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FORMAÇÃO DE PROFESSORES.
PROFA. DRA. MARIA PAULA COSTA
UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CENTRO-OESTE/G
Introdução/Justificativa
As pesquisas sobre o ensino de história constituem-se um lugar
privilegiado para pensarmos a complexidade que envolve o ato de ensinar e
aprender, se por um lado foi necessário adentrar aos portões da escola,
conhecer sua dinâmica, seus sujeitos, suas experiencias, presenciamos um
momento em que passamos a ouvir outras vozes, muitas vezes, vozes não
pertencentes a dinâmica escolar. Essas adentram neste ambiente e constroem
discursos que buscam explicitar a função do(a) professor(a) e seu papel na
sociedade. Mas que vozes são essas?
A área de humanas e aqui vou me debruçar a pensar a disciplina de
História vem sofrendo ferrenhos ataques com o objetivo, muitas vezes de
procurar responsáveis por um sistema que já vem sendo desvalorizado e
desgastado ao longo do tempo, mas se olharmos atentamente esse processo,
algo mudou nesse discurso, ou podemos dizer, outras narrativas trouxeram uma
nova dinâmica e engrossaram o coro construindo acaloradamente e sem muita
reflexão debates sobre a prática do(a) professor(a) na sala de aula e o lugar da
escola na formação dos sujeitos.
Se antes as políticas públicas de formação de professores que envolviam
as reformulações dos cursos de graduação, legislações a serem cumpridas
foram o foco de análise, assim como as pesquisas que consideravam as
experiencias dos(as) professores(as) e olhavam a dinâmica das aulas, do
processo de ensinar e aprender constituíam novas perspectivas sobre o que se
esperava do papel do(a) professor(a), promovendo debates e discussões, os
anos de 2018 e até mesmo anteriormente, em 2015 construíram um novo debate
sobre o papel do(a) professor(a) e o lugar da História enquanto disciplina. É
como se, a sociedade, que faz parte da escola (mas aqui estou pensando não
na comunidade escolar) invadisse o ambiente escolar e denunciasse as mazelas
e por que não dizer, segundo as análises desses, “as atrocidades” que são
ensinadas dentro dos muros da escola.
Todo processo político que vivenciamos no século XXI fez emergir
discursos conservadores e negacionistas que jamais pensaríamos ouvir, como
por exemplo: terra plana, ideologia de gênero, professor doutrinador, esquerdista
(este no sentido pejorativo), escola sem partido, entre tantos outros. Tais
discursos se referiram ao ensino escolar e suas práticas.
Ao prestarmos atenção à nossa volta, não era difícil no trabalho, nas
conversas em filas, nos consultórios, nos ônibus, nos bares, nos almoços de
família, nas mensagens reencaminhadas nos grupos de whatsap, nas mídias,
nas redes sociais de forma geral, encontrarmos embates sobre o lugar e a
importância que a História ocupa na sociedade. Isso por que, motivados pelas
eleições, pelos escândalos de corrupção, golpes de governo, situação
econômica, desemprego presenciamos debates na tentativa de achar “os
verdadeiros” culpados. Estes na ânsia da explicação rápida, muitas vezes, se
limitavam a acusarem a História de ser doutrinadora colocando à baila, os que a
escrevem e definindo, de forma pejorativa o papel dos(as) professores(as).
Sabemos que esse exercício argumentativo, para além de um viés político
com fins de generalizar, homogeneizar a disciplina e desestruturar aqueles que
nela desenvolvem seus trabalhos, evidenciou a presença de diferentes sujeitos
exercitando o uso público da História. Todos, de alguma maneira, se sentiram
parte da História e foram autorizados a refletirem sobre seu papel e os rumos do
país. Tais discussões revelaram, ao mesmo tempo, a preocupação com os
discursos e ações daqueles que têm a História como métier, mas também
demonstrou a praticidade da História o que, de alguma forma, descortinou a
fragilidade desse campo de atuação.
Certamente não é atual a desvalorização da profissão de professor(a) no
Brasil, mas somamos a isso, a condição de ser professor(a) de História nas
atuais circunstâncias, onde criou-se uma série de estereótipos para caracterizar
sua função, deslegitimar sua fala e atuação, não sendo incomum ecoarem vozes
defendendo sua irrelevância. Não é nosso objetivo aqui apontar mocinhos e
bandidos, nem defender ou acusar opiniões, mas sim buscamos compreender
como esse processo histórico sobre o significado de ensinar e aprender história
vem sendo delineado na formação de professores e os impactos desses
discursos nos formandos de um curso de licenciatura em História.
Objetivos
O objetivo deste trabalho1 consiste em problematizar como esse processo
histórico de instabilidade política impactou a visão dos(as) acadêmicos(as) do
último ano da licenciatura em História de uma universidade pública quando
questionados sobre sua formação, o papel do professor e a função da história
na atualidade.
Resultados
1
Este trabalho faz parte da pesquisa desenvolvida na modalidade de Pesquisa Isolada (PqI), na
Universidade Estadual do Centro-Oeste, junto ao departamento de História, onde atuo como
docente.
Os sujeitos que participaram desta pesquisa são acadêmicos e
acadêmicas do último ano da licenciatura em História de uma Universidade
pública do Paraná. Foram coletados questionários em 2019 e 2020 (de forma
remota), totalizando 34 participantes.
Ao analisarmos o perfil dos participantes temos os seguintes dados: o
grupo está dividindo em 22 mulheres e 12 homens, com idades entre 20 e 27
anos, sendo que a maioria está entre 21 e 22 anos. Ingressaram na graduação
em 2016 e 2017.