Você está na página 1de 4

Inteligência artificial: um admirável mundo novo

03/02/2023 14:30
Desengane-se quem acredita que a Inteligência Artificial (IA) é recente. Não é. Iniciou-se nos anos 50 - às vezes
esquecemos, mas 1950 foi há 73 anos - com os cientistas Herbert Simon e Allen Newell, pioneiros neste conceito ao
criarem o primeiro laboratório de inteligência artificial na Universidade de Carnegie Mellon, nos Estados Unidos. A missão
era simples: construir máquinas capazes de reproduzir a capacidade humana de pensar e agir.
Pensar, Agir, Mudar
02/03/2023 22:39
Este ano, quando se assinalam duas décadas da edição diária do Negócios em papel e cumpridos 25 anos de
existência online, queremos voltar a desafiar os cânones, e, partindo da lógica do Poder – Pensar, Agir, Mudar, e
para a mudançaFazer – promover espaços de debate, análise e construção que possam encontrar abertura da
sociedad

Em 1956, numa conferência em Dartmouth College, terá sido o nascimento oficial da IA como campo de estudo. Durante a
década seguinte, os investigadores fizeram progressos significativos no desenvolvimento de algoritmos e modelos de IA.
No entanto, esta área enfrentou alguns contratempos no final dos anos 1970 e 1980, sobretudo devido ao limitado poder
computacional e à falta de financiamento. Não havia, na altura, muitos que estivessem dispostos a investir num conceito
tão hollywoodesco.

Nas décadas de 1990 e 2000, os rápidos avanços no poder de computação e o aumento do investimento em pesquisa de IA
levaram a desenvolvimentos significativos, incluindo a criação de algoritmos de aprendizagem profunda (conhecidos por
"deep learning"), e o nascimento de aplicações práticas, como visão computacional, reconhecimento de fala e tradução de
idiomas.

Nos últimos anos, a IA tornou-se cada vez mais difundida, com aplicações em áreas como finanças, saúde ou veículos
autónomos. Até que chegámos aqui. A 2023, com o ChatGPT - um programa gratuito que gera texto em resposta a uma
solicitação, incluindo artigos, ensaios, piadas e até poesia. Um novo projeto que conta com um investimento de 10 mil
milhões de dólares e que está a dar bastantes dores de cabeça a gigantes como a Google.

IA como tendência tecnológica

Num contexto em que a tecnologia continua a ser o principal catalisador da mudança global, o McKinsey Technology
Council apresentou no final do ano passado as 14 tendências tecnológicas mais importantes, que estão atualmente a
desenvolver-se, e identificou os setores-chave em que podem ser aplicadas para criar maiores oportunidades de negócio,
renovar mercados, impulsionar a produtividade, estimular o crescimento económico e melhorar a qualidade de vida das
pessoas.

A inteligência artificial aplicada foi identificada como uma das tendências tecnológicas mais difundidas, em comparação
com as restantes. Diz a consultora que através de machine learning (ML) ou do processamento de linguagem natural (PLN)
será possível utilizar os dados necessários para automatizar as atividades e melhorar a tomada de decisões. De acordo com
os resultados, é a tendência mais inovadora do estudo e uma das quatro que têm gerado maior interesse desde 2018, em
termos de cobertura noticiosa e pesquisas nos motores de busca.

"As tendências tecnológicas terão um impacto massivo em todos os setores da economia. Além disso, surgirão novas
oportunidades de as combinar e criar novas possibilidades de crescimento sustentável", assegura Duarte Begonha, sócio da
McKinsey.

Em janeiro deste ano, outro estudo desta consultora explana que, para além dos negócios orientados para a
sustentabilidade, mais de metade dos inquiridos planeia incorporar inteligência artificial nos seus novos negócios para
cumprir as suas propostas de criação de valor, e 35% planeiam fazê-lo através da Internet das Coisas (IoT). Uma realidade
bem diferente dos anos 80.

Muito mais do que um "hype"

Gonçalo Caseiro, consultor e especialista em inovação e transformação digital, disse ao Jornal de Negócios que estamos
ainda no início da revolução que vai moldar as nossas vidas no futuro, e que já tem impactos imediatos em várias áreas de
negócio, poupando horas de trabalho.

Os números corroboram esta tendência: o investimento em inteligência artificial no mundo empresarial superou os 176 mil
milhões de dólares em 2021, segundo dados do Our World in Data. Também em Portugal, a aposta recente do Governo
português, com fundos PRR, reflete a certeza de que a IA veio para ficar, não é apenas um "hype tecnológico" como
assistimos a tantos outros. "Certamente, a esses investimentos se juntarão outros de mecanismos já em vigor, como a
Portugal Ventures e o Sistema de Incentivos Fiscais à I&D Empresarial (SIFIDE), entre outros. Tendo em conta esta
conjuntura, seria importante utilizar os fundos públicos para garantir modelos de IA responsáveis, sustentáveis e éticos."

Assim, diz Gonçalo Caseiro, é cada vez mais urgente discutir estas questões. "Dou como exemplo, o facto de a
automatização de tarefas derivadas da aplicação de IA impactar significativamente o mercado de trabalho e,
consequentemente, a segurança social. Por outro lado, as questões éticas que se colocam quando delegamos a máquinas a
tomada de decisões. Numa situação de risco, um carro que conduz sozinho dá prioridade ao condutor ou ao peão? Alerto
ainda para as desigualdades sociais que podem aumentar e para os impactos ambientais decorrentes de consumos massivos
de energia." Para este consultor, "a IA aplicada é uma realidade e as suas vantagens são reconhecidas. Apenas precisamos
de garantir uma boa utilização das suas capacidades." IA... até na contabilidade

Pensar em inteligência artificial quase nos impele, ou melhor, impelia, a pensar em setores altamente disruptivos, como
saúde, finanças ou no próprio setor tecnológico. Não propriamente em áreas mais tradicionais das empresas como a
contabilidade. No entanto, a incorporação destes sistemas inteligentes, também em setores menos "sexy", como o da
contabilidade, abre um leque de possibilidades de análise e exploração de dados que até há poucos anos não existia. "As
soluções dotadas destas tecnologias - que promovem um modelo de contabilidade mais ágil e mais colaborativo - tornam
possível aos profissionais deste setor tomar decisões com base em análises preditivas fidedignas", explicou, ao Negócios,
Felicidade Ferreira, diretora de negócio no grupo Primavera. Por outro lado, disse esta executiva, graças à automatização
dos processos, conseguem libertar-se de tarefas básicas de introdução manual de documentos, apuramento de impostos e
outras operações, o que leva a um maior rigor dos dados, ao mesmo tempo que permite aos contabilistas terem mais tempo
para dar um apoio estratégico à gestão dos negócios. "Esta é a base de um novo paradigma que se irá massificar nos
próximos anos."

IA na aprendizagem é um desafio

Joana Teixeira, head of Digital Learning na Cegoc, empresa que está a experimentar abordagens que, através da
inteligência artificial, poderão tornar possível recomendar percursos de aprendizagem baseados em diagnósticos
personalizados, admite que "utilizar a IA como meio para a aprendizagem adaptativa tem sido um desafio, mesmo para
nós, que já utilizamos sistemas de aprendizagem diferenciada, como percursos organizados em categorias predefinidas à
escolha do utilizador; e, sistemas personalizados, através de um percurso de aprendizagem diferente para cada utilizador,
baseado em regras, como os conhecimentos prévios sobre a temática".

Até porque, explica, para aplicar a IA na adaptação de percursos de aprendizagem, são necessários mais dados sobre os
participantes. "Já temos os nossos conteúdos associados a conhecimentos ou competências e categorias, mas estamos a
aperfeiçoar as nossas plataformas para recolherem dados que permitam recomendar percursos e recursos de formação
baseados no perfil de cada ‘learner’. Sobre isto, é quase certo que em breve teremos novidades."

Certificar a IA

Claro que não será difícil depreender que a inteligência artificial também levanta muitas inseguranças e dúvidas
relativamente à sua fiabilidade e confiança. Aqui entra o AICeBlock, o projeto liderado pelo centro de investigação
Fraunhofer Portugal AICOS (FhP-AICOS) que propõe uma plataforma para apoiar a certificação de aplicações de
inteligência artificial. Um ponto de viragem na ciência e no mundo, que integrou o pódio do Prémio IN3+, organizado pela
Imprensa Nacional Casa da Moeda (INCM).

O AICeBlock consiste na construção de uma plataforma modular sustentada numa estrutura de "blockchain", permitindo
rastrear desde os dados que foram utilizados para treinar os algoritmos até à versão exata do modelo que é utilizado em
cada decisão, ou seja, passa a ser possível fazer uma espécie de auditoria ao sistema, o que até agora não acontece. "Este
prémio representa um passo gigante para aumentar a confiança nos algoritmos de IA", adianta André Carreiro, investigador
no FhP-AICOS e líder do projeto finalista, que reforça que "o prémio da INCM só vem comprovar que há boa ciência em
Portugal, há inovação presente nas universidades, institutos e startups e, trazê-lo à luz da ribalta, é sempre positivo", remata
André Carreiro.

Prevenir as pragas na vinha

Outro exemplo da aplicação da IA é a EyesOnTraps, uma solução móvel para prevenção de pragas na vinha. Este sistema
permite a identificação e quantificação de pragas que suporte o registo de temperatura localizada, a monitorização
automática de insetos em armadilhas e um modelo de apoio à decisão. O objetivo final da aplicação é o de diminuir o erro
humano e automatizar a análise, aconselhamento e partilha de informação entre os agentes intervenientes.

Basicamente, o sistema recorre a técnicas de visão computacional (inteligência artificial) e crowd sensing para o
desenvolvimento de uma solução que inclui a deteção automática de insetos em armadilhas, registo de temperatura
localizada, e recomendações para combater as ameaças identificadas, de forma a diminuir o erro humano e maximizar o
processo de prevenção de pragas na vinha. A solução pretende ser um apoio aos produtores e empresários da região do
Douro, onde a produção da uva constitui um dos setores económicos de referência em Portugal e, simultaneamente, dos
mais vulneráveis devido às consequências cada vez mais alarmantes das mudanças climáticas e das pragas, que se tornaram
uma séria ameaça à qualidade da uva e ao rendimento da viticultura. Seja na esfera de setores como saúde ou finanças ou

Pensar, Agir, Mudar


02/03/2023 22:39
Este ano, quando se assinalam duas décadas da edição diária do Negócios em papel e cumpridos 25 anos de existência
online, queremos voltar a desafiar os cânones, e, partindo da lógica do Poder – Pensar, Agir, Mudar, Fazer – promover
espaços de debate, análise e construção que possam encontrar abertura da sociedade para a mudança.

O Poder Fazer

Sabemos que as palavras pesam e que nem sempre o poder é visto sem que a ele esteja associada uma conotação mais
negativa. A definição de Hobbes é, provavelmente, aquela que por regra aparece colada ao termo – "Poder significa deter
os meios para obter qualquer tipo de vantagem" –, mas terá o poder de desencadear, necessariamente, uma vantagem
negativa ou apenas pessoal?

Bertrand Russell também definiu o poder como o "conjunto dos meios que permitem obter os efeitos desejados". E se esses
fins desejados forem transformadores? De discussão incómoda, mas desafiantes e capazes de gerar uma ação mais alargada
na sociedade?

O poder é, acima de tudo, um fenómeno social que diz respeito ao Homem e à sua relação com outros Homens, ao seu
papel na sociedade, daí que Max Webber sintetize que o "poder é a probabilidade que um ator tem, dentro de uma relação
social, de prosseguir a sua própria vontade apesar das resistências".

De forma errada, o poder tem vindo muitas vezes a ser negativamente ligado também às elites, às "pequenas minorias que
aparentam ter uma influência excecional nos assuntos políticos e sociais". Tendo, historicamente, essas mesmas elites sido
essenciais como elementos de influência de processos políticos relevantes, em tantos deles caminhos fundamentais para a
democracia.

Em Portugal, quando se fala de poder, tocam as sirenes da desconfiança, sinal de que existe um longo caminho a percorrer
para que esta incontornável ferramenta social, económica e política, seja vista como um recurso capaz de contribuir para a
prosperidade coletiva.

Dentro do poder entram os seus vários poderes e dimensões, que o estruturam e determinam o seu peso social, porque a
sociedade só se constrói e evolui pelo equilíbrio dos diferentes poderes.

Daí que, o poder dos poderes seja a capacidade maior de fazer e mudar. É a isso que nos propomos, sem rótulos ou
preconceitos.

Poderíamos descrever o nosso trabalho como original, meticuloso, às vezes frustrante, mas maioritariamente deslumbrante.
Onde há poder há resistência, segundo Michel Foucault.

Sabemos que será difícil, mas convidamo-lo a arriscar connosco no desafio de Poder Fazer um Portugal melhor em todas
as suas dimens

Você também pode gostar