado a lado para facilitar a
comunicação entre os operadores;
− Postos de trabalho para o SUPROD, para o operador E2 e para situações de controle de
emergências fora da bancada com os consoles de operação, porém com visibilidade para
eles;
− Realocação da área do café no ambiente de operação, já que seu posicionamento no
ambiente de equipamentos já tinha gerado incidentes;
− Local para a equipe de automação dentro do ambiente de operação, também fora dos
consoles de operação, mas limitada por porta e divisórias; e
− Local para guarda de capacetes dos operadores da sala de controle e demais operadores que
precisem entrar no ambiente de operação, e de botas dos operadores da sala de controle.
Figura 5 – Planta baixa com o layout proposto para a sala de controle na plataforma semi-submersível
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Figura 6 – Maquete eletrônica da solução adotada para a sala de controle na plataforma semi-submersível
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− A previsão de um abrigo para os operadores de campo junto à área de processo, tanto para
o uso eventual de computadores pelos operadores, como para a emissão diária de PTs, é
importante, uma vez que permite a liberação do ambiente de operação de uma circulação
elevada de pessoas.
Outra questão que deve ser observada é a presença da equipe de automação no ambiente de
operação, e não no ambiente de equipamentos, por exemplo. Há uma interação forte com os
operadores que justifica essa proximidade para agilizar as comunicações necessárias e garantir
o bom funcionamento do sistema. Porém, vale mencionar que nem sempre os técnicos de
automação ficam junto aos consoles de operação, como nos casos apresentados, em que havia
uma área reservada para essa equipe na sala de controle. Cada situação tem suas
particularidades que irão determinar esse posicionamento.
Por fim, é interessante considerar algumas variáveis que devem ser verificadas e
dimensionadas de acordo com cada sala: um local para pequenas reuniões e leituras de
plantas, e um local para guarda de EPIs (equipamentos de proteção individual) – como
capacetes e/ou botas – no ambiente de operação. Contudo, a validação dessas variáveis e dos
demais princípios de projeto com os usuários é fundamental para atingir o funcionamento
esperado de toda a operação.
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5. Conclusão
As intervenções ergonômicas nos projetos ou re-projetos de salas de controle de plataformas
off-shore têm se tornado mais frequentes e se mostrado eficazes no alcance dos objetivos das
demandas. A participação dos usuários é uma questão fundamental para esse “sucesso”, já que
contribui para o bom funcionamento do sistema, como esperado. Para Pikaar et al. (1990),
envolver um grupo de representantes dos usuários no projeto de salas de controle de processo
automatizado também é necessário para a aceitação do resultado final pelos próprios usuários.
“Num número limitado de áreas, os conhecimentos estão suficientemente estabilizados para
serem expressos na forma de recomendações gerais ou normas.” (DANIELLOU e BÉGUIN,
2007, p.289) Segundo os autores, é necessário ao ergonomista o conhecimento dessas
ferramentas a fim de dominar seu uso e ser capaz de discutir sua validade. A partir das
situações identificadas durante a análise do trabalho em situações de referência – seja a
própria situação de projeto ou não – esse conhecimento de normas e recomendações faz com
que a confrontação e a validação dessas situações com os usuários sejam mais proveitosas.
A experiência pessoal dos ergonomistas, ou sua “biblioteca de informações”, também é uma
dimensão importante de seu conhecimento (DANIELLOU e BÉGUIN, 2007). Em
intervenções ergonômicas como as apresentadas, essa experiência, segundo os autores,
permite gerar mais facilmente hipóteses exploratórias que vão guiar a busca de informações,
identificando rapidamente o que é “típico” e o que é “específico” de cada situação.
Assim, foi com base no conhecimento de normas e recomendações gerais, na experiência
prévia em projetos de salas de controle e na análise do trabalho nas salas de controle em
funcionamento que foi possível identificar algumas características típicas. Essas
características, então, deram origem a princípios básicos que podem nortear projetos (novos
ou não) de salas de controle em outras plataformas.
Referências
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Integration of the Needs of Different Users and Designers. Proceedings of the Ninth International Symposium on
Human Factors in Organizational Design and Management, Guarujá, Brasil, p.629-635, 2008.
DANIELLOU, F. Le Statut de la Pratique et des Connaissances dans l’Intervention Ergonomique de
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DANIELLOU, F. Questões epistemológicas levantadas pela ergonomia de projeto. A Ergonomia em Busca de
seus Princípios – Debates Epistemológicos, Editora Edgard Blücher, p. 181-198, 2004.
DANIELLOU, F. & BÉGUIN, P. Metodologia da Ação Ergonômica: Abordagens do Trabalho Real.
Ergonomia, Editora Blucher, p.281-301, 2007.
GUÉRIN, F., LAVILLE, A., DANIELLOU, F. et al. Compreender o Trabalho para Transformá-lo: a Prática
da Ergonomia. 1 ed. São Paulo, Editora Edgard Blücher, 2001.
MAIA, N.; GAROTTI, L.; DUARTE, F. & JACKSON, J. Work Activity and the Workers-designers
Interactions: Sources for an Innovative Design. Proceedings of the Ninth International Symposium on Human
Factors in Organizational Design and Management, Guarujá, Brasil, p.597-602, 2008.
MARTIN, C., LEDOUX, E., ESCOUTELOUP, J. et al. Ergonomic Practice in Architectural Design
Processes: What is at Stake in Initial Steps. Proceedings of the International Ergonomics Association World
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XXVIII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO
A integração de cadeias produtivas com a abordagem da manufatura sustentável.
Rio de Janeiro, RJ, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2008
PIKAAR, R.; THOMASSEN, P.; DEGELING, P. & VAN ANDEL, H. Ergonomics in Control Room Design.
Ergonomics, Vol. 33, No. 5, p.589-600, 1990.
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