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O Dicionário dada
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Vida
Diária
Diária
Diária
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Antiguidade
Antiguidade
Bíblica
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Bíblica
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doméstica
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Arte,
Cerâmica
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Cerâmica
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Dança,
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Drama
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Música;
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• Beleza:
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Cabelos,
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Cosméticos,
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Joias,
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Perfumes,
Joias,
Perfumes,
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Roupas;
Roupas;
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• Costumes:
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Banquetes,
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Ferramentas
Ferramentas
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& Utensílios,
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Juramentos
Juramentos
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& Votos,
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& Luto
Votos,
Luto
& Pranto;
Luto
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• Dinâmica
• Dinâmica
• Dinâmica
Social:
Social:
Social:
Armas,
Armas,
Armas,
Escravidão,
Escravidão,
Escravidão,
Exércitos,
Exércitos,
Exércitos,
Idade
Idade
&Idade
Idosos,
& Idosos,
& Idosos,
Riqueza
Riqueza
Riqueza
& Pobreza,
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Tecnologia
Tecnologia
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Militar
Militar
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& Táticas,
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& Táticas,
Viúvas
Viúvas
Viúvas
& Órfãos;
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• Leis
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e•Governo:
Leis
e Governo:
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Alfabetização,
Alfabetização,
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Cidadãos
Cidadãos
Cidadãos
& Estrangeiros,
& Estrangeiros,
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Educação,
Educação,
Educação,
Herança,
Herança,
Herança,
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Crimes,
Crimes,
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Mendigos
Mendigos
Mendigos
& Esmolas,
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Polícia
Polícia
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& Prisões,
& Prisões,
& Prisões,
Tributação;
Tributação;
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• Relacionamentos:
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Adoção,
Adoção,
Adoção,
Beijos
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&Beijos
Abraços,
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Casamento,
Casamento,
Casamento,
Parto
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Crianças;
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• Saúde
• Saúde
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e higiene:
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Banhos
Banhos
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& Lavagens,
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Doenças
Doenças
Doenças
& Pragas,
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Odontologia
Odontologia
Odontologia
& Dentes,
& Dentes,
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Produção
Produção
Produção
de Alimentos,
de Alimentos,
de Alimentos,
Saneamento;
Saneamento;
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• Trabalho
• Trabalho
• Trabalho
e negócios:
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Açougueiros
Açougueiros
Açougueiros
& Carne,
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& Agricultura,
Carne,
Agricultura,
Agricultura,
Empréstimos,
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Empréstimos,
Peixe
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Pesca;
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• Vida
• Vida
doméstica:
• Vida
doméstica:
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Aquecimento
Aquecimento
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& Iluminação,
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Cidades,
Cidades,
Cidades,
Moradias,
Moradias,
Moradias,
Móveis;
Móveis;
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Árvores,
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Aves,
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Cães,
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Cães,
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Cães,
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Insetos,
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Traduzido por Luís Aron de Macedo
1ª edição
Rio de Janeiro
2020
Título do original em inglês: Dictionary of Daily Life in Biblical & Post-Biblical Antiquity
– Complete in One Volume – A-Z
Peabody, Massachusetts, EUA
Primeira edição em inglês: 2017
Tradução: Luís Aron de Macedo
1ª edição: 2020
Tiragem: 2.000
Aborto.................................................................................................................45
Açougueiros & Carne..........................................................................................50
Adivinhação & Lançamento de Sortes...............................................................58
Adoção................................................................................................................83
Adultério.............................................................................................................89
Afrodisíacos & Feitiços Eróticos..........................................................................96
Agricultura........................................................................................................102
Alfabetização.....................................................................................................109
Amamentação & Ama de Leite........................................................................118
Animais Selvagens & Caça...............................................................................141
Aquecimento & Iluminação..............................................................................164
Aquedutos & Abastecimento de Água..............................................................178
Armas................................................................................................................185
Arquivos............................................................................................................207
Arte...................................................................................................................213
Árvores..............................................................................................................221
Astrologia..........................................................................................................245
Atletismo...........................................................................................................252
Aves...................................................................................................................259
Bancos & Empréstimos.....................................................................................271
Banhos & Lavagens...........................................................................................279
Banquetes..........................................................................................................288
Barbas & Barbeiros...........................................................................................296
Barcos & Navios................................................................................................304
Bebidas Alcoólicas.............................................................................................313
Beijos & Abraços...............................................................................................321
Bibliotecas & Livros..........................................................................................333
Cabelos..............................................................................................................362
Cães...................................................................................................................374
Calendários.......................................................................................................382
Camelos............................................................................................................391
Casamento........................................................................................................396
Cavalos..............................................................................................................421
Celibato.............................................................................................................428
Censo................................................................................................................435
Cerâmica & Peças de Cerâmica........................................................................443
Cidadãos & Estrangeiros...................................................................................450
Cidades.............................................................................................................463
Comércio...........................................................................................................477
Comunicações & Mensageiros..........................................................................488
Consumo de Alimentos.....................................................................................506
Contracepção & Controle de Natalidade.........................................................529
Cosméticos........................................................................................................536
Couro................................................................................................................542
Dança................................................................................................................551
Debulha & Joeiramento....................................................................................564
Demônios..........................................................................................................576
Divórcio.............................................................................................................591
Doenças & Pragas.............................................................................................611
Drama & Teatros..............................................................................................630
Educação...........................................................................................................652
Escravidão.........................................................................................................685
Espetáculos........................................................................................................707
Estupro..............................................................................................................716
Eunucos.............................................................................................................731
Exércitos............................................................................................................739
Ferramentas & Utensílios..................................................................................747
Foles & Fornos...................................................................................................760
Garrafas & Vidro..............................................................................................767
Herança............................................................................................................775
Idade & Idosos..................................................................................................783
Incenso..............................................................................................................791
Infanticídio & Abandono de Bebês...................................................................805
Insetos...............................................................................................................816
Jogos & Jogos de Azar.......................................................................................832
Joias...................................................................................................................846
Jumentos & Mulas.............................................................................................859
Juramentos & Votos...........................................................................................866
Lavanderia & Pisoeiros......................................................................................877
Leis & Crimes....................................................................................................888
Leite & Produtos Lácteos..................................................................................905
Luto & Pranto...................................................................................................918
Magia................................................................................................................944
Marfim..............................................................................................................961
Medicina & Médicos.........................................................................................982
Meio de Troca.................................................................................................1002
Mendigos & Esmolas.......................................................................................1013
Menstruação...................................................................................................1021
Metalurgia.......................................................................................................1032
Mineração.......................................................................................................1065
Moradias.........................................................................................................1086
Morte & a Vida após a Morte.........................................................................1106
Móveis.............................................................................................................1124
8
Música.............................................................................................................1137
Nomes.............................................................................................................1146
Odontologia & Dentes....................................................................................1171
Ossos & Objetos de Ossos...............................................................................1188
Palácios............................................................................................................1196
Parto & Crianças.............................................................................................1215
Pecuária...........................................................................................................1224
Peixe & Pesca...................................................................................................1230
Perfumes..........................................................................................................1238
Plantas & Flores..............................................................................................1253
Polícia & Prisões..............................................................................................1266
Portas & Chaves..............................................................................................1284
Portos..............................................................................................................1294
Produção de Alimentos...................................................................................1313
Prostituição......................................................................................................1330
Pureza & Impureza.........................................................................................1339
Relações Sexuais entre Pessoas do mesmo Sexo.............................................1353
Riqueza & Pobreza.........................................................................................1366
Roupas............................................................................................................1389
Sacrifícios Humanos.......................................................................................1402
Saneamento....................................................................................................1423
Selos................................................................................................................1447
Sonhos.............................................................................................................1455
Suborno..........................................................................................................1477
Tecidos............................................................................................................1484
Tecnologia Militar & Táticas..........................................................................1499
Tempo.............................................................................................................1509
Tingimento.....................................................................................................1520
Tributação.......................................................................................................1528
Virgens & Virgindade.....................................................................................1537
Viticultura.......................................................................................................1556
Viúvas & Órfãos..............................................................................................1564
ERAS TECNOLÓGICAS
As idades tecnológicas variam muito de um lugar para outro, mesmo dentro do
Antigo Oriente Próximo. As datas a seguir, que abrangem determinada tecnologia,
devem ser vistas como altamente aproximadas, como representantes do Antigo
Oriente Médio em geral e como sujeitas a debate acadêmico permanente. As
Como se parecia Jesus? Pelo artigo sobre BARBAS & BARBEIROS, podemos
concluir com quase certeza que Jesus tinha barba. Por quê? Porque os homens na
antiguidade não podiam barbear-se. Tinham de recorrer a escravos ou barbeiros
para fazer a barba. Além disso, as barbas eram símbolo de masculinidade e antigui-
dade. A palavra do Antigo Testamento para “anciãos” é literalmente “barbados”.
Onde as pessoas moravam? Isso variava de um lugar para outro e de um pe-
ríodo para outro. Pelo artigo sobre MORADIAS, o leitor saberá que, na era do
Antigo Testamento na Palestina, a maioria das pessoas vivia em casas com telhados
planos e pátios cheios de animais. Em Roma, 95% das pessoas viviam em ínsulas
(insulae), habitações lotadas sem cozinha ou banheiro.
E quanto às relações entre homens e mulheres? Pelos artigos sobre CASAMEN-
TO e EDUCAÇÃO, o leitor tomará conhecimento de um fato surpreendente, que
está ausente no Antigo e no Novo Testamento — a idade média dos cônjuges. As
nossas evidências extrabíblicas mostram que a noiva era uma jovem adolescente, e
o noivo, vários anos mais velho do que ela. O casamento prematuro das meninas,
para preservar sua pureza, significava que elas tinham, na melhor das hipóteses,
apenas uma educação primária, com exceção das ricas famílias romanas, que
podiam pagar professores particulares para suas filhas.
O Dicionário da Vida Diária na Antiguidade Bíblica e Pós-Bíblica é também bastante
singular na tentativa de rastrear os desenvolvimentos das características do mundo
bíblico segundo o que os historiadores franceses da Escola dos Annales chamaram
de longue durée, isto é, ao longo dos séculos após a era do Novo Testamento. É instru-
tivo entender como os rabinos judeus, seguindo as tradições dos fariseus, debatiam
sobre a aplicação das leis bíblicas na mudança das circunstâncias, e como os Pais
da Igreja também respondiam a esses mesmos desenvolvimentos.
Em vez de tentar cobrir todos os tópicos possíveis, optamos por concentrar-nos
em 120 assuntos, não por causa de sua proeminência no texto bíblico, mas por
causa dos papéis significativos que desempenharam no mundo antigo. Por exemplo,
temas como ADIVINHAÇÃO & LANÇAMENTO DE SORTES, ASTROLO-
GIA, MAGIA e SONHOS são mencionados com moderação nos textos bíblicos,
mas eram facetas dominantes da vida na antiguidade.
O esboço que cada colaborador seguiu foi para resumir brevemente as referên-
cias ao seu assunto: (1) no Antigo Testamento e (2) no Novo Testamento; seguido
por (3) o mundo do Oriente Próximo, principalmente a Mesopotâmia e o Egito,
com referências à Anatólia e à Pérsia; (4) o mundo greco-romano, dos minoicos e
micênicos, Homero, através da era helenística, da República Romana e do Império
Romano; (5) o mundo judaico, incluindo os apócrifos do Antigo Testamento, os
pseudepígrafos, Fílon, Josefo, os Manuscritos do Mar Morto, a Mishná e os Talmu-
des (Babilônico e de Jerusalém); e (6) o mundo cristão, incluindo os Pais da Igreja
até Crisóstomo e Agostinho, tal qual o início do Império Bizantino até Justiniano.
Cada artigo termina com uma bibliografia que fornece fontes primárias para o
artigo e material para estudo adicional. Além disso, os artigos são cuidadosamente
cruzados com outros artigos impressos ou planejados.
As citações do Antigo Testamento e do Novo Testamento, salvo indicação em
contrário, são da Almeida Revista e Corrigida (2009). As citações da Septuaginta
(LXX) são tiradas de A. Pietersma e B. G. Wright, tradutores, A New English Trans-
42
lation of the Septuagint (New York: Oxford University Press, 2007). As citações do
Tosefta são de J. Neusner, The Tosefta (2 vols.; Peabody, MA: Hendrickson, 2013,
reimpressão). As citações dos Midrashim são de Soncino Midrash Rabba for Macintosh
(Copyright Institute for Computers in Jewish Life and Davka Corporation, 2008).
As citações dos apócrifos do Antigo Testamento são de Revised Standard Version;
as dos pseudepígrafos do Antigo Testamento são de James H. Charlesworth, ed.,
The Old Testament Pseudepigrapha (2 vols.; Garden City, NY: Doubleday, 1983, 1985).
As citações clássicas (incluindo Fílon e Josefo) são da Loeb Classical Library. As
referências aos Manuscritos do Mar Morto são de The Dead Sea Scrolls: A New
Translation, de Michael Wise, Martin Abegg Jr. e Edward Cook (ed. rev.; New
York: HarperSanFrancisco, 2005). As citações da Mishná são de Herbert Danby,
traduzido para o inglês, The Mishnah (Oxford: Oxford University Press, 1933). As
citações do Talmude Babilônico são de The Soncino Talmud (Institute for Computers
in Jewish Life and Davka Corporation, 2007); as do Talmude de Jerusalém são
de The Jerusalem Talmud, A Translation and Commentary, ed. Jacob Neusner (Peabody,
MA: Hendrickson Publishers, 2009). Com a exceção das citações de Michael W.
Holmes, The Apostolic Fathers: Greek Texts and English Translations (3ª ed.; Grand Rapids:
Baker Academic, 2007), as referências patrísticas são de New Advent, Fathers of
the Church (www.NewAdvent.org; 2007; © Kevin Knight). As citações dos textos
de Nag Hammadi são citadas de Marvin Meyer, ed., The Nag Hammadi Scriptures
(New York: HarperOne, 2007).
Minha mais profunda gratidão vai, em primeiro lugar, a Marvin R. Wilson,
que examinou cuidadosamente todos os artigos e forneceu inumeráveis edições e
correções. Agradeço a Graham Harrison por permitir-nos atualizar e expandir os
excelentes verbetes de seu falecido pai. Desejo expressar minha gratidão a todos os
colaboradores, muitos dos quais eram meus alunos de doutorado na Universidade
de Miami. Meus agradecimentos vão também à minha esposa Kimi, que passou
incontáveis horas fotocopiando páginas de livros e periódicos. Também sou grato
a Sue Cameron, que checou as referências bíblicas e apócrifas para mim.
Marvin e eu expressamos nossos profundos agradecimentos a Allan Emery,
editor-chefe da editora Hendrickson, por ter passado boa parte dos últimos dois
anos antes de sua aposentadoria supervisionando o primeiro volume deste projeto,
e também a Carl Nellis por seu trabalho naquele volume. Também somos pro-
fundamente gratos a Jonathan Kline, nosso novo editor na Hendrickson, por sua
meticulosa e minuciosa supervisão do trabalho nos Volumes 2, 3 e 4, e a Hannah
Brown por sua assistência com os quatro volumes. Nosso apreço também vai para
John F. Kutsko, que ajudou com pesquisas nos primeiros estágios deste projeto de
dicionário. Agradecimentos especiais também são devidos a Foy D. Scalf, arquivista
chefe do Instituto Oriental da Universidade de Chicago, por fornecer-nos as fontes
de muitas citações do Oriente Próximo.
Por sua ajuda em fornecer algumas das fotografias para este dicionário, somos
gratos a Rami Arav (University of Nebraska em Omaha), Michal Artzy (University
of Haifa), Rozenn Bailleul-LeSuer (University of Chicago), Thomas E. Levy (Uni-
versity of California em San Diego), Danieli Master (Wheaton College), Amihai
Mazar (Hebrew University), Foy D. Scalf (University of Chicago), Steven L. Tuck
(Miami University) e Alain Zivie (Centre national de la recherche scientifique).
43
Por fim, nossa profunda gratidão vai para Andrew Pottorf, por sua valiosa
assistência com este projeto. Um jovem superdotado com um talento incomum
para escrever e editar, Andrew está atualmente cursando seu doutorado no departa-
mento de Línguas e Civilizações do Oriente Próximo na Universidade de Harvard.
Os autores deste dicionário e os editores da Hendrickson Publishers apreciam a
soberba erudição, dedicada ética de trabalho e grande flexibilidade de Andrew.
Edwin M. Yamauchi
Abril de 2016
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A. O ANTIGO TESTAMENTO
A Bíblia não aborda diretamente a questão do aborto, mas passagens como Jó
10.8-12; Salmos 51.5,6; 139.13-16; Jeremias 1.5 e Lucas 1.39-44 são citadas para
apoiar a crença de que o feto é um ser humano portador da imagem de Deus.
Êxodo 21.22,23 fala de dois casos envolvendo uma briga que machuca uma
mãe grávida. O texto hebraico é difícil de interpretar. Uma interpretação (e.g.,
RSV e NRSV) sustenta que, no primeiro caso, se um aborto espontâneo ocorrer
sem ferimentos à mãe, então se faz necessária compensação monetária. No segundo
caso, se a mulher for machucada, a regra da lex talionis (“a lei da retaliação”, e.g.,
“olho por olho”) é invocada. Alguns argumentam que essa frase estereotipada
não deve ser tomada literalmente, mas que quem machucou a mulher tinha de
compensar o marido pela morte de sua esposa ou de seu bebê. O texto hebraico
também pode ser interpretado como na NIV para significar que, no primeiro caso,
um nascimento prematuro de uma criança saudável ocorre sem ferimentos à mãe
ou à criança, e, no segundo caso, uma delas é ferida.
A tradução grega (a Septuaginta) de Êxodo 21.22,23 é bem diferente do he-
braico: “Agora, se dois homens lutam e atacam uma mulher grávida e seu filho sai
não completamente formado, ele será punido com uma multa. Segundo o marido
da mulher impor, ele deve pagar com avaliação judicial. Mas se for totalmente
formado, ele pagará vida por vida, olho por olho, dente por dente”. A distinção
entre uma criança “não formada” e uma criança “formada” pode ter sido influen-
ciada pela opinião de Aristóteles.
B. O NOVO TESTAMENTO
A palavra grega usual para o aborto, amblosis, nunca é usada no Novo Testamen-
to. Paulo, em sua humildade (1 Co 15.8), refere-se a si mesmo como extroma, que
pode significar aborto, mas que nesse contexto significa um aborto espontâneo
como expressão da miséria humana ou um embrião ainda em desenvolvimento.
É possível que a condenação daqueles que usavam “drogas” pharmakeia para fins
nefastos (Gl 5.20; Ap 9.21; 18.23) incluísse aqueles que usavam drogas abortivas.
D. O MUNDO GRECO-ROMANO
Pseudo-Galeno alegava que Licurgo, o grande legislador espartano (s. VIII a.C.),
e Sólon, o grande reformador ateniense (594 a.C.), proibiam o aborto. Enquanto
os espartanos, que precisavam de homens fortes para seus exércitos, proibiam o
aborto, eles praticavam a exposição de homens fracos e mulheres excessivas.
O famoso Juramento de Hipócrates fez com que os médicos jurassem: “Eu
não darei um remédio mortal (pharmakon) a ninguém, se for solicitado, nem farei
uma sugestão nesse sentido. Da mesma forma, não darei a uma mulher uma dro-
ga abortiva (pesson phthorion)” (EDELSTEIN, p. 2,3). Estudiosos acreditam que o
juramento reflete a crença pitagórica de que a alma está presente na concepção.
Há evidências, no entanto, do chamado Corpus Hipocrático de que os abortos
eram praticados. O tratado hipocrático Doenças das Mulheres lista vários supositórios
vaginais que, acreditavam-se, eram abortivos.
Embora Platão sustentasse que o feto era um ser vivo, para seu programa
eugênico, ele prescreveu a procriação apenas para homens entre 25 e 55 anos e
mulheres entre 20 e 40 anos de idade. Para os indivíduos fora dessas idades, “nós
os exortamos a assegurar que nenhuma criança, caso seja concebida, será trazida
à luz” (Resp. 5.9.459).
Aristóteles sustentava que o feto recebia uma “alma vegetativa ou nutritiva” no
momento da concepção, uma “alma animal ou sensível” em um estágio posterior
e uma “alma racional” à medida que o momento do nascimento aproximava-se.
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Em História dos Animais 7.3, ele expressou a crença de que o primeiro movimento
ocorria no 40º dia para os homens e no 90º dia para as mulheres. Para conter o
excesso de população, ele sugeriu que o tamanho das famílias fosse limitado, se
necessário, por abortos (Pol. 7.15.25).
Os estoicos em geral sustentavam que o feto era apenas parte do corpo da mãe
e que sua vida começava com a primeira respiração. Por outro lado, Musônio Rufo,
importante moralista estoico romano, opunha-se ao aborto. Ele sustentava que o
único propósito do sexo é a procriação, uma visão adotada mais tarde pelos cristãos.
Como os estudiosos destacam, a eventual oposição grega e romana ao aborto não se
baseava em uma preocupação com o feto individual, mas com o bem-estar do estado.
O aborto generalizou-se no último século da República Romana e no início
do Império Romano. Cícero (s. I a.C.) pediu a pena capital em casos de aborto
deliberado (Em Defesa de Cluêncio 32). Embora Augusto tenha aprovado a legislação
para promover o casamento e a procriação, a lei romana adotou a visão estoica
de que o feto ainda não era uma pessoa.
Ovídio, que desagradava a Augusto com seus poemas eróticos, protestou
veementemente contra o aborto de sua ama Corina e escreveu: “Aquela mulher
que foi a primeira a rasgar um feto frágil de seu ventre merecia morrer de sua
própria carnificina. [...] Se essa prática viciosa tivesse encontrado favor entre as
mães dos bons velhos tempos, a raça humana teria se extinguido” (Am. 2.14.5-10).
Sêneca elogiou sua mãe por nunca ter destruído um filho em seu ventre. Nero
exilou sua esposa Otávia por ter feito um aborto. Domiciano foi culpado por ter
tido um caso com sua sobrinha e depois ordenado que ela fizesse um aborto, o
que causou a morte dela.
Juvenal denunciava mulheres ricas que se recusaram a ter filhos: “Tão poderosas
são as habilidades e drogas da mulher que fabrica esterilidade e aceita contratos
para matar humanos dentro da barriga” (Sat. 6.594-597). Essas mulheres da classe
alta valiam-se do aborto para esconder suas atividades sexuais ilícitas ou para evitar
serem desfiguradas pela gravidez.
Sorano de Éfeso (98-137 d.C.), a autoridade mais importante em ginecologia
da antiguidade, afirmava que o aborto só era permissível para salvar a vida de uma
mulher. Ele opunha-se ao uso de instrumentos cortantes, mas preferia remédios
abortivos, como o phthorion, que destruía o feto, ou o exbolon, que expelia o feto.
Sorano mencionou várias poções (Gyn. I 19.64-65), algumas das quais, como o
lupino e o pepino purgante, eram provavelmente eficazes.
Os imperadores Septímio Severo (193-211 d.C.) e Caracala (211-217 d.C.)
prescreveram o banimento de uma mulher divorciada que tivesse um aborto con-
trariando a vontade de seu ex-marido, e a pena de morte para quem fornecesse
um remédio abortivo que causasse a morte da mulher.
E. O MUNDO JUDAICO
Fílon, comentando Êxodo 21.22,23, seguiu a Septuaginta e escreveu: “Mas, se
o rebento já está moldado e todos os membros têm suas próprias qualidades e
lugares no sistema, ele deve morrer, pois aquilo que corresponde a essa descrição
é um ser humano” (Spec. 3.108-109; cf. QG 1.25).
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Josefo proclamou: “A Lei ordena que todos os filhos sejam criados e proíbe as
mulheres de causar aborto ou de eliminar o feto; a mulher condenada por isso é
considerada uma infanticida, porque ela destrói uma alma e diminui a raça” (Ag.
Ap. 2.202).
A Mishná permitia abortos terapêuticos para salvar a vida da mãe sob certas
restrições: “Se uma mulher estiver em difícil trabalho de parto, a criança deve ser
cortada enquanto estiver no útero e trazida à luz membro por membro, uma vez
que a vida da mãe tem prioridade sobre a vida da criança; mas, se a maior parte já
nasceu, não pode ser tocada, já que a reivindicação de uma vida não pode anular
a reivindicação de outra vida” (m. ’Ohol. 7.6).
No Talmude, lemos: “Sobre a autoridade de R. Ismael, foi dito: ‘(A pessoa é
executada) até pelo assassinato de um embrião’. Qual é o argumento de Ismael
(para isso)? Porque está escrito: ‘Quem derramar o sangue de um homem dentro
de (outro) homem, terá seu sangue derramado’. O que é um homem dentro de
(outro) homem? — Um embrião no ventre de sua mãe” (b. Sanh. 57b). Os gentios
que causassem a perda de um feto eram culpados de crime capital.
F. O MUNDO CRISTÃO
O Didaquê condenou explicitamente o aborto como assassinato: “Não abortarás
uma criança (ou phoneuseis teknon en phthora)” (Did. 2.2; cf. Epístola de Barnabé 19.5,
Holmes). Os apologistas posteriores, como Tertuliano, defenderam os cristãos
contra a acusação pagã de canibalismo, declarando: “Para nós, o assassinato é
proibido de uma vez por todas; pois, mesmo a criança no útero não nos é lícito
destruir”. Ele não fez distinção entre aborto e infanticídio, dizendo: “Proibir o
nascimento é apenas um assassinato mais rápido” (Apol. 9.8). Atenágoras pergun-
tou: “E quando dizemos que aquelas mulheres que usam remédios para provocar
o aborto cometem assassinatos e terão de prestar contas a Deus pelo aborto, em
que princípio deveríamos cometer assassinato?” (Leg. 35). Basílio escreveu em uma
carta a Anfilóquio: “A mulher que propositalmente destrói seu feto é culpada de
assassinato. Conosco não há nenhuma boa indagação quanto à sua formação ou
não formação. Neste caso, não é apenas o ser que está prestes a nascer quem é
vindicado, mas a mulher em seu ataque a si mesma; porque, na maioria dos casos,
as mulheres que fazem tais tentativas morrem. A destruição do embrião é um
crime adicional, um segundo assassinato, em todos os casos, se considerarmos que
foi feito com intenção. A punição, no entanto, dessas mulheres não deve ser por
toda a vida, mas pelo prazo de dez anos. E que o tratamento delas não dependa
do mero lapso de tempo, mas do caráter de seu arrependimento” (Ep. 188.2).
Em carta a Eustóquia, Jerônimo advertiu: “Algumas, quando se veem com
criança através de seus pecados, usam remédios para obter aborto, e quando (como
frequentemente acontece) morrem com seu descendente, elas entram no mundo
inferior carregadas de culpa, não só de adultério contra Cristo, mas também do
suicídio e assassinato da criança” (Ep. 22.13). Agostinho, após a Septuaginta de
Êxodo 21.22,23, sustentava que a destruição de um feto “não formado”, embora
imoral, não era assassinato. A codificação das leis sob o governo de Justiniano
listava o aborto como motivo para o divórcio.
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A. O ANTIGO TESTAMENTO
O verbo hebraico tabah descreve a preparação do animal para a festa (o trabalho
do açougueiro), ao passo que o verbo hebraico zabah designa o processo ritual do
sacrifício (o dever sacerdotal). José abateu um animal para seus irmãos visitantes
(Gn 43.16). Nabal recusou-se a fazê-lo por Davi e seus homens (1 Sm 25.11). A
palavra também se refere ao massacre de pessoas (Is 34.2). O servo do Senhor foi
conduzido como cordeiro ao matadouro (Is 53.7).
Como substantivo, tabbah significa açougueiro, cozinheiro ou verdugo, e ocorre
32 vezes no Antigo Testamento (veja Êx 22.1 [heb. 21.37]; Pv 9.2; 1 Sm 9.23,24). O
cognato matbeah significa quintal do abate. A ocupação de Potifar (sar hat tabbahim)
há muito que tem intrigado os tradutores. O Targum e a Septuaginta chamam
Potifar de “açougueiro, cozinheiro”. A Vulgata chama-o de “chefe do exército”,
e o Antigo Siríaco, de “comandante da guarda”. A frase aramaica cognata pode
reter o sentido de “verdugo principal” em Daniel 2.14.
Em Gósen, os israelitas deviam estar acostumados com a rica dieta dos egípcios,
pois, depois de uma constante dieta de maná no deserto do Sinai, eles reclamaram:
“Quem nos dará carne a comer?” (Nm 11.4).
Nos tempos do Antigo Testamento, a carne era um luxo, não uma dieta básica,
como eram os grãos, o vinho e o óleo (Êx 16.3; Dt 11.14). Os hebreus podiam comer
animais limpos (tahor), os animais ruminantes herbívoros, selvagens ou domésticos,
com cascos fendidos e que ruminassem (Dt 14.6). O Pentateuco lista 10 desses
animais: boi, ovelha, cabra, veado, gazela, cabrito montês, cabra silvestre, íbex,
antílope e ovelha montanhesa (Dt 14.4,5). Mas o consumo de animais impuros,
como o camelo e o porco, que têm apenas uma das características exigidas, era
proibido. Há 42 animais impuros listados, incluindo o coelho, a lebre e os que
escorregam no chão (Dt 14.7,8; Lv 11.41,42). Os israelitas não podiam comer
um animal que tivesse morrido de causas naturais ou que tivesse sido morto por
outro animal.
Tanto os cordeiros como os bezerros (Gn 18.7,8; 1 Sm 28) eram carne de
consumo comum na Idade do Bronze. A “bruxa” de En-Dor matou um bezerro
B. O NOVO TESTAMENTO
O Novo Testamento usa sphazein (“abater”; substantivo sphage) tanto para referir-se
à perseguição dos justos (Rm 8.36) como para o sacrifício de animais (At 7.42).
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notepe III deu mil porcos e mil leitões ao templo de Ptá, em Mênfis. O ofício de
“Supervisor de Suínos” é atestado no reinado de Sesóstris I. Seti tinha porcos
criados no templo de Osíris, em Abidos.
Evidências faunísticas da aldeia dos operários em Amarna indicam que por-
cos e cabras eram criados e depois mortos nesta área. A maioria dos bovinos era
abatida com cutelos, ao passo que os porcos e cabras eram mais cuidadosamente
abatidos com facas. O grande templo de Áton tinha um açougue. Ali perto ficava
a casa de Panehsy, supervisor do gado do Áton.
D. O MUNDO GRECO-ROMANO
No mundo grego e no romano, a carne de porco era uma das carnes preferidas.
Na Odisseia, de Homero, Ulisses ordena aos seus servos: “Matem imediatamente o
melhor dos porcos” (Od. 24:215). O épico homérico fala de hecatombes, ou seja,
do sacrifício de 100 bois. Durante a Era Clássica (século V a.C.), centenas de bois
eram sacrificados no grande altar de Atenas.
No mundo grego, ovelhas, cabras e bois de diferentes idades e qualidades
eram especificados para diferentes festas e ocasiões como sacrifícios. O animal
era levado ao altar, golpeado e morto. Principalmente os ossos e a gordura eram
queimados como a porção do deus. Outras porções colocadas na mesa do deus
eram comidas pelos sacerdotes e adoradores.
As evidências faunísticas do micênico “Palácio de Nestor”, em Pilos, sugerem
que os animais eram abatidos perto do palácio. O grande número de ossos de
10 animais bovinos em um único depósito indica que duas ou mais toneladas
de carne eram fornecidas para uma grande festa. Uma tabuinha com texto em
Linear B proveniente de Pilos (Un03) lista uma oferta para o rei: um boi, vinte e
seis carneiros, seis ovelhas, dois bodes, duas cabras, um porco de engorda e seis porcas
(VENTRIS e CHADWICK, p. 221).
Em Roma, a palavra lanius (“açougueiro”) é derivada de laniare (“cortar carne”).
Segundo O Aldrabrão, de Plauto, os açougueiros abatiam os animais fora da porta,
provavelmente a Porta Capena. Os açougues eram conhecidos como lanienae. Plauto
fala do logro dos açougueiros, que vendiam carne de carneiro dura alegando que
se tratava de carne de cordeiro. Cícero enumera a profissão de açougueiro como
uma das ocupações que estava abaixo da dignidade de cidadão. Muitos açougueiros
eram libertos, ou seja, ex-escravos.
Em Roma, havia associações de lanii (açougueiros) desde a época de fins da
República. Alguns dos macellarii (“comerciantes”) eram açougueiros, como Júlio
Vitali, cuja lápide mostra-o cortando a cabeça de um porco, com postas de carne
e ferramentaria para açougue pendurados na parede de sua loja. Outra inscrição
em memória de um açougueiro mostra um culter (faca) e um bucranium (crânio de
boi decorativamente trabalhado).
Uma combinação comum de oferta ao deus Marte era a suovetaurilia, que
consistia no sacrifício de um porco (sus), um carneiro (ovis) e um touro (taurus). O
animal era golpeado, a garganta cortada e as entranhas examinadas. Era estripado,
e as sobras e gordura eram queimadas no altar, enquanto a carne seria feita em
pedaços e depois consumida, com o excedente colocado à venda. O homem que
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golpeava o touro chamava-se popa; o homem que cortava a garganta era o cultraris,
e o homem que empunhava o machado para cortar a cabeça era o victimarius.
A carne fica mais tenra se for cozida antes de o rigor mortis estabelecer-se em 12
horas, de modo que, tanto quanto possível, era comida no local do abate, com o
excedente rapidamente transportado para um mercado de carnes.
No macellum, em Pompeia, esqueletos inteiros de ovelhas mortas pela erupção
do Vesúvio em 79 d.C. indicam que não só os animais eram abatidos nas fazendas,
mas também que alguns eram abatidos no próprio estabelecimento. A carne era
conservada por secagem, defumação, salga ou salmoura. A carne de porco era
salgada e depois defumada.
Os romanos valorizavam os porcos, principal fonte de carne, pois eram facil-
mente alimentados com bolotas e produziam duas ninhadas por ano com até 10
leitões por ninhada. O latim tem mais termos referentes aos suínos do que a outro
animal. Consideravam os leitõezinhos como iguaria, assim como os presuntos
defumados e as salsichas de porco. Os romanos também gostavam do sabor do
javali, particularmente dos que haviam sido engordados em pocilgas.
Uma iguaria peculiarmente romana era um roedor engordado conhecido como
rato de campo. Na obra Satíricon, de Petrônio, o liberto e rico Trimálquio servia
ratos de campo com mel e cobertos com sementes de papoula.
A carne era mais frequentemente cozida ou assada. Apício lista mais de 50 receitas
de carne cozida e mais de 40 de carne assada. Como a carne cozida era um tanto
sem graça, os romanos comiam-na com garum, molho feito de peixe fermentado. Os
leitõezinhos eram assados, e miudezas como fígado e rins eram fritos. Apício fornece
receitas para refeições que contêm vísceras, como rins, fígado, estômago, útero e úberes.
Celso, o enciclopedista da medicina, recomendava, como benéfico para o
estômago, carne de boi e outros tipos de carne, miúdos de porco incluindo pés,
orelhas e útero. O hipocondríaco Élio Aristides, ao receber o oráculo de que “ele
viveria enquanto a vaca vivesse no campo”, abstinha-se de carne bovina. Por
outro lado, Maximino I, rival de Constantino, abstinha-se de verduras e tinha a
reputação de consumir 40 quilos de carne por dia (H.A., The Two Maximini, 4.1).
E. O MUNDO JUDAICO
Foi a tentativa de Antíoco IV em 167 a.C. de helenizar os judeus, proibindo a
circuncisão, abatendo uma porca no Templo e forçando os judeus, sob pena de
morte, a comer carne de porco, que provocou o martírio e, em seguida, a Revolta
Macabeia. Sete de seus filhos e sua mãe preferiram morrer em vez de comer a
carne proibida (2 Mc 7). Um judeu idoso chamado Eleazar recusou a oferta de
fingir comer carne de porco para salvar-se (4 Mc 6.16-20).
Em 40 d.C., o imperador Gaio Calígula perguntou a Fílon, que viera a Roma
como embaixador dos judeus de Alexandria: “Por que vocês não comem carne de
porco?”. Os judeus ressaltaram que há pessoas que não comiam cordeiro. Tanto o
satirista Petrônio (fragmento 37) quanto Plutarco (Quaest. Conv. 4.5.1) sustentavam
que os judeus não comiam carne de porco, porque adoravam ou um deus-porco
ou o porco. Tácito (Hist. 5.4.2) comentou que era porque os israelitas haviam
contraído lepra de porcos no Egito.
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F. O MUNDO CRISTÃO
O Didaquê exortou: “A respeito da comida, observe o que puder. Não coma nada
do que é sacrificado aos ídolos (eidolothutou), pois esse culto é destinado a deuses
mortos” (Did. 6.3). Justino Mártir, na obra Diálogo com Trifão, afirmou: “Aqueles
que, vindos das nações, conheceram a Deus, criador do universo, por meio de
Jesus Cristo crucificado. Esses suportam todo tormento e castigo, até o extremo da
morte, para não cometer idolatria, nem comer nada oferecido aos ídolos” (Dial. 34).
Plínio, o Jovem, na carta a Trajano relatou o sucesso de sua repressão aos cristãos,
com o resultado de que “os ritos sagrados, que haviam sido autorizados a serem
executados, estão sendo realizados novamente, e a carne de vítimas sacrificadas
está à venda em todo lugar, embora até recentemente, mal se encontrava alguém
para comprá-la” (Ep. Tra. 10.96).
Na perseguição romana aos cristãos movida por Décio (ca. 250 d.C.), os
cristãos eram obrigados a sacrificar aos deuses do império, derramar libação e
comer carne sacrificial sob pena de morte, caso não o fizessem. Alguns cristãos
condescenderam com a compra de um libellus, que certificava que haviam feito
esses atos mesmo quando não o haviam feito.
Tendo em vista que os seguidores de hereges como Taciano, Marcião e Mani
evitavam o consumo de carne, o cânon 14 do Concílio de Ancira (314 d.C.) esti-
pulou: “Fica decretado que entre o clero, presbíteros e diáconos que se abstêm de
carne deverão prová-la e depois, se assim o desejarem, poderão abster-se. Mas, se
a desdenharem e nem mesmo comerem carne com ervas servidas, mas desobe-
decerem ao cânon, que sejam retirados de sua ordem”.
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A. O ANTIGO TESTAMENTO
A Bíblia hebraica refere-se a alguns meios sancionados de adivinhação, porém
condena com mais frequência as muitas práticas adivinhantes dos vizinhos de
Israel. As instruções para o Tabernáculo no livro de Êxodo atribuem uma função
adivinhante às vestes sacerdotais. De acordo com essas instruções, o sacerdote
“levará sempre sobre o coração, na presença do Senhor, os meios para tomar
decisões em Israel” (Êx 28.30, NVI; cf. Êx 28.15) na forma de uma roupa co-
nhecida como éfode e objetos chamados o Urim e o Tumim. Primariamente, o
éfode era uma vestimenta, mas, secundariamente, o éfode do sumo sacerdote, que
tinha um bolso para o Urim e Tumim, não era apenas uma peça de roupa, mas
também um instrumento especial para adivinhação. Originalmente, o éfode do
sacerdote era para ser usado em conexão com as sortes para fornecer respostas
“sim” ou “não” a perguntas. (Quanto a sortes e cleromancia, veja mais adiante.)
Na versão da Septuaginta de 1 Samuel 14.18, Saul pede que o éfode seja trazido
(ao invés da “Arca”). Davi usa o éfode que Abiatar levava para perguntar a Deus
se os homens de Queila, a quem ele defendeu contra os filisteus, entregá-lo-iam
a Saul (1 Sm 23.13). Em outra ocasião, depois de pedir o éfode de Abiatar, Davi
pergunta ao Senhor: “Perseguirei eu a esta tropa [amalequita]? Alcançá-la-ei?”.
A resposta foi: “Persegue-a, porque, decerto, a alcançarás e tudo libertarás” (1 Sm
30.8). O Antigo Testamento também registra usos idólatras do éfode sacerdotal. Os
capítulos 17 de 18 de Juízes relatam a história de um homem chamado Mica, que
faz para si “um éfode e terafins [terapim]” (Jz 17.5), que ele usava como oráculo.
O Urim e o Tumim (heb. ’urim wetummim, “luzes e perfeição”), que são men-
cionados em conjunto com o éfode em Êxodo 28, podem ter sido objetos como
sortes que os sacerdotes usavam para determinar a resposta “sim” ou “não” (Êx
28.30; Nm 27.21; Dt 33.8). O uso desses objetos de adivinhação é registrado
em uma cena dramática durante a campanha militar de Saul contra os filisteus.
Buscando a causa do desfavor de Deus, Saul pergunta: “Se a culpa for minha ou
de Jônatas, responde pela pedra marcada Urim; mas, se a culpa for de Israel, o
teu povo, responde pela pedra marcada Tumim” (1 Sm 14.41, NTLH). Quando
a sorte cai para o lado de sua família, Saul continua: “Lançai a sorte entre mim
e Jônatas, meu filho”, e então, lemos: “E foi tomado Jônatas” (1 Sm 14.42). Mais
tarde, esse método de adivinhação caiu em desuso, como indica Esdras 2.63 ( Ne
7.65), que registra que o governador deu esta ordem aos sacerdotes que não pu-
deram apresentar registros para comprovar sua genealogia: “Que não comessem
das coisas sagradas até que houvesse sacerdote com Urim e com Tumim”.
O Antigo Testamento registra que a Arca da Aliança era consultada como
oráculo em tempos de guerra. Juízes 20 relata que os israelitas reuniram-se diante
da Arca para decidir se continuariam a lutar após uma derrota. Eles perguntaram:
“Sairei ainda mais a pelejar contra os filhos de Benjamim, meu irmão, ou pararei?
E disse o Senhor: Subi, que amanhã eu to entregarei na mão” (Jz 20.28). É possível
que lançaram sortes na presença da Arca.
O Antigo Testamento menciona ocasionalmente a adivinhação direta pela
agência de uma pessoa especialmente santa. Por exemplo, para encontrar as
jumentas perdidas de seu pai Quis, Saul busca informações de Samuel, que é
chamado de ro’e ou “vidente” (1 Sm 9.9). Contudo, na mesma passagem consta a
observação de que a palavra “profeta” (nabi’) foi, mais tarde na história de Israel,
usada para designar essa função. Samuel assegura a Saul que as jumentas já foram
encontradas e inesperadamente o unge como o primeiro rei de Israel (1 Sm 10.1).
Outros videntes/profetas foram consultados sobre doenças (1 Rs 14.1-17; 2 Rs
1.2-17; 8.7-15) e situações militares (1 Rs 22.5-28; 2 Rs 3.11-19).
A adivinhação por sortes, conhecida como cleromancia (também chamada de
sortilégio), era amplamente usada para diversos propósitos. A palavra hebraica
goral (pl. goralot) é usada 78 vezes no Antigo Testamento. As sortes eram, entre
outras coisas, usadas (1) para identificar um indivíduo culpado, como no caso de
Jonas (Jn 1.7) e, possivelmente, no caso de Acã (Js 7.14-19); (2) escolher alguém
para um cargo, como na escolha de Saul para ser rei (1 Sm 10.17-24); (3) dividir a
terra conquistada de Canaã (Nm 33.54); e (4) determinar quem traria as ofertas de
madeira para queimar no altar (Ne 10.34). Os fiéis acreditavam que a providência
de Deus guiava o processo: “A sorte se lança no regaço, mas do Senhor procede
toda a sua disposição” (Pv 16.33). Os inimigos dos judeus também costumavam
lançar sortes, como Hamã fez para determinar um dia propício para atacar os
judeus (Et 3.7). Purim, o nome da festa que comemora a libertação dos judeus de
Hamã, vem do nome babilônico para designar sortes, puru (Et 9.26).
O Antigo Testamento também registra formas mais obscuras de adivinhação.
Quando o gabia‘ de José foi descoberto escondido no saco de mantimentos de seu
irmão Benjamim, o seu administrador perguntou: “Não é este o copo por que bebe
meu senhor? E em que ele bem adivinha?” (Gn 44.5). Pode ser que o copo era usa-
do na prática da lecanomancia, que é a adivinhação pela observação (das formas
do óleo em cima) da superfície da água em um prato, bacia ou copo. A menção
do “carvalho dos Adivinhadores” em Juízes 9.37 (ARA) é, talvez, alusão à prática
da dendromancia, adivinhação pela interpretação do som das folhas sussurrantes.
Muitas das práticas adivinhantes descritas no Antigo Testamento estão associadas
às nações ao redor de Israel. Deuteronômio 18.10,11 condena simultaneamente
muitas formas de adivinhação e idolatria: “Entre ti se não achará quem faça
passar pelo fogo o seu filho ou a sua filha, nem adivinhador, nem prognosticador,
nem agoureiro, nem feiticeiro, nem encantador de encantamentos, nem quem
consulte um espírito adivinhante, nem mágico, nem quem consulte os mortos”. O
melhor exemplo veterotestamentário de um adivinho não israelita é Balaão, um
mesopotâmico contratado pelo rei moabita Balaque para amaldiçoar os israelitas
59
quando eles queriam atravessar as suas terras (Nm 22.2–24.25). O “preço dos
encantamentos” para Balaão (Nm 22.7) pode ter sido um modelo de presságio
que os anciãos moabitas enviaram-lhe. Para grande surpresa de Balaque, Balaão
“não foi esta vez como dantes ao encontro dos encantamentos”, mas abençoou
Israel (Nm 24.1-13). Os arqueólogos recuperaram de Tell Deir ‘Alla, na Jordânia,
uma notável inscrição aramaica em gesso do século VIII a.C. que registra uma
profecia de Balaão.
Oseias 4.12 condena a prática israelita da rabdomancia, que é a adivinhação
por meio de um cajado ou vara, tachando-a de idolatria. Ezequiel 21.21 (Ez 21.26,
TM) descreve Nabucodonosor usando três formas de adivinhação para determi-
nar se atacaria Jerusalém ou uma cidade amonita: “Sacode as flechas, interroga
os ídolos do lar, examina o fígado” (ARA). O registro arqueológico dessa região
atestam algumas dessas práticas de adivinhação. As setas de flechas de bronze
encontradas no Levante, inscritas com escrita arcaica fenícia e hebraica, podem
ter sido usadas na belomancia, que é a adivinhação mediante a retirada de flechas
marcadas com o nome de povos ou lugares de uma aljava. Examinar o fígado
refere-se à hepatoscopia, que é o exame do fígado de ovelhas sacrificadas, que era
a principal forma de adivinhação na Mesopotâmia. Três modelos de fígado de
argila inscritos em escrita cuneiforme da Idade do Bronze Média foram encon-
trados em Hazor, assim como um em Megido. A palavra hebraica mais comum
para designar adivinhação é qesem (da raiz qsm, “cortar”, referindo-se às peças de
madeira cortadas para formar lotes) e também aparece em Ezequiel 21.21.
O Antigo Testamento também contém várias referências à necromancia, que é
a adivinhação mediante a consulta ao espírito dos mortos, prática especificamente
proibida em Deuteronômio 18.11 (cf. Lv 19.31; 20.2, 6). Desafiando a proibição,
o texto bíblico fala que o perverso rei Manassés “fez passar a seu filho pelo fogo,
e adivinhava pelas nuvens, e era agoureiro, e instituiu adivinhos e feiticeiros” (2
Rs 21.6). O rei reformador Josias eliminou de Judá “os adivinhos, e os feiticeiros,
e os terafins, e os ídolos” (2 Rs 23.24). O profeta Isaías (Is 8.19; 19.3) também se
refere à prática da necromancia.
A trágica carreira de Saul, que, com o passar do tempo, não recebia mais a
orientação do Senhor, termina com a tentativa desesperada de conhecer o futuro
por meio da necromancia. É fato ainda mais irônico, já que o próprio Saul havia
expulsado os ’obot (“médiuns”) e os yidde‘onim (“espíritas”) de Israel (1 Sm 28.3,9,
NVI). A ação de Saul é condenada em 1 Crônicas 10.13: “Assim, morreu Saul [...]
por causa da palavra do Senhor, a qual não havia guardado; e também porque
buscou a adivinhadora para a consultar”.
B. O NOVO TESTAMENTO
Embora o Novo Testamento repetidamente mencione profetas e sonhos, é
notável que contenha apenas algumas referências à adivinhação e lançamento
de sortes.
Lucas 1.9 demonstra o costume organizacional que havia entre os sacerdotes
que serviam no Templo quando observa que a Zacarias, pai de João Batista, “cou-
be-lhe em sorte” (“havia sido escolhido por sorteio”, NTLH) entrar no Templo
60
Depois de alguém derramar água três vezes na cabeça de um boi deitado e ele
levantar-se, a resposta é positiva, mas, caso não se levante, a resposta é negativa.
Uma grande série de presságios conhecidos como summa alu (“Se uma cidade...”)
determina o significado do encontro com animais, por exemplo, encontrar uma
cobra. “Se, entre o primeiro e o trigésimo dia de nisannu, uma cobra passar da
direita para a esquerda de um homem na rua, a miséria severa levará aquele
homem para a terra do seu inimigo” (Tabuinha 22, 17; FREEDMAN, p. 11). Se
uma cobra caísse no ombro de um homem, seus partidários morreriam.
Outra forma de adivinhação atestada na Mesopotâmia é a tomada de augúrios
ou a observação de aves, como pombas e andorinhas. Um antigo texto babilônico
diz: “Se há uma mancha vermelha no lado superior do pássaro, então é maldição
contra o avô. [...] Se há uma mancha vermelha no lado direito do pássaro, então é
maldição contra o filho” (tradução para o inglês do autor de DURAND, p. 275).
Idrimi, enquanto estava exilado de Alalaque (s. XV a.C.), libertou por sete anos
aves para observar o modo como voavam até que Adade tornasse-se favorável a
ele (ANET, 557). Entre os hititas, a ornitomancia, que é a adivinhação pela ob-
servação das aves, era altamente valorizada. Eles observavam os pássaros à beira
do rio, como indica este texto: “Um pássaro alliya voltou de trás do rio voando
baixo e sentou em um álamo. Enquanto observávamos, outro pássaro alliya ata-
cou-o da vizinhança e saiu de trás do rio pelo lado bom” (GURNEY, p. 155). São
observações feitas para decidir perguntas, como: “Vós, ó deuses, aprovastes?”, ou
“Temos algo a temer acerca dele por rebelião?” (BEAL, p. 70).
A forma mais importante de adivinhação na Mesopotâmia era o extispício (ob-
servação das exta, os órgãos internos) e, em particular, a hepatoscopia, o exame do
fígado, sobretudo das ovelhas sacrificadas. Um mito descreve que os deuses Samas
e Adade deram a Enmeduranki, o rei antediluviano de Sippar, “a Tabuinha dos
Deuses [tuppu sa ili], o fígado, um segredo do céu e do mundo inferior” (LAMBERT,
p. 152). Dos quase 2.700 presságios atestados, que foram encontrados em 88 textos
cuneiformes, 80% são exemplos de extispício. Mestres especiais eram conhecidos
como ummanu, que significa “especialistas”. Aprendiam a profissão na faculdade
de um adivinho, o bit bari. Estudavam as tabuinhas de mustabiltu (“interpretações”) e
de mukallimtu (“comentários”), que complementavam os compêndios de presságios.
Os adivinhos trabalhavam principalmente para o rei e tinham de cumprir
rigorosos padrões físicos: “O adivinho cujo pai é impuro e que ele mesmo tenha
qualquer imperfeição de membro ou semblante, cujos olhos não são sadios, que
tem dentes faltando, que perdeu um dedo, cujo semblante tem um olhar doentio
ou que tem espinhas, não pode ser o guardião dos decretos de Samas e Adade”
(CONTENAU, p. 281).
Além dos compêndios de presságios, centenas de modelos de fígado de argila
(e alguns modelos de pulmão) com inscrições, mostrando grandes detalhes anatô-
micos, eram mantidos em arquivo para permitir que os especialistas se referissem
a tipos anteriores de fígado (listados nas proteases dos presságios) a fim de prever
resultados semelhantes (listados nos apódoses dos presságios), o que fizeram de
forma quase científica. Algumas características do fígado que consideravam sig-
nificativas eram o ubanum (“o dedo”, ou lobo caudado), o bab ekallimi (“a porta do
palácio”, a fissura umbilical, correndo verticalmente do topo do fígado), o padanum
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• Arte/entretenimento:
• Arte/entretenimento:
• Arte/entretenimento:Arte,
Arte,
Cerâmica
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& Peças
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Dança,
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Drama
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& Tea-
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• Beleza:
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Cosméticos,
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Joias,
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• Costumes:
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Ferramentas
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& Utensílios,
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Juramentos
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& Votos,
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• Dinâmica
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Armas,
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Idade
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Riqueza
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& Pobreza,
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Tecnologia
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Militar
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Viúvas
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• Leis
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Cidadãos
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& Estrangeiros,
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Educação,
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Mendigos
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Polícia
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Tributação;
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• Relacionamentos:
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Adoção,
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Beijos
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Abraços,
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Casamento,
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Crianças;
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• Saúde
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e higiene:
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& Lavagens,
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Doenças
Doenças
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& Pragas,
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Odontologia
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Odontologia
& Dentes,
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Produção
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de Alimentos,
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Saneamento;
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• Trabalho
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& Carne,
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• Outros:
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Autores
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editor
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Formado
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Línguas
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na Miami
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Gnosticismo
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até até
2018.
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