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PUC MINAS - TEORIA PSICANALÍTICA: CONCEITOS FUNDAMENTAIS

Prof. Hélio Cardoso de Miranda Jr. - Psicologia – Avaliação Unidade 2 – 15 pontos


Alunos: ___________________________________________________________________
Leia com atenção o caso clínico apresentado abaixo:
Fragmentos de um caso clínico1
O paciente, de 24 anos, procura um analista com a queixa de dificuldade em seus
relacionamentos sociais – profissionais, amorosos e familiares – e entende que isso se deve ao
fato das pessoas não o compreenderem como ele gostaria, o que o faz ficar afastado, meio
isolado de todos. Não o chamam para eventos sociais e quando o convidam, muitas vezes ele
não vai. Quando decide ir, fica incomodado com as pessoas, pois parece que sempre estão
olhando para ele. Então, nesses eventos sociais, tende a ficar por pouco tempo e vai embora.
Escolheu, inclusive, um trabalho no qual pode realizar suas tarefas sozinho, o que facilita
o dia a dia. Ele diz que precisa tratar essa dificuldade. Acha que precisa conseguir entender as
pessoas e o porquê delas não o compreenderem.
Teve duas namoradas. Gostava delas, principalmente da primeira, mas ela também não
o compreendeu. Cobrava exageradamente que ele a acompanhasse em encontros e festas e ele
preferia permanecer com ela em casa.
Em uma sessão, ele relata um sonho no qual estava sob um pé de manga e ao olhar em
volta viu muitos animais estranhos ao longe. Eles pareciam se aproximar lentamente e isso o
assustou, então ele despertou.
Ao falar do sonho, ele diz que se lembrou de um filme que havia assistido há dois dias.
Era um filme de terror no qual animais semelhantes a insetos perseguiam pessoas. Ele se
lembrou também de uma árvore que havia na casa em que residiu durante a infância. Nessa
árvore apareciam comumente “lagartas peludas” (expressão dele) das quais ele tinha muito
medo porque as pessoas diziam que “elas queimavam”. Ele termina dizendo que tem horror a
lagartas, sente medo e nojo delas, principalmente quando estão se movimentando. Diz que não
consegue nem pensar nesses animais sem sentir repugnância.
O analista pergunta se são sempre as lagartas “peludas” que lhe vem à mente e ele fica
meio desconcertado. Diz nunca ter pensado nisso, mas considera que talvez essas sejam mais
repugnantes que as outras.
Em uma sessão posterior, algumas semanas depois, relatou a tentativa de aproximação
com uma mulher que havia conhecido pela internet e que deu errado, pois ela o rejeitou. Ele
disse que o acontecimento o havia feito se lembrar de uma história que ouvira na infância e que
envolvia lagartas: havia uma menina que gostava de cuidar das pequenas lagartas que
encontrava no jardim de sua casa. Ela fazia isso porque esperava que elas se transformassem
em borboletas. Quando ela ficou adolescente, começou a se encontrar escondido com seu
primeiro amor, pois os pais não aceitavam o relacionamento. Um dia, ela descobriu que estava
grávida e os pais a repreenderam severamente e a trancaram em casa, no seu quarto. Ela não
saiu mais. Quando o bebê nasceu, viram que ele era diferente. Não chorava, apenas gostava de
carinho e cuidado. Um dia os avós foram ao quarto dela à noite e não havia bebê no berço.
Quando olharam para sua filha, ela estava com o corpo todo coberto de lagartas. Eles se
afastaram horrorizados. Mas no dia seguinte, o bebê estava lá novamente. E assim seguiram os
dias. A menina-mãe continuou cuidando de um bebê que à noite se transformava em centenas
de lagartas que cobriam seu corpo e que durante o dia era um bebê que nunca crescia. Um
eterno bebê.
Logo após relatar isso, o paciente faz uma expressão de nojo e diz que talvez seja por
causa dessa história que sente repugnância por lagartas.

1
Essa narrativa é ficcional. Foi criada com intuito de servir de material de apoio para trabalho
universitário. Contudo, segue de perto a experiência clínica que acontece nas psicanálises.
“Mas o que há de repugnante na história?”, pergunta o analista. O paciente responde
que é a imagem das centenas de lagartas andando pelo corpo da mulher, “quer dizer”, ele
completa, “andando pelo corpo da própria mãe”.
“O que dá repugnância é a imagem de lagartas andando pelo corpo dela?”, pergunta o
analista.
“Acho que sim, nunca havia pensado nisso dessa forma, mas esta imagem é horrível
para mim”.
“E são sempre lagartas peludas?” intervém novamente o analista. “Não, acho que não,
são lagartas”, responde o paciente.
“Você se lembra de alguma outra coisa quando pensa na palavra peluda?”, diz o analista.
“Não...”.
Passadas algumas sessões, o paciente relata que havia acontecido um desentendimento
entre ele e sua mãe. Houve discussão e eles não estavam se falando. O motivo parecia banal. Ao
mesmo tempo, ele experimentara um encontro com uma mulher que ele considerou muito
prazeroso. Sentiu-se à vontade com ela e tiveram uma “transa muito boa”. Ele diz que apenas
ficou um pouco incomodado com o fato de que ela não estava totalmente depilada nas partes
íntimas.
“Isso o incomoda?” pergunta o analista.
“Eu não gosto de pelos...” O paciente interrompe a fala por alguns momentos. Depois
diz ter se lembrado de uma cena que aconteceu quando tinha entre cinco e seis anos de idade:
ele estava visitando a casa de tios maternos e sua prima, então com aproximadamente 14 anos,
saiu do banho sem se preocupar com sua presença e ele viu a genitália dela coberta de pelos.
Não entendeu o que viu e ficou imaginando o que estaria debaixo daqueles pelos. Mas se lembra
de ter sentido algo diferente, não sabe explicar o que foi. Depois disso queria olhar de novo.
Sua curiosidade ficou muito grande e ele procurava formas de ver novamente uma
mulher nua. Certa vez, na casa de parentes, percebeu que havia mulheres em um quarto com a
porta fechada. Ele se aproximou da porta com a intenção de olhar pelo buraco da fechadura.
Quando estava perto, a porta se abriu e sua mãe, que estava no quarto com as outras, olha para
ele e pergunta: o que você está fazendo? Ele, pego de surpresa, não se lembra de ter respondido,
na verdade não se lembra de mais nada depois. Só se lembra da sensação de culpa que sentiu
perante aquele olhar materno.
“O olhar materno provoca culpa em você?”, pergunta o analista.
“O olhar de minha mãe me persegue...”, ele responde.
“Ele queima?” pergunta o analista.
A análise prosseguiu, mas dali em diante o paciente passou a ter menos restrições ao
convívio social, mesmo que ainda não se sentisse muito à vontade em situações como reuniões
e festas, principalmente quando queria seduzir uma mulher.

Tendo como base este relato de um atendimento clínico e como referência os textos da
Unidade 2, redija um pequeno texto no qual os principais conceitos estudados na referida
unidade possam ser aplicados ao caso apresentado. Estudamos muitos conceitos, mas os
textos selecionados como referência principal tocam, principalmente, nos conceitos de
inconsciente, recalcamento e complexo de Édipo. Em torno desses três conceitos vários outros
conceitos e noções orbitam, como pulsão, desejo, conflito, sistema pré-consciente e
consciente, diferença sexual, castração, angústia de castração, etc. Aplique os conceitos ao
caso, quer dizer, teorize o caso, indicando como os conceitos e noções podem ser aplicados
para entender a queixa do paciente e o que acontece durante os atendimentos. Explorem seus
conhecimentos até o momento.

Este trabalho pode ser realizado em duplas. Também pode ser feito individualmente.

DATA LIMITE PARA ENTREGA: 27/04/2020

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