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O Dicionário

O Dicionário dada
O Dicionário Vida
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Vida
Diária
Diária
Diária
na na
Antiguidade
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Antiguidade
Antiguidade
Bíblica
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Bíblica
e Pós-Bíblica
e Pós-Bíblica
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Diária
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Bíblica
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religiosas,
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Dança,
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Drama
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Música;
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• Beleza:
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Cabelos,
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Cosméticos,
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Joias,
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Perfumes,
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Roupas;
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• Costumes:
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Banquetes,
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Ferramentas
Ferramentas
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& Utensílios,
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Juramentos
Juramentos
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& Votos,
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& Luto
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Luto
& Pranto;
Luto
& Pranto;
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• Dinâmica
• Dinâmica
• Dinâmica
Social:
Social:
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Armas,
Armas,
Armas,
Escravidão,
Escravidão,
Escravidão,
Exércitos,
Exércitos,
Exércitos,
Idade
Idade
&Idade
Idosos,
& Idosos,
& Idosos,
Riqueza
Riqueza
Riqueza
& Pobreza,
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Tecnologia
Tecnologia
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Militar
Militar
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& Táticas,
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Viúvas
Viúvas
Viúvas
& Órfãos;
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• Leis
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Leis
e Governo:
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Alfabetização,
Alfabetização,
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Cidadãos
Cidadãos
Cidadãos
& Estrangeiros,
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Educação,
Educação,
Educação,
Herança,
Herança,
Herança,
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Crimes,
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Crimes,
Mendigos
Mendigos
Mendigos
& Esmolas,
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Polícia
Polícia
Polícia
& Prisões,
& Prisões,
& Prisões,
Tributação;
Tributação;
Tributação;
• Relacionamentos:
• Relacionamentos:
• Relacionamentos:
Adoção,
Adoção,
Adoção,
Beijos
Beijos
&Beijos
Abraços,
& Abraços,
& Abraços,
Casamento,
Casamento,
Casamento,
Parto
Parto
&Parto
Crianças;
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• Saúde
• Saúde
• Saúde
e higiene:
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Banhos
Banhos
Banhos
& Lavagens,
& Lavagens,
& Lavagens,
Doenças
Doenças
Doenças
& Pragas,
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& Pragas,
Odontologia
Odontologia
Odontologia
& Dentes,
& Dentes,
& Dentes,
Produção
Produção
Produção
de Alimentos,
de Alimentos,
de Alimentos,
Saneamento;
Saneamento;
Saneamento;
• Trabalho
• Trabalho
• Trabalho
e negócios:
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e negócios:
Açougueiros
Açougueiros
Açougueiros
& Carne,
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& Agricultura,
Carne,
Agricultura,
Agricultura,
Empréstimos,
Empréstimos,
Empréstimos,
Peixe
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&Peixe
Pesca;
& Pesca;
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• Vida
• Vida
doméstica:
• Vida
doméstica:
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Aquecimento
Aquecimento
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& Iluminação,
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Cidades,
Cidades,
Cidades,
Moradias,
Moradias,
Moradias,
Móveis;
Móveis;
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• Outros:
• Outros:
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Árvores,
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Aves,
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Cães,
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Cães,
Camelos,
Cães,
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Insetos,
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Plantas
Plantas
Plantas
& Flores.
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Autores
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História
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Igreja
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Gnosticismo
Gnosticismo
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e Arqueologia.
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Marvin
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Traduzido por Luís Aron de Macedo

1ª edição

Rio de Janeiro
2020

Dicionario Da Vida Diaria.indb 1 29/09/2020 13:45


Todos os direitos reservados. Copyright © 2020 para a língua portuguesa da Casa
Publicadora das Assembleias de Deus. Aprovado pelo Conselho de Doutrina.

Título do original em inglês: Dictionary of Daily Life in Biblical & Post-Biblical Antiquity
– Complete in One Volume – A-Z
Peabody, Massachusetts, EUA
Primeira edição em inglês: 2017
Tradução: Luís Aron de Macedo

Preparação dos originais: Cristiane Alves


Revisão: Miquéias Nascimento
Capa: Elisangela Santos
Projeto gráfico e editoração: Elisangela Santos

CDD: 403 – Dicionário


ISBN: 978-65-86146-41-7

As citações bíblicas foram extraídas da versão Almeida Revista e Corrigida, edição


de 2009, da Sociedade Bíblica do Brasil, salvo indicação em contrário.

Para maiores informações sobre livros, revistas, periódicos e os últimos lançamentos


da CPAD, visite nosso site: https://www.cpad.com.br.

SAC — Serviço de Atendimento ao Cliente: 0800-021-7373

Casa Publicadora das Assembleias de Deus


Av. Brasil, 34.401, Bangu, Rio de Janeiro – RJ
CEP 21.852-002

1ª edição: 2020
Tiragem: 2.000

Dicionario Da Vida Diaria.indb 2 29/09/2020 13:45


Missão

A missão primordial e intransferível da CPAD é proclamar, por meio da página


impressa, o Evangelho de nosso Senhor Jesus Cristo no Brasil e no exterior; edificar
a Igreja de Cristo por intermédio de literaturas ortodoxas, que auxiliem os obreiros
cristãos no desenvolvimento de suas múltiplas tarefas no Reino de Deus, além de
educar a sociedade e a igreja por intermédio da Escola Dominical, que evangeliza
enquanto ensina. Nosso maior presente é pensar no futuro.

Dicionario Da Vida Diaria.indb 3 29/09/2020 13:45


Dicionario Da Vida Diaria.indb 4 29/09/2020 13:45
SUMÁRIO
Colaboradores.....................................................................................................11
Reduções Gráficas (Abreviações Gerais e Siglas)................................................13
Períodos, Eras e Datas.........................................................................................37
Introdução...........................................................................................................41

Aborto.................................................................................................................45
Açougueiros & Carne..........................................................................................50
Adivinhação & Lançamento de Sortes...............................................................58
Adoção................................................................................................................83
Adultério.............................................................................................................89
Afrodisíacos & Feitiços Eróticos..........................................................................96
Agricultura........................................................................................................102
Alfabetização.....................................................................................................109
Amamentação & Ama de Leite........................................................................118
Animais Selvagens & Caça...............................................................................141
Aquecimento & Iluminação..............................................................................164
Aquedutos & Abastecimento de Água..............................................................178
Armas................................................................................................................185
Arquivos............................................................................................................207
Arte...................................................................................................................213
Árvores..............................................................................................................221
Astrologia..........................................................................................................245
Atletismo...........................................................................................................252
Aves...................................................................................................................259
Bancos & Empréstimos.....................................................................................271
Banhos & Lavagens...........................................................................................279
Banquetes..........................................................................................................288
Barbas & Barbeiros...........................................................................................296
Barcos & Navios................................................................................................304
Bebidas Alcoólicas.............................................................................................313
Beijos & Abraços...............................................................................................321
Bibliotecas & Livros..........................................................................................333
Cabelos..............................................................................................................362
Cães...................................................................................................................374
Calendários.......................................................................................................382
Camelos............................................................................................................391
Casamento........................................................................................................396
Cavalos..............................................................................................................421
Celibato.............................................................................................................428
Censo................................................................................................................435
Cerâmica & Peças de Cerâmica........................................................................443
Cidadãos & Estrangeiros...................................................................................450

Dicionario Da Vida Diaria.indb 7 29/09/2020 13:45


Dicionário da Vida Diária na Antiguidade Bíblica & Pós-Bíblica

Cidades.............................................................................................................463
Comércio...........................................................................................................477
Comunicações & Mensageiros..........................................................................488
Consumo de Alimentos.....................................................................................506
Contracepção & Controle de Natalidade.........................................................529
Cosméticos........................................................................................................536
Couro................................................................................................................542
Dança................................................................................................................551
Debulha & Joeiramento....................................................................................564
Demônios..........................................................................................................576
Divórcio.............................................................................................................591
Doenças & Pragas.............................................................................................611
Drama & Teatros..............................................................................................630
Educação...........................................................................................................652
Escravidão.........................................................................................................685
Espetáculos........................................................................................................707
Estupro..............................................................................................................716
Eunucos.............................................................................................................731
Exércitos............................................................................................................739
Ferramentas & Utensílios..................................................................................747
Foles & Fornos...................................................................................................760
Garrafas & Vidro..............................................................................................767
Herança............................................................................................................775
Idade & Idosos..................................................................................................783
Incenso..............................................................................................................791
Infanticídio & Abandono de Bebês...................................................................805
Insetos...............................................................................................................816
Jogos & Jogos de Azar.......................................................................................832
Joias...................................................................................................................846
Jumentos & Mulas.............................................................................................859
Juramentos & Votos...........................................................................................866
Lavanderia & Pisoeiros......................................................................................877
Leis & Crimes....................................................................................................888
Leite & Produtos Lácteos..................................................................................905
Luto & Pranto...................................................................................................918
Magia................................................................................................................944
Marfim..............................................................................................................961
Medicina & Médicos.........................................................................................982
Meio de Troca.................................................................................................1002
Mendigos & Esmolas.......................................................................................1013
Menstruação...................................................................................................1021
Metalurgia.......................................................................................................1032
Mineração.......................................................................................................1065
Moradias.........................................................................................................1086
Morte & a Vida após a Morte.........................................................................1106
Móveis.............................................................................................................1124
8

Dicionario Da Vida Diaria.indb 8 29/09/2020 13:45


Sumário

Música.............................................................................................................1137
Nomes.............................................................................................................1146
Odontologia & Dentes....................................................................................1171
Ossos & Objetos de Ossos...............................................................................1188
Palácios............................................................................................................1196
Parto & Crianças.............................................................................................1215
Pecuária...........................................................................................................1224
Peixe & Pesca...................................................................................................1230
Perfumes..........................................................................................................1238
Plantas & Flores..............................................................................................1253
Polícia & Prisões..............................................................................................1266
Portas & Chaves..............................................................................................1284
Portos..............................................................................................................1294
Produção de Alimentos...................................................................................1313
Prostituição......................................................................................................1330
Pureza & Impureza.........................................................................................1339
Relações Sexuais entre Pessoas do mesmo Sexo.............................................1353
Riqueza & Pobreza.........................................................................................1366
Roupas............................................................................................................1389
Sacrifícios Humanos.......................................................................................1402
Saneamento....................................................................................................1423
Selos................................................................................................................1447
Sonhos.............................................................................................................1455
Suborno..........................................................................................................1477
Tecidos............................................................................................................1484
Tecnologia Militar & Táticas..........................................................................1499
Tempo.............................................................................................................1509
Tingimento.....................................................................................................1520
Tributação.......................................................................................................1528
Virgens & Virgindade.....................................................................................1537
Viticultura.......................................................................................................1556
Viúvas & Órfãos..............................................................................................1564

Referências Bibliográficas Selecionadas..........................................................1581

Dicionario Da Vida Diaria.indb 9 29/09/2020 13:45


Dicionario Da Vida Diaria.indb 10 29/09/2020 13:45
Dicionario Da Vida Diaria.indb 36 29/09/2020 13:45
PERÍODOS, ERAS E DATAS
Com a exceção de algumas passagens que tratam de “começos” ou “origens” (e.g.,
Gn 1–11; Sl 104; Jo 1.1-5), a Bíblia, conforme recebida, relata eventos na vida de
indivíduos, tribos e nações localizados primariamente no Antigo Oriente Próxi-
mo, que, ao que parece, ocorreu durante um período de aproximadamente 1.800
anos, isto é, de aproximadamente 1700 a.C. a 100 d.C. Os eventos retratados na
Bíblia abrangem um período que viu o desenvolvimento da tecnologia desde o uso
do bronze ao uso do ferro no Antigo Oriente Próximo a partir de Anatólia até a
Mesopotâmia e até ao Egito. Esse mesmo período viu o desenvolvimento político
das culturas tribais até à ascensão (e queda) de grandes impérios — Egito, Assíria,
Babilônia, Pérsia, Grécia e Roma, entre outros que figuram menos proeminen-
temente no texto bíblico. Inúmeras religiões importantes floresceram (e muitas
caíram em desuso) durante esse mesmo período (e.g., as religiões egípcias, assírias,
babilônicas, persas, gregas e romanas, bem como o judaísmo e o cristianismo),
sem mencionar outras religiões de caráter mais local ou tribal (e.g., as religiões
filisteias, arameias, edomitas e amonitas).
Há pouca evidência de como a passagem de longos períodos de tempo foi
marcada na pré-história. Com o advento dos grandes impérios, os reinos de reis
e dinastias e o domínio de nações começaram a ser usados para marcar a pas-
sagem de longos períodos de tempo. A convenção moderna marca, obviamente,
a passagem do tempo usando datas do calendário, que no mundo ocidental são
marcadas como a.C. (ou AEC — Antes da Era Comum) e d.C. (ou EC — Era
Comum) em torno da data aproximada do nascimento de Jesus de Nazaré durante
o período do Império Romano. Mas também é uma convenção moderna usar
o desenvolvimento da tecnologia para marcar longos períodos de tempo, e.g., as
várias Idades da Pedra, a Idade do Cobre ou Calcolítico, as Idades do Bronze e
as Idades do Ferro. E, além disso, continua uma convenção para marcar alguns
períodos de tempo pelo domínio de líderes políticos, dinastias e nações.
Os vários termos usados para os períodos de tempo encontrados neste Dicio-
nário são geralmente definidos por datas aproximadas dentro dos artigos em que
são usados e, no caso de períodos que cobrem milênios, fornecem-se aproximações
mais próximas das datas dos eventos dentro de um determinado período. Por
conveniência, no entanto, as tabelas a seguir fornecem uma lista desses períodos
e idades, bem como as durações de grandes impérios (ou dinastias dentro de um
império), marcando períodos de tempo significativos no Antigo Oriente Próximo,
acompanhados por suas datas aproximadas e comumente associadas.

ERAS TECNOLÓGICAS
As idades tecnológicas variam muito de um lugar para outro, mesmo dentro do
Antigo Oriente Próximo. As datas a seguir, que abrangem determinada tecnologia,
devem ser vistas como altamente aproximadas, como representantes do Antigo
Oriente Médio em geral e como sujeitas a debate acadêmico permanente. As

Dicionario Da Vida Diaria.indb 37 29/09/2020 13:45


INTRODUÇÃO
O Dicionário da Vida Diária na Antiguidade Bíblica e Pós-Bíblica, do qual este é o quarto
e último volume, foi um projeto iniciado há 30 anos com a colaboração do reno-
mado estudioso do Antigo Testamento Roland K. Harrison (1920-1993), a quem
Marvin Wilson e eu dedicamos esta obra de referência. Na concepção original
do projeto, Harrison, Wilson e eu escreveríamos todos os artigos para uma obra
intitulada Dicionário de Usos e Costumes Bíblicos. Posteriormente, tornou-se vantajoso
engajar as habilidades de pesquisa e escrita de outros acadêmicos selecionados
do mundo antigo.
Embora haja muitos dicionários e enciclopédias bíblicos excelentes, bem como
livros populares sobre o pano de fundo bíblico, notei uma séria deficiência. Obser-
vei que, enquanto cada um deles tinha um verbete sobre “abominação”, nenhum
(com exceção do Anchor Bible Dictionary em seis volumes) tinha um verbete sobre
“aborto”. Por quê? Porque essas obras de referência foram sincronizadas com as
palavras que ocorrem na Bíblia.
Pelos meus 40 anos de ensino de história da antiga Mesopotâmia, Egito, Grécia,
Roma, judaísmo primitivo e cristianismo primitivo, encontrava-me devidamente
ciente da prática disseminada do aborto, contracepção e infanticídio nessas so-
ciedades e épocas. Propus, portanto, uma nova estrutura para o Dicionário da Vida
Diária na Antiguidade Bíblica e Pós-Bíblica, uma baseada nos Arquivos da Área das
Relações Humanas, uma grade antropológica da sociedade humana, que exami-
naria sistemática e comparativamente diferentes aspectos da cultura, fossem eles
destacados na Bíblia ou não.
Os textos bíblicos não tinham a intenção de dar uma representação completa
do seu mundo. Na verdade, tomam como certo o que era bem conhecido pelos
escritores e leitores, mas do qual não estamos cientes. É como se ouvíssemos a
vocalização de um libreto de ópera, mas não vemos o cenário e o figurino dos
cantores. Graças aos textos extrabíblicos e à arqueologia, podemos recriar muito
do plano do fundo para a Bíblia.
Por exemplo, o que os antigos comiam e bebiam? No artigo sobre a PRODU-
ÇÃO DE ALIMENTOS, o leitor ficará sabendo que, antes da introdução dos
moinhos rotários, as donas de casa tinham de trabalhar com as mãos e os joelhos
cerca de quatro horas por dia para moer trigo e cevada para o pão de cada dia. A
maior parte do pão no mundo antigo era pão chato (sem fermento), porque o trigo
e a cevada predominantes na Mesopotâmia, no Egito e na Grécia não tinham o
glúten necessário para fazer o pão crescer.
Pelos artigos sobre LAVANDERIA & PISOEIROS, ROUPAS, TECIDOS e
TINGIMENTO, o leitor aprenderá que o linho branco era o tecido preferido no
Egito, e era usado pelos sacerdotes israelitas e pelos anjos do Novo Testamento.
Como se vestia Jesus? As únicas roupas que Jesus usou, com exceção da mortalha,
eram de lã. Posto que a lã não era lavada com facilidade, suas roupas ficariam
sujas, exceto no momento da transfiguração.

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Dicionário da Vida Diária na Antiguidade Bíblica & Pós-Bíblica

Como se parecia Jesus? Pelo artigo sobre BARBAS & BARBEIROS, podemos
concluir com quase certeza que Jesus tinha barba. Por quê? Porque os homens na
antiguidade não podiam barbear-se. Tinham de recorrer a escravos ou barbeiros
para fazer a barba. Além disso, as barbas eram símbolo de masculinidade e antigui-
dade. A palavra do Antigo Testamento para “anciãos” é literalmente “barbados”.
Onde as pessoas moravam? Isso variava de um lugar para outro e de um pe-
ríodo para outro. Pelo artigo sobre MORADIAS, o leitor saberá que, na era do
Antigo Testamento na Palestina, a maioria das pessoas vivia em casas com telhados
planos e pátios cheios de animais. Em Roma, 95% das pessoas viviam em ínsulas
(insulae), habitações lotadas sem cozinha ou banheiro.
E quanto às relações entre homens e mulheres? Pelos artigos sobre CASAMEN-
TO e EDUCAÇÃO, o leitor tomará conhecimento de um fato surpreendente, que
está ausente no Antigo e no Novo Testamento — a idade média dos cônjuges. As
nossas evidências extrabíblicas mostram que a noiva era uma jovem adolescente, e
o noivo, vários anos mais velho do que ela. O casamento prematuro das meninas,
para preservar sua pureza, significava que elas tinham, na melhor das hipóteses,
apenas uma educação primária, com exceção das ricas famílias romanas, que
podiam pagar professores particulares para suas filhas.
O Dicionário da Vida Diária na Antiguidade Bíblica e Pós-Bíblica é também bastante
singular na tentativa de rastrear os desenvolvimentos das características do mundo
bíblico segundo o que os historiadores franceses da Escola dos Annales chamaram
de longue durée, isto é, ao longo dos séculos após a era do Novo Testamento. É instru-
tivo entender como os rabinos judeus, seguindo as tradições dos fariseus, debatiam
sobre a aplicação das leis bíblicas na mudança das circunstâncias, e como os Pais
da Igreja também respondiam a esses mesmos desenvolvimentos.
Em vez de tentar cobrir todos os tópicos possíveis, optamos por concentrar-nos
em 120 assuntos, não por causa de sua proeminência no texto bíblico, mas por
causa dos papéis significativos que desempenharam no mundo antigo. Por exemplo,
temas como ADIVINHAÇÃO & LANÇAMENTO DE SORTES, ASTROLO-
GIA, MAGIA e SONHOS são mencionados com moderação nos textos bíblicos,
mas eram facetas dominantes da vida na antiguidade.
O esboço que cada colaborador seguiu foi para resumir brevemente as referên-
cias ao seu assunto: (1) no Antigo Testamento e (2) no Novo Testamento; seguido
por (3) o mundo do Oriente Próximo, principalmente a Mesopotâmia e o Egito,
com referências à Anatólia e à Pérsia; (4) o mundo greco-romano, dos minoicos e
micênicos, Homero, através da era helenística, da República Romana e do Império
Romano; (5) o mundo judaico, incluindo os apócrifos do Antigo Testamento, os
pseudepígrafos, Fílon, Josefo, os Manuscritos do Mar Morto, a Mishná e os Talmu-
des (Babilônico e de Jerusalém); e (6) o mundo cristão, incluindo os Pais da Igreja
até Crisóstomo e Agostinho, tal qual o início do Império Bizantino até Justiniano.
Cada artigo termina com uma bibliografia que fornece fontes primárias para o
artigo e material para estudo adicional. Além disso, os artigos são cuidadosamente
cruzados com outros artigos impressos ou planejados.
As citações do Antigo Testamento e do Novo Testamento, salvo indicação em
contrário, são da Almeida Revista e Corrigida (2009). As citações da Septuaginta
(LXX) são tiradas de A. Pietersma e B. G. Wright, tradutores, A New English Trans-
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Introdução

lation of the Septuagint (New York: Oxford University Press, 2007). As citações do
Tosefta são de J. Neusner, The Tosefta (2 vols.; Peabody, MA: Hendrickson, 2013,
reimpressão). As citações dos Midrashim são de Soncino Midrash Rabba for Macintosh
(Copyright Institute for Computers in Jewish Life and Davka Corporation, 2008).
As citações dos apócrifos do Antigo Testamento são de Revised Standard Version;
as dos pseudepígrafos do Antigo Testamento são de James H. Charlesworth, ed.,
The Old Testament Pseudepigrapha (2 vols.; Garden City, NY: Doubleday, 1983, 1985).
As citações clássicas (incluindo Fílon e Josefo) são da Loeb Classical Library. As
referências aos Manuscritos do Mar Morto são de The Dead Sea Scrolls: A New
Translation, de Michael Wise, Martin Abegg Jr. e Edward Cook (ed. rev.; New
York: HarperSanFrancisco, 2005). As citações da Mishná são de Herbert Danby,
traduzido para o inglês, The Mishnah (Oxford: Oxford University Press, 1933). As
citações do Talmude Babilônico são de The Soncino Talmud (Institute for Computers
in Jewish Life and Davka Corporation, 2007); as do Talmude de Jerusalém são
de The Jerusalem Talmud, A Translation and Commentary, ed. Jacob Neusner (Peabody,
MA: Hendrickson Publishers, 2009). Com a exceção das citações de Michael W.
Holmes, The Apostolic Fathers: Greek Texts and English Translations (3ª ed.; Grand Rapids:
Baker Academic, 2007), as referências patrísticas são de New Advent, Fathers of
the Church (www.NewAdvent.org; 2007; © Kevin Knight). As citações dos textos
de Nag Hammadi são citadas de Marvin Meyer, ed., The Nag Hammadi Scriptures
(New York: HarperOne, 2007).
Minha mais profunda gratidão vai, em primeiro lugar, a Marvin R. Wilson,
que examinou cuidadosamente todos os artigos e forneceu inumeráveis edições e
correções. Agradeço a Graham Harrison por permitir-nos atualizar e expandir os
excelentes verbetes de seu falecido pai. Desejo expressar minha gratidão a todos os
colaboradores, muitos dos quais eram meus alunos de doutorado na Universidade
de Miami. Meus agradecimentos vão também à minha esposa Kimi, que passou
incontáveis horas fotocopiando páginas de livros e periódicos. Também sou grato
a Sue Cameron, que checou as referências bíblicas e apócrifas para mim.
Marvin e eu expressamos nossos profundos agradecimentos a Allan Emery,
editor-chefe da editora Hendrickson, por ter passado boa parte dos últimos dois
anos antes de sua aposentadoria supervisionando o primeiro volume deste projeto,
e também a Carl Nellis por seu trabalho naquele volume. Também somos pro-
fundamente gratos a Jonathan Kline, nosso novo editor na Hendrickson, por sua
meticulosa e minuciosa supervisão do trabalho nos Volumes 2, 3 e 4, e a Hannah
Brown por sua assistência com os quatro volumes. Nosso apreço também vai para
John F. Kutsko, que ajudou com pesquisas nos primeiros estágios deste projeto de
dicionário. Agradecimentos especiais também são devidos a Foy D. Scalf, arquivista
chefe do Instituto Oriental da Universidade de Chicago, por fornecer-nos as fontes
de muitas citações do Oriente Próximo.
Por sua ajuda em fornecer algumas das fotografias para este dicionário, somos
gratos a Rami Arav (University of Nebraska em Omaha), Michal Artzy (University
of Haifa), Rozenn Bailleul-LeSuer (University of Chicago), Thomas E. Levy (Uni-
versity of California em San Diego), Danieli Master (Wheaton College), Amihai
Mazar (Hebrew University), Foy D. Scalf (University of Chicago), Steven L. Tuck
(Miami University) e Alain Zivie (Centre national de la recherche scientifique).
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Dicionário da Vida Diária na Antiguidade Bíblica & Pós-Bíblica

Por fim, nossa profunda gratidão vai para Andrew Pottorf, por sua valiosa
assistência com este projeto. Um jovem superdotado com um talento incomum
para escrever e editar, Andrew está atualmente cursando seu doutorado no departa-
mento de Línguas e Civilizações do Oriente Próximo na Universidade de Harvard.
Os autores deste dicionário e os editores da Hendrickson Publishers apreciam a
soberba erudição, dedicada ética de trabalho e grande flexibilidade de Andrew.

Edwin M. Yamauchi
Abril de 2016

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ABORTO
O aborto é a interrupção deliberada da gravidez, resultando na morte pretendi-
da do feto. Drogas abortivas que induzem o aborto eram conhecidas por muitas
culturas antigas, mas, devido ao perigo de aborto para a mulher, antes dos tempos
modernos, os métodos mecânicos de interromper intencionalmente uma gravidez
eram relativamente incomuns. Somente no final da República Romana e no início
do Império Romano o aborto generalizou-se. A maioria das outras culturas era
governada por códigos legais que indicavam uma retribuição severa por matar
um feto enquanto ele ainda estava no útero.

A. O ANTIGO TESTAMENTO
A Bíblia não aborda diretamente a questão do aborto, mas passagens como Jó
10.8-12; Salmos 51.5,6; 139.13-16; Jeremias 1.5 e Lucas 1.39-44 são citadas para
apoiar a crença de que o feto é um ser humano portador da imagem de Deus.
Êxodo 21.22,23 fala de dois casos envolvendo uma briga que machuca uma
mãe grávida. O texto hebraico é difícil de interpretar. Uma interpretação (e.g.,
RSV e NRSV) sustenta que, no primeiro caso, se um aborto espontâneo ocorrer
sem ferimentos à mãe, então se faz necessária compensação monetária. No segundo
caso, se a mulher for machucada, a regra da lex talionis (“a lei da retaliação”, e.g.,
“olho por olho”) é invocada. Alguns argumentam que essa frase estereotipada
não deve ser tomada literalmente, mas que quem machucou a mulher tinha de
compensar o marido pela morte de sua esposa ou de seu bebê. O texto hebraico
também pode ser interpretado como na NIV para significar que, no primeiro caso,
um nascimento prematuro de uma criança saudável ocorre sem ferimentos à mãe
ou à criança, e, no segundo caso, uma delas é ferida.
A tradução grega (a Septuaginta) de Êxodo 21.22,23 é bem diferente do he-
braico: “Agora, se dois homens lutam e atacam uma mulher grávida e seu filho sai
não completamente formado, ele será punido com uma multa. Segundo o marido
da mulher impor, ele deve pagar com avaliação judicial. Mas se for totalmente
formado, ele pagará vida por vida, olho por olho, dente por dente”. A distinção
entre uma criança “não formada” e uma criança “formada” pode ter sido influen-
ciada pela opinião de Aristóteles.

B. O NOVO TESTAMENTO
A palavra grega usual para o aborto, amblosis, nunca é usada no Novo Testamen-
to. Paulo, em sua humildade (1 Co 15.8), refere-se a si mesmo como extroma, que
pode significar aborto, mas que nesse contexto significa um aborto espontâneo
como expressão da miséria humana ou um embrião ainda em desenvolvimento.
É possível que a condenação daqueles que usavam “drogas” pharmakeia para fins
nefastos (Gl 5.20; Ap 9.21; 18.23) incluísse aqueles que usavam drogas abortivas.

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Dicionário da Vida Diária na Antiguidade Bíblica & Pós-Bíblica

C. O MUNDO DO ORIENTE PRÓXIMO


Há paralelos com Êxodo 21.22,23 no Código da Lei de Hamurábi (s. XVII a.C.).
A Lei 209 diz: “Se um cidadão bateu na filha de outro cidadão e lhe causou um
aborto espontâneo, ele deve pagar dez siclos de prata pelo feto”. A Lei 210 esti-
pula: “Se aquela mulher morreu, eles causarão a morte de sua filha” (ANET, 175).
Na posterior Lei da Assíria Média n° 21 (ca. 1600-1500 a.C.), alguém que, ao
atacar uma mulher causou um aborto, tinha de pagar dois talentos e 30 minas
de chumbo, ser açoitado e trabalhar para o rei por um mês. (ANET, 181). A Lei
nº 50, que é fragmentária, exige a “vida” pela morte do feto ou da mãe (ANET,
184). A Lei nº 53 condenava à empalação na estaca a mulher que teve um aborto
deliberado, se ela estivesse viva ou morta após o aborto. O aborto é atestado no
corpo médico da Babilônia em um único texto fragmentário: “fazer com que uma
mulher grávida ‘deixe cair’ o feto”. Entre os ingredientes, havia um lagarto, cer-
veja e várias plantas para serem bebidas no vinho. Havia também várias receitas
médicas mesopotâmicas para induzir a expulsão do feto, que incluíam o uso de
substâncias vegetais como a assa-fétida.
O Código Hitita (ca. 1300 a.C.), nos 17,18 (ANET, 190) exigia compensação
de qualquer um que fizesse com que uma mãe abortasse. A penalidade variava
de acordo com a idade do feto. A multa por um aborto causado no décimo mês
lunar era o dobro do causado no quinto mês.
Documentos jurídicos egípcios fragmentários oferecem poucas evidências de aborto.
O historiador Diodoro Sículo observou: “Eles criam todos os seus descendentes”.

D. O MUNDO GRECO-ROMANO
Pseudo-Galeno alegava que Licurgo, o grande legislador espartano (s. VIII a.C.),
e Sólon, o grande reformador ateniense (594 a.C.), proibiam o aborto. Enquanto
os espartanos, que precisavam de homens fortes para seus exércitos, proibiam o
aborto, eles praticavam a exposição de homens fracos e mulheres excessivas.
O famoso Juramento de Hipócrates fez com que os médicos jurassem: “Eu
não darei um remédio mortal (pharmakon) a ninguém, se for solicitado, nem farei
uma sugestão nesse sentido. Da mesma forma, não darei a uma mulher uma dro-
ga abortiva (pesson phthorion)” (EDELSTEIN, p. 2,3). Estudiosos acreditam que o
juramento reflete a crença pitagórica de que a alma está presente na concepção.
Há evidências, no entanto, do chamado Corpus Hipocrático de que os abortos
eram praticados. O tratado hipocrático Doenças das Mulheres lista vários supositórios
vaginais que, acreditavam-se, eram abortivos.
Embora Platão sustentasse que o feto era um ser vivo, para seu programa
eugênico, ele prescreveu a procriação apenas para homens entre 25 e 55 anos e
mulheres entre 20 e 40 anos de idade. Para os indivíduos fora dessas idades, “nós
os exortamos a assegurar que nenhuma criança, caso seja concebida, será trazida
à luz” (Resp. 5.9.459).
Aristóteles sustentava que o feto recebia uma “alma vegetativa ou nutritiva” no
momento da concepção, uma “alma animal ou sensível” em um estágio posterior
e uma “alma racional” à medida que o momento do nascimento aproximava-se.
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Aborto

Em História dos Animais 7.3, ele expressou a crença de que o primeiro movimento
ocorria no 40º dia para os homens e no 90º dia para as mulheres. Para conter o
excesso de população, ele sugeriu que o tamanho das famílias fosse limitado, se
necessário, por abortos (Pol. 7.15.25).
Os estoicos em geral sustentavam que o feto era apenas parte do corpo da mãe
e que sua vida começava com a primeira respiração. Por outro lado, Musônio Rufo,
importante moralista estoico romano, opunha-se ao aborto. Ele sustentava que o
único propósito do sexo é a procriação, uma visão adotada mais tarde pelos cristãos.
Como os estudiosos destacam, a eventual oposição grega e romana ao aborto não se
baseava em uma preocupação com o feto individual, mas com o bem-estar do estado.
O aborto generalizou-se no último século da República Romana e no início
do Império Romano. Cícero (s. I a.C.) pediu a pena capital em casos de aborto
deliberado (Em Defesa de Cluêncio 32). Embora Augusto tenha aprovado a legislação
para promover o casamento e a procriação, a lei romana adotou a visão estoica
de que o feto ainda não era uma pessoa.
Ovídio, que desagradava a Augusto com seus poemas eróticos, protestou
veementemente contra o aborto de sua ama Corina e escreveu: “Aquela mulher
que foi a primeira a rasgar um feto frágil de seu ventre merecia morrer de sua
própria carnificina. [...] Se essa prática viciosa tivesse encontrado favor entre as
mães dos bons velhos tempos, a raça humana teria se extinguido” (Am. 2.14.5-10).
Sêneca elogiou sua mãe por nunca ter destruído um filho em seu ventre. Nero
exilou sua esposa Otávia por ter feito um aborto. Domiciano foi culpado por ter
tido um caso com sua sobrinha e depois ordenado que ela fizesse um aborto, o
que causou a morte dela.
Juvenal denunciava mulheres ricas que se recusaram a ter filhos: “Tão poderosas
são as habilidades e drogas da mulher que fabrica esterilidade e aceita contratos
para matar humanos dentro da barriga” (Sat. 6.594-597). Essas mulheres da classe
alta valiam-se do aborto para esconder suas atividades sexuais ilícitas ou para evitar
serem desfiguradas pela gravidez.
Sorano de Éfeso (98-137 d.C.), a autoridade mais importante em ginecologia
da antiguidade, afirmava que o aborto só era permissível para salvar a vida de uma
mulher. Ele opunha-se ao uso de instrumentos cortantes, mas preferia remédios
abortivos, como o phthorion, que destruía o feto, ou o exbolon, que expelia o feto.
Sorano mencionou várias poções (Gyn. I 19.64-65), algumas das quais, como o
lupino e o pepino purgante, eram provavelmente eficazes.
Os imperadores Septímio Severo (193-211 d.C.) e Caracala (211-217 d.C.)
prescreveram o banimento de uma mulher divorciada que tivesse um aborto con-
trariando a vontade de seu ex-marido, e a pena de morte para quem fornecesse
um remédio abortivo que causasse a morte da mulher.

E. O MUNDO JUDAICO
Fílon, comentando Êxodo 21.22,23, seguiu a Septuaginta e escreveu: “Mas, se
o rebento já está moldado e todos os membros têm suas próprias qualidades e
lugares no sistema, ele deve morrer, pois aquilo que corresponde a essa descrição
é um ser humano” (Spec. 3.108-109; cf. QG 1.25).
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Dicionário da Vida Diária na Antiguidade Bíblica & Pós-Bíblica

Josefo proclamou: “A Lei ordena que todos os filhos sejam criados e proíbe as
mulheres de causar aborto ou de eliminar o feto; a mulher condenada por isso é
considerada uma infanticida, porque ela destrói uma alma e diminui a raça” (Ag.
Ap. 2.202).
A Mishná permitia abortos terapêuticos para salvar a vida da mãe sob certas
restrições: “Se uma mulher estiver em difícil trabalho de parto, a criança deve ser
cortada enquanto estiver no útero e trazida à luz membro por membro, uma vez
que a vida da mãe tem prioridade sobre a vida da criança; mas, se a maior parte já
nasceu, não pode ser tocada, já que a reivindicação de uma vida não pode anular
a reivindicação de outra vida” (m. ’Ohol. 7.6).
No Talmude, lemos: “Sobre a autoridade de R. Ismael, foi dito: ‘(A pessoa é
executada) até pelo assassinato de um embrião’. Qual é o argumento de Ismael
(para isso)? Porque está escrito: ‘Quem derramar o sangue de um homem dentro
de (outro) homem, terá seu sangue derramado’. O que é um homem dentro de
(outro) homem? — Um embrião no ventre de sua mãe” (b. Sanh. 57b). Os gentios
que causassem a perda de um feto eram culpados de crime capital.

F. O MUNDO CRISTÃO
O Didaquê condenou explicitamente o aborto como assassinato: “Não abortarás
uma criança (ou phoneuseis teknon en phthora)” (Did. 2.2; cf. Epístola de Barnabé 19.5,
Holmes). Os apologistas posteriores, como Tertuliano, defenderam os cristãos
contra a acusação pagã de canibalismo, declarando: “Para nós, o assassinato é
proibido de uma vez por todas; pois, mesmo a criança no útero não nos é lícito
destruir”. Ele não fez distinção entre aborto e infanticídio, dizendo: “Proibir o
nascimento é apenas um assassinato mais rápido” (Apol. 9.8). Atenágoras pergun-
tou: “E quando dizemos que aquelas mulheres que usam remédios para provocar
o aborto cometem assassinatos e terão de prestar contas a Deus pelo aborto, em
que princípio deveríamos cometer assassinato?” (Leg. 35). Basílio escreveu em uma
carta a Anfilóquio: “A mulher que propositalmente destrói seu feto é culpada de
assassinato. Conosco não há nenhuma boa indagação quanto à sua formação ou
não formação. Neste caso, não é apenas o ser que está prestes a nascer quem é
vindicado, mas a mulher em seu ataque a si mesma; porque, na maioria dos casos,
as mulheres que fazem tais tentativas morrem. A destruição do embrião é um
crime adicional, um segundo assassinato, em todos os casos, se considerarmos que
foi feito com intenção. A punição, no entanto, dessas mulheres não deve ser por
toda a vida, mas pelo prazo de dez anos. E que o tratamento delas não dependa
do mero lapso de tempo, mas do caráter de seu arrependimento” (Ep. 188.2).
Em carta a Eustóquia, Jerônimo advertiu: “Algumas, quando se veem com
criança através de seus pecados, usam remédios para obter aborto, e quando (como
frequentemente acontece) morrem com seu descendente, elas entram no mundo
inferior carregadas de culpa, não só de adultério contra Cristo, mas também do
suicídio e assassinato da criança” (Ep. 22.13). Agostinho, após a Septuaginta de
Êxodo 21.22,23, sustentava que a destruição de um feto “não formado”, embora
imoral, não era assassinato. A codificação das leis sob o governo de Justiniano
listava o aborto como motivo para o divórcio.
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Dicionario Da Vida Diaria.indb 48 29/09/2020 13:45


Aborto

BIBLIOGRAFIA: Y. M. Barilan, “Abortion in Jewish Religious Law”, in The


Encyclopaedia of Judaism, ed. J. Neusner, A. J. Avery-Peck, and W. S. Green, 2nd ed.
(2005), I.1-15; R. D. Biggs, “Conception, Contraception, and Abortion in Ancient
Mesopotamia”, in Wisdom, Gods and Literature: Studies in Assyriology in Honour of W.
G. Lambert, ed. A. R. George and I. L. Finkel (2000), p. 1-13; W. B. Bondeson, H.
T. Engelhardt, S. F. Spicker, and D. H. Winship, Abortion and the Status of the Fetus
(1984); P. Carrick, Medical Ethics in Antiquity (1985); U. Cassuto, A Commentary on
the Book of Exodus (1967); J. Connery, Abortion: The Development of the Roman Catholic
Perspective (1977); J. W. Cottrell, “Abortion and the Mosaic Law”, CT 17 (March 16,
1973), p. 6-9; L. A. Dean-Jones, “Abortion in the Ancient World”, AJP 124 (2003),
p. 613-616; S. K. Dickison, “Abortion in Antiquity”, Arethusa 6 (1973), p. 159-166;
D. A. Dombrowski, “St. Augustine, Abortion, and libido crudelis”, JHI 49 (1988),
p. 151-156; L. Edelstein, The Hippocratic Oath (1943); J. Ellington, “Miscarriage
or Premature Birth?”, BT 37 (1986), p. 334-337; E. Eyben, “Family Planning
in Greco-Roman Antiquity”, Ancient Society 11-12 (1980-1981), p. 5-82; M. T.
Fontanille, Avortement et contraception dans la médecine gréco-romaine (1977); R. Freund,
“The Ethics of Abortion in Hellenistic Judaism”, Helios 10 (1983), p. 125-137; R.
Fuller, “Exodus 21:22,23: The Miscarriage Interpretation and the Personhood of
the Fetus”, JETS 37 (1994), p. 169-184; M. J. Gorman, Abortion and the Early Church
(1982); P. Gray, “Abortion, Infanticide and the Social Rhetoric of the Apocalypse of
Peter”, JECS 9 (2001), p. 313-337; B. S. Jackson, “The Problem of Exod. 21:22-25
(Ius Talionis)”, VT 23 (1973), p. 273-304; E. A. Judge, “Legislation on Abortion in
the Ancient World”, Genesis Review 1 (1981), p. 7-15; K. Kapparis, Abortion in the
Ancient World (2002); M. G. Kline, “Lex Talionis and the Human Fetus”, JETS 20
(1977), p. 193-201; A. Lindemann, “‘Do Not Let a Woman Destroy the Unborn
Baby in Her Belly’: Abortion in Ancient Judaism and Christianity”, ST 49 (1995),
p. 253-271; J. Munck, “Paulus Tanquam Abortivus”, in New Testament Essays, ed. A.
J. B. Higgins (1959), p. 180-193; E. Nardi, Procurato Aborto nel Mondo Greco Romano
(1971); J. T. Noonan Jr., ed., The Morality of Abortion (1970); J. C. Pangas, “Notas
sobre el aborto en la antigua Mesopotamia”, Aula Orientalis 8 (1990), p. 213-218;
S. D. Ricks, “Abortion in Antiquity”, ABD I.31-35; J. M. Riddle, Contraception and
Abortion from the Ancient World to the Renaissance (1992); D. B. Sinclair, “The Legal
Basis for the Prohibition on Abortion in Jewish Law”, Israel Law Review 15 (1980),
p. 109-130; O. Temkin, trad., Soranus’ Gynecology (1991); B. K. Waltke, “Reflections
from the Old Testament on Abortion”, JETS 19 (1976), p. 3-13; W. J. Watts, “The
Law and Roman Society on Abortion”, Acta Classica 16 (1973), p. 89-101.
EMY

Veja também CONTRACEPÇÃO & CONTROLE DE NATALIDADE e


INFANTICÍDIO & ABANDONO DE BEBÊS.

49

Dicionario Da Vida Diaria.indb 49 29/09/2020 13:45


AÇOUGUEIROS & CARNE
Os açougueiros abatiam animais e preparavam a carne para consumo. Tendo em
vista que muitos animais eram valorizados por outras razões que não a carne — as
ovelhas pela lã, as cabras pelo leite, e os bois como animais de tração —, eles eram
abatidos apenas para festas religiosas ou em ocasiões especiais.
Em muitas culturas, os açougueiros eram ligados aos templos encarregados da
matança ritual de animais sacrificiais e da divisão das carcaças. O valor da carne
e as associações religiosas com a vida animal limitavam a morte ou a ingestão de
certos animais. A propriedade de comer porcos era controversa, e, em algumas
regiões, como o Egito, mudanças culturais ao longo do tempo colocavam-nos e
tiravam-nos da preferência como fonte de carne.

A. O ANTIGO TESTAMENTO
O verbo hebraico tabah descreve a preparação do animal para a festa (o trabalho
do açougueiro), ao passo que o verbo hebraico zabah designa o processo ritual do
sacrifício (o dever sacerdotal). José abateu um animal para seus irmãos visitantes
(Gn 43.16). Nabal recusou-se a fazê-lo por Davi e seus homens (1 Sm 25.11). A
palavra também se refere ao massacre de pessoas (Is 34.2). O servo do Senhor foi
conduzido como cordeiro ao matadouro (Is 53.7).
Como substantivo, tabbah significa açougueiro, cozinheiro ou verdugo, e ocorre
32 vezes no Antigo Testamento (veja Êx 22.1 [heb. 21.37]; Pv 9.2; 1 Sm 9.23,24). O
cognato matbeah significa quintal do abate. A ocupação de Potifar (sar hat tabbahim)
há muito que tem intrigado os tradutores. O Targum e a Septuaginta chamam
Potifar de “açougueiro, cozinheiro”. A Vulgata chama-o de “chefe do exército”,
e o Antigo Siríaco, de “comandante da guarda”. A frase aramaica cognata pode
reter o sentido de “verdugo principal” em Daniel 2.14.
Em Gósen, os israelitas deviam estar acostumados com a rica dieta dos egípcios,
pois, depois de uma constante dieta de maná no deserto do Sinai, eles reclamaram:
“Quem nos dará carne a comer?” (Nm 11.4).
Nos tempos do Antigo Testamento, a carne era um luxo, não uma dieta básica,
como eram os grãos, o vinho e o óleo (Êx 16.3; Dt 11.14). Os hebreus podiam comer
animais limpos (tahor), os animais ruminantes herbívoros, selvagens ou domésticos,
com cascos fendidos e que ruminassem (Dt 14.6). O Pentateuco lista 10 desses
animais: boi, ovelha, cabra, veado, gazela, cabrito montês, cabra silvestre, íbex,
antílope e ovelha montanhesa (Dt 14.4,5). Mas o consumo de animais impuros,
como o camelo e o porco, que têm apenas uma das características exigidas, era
proibido. Há 42 animais impuros listados, incluindo o coelho, a lebre e os que
escorregam no chão (Dt 14.7,8; Lv 11.41,42). Os israelitas não podiam comer
um animal que tivesse morrido de causas naturais ou que tivesse sido morto por
outro animal.
Tanto os cordeiros como os bezerros (Gn 18.7,8; 1 Sm 28) eram carne de
consumo comum na Idade do Bronze. A “bruxa” de En-Dor matou um bezerro

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Açougueiros & Carne

engordado na ceva quando Saul foi consultá-la (1 Sm 28.24,25). As provisões diárias


de Salomão incluíam “dez vacas gordas, e vinte vacas de pasto, e cem carneiros,
afora os veados, e as cabras monteses, e os corços, e as aves cevadas” (1 Rs 4.23).
Os luxuosos banquetes condenados por Amós (Am 6.4, ARA) apresentavam
“bezerros do cevadouro”.
A carne era assada, no caso de um animal pequeno como ovelha ou cabra, ou
cozido. Os filhos perversos de Eli preferiam comer carne assada em vez de carne
cozida (1 Sm 2.15). Em uma metáfora extensa, Ezequiel adverte a rebelde cidade
de Jerusalém: “Põe a panela ao lume, e põe-na, e deita-lhe água dentro, e ajunta
nela bons pedaços de carne, todos os bons pedaços, as pernas e as espáduas, e
enche-a de ossos escolhidos” (Ez 24.3,4).
Era proibido cozer o cabrito no leite de sua mãe (Êx 23.19; 34.26; Dt 14.21).
O antigo apelo a um texto ugarítico para explicar essa proibição foi abandonado.
Em 1929, foram descobertas em Ras Shamra, na Síria, tabuinhas cuneiformes em
um ugarítico cuneiforme alfabético bastante singular. Em 1934, Charles Virolleaud
publicou um texto importante (CTA, 23), no qual restaurou de forma conjetural
a linha fragmentária 23 assim: tb[h. g]d bhlb, que significa “cozinhar um filhote no
leite” (veja CML, 121). Por cerca de 40 anos, esse paralelo foi citado em comen-
tários sobre os livros de Êxodo e Levítico (Cassuto, 305). Mas, após uma análise
mais aprofundada do texto por estudiosos de ugarítico, dúvidas foram levantadas
sobre o paralelismo proposto aos textos bíblicos: o verbo ugarítico tbh significa
“sacrificar (algumas vezes por abate)”, e não “cozinhar”; a palavra normal para
designar “filhote” em ugarítico é gdy, enquanto gd significa “coentro” (CRAIGIE,
p. 155-159; veja também SASSON), e, assim, um melhor entendimento do texto
ugarítico é “sacrificar [a uma divindade] coentro com [ou possivelmente no]
leite”. Portanto, não há paralelos extrabíblicos claros à proibição deuteronômica.
Antes do Sinai, quando Abraão recebeu três visitantes misteriosos, ele não teve
escrúpulos em servir carne com leite (Gn 18.7,8). Há estudiosos que sugerem que
a palavra para referir-se a “leite” (heleb) deveria ser revocalizada como a palavra
para referir-se a “gordura” (heleb), proibindo, assim, matar a própria mãe para
usar sua gordura para cozinhar o seu filhote.
A gordura que envolve os rins e os intestinos, assim como a cauda gorda das
ovelhas (Lv 3.9), deveria ser queimada pelos sacerdotes (Lv 3.3,4,10,14-16) como
oferta ao Senhor. O texto de Levítico 7.23 diz: “Fala aos filhos de Israel, dizendo:
Nenhuma gordura de boi, nem de carneiro, nem de cabra comereis”.
Após o Dilúvio, Noé e sua família receberam esta instrução: “Tudo quanto se
move, que é vivente, será para vosso mantimento; tudo vos tenho dado, como a
erva verde. A carne, porém, com sua vida, isto é, com seu sangue, não comereis”
(Gn 9.3,4). Posto que “a alma [vida] da carne está no sangue”, a ingestão do sangue
do animal abatido era repetidamente proibida (Lv 3.17; 17.10-14; Dt 12.15,16;
1 Sm 14.31-35; Ez 33.25).

B. O NOVO TESTAMENTO
O Novo Testamento usa sphazein (“abater”; substantivo sphage) tanto para referir-se
à perseguição dos justos (Rm 8.36) como para o sacrifício de animais (At 7.42).
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Dicionário da Vida Diária na Antiguidade Bíblica & Pós-Bíblica

Na Parábola das Bodas, o convite ao banquete continha esta declaração: “Os


meus bois e cevados já mortos, e tudo já pronto; vinde às bodas” (Mt 22.4). O
filho pródigo foi alimentado com o bezerro cevado pelo feliz pai (Lc 15.23-27).
Pela amarga reclamação do irmão mais velho, depreendemos que um cabrito era
a carne mais barata disponível (Lc 15.29).
Jesus declarou que não é o que o homem come que o contamina, mas somente
o que sai dele: “Ao dizer isso, Jesus declarou ‘puros’ todos os alimentos” (Mc 7.19,
NVI). Em estado de muita fome em um telhado em Jope, Pedro teve uma visão
repetida de todos os tipos de animais, quando lhe foi dito: “Levanta-te, Pedro!
Mata e come” (At 10.13). Ele tinha a absoluta certeza de que Deus havia purificado
esses animais até então impuros, anunciando, assim, a aceitação de gentios como
Cornélio, que viria a ele para ser batizado.
O Concílio de Jerusalém, presidido por Tiago, concordou com Paulo e Pedro
que os gentios convertidos não precisavam ser circuncidados, mas estipulou: “Que
vos abstenhais das coisas sacrificadas aos ídolos, e do sangue, e da carne sufocada,
e da fornicação” (At 15.29). As igrejas em Pérgamo e a igreja em Tiatira foram
repreendidas por permitir que houvessem aqueles que comessem alimentos sa-
crificados aos ídolos (Ap 2.14,20).
A palavra latina para referir-se ao mercado de carne é macellum, que, em outros
contextos, significa “mercado”. Paulo usou-a quando permitiu que os crentes
coríntios comessem “tudo quanto se vende no açougue (makellon), sem perguntar
nada, por causa da consciência” (1 Co 10.25). Nos tempos do Novo Testamento, a
maioria das carnes da mesa tinha sido sacrificada a divindades pagãs (eidolothuton).
Mas se alguém levantasse a questão de que fora hierothutos (“oferecida em sacrifí-
cio”), então o cristão deveria abster-se por causa da pessoa que tinha escrúpulos
sobre a origem da carne. É provável que a carne de animais sacrificados fosse de
melhor qualidade e custasse mais, de modo que somente os cristãos mais ricos
pudessem comprá-la.
Em Corinto, uma inscrição de Quinto Cornélio Segundo, datada do século
I a.C., registra a construção de um “macellu[m (...) et pi]scario”, indicando que o
mercado de carne estava associado a um piscarium, lugar onde se vendia peixe. O
macellum foi identificado com um grande edifício ao norte do arcaico templo de
Apolo, com 30 lojas dispostas em torno de um pátio central.
Contra os que insistiam que os cristãos abstivessem-se do casamento e de certos
alimentos, Paulo afirmou: “Porque toda criatura de Deus é boa, e não há nada
que rejeitar, sendo recebido com ações de graças, porque, pela palavra de Deus e
pela oração, é santificada” (1 Tm 4.4,5). Por outro lado, se comer carne pode fazer
alguém tropeçar, Paulo declarou: “Pelo que, se o manjar escandalizar a meu irmão,
nunca mais comerei carne, para que meu irmão não se escandalize” (1 Co 8.13).

C. O MUNDO DO ORIENTE PRÓXIMO


Milhares de tabuinhas de argila em sumério do período de Ur III listam animais
para entrega ao abate, com vistas à obtenção de carne aos templos, aos soldados e
até aos prisioneiros. Um matadouro em Lagash servia o seu templo. De Mari (1780
a.C.), temos centenas de tabuinhas de calendário, que listam a carne suprida por
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Açougueiros & Carne

açougueiros para o cardápio diário do rei. Um texto de Mari refere-se a um boi


que fora engordado para o palácio e que mal podia ficar de pé. A carne de porco
gorda era considerada deliciosa demais para alimentar os criados. As tabuinhas
de Nuzi (ca. 1400 a.C.) referem-se aos seus habitantes comendo carne de cavalo.
Textos neoassírios descrevem o abate de animais e a esfola e corte de suas carcaças.
Em um relevo, uma ovelha de cauda gorda, colocada em uma bancada, tem um
corte no pescoço por onde escoa seu sangue, o qual é coletado em uma bacia.
Os nômades amorreus, antes de estabelecerem-se, eram conhecidos por comer
carne crua. Numerosas receitas acadianas (datadas ca. 1750 a.C.) de ensopados
foram recuperadas, incluindo as receitas de cabrito com pernil de carneiro. Alguns
textos falam em “encher um intestino”, isto é, fazer salsichas.
Evidências arqueológicas sugerem que, na Idade do Bronze Média, a carne de
cabra era o principal cardápio das tribos seminômades. Nas comunidades rurais,
consumiam-se ovelhas. Durante a Idade do Ferro em Tell Dan, a carne bovina
predominava. Em Tel Miqne, sítio arqueológico da cidade filisteia de Ecrom,
consumiam-se carne bovina e suína. Durante a Idade do Bronze Média, em Tell
Jemmeh, o gado era abatido quando estava totalmente adulto, e os porcos eram
abatidos entre a idade de seis e 12 meses. Entre metade e três quartos das ovelhas
e cabras eram abatidas antes de completarem um ano.
A palavra egípcia mais comum para referir-se a açougueiro era sftw, literalmen-
te, “aquele que abate ou faz sacrifícios”. Outro termo era “diretor daqueles com
pedras de amolar”, instrumentos que eram usados para afiar facas. Os templos
teriam açougueiros próprios em seu “Departamento de Carnes” para o abate
diário de animais.
Depois do Antigo Império, quase todos os túmulos têm cenas de açougues.
Durante o Império Médio, modelos de madeira ilustravam o procedimento. O
modelo único de Meketre, de Deir el-Bahri, representa um matadouro com vários
níveis. Alguns templos, como o templo de culto a Seti I, em Abidos, tinham mata-
douros próprios, ou seja, matadouros onde se encontravam ferramentas para abate.
Textos hieroglíficos contam como açougueiros egípcios realizavam seu ofício.
Quatro ou cinco subjugavam o boi. Depois de amarrar a perna dianteira esquerda
com um nó deslizante, eles jogavam a corda por cima do dorso do animal e pu-
xavam-na. Pego desequilibrado, o animal caía ao chão. Rapidamente, os homens
amarravam as pernas dele juntas. Nessa posição indefesa, a garganta era-lhe
cortada. Bombear a perna dianteira forçava o sangue a jorrar. Os açougueiros
recolhiam o sangue em um vaso. Se o matadouro situava-se ao lado de um templo,
um sacerdote apresentava-se. O açougueiro, então, estendia o punho completa-
mente ensanguentado sob o nariz do sacerdote, exclamando: “Eis este sangue”.
O sacerdote respondia: “É puro” (MONTET, p. 77, 78).
Depois de ser esfolado, o animal era estripado com o coração oferecido ao
deus. Animais menores, como cabras, eram pendurados em uma árvore, a gargan-
ta era cortada e, em seguida, eviscerados. A gordura era fervida, coada e depois
armazenada. Algumas vacas de engorda eram alimentadas à força com bolotas
de massa para ficarem obesas e quase incapazes de andar.
Heródoto (Hist. 2.47), que visitou o Egito no século V a.C., relatou que os
egípcios nunca tocavam em porcos. Não era o que ocorria no antigo Egito. Ame-
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Dicionário da Vida Diária na Antiguidade Bíblica & Pós-Bíblica

notepe III deu mil porcos e mil leitões ao templo de Ptá, em Mênfis. O ofício de
“Supervisor de Suínos” é atestado no reinado de Sesóstris I. Seti tinha porcos
criados no templo de Osíris, em Abidos.
Evidências faunísticas da aldeia dos operários em Amarna indicam que por-
cos e cabras eram criados e depois mortos nesta área. A maioria dos bovinos era
abatida com cutelos, ao passo que os porcos e cabras eram mais cuidadosamente
abatidos com facas. O grande templo de Áton tinha um açougue. Ali perto ficava
a casa de Panehsy, supervisor do gado do Áton.

D. O MUNDO GRECO-ROMANO
No mundo grego e no romano, a carne de porco era uma das carnes preferidas.
Na Odisseia, de Homero, Ulisses ordena aos seus servos: “Matem imediatamente o
melhor dos porcos” (Od. 24:215). O épico homérico fala de hecatombes, ou seja,
do sacrifício de 100 bois. Durante a Era Clássica (século V a.C.), centenas de bois
eram sacrificados no grande altar de Atenas.
No mundo grego, ovelhas, cabras e bois de diferentes idades e qualidades
eram especificados para diferentes festas e ocasiões como sacrifícios. O animal
era levado ao altar, golpeado e morto. Principalmente os ossos e a gordura eram
queimados como a porção do deus. Outras porções colocadas na mesa do deus
eram comidas pelos sacerdotes e adoradores.
As evidências faunísticas do micênico “Palácio de Nestor”, em Pilos, sugerem
que os animais eram abatidos perto do palácio. O grande número de ossos de
10 animais bovinos em um único depósito indica que duas ou mais toneladas
de carne eram fornecidas para uma grande festa. Uma tabuinha com texto em
Linear B proveniente de Pilos (Un03) lista uma oferta para o rei: um boi, vinte e
seis carneiros, seis ovelhas, dois bodes, duas cabras, um porco de engorda e seis porcas
(VENTRIS e CHADWICK, p. 221).
Em Roma, a palavra lanius (“açougueiro”) é derivada de laniare (“cortar carne”).
Segundo O Aldrabrão, de Plauto, os açougueiros abatiam os animais fora da porta,
provavelmente a Porta Capena. Os açougues eram conhecidos como lanienae. Plauto
fala do logro dos açougueiros, que vendiam carne de carneiro dura alegando que
se tratava de carne de cordeiro. Cícero enumera a profissão de açougueiro como
uma das ocupações que estava abaixo da dignidade de cidadão. Muitos açougueiros
eram libertos, ou seja, ex-escravos.
Em Roma, havia associações de lanii (açougueiros) desde a época de fins da
República. Alguns dos macellarii (“comerciantes”) eram açougueiros, como Júlio
Vitali, cuja lápide mostra-o cortando a cabeça de um porco, com postas de carne
e ferramentaria para açougue pendurados na parede de sua loja. Outra inscrição
em memória de um açougueiro mostra um culter (faca) e um bucranium (crânio de
boi decorativamente trabalhado).
Uma combinação comum de oferta ao deus Marte era a suovetaurilia, que
consistia no sacrifício de um porco (sus), um carneiro (ovis) e um touro (taurus). O
animal era golpeado, a garganta cortada e as entranhas examinadas. Era estripado,
e as sobras e gordura eram queimadas no altar, enquanto a carne seria feita em
pedaços e depois consumida, com o excedente colocado à venda. O homem que
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Açougueiros & Carne

golpeava o touro chamava-se popa; o homem que cortava a garganta era o cultraris,
e o homem que empunhava o machado para cortar a cabeça era o victimarius.
A carne fica mais tenra se for cozida antes de o rigor mortis estabelecer-se em 12
horas, de modo que, tanto quanto possível, era comida no local do abate, com o
excedente rapidamente transportado para um mercado de carnes.
No macellum, em Pompeia, esqueletos inteiros de ovelhas mortas pela erupção
do Vesúvio em 79 d.C. indicam que não só os animais eram abatidos nas fazendas,
mas também que alguns eram abatidos no próprio estabelecimento. A carne era
conservada por secagem, defumação, salga ou salmoura. A carne de porco era
salgada e depois defumada.
Os romanos valorizavam os porcos, principal fonte de carne, pois eram facil-
mente alimentados com bolotas e produziam duas ninhadas por ano com até 10
leitões por ninhada. O latim tem mais termos referentes aos suínos do que a outro
animal. Consideravam os leitõezinhos como iguaria, assim como os presuntos
defumados e as salsichas de porco. Os romanos também gostavam do sabor do
javali, particularmente dos que haviam sido engordados em pocilgas.
Uma iguaria peculiarmente romana era um roedor engordado conhecido como
rato de campo. Na obra Satíricon, de Petrônio, o liberto e rico Trimálquio servia
ratos de campo com mel e cobertos com sementes de papoula.
A carne era mais frequentemente cozida ou assada. Apício lista mais de 50 receitas
de carne cozida e mais de 40 de carne assada. Como a carne cozida era um tanto
sem graça, os romanos comiam-na com garum, molho feito de peixe fermentado. Os
leitõezinhos eram assados, e miudezas como fígado e rins eram fritos. Apício fornece
receitas para refeições que contêm vísceras, como rins, fígado, estômago, útero e úberes.
Celso, o enciclopedista da medicina, recomendava, como benéfico para o
estômago, carne de boi e outros tipos de carne, miúdos de porco incluindo pés,
orelhas e útero. O hipocondríaco Élio Aristides, ao receber o oráculo de que “ele
viveria enquanto a vaca vivesse no campo”, abstinha-se de carne bovina. Por
outro lado, Maximino I, rival de Constantino, abstinha-se de verduras e tinha a
reputação de consumir 40 quilos de carne por dia (H.A., The Two Maximini, 4.1).

E. O MUNDO JUDAICO
Foi a tentativa de Antíoco IV em 167 a.C. de helenizar os judeus, proibindo a
circuncisão, abatendo uma porca no Templo e forçando os judeus, sob pena de
morte, a comer carne de porco, que provocou o martírio e, em seguida, a Revolta
Macabeia. Sete de seus filhos e sua mãe preferiram morrer em vez de comer a
carne proibida (2 Mc 7). Um judeu idoso chamado Eleazar recusou a oferta de
fingir comer carne de porco para salvar-se (4 Mc 6.16-20).
Em 40 d.C., o imperador Gaio Calígula perguntou a Fílon, que viera a Roma
como embaixador dos judeus de Alexandria: “Por que vocês não comem carne de
porco?”. Os judeus ressaltaram que há pessoas que não comiam cordeiro. Tanto o
satirista Petrônio (fragmento 37) quanto Plutarco (Quaest. Conv. 4.5.1) sustentavam
que os judeus não comiam carne de porco, porque adoravam ou um deus-porco
ou o porco. Tácito (Hist. 5.4.2) comentou que era porque os israelitas haviam
contraído lepra de porcos no Egito.
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Dicionário da Vida Diária na Antiguidade Bíblica & Pós-Bíblica

O Manuscrito do Templo (34.7) descreve o matadouro dentro do recinto do templo


da seguinte forma: Depois de terem os sacerdotes amarrado a cabeça dos touros
aos anéis, “eles os abaterão (twbhym) e coletarão [todo o sangue] em tigelas para
borrifar as fundações do altar e tudo ao redor”.
O Talmude sustenta que até o tempo de Noé, o consumo de carne era proibido
(b. Sanh. 59b; veja Gn 1.29; 9.3). Um tratado inteiro da Mishná, Hullin (“animais
mortos para alimentação”), é dedicado ao abate de animais para obtenção de
carne. A carne oferecida aos ídolos é proibida: “A carne que entra para o ídolo é
permitida, mas a que sai é proibida” (m. ‘Abod. Zar. 2.3). Tal carne causa a mesma
impureza do que um cadáver (b. Hul. 13b).
Os açougueiros judeus observavam a regra de descartar os tendões do quadril
(cf. Gn 32.32), tanto dentro quanto fora de Israel, de animais não consagrados e
ofertas de animais (m. Hul. 7.1-6). O rabino Judá acreditava que até os açougueiros
mais respeitáveis eram parceiros de Amaleque (m. Qidd. 4.14). O que era abatido
pelos gentios era considerado como carniça (m. Hul. 1.1).
A proibição de cozinhar o filhote no leite de sua mãe tornou-se a base no
Talmude para a separação de pratos de leite e de carne (b. Hul. 113b-116b). O
Talmude também proibia a cozedura de carne com peixe (b. Pesah. 76b; b. H.ul.
103b), porque isso poderia causar “[mau] aroma e/ou lepra”.

F. O MUNDO CRISTÃO
O Didaquê exortou: “A respeito da comida, observe o que puder. Não coma nada
do que é sacrificado aos ídolos (eidolothutou), pois esse culto é destinado a deuses
mortos” (Did. 6.3). Justino Mártir, na obra Diálogo com Trifão, afirmou: “Aqueles
que, vindos das nações, conheceram a Deus, criador do universo, por meio de
Jesus Cristo crucificado. Esses suportam todo tormento e castigo, até o extremo da
morte, para não cometer idolatria, nem comer nada oferecido aos ídolos” (Dial. 34).
Plínio, o Jovem, na carta a Trajano relatou o sucesso de sua repressão aos cristãos,
com o resultado de que “os ritos sagrados, que haviam sido autorizados a serem
executados, estão sendo realizados novamente, e a carne de vítimas sacrificadas
está à venda em todo lugar, embora até recentemente, mal se encontrava alguém
para comprá-la” (Ep. Tra. 10.96).
Na perseguição romana aos cristãos movida por Décio (ca. 250 d.C.), os
cristãos eram obrigados a sacrificar aos deuses do império, derramar libação e
comer carne sacrificial sob pena de morte, caso não o fizessem. Alguns cristãos
condescenderam com a compra de um libellus, que certificava que haviam feito
esses atos mesmo quando não o haviam feito.
Tendo em vista que os seguidores de hereges como Taciano, Marcião e Mani
evitavam o consumo de carne, o cânon 14 do Concílio de Ancira (314 d.C.) esti-
pulou: “Fica decretado que entre o clero, presbíteros e diáconos que se abstêm de
carne deverão prová-la e depois, se assim o desejarem, poderão abster-se. Mas, se
a desdenharem e nem mesmo comerem carne com ervas servidas, mas desobe-
decerem ao cânon, que sejam retirados de sua ordem”.

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Dicionario Da Vida Diaria.indb 56 29/09/2020 13:45


Açougueiros & Carne

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(1981), p. 6-15; W. L. Willis, Idol Meat in Corinth (1985); B. Witherington III, “Not
so Idle Thoughts about Eidolothuton”, TynBul 44 (1993), p. 237-254; J. C. Wright,
ed., The Mycenaean Feast (2004).
RGB

Veja também BANQUETES, PECUÁRIA e PRODUÇÃO DE ALIMENTOS.

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Dicionario Da Vida Diaria.indb 57 29/09/2020 13:45


ADIVINHAÇÃO & LANÇAMENTO DE SORTES
A adivinhação é a tentativa de prever o futuro, discernir o significado de determi-
nados fenômenos, ou escolher a pessoa certa em determinada circunstância, ou o
curso correto de ação. O lançamento de sortes é o uso de sortes para responder a
consultas ou fazer atribuições. A adivinhação e o lançamento de sortes permea-
vam a vida pública e privada no mundo antigo. O presságio é um fenômeno que,
pensa-se, previa um evento futuro.

A. O ANTIGO TESTAMENTO
A Bíblia hebraica refere-se a alguns meios sancionados de adivinhação, porém
condena com mais frequência as muitas práticas adivinhantes dos vizinhos de
Israel. As instruções para o Tabernáculo no livro de Êxodo atribuem uma função
adivinhante às vestes sacerdotais. De acordo com essas instruções, o sacerdote
“levará sempre sobre o coração, na presença do Senhor, os meios para tomar
decisões em Israel” (Êx 28.30, NVI; cf. Êx 28.15) na forma de uma roupa co-
nhecida como éfode e objetos chamados o Urim e o Tumim. Primariamente, o
éfode era uma vestimenta, mas, secundariamente, o éfode do sumo sacerdote, que
tinha um bolso para o Urim e Tumim, não era apenas uma peça de roupa, mas
também um instrumento especial para adivinhação. Originalmente, o éfode do
sacerdote era para ser usado em conexão com as sortes para fornecer respostas
“sim” ou “não” a perguntas. (Quanto a sortes e cleromancia, veja mais adiante.)
Na versão da Septuaginta de 1 Samuel 14.18, Saul pede que o éfode seja trazido
(ao invés da “Arca”). Davi usa o éfode que Abiatar levava para perguntar a Deus
se os homens de Queila, a quem ele defendeu contra os filisteus, entregá-lo-iam
a Saul (1 Sm 23.13). Em outra ocasião, depois de pedir o éfode de Abiatar, Davi
pergunta ao Senhor: “Perseguirei eu a esta tropa [amalequita]? Alcançá-la-ei?”.
A resposta foi: “Persegue-a, porque, decerto, a alcançarás e tudo libertarás” (1 Sm
30.8). O Antigo Testamento também registra usos idólatras do éfode sacerdotal. Os
capítulos 17 de 18 de Juízes relatam a história de um homem chamado Mica, que
faz para si “um éfode e terafins [terapim]” (Jz 17.5), que ele usava como oráculo.
O Urim e o Tumim (heb. ’urim wetummim, “luzes e perfeição”), que são men-
cionados em conjunto com o éfode em Êxodo 28, podem ter sido objetos como
sortes que os sacerdotes usavam para determinar a resposta “sim” ou “não” (Êx
28.30; Nm 27.21; Dt 33.8). O uso desses objetos de adivinhação é registrado
em uma cena dramática durante a campanha militar de Saul contra os filisteus.
Buscando a causa do desfavor de Deus, Saul pergunta: “Se a culpa for minha ou
de Jônatas, responde pela pedra marcada Urim; mas, se a culpa for de Israel, o
teu povo, responde pela pedra marcada Tumim” (1 Sm 14.41, NTLH). Quando
a sorte cai para o lado de sua família, Saul continua: “Lançai a sorte entre mim
e Jônatas, meu filho”, e então, lemos: “E foi tomado Jônatas” (1 Sm 14.42). Mais
tarde, esse método de adivinhação caiu em desuso, como indica Esdras 2.63 ( Ne
7.65), que registra que o governador deu esta ordem aos sacerdotes que não pu-

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Adivinhação & Lançamento de Sortes

deram apresentar registros para comprovar sua genealogia: “Que não comessem
das coisas sagradas até que houvesse sacerdote com Urim e com Tumim”.
O Antigo Testamento registra que a Arca da Aliança era consultada como
oráculo em tempos de guerra. Juízes 20 relata que os israelitas reuniram-se diante
da Arca para decidir se continuariam a lutar após uma derrota. Eles perguntaram:
“Sairei ainda mais a pelejar contra os filhos de Benjamim, meu irmão, ou pararei?
E disse o Senhor: Subi, que amanhã eu to entregarei na mão” (Jz 20.28). É possível
que lançaram sortes na presença da Arca.
O Antigo Testamento menciona ocasionalmente a adivinhação direta pela
agência de uma pessoa especialmente santa. Por exemplo, para encontrar as
jumentas perdidas de seu pai Quis, Saul busca informações de Samuel, que é
chamado de ro’e ou “vidente” (1 Sm 9.9). Contudo, na mesma passagem consta a
observação de que a palavra “profeta” (nabi’) foi, mais tarde na história de Israel,
usada para designar essa função. Samuel assegura a Saul que as jumentas já foram
encontradas e inesperadamente o unge como o primeiro rei de Israel (1 Sm 10.1).
Outros videntes/profetas foram consultados sobre doenças (1 Rs 14.1-17; 2 Rs
1.2-17; 8.7-15) e situações militares (1 Rs 22.5-28; 2 Rs 3.11-19).
A adivinhação por sortes, conhecida como cleromancia (também chamada de
sortilégio), era amplamente usada para diversos propósitos. A palavra hebraica
goral (pl. goralot) é usada 78 vezes no Antigo Testamento. As sortes eram, entre
outras coisas, usadas (1) para identificar um indivíduo culpado, como no caso de
Jonas (Jn 1.7) e, possivelmente, no caso de Acã (Js 7.14-19); (2) escolher alguém
para um cargo, como na escolha de Saul para ser rei (1 Sm 10.17-24); (3) dividir a
terra conquistada de Canaã (Nm 33.54); e (4) determinar quem traria as ofertas de
madeira para queimar no altar (Ne 10.34). Os fiéis acreditavam que a providência
de Deus guiava o processo: “A sorte se lança no regaço, mas do Senhor procede
toda a sua disposição” (Pv 16.33). Os inimigos dos judeus também costumavam
lançar sortes, como Hamã fez para determinar um dia propício para atacar os
judeus (Et 3.7). Purim, o nome da festa que comemora a libertação dos judeus de
Hamã, vem do nome babilônico para designar sortes, puru (Et 9.26).
O Antigo Testamento também registra formas mais obscuras de adivinhação.
Quando o gabia‘ de José foi descoberto escondido no saco de mantimentos de seu
irmão Benjamim, o seu administrador perguntou: “Não é este o copo por que bebe
meu senhor? E em que ele bem adivinha?” (Gn 44.5). Pode ser que o copo era usa-
do na prática da lecanomancia, que é a adivinhação pela observação (das formas
do óleo em cima) da superfície da água em um prato, bacia ou copo. A menção
do “carvalho dos Adivinhadores” em Juízes 9.37 (ARA) é, talvez, alusão à prática
da dendromancia, adivinhação pela interpretação do som das folhas sussurrantes.
Muitas das práticas adivinhantes descritas no Antigo Testamento estão associadas
às nações ao redor de Israel. Deuteronômio 18.10,11 condena simultaneamente
muitas formas de adivinhação e idolatria: “Entre ti se não achará quem faça
passar pelo fogo o seu filho ou a sua filha, nem adivinhador, nem prognosticador,
nem agoureiro, nem feiticeiro, nem encantador de encantamentos, nem quem
consulte um espírito adivinhante, nem mágico, nem quem consulte os mortos”. O
melhor exemplo veterotestamentário de um adivinho não israelita é Balaão, um
mesopotâmico contratado pelo rei moabita Balaque para amaldiçoar os israelitas
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Dicionário da Vida Diária na Antiguidade Bíblica & Pós-Bíblica

quando eles queriam atravessar as suas terras (Nm 22.2–24.25). O “preço dos
encantamentos” para Balaão (Nm 22.7) pode ter sido um modelo de presságio
que os anciãos moabitas enviaram-lhe. Para grande surpresa de Balaque, Balaão
“não foi esta vez como dantes ao encontro dos encantamentos”, mas abençoou
Israel (Nm 24.1-13). Os arqueólogos recuperaram de Tell Deir ‘Alla, na Jordânia,
uma notável inscrição aramaica em gesso do século VIII a.C. que registra uma
profecia de Balaão.
Oseias 4.12 condena a prática israelita da rabdomancia, que é a adivinhação
por meio de um cajado ou vara, tachando-a de idolatria. Ezequiel 21.21 (Ez 21.26,
TM) descreve Nabucodonosor usando três formas de adivinhação para determi-
nar se atacaria Jerusalém ou uma cidade amonita: “Sacode as flechas, interroga
os ídolos do lar, examina o fígado” (ARA). O registro arqueológico dessa região
atestam algumas dessas práticas de adivinhação. As setas de flechas de bronze
encontradas no Levante, inscritas com escrita arcaica fenícia e hebraica, podem
ter sido usadas na belomancia, que é a adivinhação mediante a retirada de flechas
marcadas com o nome de povos ou lugares de uma aljava. Examinar o fígado
refere-se à hepatoscopia, que é o exame do fígado de ovelhas sacrificadas, que era
a principal forma de adivinhação na Mesopotâmia. Três modelos de fígado de
argila inscritos em escrita cuneiforme da Idade do Bronze Média foram encon-
trados em Hazor, assim como um em Megido. A palavra hebraica mais comum
para designar adivinhação é qesem (da raiz qsm, “cortar”, referindo-se às peças de
madeira cortadas para formar lotes) e também aparece em Ezequiel 21.21.
O Antigo Testamento também contém várias referências à necromancia, que é
a adivinhação mediante a consulta ao espírito dos mortos, prática especificamente
proibida em Deuteronômio 18.11 (cf. Lv 19.31; 20.2, 6). Desafiando a proibição,
o texto bíblico fala que o perverso rei Manassés “fez passar a seu filho pelo fogo,
e adivinhava pelas nuvens, e era agoureiro, e instituiu adivinhos e feiticeiros” (2
Rs 21.6). O rei reformador Josias eliminou de Judá “os adivinhos, e os feiticeiros,
e os terafins, e os ídolos” (2 Rs 23.24). O profeta Isaías (Is 8.19; 19.3) também se
refere à prática da necromancia.
A trágica carreira de Saul, que, com o passar do tempo, não recebia mais a
orientação do Senhor, termina com a tentativa desesperada de conhecer o futuro
por meio da necromancia. É fato ainda mais irônico, já que o próprio Saul havia
expulsado os ’obot (“médiuns”) e os yidde‘onim (“espíritas”) de Israel (1 Sm 28.3,9,
NVI). A ação de Saul é condenada em 1 Crônicas 10.13: “Assim, morreu Saul [...]
por causa da palavra do Senhor, a qual não havia guardado; e também porque
buscou a adivinhadora para a consultar”.

B. O NOVO TESTAMENTO
Embora o Novo Testamento repetidamente mencione profetas e sonhos, é
notável que contenha apenas algumas referências à adivinhação e lançamento
de sortes.
Lucas 1.9 demonstra o costume organizacional que havia entre os sacerdotes
que serviam no Templo quando observa que a Zacarias, pai de João Batista, “cou-
be-lhe em sorte” (“havia sido escolhido por sorteio”, NTLH) entrar no Templo
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Adivinhação & Lançamento de Sortes

para queimar incenso, enquanto os sacerdotes da sua turma (a família de Abias)


serviam. Visto que havia mais sacerdotes em Judá do que o necessário, eles pre-
paravam tabuleiros das turmas sacerdotais chamados mismarot, exemplos dos quais
foram encontrados entre os Manuscritos do Mar Morto e em Cesareia. Não só as
turmas eram escolhidas por sorteio, como também a atribuição de cada sacerdote
para deveres específicos também era determinada por sorteio.
Os apóstolos também lançaram sortes para escolher alguém em substituição de
Judas Iscariotes. Nominaram dois candidatos, José, chamado Barsabás, e Matias,
e, depois da oração, valeram-se do lançamento de sortes para selecionar Matias
(At 1.23-26).
Em uma passagem neotestamentária, o poder da adivinhação é atribuído à
possessão por um “espírito”. Atos 16.16-19 narra o encontro de Paulo em Filipos
com uma escrava que tinha um espírito de adivinhação (pneuma pythona), pelo qual
ela obtinha lucro para seus senhores. Um mito grego relata que Apolo matara
uma serpente que guardara o local de Pytho, mais tarde chamado de Delfos, onde
o mais famoso oráculo do deus foi instituído; daí a associação da palavra com a
adivinhação.

C. O MUNDO DO ORIENTE PRÓXIMO


Mesopotâmia
A maioria de nossas informações sobre adivinhação na Mesopotâmia vem de ar-
quivos da realeza e destaca que a adivinhação era essencial para a determinação
de políticas públicas.
Foi durante o Antigo Período Babilônico que, pela primeira vez, foram com-
pilados os compêndios de presságios. Os babilônios reconheciam os presságios
em muitas formas, desde anormalidades físicas nos órgãos de animais sacrificados
até situações cotidianas. Compilações escritas, que os adivinhos podem ter usado
como manuais para interpretar presságios, relacionam possíveis fenômenos com
seu respectivo significado. Esses presságios estão registrados nos manuais que usam
uma fórmula tradicional: a descrição do fenômeno está na cláusula protasis, e a
interpretação consta na apodosis.
Inicialmente, as coletâneas de presságios baseavam-se na observação empírica
dos fenômenos incomuns, como nascimentos múltiplos. Porém, mais tarde, foram
expandidos a um grau exagerado, registrando, por exemplo, nascimentos não
apenas de trigêmeos, mas de óctuplos e nônuplos, ou nascimento de um bezerro
não apenas com duas caudas, mas com até seis caudas. Uma série de presságios
teratológicos (malformação congênita) em relação a humanos e animais é conhe-
cida como summa izbu (“Se um malformado...”). Um exemplo diz: “Se uma mulher
do palácio der à luz e (a criança) tiver rosto de leão, o rei não terá adversário”
(LEICHTY, p. 71). Uma carta de um governador ao rei de Mari informa que o
governador encontrara um cordeiro com uma cabeça, porém com dois corpos,
que ele enviara ao rei para inspeção.
Os babilônios consideravam maus prenúncios o comportamento dos animais
e até o movimento do corpo do animal ao ser abatido.
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Dicionário da Vida Diária na Antiguidade Bíblica & Pós-Bíblica

Depois de alguém derramar água três vezes na cabeça de um boi deitado e ele
levantar-se, a resposta é positiva, mas, caso não se levante, a resposta é negativa.
Uma grande série de presságios conhecidos como summa alu (“Se uma cidade...”)
determina o significado do encontro com animais, por exemplo, encontrar uma
cobra. “Se, entre o primeiro e o trigésimo dia de nisannu, uma cobra passar da
direita para a esquerda de um homem na rua, a miséria severa levará aquele
homem para a terra do seu inimigo” (Tabuinha 22, 17; FREEDMAN, p. 11). Se
uma cobra caísse no ombro de um homem, seus partidários morreriam.
Outra forma de adivinhação atestada na Mesopotâmia é a tomada de augúrios
ou a observação de aves, como pombas e andorinhas. Um antigo texto babilônico
diz: “Se há uma mancha vermelha no lado superior do pássaro, então é maldição
contra o avô. [...] Se há uma mancha vermelha no lado direito do pássaro, então é
maldição contra o filho” (tradução para o inglês do autor de DURAND, p. 275).
Idrimi, enquanto estava exilado de Alalaque (s. XV a.C.), libertou por sete anos
aves para observar o modo como voavam até que Adade tornasse-se favorável a
ele (ANET, 557). Entre os hititas, a ornitomancia, que é a adivinhação pela ob-
servação das aves, era altamente valorizada. Eles observavam os pássaros à beira
do rio, como indica este texto: “Um pássaro alliya voltou de trás do rio voando
baixo e sentou em um álamo. Enquanto observávamos, outro pássaro alliya ata-
cou-o da vizinhança e saiu de trás do rio pelo lado bom” (GURNEY, p. 155). São
observações feitas para decidir perguntas, como: “Vós, ó deuses, aprovastes?”, ou
“Temos algo a temer acerca dele por rebelião?” (BEAL, p. 70).
A forma mais importante de adivinhação na Mesopotâmia era o extispício (ob-
servação das exta, os órgãos internos) e, em particular, a hepatoscopia, o exame do
fígado, sobretudo das ovelhas sacrificadas. Um mito descreve que os deuses Samas
e Adade deram a Enmeduranki, o rei antediluviano de Sippar, “a Tabuinha dos
Deuses [tuppu sa ili], o fígado, um segredo do céu e do mundo inferior” (LAMBERT,
p. 152). Dos quase 2.700 presságios atestados, que foram encontrados em 88 textos
cuneiformes, 80% são exemplos de extispício. Mestres especiais eram conhecidos
como ummanu, que significa “especialistas”. Aprendiam a profissão na faculdade
de um adivinho, o bit bari. Estudavam as tabuinhas de mustabiltu (“interpretações”) e
de mukallimtu (“comentários”), que complementavam os compêndios de presságios.
Os adivinhos trabalhavam principalmente para o rei e tinham de cumprir
rigorosos padrões físicos: “O adivinho cujo pai é impuro e que ele mesmo tenha
qualquer imperfeição de membro ou semblante, cujos olhos não são sadios, que
tem dentes faltando, que perdeu um dedo, cujo semblante tem um olhar doentio
ou que tem espinhas, não pode ser o guardião dos decretos de Samas e Adade”
(CONTENAU, p. 281).
Além dos compêndios de presságios, centenas de modelos de fígado de argila
(e alguns modelos de pulmão) com inscrições, mostrando grandes detalhes anatô-
micos, eram mantidos em arquivo para permitir que os especialistas se referissem
a tipos anteriores de fígado (listados nas proteases dos presságios) a fim de prever
resultados semelhantes (listados nos apódoses dos presságios), o que fizeram de
forma quase científica. Algumas características do fígado que consideravam sig-
nificativas eram o ubanum (“o dedo”, ou lobo caudado), o bab ekallimi (“a porta do
palácio”, a fissura umbilical, correndo verticalmente do topo do fígado), o padanum
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O Dicionário
O Dicionário dada
O Dicionário Vida
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Diária
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na na
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Bíblica
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Bíblica
e Pós-Bíblica
e Pós-Bíblica
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Às vezes,
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Os conceituados
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informações
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Testamento
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de 2.000
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• Arte/entretenimento:
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• Arte/entretenimento:Arte,
Arte,
Cerâmica
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Cerâmica
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& Peças
& Peças
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Cerâmica,
de Cerâmica,
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Dança,
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Drama
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& Tea-
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Música;
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Música;
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• Beleza:
• Beleza:
• Beleza:
Cabelos,
Cabelos,
Cabelos,
Cosméticos,
Cosméticos,
Cosméticos,
Joias,
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Perfumes,
Joias,
Perfumes,
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Roupas;
Roupas;
Roupas;
• Costumes:
• Costumes:
• Costumes:
Banquetes,
Banquetes,
Banquetes,
Ferramentas
Ferramentas
Ferramentas
& Utensílios,
& Utensílios,
& Utensílios,
Juramentos
Juramentos
Juramentos
& Votos,
& Votos,
& Luto
Votos,
Luto
& Pranto;
Luto
& Pranto;
& Pranto;
• Dinâmica
• Dinâmica
• Dinâmica
Social:
Social:
Social:
Armas,
Armas,
Armas,
Escravidão,
Escravidão,
Escravidão,
Exércitos,
Exércitos,
Exércitos,
Idade
Idade
&Idade
Idosos,
& Idosos,
& Idosos,
Riqueza
Riqueza
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& Pobreza,
& Pobreza,
& Pobreza,
Tecnologia
Tecnologia
Tecnologia
Militar
Militar
Militar
& Táticas,
& Táticas,
& Táticas,
Viúvas
Viúvas
Viúvas
& Órfãos;
& Órfãos;
& Órfãos;
• Leis
• Leis
e•Governo:
Leis
e Governo:
e Governo:
Alfabetização,
Alfabetização,
Alfabetização,
Cidadãos
Cidadãos
Cidadãos
& Estrangeiros,
& Estrangeiros,
& Estrangeiros,
Educação,
Educação,
Educação,
Herança,
Herança,
Herança,
LeisLeis
& Leis
& &
Crimes,
Crimes,
Crimes,
Mendigos
Mendigos
Mendigos
& Esmolas,
& Esmolas,
& Esmolas,
Polícia
Polícia
Polícia
& Prisões,
& Prisões,
& Prisões,
Tributação;
Tributação;
Tributação;
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• Relacionamentos:
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Adoção,
Adoção,
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Beijos
Beijos
&Beijos
Abraços,
& Abraços,
& Abraços,
Casamento,
Casamento,
Casamento,
Parto
Parto
&Parto
Crianças;
& Crianças;
& Crianças;
• Saúde
• Saúde
• Saúde
e higiene:
e higiene:
e higiene:
Banhos
Banhos
Banhos
& Lavagens,
& Lavagens,
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Doenças
Doenças
Doenças
& Pragas,
& Pragas,
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Odontologia
Odontologia
Odontologia
& Dentes,
& Dentes,
& Dentes,
Produção
Produção
Produção
de Alimentos,
de Alimentos,
de Alimentos,
Saneamento;
Saneamento;
Saneamento;
• Trabalho
• Trabalho
• Trabalho
e negócios:
e negócios:
e negócios:
Açougueiros
Açougueiros
Açougueiros
& Carne,
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& Agricultura,
Carne,
Agricultura,
Agricultura,
Empréstimos,
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• Vida
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Aquecimento
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Cidades,
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Moradias,
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• Outros:
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Aves,
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Insetos,
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Plantas
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Autores
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Marvin
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R. Wilson
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