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BACHARELADO EM FISIOTERAPIA

EMANUELI KAROLINE DE LIMA

TRATAMENTO DE CICATRIZ ATRÓFICA DE ACNE COM


MICROAGULHAMENTO

Artigo Científico apresentado ao curso de


Fisioterapia do Centro Universitário UniSociesc de
São Bento do Sul - SC como pré-requisitos para
avaliação da disciplina Trabalho de Conclusão de
Curso.

Orientador (a): Cristoph Enns

São Bento do Sul – SC


2022.1
TRATAMENTO DE CICATRIZ ATRÓFICA DE ACNE COM
MICROAGULHAMENTO

ATROPHIC ACNE SCAR TREATMENT WITH MICRONEEDLING

Emanueli Karoline de Lima¹, Cristoph Enns2.

¹ Estudante do Curso de Fisioterapia da UniSociesc – SBS - SC


2
Docente do Curso de Fisioterapia da UniSociesc – SBS - SC

RESUMO
A incidência de cicatrizes de acne pode ocorrer em algum grau em 95% dos pacientes com acne vulgar. Essas
cicatrizes são um problema tanto estético quanto psicológico. Elas podem ser classificadas em três tipos
diferentes: hipotrófica ou atrófica, hipertrófica e quelóide. As cicatrizes atróficas de acne são o tipo mais comum
e está associada a mediadores inflamatórios e degradação enzimática das fibras colágenas e gordura subcutânea.
A técnica de microagulhamento tem como objetivo provocar micropunturas na pele e estimular um processo
inflamatório controlado, com a finalidade de produção de colágeno e o remodelamento tecidual. Objetivos:
Avaliar os benefícios da técnica do microagulhamento em indivíduos com cicatriz atrófica de acne. Método:
Esta pesquisa consiste no estudo de caso, de caráter descritivo quantitativo composta por sujeitos do sexo
feminino. Com instrumentos avaliativos para observar a textura da pele e localização das cicatrizes de acne,
registro fotográfico antes e após a técnica para obter estudo dos efeitos da técnica. Resultados: Pela analise
fotográfica, observou-se melhora global do aspecto da pele e melhora discreta das cicatrizes atróficas
distensíveis. As cicatrizes atróficas do tipo ice-pick apresentaram pouca melhora com o procedimento.
Palavras-chave: Microagulhamento; Cicatriz Acne; Entrega de medicamento.

ABSTRACT
The incidence of acne scarring can occur to some degree in 95% of patients with acne vulgaris. These scars are
both an aesthetic and a psychological problem. They can be classified into three different types: hypotrophic or
atrophic, hypertrophic and keloid. Atrophic acne scars are the most common type and are associated with
inflammatory mediators and enzymatic degradation of collagen fibers and subcutaneous fat. The microneedling
technique aims to provoke micropunctures in the skin and stimulate a controlled inflammatory process, with the
purpose of collagen production and tissue remodeling. Objectives: To evaluate the benefits of the microneedling
technique in individuals with atrophic acne scarring. Method: This research consists of a case study, with a
quantitative descriptive character composed of female subjects. With evaluative instruments to observe the skin
texture and location of acne scars, photographic records before and after the technique to obtain a study of the
effects of the technique. Results: Through photographic analysis, there was a global improvement in the
appearance of the skin and a slight improvement in distensible atrophic scars. Ice-pick atrophic scars showed
little improvement with the procedure.
Key words: Microneedling; Acne Scars; Drug Delivery.
1- INTRODUÇÃO

A pele é o maior órgão do corpo humano, e é constituída por três camadas: a


epiderme, que é a camada mais superficial, a derme, camada intermediária e a hipoderme, que
é a camada mais profunda. 1

Figura 1: Pele e suas três camadas: a epiderme (superficial), a derme (intermediária) e a hipoderme (profunda). Fonte: Tassinary, J.A.F.
Raciocínio clínico aplicado à estética facial. Lajeado/RS: Estética Experts, 2019.

A camada externa da pele é a epiderme, sendo avascular com espessura de 0,6mm a


1,5mm, tendo como função principal a proteção contra agentes externos, ela é formada por
um epitélio estratificado, que possui a habilidade de renovação contínua ao longo da vida e de
regeneração após injúrias, e é composta por 4 camadas: basal, espinhosa, granular e córnea.2
Na camada basal, primeira camada e mais interna, os queratinócitos se multiplicam e
assim se soltam migrando para a superfície, o processo leva em média 30 dias, em cada
camada que passam, as células vão sofrendo alterações, uma parte de queratina vai se
acumulando, até perderem seu núcleo, quando chegam na última camada, no estrato córneo,
onde as células são denominadas corneócitos sofrem seu processo de descamação natural. 2
Figura 2: Constituição da epiderme. Fonte: Tassinary, J.A.F; Golzer Neto, C.F. Peelings químicos magistrais e abordagens terapêuticas.
Lajeado/RS: Estética Experts, 2018.

A segunda camada e mais profunda é a derme, constituída por tecido conjuntivo denso
irregular. Com espessura de 0,6 mm até 3 mm, apresenta três regiões distintas: região papilar,
reticular e adventricial, compostas por feixes de fibras de colágeno mais espessas, possui
pequenos vasos linfáticos e sanguíneos, terminações nervosas, colágeno, elastina, folículos
pilossebáceos, glândulas e na derme também estão presentes os anexos cutâneos como
glândulas sebáceas e sudoríparas, pelos e unhas. 1,2
A acne é uma afecção de pele que afeta até 80% das pessoas que possuem 11 a 30
anos de idade, e acomete preferencialmente a face, o pescoço, o tórax, as costas, e a parte
superior dos braços. A patogênese da acne é atualmente atribuída a vários fatores, e é definida
como uma afecção crônica do folículo pilossebáceo. Menciona-se quatro processos distintos
desempenham papéis significativos na formação de lesões de acne, como: aumento da
produção de sebo; alteração nos processos de queratinização, levando à formação do
comedão; colonização do folículo pilossebáceo por propionibacterium acnes; e mediação dos
processos inflamatórios, permeando as unidades pilossebáceas. 1,3
Figura 3: Tamponamento de queratina com aumento da glândula sebácea. Fonte: Tassinary, J.A.F. Raciocínio clínico aplicado à estética
facial. Lajeado/RS: Estética Experts,2019.

A lesão inicial se leva ao comedão, que marca a obstrução do infundíbulo folicular por
células queratinizadas, lesões mais tardias revelam ruptura do folículo, com linfócitos,
neutrófilos e macrófagos. Estas lesões inflamatórias podem se converter a cicatrizes de acne
permanentes.3 A incidência de cicatrizes de acne não é bem estudada, mas pode ocorrer em
algum grau em 95% dos pacientes com acne vulgar. 4
As cicatrizes de acne são um problema estético e psicológico. 3 Pesquisas confirmaram
seu impacto psicossocial demonstrando maior incidência de distúrbios psicológicos. 6 O
British Journal of Dermatology publicou uma pesquisa intitulada Suicide in dermatological
patients e demonstrou que, ligadamente à acne, possuir cicatrizes é um fator de risco para o
suicídio, que pode estar associado a baixa auto-estima, à depressão, à ansiedade, às interações
sociais alteradas, as alterações na imagem corporal, ao constrangimento, à raiva, ao menor
desempenho acadêmico e ao desemprego, o que impacta negativamente na qualidade de vida. 1
As cicatrizes de acne podem ser classificadas em três tipos diferentes: hipotrófica ou
atrófica, hipertrófica e queloide. As cicatrizes atróficas de acne são o tipo mais comum, sua
patogênese não é completamente compreendida, mas certamente está associada a mediadores
inflamatórios e degradação enzimática das fibras colágenas e gordura subcutânea. 7 Elas
podem apresentar-se em três tipos principais: Cicatrizes em furador de gelo (ice-pick):
reconhecidas como depressões cilíndricas verticais, profundas, e estreitas; Cicatrizes
onduladas (rolling): essas apresentam-se como depressões superficiais, sua aparência
deprimida reflete a fibrose subjacente da derme e dos tecidos adiposos subcutâneos;
Cicatrizes em forma de caixa (boxcar): são cicatrizes mais largas, e apresentam-se em formato
oval ou circular bem delimitado. 1

Figura 4: ice-pick (A), rolling (B) e boxcar (C). Fonte: Tassinary, J.A.F. Raciocínio clínico aplicado à estética facial. Lajeado/RS: Estética
Experts, 2019.

A técnica de microagulhamento, é conhecida como uma indução percutânea de


colágeno (IPC), no procedimento utilizam microagulhas com a finalidade de provocar
micropunturas na pele e estimular um processo inflamatório controlado, com a finalidade de
produção de colágeno.8 A técnica advém da Medicina Oriental Chinesa, da técnica de
Acupuntura. Nos anos 1960, na França, surgiram os primeiros achados da técnica considerada
Nappage, que se tratava de pequenas incisões na pele para a absorção de medicamentos
tópicos, cujo objetivo era o rejuvenescimento da pele. 9 Em 1995 Orentreich e Orentreich
descreveram cirurgia subcutânea sem incisão (subcisão) para correção de cicatrizes e rugas
deprimidas.10 Em 1997, Camirand e Doucet demonstraram a dermoabrasão com agulhas
usando uma pistola de tatuagem sem tinta também no tratamento de cicatrizes atróficas. 11 E
por último, em 2002, Fernandes, considerado pai do microagulhamento, criou o primeiro
equipamento em forma de tambor com múltiplas agulhas finas, e publicou um artigo
científico com a técnica de indução percutânea de colágeno. 12
A partir deste marco, sucedeu a técnica de microagulhamento, que pode ser feita por
meio de um dispositivo com número variável de microagulhas com comprimentos de 0,25 a
3,0 mm, cuja finalidade é provocar micro perfurações na pele, produzindo uma lesão
controlada sem danificar a epiderme, podendo levar a um pequeno sangramento superficial e
estabelecem uma cascata de cicatrização de feridas, estimulando a proliferação de fibroblastos
e a síntese de colágeno tipo I e III, com liberação de fatores de crescimento, como o derivado
de plaquetas (PGF), transformador alfa e beta (TGF-α e TGF-β), proteína ativadora do tecido
conjuntivo, e dos fibroblastos (FGF).13,14 As agulhas também podem romper cicatrizes antigas
e endurecidas e permitem que formem microcanais para estímulo de colágeno. 1
Figura 5: Ilustração dos efeitos da técnica de microagulhamento na pele. Figura baseada em Lima e Cols (2013). Fonte: Tassinary, J.A.F.
Raciocínio clínico aplicado à estética facial. Lajeado/RS: Estética Experts, 2019.

Uma matriz de fibronectina se forma 5 dias após a lesão, que determina a deposição de
colágeno.13 O processo de cicatrização ocorre em três fases: na primeira, chamada fase de
injúria ou inflamatória, acontece a liberação de plaquetas e neutrófilos responsáveis pelos
fatores de crescimento com ação sobre os queratinócitos e os fibroblastos. Na segunda fase,
de proliferação, ocorre a angiogênese, a epitelização e a proliferação dos fibroblastos,
seguidas da produção de colágeno tipo III, elastina, glicosaminoglicanos e proteoglicanos. Na
terceira fase, chamada fase de maturação ou remodelamento, o colágeno do tipo III, que é
predominante na fase inicial do processo de cicatrização e que vai sendo lentamente
substituído pelo colágeno tipo I, mais duradouro, persistindo por prazo que varia de cinco a
sete anos.15
O processo resulta na formação de novo tecido que “preenche” a cicatriz atrófica, bem
como induz a repigmentação através da melhora do suprimento sanguíneo. O
microagulhamento resulta, portanto, em neocolagênese e neoangiogênese. Há estudos que
demonstram a ação benéfica da aplicação tópica de medicamento, conhecido como drug
delivery, fatores de crescimento, tais como o EGF (fator de crescimento epidermal), o IGF
(fator de crescimento insulínico) e o TGFb3 (fator de crescimento transformador), entre
outros, contribuindo para a formação de tecido de granulação, diminuição da pigmentação da
pele em decorrência do processo inflamatório e maturação do colágeno. 6
Figura 6: Representação esquemática do aumento na produção de colágeno decorrente do Microagulhamento no tecido cutâneo. Fonte:
http://clinicalegerrj.com.br/images/dermaroller-cicatriz.jpg. Acesso em 20 de abril de 2022.

Existem vários instrumentos de microagulhamento, o Dermaroller e o Dermapen são


os instrumentos mais conhecidos para realização do microagulhamento. O roller tradicional é
constituído por um cilindro repleto de agulhas em aço inoxidável, dispostas em quantidade de
190 a 1.080 agulhas, com comprimento de 0,20mm a 3,00mm diferentes, de uso único. O
outro dispositivo é o Dermapen, que podem ser manuais ou elétricas, que funcionam com
ponteiras descartáveis, sua regulagem manual permite realizar microagulhamento de 0,25mm
até 2,5mm. A quantidade de agulhas em cada ponteira pode ser de 2, 3, 7, 12 ou 36 agulhas. A
aplicação da caneta manual se diferencia do roller por entregar maior facilidade do
profissional que fará a aplicação, a caneta permite também uma aplicação pontual, sendo ideal
para pequenas áreas.16
O uso de anestésicos no pré microagulhamento, para os tamanhos de 0,2mm a 0,3mm
dispensam o uso de anestesia, enquanto os tamanhos de 0,5 a 2,0mm necessita de anestésico
tópico e de 2,0mm a 2,5mm necessita de anestesia geral. 15
Assim, o objetivo desse estudo foi avaliar os benefícios da técnica do microagulhamento
em indivíduos com cicatriz atrófica de acne, confirmando a eficácia no tratamento estético.

2- METODOLOGIA

Esta pesquisa caracteriza-se por um estudo de caso, de caráter descritivo quantitativo.


A técnica foi realizada na Clínica Escola de Fisioterapia - Unisociesc na cidade de São Bento
do Sul-SC, com frequência de 01 sessão a cada 21 dias com duração média de 30 minutos,
totalizando 3 sessões por paciente. A coleta foi feita em três pacientes do sexo feminino a
qual, a primeira com idade de 26 anos, a segunda com idade de 25 anos e a terceira com 21
anos. Todas classificadas com cicatriz atrófica de acne, no qual não estiveram realizando
nenhum outro procedimento facial, ou uso de algum dermocosmético durante a realização do
estudo.
O primeiro contato foi para aplicar uma ficha de avaliação clínica adaptada pela
pesquisadora, contendo quesitos como dados pessoais das pacientes, avaliação do fototipo de
pele segundo a Escala de Fitzpatrick, Escala de Baumann para classificação do tipo de pele
como nível de oleosidade, resistência, pigmentação e firmeza. Tabela de Classificação
Qualitativa das Cicatrizes de Acne classificada em Grau 1 Macular, Grau 2 Leve, Grau 3
Moderado e Grau 4 Grave (tabela 1).

CLASSIFICAÇÃO QUALITATIVA DAS CICATRIZES DE ACNE

Grau Nível Características Clínicas

1 Macular Marcas planas que podem ser eritematosas, hiperpigmentadas ou hipopigmentadas. São
visíveis independentemente da distância do paciente, apresentando disfunção relacionada a
coloração.

2 Leve Cicatrizes hipertróficas, ou atróficas leves, não óbvias a uma distância social de 50cm
ou mais

3 Moderado Cicatrizes hipertróficas, ou atróficas graves, visíveis mesmo a distâncias maiores que
50 cm. Quando atróficas, podem ser achatadas por alongamento manual da pele.

4 Grave Cicatrizes hipertróficas, ou atróficas graves, visíveis mesmo a distâncias maiores que
50 cm. Quando atróficas, não podem ser achatadas por alongamento manual da pele.

Tabela 1: Classificação Qualitativa das Cicatrizes de Acne. Fonte: Goodman & Baron (2006)

Escala de Avaliação Clínica de Cicatrizes de Acne (ECCA) com o objetivo de


quantificar a gravidade das cicatrizes de acne, classificando o subtipo com quantidade de
cicatrizes (tabela 2).

ECCA

Descrição Coeficiente (a) Escore semi-quantitativo (b) Gradiente (axb)

Cicatriz atrófica com formato “V”, 0= sem cicatriz


puntiforme e com diâmetro menor 1= poucas cicatrizes
que 2mm 15 2= número limitado de
cicatrizes
3= muitas cicatrizes

Cicatriz atrófica com formato “U”, 0= sem cicatriz


diâmetro menor de 2-4mm com 1= poucas cicatrizes
bordos definidos 20 2= número limitado de
cicatrizes
3= muitas cicatrizes

Cicatriz atrófica com formato “M”, 0= sem cicatriz


diâmetro maior que 4mm com 1= poucas cicatrizes
superfície irregular 25 2= número limitado de
cicatrizes
3= muitas cicatrizes

0= sem cicatriz
1= poucas cicatrizes
Elastose superficial 30 2= número limitado de
cicatrizes
3= muitas cicatrizes

Subtotal 1

0= sem cicatriz
Cicatriz hipertrófica inflamatória com 1= poucas cicatrizes
menos de 2 anos 40 2= número limitado de
cicatrizes
3= muitas cicatrizes

0= sem cicatriz
Quelóides cicatrizes hipertróficas 50 1= poucas cicatrizes
com mais de 2 anos 2= número limitado de
cicatrizes
3= muitas cicatrizes

Subtotal 2

Total geral (subtotal 1+ subtotal 2)


Tabela 2: Escala de Avaliação Clínica de Cicatrizes de Acne. Fonte: Dreno B. (2007)

Além das escalas, a análise de resultados foi realizada por meio de fotografia do antes
e depois, permitindo analisar a textura tecidual antes e após a aplicação da técnica.
Foi utilizada também uma escala de autoestima Rosenberg (tabela 3), no qual a mesma
possui 10 afirmações, onde são 5 afirmações positivas e 5 afirmações negativas. As
pontuações nas perguntas (1,3,4,7,10) serão pontuadas de 1 a 4, onde, 1- (concordo
plenamente), 2- (concordo), 3- (discordo) 4- (discordo plenamente) e as perguntas da
(2,5,6,8,9) pontuadas de 4 a 1, onde, 4- (concordo plenamente), 3- (concordo), 2- (discordo),
1- (discordo plenamente). A mesma foi aplicada nas duas participantes, no início do
procedimento e no final. O resultado da pontuação permite ter uma base do estado da
autoestima das pacientes, onde é somado cada número das respostas observando a pontuação
de cada uma, no qual, inferior a 15 indica uma autoestima muito baixa, entre 15 e 25 pontos
demonstra uma autoestima saudável, e uma pontuação maior que 25 mostra uma pessoa forte
e sólida. A mesma foi aplicada nas duas participantes, no início do procedimento e no final.

ESCALA DE AUTOESTIMA DE ROSENBERG


1- Sinto que sou uma pessoa digna de apreço, pelo menos tanto quanto os outros.
2- Sinto que tenho qualidades positivas.
3- Geralmente, sou levado a pensar que sou um fracassado/a.
4- Eu sou capaz de fazer as coisas tão bem quanto a maioria das pessoas.
5- Sinto que eu não tenho muito do que me orgulhar.
6- Tenho uma atitude positiva em relação a mim mesmo/a.
7- No geral, estou satisfeito/a comigo mesmo/a.
8- Gostaria de ter mais respeito por mim mesmo/a.
9- Às vezes me sinto inútil.
10- Às vezes eu penso que não sirvo para nada.
Tabela 3: Escala de Autoestima de Rosenberg. Fonte: Rosenberg (1965)

Além disso, aplicou-se uma pergunta chave para as 3 pacientes, desenvolvida pela
pesquisadora: “Em uma escala de 0 a 10, o quanto você está satisfeita com sua pele?”
As pacientes assinaram o termo de consentimento livre e esclarecido (TCLE),
aceitando a participação no estudo, confirmando que estão de acordo e ciente de todos os
procedimentos realizados e cuidados que devem tomar em casa. O material utilizado foi a
ficha de avaliação, câmera fotográfica do celular da Apple Iphone 8 Plus (câmera 12
megapixels) focando nas cicatrizes de acne, EPI's (máscara, luva, touca, jaleco), ampolas de
soro fisiológico, gaze estéril, derma pen com ponteira descartável de 36 agulhas, gel de
limpeza, álcool 70%, anestésico tópico e o cosmético manipulado com fatores de crescimento.

FORMULAÇÃO MAGISTRAL CONTENDO FATORES DE CRESCIMENTO

EGF – Fator de crescimento epidermal……………………………………........…………………………….1%


IGF – Fator de crescimento insulínico………………………………………….......………………………...1%
TGFβ3 – Fator de crescimento transformador……………………………………….........………………….1%
Ácido hialurônico…………………………………………………………………………...………………0,5%
Ácido tranexâmico…………………………………………………………………………....…………….0,5%
Vitamina E……………………………………………………………………………………..……………..2%
Portulaca extract………………………………………………………………………………....……………1%
Tabela 4: Formulação magistral. Fonte: Boff, Ana Letícia , & Tonoli, Renata Elise , & Hübner Frainer, Renata , & Santos Dexheimer,
Letícia , & Petersen Vitello Kalil, Célia Luiza (2015). Tratamento das cicatrizes de acne com técnica de microagulhamento e drug delivery.
Surgical & Cosmetic Dermatology, 7 (2),144-148.

O procedimento proposto às pacientes foi de três sessões de microagulhamento feito


com derma pen registrado devidamente pela ANVISA sob o n° 81382059001, com ponteira
descartável de 36 agulhas, associado a ativos tópicos (tabela 4). As evoluções foram
analisadas por meio de imagens fotográficas do celular da marca Apple Iphone 8 Plus (câmera
12 megapixels) e a reavaliação de todas as escalas. Durante o tratamento foi orientado a cada
paciente o devido cuidado de não se expor ao sol e utilizando o protetor solar somente 12hrs
após o procedimento, repondo o mesmo a cada 3h, também foram orientadas que de forma
alguma poderiam utilizar produtos, medicações ou substâncias que não foram indicados pela
pesquisadora, a fim de não interferir no tratamento.
Protocolo da sessão:
As pacientes foram acolhidas na recepção da clínica pela pesquisadora, e
encaminhadas para uma sala reservada e equipada para os procedimentos, no qual foi avaliada
uma paciente por vez. Depois da avaliação completa, iniciou o passo a passo do
procedimento.
• Primeiro passo foi efetuado a higienização da pele com um Gel de Limpeza Purificante
(marca Adcos), aplicado em toda face e removido com algodão e soro fisiológico;
• Após foi feita a assepsia da pele com gaze estéril e Álcool 70%;
• Aplicado o creme anestésico manipulado com Lidocaína, para o alívio da dor da paciente,
afim de sentir mais conforto na hora da aplicação, deixando agir por 15 minutos antes da
execução do procedimento e removido com algodão e água;
• Logo após, inicia-se a técnica de microagulhamento em toda a face, com o aparelho Derma
Pen Smart com ponteira estéril de 36 agulhas, em uma profundidade de 1.5mm;
• Efetuado 6 passadas em cada sentido, horizontal, vertical, diagonal direita e esquerda,
atingindo toda face, levando a um quadro de hiperemia;
• Logo após o fim do procedimento foi removida a pequena quantidade de sangue com soro
fisiológico e finalizado com o Drug Delivery.
Após o procedimento as pacientes foram orientadas a evitar levar as mãos no rosto
para prevenir a contaminação, evitar lavar o rosto em menos de 4 horas para assim, se ter uma
boa penetração dos produtos. Ao final de cada sessão do microagulhamento, foram
descartados as ponteiras de agulhas no descarpack. Após 12 horas do procedimento a paciente
fez o uso do protetor solar com FPS mínimo 30, sendo orientada a repassar a cada 3h.

3- RESULTADOS
Durante a aplicação com o manuseio da caneta Derma Pen no movimento de vai e
vem, foi lesionando de forma superficial a pele das pacientes deixando uma hiperemia local
com pequenos focos de sangramento (imagem 1, 2 e 3).
Imagem 1: Paciente 1, hiperemia pós aplicação microagulhamento

Imagem 2: Paciente 2, hiperemia pós aplicação microagulhamento


Imagem 3: Paciente 3, hiperemia pós aplicação microagulhamento

Quinze dias após a terceira e última sessão, foi realizado a reavaliação das 3 pacientes.

Paciente 1: sexo feminino, 27 anos, Fotipo I segundo escala de Fitzpatrick,


classificada com cicatriz atrófica de acne dos tipos boxcar e ice-pick, na escala de
Classificação Qualitativa de Cicatrizes de Acne, evoluiu de Grau 4, onde as cicatrizes eram
nitidamente visíveis e não poderiam ser achatadas por alongamento manual da pele, para um
Grau 3, onde as cicatrizes são visíveis, mas podem ser achatadas por alongamento manual da
pele. Na Escala de Avaliação Clínica de Cicatrizes de Acne, o total inicial foi de 180, onde na
reavaliação somou 145, diminuindo o score total. A pontuação na Escala de Rosenberg
primeiramente foi de 23 pontos mantidos ao final do tratamento. A pergunta chave, de 0 a 10
o quanto a paciente sente-se satisfeita com sua pele, antes do tratamento a resposta foi 5, e
após a aplicação da técnica 8. Pela análise fotográfica, observou-se melhora global do aspecto
da pele e melhora discreta das cicatrizes atróficas distensíveis (imagem 4,5,6). As cicatrizes
atróficas do tipo ice-pick apresentaram pouca melhora com o procedimento (imagem 5).
Imagem 4: Paciente 1, antes e depois vista frontal.

Imagem 5: Paciente 1, antes e depois vista Lateral Esquerda


Imagem 6: Paciente 1, antes e depois vista Lateral Direita

Paciente 2: sexo feminino, 25 anos, Fotipo II segundo escala de Fitzpatrick


classificada com cicatriz atrófica de acne dos tipos rolling, boxcar e ice-pick, na escala de
Classificação Qualitativa de Cicatrizes de Acne, evoluiu de Grau 3, onde as cicatrizes eram
nitidamente visíveis e poderiam ser achatadas por alongamento manual da pele, para um Grau
2, onde são cicatrizes atróficas leves, não obvias a uma distância social de 50cm ou mais. Na
Escala de Avaliação Clínica de Cicatrizes de Acne, o total inicial foi de 115, onde na
reavaliação somou 50, diminuindo o score total. A pontuação na Escala de Rosenberg
primeiramente foi de 17 e ao final do tratamento resultado foi de 18. A pergunta chave, de 0 a
10 o quanto a paciente sente-se satisfeita com sua pele, antes do tratamento a resposta foi 7, e
após a aplicação da técnica 8. Durante o tratamento a paciente relatou um distúrbio de acne,
refletindo diretamente no aparecimento de acne ativa e hiperpigmentação pós inflamatória.
Pela análise fotográfica, observa-se melhora global do aspecto da pele e melhora das
cicatrizes atróficas distensíveis (imagem 7,8,9).
Imagem 7: Paciente 2, antes e depois vista frontal

Imagem 8: Paciente 2, antes e depois vista Lateral Esquerda


Imagem 9: Paciente 2, antes e depois vista Lateral Direita

Paciente 3: sexo feminino, 21 anos, Fotipo II segundo escala de Fitzpatrick,


classificada com cicatriz atrófica de acne dos tipos boxcar e ice-pick, na escala de
Classificação Qualitativa de Cicatrizes de Acne, evoluiu de Grau 3, onde as cicatrizes eram
nitidamente visíveis e poderiam ser achatadas por alongamento manual da pele, para um Grau
2, onde são cicatrizes atróficas leves, não obvias a uma distância social de 50cm ou mais. Na
Escala de Avaliação Clínica de Cicatrizes de Acne, o total inicial foi de 110, onde na
reavaliação somou 85, diminuindo o score total. A pontuação na Escala de Rosenberg
primeiramente foi de 25 mantidos ao final do tratamento. A pergunta chave, de 0 a 10 o
quanto a paciente sente-se satisfeita com sua pele, antes do tratamento a resposta foi 5, e após
a aplicação da técnica 6. Pela análise fotográfica, observa-se melhora global do aspecto da
pele e melhora das cicatrizes atróficas distensíveis (imagem 10,11,12). As cicatrizes atróficas
do tipo ice-pick apresentaram pouca melhora com o procedimento (imagem 10).
Imagem 10: Paciente 3, antes e depois vista frontal

Imagem 11: Paciente 3, antes e depois vista Lateral Esquerda


Imagem 12: Paciente 3, antes e depois vista Lateral Direita

Na terceira sessão torna-se visível que a técnica de microagulhamento e princípios


ativos utilizado em conjunto, houve suavização das cicatrizes de cada paciente, deixando a
pele mais iluminada, assim tendo uma satisfação de ambas as voluntárias no pós tratamento.

4- DISCUSSÃO
Segundo autores17, o procedimento de microagulhamento mostra-se eficaz em diversos
tratamentos estéticos, seja pela permeação de ativos ou pela estimulação de colágeno. A
terapia combinada tende a ser mais eficaz, promovendo resultados mais satisfatórios.
Além disso, pode-se dizer18 que além da associação da técnica com diversos ativos
proporcionar a otimização dos resultados, também é de baixo custo e fácil aplicação se
comparada aos demais tratamentos existentes no mercado.
No atual estudo foi possível observar que houve diminuição das cicatrizes atróficas
distensíveis, e pouca melhora em cicatrizes atróficas do tipo ice-pick. Resultados esses que
corroboram com estudo6 publicado em 2015 na revista Surgical & Cosmetic Dermatology,
onde os pacientes envolvidos obtiveram melhora global da textura da pele e melhora discreta
das cicatrizes atróficas, as cicatrizes atróficas do tipo ice-pick não apresentaram melhora com
o procedimento. De modo geral ela proporciona melhoras no aspecto da pele e na
profundidade das cicatrizes.
19
Murad (2014) observou que a melhora do aspecto da pele com microagulhamento
foi mais evidente após 6 meses do tratamento do que após 3 meses, evidenciando que
o microagulhamento fornece mais do que um benefício transitório para cicatrizes de acne.
No presente estudo as fotos foram realizadas após quinze dias do tratamento, talvez com um
tempo maior poderiam ser evidencializados melhores resultados, conforme autor citado.

5- CONCLUSÃO

A pesquisa atestou que o tratamento das cicatrizes atróficas de acne com


microagulhamento e drug delivery apresenta resultados positivos, por provocar micropunturas
no tegumento, estimula a produção de colágeno e aumenta a permeação de ativos, trazendo
um resultado satisfatório na qualidade da pele de cada paciente. Entre as limitações, a técnica
não apresenta eficiência em cicatrizes do tipo ice-pick. De modo geral ela proporciona
melhoras no aspecto da pele e nas cicatrizes atróficas do tipo rolling e boxcar.
Vale ressaltar que a continuidade do tratamento com maior número de sessões,
potencializaria os resultados. Verificou-se também que as melhorias na pele, interferiram de
forma positiva na autoestima das pacientes, tornando-as mais confiantes e refletindo
consequentemente na saúde psicossocial.

6- REFERÊNCIAS

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