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14 de março de 2024
Giuliano Guandalini
Menos de duas semanas depois de anunciar sua parceria com a OpenAI, a Figure –
uma startup da Califórnia que desenvolve robôs humanoides – já apresenta os
resultados iniciais de sua colaboração com a criadora do ChatGPT
Então temos essa evolução em hardware com tudo o que está acontecendo em
software com a inteligência artificial. Não podemos escrever um novo código toda
vez que o robô fará um movimento. Nisso a IA nos ajuda muito. Então usamos uma
rede neural para comprimir essas informações e dizer ao robô o que fazer. Somos
capazes de construir um sistema de hardware e software que vai permitir ao
humanóide, em breve, fazer atividades com aplicação comercial. Isso deve começar
a ocorrer dentro de um ano ou dois. Há muita gente fazendo pesquisa em
laboratório e protótipos, mas nosso objetivo final na Figure é colocar esses robôs no
mundo real. Um primeiro teste vai acontecer com a BMW, um dos nossos clientes.
Temos uma grande instalação na fábrica deles em Spartanburg, Carolina do Sul.
Quais deverão ser as primeiras aplicações e atividades desses robôs? Um
humanóide pode fazer quase tudo. Mas nosso objetivo primordial é fazer com que
robôs comecem a fazer trabalhos chatos, perigosos e sujos. Há uma enorme
escassez de mão de obra em atividades desse tipo, pelo menos aqui nos EUA.
Na BMW, os robôs devem auxiliar na linha de montagem e também no trabalho de
logística. Há muitas aplicações. Escolhemos, inicialmente, selecionar cinco áreas
[manufatura, logística, varejo, saúde e educação]. Estamos trabalhando para
entregar os primeiros robôs num prazo entre 12 e 24 meses. Há milhões de pessoas
empregadas em atividades de baixa qualificação. Você acha que a introdução de
robôs em larga escala pode desencadear uma ruptura social? Essa é uma questão
interessante. Nos EUA, temos cerca de 11 milhões de empregos não preenchidos
porque as pessoas simplesmente não querem se ocupar em atividades como
trabalho em centros de distribuição. Outra maneira de olhar para essa questão é o
ambiente macro da demografia. Há 3,3 bilhões de humanos na força de trabalho em
todo o mundo e isso diminuirá rapidamente nos próximos 10 ou 20 anos. Estamos
em um colapso populacional e haverá menos trabalhadores. Isso está acontecendo
agora. Está acontecendo nos EUA, no Japão, na China e em muitas das principais
economias do mundo. Então temos, como eu disse, milhões de empregos que
ninguém quer fazer. Isso vai piorar com o tempo. Levará muito tempo até que
tenhamos robôs suficientes no planeta para começarmos a falar em tirar os
empregos das pessoas.
Em cada galpão e em cada fábrica que eu vá, todos sempre se queixam da elevada
rotatividade de funcionários. Os executivos estão suplicando por ajuda. Vamos
ajudar a automatizar essas funções. Certamente, com o tempo, os robôs farão as
coisas a cada dia melhor. É simplesmente inevitável. Mas isso, de alguma maneira,
vem ocorrendo há séculos. Cresci em uma fazenda do Meio-Oeste, em Illinois. No
passado, há 200 anos, metade da população mundial trabalhava na agricultura.
Hoje, o total não passa de 1%. A automação foi a razão disso, certo? Para os EUA,
será uma oportunidade de trazer de volta fábricas e atividades que haviam sido
levadas para outros países em razão dos custos? Certamente. Estamos fabricando
aqui na Califórnia. Esperamos continuar a fabricar aqui nos EUA, com certeza.
Então, sim, as manufaturas são uma área extremamente importante para que a
Figure tenha um bom desempenho ao longo do tempo. Em algum momento
teremos milhões de robôs. Eles farão tudo o que os humanos podem fazer – e isso
será um mercado enorme, o que trará o desafio de colocar robôs suficientes no
mercado.
Imagino que escalar o desenvolvimento e a produção dos robôs exigirá uma enorme
quantia de recursos. A Figure fará uma nova rodada em breve?