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A importância do mar e portugal

A relação de Portugal com o mar é uma realidade que assume um caráter geográfico,
histórico, cultural e económico. Desde logo, a ligação de Portugal ao mar ganhou
relevância durante a época dos Descobrimentos, que marcou decisivamente o início do
processo de globalização. As trocas comerciais, culturais, científicas e tecnológicas daí
resultantes promoveram o grande desenvolvimento do nosso país e marcaram
definitivamente os processos de transmissão de conhecimentos entre os povos; em
portugal muitas populações fixaram-se no litoral, aproveitando o mar e os estuários dos
rios como fonte de sobrevivência (pesca) e meio de transporte (cabotagem), e
desenvolveram-se inúmeras comunidades piscatorias. No entanto, atualmente, o mar é,
para a maioria da sociedade portuguesa, algo distante, intangível e invisível, apesar de
algumas zonas manterem a tradição piscatória, sobrevivendo às alterações ocorridas no
setor das pescas nos últimos 30 anos.
Em termos económicos, a extensão da linha de costa e do espaço marítimo constituem
fontes de riqueza para o país pelas potencialidades que encerram, em contraste com a
reduzida dimensão da plataforma continental.

As zonas costeiras e o vasto espaço marítimo colocam ao dispor da população


inúmeros recursos que importa potencializar de forma sustentável, atendendo ao seu
caráter não renovável e à fragilidade dos ecossistemas costeiros e marinhos. São várias
as atividades económicas que se foram desenvolvendo ao longo do litoral, associadas
ao mar: a pesca, a extração de sal, a indústria conserveira, a construção naval, a
aquicultura, o turismo, sobretudo o balnear, o lazer e o recreio e, mais recentemente, as
energias renováveis (das ondas), entre outras atividades.
No litoral também se fixaram muitas atividades industriais, comerciais e de serviços,
que utilizam preferencialmente o transporte marítimo para a importação de matérias-
primas ou para a exportação da produção e que necessitam de se localizar próximo de
áreas portuárias.
Aspetos gerais da costa portuguesa
A costa portuguesa apresenta um traçado quase retilíneo,quebrando apenas em
alguns troços pela existência de reentrâncias e saliências; possui diferentes formas de
relevo litorais sendo 2 deles predominantes:
costa de arriba- baixa ou alta e costa de praias- baixa e arenosa
escarpada

O traçado e características da linha de costa depende de vários fatores:


● Movimentos tectónicos e oscilações do nível do mar;
● Natureza das rochas (estrutura e grau de dureza)
● Erosão marinha (movimentos/agitação do mar-ondas, correntes marítimas e marés)
● Formas do relevo;
● Características climáticas (temperaturas, ventos...)
● Ação da água dos rios nos estuários;
● Ação do Homem (urbanização, construção de barragens, exploração de inertes
fluviais ou na costa).
A ação humana tem contribuído para a degradação dos ecossistemas das zonas
costeiras, para a alteração do equilíbrio físico da costa e para a intensificação da ação
erosiva do mar ; e como tal extensos areais estão a desaparecer/diminuir e as arribas
estão a ser destruídas provocando o recuo da linha de costa. As causas são a subida do
nível médio das águas do mar, a construção de barragens,a extração de areias,as
intervenções antrópicas, a pressão urbana e o turismo balnear.
A AÇÃO DO MAR NA LINHA DE COSTA
O mar exerce uma tripla ação – desgaste, transporte e deposição. A erosão marinha
(desgaste) ocorre, sobretudo, em zonas de costa alta, rochosa e escarpada- arribas
As ondas são o principal fator de desgaste. Ao embaterem nas rochas provocam a sua
fragmentação. A erosão é reforçada pela projeção dos materiais arrancados e
transportados – erosão por abrasão marinha;
Os materiais desgastados são transportados ao longo da costa. Quando as correntes
marítimas perdem velocidade são depositados – costa baixa e arenosa/praia
Nas arribas o desgaste efetua-se na base e a parte superior desmorona-se.À frente
forma-se a plataforma de abrasão (delimitada pela linha de maré alta e pela linha de
maré baixa) e a plataforma de acumulação.
Quando o mar deixa de a atingir, devido ao seu recuo por erosão, à descida do nível do
mar ou levantamento do continente, passa a ser uma arriba fóssil;
As formas de relevo litoral
leixão ou farilhão: quando a ponte de arco cai,deixa no mar uma rocha isolado
arriba ou falésia: formações rochosas, em escarpa sobre o mar,constantemente sujeitas
à força erosiva das ondas do mar
arriba fóssil: são zonas costeiras altas e escarpadas que, ao contrário das arribas vivas, já
não são modeladas pelas águas do mar, ou seja, já não sofrem o efeito da abrasão marinha.
praia: uma formação geológica composta por partículas soltas de mineral ou rocha na
forma de areia, cascalho, seixo ou calhaus
rio: é um curso de água que flui pela gravidade em direção a um oceano, lago, mar ou
outro rio
delta: zona lagunar resultante da deposição de sedimentos marinhos e fluviais
(transportados pelas correntes marítimas e pelo rio Vouga) que originaram cordões de
areia ao longo da linha de costa (restinga).
restinga: é um espaço geográfico formado sempre por depósitos arenosos paralelos à
linha da costa, de forma geralmente alongada, produzido por processos de
sedimentação
laguna: zona lagunar com pequenas ilhas envolvidas por cordões arenosos formados
com a deposição de sedimentos transportados pelas correntes marinhas.
istmo: Resulta da acumulação de sedimentos marinhos que formaram um cordão
arenoso (istmo) ligando uma antiga ilha ao continente.
estuário: Zonas terminais dos rios onde domina a ação de acumulação de sedimentos
transportados pelos rios e marés.
península: Porção de terra rodeada de água por todos os lados, menos por um.
baía ou enseada: forma-se quando existem formações rochosas menos duras que
permitem a penetração do mar ou seja uma reentrância marinha, outrora um golfo que
se foi reduzindo com a sedimentação marinha, não passando hoje de uma pequena
baía;
golfo: Baias de grandes dimensões. São normalmente locais ideais para a construção de
portos e docas.
lagoas costeiras: Lagoas de água salgada ou salobra que, ao longo da linha de costa,
têm contato direto com o oceano durante a maré alta ou através de uma abertura
artificial.
grutas: fenda formada pelo desgaste de uma arriba provocado pelo mar
cabo: formações rochosas mais resistentes que se projetam no mar,salientando-se em
relação à costa

A PLATAFORMA CONTINENTAL E AS CORRENTES MARÍTIMAS


A plataforma continental é um prolongamento dos continentes até uma profundidade de
200m, limitada pelo talude continental, é a área mais rica em recursos piscícolas a maior
agitação das águas do mar favorece a existência de maior quantidade de oxigénio e a
menor profundidade permite que a quantidade de luz solar disponível favoreça o
desenvolvimento do fitoplâncton que está na base da cadeia alimentar da fauna
marinha. Além disso, as águas continentais, quando chegam ao oceano, contribuem
para reduzir a salinidade.
A plataforma portuguesa é estreita e raramente ultrapassa os 60 km de largura. Nas
regiões autónomas é praticamente inexistente.

As correntes marítimas permitem a renovação das águas e dos nutrientes, beneficiando


a concentração e diversidade de espécies marinhas.As zonas de contacto entre
correntes frias e quentes são as mais ricas: desenvolvimento de espécies próprias de
cada uma das correntes.
Upwelling
Corrente vertical de compensação que se forma quando os ventos arrastam as águas
superficiais para o largo.
No verão, a nortada afasta para o alto mar as águas superficiais provocando uma maior
agitação e oxigenação e fazendo ascender à superfície águas mais frias e ricas em
nutrientes, atraindo, nomeadamente, a sardinha e o carapau.

A ZONA ECONÓMICA EXCLUSIVA - ZEE (na ZEE os países têm direitos de usufruir dos
recursos mas também a obrigação de os proteger)(1 milha marítima = 1 852 m)

Mar Territorial: faixa costeira, até 12 milhas, considerada parte integrante do território
soberano - direitos idênticos para exercer a sua jurisdição.
Zona Contígua: faixa de transição das 12 às 24 milhas onde os Estados exercem
soberania para evitar violações do seu território e mar territorial.
Zona Económica Exclusiva: Faixa costeira com uma largura de 200 milhas, sobre a qual
os países detêm os direitos de exploração, conservação e administração de todos os
recursos piscatórios, do leito do mar e do seu subsolo.

A criação e a dimensão da ZEE trouxe benefícios (económicos, geoestratégicos, de


segurança interna...) mas também desvantagens como o facto de ser uma das maiores
ZEEs do mundo mas pobre em recursos pela plataforma reduzida, Portugal perdeu
direitos históricos deixando de ter livre acesso a áreas onde antes pescava livremente e
isto resultou na limitação da pesca em zonas onde a UE tem acesso e em concorrência
com os parceiros comunitários – número de licenças e atribuição de quotas.

Em termos de dificuldades e custos de fiscalização vai desde a malhagem das redes, às


espécies protegidas, do tamanho e peso do pescado; às quotas de pesca; à poluição do
mar e ainda à segurança marítima ou seja controlo do tráfico de cargas proibidas.

ZEE-projeto de expansão da plataforma continental


Em 2009, Portugal apresentou às Nações Unidas a sua Proposta de Extensão da
Plataforma Continental, prevista na Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do
Mar. O objetivo é aumentar o território marítimo sob jurisdição do Estado. Este interesse
resulta da interpretação e aplicação de conceitos jurídicos, através da aquisição de
dados técnico-científicos (hidrografia, geologia e geofísica) que permitem definir o limite
da plataforma continental de Portugal para além das 200 milhas marítimas, medidas a
partir da linha de costa.
A ATIVIDADE PISCATÓRIA
A nível regional é uma atividade essencial, pelos empregos que gera e pelas atividades
que lhe estão associadas: indústria de transformação, construção naval, equipamentos
de pesca, atividade portuária e comercial...
O saldo da Balança Comercial é deficitário, com uma taxa de cobertura de 51% (2018)

O SETOR DAS PESCAS EM PORTUGAL


A partir da década de 80 do século XX o setor entra em crise (diminuição de
embarcações, pescadores e peixe capturado)

As normas comunitárias acentuaram a diminuição das capturas: ▪ atribuição de


quotas aos países membros; ▪ proibição de capturas em determinadas áreas e épocas
do ano; ▪ determinação de malhas mínimas e tamanhos mínimos das espécies.
➢ A sobrepesca ao longo da costa provocou uma diminuição das espécies e não permite a renovação dos stocks.
➢ O aumento que se registou nos preços correntes e no valor da pesca descarregada, compensou o decréscimo do
volume da produção.

AQUICULTURA : Cultura de organismos aquáticos em ambientes controlados de água


doce, salobra ou marinha.
Constitui uma alternativa à pesca permitindo diminuir a pressão sobre os recursos
marinhos, a recuperação dos stocks e a produção de espécies em vias de extinção para
repovoamento dos habitats naturais.
A produção é feita, sobretudo, em águas salobras e marinhas, em viveiros e em regime
extensivo.
Intensiva alimentação Semi-intensiva Extensiva alimentação
fornecida pelo produtor alimentação natural mas natural, assegurada pela
(farinhas/granulados). complementada com passagem da água e
rações respectivos nutrientes.

A INDÚSTRIA TRANSFORMADORA DA PESCA


Congelados - é a atividade mais recente e uma das mais dinâmicas. Esse dinamismo
relaciona-se com as novas tecnologias do frio, em terra ou no mar, nos navios de
congelação e transformação. Devido à redução das capturas parte da matéria-prima
é importada.
Salga e secagem – atividade tradicional associada ao bacalhau.
Conservas e semiconservas - é uma atividade tradicional que atravessa um período de
crise devido à escassez da matéria-prima (diminuição das quotas e licenças) e à
concorrência externa, em particular de Marrocos.

OS PRINCIPAIS TIPOS DE PESCA (Distância da linha de costa9


Pesca local: Pesca em águas interiores ou junto à costa - utiliza técnicas tradicionais,
sem meios de conservação do pescado e embarcações de pequeno volume de carga
(autonomia reduzida).
Pesca costeira: Pesca em áreas mais afastadas da costa, entre as 9 e as 12 milhas, tem
meios de conservação do pescado mas não permanece mais de 24h no mar. Tripulação
reduzido
Pesca de Largo: Pesca praticada para além das 12 milhas, autonomia de mais de oito
dias; transformação e conservação do pescado. Tripulação superior a 10 elementos
Pesca Longínqua: Pesca em águas internacionais ou ZEE estrangeiras. Embarcações
com grande autonomia, com tecnologias de transformação, conservação e congelação
do pescado a bordo. Permanência no mar durante semanas ou meses.
Técnicas utilizadas: PESCA TRADICIONAL PESCA INDUSTRIAL
Técnicas Rudimentares: anzóis, linhas e redes Modernas, como o arrasto, o cerco
de pequena dimensão. e as redes de deriva.
de captura
Embarcaçõ Pequena dimensão, normalmente, Modernas e de grande tonelagem
es sem motor e pouco equipadas sem e equipados com técnicas de
condições para conservar o conservação e transformação do
pescado pescado.
durante muito tempo.
Nº de Muito reduzido (núcleo familiar) Elevado número de tripulantes.
tripulantes
Qntdd de Reduzida Grandes quantidades e variedade
pescado
Destino da Maioritariamente, ao autoconsumo Abastecimento dos mercados.
produção ou ao mercado local.

Rendimento Baixo Elevado


COMPOSIÇÃO DA FROTA DE PESCA
Predominam as embarcações de pequena tonelagem, 84% têm menos de 5 GT
(Arqueação Bruta – medida de volume de uma embarcação), e de fraca autonomia,
utilizados para a prática da pesca local e tradicional.
Os subsídios comunitários, para a construção de novas embarcações e modernização
da frota, aumentaram a GT média, permitindo maior dinamismo e competitividade.
No entanto, a UE não permite o aumento da GT e potência total da frota portuguesa. A
construção de embarcações de maior tonelagem é compensada pelo número de
demolições.
CARATERÍSTICAS DA MÃO-DE-OBRA
O aumento da GT não se refletiu numa maior competitividade do setor. Os baixos
salários não atraem os jovens e o número de pescadores diminui.O envelhecimento e o
baixo nível de escolaridade dos atuais pescadores dificulta a adaptação dos pescadores
a novas tecnologias o que coloca a baixa produtividade do setor em desvantagem
concorrencial e a dependência dos mercados externos é uma constante.

A GESTÃO DO ESPAÇO MARÍTIMO


Zona costeira:Porção de território influenciada direta ou indiretamente, em termos
biofísicos, pelo mar (ondas, marés, ventos, biota ou salinidade) e que, sem prejuízo das
adaptações aos territórios específicos, tem, para o lado de terra. a largura de 2
quilómetros, medida a partir da linha da máxima preia mar CO de águas vivas
equinociais, e se estende, para o lado do mar, até ao limite das águas territoriais,
incluindo o leito.
Que riscos existem na Orla Costeira?
Existe a perda da biodiversidade devido à sobrecarga dos sistemas da zona costeira,
com descargas de efluentes e à salinização das zonas estuarinas e dos aquíferos litorais;
existem também riscos por causa da erosão costeira o que resulta na elevação do nível
do mar, na diminuição da quantidade de sedimentos fornecidos ao litoral, na
degradação das estruturas naturais e nas obras pesadas de engenharia costeira; e
assim como a poluição da água do mar e das praias resultante do elevado tráfego
marítimo ao largo da costa portuguesa e pela existência de refinarias, fábricas de
celulose, estaleiros de reparação e construção naval e centrais térmicas contribui pras
riscos costeiros, todos eles tem com consequência a desregulação do funcionamento
dos ecossistemas costeiros.

Que soluções existem para a Orla Costeira?


POOC (Plano de ordenamento da orla costeira) Ordenar os diferentes usos e atividades
específicas da Orla Costeira pela classificação das praias e regulamentar
o uso balnear, ao valorizar e qualificar as praias consideradas estratégicas por motivos
ambientais e turísticos, pelo enquadramento do desenvolvimento das atividades
específicas da Orla Costeira e assegurar a defesa e conservação da natureza.

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