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15/03/2024, 09:28 SEI/MDHC - 4160479 - Nota Técnica

4160479 00135.204540/2024-11

Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania

Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente


NOTA TÉCNICA Nº 6/2024/CONANDA/GAB.SNDCA/SNDCA/MDHC
INTERESSADO(S): Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente - Conanda
ASSUNTO
1. Posicionamento do CONANDA contrário ao Projeto de Lei nº 4256 de 2019, que
altera a Lei nº 10.826, de 22 de dezembro de 2003, para autorizar o porte de arma aos agentes
socioeducativos, e dá outras providências
INTRODUÇÃO
2. A presente Nota Técnica tem por finalidade discorrer e apresentar posicionamento
contrário do Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente – CONANDA - sobre o
Projeto de Lei nº 4256 de 2019, que altera a Lei nº 10.826, de 22 de dezembro de 2003, de autoria
do Senador Fabiano Contarato (PT/ES), que pretende autorizar o porte de arma aos agentes
socioeducativos, e dá outras providências.
ANÁLISE
3. Considerando o artigo 227 da Constituição Federal e os artigos 4º, 6º e 15 do
Estatuto da Criança e do Adolescente, que fixam o dever compartilhado pelas famílias, sociedade e
Estado de assegurar os direitos de crianças e adolescentes com absoluta prioridade e reconhecem
que são sujeitos de direitos, os quais devem ter sua condição peculiar de desenvolvimento
respeitada e o seu melhor interesse priorizados;
4. Considerando a obediência aos princípios de brevidade, excepcionalidade e respeito
à condição peculiar de pessoa em desenvolvimento, quando da aplicação de qualquer medida
privativa da liberdade previstos no artigo 227, §3º, V, da Constituição Federal;
5. Considerando o artigo 3º do Estatuto da Criança e do Adolescente que determina
que crianças e adolescentes gozam de todos os direitos fundamentais inerentes à pessoa humana,
sem prejuízo da proteção integral de que trata esta Lei, assegurando-se lhes, por lei ou por outros
meios, todas as oportunidades e facilidades, a fim de lhes facultar o desenvolvimento físico,
mental, moral, espiritual e social, em condições de liberdade e de dignidade;
6. Considerando o artigo 86 do Estatuto da Criança e do Adolescente, que estabelece a
política de atendimento dos direitos da criança e do adolescente far-se-á através de um conjunto
articulado de ações governamentais e não-governamentais, da União, dos estados, do Distrito
Federal e dos municípios;
7. Considerando os artigos 124 e 125 do Estatuto da Criança e do Adolescente que
estabelece os direitos do(a) adolescente privado de liberdade e que é dever do Estado zelar pela
integridade física e mental dos internos;
8. Considerando que o artigo 2° da Resolução nº 119 do CONANDA constitui o Sistema
de Atendimento Socioeducativo (SINASE) como uma política pública destinada à inclusão em
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diferentes campos das políticas públicas e sociais de adolescentes responsabilizados(as) pela


prática de ato infracional.
9. Considerando o artigo 3° da Resolução nº 119 do CONANDA que prevê que o
Sistema de Atendimento Socioeducativo (SINASE) é um conjunto ordenado de princípios, regras e
critérios, de caráter jurídico, político, pedagógico, financeiro e administrativo, que envolve desde o
processo de apuração de ato infracional até a execução de medidas socioeducativas;
10. Considerando o documento orientador do Sistema de Atendimento Socioeducativo
(SINASE), que estabelece a incompletude institucional como princípio fundamental orientador de
todo o direito da adolescência que deve permear a prática dos programas socioeducativos e da
rede de serviços, portanto determina que a política de aplicação das medidas socioeducativas não
pode estar isolada das demais políticas públicas;
11. Considerando o artigo 3º da Lei 12.594 de 2012 que estabelece ao Poder Executivo
Federal, entre outras ações, a competência para formular e coordenar a execução da política
nacional de atendimento socioeducativo; contribuir para a qualificação e ação em rede dos
Sistemas de Atendimento Socioeducativo; estabelecer diretrizes sobre a organização e
funcionamento das unidades e programas de atendimento e as normas de referência destinadas ao
cumprimento das medidas socioeducativas de internação e semiliberdade;
12. Considerando os princípios da legalidade e excepcionalidade da intervenção judicial
e da imposição das medidas socioeducativas, prioridade de práticas ou medidas que sejam
restaurativas, proporcionalidade em relação à ofensa cometida, brevidade da medida em resposta
ao ato cometido, individualização, mínima intervenção e fortalecimento dos vínculos familiares e
comunitários, estabelecidos pela Lei SINASE (Art. 35);
13. Considerando ainda, não podemos perder de vista que a proibição do porte de arma
de fogo em todo o território nacional está prevista no Estatuto do Desarmamento, e a necessidade
de que a exceção à proibição esteja devidamente prevista na citada Lei;
14. Considerando que, o Estatuto do Desarmamento não permite sequer o porte de
arma para Guarda Municipal dos municípios com menos de cinquenta mil habitantes e, neste
contexto, cabe ressaltar que mais de 80% (oitenta por cento) dos municípios brasileiros não
possuem tal número de habitantes;
15. Considerando, o art. 6º da Lei 10.826/03 dispõe que o porte de arma de fogo é
proibido em todo o território nacional. E em casos excepcionais, caberá a Polícia Federal conceder
porte de arma de fogo desde que o requerente demonstre a sua efetiva necessidade por exercício
de atividade profissional de risco ou de ameaça à sua integridade física, além de atender as demais
exigências do art. 10 da Lei 10.826/03. Nesses casos, os agentes do sistema socioeducativo não se
enquadram nas hipóteses que autorizam o porte de arma. Assim, a proposta disposta neste Projeto
de Lei padece de vícios de juridicidade;
16. Considerando que a atividade do agente socioeducativo é uma função específica do
atendimento previsto na Lei 12.594 – SINASE. Por essa razão deve ser selecionado com critério e
capacitado continuadamente para exercer suas funções de maneira a garantir uma atuação
profissional qualificada;
17. Considerando que todo o esforço da gestão nacional caminha nesta direção, a de
valorizar esta figura que tem um papel central no processo socioeducativo do adolescente. A
postura profissional do agente socioeducativo é chave para que haja identificação do adolescente
com uma referência positiva. Portanto, não basta apenas estar presente na unidade e sim além de
garantir a presença frequente, esta presença tem que se tornar significativa e representativa para o
adolescente;

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18. Considerando que os agentes socioeducativos não atuam substituindo ou em apoio


aos órgãos de segurança (polícia militar ou civil), pois não possuem função de polícia ou atribuição
legal neste sentido, que configuraria verdadeiro abuso de autoridade e ingerência nas
competências e atribuições da polícia militar, civil;
19. Considerando que as atribuições do agente socioeducativo são especificas, não
podendo ser comparada ou equiparada nem no conceito nem na prática com policiais ou agentes
penitenciários que muitas vezes se utilizam dessa escala. Portanto, não se trata de aproximar sua
identidade profissional com a de agentes penitenciários que apenas mantém a segurança dos
presídios, desenvolvendo uma rotina limitada sem importar a relação entre o preso e o agente de
segurança;
20. Considerando que o Conanda instituiu o Grupo de Trabalho para o acompanhamento
e apresentação de propostas para a qualificação do Sistema Nacional de Atendimento
Socioeducativo, onde tem ocorrido o processo de construção de uma proposta de Resolução para
regulamentar a carreira profissional como pertencente ao Sistema de Atendimento Socioeducativo,
no âmbito da Política de Direitos Humanos, buscando a valorização e reconhecimento da carreira
estabelecendo categorias, funções, carga horária, profissionalização e progressão de carreira, bem
como piso salarial.
CONCLUSÃO
21. O Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente – CONANDA, órgão
nacional que nas questões relativas às políticas e diretrizes voltadas à promoção dos direitos das
crianças e adolescentes possui competência para manifestar-se acerca da política nacional de
proteção e defesa dos direitos de crianças e adolescentes, acompanhar e zelar pelo cumprimento
do Estatuto da Criança e do Adolescente, da Lei nº 12.594, de 2012, que instituiu o Sistema
Nacional de Atendimento Socioeducativo (SINASE) e regulamenta a execução das medidas
destinadas a quem se atribui o ato infracional.
22. O Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente – CONANDA
apresenta POSIÇÃO CONTRÁRIA à aprovação do projeto de Lei nº 4256 de 2019 e quaisquer outros
projetos correlatos que busquem, autorizar o porte de arma aos agentes socioeducativos, pelo
risco que traz à vida e aos direitos dos adolescentes por sua inconstitucionalidade e pelo mérito.

MARINA DE POL PONIWAS


Presidente do Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente - Conanda

Documento assinado eletronicamente por Marina de Pol Poniwas, Usuário Externo, em


12/03/2024, às 10:17, conforme horário oficial de Brasília, com fundamento no § 3º do art. 4º
do Decreto nº 10.543, de 13 de novembro de 2020.

A autenticidade deste documento pode ser conferida no site https://sei.mdh.gov.br/autenticidade,


informando o código verificador 4160479 e o código CRC 097DF0D8.

Referência: 00135.204540/2024-11 SEI nº 4160479

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