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FACULDADE GALILEU

Reconhecimento Portaria nº 422 de 29/04/2015 Publicado DOU 29/04/2015


Avenida Marginal 200, nº 680 - Vila Real - Botucatu/ SP
Telefone: (14) 3354-1315 - www.faculdadegalileu.com.br

Baseado no trecho do livro “Nem sei se vou te amar” (de Edson Laino, no prelo), descreva o que observa
nesta cena e os aspectos psicológicos podem estar envolvidos.

“- Não sei há quanto tempo não falo de mim. Na verdade, acho que nunca me pus a
falar de mim, principalmente para alguém que só conheço de nome e referência. Foi o
Mauro quem me indicou a você – disse àquela mulher de pouco mais de 50 anos,
semblante sereno, elegantemente vestida. Mesmo sem ainda saber exatamente o que
deveria lhe dizer, mas sabia que deveria dizer algo.

Os olhos dela tentavam encontrar os meus, àquela altura fugidios. Fitei o quadro
fixado na parede logo atrás dela, uma cópia de um Monet1 destas compradas em lojas
de museus, provavelmente adquirida em alguma viagem a Paris. Aos poucos me permiti
caminhar passos suaves pelo caminho sugerido pela pintura, entregando a mim e a ela
tudo quanto me angustiava, ao menos tentava falar de mim,

Em sua sala tudo parecia estar também elegante e estrategicamente colocado,


alinhado milimetricamente. Poltronas, escrivaninha, luminárias, adornos, quadros. Até
mesmo ela. Doutora Rosana e seu olhar analiticamente penetrante e bem colocado,
pareciam me desnudar por trás de seus óculos em tom amadeirado. Tudo iluminado por
pontos de luz indireta. Em uma das paredes destacava-se uma exuberante estante de
livros onde se viam toda sorte de lombadas. Romances, livros técnicos de psicologia,
periódicos, entre outros textos.

- Sabe doutora Rosana, sempre me orgulhei de minha vida. Recentemente tive


algumas crises de identidade, daquelas em que nos perguntamos se realmente somos
quem pensamos ser. Acho que ainda sou eu mesmo, um tanto modificado pela dúvida,
mas eu mesmo. Relutei muito antes de fazer o exame solicitado pelo Mauro, mas fiz.
Nunca acreditei que pudesse resultar nisso, e fui fazer o tal exame, muito mais por
insistência dele do que por minha própria vontade. Medo? Talvez, ou quase certo. Nunca
tive uma vida desregrada, mas também nunca fui de me relacionar a torto e a direito.
Vivi, como achei que poderia viver.

[...]- Tive uma infância boa, convivi com meus pais e irmãos. Ah, sim! Em casa somos
três irmãos. Sou o do meio, uma irmã mais velha, Juliana e o Zéca, nascido depois de
uma reconciliação de meus pais. Juliana é advogada, como meu pai, trabalham juntos
em seu próprio escritório. O Zéca tentou alguns cursos, mas nunca se viu impelido a
terminá-los, acabou se encantando pela fotografia, hoje viaja o mundo fazendo
fotojornalismo para uma revista. Acho que não o vejo tem quase um ano.

Sabia que não demoraria muito seria descoberto em minha torpe tentativa de fugir
daquela conversa e do essencial que ali me trazia, mesmo assim continuava passeando
por minha vida cotidiana. Na verdade, queria mesmo era não estar ali, brincando de
fugir de mim naquela conversa meio sem sentido.
1Oscar-Claude Monet, pintor impressionista francês.

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Reconhecimento Portaria nº 422 de 29/04/2015 Publicado DOU 29/04/2015
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Silenciei.”

A cena observada, são relatos narrados de um sujeito que aparentemente estava iniciando sua primeira
sessão de terapia, o que foi possível de observar em sua primeira fala ..."Não sei há quanto tempo não
falo de mim. Na verdade, acho que nunca me pus a falar de mim, principalmente para alguém
que só conheço de nome e referência". E o alguém referido no trecho, era Doutora Rosana,
sitada por ele em uma trecho mais a frente quando ele vai se preferir a ela, dizendo… "Sabe
doutora Rosana".

O sujeito, sem saber o que dizer, mas sabendo que tinha que dizer algo, não
conseguindo ao menos olhar nos olhos da Doutora, frente a esta situação, ele busca
fixar seu olhar para um quadro logo atrás da dela, foi o que o ajudou, ele se deixou aos
poucos caminhar pelos passos que a pintura do quadro lhe oferecia e assim ele
conseguiu entregar a si mesmo as suas angústias.
Em seguida ele observa o setting terapêutico e também à doutora, e abre conversa
dizendo... "Sabe Doutora Rosana, sempre me orgulhei de minha vida. Recentemente tive
algumas crises de identidade, daquelas em que nos perguntamos se realmente somos
quem pensamos ser. Acho que ainda sou eu mesmo, um tanto modificado pela dúvida,
mas eu mesmo"...(nesta fala, possivelmente, ele esta mostrando estar passando por um
processo de transformação da identidade, sendo provável, que esteja se adaptando a
uma nova situação na sua vida). Logo à seguir ele fala sobre um exame, solicitado por
Mauro, do qual diz ter relutado muito antes de fazer, que não acreditava que pudesse ter
resultado naquilo, e que só fez por insistência do Mauro e não por vontade própria,
talvez por medo ou quase certo, disse também que nunca teve uma vida desregrada e
que também nunca foi de se relacionar a torto e a direto e que viveu como achou que
poderia viver… (Observando que ele, ao dizer que, não acreditava que o exame pudesse
ter resultado naquilo, e depois também dizer que nunca foi de se relacionar a torto e a
direito, mostrou que ele estava acompanhado por uma culpa, pois acreditava ter o
controle da situação).
Ele dá continuidade a sua conversa, desviando o assunto, falando de sua infância, de
como era sua vida com seus pais, fala sobre a carreira que seus irmãos seguiram, mas
logo foi descoberto na torpe tentativa de fugir do essencial que ali o trazia, e que na
verdade ele queria era não estar ali. E silenciou... ( Este momento ele possivelmente se
encontrava em um processo de negação, usando no momento um mecanismo de fuga,
uma tentativa de negar a evidência ali existente).
Abro a possibilidade de que o exame feito, com referência nas falas, era alguém que
tinha recebido o resultado positivo de HIV, e se encontrava nos processos da perda da
identidade e de negação.

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