Você está na página 1de 17

EIXO TEMÁTICO: O impacto das tecnologias eletrônicas e sua mediação

Sub-tema: A educação continuada dos profissionais da informação


Resumo aprovado: no. 379

O ESTADO DA ARTE DA VISÃO E VALORES DA COMPETÊNCIA EM INFORMAÇÃO


(INFORMATION LITERACY) NA SOCIEDADE CONTEMPORÂNEA E AS
NECESSIDADES DE CAPACITAÇÃO DOS PROFISSIONAIS DA INFORMAÇÃO: UM
CENÁRIO DAS BIBLIOTECAS UNIVERSITÁRIAS ESTADUAIS PAULISTAS

Profa. Dra. Regina Célia Baptista Belluzzo

Universidade do Sagrado Coração, Brasil


rbelluzzo@travelnet.com.br

Profa. Ms Marcia Rosetto


Universidade de São Paulo, Brasil
mrosetto@sibi.usp.br

RESUMO
Com o advento das tecnologias de informação e comunicação (TIC) as bibliotecas e serviços de
informação assumem cada vez mais uma função fundamental no momento em que a sociedade é
identificada como da informação e do conhecimento, propiciando mecanismos para o acesso e o uso
inteligente de repositórios de informação em meios eletrônicos. Em decorrência dessa conjuntura, o foco
na competência em informação (information literacy) tem crescido fortemente em vários segmentos da
sociedade, como pode ser verificado em estudos elaborados por organismos internacionais na
identificação de qual cenário, neste século, em que se desenvolverá a educação e as dimensões de
contexto de suas transformações. Sendo assim, além da devida competência para desenvolver
programas que vem sendo ofertados pelas bibliotecas e serviços de informação, desde longa data, tais
como: pesquisa bibliográfica, orientação bibliográfica, metodologia para pesquisa científica, entre outros
tipos de tutoriais, os profissionais da informação devem estar aptos a exercer a liderança no processo de
formação da cultura de agregação de valor à informação na sociedade contemporânea. Além disso,
deverão apresentar um perfil de competências desejável para a inserção nos programas de ensino e
aprendizagem, contribuindo como facilitadores nesses ambientes. O presente trabalho tem por finalidade
oferecer o resultado de estudo exploratório realizado em bibliotecas de universidades paulistas, acerca
da visão e valores que se fazem presentes na gestão desses ambientes em torno dos conceitos e
concepções que envolvem a competência em informação e seu espectro, e que serão utilizados para dar
continuidade às pesquisas na área.

1
Palavras-chave: Competência em informação (information literacy);Profissionais da informação, perfil de
competências; Profissionais da informação, capacitação.

1 Contexto mundial

Na década de 90, intensificou-se o crescimento do uso das tecnologias de


informação e comunicação (TIC) nas bibliotecas, ampliando a disponibilidade de
serviços pela rede Internet e, em especial, a oferta de publicações e informações em
formato eletrônico, além da implementação de bibliotecas virtuais e digitais. Em
decorrência, isso gerou novas formas de armazenagem da informação, de
recuperação, de acessibilidade e novos procedimentos para a conservação e gestão
desses recursos, sendo considerado por especialistas e pesquisadores um divisor de
tempos e de quebra de paradigma da sociedade contemporânea, identificada como
sendo a sociedade da informação e do conhecimento.

As bibliotecas, que no decorrer dos séculos foram organizações de reserva dos


pensamentos registrados, assumem cada vez mais uma função fundamental nesse
novo momento da sociedade contemporânea, exigindo grandes investimentos em
conteúdos eletrônicos e equipamentos para exercer essa nova forma de atuação.
Nessa nova ordem cultural identificada como “cultura informacional” a adequada
utilização desses mecanismos para o acesso aos repositórios de informação se
constitui em elemento essencial para o desenvolvimento da sociedade, sendo
fundamental que as pessoas estejam devidamente preparadas para o uso e o manejo
da informação para trabalhar em ambientes intensivos em conhecimentos.

A partir das reuniões preparatórias da Cúpula Mundial da Sociedade da Informação,


realizadas desde 2002 (WSIS, 2006), foi identificada a convergência acelerada entre
telecomunicações, meios de comunicação, informação e tecnologias, havendo um
considerável aumento da necessidade da sociedade estar altamente qualificada para o
uso e a aplicação da informação, das tecnologias e do conhecimento adquirido. Sendo
assim, as nações devem estar preparadas para:
 Apoiar e ampliar instalação de redes de bibliotecas e serviços de informação;

2
 Proporcionar pontos de acesso à informação e desenvolver capacidade de
leitura;

 Promover serviços de qualidade para o acesso às informações requeridas.

(WSIS, 2006)

Essa questão também tem sido abordada em vários estudos elaborados por
organizações internacionais como a UNESCO, Banco Interamericano de
Desenvolvimento - BID, Organização de Co-operação Econômica e Desenvolvimento –
OCED, Banco Mundial, entre outros, e também pela Federação Internacional de
Associações de Bibliotecários – IFLA, que desde de 1994 lança campanhas e realiza
estudos alertando sobre a importância do acesso aberto à informação e o papel
significativo das bibliotecas, que são instituições essenciais para o desenvolvimento
humano em sua plenitude.

Exemplos de documentos preparados e que vêm sendo divulgados sobre a


temática, desde o inicio dos anos 90, são:

 Manifesto da Biblioteca Pública (novembro de 1994 – UNESCO/ IFLA );

 Manifesto da Biblioteca Escolar (novembro de 1999 – UNESCO/ IFLA );

 Manifesto Internet (março de 2002);

 Bibliotecas e liberdade de expressão (fevereiro de 2004);

 Bibliotecas e liberdade de expressão (fevereiro de 2004);

 Manifesto de Alexandria, proposto e aprovado pelos participantes do Colóquio


em Nível Superior sobre Competência em Informação ao Longo da Vida,
realizado em novembro de 2005, em Alexandria (Egito), declarando que a
competência informacional são os faróis da sociedade da informação,
iluminando os caminhos para o desenvolvimento, a prosperidade e a
liberdade, e capacitando as pessoas para vida de forma efetiva para atingir a
suas metas pessoais, sociais, ocupacionais e educacionais.

(IFLANET, 2006)

Nesse cenário é evidente o papel significativo que as bibliotecas e os profissionais da

3
informação, em especial, devem desempenhar para que tais espaços e ações gestoras
possam estar adequados e se transformem em locais de aprendizado contínuo, a fim
de poderem desenvolver trabalhos em parceria com os programas educacionais
desenvolvidos pelas escolas e universidades. Se à biblioteca cabe o papel de mediar a
construção da competência e da autonomia na busca e uso da informação de forma
inteligente, por outro lado, os governantes, em todas as esferas executivas, devem
estar cientes que é de suma importância o estabelecimento de políticas para dotar a
sociedade de condições e recursos suficientes para o desenvolvimento pleno da
educação e da cultura.

2 Da informação à Competência em Informação

2.1 Informação e conhecimento

Parece não existir nenhuma dúvida na sociedade contemporânea que o


conhecimento se tornou um recurso econômico importante para a competitividade das
organizações e dos países, e que a gestão pró-ativa desse conhecimento adquire um
papel central. Em função dessas mudanças, e, aliando-se a isso à concepção do
trabalho em rede e do uso da informação como recurso estratégico, as organizações
são levadas a repensar continuamente as formas de atuação e, conseqüentemente, há
a necessidade de transformações nas suas estruturas organizacionais. De acordo com
Moran (1997) o computador em rede integra todas as telas antes dispersas, tornando-
se um instrumento de trabalho, de comunicação e da educação que é o processo
permanente de aprendizagem, da construção da identidade do ser humano, do
desenvolvimento de habilidades de compreensão, emoção e comunicação pessoal e
social.

Segundo Brunner (2004), o encontro da educação com as TIC tem sido uma
revolução que ao mesmo tempo gera esperanças e incertezas, e que atualmente existe
“um verdadeiro fervilhar de conceitos e iniciativas, de políticas, de associações e
organismos, de artigos e livros” (p.17) e que, no atual estágio, pode-se afirmar que
desse encontro surge uma poderosa indústria, a indústria educacional, decorrente
dessa convergência, sendo que atualmente gastam 10% do produto interno dos países
gerando uma série de transformações. Ele afirma que “embora a discussão da
educação são formuladas em considerar essa base tecnológica, a comunicação e os

4
sistemas de comunicação são pensadas como sistemas tecnologicamente implantadas,
como a comunicação oral, da criação do alfabeto e da escrita (...) do surgimento da
imprensa, que contemporaneamente, da comunicação eletronicamente mediada, até
alcançar a forma da sociedade da informação baseada nas tecnologias de rede, e em
particular, na Internet “ (p.12).

Se a nova sociedade está sendo construída com o uso dessas tecnologias e a sua
base está voltada para o conhecimento, é possível efetuar novas representações e
significados, e expandir as fronteiras do cognoscível. As mudanças em andamento
estão criando novos conceitos de trabalho, lazer, ensino, comércio, poder e mesmo de
tempo e espaço, sendo que a informação é o recurso para o desenvolvimento e
aprendizagem, e aprender é a condição de sobrevivência do ser humano na sociedade
(MORESI, 2000).

Nesse tópico em particular, Brunner (2002), em artigo publicado no livro “Educação


na América Latina: análise e perspectivas “, expressa que a literatura publicada durante
a última década coincide em assinalar quanto ao entorno em que se desenvolverá a
educação e indica que está mudando rápida e profundamente para um ponto que logo
se tornará irreconhecível aos olhos do século XX, e a tese mais geral a esse respeito
sustenta que a globalização 1 estaria afetando de múltiplas e variadas formas.
Baseando-se nessas características o autor propõe cinco dimensões de contexto das
transformações em curso, e que são de envergadura e estão desafiando a educação
nesse século. Essas dimensões são:

 Acesso à informação (sobre o mundo, os outros e a nós mesmos);


 Acervo de conhecimentos (importância no manejo da informação e do
conhecimento);

1
“Habitualmente define-se globalização como a crescente integração das economias nacionais (...) entretanto, além disso, fala-se

da globalização da ciência; da tecnologia e da informação;da comunicação e da cultura; da política, e, inclusive, da globalização do

crime organizado. No entanto, quanto aos impactos pertinentes da globalização e os efeitos que produzem no âmbito dos sistemas

e das políticas educacionais, a definição “generalista” mais de acordo seria a de Held et al (2000), o qual o referido fenômeno pode

ser entendido como os “processos que encarnam a mudança na organização espacial das relações e transações sociais, gerando

fluxos e redes transcontinentais e inter-regionais de atividade, interação e exercício do poder (...) e que podem ser descritos e

comparados em quatro dimensões: extensão das redes globais; intensidade dos fluxos e níveis de atividade; à velocidade dos

intercâmbios; e o impacto desses fenômenos nas comunidades” (BRUNNER,2002).

5
 Mercado de trabalho (necessidade de novas demandas de competências,
habilidades e conhecimento);
 Disponibilidade de TIC para a educação (crescimento contínuo do uso das
tecnologias para a aprendizagem);
 Mundo de vida (compromisso com a transformação do contexto cultural de
sentidos e significados).

Especificamente à dimensão 1, o autor considera que o problema não seria onde


encontrar a informação, mas sim como oferecer, sem exclusões, o acesso e ao mesmo
tempo ensinar e aprender a selecioná-la, avaliá-la, interpretá-la, classificá-la, e usá-la.
E são exatamente esses aspectos que interessam aos profissionais da informação e
como podem contribuir com esse processo em construção.

Os itens acima destacados coincidem com os tópicos identificados pela pesquisa


realizada pela OCED, e complementa que os curricula estão sendo analisados em todo
mundo e está crescendo a preocupação dos governos e do público em geral sobre a
educação e treinamentos com qualidade e o retorno econômico e social dos
investimentos realizados na área (RYCHEN, 2004). A partir das 9 competências
identificadas que um indivíduo deve ter para exercer efetiva participação em sociedades
democráticas, 2 delas encontram-se diretamente relacionadas à competência em TIC e
em informação.

As TIC, portanto, subsidiam novas possibilidades de modelos educacionais e nas


formas de acesso e transmissão do conhecimento, e essa nova visão pode ser
verificada, por exemplo, no modelo proposto por Samier (1998) onde são indicados os
vários sistemas componentes da “educação virtual”. Esse novo modelo, está forçando
muitas instituições a reverem e modificarem as políticas, os procedimentos existentes, e
a visualizarem novas parcerias que podem ser efetuadas no novo contexto que se
estabelece, rompendo as estruturas da “academia tradicional”. Isso inclui a biblioteca
como uma das entidades fundamentais que deve desenvolver conteúdos com o uso de
recursos on-line, com ênfase ao acesso a índices de citações, periódicos eletrônicos,
bases de dados com textos completos e entrega de documentos, e desenvolver a
capacidade e habilidade para os usuários poderem recuperar, categorizar e usar
informações multimídia.

Pode-se verificar, a partir das abordagens destacadas pelas pesquisas e estudos,

6
que a informação e o conhecimento e, em especial a forma de seu acesso e uso, são
competências estratégicas para as pessoas poderem participar de forma plena na
sociedade contemporânea e o desenvolvimento de seu futuro. É exatamente devido às
essas características que a Information Literacy (por nós denominada como
Competência em Informação) vem se expandindo, com o objetivo de analisar como
desenvolver procedimentos de treinamento para o uso da informação, a sua
interpretação e transformação em novos conhecimentos pelos indivíduos e
organizações.

2.2 Competência em informação

O objetivo das bibliotecas e dos serviços de informação é o de promover o acesso e


o uso aos recursos informacionais, e esse acesso é proporcionado por meio de
metodologias que possibilitam a armazenagem (estoques de informação) e sua
recuperação. Nesse contexto dois serviços propiciam o acesso para o uso - Serviços de
Referência e Instrução; esses dois aspectos, tradicionalmente centrados nas fontes e
tecnologias, têm sido objetos de estudo para ampliar a forma de se analisar a questão
não só do aspecto físico do acesso aos recursos, mas, principalmente quanto ao
acesso intelectual à informação e às idéias pelos usuários (KUHLTHAU, 1993).

A grande preocupação é como permitir que os grandes estoques de informação


atuem como mediadores qualificados para que a informação se transforme em
conhecimento. O foco central de um sistema de informação deve ser a necessidade de
informação e o seu uso; os serviços precisam encontrar as necessidades específicas
de um indivíduo, do que tentar adaptar o usuário ao que o sistema oferece. Estudos e
modelos teóricos vêm sendo desenvolvidos para que o profissional da informação use
metodologias mais adequadas para a prestação de serviços, e que os usuários efetuem
uma melhor apropriação intelectual dos conteúdos dos recursos de informação.

Uma das áreas em evidência na Ciência da Informação e que tem se intensificado


neste inicio do Século XXI, devido à necessidade de desenvolvimento de novas
habilidades para o acesso e uso da informação, é a Competência em Informação
(Information Literacy). Termo cunhado em 1974 por Paul Zurkowski’s (LOERTSCHER,
2005), o assunto tem se tornado um núcleo conceitual para as bibliotecas e a
biblioteconomia, mas não sem argumentos contra por parte de pesquisadores da área,
que consideram a falta de claridade e precisão do termo competência (literacy), e as

7
muitas confusões que resultam da complexidade semântica ou teórica, que tem levado
a uma confusão no desenvolvimento de uma prática que deve propiciar um
procedimento para a área biblioteconômica.

Mas o que vem a ser Competência em Informação? Antes de adentrar sobre o


assunto, é importante analisar o conceito de competência. Vários autores de diferentes
áreas vêm procurando oferecer uma conceituação sobre competência e suas origens.
Após séculos de uso com várias concepções, competência passa a ser considerada,
nas últimas décadas do século XX, como sendo o reconhecimento da sociedade sobre
a capacidade das pessoas de se pronunciar em um assunto especifico. Destaca-se que
sem a pretensão de esgotar o tema, o termo competência “tem sido utilizado com
diferentes significados, ora como sinônimo de habilidades, capacidades, conhecimento,
saber, etc, ora contendo termos inseridos em seu significado” (BELLUZZO, 2005).

Especificamente sobre competência em informação, diferentes conceitos vem sendo


propostos por pesquisadores da área, conforme estudo elaborado por Belluzzo (2004),
e que a partir de análises e experiências educacionais, propõe que competência em
informação “Constitui-se em processo contínuo de interação e internalização de
fundamentos conceituais, atitudinais e de habilidades específicas como referenciais à
compreensão da informação e sua abrangência, em busca da fluência e das
capacidades necessárias à geração do conhecimento novo e sua aplicabilidade ao
cotidiano das pessoas e das comunidades ao longo da vida “ (BELLUZZO, 2005).

Segundo relatório da IFLA Presidential Committee for the Internacional Agenda on


Lifelong Literacy (IFLA, 2005), todas as definições de competência em informação que
vem sendo elaboradas implicam na compreensão pelo indivíduo sobre:

 a necessidade da informação,
 os recursos disponíveis,
 como encontrar a informação,
 a necessidade de avaliar resultados,
 como trabalhar com os resultados obtidos,
 ética e responsabilidade para o uso,
 como comunicar ou compartilhar os resultados,
 como gerenciar esses conteúdos.

8
Além dos estudos mencionados, constata-se também que esse tema vem
aparecendo regularmente em agendas de conferências e sessões de encontros dos
movimentos associativos e de faculdades e, de acordo com estudos realizados pela
Association Research Libraries - ARL, constatou-se que no período de 1991 a 2002, há
um crescimento da participação dos bibliotecários universitários na configuração de
instruções e como consultores de curriculum (ELMBORG, 2006).

Por sua vez, a IFLA também vem realizando projetos na área e implementado grupos
de estudos que resultou na instalação da Information Literacy Section, formalizando
dessa forma a área que já produzia importantes procedimentos e guias para a
compreensão, estudos e aplicação de métodos para as bibliotecas promoverem a
competência em informação. Dentro dessa linha de ação, possibilitou a realização do
Colóquio sobre Competência em Informação, na Biblioteca de Alexandria em novembro
de 2005, que resultou no lançamento do “Manifesto de Alexandria“ delineando a
competência informacional:

 como as competências para reconhecer as necessidades informacionais e


localizar, avaliar, aplicar e criar informação dentro de contextos culturais e
sociais;

 que é crucial para a vantagem competitiva dos indivíduos, empresas


(especialmente as pequenas e médias), regiões e nações;

 que fornece a chave para o acesso, uso e criação efetivos do conteúdo para
dar apoio ao desenvolvimento econômico, à educação, à saúde e aos
serviços, e a todos os outros aspectos das sociedades contemporâneas e,
desta forma, fornece os fundamentos vitais para atingir as metas da
Declaração do Milênio e da Cúpula Mundial da Sociedade da Informação; e

 que vai além das tecnologias atuais para abranger o aprendizado, o


pensamento crítico e as habilidades interpretativas cruzando as fronteiras
profissionais, além de capacitar indivíduos e comunidades.

(Faróis da Sociedade da Informação, 2006)

Tendo em vista as necessidades identificadas nos vários projetos e pesquisas


levadas a efeito pelos especialistas e organizações, verifica-se que a gestão da

9
informação e do conhecimento deve ser exercida tendo em pauta todas as variáveis
destacadas pelos mesmos, para que as pessoas possam ser capazes e habilitadas
para utilizarem todos os instrumentos considerados no sentido amplo do ensino e
aprendizagem, e do acesso e uso da informação para a produção do conhecimento.

Ser competente em informação e ter habilidades no uso inteligente das fontes de


informação, das TIC e de procedimentos pedagógicos do processo de ensino e
aprendizagem para o seu uso é uma questão de extrema importância para os
profissionais que atuam na área de educação e ciência da informação, considerando-se
que são os facilitadores para o processo de aprendizagem do cidadão. Conforme
Macedo (2005), a função da escola é levar o aluno a adquirir auto-estima e espírito
critico e o da biblioteca seria tornar-se espaços contínuos das aulas em classe e ao
longo da vida, interagindo com os alunos e pessoas para que tenham autonomia na
busca da informação com competência em informação.

Considerando o cenário dessa nova sociedade que se configura, e que exige


inúmeras formas de competência, como as unidades de informação e seus profissionais
estão atuando? Será que estão sendo formados de acordo com as exigências
identificadas? Segundo a IFLA (2005), as ações consideradas estratégicas para atender
essas necessidades e que devem ser implementadas pelas bibliotecas e escolas de
biblioteconomia e ciência da informação são:

 Desenvolvimento de mapas estruturados com todas as competências que devem


ter os indivíduos na sociedade moderna;
 Desenvolvimento de instrumentos para serem usados como modelos por todas
as bibliotecas;
 Desenvolvimento de um conjunto de elementos estruturados e holístico para o
treinamento de habilidades pedagógicas para que os profissionais facilitem o
aprendizado ao longo da vida;
 Desenvolvimento de um currículo específico para Programas de Competência
em Informação, com guias, melhores práticas para o reconhecimento e
certificação de profissionais que estiverem aptos em programas para essa área.

De certa forma, verifica-se que os estudos realizados sobre o tema oferecem um


panorama geral quanto ao impacto que a informação e as tecnologias de informação e

10
comunicação vem exercendo na sociedade. O desenvolvimento de redes de
telecomunicação, incluindo as tecnologias de televisão digital que estão sendo
projetadas, e as tecnologias multimídias para o tratamento e armazenamento de dados
(conteúdos) com o uso de metadados e protocolos de comunicação adequados,
exercem um impacto drástico em todos os aspectos da vida humana: nos
relacionamentos, no emprego e no convívio familiar.

No tocante ao emprego, a natureza de cada profissão está se transformando


profundamente, e as tarefas estão cada vez mais intensivas em informação e com o
uso das TIC, e vários aspectos importantes devem ser considerados: como e de que
forma desenvolver conteúdos de informação, quais as tecnologias mais apropriadas,
como preservar e que tipos de acesso devem ser implementados para a recuperação
da informação e como serão apropriados pelos indivíduos. Sendo assim,
independentemente das áreas de atuação, os perfis necessários para desempenharem
suas funções nessa nova sociedade em formação devem estar alinhados à nova
concepção de vida em construção.

Desta forma, a Ciência da Informação precisa urgentemente analisar todos os fatores


que estão moldando esse novo movimento do desenvolvimento humano, sendo
necessário elaborar novas estratégias para realizar os objetivos perseguidos e
desenvolver as formas que a informação e a participação dos envolvidos estarão se
efetivando, via as tecnologias em questão. É nesse sentido que foi organizado um
grupo brasileiro de estudos, que atualmente, com o apoio da Federação Brasileira de
Associações de Bibliotecários, Cientistas da Informação e Instituições - FEBAB, vem
promovendo, desde 2004, atividades em prol da divulgação dessa temática, como por
exemplo a realização de palestras em seminários, organização de workshops e
oficinas, entre outros.

Em função das atividades realizadas até presente data, decidiu-se efetivar um


levantamento exploratório (survey), preliminarmente junto às bibliotecas das
universidades estaduais paulistas, com o propósito de verificar como esse tema está
sendo visto e, a partir dos resultados, identificar subsídios que possam contribuir para o
desenvolvimento de projetos que objetivam ampliar os estudos e consolidar programas
de capacitação, pois, considera-se que para a ciência da informação é de capital
importância conhecer com maior profundidade os fundamentos que regem a
Competência em Informação (Information Literacy) e as tecnologias que mediam o

11
processo. Considera-se também que é fator imperativo realizar contínuos estudos para
o aprofundamento e apropriação desse conhecimento, como um processo de educação
continuada, em especial no Brasil, cujo assunto ainda pode ser considerado como
sendo emergente.

2.2.1 Levantamento exploratório preliminar (survey) sobre competência em informação


(Information Literacy)

Para a organização do levantamento pretendido, foi elaborado um questionário com


7 (sete) perguntas, e encaminhado por e-mail mediante a rede Internet para as 92
bibliotecas das universidades estaduais paulistas (USP, UNICAMP e UNESP). As
respostas recebidas foram sistematizadas de forma a consolidar os dados que possam
propiciar a visualização do panorama de como está sendo visto o assunto pelos
profissionais que atuam nas bibliotecas universitárias paulistas. Os dados consolidados
estão dispostos na tabela 1.

Tabela 1 - Levantamento exploratório preliminar (survey) sobre Competência em


Informação (Information Literacy) com bibliotecas das universidades estaduais paulistas
(USP, UNICAMP, UNESP)

QUESTIONÁRIOS ENVIADOS: 92
RESPOSTAS RECEBIDAS: 48 (52%)
PERGUNTAS ENVIADAS COM AS RESPECTIVAS RESPOSTAS CONSOLIDADAS:

1. Já ouviu falar sobre a Information literacy ( ou competência da


informação) ? Sim : 20 (41%) Não: 28 ( 58,33 %)

2. Se respondeu sim à questão 1, indicar em um dos itens como isso ocorreu.


Nessa pergunta as respostas podiam ser múltiplas: Participação em evento: 15
(31,25 %); Contato pessoal ou virtual com especialistas: 11 (22,91 %); Leituras
pessoais: 10 ( 20,83 %); Outra forma; indicar qual: 4 ( 8, 33%).
(Nota: os itens indicados no último tópico foram: estudos sobre instrução bibliográfica e
serviço de referência; curso de especialização e pós-graduação; elaboração de trabalho
sobre analfabetismo funcional; elaboração de palestra sobre o tema; leitura de
dissertação sobre o assunto).

12
4. Indicar situações em que os conceitos e princípios da Information Literacy (ou
competência em informação) poderão ser úteis para a sua atuação enquanto
profissional da informação. A seguir relacionam-se as situações identificadas, em
ordem decrescente:

• De 6 a 8 indicações: Melhoria no atendimento ao usuário; Capacitação contínua


do próprio profissional; Treinamento de usuários da biblioteca.
• De 3 a 5 indicações: Melhoria no planejamento de serviços da biblioteca; Geração
do conhecimento; Pesquisa e publicação na área.

• Com 2 indicações: Saber onde há necessidade informacional; No relacionamento


com os usuários; Conhecimento das fontes de informação; Disseminação da
informação; Formação de professores e alunos

• Com 1 indicação: Incentivo à leitura; Localização da informação para solução de


problemas; Avaliação da informação; Localizar, processar e utilizar a informação
em diferentes situações; Na falta de compreensão das necessidades do próprio
profissiona; Gestão de projetos; Gestão de pessoas;Gestão da informação;Capital
intelectual; Visão de futuro;Ética;Integração escola e biblioteca;Criação de
biblioteca digital.

5. Existe alguma experiência com a aplicação dos conceitos e princípios da


Information literacy (ou competência em informação) na biblioteca ou serviço de
informação onde atua ? Sim: 7 Não: 11 Em branco: 2

6. Se respondeu Sim à questão 5, informar o que segue: A experiência consistiu em


projeto e o documento está disponível em formato impresso; nesse caso indicar a
referência bibliográfica: 4 ( 1 não cita a fonte); A experiência consistiu em projeto e o
documento está disponível em formato eletrônico: CD ROM ( 1) Website ( 3).

7. Na sua opinião o que o Brasil precisaria fazer em relação ao desenvolvimento da


Information literacy (competência em informação). A seguir relacionam-se as
indicações de alguns profissionais que responderam a pergunta final do
questionário: Reunir profissionais em comunidades virtuais de aprendizagem
colaborativa em ambientes de EAD; Priorizar a educação desde a pré-escola com
professores e bibliotecários competentes em informação; Publicação de artigos
sobre o assunto; Criar políticas na área para as redes de bibliotecas municipais e
universitárias; Inserir o tema nos curricula das escolas de biblioteconomia e
ciência da informação; Criar também um grupo de estudo na ANCIB;Realizar
eventos e workshops para divulgação dos princípios de information literacy; O
grupo de estudos poderia divulgar o tema por meio de palestras em todos os

13
eventos significativos da área no país; Os profissionais e estudantes deveriam ter
mais possibilidades de acesso à educação contínua, por meio de cursos com
custos compatíveis com os salários da classe; Elaborar programas para
professores serem multiplicadores sobre o tema junto aos alunos e
profissionais;Qualificar e conscientizar os profissionais da informação sobre o
assunto; Disseminar o conceito para as demais áreas do conhecimento dentro da
educação formal e informal, para que as pessoas tenham capacidade de buscar e
avaliar a informação; Investir em projetos de infra-estrutura de bibliotecas; Instalar
bibliotecas em escolas, municípios sob a gestão de profissionais qualificados;
Criar programas de incentivo à leitura; Barateamento de livros e publicações;
Maior divulgação pela imprensa sobre publicações em formatos diversos; Prover
a sociedade com mecanismos estruturais para o acesso à informação, impressa e
digital, e capacitar as pessoas para o uso dessa informação; Mudar o perfil do
profissional da área, exigindo maior capacidade de interação, conhecimento e
habilidades para poder agir com competência em informação; Inserir a disciplina
na sala de aula, e também no desenvolvimento das atividades da biblioteca.

A partir das variáveis consolidadas e em uma análise a priori, verifica-se que:

 Dos 48 questionários recebidos (50% da população pesquisada), 28 (58,33%)


desconhecem o assunto. Esse dado reflete que é necessário criar mecanismos
para ampliar a divulgação sobre o assunto junto aos profissionais brasileiros;
 A principal fonte de informação, para os 20 (41%) que responderam ter
conhecido o assunto, foi a participação em eventos; dessa forma considera-se
importante elaborar junto aos eventos no país, formas de dar continuidade a
esse processo, como por exemplo organizar cursos, workshops, além de outros
mecanismos de divulgação;
 De acordo com a indicação sobre a aplicação dos conceitos de competência em
informação, verifica-se que já há por parte de alguns profissionais alguma
percepção sobre o assunto, no entanto, constata-se que o foco da maior parcela
ainda é sobre gestão da informação, ou seja, o modelo tradicional da área, e não
com o foco nas pessoas e nas diferentes concepções que envolvem essa área
de estudos;
 As experiências indicadas sobre o uso do conceito de competência em
informação são aspectos de treinamento/orientação bibliográfica, sendo esta
apenas uma das áreas que envolve seu espectro e abrangência, além do que
devem ser analisados com mais detalhamento para serem verificados os
conteúdos e suas abordagens;
 Quanto à relação das possibilidades do desenvolvimento da Information Literacy
(ou Competência em Informação) no país, esta propicia vária sugestões

14
significativas e que deverão ser consideradas nas próximas etapas do estudo
pretendido, além de complementarem os que já estão sendo projetados pelas
autoras deste paper.

3 Considerações finais

Conforme pode ser constatado pela análise bibliográfica sobre Competência em


Informação, as principais dimensões nesse século são:

 Acesso, sem exclusão, com competência e habilidade para o manejo da


informação e das tecnologias de informação e comunicação;
 Educação contínua com qualidade e compromisso com as transformações do
contexto cultural, com pensamento crítico e habilidades interpretativas;
 Profissionais da área de informação que possam: desenvolver modelos
estruturados de competências que as pessoas devem ter; identificar
instrumentos que possam ser usados; ter competências pedagógicas para
facilitar o aprendizado; elaborar um curriculum especifico para a área,
oportunizando o reconhecimento e certificação dessa competência para atuação
no mercado.

Verifica-se, portanto, que além da devida competência para desenvolver programas


que vem sendo ofertados pelas bibliotecas e serviços de informação, desde longa data,
tais como: pesquisa bibliográfica, orientação bibliográfica, metodologia para pesquisa
científica, além de outros tipos de tutoriais, constata-se que os profissionais da
informação devem estar aptos a exercer a liderança no processo de formação da
cultura de agregação de valor à informação na sociedade contemporânea. Para tanto,
necessitam estar alinhados ao uso dos conceitos e experiências da área de
Competência em Informação, ora em desenvolvimento. Além disso, deverão apresentar
um perfil de competências desejável para a inserção nos programas de ensino e
aprendizagem, contribuindo como facilitadores nesses ambientes intensivos em
informação e tecnologias multimídia. Espera-se que os resultados, embora de caráter
exploratório do presente estudo, possam levar à realização de novos estudos e que
novas etapas possam ser organizadas e desenvolvidas para a sua continuidade e
consolidação em contexto nacional.

4 Referências Bibliográficas

15
BELLUZZO, Regina C.B. Competência em informação: um diferencial na gestão de
pessoas. (Palestra proferida na Universidade Estadual de Campinas –UNICAMP, 2004)
BELLUZZO, Regina C.B. A Competência em informação: um fator de integração entre a
biblioteca e a escola. In: XXI Congresso Brasileiro de Biblioteconomia e
Documentação. Curitiba, Paraná, 17 a 22 de julho de 2005.
BELLUZZO, Regina C.B. Uso de mapas conceituais para o desenvolvimento da
competência em informação: um exercício da criatividades In: Competência em
informação na sociedade da aprendizagem. Bauru: Kairós, 2005. p.29-53.
BRUNNER, José Joaquim. Globalização e o futuro da educação: tendências, desafios,
estratégias. In: Educação na América Latina. Brasília: UNESCO, OREALC, 2002. p.13-
56.
BRUNNER, José Joaquim. Educação no encontro com as novas tecnologias. In:
TEDESCO, Juan Carlos (Org.). Educação e novas tecnologias: esperança ou
incerteza? São Paulo: Cortez :Buenos Aires: Instituto Internacional de Planeamiento de
la Educación: Brasília : UNESCO, 2004. P. 17-75.
ELMBORG, J. Critical information literacy: implications for instructional practice. Journal
of academic librarianship, 2006, v. 32, n. 2, p.192-199.
FARÓIS da Sociedade da Informação. Declaração de Alexandria sobre Competência
informacional e aprendizado ao longo da vida. In: UNESCO. National Fórum on
Information Literacy. Disponível em: http://www.ifla.org/III?wsis?BeaconInfSoc-
pt.html19/7/2006 Acesso em: maio de 2006.
IFLA . Presitential Committee for the International Agenda on Lifelong Literacy. Final
Report, outubro de 2005. 15p.
IFLANET. Portal. Disponível em: http://www.ifla.org .Acesso em: Maio 2006.
KUHLTHAU, C.C. Seeking meaning: a process approach to library and information
services. Norwood, NJ: Ablex, 1993.
LOERTSCHER, David V.; WOOLLS, Blanche. Competência em informação: ajudando
bibliotecários a aplicar a pesquisa no ensino da habilitação básica em obtenção de
informação pelos usuários – a importância da interface humana. In: Competência em
informação na sociedade da aprendizagem. Bauru: Kairós, 2005. p.55-56..
MACEDO, Neusa D. (Org.). Biblioteca escolar em debate: da memória profissional a um
fórum virtual. São Paulo: SENAC:Conselho Regional de Biblioteconomia – 8a. Região –
São Paulo, 2005.
MORAN, José Manuel. Como utilizar a internet na educação. Ciência da Informação,
v.26, n.2, 1997. 8p.

16
MORESI, Eduardo A. Dutra. Delineando o valor do sistema de informação de uma
organização. Ciência da Informação, v. 29, n. 1, p. 14-24, jan./abr. 2000.
RYCHEN, D.S.; TIANA, A. Developing key competencies in education: some lessons
from international experience. Paris: UNESCO/International Bureau of Education, 2004.
80p.
SAMIER, Henry, SANDOVAL, Victor. La recherche intelligente sur l’internet: outils et
méthodes. Paris: Ed. Hermes, 1998. 155 p.
SEIDELIN,S.; HAMILTON, S.; STURGES, P. (ed.). Libraries for lifelong literacy:
unrestricted access to information as a basis for lifelong learning and emporwerment.
Copenhagen: IFLA:FAIFFE, 2004.102p. ( IFLA/FAIFFE World Report Series vol.IV:
IFLA/FAIFFE Theme Report 2004).
UNESP. Portal. Disponível em: http://www.unesp.br . Acesso em : maio 2006.
UNICAMP. Portal. Disponível em: http://www.unicamp.br .Acesso em: maio 2006.
USP. Portal. Disponível em: http://www.usp.br . Acesso em : maio 2006.
WSIS, 2006. Disponível em: http://www.ifla.org/III/wsis.html#PrepCom-1 . Acesso
em: maio 2006.

17

Você também pode gostar