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Objetivos da Unidade:
ʪ Material Teórico
ʪ Material Complementar
ʪ Referências
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ʪ Material Teórico
Introdução
Anteriormente, deixamos a seguinte pergunta de encerramento: "Como você descreveria a
localização das lesões que uma vítima apresenta?"
A resposta você vai descobrir durante a nossa conversa nesta Unidade. Chegou o momento de
relembrarmos aquelas aulas de Ciências no ensino fundamental e de Biologia no ensino médio.
Naquele tempo ouvíamos falar de anatomia humana e nem sequer imaginávamos que um dia
iríamos precisar desse conhecimento. Enfim, aqui estamos.
Imagine que você solicitou socorro especializado para o atendimento de uma vítima de acidente
que apresenta várias lesões pelo corpo e o atendente acabou de lhe perguntar: você poderia, por
gentileza, descrever os locais das supostas lesões no corpo da vítima?
Responderia que não sabe como se chamam as partes do corpo com os ferimentos? Diria
qualquer coisa para não demonstrar desconhecimento? Lembre-se de que suas informações
podem fazer toda a diferença para o tipo de atendimento que a vítima receberá.
Bom, então é melhor começarmos logo a tratar de entender como se divide o corpo. Está
preparado?
Antes, porém, é necessário rever algumas definições básicas; afinal, você sabe a diferença entre
anatomia e fisiologia humana? Sabia que uma está diretamente ligada à outra?
Anatomia é a ciência da estrutura e de suas relações. Fisiologia é a ciência das funções do corpo,
ou seja, é o estudo de como as partes do corpo atuam.
Planos Anatômicos
Cada estrutura do nosso corpo exerce uma função específica. O corpo humano possui seis níveis
de organização estrutural: químico, celular, tecidual, de órgãos, de sistemas e de organismo.
Vamos iniciar nossa conversa a partir do nível dos órgãos, onde as células dos diferentes tipos
de tecidos já estão unidas, formando a estrutura dos respectivos órgãos, que são facilmente
reconhecidos, os quais, por sua vez, formam os sistemas, que compõem o organismo. Com você
sabe, o coração se localiza na caixa torácica, enquanto o estômago e os intestinos estão na
região abdominal.
É como se tivéssemos um mapa corporal para saber a localização exata de cada órgão.
Vamos fazer uma dinâmica... Se você se posicionar de frente para um espelho em que possa se
ver de corpo inteiro, ficando com os pés juntos, em paralelo, voltados para a frente, e com os
braços estendidos ao longo do corpo, com a palma das mãos virada para o espelho, você estará
exatamente na posição chamada anatômica.
Dessa posição anatômica é mais fácil entender alguns pontos específicos de referência, como
direita, esquerda, inferior, superior, anterior e posterior. Esses pontos ficam muito bem
definidos quando se divide o corpo humano em três planos, chamados planos anatômicos:
plano sagital, que se estende verticalmente ao longo do corpo, dividindo-o nas partes direita e
esquerda; plano frontal ou coronal, que passa longitudinalmente e divide o corpo nas partes
anterior (frontal) e posterior (dorsal); e, por último, plano transversal, também chamado plano
horizontal, que divide o corpo nas partes superior e inferior.
Figura 1 – Planos anatômicos
Fonte: Getty Images
Há outras formas de definir pontos específicos em nosso corpo, como distal, medial e proximal,
tendo como referência o coração. Podemos afirmar que nossas mãos estão na posição distal,
nossos ombros estão na posição proximal e a articulação dos cotovelos está na posição medial.
Figura 2 – Posição anatômica
Fonte: Adaptada de Getty Images
Vídeo
Introdução à Anatomia: Posição Anatômica e Termos de Relação |
Anatomia etc
Assista ao vídeo a seguir e conheça mais sobre os termos e
nomenclaturas anatômicas:
Você já observou, por exemplo, que os órgãos vitais (coração e pulmões) são os únicos
protegidos por uma armadura de ossos, ou seja, os doze pares de costelas na caixa torácica, que
funcionam como um amortecedor de impactos. Não é incrível?
Percebeu também que, apesar de a maioria dos órgãos se localizar na região abdominal, não têm
nenhuma proteção? Isso significa que qualquer golpe ou impacto nessa região afetará
diretamente algum órgão e, dependendo da lesão, a vítima poderá apresentar um quadro grave
com risco à sua vida.
Entende agora a importância de saber diagnosticar não só uma possível lesão na vítima
acidentada, mas principalmente sua localização anatômica?
Como dissemos anteriormente, os órgãos formam os sistemas, então daí podemos dizer que um
sistema consiste em um conjunto de órgãos relacionados com um mesmo propósito. Por
exemplo, o sistema digestivo tem como principais órgãos: boca, faringe, esôfago, estômago,
fígado, pâncreas, vesícula e os intestinos grosso e delgado. Todos atuam no metabolismo dos
alimentos.
Figura 3 – Órgãos do sistema digestivo
Fonte: Getty Images
#ParaTodosVerem: Ilustração de uma silhueta do corpo humano até a metade
das pernas, com a cabeça voltada para o lado esquerdo e a palma das mãos
voltada para a frente. Na imagem um desenho mostra a boca, a faringe, o
esôfago, o estômago, o fígado, o pâncreas, a vesícula e os intestinos grosso e
delgado, órgãos que compõem o sistema digestivo humano. Fim da descrição.
Você Sabia?
A pele é o maior órgão do corpo humano e responsável por 16% do peso
corporal. Reveste uma superfície de aproximadamente dois metros
quadrados. É a principal barreira física contra o meio externo e exerce
diversas funções, entre elas a de manter o controle da temperatura
corporal.
Quando se fala de hemorragia, o que nos vem logo à cabeça é um vazamento de sangue. É preciso
lembrar também que nesse momento o sistema circulatório da vítima está comprometido e que,
dependendo do vaso sanguíneo afetado, o organismo da vítima vai apresentar diversos sinais e
sintomas (adiante vamos falar mais a respeito desses termos).
É claro que, em caso de artéria ou veia lesionada, é necessário estancar o sangramento o quanto
antes. Porém, como as artérias conduzem sangue rico em oxigênio e nutrientes do coração para
as células e as veias recolhem das células o sangue rico em gás carbônico, conduzindo-o ao
coração e deste para os pulmões, onde ocorrerá a troca gasosa chamada hematose, uma
hemorragia arterial é muito mais grave e prejudicial do que uma hemorragia venosa, além de o
volume de perda ser bem maior, porque o sangue arterial é bombeado pelos impulsos cardíacos.
Você percebeu que acabou de ler uma descrição bem suscinta do sistema circulatório humano?
Lembre-se de que a grande circulação ocorre do coração para as células e vice-versa e que a
pequena circulação acontece entre o coração e os pulmões e vice-versa.
Outro sistema que se deve levar em conta em um acidente ou mal súbito é o esquelético,
responsável pela sustentação e proteção do corpo, produção e armazenagem das células
sanguíneas, além de fixar o sistema muscular, auxiliando nos movimentos. Pense em uma
vítima com suspeita de fratura, ou seja, de interrupção da continuidade de um dos 206
segmentos ósseos do corpo, e na possibilidade de um osso fraturado atingir e perfurar uma
artéria, o que potencializa sobremaneira a gravidade e a necessidade de intervenção imediata.
Com o conhecimento sobre a anatomia e a fisiologia humana, você passa automaticamente a ver
o atendimento pré-hospitalar sob uma nova ótica.
Agora que você entendeu bem a relação de um acidente com a parte anatômica e fisiológica da
vítima, imagine os danos causados por uma fratura de fêmur (o maior osso do corpo humano)
com perfuração da artéria femoral?
Para concluir o assunto, voltemos a falar sobre os seis níveis de organização estrutural do corpo
humano. Lembre-se de que o organismo é o mais alto nível, pois é a combinação de todos os
sistemas, e qualquer alteração no equilíbrio de qualquer um dos sistemas se reflete diretamente
no organismo.
Cinemática do Trauma
A palavra “cinemática” vem do grego kinema, que significa “movimento”. A cinemática é a parte
da mecânica que se ocupa da descrição dos movimentos de pontos, corpos ou sistemas de
corpos, sem se preocupar com a análise das causas.
Ao imaginarmos como um acidente ocorreu, podemos supor as possíveis lesões sofridas pela
vítima e até os órgãos que provavelmente foram atingidos. Isso é chamado de cinemática do
trauma.
Vamos imaginar uma vítima que caiu de uma laje. Dependendo da forma que ela caiu, podemos
supor as lesões possivelmente sofridas e os órgãos provavelmente atingidos. Se ela caiu em pé,
podemos supor que tenha sofrido lesões nos membros inferiores (nos pés e nas pernas) com
potencial comprometimento da coluna vertebral. Se ela caiu de frente para o solo, as lesões mais
prováveis poderão estar localizadas no tórax, nos membros superiores e também na região da
face.
As duas ilustrações mostram vítimas de atropelamento por veículo. As lesões provavelmente não
serão as mesmas nem os pontos atingidos, em razão do tipo de veículo (um é maior, mais alto e
mais pesado que o outro), do local do impacto e, claro, da velocidade dos automóveis.
Olhando para uma pessoa a uns dois metros de distância, você conseguiria afirmar com toda
certeza que ela está com uma hemorragia no nariz?
Provavelmente, sim.
Mas conseguiria também afirmar, a essa mesma distância, que ela está com tontura e sede?
A hemorragia no nariz é um sinal evidente, que você consegue observar na vítima, ao passo que
ela precisa lhe dizer que está com tontura e sede para você saber desses sintomas.
São detalhes que você pode descobrir fazendo o uso dos sentidos – visão, tato, audição e olfato
– durante a avaliação da vítima.
Sintoma: é toda informação que você obtém somente através do relato da vítima.
São sensações que a vítima experimenta e é capaz de descrever. Às vezes pode ser necessário
perguntar à vítima consciente se sente dor e onde exatamente. Além da dor, existem outros
sintomas que podem ajudar no diagnóstico, como náuseas, vertigem, calor, frio, fraqueza e
sensação de mal-estar.
Análise de Cenário
Ao ouvir falar de análise de cenário em um local de acidente, você deve imaginar que se trata de
uma investigação após a ocorrência para identificar as possíveis causas. Realmente, esse é
mesmo um dos aspectos da análise de cenário. No entanto, também pode se concentrar em
evitar que o acidente ocorra de novo ou prevenir que aconteça pela primeira vez (alguns autores
chamam esses procedimentos de análise de risco).
Em contexto laboral, a análise de risco busca identificar todas as ameaças que possam existir em
ambiente de trabalho, visando à implantação ou à correção de medidas que previnam todos os
envolvidos nas atividades, além de proporcionar a possibilidade de registrar, classificar e
comparar os variados níveis de riscos e impactos, auxiliando na tomada de decisão para a adoção
dos procedimentos de segurança mais adequados para cada atividade.
Tão importante quanto a cinemática do trauma é a análise de cenário de uma ocorrência. Isso
porque, além de contribuir para o entendimento dos fatos, tem a valiosa função de prevenção, na
medida em que, identificadas as possíveis causas do acidente, é possível prevenir-se e evitar que
haja outras vítimas.
Podem parecer improváveis, mas acidentes assim são muito mais comuns do que você imagina.
Durante as minhas instruções, costumo exemplificar a importância da análise de cenário
fazendo a seguinte pergunta aos participantes:
Mesmo sem saber nadar, você pode tentar salvar alguém que esteja se afogando?
No entanto, quando refaço a pergunta pela terceira ou quarta vez, alguns já mudam de opinião e
respondem que talvez, que depende, ou simplesmente dizem “Sim!”.
Então pergunto: por que mudaram a resposta se a pergunta foi exatamente a mesma todas as
vezes?
É simples... Na primeira vez, responderam por impulso, no calor da emoção, já nas vezes
seguinte tiveram um pouco mais de serenidade e calma para avaliar melhor a situação e definir a
melhor estratégia.
Percebeu que não detalhei as circunstâncias em que a pessoa se encontrava? Apenas disse que
estava se afogando, porém poderia ser em qualquer local, como em uma piscina, em um lago,
mas próximo à margem, ou até mesmo em alto-mar.
Para tentar salvá-la você talvez nem precisasse se molhar, você poderia, por exemplo, oferecer-
lhe uma boia, uma corda ou até um galho de árvore.
Essa história é apenas para lembrar você de que, diante de toda e qualquer situação de
emergência, a primeira atitude para não se expor a riscos desnecessários deve ser analisar o
cenário e agir com a razão. Nunca se deve deixar a emoção ficar em primeiro plano, porque isso
pode induzir você a tomar decisões no mínimo inseguras para você ou até mesmo para a própria
vítima que conta com sua ajuda.
Biossegurança
Para iniciarmos este tópico, é bom lembrarmos que, etimologicamente, o termo biossegurança é
composto pelo elemento de composição “bio” (do grego bíos), que significa “vida”, e por
“segurança”. A palavra, portanto, expressa a noção ou a ideia de segurança da vida. No caso,
estamos tratando da sua própria vida.
Se você já teve a oportunidade de viajar de avião, talvez se recorde das orientações passadas pelas
comissárias de bordo: “Senhores passageiros, em caso de emergência, cairão automaticamente
máscaras faciais de oxigênio. Coloque sua máscara primeiro e depois em quem estiver ao seu
lado precisando de ajuda”.
Talvez por não entenderem essa orientação, muitas pessoas não concordam com ela quando
consideram o caso de pessoas viajando com uma criança. Se pararmos para analisá-la,
reconheceremos que faz todo o sentido, em qualquer circunstância. Em uma situação real de
emergência, para que se possa cuidar de uma pessoa ou prestar atendimento a alguém, é preciso
estar em condições para tal. Se uma pessoa não colocar a máscara de oxigênio primeiro, pode
ser que não tenha tempo de colocá-la na criança antes de ficar inconsciente, e daí suas chances
de sobrevida passam a ser responsabilidade de outra pessoa qualquer (e, geralmente, em uma
emergência desse tipo, cada um se preocupa, sobretudo, com a própria sobrevivência e a dos
familiares).
E para isso se faz necessário o uso dos equipamentos de proteção individual (EPIs), que são
basicamente estes: luvas, óculos de segurança e máscara de proteção.
Figura 6 – Equipamentos de proteção individual (EPI)
Fonte: Getty Images
Com certeza, neste exato momento, você deve estar se perguntando: “E se eu não tiver esses
itens? O que eu posso ou devo fazer?”.
Cabe aqui então reforçar que, se você não se sentir em condições seguras para prestar o
atendimento à vítima, você não é obrigado a fazê-lo, porém isso não o impede de tomar algumas
ações que provavelmente poderão auxiliar na situação, como sinalizar o local, comunicar órgãos
públicos de serviços de emergência, oferecer apoio emocional à vítima. Qualquer uma dessas
atitudes vai ser muito bem vista e aceita por todos que estejam envolvidos na ocorrência.
Se você achar que pode fazer mais do que isso, lembre-se da nossa enorme capacidade de prover
recursos utilizando-se dos meios disponíveis. Contudo, um alerta: não queira ser um herói –
seja sempre um profissional, pois os profissionais vivem para narrar suas experiências e servir
como referências.
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ʪ Referências
TORTORA, G. J.; DERRICKSON, B. Corpo Humano. Porto Alegre: Grupo A, 2017. (e-book).
Disponível em: <https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788582713648/>. Acesso
em: 02/08/22.