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Estudo de Caso: Análise de Tarefas Cognitivas do Trabalho do Posto de


Operação de um Terminal de Transferência e Estocagem de Petróleo com Foco
nos Fatores Humanos

Conference Paper · September 2018

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4 authors, including:

Josue Eduardo Maia Franca Assed Naked Haddad


Linnaeus University Federal University of Rio de Janeiro
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ESTUDO DE CASO: ANÁLISE DE TAREFAS COGNITIVAS
DO TRABALHO DO POSTO DE OPERAÇÃO DE UM
TERMINAL DE TRANSFERÊNCIA E ESTOCAGEM DE
PETRÓLEO COM FOCO NOS FATORES HUMANOS

Josué E. M. França1, Assed N. Haddad 2, Isaac J. A. Luquetti dos Santos3

INTRODUÇÃO
Observando com mais atenção o trabalho de um operador de um terminal de transferência e estocagem de petróleo e
derivados, sobretudo o posto de trabalho da sala de controle, comumente conhecida como “painel”, percebe-se que ele
está sujeito a uma intensa carga cognitiva. Além disso, este operador está sujeito a diversos outros fatores que podem
alterar seu desempenho neste posto de trabalho, o que demanda uma compreensão ainda mais sistêmica destes
elementos e suas interações. Neste contexto, é necessária uma metodologia, uma ferramenta que possa identificar os
fatores que afetam o desempenho humano que, de acordo com Kariuki (2007) são denominados de Fatores Humanos, e
exercem influência nas esferas organizacional, tecnológica, ambiental e individual. Com base nisso, e analisando o
arcabouço de ferramentas capazes de atuar nestas dimensões dos Fatores Humanos, percebe-se que a ergonomia, com
suas atuações na esfera física, organizacional e cognitiva do trabalho, pode trazer resultados promissores na análise das
demandas cognitivas do posto de trabalho do operador de painel deste terminal de transferência e estocagem de
petróleo. E de fato, segundo Ponte Jr (2014), a Ergonomia pode ser definida como o estudo da interação homem x
sistema e dos fatores que afetam esta interação, sendo compreendido como sistema todo e qualquer artefato tecnológico
produzido pelo homem, desde aviões e carros, até plantas industriais de pequeno, médio e grande porte, tal qual o
terminal objeto deste estudo.

METODOLOGIA
A metodologia adotada para a realização deste estudo é aplicação de uma ferramenta da ergonomia cognitiva
denominada ATC (Análise de Tarefas Cognitivas (ATC), que é definida por Carvalho & Vidal (2008) como diversas
descrições de métodos, técnicas e instrumentos que visam a elucidar o modo como especialistas, peritos e demais
trabalhadores executam atividades cognitivas em contextos específicos de trabalho. A ATC que será desenvolvida no
terminal em estudo é complementada pelos estudos de Berry et al (2015) e é composta das seguintes fases: escolha da
atividade em estudo, análise global da atividade, análise sistemática e formulação do diagnóstico.

ERGONOMIA COGNITIVA
De acordo com a ABERGO (2017), a ergonomia cognitiva se refere aos processos mentais, tais como percepção,
memória, raciocínio e resposta motora conforme afetem as interações entre seres humanos e outros elementos de um
sistema. Os tópicos relevantes incluem o estudo da carga mental de trabalho, tomada de decisão, desempenho
especializado, interação homem computador, stress e treinamento conforme esses se relacionem a projetos envolvendo
seres humanos e sistemas. Analisando publicações de especialistas, instituições e empresas que atuam nesta dimensão
da ergonomia, percebe-se que há definições que se assemelham a da ABERGO, mas com características distintas entre
si. Segundo Abrahão et al (2005), a ergonomia cognitiva é um campo de aplicação da Ergonomia que tem como
objetivo explicitar como se articulam os processos cognitivos face às situações de resoluções de problemas nos
diferentes níveis de complexidade. Por sua vez, para Silvino (2004), a ergonomia cognitiva frequentemente está
associada à demanda de novos conhecimentos e instrumentos que permitam explicar as ações das pessoas e os
mecanismos subjacentes a elas.
Além disso, de acordo com Cañas & Waerns (2001), a ergonomia cognitiva visa analisar os processos cognitivos
implicados na interação: a memória (operativa e longo prazo), os processos decisórios, a atenção (carga mental e
consciência), ou seja, as estruturas e os processos para perceber, armazenar e recuperar informações. Sobre o modo
particular da ergonomia cognitiva de apropriar-se de determinados conceitos articulando um referencial teórico com as
imposições das características dos estudos de campo, que é o objetivo do estudo de caso apresentado por este estudo,
Silvino (2004) tece duas considerações para o olhar ergonômico sobre a cognição: (1) trata-se de uma cognição situada;
(2) esse processamento cognitivo leva a particularização de um conhecimento mais geral, para responder a uma situação
posta com um fim específico, portanto, com caráter finalístico. Neste sentido, a ergonomia cognitiva busca entender a
cognição de forma situada e finalística, dentro de um contexto específico de ação e voltada para alcançar um objetivo.
Especificamente para o estudo de caso em questão, será a aplicação prática de uma ATC (Análise de Tarefas
Cognitivas) do posto de trabalho do operador de painel de um terminal de transferência e estocagem de petróleo.

ANÁLISE DE TAREFAS COGNITIVAS (ATC)


Segundo Carvalho & Vidal (2008), denomina-se Análise de Tarefas Cognitivas (ATC) diversas descrições de
métodos, técnicas e instrumentos que visam a elucidar o modo como especialistas, peritos e demais trabalhadores
executam atividades cognitivas em contextos específicos de trabalho. Seamster et al (1997) definem a ATC como um
conjunto de métodos para identificar e descrever estruturas cognitivas como as bases de organização do conhecimento,
1
Doutorando, Engenheiro de Segurança do Trabalho - UFF/Departamento de Engenharia Civil
2
Doutor, Engenheiro Civil, Professor - UFF/Departamento de Engenharia Civil
3
Doutor, Engenheiro Eletrônico, Pesquisador - IEN/CNEN
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as formas de representação de habilidades, e processos como atenção, resolução de problemas, tomadas de decisão,
saberes tácitos, dentre outros. Neste trabalho, serão usadas as referências, conceitos e metodologias da ATC para a
elaboração de uma análise dos fatores que exercem influência no desempenho dos operadores, mas com foco no campo
de atuação da ergonomia cognitivas no posto de trabalho do operador de painel de um terminal de transferência e
estocagem de petróleo, que será doravante denominado Terminal D.
Tradicionalmente, metodologias para a análise do trabalho foram concebidas como instrumentos para decompor
o fluxo da atividade de trabalho em uma sucessão de eventos, expressos, em termos do contexto de trabalho (Carvalho
& Vidal, 2008). Com a evolução da tecnologia, uma significativa mudança no trabalho vem ocorrendo desde o início do
século 20, e cada vez mais agregando tecnologias, culminando na chamada Revolução Digital que ocorre atualmente no
século 21. Atividades mecânicas e repetitivas, que eram características dos postos de trabalhos de grandes complexos
industriais do século 20, há muito estão sendo executadas por equipamentos automatizados, fazendo com que os
trabalhadores exerçam outras atividades, em contextos de trabalho dinâmicos onde a rápida adaptação e flexibilidade,
além da resolução de problemas complexos e tomadas de decisão, tornaram-se as fundamentais exigências para um
desempenho laboral efetivo, imersos cada vez mais em tecnologia.
Conforme Carvalho & Vidal (2008), esta notável troca de paradigmas se desenvolveu e foi apropriada
concorrentemente por diversas disciplinas, como informática, psicologia, antropologia, ergonomia e engenharia, e
conduziu a introdução de novas metodologias, conceitos, modelos e terminologias. Com base nisto, os autores afirmam
que não há uma regra exata e dita como correta para a análise das habilidades complexas ou capacidades cognitivas, o
que soa coerente, pois as mudanças nos ambientes de trabalho têm sido cada vez mais rápidas, assim como o
desenvolvimento de novas metodologias oriundas dos mais diversos campos de conhecimento e estudos.
Para Berry et al (2015), a compreensão dos campos de atuação da ergonomia cognitiva é especialmente
importante para compreender a interação do ser humano com os sistemas tecnológicos dos ambientes de trabalho onde
há intensas trocas de informações e comunicações, exigindo decisões e solução de problemas de ações sensíveis ao
tempo com inúmeros eventos dinâmicos em andamento. Neste sentido, os autores afirmam que é domínio da ergonomia
cognitiva analisar as influências das complexidades que surgem entre as interações humanas com os sistemas
tecnológicos de alto desempenho, como o Terminal D do estudo em questão, envolvendo hardware e software,
identificando os fatores que mais apresentam influência para determinar a carga cognitiva a que os trabalhadores
poderão estar submetidos.
Analisando estes contextos e definições, percebe-se que a ATC procura descrever as habilidades cognitivas que
apoiam o desempenho no trabalho, como a compreensão conceitual, formas como decisões são tomadas, resolução de
problemas, distribuição da atenção, aspectos de comunicação, cooperação e coordenação, planejamento e administração
da carga de trabalho (Seamster et al, 1997). No entanto, fica claro que o método utilizado em determinado estudo
depende de sua adequação às características do domínio de trabalho e a obtenção dos resultados desejados. Neste
sentido, este trabalho tem como objetivo aplicar as técnicas da ATC para analisar o posto de trabalho do operador do
Terminal D, com vistas a identificar os fatores que afetam o desempenho do ser humano nas suas atividades de trabalho,
ou seja, os Fatores Humanos.

DESENVOLVIMENTO DA ATC NO TERMINAL


A análise das demandas cognitivas do trabalho do posto de operação do painel de controle do Terminal D em estudo,
com base nos conceitos e metodologias da ATC descrita por Carvalho & Vidal (2008) e (Seamster et al, 1997),
complementada pelos estudos de Berry et al (2015), está composta das seguintes fases: escolha da atividade em estudo,
análise global da atividade, análise sistemática e formulação do diagnóstico.

Fase 1: Escolha da atividade em estudo: o operador do Terminal D em estudo desempenha diversas atividades, tanto
na área industrial, quanto dentro na sala de controle. De todas essas atividades, a que será objeto de análise pela ATC
será a atividade de operação do painel (console) da casa de controle de transferência de petróleo e seus derivados
líquidos. O público-alvo desta observação foram 16 operadores, nos seus 03 turnos de trabalho no Terminal, a saber:
07:30h a 15:30h (horário administrativo), 15:30h a 23:30h (período vespertino) e 23:30h a 07:30h (“corujão”). O
critério de escolha da atividade em estudo, apesar de apresentar um alto teor subjetivo, pode ser validado com dados
objetivos e técnicos específicos das áreas, como número de acidentes por setor, número de funcionários por setor, maior
criticidade das atividades, maior quantidade de não conformidades após uma auditoria, dentre outros. No entanto, por se
tratar de uma ATC, é importante analisar atividades que demandam alta carga cognitiva. De acordo com França (2014)
atividades relacionadas à operação de plantas industriais do segmento de O&G, sobretudo aquelas relacionadas às salas
de controle, exigem uma alta carga cognitiva dos trabalhadores envolvidos.

Fase 2: Análise global da atividade: Esta análise se consiste na observação da rotina de trabalho do operador de painel
do Terminal D, tomando-se nota de atividades que apresentam interação entre operador e os elementos ambientais,
tecnológicos e organizacionais do posto de trabalho. De acordo com Hollnagel (2012), a análise da tarefa é diferente da
simples descrição da tarefa, pois esta análise preconiza a observação in loco das reais tarefas que estão sendo
desenvolvidas no local de trabalho, observando não somente o trabalhador, mas também as interações dele com todos os
elementos organizacionais, tecnológicos e ambientais que compões o seu posto de trabalho. Como pode ser observado
na Figura 1, em um posto de trabalho do Terminal D, apenas um único operador desempenha suas atividades com sua
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atenção dividida entre seis telas diferentes, além de estar submetido a possibilidade de atendimentos dos telefones ou
rádio de comunicação com a área externa.

Figura 1: Posto de operação da sala de controle do Terminal D.


Fonte: O Autor, 2018.

Fase 3: Análise sistemática: Esta análise sistemática se consiste na entrevista estruturada de todos os operadores por
meio do preenchimento de um Questionário de Demandas Cognitivas do Trabalho, elaborado com base no fundamento
teórico de Carvalho & Vidal (2008) e Berry et al (2015) e nos fatores humanos relevantes deste posto de trabalho
apresentados por França (2014) e Luquetti dos Santos et al (2013). É importante ressaltar que um Questionário de
Demandas Cognitivas do Trabalho é uma ferramenta estruturada especificamente para uma situação a ser estudada, e
deve ser consolidado com base não somente nas metodologias apresentadas, mas também com base na experiência de
especialistas do setor, de sorte que as diferenças entre trabalho prescrito e trabalho executado, verificadas nos estudos
de Hollnagel (2012) e Luquetti dos Santos et al (2013) sejam adequadamente evidenciadas. Desta forma, a construção
desta ferramenta foi a consolidação das discussões de um grupo multidisciplinar, incluindo trabalhadores do Terminal
D, acerca da metodologia ATC e da própria ergonomia cognitiva, culminado em um rol de perguntas que puderam
adequadamente identificar os fatores associados à ergonomia cognitiva que influenciam o desempenho do ser humano
nesta atividade de trabalho.
Com base nisso, e focando em identificar os Fatores Humanos relevantes deste posto de trabalho postulados por
França (2014) e Luquetti dos Santos et al (2013), o Questionário de Demandas Cognitivas do Trabalho do posto de
trabalho do operador de painel do Terminal D foi dividido da seguinte forma: 04 perguntas sobre o ambiente de
trabalho, 04 perguntas sobre a capacitação do operador, 05 perguntas sobre os recursos tecnológicos disponíveis no
posto de trabalho e 07 perguntas sobre a as interações homem-máquina que acontecem no seu posto de trabalho. Para
responder às perguntas, foi elaborado um sistema de respostas baseado na Escala Likert dos questionários de perguntas
para levantamento de dados apresentado nos estudos de Vallejo et al (2003) e Trojan & Sipraki (2015). Na Figura 2 é
apresentada a escala de resposta do Questionário utilizado na ATC do Terminal D.

Figura 2: Escala de resposta do Questionário utilizado na ATC do Terminal D.


Fonte: O Autor, 2018.

As perguntas desenvolvidas foram divididas em blocos, a saber: Ambiente, Capacitação, Recursos e Interação,
sendo apresentadas no Questionário da seguinte forma:

AMBIENTE
1. A temperatura do ambiente em que trabalho (sala de controle) é adequada.
2. A iluminação do ambiente em que trabalho (sala de controle) é adequada.
3. A intensidade sonora (ruído) do ambiente em que trabalho (sala de controle) é adequada.
4. O mobiliário (mesas, cadeiras, etc) do ambiente em que trabalho (sala de controle) é adequado.

CAPACITAÇÃO
5. O treinamento que recebi e/ou recebo é suficiente para desempenhar as tarefas exigidas pelo posto de trabalho
do painel.
6. O treinamento que recebi / recebo é suficiente para atuar nas EMERGÊNCIAS exigidas pelo posto de trabalho
do painel.
7. A experiência de vida (pessoal) que adquiri contribui para o desempenho das tarefas exigidas pelo posto de
trabalho do painel.
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8. A experiência profissional que adquiri contribui para o para o desempenho das tarefas exigidas pelo posto de
trabalho do painel.

RECURSOS
9. Os recursos de comunicação que estão disponíveis (telefone, rádio, e-mail, etc) são adequados para
desempenhar as tarefas exigidas pelo posto de trabalho do painel.
10. A disposição dos ícones do Sistema Digital de Controle Distribuído na tela do painel de controle é adequada
para desempenhar as tarefas exigidas pelo posto de trabalho do painel.
11. A disposição física do painel de controle (e periféricos: teclado, mouse, etc) é adequada para desempenhar as
tarefas exigidas pelo posto de trabalho do painel.
12. Tenho acesso aos documentos necessários para desempenhar as tarefas exigidas pelo posto de trabalho do
painel.
13. Os computadores (e periféricos: teclado, mouse, etc) do painel de controle são adequados para desempenhar
as tarefas exigidas pelo posto de trabalho.

INTERAÇÃO
14. O tempo disponível para a passagem de turno está adequado para a comunicação entre os turnos e a
passagem de serviço.
15. As ferramentas disponíveis para a comunicação com o operador de área estão adequadas.
16. As ferramentas disponíveis para a comunicação com setores externos ao terminal estão adequadas.
17. As ferramentas disponíveis para a comunicação em uma situação de EMERGÊNCIA são adequadas e estão
disponíveis.
18. Todas as atividades desempenhadas pelo operador no posto de trabalho do painel estão prescritas em
procedimentos operacionais.
19. É frequente o surgimento de novas necessidades operacionais, tornando a atividade de operação do painel
cada vez mais complexa.
20. É frequente o operador de painel desempenhar várias atividades, ao mesmo tempo, em seu posto de trabalho.

Além das perguntas, há um espaço para os entrevistados expressarem livremente suas opiniões. Neste espaço há
a seguinte colocação: “Este espaço é seu! Deixe aqui seu comentário, crítica, sugestão a respeito deste questionário e/ou
sobre qualquer uma das perguntas aqui apresentadas. Se não quiser colocar nada, fique à vontade em deixar este espaço
em branco. Uma vez mais, agradecemos por vossa contribuição.” O objetivo principal desta última etapa do
Questionário, que não possui escala de respostas, mas sim um grande espaço em branco, é poder descobrir outros
fatores importante para esta análise, mas que não foram identificados pela equipe multidisciplinar que desenvolveu o
Questionário. Segundo Berry et al (2015), o livre expressar dos entrevistados no processo de identificação de cargas
cognitivas é muito importante, pois somente quem está diariamente executando e vivenciando as atividades de um
determinador setor é quem pode, com mais propriedade, identificar os reais fatores influenciadores do seu próprio
desempenho e o da equipe do setor.

Fase 4: Formulação do diagnóstico: Por fim, a formulação do diagnóstico traz consigo não só as conclusões acerca
das observações das etapas da análise global da atividade e da análise sistemática da atividade, mas também
consolidação de todos os Questionários de Demandas Cognitivas do Trabalho e uma reflexão sobre como ocorre a
interação do operador com os os elementos ambientais, tecnológicos e organizacionais do seu posto de trabalho,
identificando os fatores humanos que potencialmente mais alteram seu desempenho cognitivo. De acordo com
Hollnagel (2014), uma forma de caracterizar a variabilidade que existe entre as funções de uma determinada atividade
de trabalho é identificar os elementos humanos, organizacionais e tecnológicos que interagem entre si nos ambientes de
trabalho. Com base neste princípio e nos estudos de França (2014) e Kariuki (2007) o resultado das respostas dos
Questionários, que é a formulação do diagnóstico da ATC, ao mesmo tempo que busca identificar as demandas
cognitivas do trabalho, também permitirá uma análise dos Fatores Humanos que influenciam o desempenho do
operador do painel do Terminal D.
Dos 16 Questionários distribuídos, apenas 14 destes serão considerados para a formulação do diagnóstico, pois
um dos respondentes não se sentiu à vontade para responder, e um outro estava afastado do trabalho por licença médica,
devido a uma lesão durante a prática de esportes. Outros dados relativos à idade, formação acadêmica, experiência
profissional e tempo de casa não serão analisados nesta etapa, apesar de terem sido levantados durante a resposta aos
Questionários, pois o foco deste estudo é a identificação de Fatores Humanos por meio de uma ATC. As respostas dos
14 Questionários respondidos foram consolidadas e alguns gráficos foram gerados, de forma a melhor visualizar a
dinâmica das respostas.

Formulação do diagnóstico: Respostas do bloco AMBIENTE


As respostas da Pergunta 1 (A temperatura do ambiente em que trabalho (sala de controle) é adequada) foi
unânime para todos os respondentes, perfazendo um total de 14 respostas no item “Concordo” da escala. Ou seja, 100%
dos entrevistados concordaram que a temperatura do ambiente de trabalho está adequada para o desempenho de suas
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atividades.
Já as respostas da Pergunta 2 (A iluminação do ambiente em que trabalho (sala de controle) é adequada) não
foram unânimes, pois apenas um dos respondentes não selecionou a resposta “Concordo” do Questionário, selecionando
a resposta “Discordo”. Apesar desta resposta ser diametralmente oposta às respostas dos outros empregados, o que
suscitaria uma análise mais aprofundada, isto não será feito, pois no espaço amostral de pesquisa, foi apenas uma
resposta de um total de quatorze.
Analisando as respostas da Pergunta 3 (A intensidade sonora (ruído) do ambiente em que trabalho (sala de
controle) é adequada), percebeu-se que houve uma divisão de opiniões quanto à resposta desta pergunta, como pode ser
visto no gráfico da Figura 3. O ruído, neste caso, engloba tudo o que pode interferir dentro da sala de operação do painel
e, analisando sob esta premissa, um dos respondentes colocou a seguinte opinião no campo de comentários do
Questionário: “Sala de controle muito movimentada e sofrendo interferências de pessoas externas. Precisa remodelar.”
Este comentário demonstra que o ruído que influencia o desempenho deste operador na sala de controle, em sua grande
parte, advém da entrada e saída de pessoas que não atuam na operação.

Figura 3: Gráfico das respostas da Pergunta 3.


Fonte: O Autor, 2018.

Por sua vez, analisando as respostas da Pergunta 4 (O mobiliário (mesas, cadeiras, etc) do ambiente em que
trabalho (sala de controle) é adequado), evidenciou-se que, apesar de o mobiliário tratar-se de objeto de estudo da
ergonomia física, que inclui o estudo da postura no trabalho, manuseio de materiais, movimentos repetitivos, distúrbios
músculos-esqueléticos, este elemento exerce muita influência no estudo da relação humana em sistemas complexos
abordada pela ergonomia cognitiva. A maioria dos operadores, 11 no total, responderam “Discordo” nesta pergunta,
sendo as demais respostas 02 para “Concordo” e 01 para “Não concordo e nem discordo”. Analisando estas respostas,
percebe-se que os operadores julgam que o mobiliário está inadequado para as suas atividades, o que pode influenciar
no seu desempenho operacional frente as demandas cognitivas exigidas pela sua interação com as telas e sistemas
tecnológicos que controlam a operação do Terminal D, fato este que também pode ser observado pela Figura 1
anteriormente apresentada.

Formulação do diagnóstico: Respostas do bloco CAPACITAÇÃO


As respostas da Pergunta 5 (O treinamento que recebi e/ou recebo é suficiente para desempenhar as tarefas
exigidas pelo posto de trabalho do painel) se concentraram na resposta “Discordo”, com 10 empregados assinalando
esta resposta. O restante das respostas se dividiu igualitariamente, sendo 02 para “Concordo” e 02 para “Não concordo e
nem discordo”. Analisando estes dados, evidencia-se uma situação inadequada de treinamento para o posto de trabalho
de operador de painel do Terminal D, que deve ser verificada mais detalhadamente, de forma a determinar quais
treinamentos, quais capacitações e quais empregados deverão ser contemplados.
As respostas da Pergunta 6 (O treinamento que recebi / recebo é suficiente para atuar nas EMERGÊNCIAS
exigidas pelo posto de trabalho do painel) foi muito similar à Pergunta 5, sendo 03 respostas para “Concordo” e 02 para
“Não concordo e nem discordo” e as restantes 09 respostas para “discordo”. E, tal qual o cenário anterior da Pergunta 5,
evidencia-se também na Pergunta 6 uma situação inadequada de treinamentos para situações de Emergência para o
posto de trabalho de operador de painel do Terminal D, que deve ser verificada mais detalhadamente, de forma a
determinar quais treinamentos, quais capacitações e quais empregados deverão ser contemplados, de modo a estarem
preparados para as situações de Emergência. Estas respostas consolidadas podem ser verificadas no gráfico da Figura 4.
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Figura 4: Gráfico das respostas da Pergunta 6.


Fonte: O Autor, 2018.

Analisando as respostas da Pergunta 7 (A experiência de vida (pessoal) que adquiri contribui para o desempenho
das tarefas exigidas pelo posto de trabalho do painel), foi constatado que todos as respostas foram “Concordo”,
denotando que todos os operadores concordam que suas experiências pessoais trazem contribuição (positiva) para o seu
desempenho no posto de operação do painel do Terminal D. Segundo Re & Macchi (2010), sob a perspectiva da análise
dos aspectos cognitivos de uma determinada atividade de trabalho, é muito importante para o trabalhador perceber que
sua interação com o meio-ambiente e sociedade contribui positivamente para o seu desempenho na interação entre seu
posto de trabalho os sistemas tecnológicos, sobretudos os atuais sistemas tecnológicos complexos de grandes plantas
industriais.
Tal padrão de respostas acontece também integralmente nas respostas da Pergunta 8 (A experiência profissional
que adquiri contribui para o para o desempenho das tarefas exigidas pelo posto de trabalho do painel), onde também
100% dos respondentes assinalaram “Concordo”, evidenciando também que todos os operadores concordam que sua
experiência profissional contribui para o seu desempenho no posto de operação do painel do Terminal D. Isto corrobora
que o conhecimento tácito, aquele conhecimento que é construído no ambiente de trabalho, através da interação entre os
operadores e os sistemas tecnológicos, está e é cada vez mais presente no posto de trabalho de um operador de painel,
sendo observado a construção desta experiência, ao longo dos anos, por meio da troca de turno, da tomada de decisões,
da discussão de problemas que surgem, formando um mecanismo corporativo interativo de troca de conhecimentos,
onde os operadores mais antigos e mais novos interagem entre si.

Formulação do diagnóstico: Respostas do bloco RECURSOS


As respostas da Pergunta 9 (Os recursos de comunicação que estão disponíveis (telefone, rádio, e-mail, etc) são
adequados para desempenhar as tarefas exigidas pelo posto de trabalho do painel), grande parte dos operadores afirma
que os recursos de comunicação estão adequados, pois foram registradas 10 respostas para “Concordo”, 03 para “Não
concordo e nem discordo” e 01 para “Discordo”. Os recursos de comunicação são elementos de extrema importância
para a interação do operador de painel com outros operadores, com agentes internos e com agentes externos. Devido a
isto, os recursos de comunicação (telefone, rádio, e-mail, etc) precisam estar disponíveis para utilização. É importante
ressaltar que não precisam estar somente disponíveis, além disso, precisam ser confiáveis, ou seja, é preciso haver a
certeza de que estão adequados e preparados para o uso.
Já as respostas da Pergunta 10 (A disposição dos ícones do Sistema Digital de Controle Distribuído na tela do
painel de controle é adequada para desempenhar as tarefas exigidas pelo posto de trabalho do painel), apresentaram uma
distribuição quase igualitária entres as respostas, pois foram registradas 04 respostas para “Concordo”, 04 para “Não
concordo e nem discordo” e 06 para “Discordo”, como pode ser verificado no gráfico da Figura 5. Apesar de quase
igualitárias, as respostas apontam que a maioria dos operados consideram que a distribuição dos ícones do Sistema
Digital de Controle Distribuído na tela do painel de controle está inadequada para desempenhar suas atividades. De
acordo com os operadores do Terminal D, o painel do Sistema é crítico. Este painel é o elemento da sala de controle
onde o operador efetivamente controla o Terminal D. Devido a isto, é muito importante que haja perfeito entendimento
entre o que o painel mostra na tela e a interpretação do operador. Conforme Luquetti dos Santos et al (2013), há
registros de acidentes em plantas industriais cuja causa mais provável tenha sido o mal entendimento da leitura do
painel de controle, como é o caso do acidente de Three Mile Island em 1979, e de Bhopal (Union Carbide) em 1984.
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Figura 5: Gráfico das respostas da Pergunta 10.


Fonte: O Autor, 2018.

As respostas da Pergunta 11 (A disposição física do painel de controle (e periféricos: teclado, mouse, etc) é
adequada para desempenhar as tarefas exigidas pelo posto de trabalho do painel) obteve respostas muito similares à
Pergunta 4, relativa ao mobiliário. Na Pergunta 11, foram 02 respostas para “Concordo”, 01 para “Não concordo e nem
discordo” e 11 para “Discordo”, ou seja, a maioria dos operadores afirmam que a disposição física do painel de controle
está inadequada para desempenhar as tarefas exigidas pelo posto de trabalho do painel. É importar frisar que, assim
como foi colocado na Pergunta 04, apesar de o mobiliário tratar-se de objeto de estudo da ergonomia física, este
elemento exerce muita influência no estudo da interação humana com sistemas tecnológicos, o que é uma das vertentes
de estudo da ergonomia cognitiva.
Por sua vez, as respostas da Pergunta 12 (Tenho acesso aos documentos necessários para desempenhar as tarefas
exigidas pelo posto de trabalho do painel), foram relativamente concentradas na opção “Concordo”, perfazendo um total
de 09 respostas. As demais respostas ficaram divididas entre 04 para “Não concordo e nem discordo” e 01 para
“Discordo”. Segundo Skalle et al (2014) muitos acidentes têm sido evitados, e muitos sistemas têm aumentado sua
confiabilidade com a implementação e divulgação de documentos necessários para a operação dos atuais sistemas
tecnológicos complexos. No entanto, analisando a realidade do Terminal D, não basta documentar um procedimento; é
necessário divulgar que o mesmo existe e que precisa ser utilizado, por meio das mídias e canais de comunicação
existentes. O manual de instruções de um aparelho de DVD, por exemplo, guardadas as devidas proporções, tem a
mesma função que o manual de operação de uma planta petroquímica. No entanto, cada um apresenta um grau de
complexidade diferente, exigindo de seu “operador” um grau de interação e entendimento cognitivo proporcional a cada
uma das complexidades envolvidas.
Analisando as respostas da Pergunta 13 (Os computadores (e periféricos: teclado, mouse, etc) do painel de
controle são adequados para desempenhar as tarefas exigidas pelo posto de trabalho), percebeu-se que a maioria dos
operadores afirma que os computadores e seus periféricos dedicados para o posto de trabalho de operação de painel do
Terminal D estão inadequados para o desempenho de suas atividades, pois 07 respostas selecionaram “Discordo”. As
demais respostas ficaram divididas entre 04 para “Não concordo e nem discordo” e 03 para “Discordo”. Este é um
ponto de atenção dicotômico, pois junto com o desenvolvimento da tecnologia dos sistemas tecnológicos complexos,
deve também ocorrer e evolução das ferramentas que operam e controlam esses sistemas. É importante ressaltar que,
independentemente da complexidade de um sistema, suas ferramentas de operação precisam controlá-los
adequadamente, de modo a evitar pequenos incidentes operacionais que possam resultar em acidentes, pois assim como
o mobiliário e a disposição física do painel de controle, os computadores e seus periféricos também exercem influência
na demanda cognitiva de trabalho do posto de operação do painel do Terminal D.

Formulação do diagnóstico: Respostas do bloco INTERAÇÃO


As respostas da Pergunta 14 (O tempo disponível para a passagem de turno está adequado para a comunicação
entre os turnos e a passagem de serviço), foram praticamente unânimes, pois apenas 01 dos respondentes selecionou a
resposta “Discordo”, enquanto que as demais 13 respostas selecionaram o item “Concordo”. Ou seja, quase todos os
operadores afirmarem que o tempo disponível para a passagem de turno no Terminal D está adequado para a
comunicação entre os turnos e a passagem de serviço do posto de trabalho do operador de painel. Luquetti dos Santos et
al (2013) e Ponte Jr (2014) apontam que a passagem de turno, ou seja, a troca de turmas de turno, como uma das
atividades mais críticas que um operador exerce. Neste momento, é necessário que emissor e receptor tenham um canal
de comunicação sem ruídos, livre, que garanta a plena troca de informações. Além disso, é necessário certificar-se de
que o entendimento da mensagem seja pleno, ou seja, o operador que deixa o Terminal D deve passar sua mensagem ao
emissor, e este operador que recebe a instrução deve entendê-la e informar ao emissor que a entendeu completamente.
Não basta apenas receber a mensagem, é necessário a compreender integralmente.
Por sua vez, as respostas da Pergunta 15 (As ferramentas disponíveis para a comunicação com o operador de
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área estão adequadas) foram concentradas no item “Concordo”, com 09 marcações. As demais respostas se dividiram
entre 04 para “Não concordo e nem discordo” e 01 para “Discordo”. A comunicação é um elemento de extrema
importância para as atividades laborais, pois é o meio pelo qual se estabelecem os canais de interação entre os
operadores – entre si, com agentes internos e externos. Se não houver comunicação, não haverá interação e, por
conseguinte, não haverá elementos cognitivos a serem verificados por uma ATC, por exemplo. Além disso, o operador
que atua na área efetivamente está executando a tarefa demandada, o que exige da comunicação o máximo de
confiabilidade possível. Um erro na comunicação entre o operador de área e o operador do painel pode causar um
acidente de grandes proporções, como, por exemplo, a explosão de uma bomba, de um vaso ou de um tanque, cuja
identificação fora erroneamente interpretada.
Analisando as respostas da Pergunta 16 (As ferramentas disponíveis para a comunicação com setores externos ao
terminal estão adequadas), percebeu-se que estas foram muito similares às respostas da Pergunta anterior (Pergunta 15),
sendo 08 respostas para “Concordo”, 04 para “Não concordo e nem discordo” e 02 para “Discordo”. Esta similaridade
pode ser interpretada como uma proximidade entre as questões perguntas, mas também coincide com o fato de que parte
das ferramentas de comunicação do Terminal D atendem, simultaneamente, agentes internos e externos, por exemplo,
os ramais internos, que podem ser utilizados para entrar em contato com os demais setores do Terminal D (e.g.:
manutenção), bem como com a Sede da empresa e alguns órgãos governamentais externos.
As respostas da Pergunta 17 (As ferramentas disponíveis para a comunicação em uma situação de
EMERGÊNCIA são adequadas e estão disponíveis), foram relativamente distribuídas, pois 05 operadores marcaram a
opção “Concordo”, enquanto que também 05 marcaram “Não concordo e nem discordo” e os demais 04 marcaram
“Discordo”, como pode ser verificado no gráfico da Figura 6. Apesar de ter sido evidenciado na Pergunta 06 que pode
haver uma necessidade de treinamento para atuação em emergências do Terminal D, grande parte dos operadores na
Pergunta 17 afirmam que as ferramentas disponíveis para a comunicação de uma emergência são adequadas e estão
disponíveis. As ferramentas de comunicação de emergências têm relação com o treinamento para atuação em
emergências, o que evidencia uma necessidade de verificação do quanto o treinamento confere de adesão aos
procedimentos. Vale ressaltar que, no contexto da operação de grandes complexos industriais, tal qual o Terminal D, a
maioria das situações de emergências que não são devidamente diligenciadas, podem causar acidentes de proporções
catastróficas, como foi o da plataforma Piper Alpha, em 1988, e Deepwater Horizon, em 2010.

Figura 5: Gráfico das respostas da Pergunta 17.


Fonte: O Autor, 2018.

As respostas da Pergunta 18 (Todas as atividades desempenhadas pelo operador no posto de trabalho do painel
estão prescritas em procedimentos operacionais), mostraram que quase 100% dos respondentes concordaram que as
atividades desempenhadas pelo operador no posto de trabalho do painel estão prescritas em procedimentos
operacionais, pois foram registradas 12 “Concordo” e apenas 02 “Discordo”. Segundo Hollnagel (2014), diversas
empresas apresentam uma relação entre trabalho realizado e trabalho prescrito muito diferentes, pois naturalmente o ser
humano desenvolve mecanismos de adaptação às variações de funções durante a execução de suas atividades laborais.
Por vezes, o trabalho prescrito não é adequado para a tarefa a ser executada, o que ocasiona a perda de eficácia e a
redução de desempenho entre o que está registrado e o que está sendo efetivamente realizado. Por sua vez, este trabalho
efetivamente realizado deve ser visto como a adaptação humana ao prescrito e a aplicação da experiência dos
operadores perante o imprevisto, possibilitando a operação de um determinado sistema com segurança e eficiência,
adaptando seu desempenho aos fatores que existem em seu ambiente de trabalho.
Já as respostas da Pergunta 19 (É frequente o surgimento de novas necessidades operacionais, tornando a
atividade de operação do painel cada vez mais complexa) obteve quase uma unanimidade, pois foram registradas 13
respostas “Concordo” e apenas 01 respostas “Não concordo e nem discordo”. Ou seja, praticamente todos os operadores
do Terminal D afirmam que é frequente o surgimento de novas necessidades operacionais, tornando a atividade de
operação do painel cada vez mais complexa, em um ambiente tecnológico sujeito à constante evolução. De fato,
percebe-se que junto com o desenvolvimento da tecnologia, e o aumento da formação acadêmica dos operadores,
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surgem novas necessidades operacionais. Ou de outra forma, as novas necessidades de operação impulsionam o
desenvolvimento de novos materiais, processos e tecnologias, aumentando, também, o nível de capacitação do
operador, sobretudo o operador de painel, como evidenciado no Terminal D. É interessante observar que diante deste
cenário, não é possível dizer categoricamente que uma necessidade determina a tecnologia e capacitação, ou vice-versa.
O que ocorre é um movimento contínuo, um moto-perpétuo, onde a capacitação, o desenvolvimento de tecnologia e as
novas necessidades atuam e crescem em conjunto, com cada um contribuindo para o desenvolvimento do outro.
Por fim, as respostas da Pergunta 20 (É frequente o operador de painel desempenhar várias atividades, ao mesmo
tempo, em seu posto de trabalho) foi unânime para todos os respondentes, perfazendo um total de 14 respostas no item
“Concordo” da escala. Ou seja, 100% dos respondentes concordaram que é frequente o operador de painel desempenhar
várias atividades, ao mesmo tempo, em seu posto de trabalho. A demanda cognitiva por detrás desta afirmação é
extremamente alta. Um erro de julgamento, uma tomada de decisão equivocada ou demorada pode ser a diferença entre
um incidente mínimo e um acidente catastrófico. Frente a este fato, percebe-se que é preciso analisar com extrema
cautela o posto de trabalho de operação de forma a definir exatamente quais atribuições devem ser feitas pelo operador
de painel, e quais outras tarefas devem ser delegadas a outrem. Ademais, com o advento de novas necessidades
operacionais, pode ocorrer, ou não, a supressão das atividades operacionais que já estavam sendo realizadas. Neste
sentido, é necessário analisar criteriosamente a descrição do trabalho do operador de painel, de forma a compatibilizar o
seu posto de trabalho às novas e antigas demandas cognitivas ergonômicas. Sob estes aspectos, não se pode perder de
foco que o desempenho das atividades do posto de trabalho do operador de painel do Terminal D seja o produto da
interação cognitiva entre: capacitação do operador, novas necessidades operacionais e desenvolvimento tecnológico.

Formulação do diagnóstico: Consolidação


Com base nos estudos de Kariuki (2007), Hollnagel (2012) e França (2014), e tendo como base os dados da
consolidação da formulação do diagnóstico da ATC, foram identificados os mais relevantes Fatores Humanos, ou seja,
fatores que mais influenciam o desempenho de um trabalhador, que devem ser tratados no Terminal D, pois estes
Fatores Humanos foram considerados inadequados ou necessitando melhoria pelos operadores, a saber:
- A iluminação do ambiente em que trabalho (sala de controle);
- O treinamento para desempenhar as tarefas exigidas pelo posto de trabalho do painel;
- O treinamento para atuar nas EMERGÊNCIAS exigidas pelo posto de trabalho do painel;
- A disposição dos ícones do Sistema Digital de Controle Distribuído na tela do painel de controle;
- A disposição física do painel de controle (e periféricos: teclado, mouse, etc);
- As ferramentas disponíveis para a comunicação em uma situação de EMERGÊNCIA.

CONCLUSÕES
A consolidação dos dados e as observações das ATC identificaram diversos Fatores Humanos que afetam o
desempenho do operador do posto de trabalho do painel de controle do Terminal, pontuando os fatores mais críticos e
permitindo uma análise adequada de como estes fatores podem ser tratados e alocados adequadamente. A análise dos
fatores humanos não somente permite entender como o desempenho do operador pode ser alterado, mas também
fornece os subsídios adequados para os estudos de riscos de plantas industriais complexas, tais como HazOp, APR e
Licenças Ambientais, bem como auxilia na análise e investigação de acidentes, permitindo identificar os reais fatores
que contribuíram para um determinado cenário acidental. E de fato, de acordo com Johnsen (2017), a IOGP
(International Association of Oil & Gas Producers) identificou "mais atenção deve ser dada aos fatores humanos" como
uma de quatro áreas priorizadas após o acidente da plataforma de perfuração Deepwater Horizon, em 20 de abril de
2010, no Golfo do México. De acordo com Chettouh et al (2016), plantas industriais da área de petróleo e gás, tais
como refinarias, terminais e plataformas, além do risco ocupacional das doenças causados pelo petróleo e seus
derivados, apresentam também riscos de acidentes de grandes proporções devidos às características de inflamabilidade e
explosividade do petróleo e seus derivados. Historicamente, a indústria petrolífera tem sido uma das áreas industriais
com um número considerável de acidentes, sendo as consequências destes, em alguns casos, de ordem catastrófica,
envolvendo perdas de ordem material, ambiental e humanas. Por isso, identificar os elementos que possam contribuir
com a cadeia de eventos que constituem um acidente é fundamental para evita-los. Neste sentido, do ponto de vista da
interação entre o trabalhador e os sistemas complexos destas plantas industriais petrolíferas, é necessário desenvolver
mecanismos e metodologias de identificação dos Fatores Humanos que possam ser responsáveis pela alteração do
desempenho humano nesta dinâmica de interação. Uma destas metodologias, como afirma Mallam (2015) é a
ergonomia, que atua nas dimensões antropométricas, organizacionais e cognitivas do ser humano, provendo arcabouço
científico para a ATC desenvolvida por Carvalho & Vidal (2008), e que foi aplicada na identificação dos fatores
humanos mais relevantes do posto de operação do painel de controle do Terminal em estudo, provendo não apenas o
reconhecimento destes fatores, mas também importantes percepções quanto a interação trabalhador x sistema complexo.

LIMITAÇÕES E FUTUROS ESTUDOS


A ATC desenvolvida no Terminal D traz resultados importantes para análise dos Fatores Humanos, mas não é um
estudo definitivo. Pelo contrário, a partir da ATC, estudos mais aprofundados e específicos podem ser desenvolvidos,
tanto para adequar as situações que precisam de melhoria, quanto identificar outros fatores, por meio de outras
ferramentas, que também podem influenciar o desempenho do ser humano no seu ambiente de trabalho. Por exemplo,
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uma AET (Análise Ergonômica do Trabalho), pode ser desenvolvida no Terminal D, identificando elementos
importantes relativos à Ergonomia Física e Ergonomia Organizacional. Adicionalmente, é importante registrar que as
entrevistas para esta ATC podem ser consideradas incompletas, no sentido de que os operadores avaliados possam não
conhecer todos os aspectos de seu trabalho, sendo necessário complementar esta análise com uma visão externa para a
avaliação da atividade desenvolvida, como em uma auditoria. Desta forma, evitar-se-á que esta análise seja tendenciosa
e se limite a autoavaliação dos operadores. Todas estas observações e limitações são oportunidades de futuros estudos.

REFERÊNCIAS
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AGRADECIMENTO
Os autores agradecem ao Terminal pelo apoio à pesquisa e ao Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil da UFF
pelo suporte acadêmico.

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