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*Exemplo de Revisão bibliográfica, realizada por Cristiani Bereta da Silva, em projeto de pesquisa submetido ao CNPq em

2018 e 2021: Jornais escolares como culturas de memória: vestígios de presentes passados entre práticas culturais e políticas
(Santa Catarina, 1930-1960)

(*explicitação do percurso, evidentemente essa parte não aparece no projeto/artigo/texto da dissertação ou tese, apenas o diálogo
mesmo com essa literatura de referência)

Exemplo de seleção visando redefinição do objeto:

AGUIAR; Cintia Medeiros Robles; ASSIS, Jacira Helena do Valle Pereira. Impresso jornalístico estudantil nas produções científicas
em educação (2002-2017). Revista Eletrônica de Educação, v. 14, 1-15, jan./dez. 2020. Disponível em:
http://www.reveduc.ufscar.br/index.php/reveduc/article/view/3203. Acesso: 12 jun. 2021

BASTOS, Maria Helena Camara. Impressos e cultura escolar. Percursos da pesquisa sobre a imprensa estudantil no Brasil. In:
HERNÁNDEZ DÍAZ, José Maria (coord.). La prensa de los escolares y estudiantes. Su contribución al patrimonio histórico educativo.
Salamanca: Ediciones Universidad de Salamanca, 2015, p.21-43.

BASTOS, Maria Helena Câmara. As revistas pedagógicas e a atualização do professor: a Revista do Ensino do Rio Grande do Sul
(1951-1992). In: CATANI, Denice Bárbara; BASTOS, Maria Helena Câmara (orgs.). Educação em revista: a imprensa periódica e a
história da educação. São Paulo: Escrituras, 2002, p. 47-75.

CASASANTA, Guerino. Jornais escolares. São Paulo: Cia. Editora Nacional. 1939.

CHIOSSO, Giorgio. A imprensa pedagógica e escolar na Itália entre o século XIX e XX. História da Educação, 2019, v. 23: e84270
MARTINS, C. G.; RABELO, G. Jornal Escolar na concepção de Célestin Freinet: diálogos com a legislação educacional catarinense
– 1940. Roteiro, [S. l.], Joaçaba, v. 45, p. 1–22, 2020. Disponível em: https://unoesc.emnuvens.com.br/roteiro/article/view/21640.
Acesso em: 31 ago. 2021
Exemplo de seleção visando cercamento e exploração do objeto propriamente, realizada no Portal de Periódicos da CAPES e
Catálogo de Dissertações e Teses da CAPES

Busca realizada duas vezes: a primeira em junho de 2018 e a segunda em junho de 2021. Usei os seguintes descritores: jorna*
escolar, jorna* estudanti*; imprensa estudanti*, imprensa escolar periódico estudanti*, periódico escolar (*o truncamento permite a
busca no singular e plural).
Apenas foram selecionados os estudos que se referiam a jornais produzidos por estudantes/para estudantes e que tenham sido o
objeto da pesquisa ou a principal fonte. Em relação aos artigos exclui dois deles, de minha autoria, publicados em 2013 e 2020,
sobre o jornal A Criança Brasileira, porque a ideia da revisão é conhecer o que está sendo produzido por outros pesquisadores da
área...

10 Artigos (com os meus 12) Resumo

SANTOS, Ademir Valdir dos. Educação e *Analisa o jornal Tudo pelo Brasil
fascismo no Brasil: a formação escolar da O Estado Novo foi o governo ditatorial liderado por Getúlio Vargas. Neste período a
infância e o Estado Novo (1937- ação governamental foi caracterizada por buscar a formação de uma nacionalidade
1945). Revista Portuguesa de e identidade brasileiras. Neste estudo destacamos a orientação político-ideológica
Educação, 25(1),137–163, 2012. do Estado Novo que objetivou atingir as escolas elementares, especialmente nas
https://doi.org/10.21814/rpe.3019 áreas de imigração europeia do sul do Brasil, gerando transformações pedagógicas.
Analisamos edições de um jornal escolar intitulado Tudo pelo Brasil, elaboradas
entre 1941 e 1944, e documentos da legislação educacional como relatórios de
inspeção escolar e atas. Mostramos que os textos escritos pelas crianças da escola
primária brasileira e transportados para o jornal escolar explicitam, através de sua
forma e conteúdo, o ideário do regime político. Como atividade do currículo, o
envolvimento infantil na elaboração do jornal poderia colaborar para a formação dos
cidadãos de que necessitava o Brasil. No Estado Novo, a educação escolar se
prestou à construção nacionalista idealizada pelo projeto fascista de Getúlio Vargas
JACQUES, Alice Rigoni; GRIMALDI, Lucas O presente estudo analisa o jornal Das Band, editado pelos estudantes e
Costa. O jornal das band da deutsche professores da Deutsche Hilfsvereinsschule, Colégio Farroupilha/RS, no período de
hilfsvereinsschule e as escritas escolares 1929-1938. A pesquisa contextualiza a história da escola, a produção e circulação
sobre imigração alemã (Colégio do jornal e, especialmente, as escritas produzidas pelos estudantes do curso
Farroupilha/RS, 1929-1938). História da primário e do curso ginasial sobre o tema imigração alemã, que constroem uma
Educação, Porto Alegre, v. 17 n. 40 maio/ago. discursividade de enaltecimento da participação alemã no povoamento do Rio
2013, p. 99-119 Grande do Sul.

AMARAL, Giana Lange do. Os jornais O presente texto trata do uso de jornais estudantis como fonte para estudos em
estudantis Ecos do Rio e Estudante: História da Educação, bem como da importância da leitura de jornais escolares.
apontamentos sobre o ensino secundário Privilegia-se a análise de dois jornais de escolas de ensino secundário católico e
católico e laico (Pelotas/RS, 1930 a 1960). laico de Pelotas/RS: o Ecos Gonzagueanos e o Estudante. Nas investigações que
História da Educação, Porto Alegre, vol.17, n. abordam as práticas culturais, seus sujeitos e sua produção, os jornais estudantis
40, p.121-142, mai./ago. 2013. são considerados elementos potenciais para a apreensão das práticas, dos
discursos e do cotidiano escolar. É possível observar valores, costumes e interesses
que balizavam as relações dos jovens estudantes, bem como os reflexos das
apropriações feitas a partir da cultura escolar da instituição a qual estavam ligados.

RABELO, Giani. O jornal escolar O Estudante A ideia de pesquisar sobre o jornal O Estudante Orleanense surgiu no momento em
Orleanense: Não podemos tornar as crianças que encontramos vários números do impresso no acervo da EEB Costa Carneiro,
felizes, mas podemos fazê-las felizes localizada no município de Orleans/SC, em uma das etapas de implantação do
tornando-as boas (Santa Catarina, 1949- Centro de Memória da Educação do Sul de Santa Catarina. À época (2010),
1973). História da Educação, Porto Alegre, v. deparamo-nos com 57 exemplares, além de um livro de atas da Associação Jornal
17, n. 40, p. 197-219, maio/ago. 2013 Escolar O Estudante Orleanense. Este artigo se propõe a dar visibilidade às práticas
e saberes estudantis, mas, principalmente, compreender a contribuição destes
instrumentos informais de educação, jornal e associação, à cultura escolar
constituída neste educandário entre os anos de 1949 e 1973, no que concerne ao
processo civilizador em curso com a instalação do grupo escolar em nível nacional,
estadual e local.
RABELO, G.; MASSIROLI, V. Indícios do Este artigo é resultado de uma pesquisa realizada no campo da História da
civismo na cultura do grupo escolar costa Educação, em que se teve como objetivo analisar os ideais de civismo disseminados
carneiro: o jornal O estudante Orleanense por meio do jornal O Estudante Orleanense, e que fizeram parte da cultura do
(1949-1973). Roteiro, [S. l.], Joaçaba, v. 42, n. Grupo Escolar Costa Carneiro (Orleans, SC) entre os anos 1949 e 1973. De modo
3, p. 563–586, 2017. Disponível em: específico, buscou-se demonstrar de que forma esse civismo foi divulgado antes e
https://portalperiodicos.unoesc.edu.br/roteiro/ durante a Ditadura Civil-Militar. Os resultados demonstraram que a produção
article/view/10722. Acesso em: 31 ago. 2021. do jornal resistiu a diversas reformas políticas, reproduzindo em suas páginas ações
e intenções que colaboravam para a formação de cidadãos patriotas, sendo um
instrumento importante no processo de construção da cultura escolar do
educandário.

TEIVE, Gladys Mary Ghizoni; DALLABRIDA, O presente estudo analisa dois exemplares do jornal A Escola, veiculado no Grupo
Norberto. O jornal A Escola e a construção da Escolar Jerônimo Coelho, de Laguna, Sul de Santa Catarina, em 1916. O que este
escola moderna e republicana (Laguna, jornalzinho teria a ver com aqueles que anos mais tarde foram popularizados por
década de 1910). História da Educação, Porto Decola e Freinet e incorporados às escolas primárias brasileiras como parte das
Alegre, vol.17, n. 40, p. 55-68, mai./ago. 2013 associações auxiliares da escola? Esta questão constituiu-se no fio condutor desta
reflexão histórica, buscando indícios que contribuam para a discussão acerca do
ensino ativo, carro-chefe da pedagogia moderna, e da escola ativa, principal
bandeira da Escola Nova. Para tanto, analisa principais temas pautados pela gazeta
A Escola quais sejam: o patriotismo republicano e a civilidade burguesa.
BASTOS, Maria Helena Camara; ERMEL, O artigo aborda as escritas de alunos do ensino primário do Colégio Elementar
Tatiane de Freitas. O jornal A Voz Da Escola: Souza Lobo (Porto Alegre/RS), publicadas no jornal A Voz da Escola (1934-1940),
escritas dos alunos do Colégio Elementar como prática de formação pessoal, cívica e religiosa, de aprendizagem da moral ou
Souza Lobo (Porto Alegre/RS, 1934-1940). da civilidade. Busca-se analisar os discursos veiculados, os processos de
História da Educação, Porto Alegre, vol.17, n. subjetivação e suas influências nos modos como as crianças, na faixa etária de 10
40, p. 143-173, mai./ago. 2013 a 12 anos, pensavam, agiam e se expressavam nos espaços de construção de suas
identidades. Insere-se nas práticas de escritas escolares e infantis, especialmente
na interface da História da Educação e da história da cultura escrita, que analisa a
produção, difusão, conservação e o uso dos objetos escritos, em suas várias
modalidades. Os exemplares do periódico são tomados como lócus privilegiado
para se adentrar no cotidiano de uma escola primária, da década de 1930, isto é, o
universo escolar e toda uma rede paralela de significações.
RUIZ, Tânia Maria Barroso. Autoria Discutimos, neste trabalho, a constituição de autoria no jornal escolar O Colegial –
institucional no jornal escolar O Colegial – órgão dos alunos do Colégio Catarinense. Os fundamentos da análise dialógica do
órgão dos alunos do Colégio Catarinense discurso do Círculo de Bakhtin respaldam a discussão proposta na Linguística
(1945-50). Bakhtin Iana, São Paulo, 14 (1): Aplicada. Os dados são compostos pelas seis edições anuais desse jornal,
150-170, jan./Mar. 2019. publicadas pelo Colégio Catarinense no período de 1945-50, em Florianópolis - SC,
e pelo gênero discursivo expediente. A metodologia parte da análise da dimensão
histórica da publicação, seguida da análise das edições de O Colegial e do
respectivo gênero. A análise revelou que O Colegial não era um dos meios de
expressão da voz dos estudantes, como enunciado no seu título, pois a autoria foi
concebida como institucional. A posição axiológica dessa publicação visava
persuadir seus interlocutores sobre a qualidade da formação educacional do Colégio
Catarinense e silenciava a voz dos estudantes que fossem contrários aos valores
dessa instituição educacional.
CUNHA, Maria Teresa Santos. Das mãos para Pétalas Infantil era um jornal escolar redigido manualmente por meninas de 7 a 10
as mentes. Protocolos de civilidade em um anos do então curso primário de um colégio religioso feminino em
jornal escolar/SC (1945-1952). Educar em Florianópolis/Santa Catarina (SC) – Colégio Coração de Jesus – no período
Revista, Curitiba, Brasil, n. 49, p. 139-159, compreendido entre 1946 a 1952. Nessa publicação que circulava mensalmente
jul./set. 2013. entre elas próprias e suas famílias, as alunas davam notícias sobre o cotidiano
escolar, possivelmente com aval do próprio Colégio. De posse desse material (66
___________. Folhas voláteis, papéis exemplares do jornal) considerado ordinário, o estudo centrou sua atenção nos
manuscritos: o pelotão de saúde no jornal artigos, comentários e sugestões de leitura que expressavam protocolos de
infantil Pétalas (Colégio Coração de Jesus - civilidade através de mensagens de orientação e regras de conduta pessoal, escolar
Florianópolis/SC, 1945-1952), História da e cívica que caracterizavam uma cultura escolar do período. Procura-se destacar,
História, v.17, n. 40, maio/ago., pelas lentes da História da Educação e da Cultura Escrita, a importância desse
2013b. Disponível em: material manuscrito, analisando-o como um dos integrantes da cultura material
http://seer.ufrgs.br/index.php/asphe/article/vie escolar e, como tal, um documento que permitirá apreender indícios de saberes e
w/38096/24850. Acesso em: 30 jul. 2018. práticas escolares vigentes no período e que evidenciam tanto aspectos do
funcionamento interno da própria instituição escolar quanto os propósitos
civilizatórios que divulgavam pelas vias do escrito.

6 Dissertações – 1 delas é de jornal catarinense Resumo


PINHEIRO, Ana Regina. A imprensa escolar e o estudo das Pesquisa sobre as práticas pedagógicas do curso primário do
práticas pedagógicas: o jornal "Nosso esforço" e o contexto Instituto de Educação, em São Paulo, de 1936 a 1939, que teve
escolar do curso primário do Instituto de Educação (1936/1939). como principal fonte de análise, o jornal escolar Nosso Esforço. O
01/10/2000 136 f. Mestrado em Educação: História, Política, jornal Nosso Esforço compôs o repertório das atividades
Sociedade. Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. pedagógicas do curso primário, por um período de três décadas,
de 1936 a 1967. As etapas de elaboração, seleção dos artigos e
distribuição do jornal eram cumpridas por alunos, de 7 a 12 anos,
como parte das atividades escolares. Dado o longo período em que
este periódico foi produzido (1936-1967), o objeto de pesquisa bem
como a delimitação temporal, foram definidos após leitura e
levantamento dos temas abordados nos artigos e pela linguagem
própria do jornal, ou seja, por suas sessões e conteúdos e,
sobretudo, pelas características de sua materialidade.
MARTINS, Cintia Gonçalves. As representações de mulher, Este estudo teve como objeto o Jornal Escolar O Estudante
mãe e maternidade à luz de Simone de Beauvoir no jornal Orleanense, produzido pelas alunas e alunos da Escola Educação
escolar O Estudante Orleanense (1949 – 1973). Dissertação Básica Costa Carneiro, entre os anos de 1949 a 1973, à época
(Mestrado em Educação) - Universidade do Extremo Sul denominada Grupo Escolar Costa Carneiro, localizada na cidade
Catarinense, 2017 de Orleans (SC). O objetivo principal do estudo foi o de
compreender as relações de gênero dentro do espaço escolar a
partir das representações de mãe, mulher e maternidade, nos
textos comemorativos ao “Dia das Mães” que foram disseminadas
no Jornal Escolar, O Estudante Orleanense, entre as décadas
1950 a 1970. Ao todo foram analisados cinquenta e sete (57)
exemplares do jornal, a Ata de reuniões, bem como a legislação
nacional e estadual que regulamentava as Associações Auxiliares
da Escola, em especial o Decreto-lei n. 3.735, de 17 de dezembro
de 1946, de Santa Catarina, especificamente a parte que descreve
minuciosamente as exigências para a produção do Jornal Escolar
nas escolas catarinenses. O corpus documental desta pesquisa
encontra-se digitalizado e sistematizado no Centro de Memória da
Educação do Sul de Santa Catarina - CEMESSC. Para tentar dar
conta da problemática desta pesquisa, foram elencadas as
seguintes questões norteadoras acerca do conteúdo do jornal:
Quais representações de feminino permeiam os impressos
escolares? Quais os temas veiculados nos jornais que eram
atribuídos às meninas/mulheres? Como a maternidade é
apresentada no jornal escolar? Que argumentos são utilizados
para definir/descrever a maternidade? Quais as contribuições de
Simone de Beauvoir para a compreensão da condição feminina e
da maternidade nos Jornais Escolares O Estudante Orleanense?
Para alcançar os objetivos foram utilizados autores/as como: Scott
(1995), Pink (2003), Pedro (2003; 2005), Teles (1993), Grupe
(2009), Cordeiro (2013), Martins (2000; 2005), Marinho (2014),
Alves (2014), Camargo (2013), Emidio (2011), Silva (1999),
Carvalho (2001) e louro (1997) entre outras e outros
pesquisadoras/es, com o intuito de analisar as questões de gênero
no Jornal Escolar. Para problematizar a maternidade nos
impressos escolares, busco na obra, O Segundo Sexo, volume
1 (um) “Fatos e Mitos” e o volume dois 2 (dois) “A Experiência
Vivida”, da autora e filósofa Simone de Beauvoir (1949), os
elementos necessários para as análises, pois a estudiosa é uma
das primeiras a questionar a condição em que as mulheres
estavam imersas no meio social, afirmando que não são as
características biológicas, psíquicas ou econômicas que definem
como a mulher se constitui socialmente, mas o meio social em que
ela está inserida que irá construí-la como mulher, questionando
os argumentos que naturalizam os atributos ditos femininos em
especial a maternidade. Nessa perspectiva, os textos e imagens
publicados no jornal O Estudante Orleanense contém argumentos
naturalistas sobre as mulheres e a maternidade, contribuindo para
a criação de um imaginário social que legitima e reforça a condição
meramente biológica da mulher e sua vocação para a maternidade
e lanternagem. As publicações veiculadas não apontam a mulher
fora do seu destino biológico, dessa forma, colaboram para a
construção da “ditadura da maternidade” que aprisiona as
mulheres ao papel de mãe e de esposas.
BIAZZETTO, Giovanni. Nas páginas de “O Julinho”: A investigação busca pensar na História da Educação através de
percepções e narrativas de jovens escreventes sobre uma um olhar voltado para narrativas produzidas por jovens estudantes,
história da política do Brasil, sobre histórias de um colégio sujeitos históricos que atribuem significados às experiências
padrão (1960). 2016, 126 f. Dissertação (Mestrado em escolares que vivenciaram. Através dos rastros deixados por estes
Educação). Porto Alegre, Universidade Federal do Rio Grande escreventes no periódico estudantil “O Julinho”, produzido pelo
do Sul, 2016. Grêmio Estudantil do Colégio Júlio de Castilhos da cidade de Porto
Alegre/RS nos anos 1960, que este estudo visa compreender
como os estudantes se relacionavam com as questões políticas de
sua época. Assim, por meio do estudo de um periódico estudantil,
a pesquisa tem como intenção conhecer melhor como esses
estudantes participavam politicamente do cotidiano escolar, quais
os seus questionamentos referentes à sociedade em que viviam,
quais os discursos que os afetavam e analisar seus
posicionamentos frente às instituições presentes em suas vidas,
instituições governamentais e instituição educacional em que
estudavam. O tema de investigação se inscreve no campo da
História Cultural, nos domínios da História da Educação,
particularmente no campo da imprensa de educação e de ensino e
da Cultura Escrita. Através desses aportes, a pesquisa tem por
objetivo decifrar realidades do passado por meio de
representações pelas quais os homens expressavam a si e o
mundo. Para o desenvolvimento do trabalho, foram analisadas 21
edições de “O Julinho” da década de 1960 que contam com
aproximadamente 540 textos publicados. Após a análise da
materialidade do objeto de pesquisa e de seu conteúdo discursivo,
os textos foram classificados por temáticas. Desta classificação
recorreu-se àqueles que tratavam das questões políticas
governamentais e educacionais, utilizando os textos dos editoriais
e também aqueles que abordavam a temática da politização. A
pesquisa tem por temporalidade a década de 1960 do século XX.
As indagações realizadas, as inferências e análises estão
contextualizadas neste período específico. Os anos 1960 foram
anos de significativas transformações sociais, decorridas do
período do pós-guerra que influenciaram acontecimentos no Brasil.
A pesquisa não dá voz aos estudantes, nem mesmo tem a
pretensão de expor a verdade. O que se faz, ao trabalhar com os
textos impressos, é falar de verdades. O que aqui se produz é uma
narrativa a partir de outras narrativas, a partir dos escritos em um
periódico estudantil. A proposta do estudo segue a trilha das
representações dos escreventes, buscando as percepções destes
referentes ao contexto político em que estavam inseridos. Ao longo
do estudo, foi possível perceber especificidades relevantes do
objeto de pesquisa, de seus escreventes e da instituição de ensino,
particularidades estas não distantes do contexto histórico. A
análise promoveu uma reflexão acerca dos sentidos produzidos
pelos estudantes, pensando no quanto expressam
posicionamentos políticos de uma sociedade, ou de uma parcela
da sociedade. Através de seus escritos, compreendem-se
questões geracionais e características identitárias de uma
juventude. Há vida naquelas páginas. Assim, fiz uma leitura
possível quanto à percepção e apropriação dos jovens
escreventes referente ao contexto político em que estavam
inseridos. Desenvolvi uma percepção das leituras de mundo,
formas de expressão de uma parcela da juventude da década de
1960 do século XX.
SCHWETER, Isis Sanfenos. Organização e imprensa estudantil A pesquisa consiste em investigar a história da organização
no Instituto de Educação Sud Minucia (1952-1954). 2015. 196 discente da Escola Normal Sud Minucia de Piracicaba,
f. Dissertação (Mestrado em Educação) - Pontifícia posteriormente denominada Instituto de Educação Sud Minucia.
Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, 2015. Essa organização criou um impresso estudantil, o jornal intitulado
O Sud Minucia, que publicou textos elaborados pelos próprios
alunos e que associavam a vida escolar a temáticas variadas como
currículo, produções literárias, cotidiano da escola, posição
ocupada pela instituição na cidade, lugar da mulher na sociedade,
reivindicações por melhorias nas condições da escola, entre
outras. Em cerca de dois anos de duração, o jornal publicou
anúncios e passou a circular fora do espaço escolar. O objetivo
esteve em compreender a dinâmica de sociabilidade estabelecida
entre os estudantes em torno da articulação e produção de um
jornal escolar entre os anos de 1952 a 1954, contribuindo para o
entendimento das práticas discentes no espaço temporal
delimitado para esta pesquisa e da cultura escolar da referida
instituição. As fontes utilizadas foram exemplares do jornal O Sud
Minucia e alguns exemplares de jornais locais. Também foram
realizadas entrevistas com os ex-alunos da instituição,
participantes ou não dessas organizações, visando registrar a
memória que esses sujeitos construíram de sua trajetória discente
e do impresso escolar
AQUINO, Mary Jones Ferreira de Moura. Organização e A pesquisa investiga, por meio de impressos estudantis, as
imprensa estudantil no Colégio de São Luiz e Liceu organizações discentes existentes entre 1949 a 1958 no Colégio
Maranhense: processo de formação de uma elite letrada (1949-
de São Luiz e Liceu Maranhense, escolas localizadas em São Luís
1958). 178 f. Dissertação (Mestrado em Educação: História, do Maranhão. No Colégio de São Luiz, de ensino privado, temos o
Política, Sociedade) - Programa de Estudos Pós-Graduados Grêmio Cultural e Recreativo ―Luiz Rêgo‖ com o jornal Avante
em Educação: História, Política, Sociedade, Pontifícia (1949-1950). No Liceu Maranhense, de ensino público, os alunos
Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, 2016. organizavam-se em Grêmio e Centro Laicista com seus
respectivos jornais: Folha Estudantil (1951), O Estudante de
Atenas (1956-1957) e O Liceu (1957-1958). Essas organizações
estudantis publicavam, em seus impressos, textos literários do
cotidiano escolar e relacionados às questões políticas da cidade e
do país. Os jornais ainda publicavam anúncios, circulando,
também, fora das instituições escolares. Esses impressos são
publicados quase que concomitantemente à emergência, nos anos
finais da década de 1940, de um grupo de jovens escritores, com
suas publicações na imprensa corrente, despontam como
inovadores literários e, nos anos posteriores, críticos da realidade
política e social maranhense. Procura-se problematizar esse grupo
– presente na memória coletiva da cidade como ―Geração
Maranhense de 45 – para uma melhor compreensão do movimento
e investigação das relações com as publicações dos estudantes
organizados. Pretende-se, também, compreender a dinâmica de
sociabilidade que os impressos estudantis proporcionavam entre
os estudantes, contribuindo para o entendimento das práticas
discentes no contexto da cultura escolar das instituições escolares.
Para análise dos jornais, foram utilizados os referenciais
metodológicos de Cruz e Peixoto (2007) e Luca (2011) e a
investigação sobre a sociabilidade empreendida pelos impressos
estudantis de Laicista (1998)
VIDAL, Laicista Freitas dos Santos. O Necydalus: um jornal Este trabalho investiga um impresso estudantil denominado O
estudantil do Atheneu Sergipense (1909-1911). 2009. 224 f. Necydalus, no período de 1909 a 1911, o mesmo foi produzido no
Atheneu Sergipense, instituição de ensino secundário de Sergipe.
Dissertação (Mestrado em Educação) - Universidade Federal Sendo assim, diante da análise realizada nos sessenta e um
de Sergipe, São Cristóvão, 2009. números localizados deste jornal como fonte e objeto de
investigação, foi possível compreender, através do que se escrevia
Foram 61 números nesse impresso, a concepção dos estudantes sobre temas
educacionais e aos demais acontecimentos que se desenrolaram
no cotidiano sergipano, relacionados ao período estudado. A
investigação vinculou-se aos pressupostos da Nova História
Cultural e da História da Educação, tendo como perspectiva
verificar as relações existentes entre as práticas educativas e a
cultura impressa nos exemplares pesquisados.
6 TESES, 1 delas é de jornal Catarinense Resumo

NOLASCO, Simone Ribeiro. O Fazer-se Cidadão: O Jornalismo Esta pesquisa investigou processos de formação de uma
Estudantil nas Décadas de 1920 e 1930 no Liceu Cuiabano em consciência mais crítica e de aprendizagem da cidadania entre
Mato Grosso. 2015, 434 f. Tese (Doutorado em Educação). alunos do Liceu Cuiabano entre os anos de 1926 e 1937. O
Cuiabá: Universidade Federal de Mato Grosso, 2015. trabalho teve como fonte central jornais estudantis do período: A
Chrysallida (1926, 1927,1928, 1932), O Délio (1931), O Liceísta
(1933), O Estudante (1934), A Voz do Aluno (1934), O Mensageiro
do aluno (1935) e a Folha Juvenil (1937). O jornal estudantil,
também conhecido como periódico ou imprensa estudantil, insere-
se, grosso modo, num conjunto de publicações a que se
denominou chamar de imprensa educacional. (NÓVOA, 1997).
Fundamental foi a identificação de representações e práticas
relativas à formação do cidadão que esses periódicos deixaram
antever, tanto quanto o modelo educativo implementado no
período decisivo no processo de construção deste cidadão.
Interessava-nos perceber o posicionamento deste jovem
secundarista nesta prática cultural: se assumira postura de
reprodutor dos modelos de cidadania instituídos pelos discursos
oficiais e/ou se, paralelamente, propunha novas apropriações e
maneiras de ser mais emancipadoras. Nossa opção metodológica
de pesquisa foi pela análise histórica documental. Por não tratar-
se de uma História da Imprensa, mas de investigação histórica do
cotidiano através da imprensa, detivemos nossa atenção a
aspectos da crítica interna das fontes, examinando mais
cuidadosamente os conteúdos dos artigos com finalidade de
investigação de sua coerência com fatos e a conjuntura social.
Nesta direção, assumimos uma perspectiva da Nova História
Cultural na análise do corpus documental e um ponto de vista que
privilegiasse o cotidiano desses produtores-alunos, suas práticas
de consumo e produção cultural. Cereal (2003) foi uma de nossas
opções teóricas neste trabalho ao nos identificarmos com sua
acepção construtivista da História Cultural. Para além de uma
apropriação dos sujeitos da pesquisa, uma criação. As categorias
centrais a que nós apoiamos foram as da juventude, dos jornais
estudantis, da educação não formal, do ensino secundário, da
cidadania e cultura. Nossa hipótese inicial foi a de que um
processo de ampliação e formação para a cidadania começou a
estabelecer-se entre os estudantes nos anos iniciais do século XX
a partir de sua mobilização na produção dos periódicos estudantis.
O ativismo juvenil na área escriturária e na produção de periódicos,
resultado principalmente das novas teorias e metodologias
educacionais postas em circulação nos fins do século XIX como o
método intuitivo, o ensino ativo e escolanovista, colocavam o aluno
no centro da atividade pedagógica com bases na observação, no
aprender-fazendo e nas experiências com o real. À conclusão dos
estudos, a tese se nos apresentou parcialmente contemplada.
Verificamos que o jornalismo estudantil entre os alunos do Liceu
Cuiabano foi fator considerável no processo de formação de uma
consciência juvenil mais crítica, num viés de aprimoramento
intelectual e cognitivo mas, fundamentalmente na inauguração
de uma nova forma de se posicionar e se manifestar frente ao
cenário social; num processo de gestação de um sujeito
cidadão e mais autônomo. O desfecho das análises aqui
apreendidas nos estimula a pensar que a associação certeauniana
entre as ―artes do fazer (para além de consumir velhos
repertórios culturais, produzem novos) e as ―artes do viver (da
experiência), possibilitou aos jovens do início do século XX ocupar
espaço dantes não ocupado por estudantes de épocas
anteriores; suas táticas na dimensão cultural foram lhes
permitindo conquistar uma liberdade e autonomia próprias,
avanços passados às novas gerações.
PINHEIRO, Ana Regina. Escola "Caetano de Campos": Escola *Jornal Nosso Esforço
Paulista, Escola Vanguardeira. 2008. 211p. Tese (doutorado) -
Universidade Estadual de Campinas, Faculdade de Educação, Com este trabalho busco estudar as estratégias de mediação dos
Campinas, SP. Disponível em: educadores paulistas (em especial, João Lourenço Rodrigues),
<http://www.repositorio.unicamp.br/handle/REPOSIP/251864>. alunos e professores (em especial, a Diretora Carolina Ribeiro
Acesso em: 11 ago. 2018 e a bibliotecária Iracema Marques da Silveira), que se
realizaram no contexto da Escola Pública
“Caetano de Campos”, especificamente na atividade escolar do
Jornal Nosso Esforço, em defesa do modelo escolar paulista.
Esta escola constituiu-se em espaço privilegiado das relações
que estes educadores estabeleceram com as políticas de
nacionalização do ensino implementadas pelo Governo Vargas, no
processo de escolarização, em São Paulo, nas décadas de 1930
e 1940. Os objetivos que motivaram este estudo foram: identificar
permanências e mudanças no discurso que perpetuou a Escola
“Caetano de Campos”, como uma escola modelar e que
caracteriza formas peculiares de atuação dos educadores
paulistas, na sua relação com as políticas públicas, sociais e
educacionais; compreender quais os significados atribuídos
pela diretora e pela bibliotecária às novas políticas e reformas
que passaram a circular na escola e; identificar estratégias de
mediação a partir do processo de produção do Jornal Nosso
Esforço, que foram instituídas por estes sujeitos, os quais
legitimaram formas negociadas para lidar com conflitos
pedagógicos e políticos. A investigação apresenta-se estruturada
em dois eixos principais: o primeiro, no qual estão inseridos os três
primeiros capítulos, teve o desafio de buscar os elos desta
centenária escola com o contexto educacional e político mais
amplo, caracterizando-a como território da tradição e da política e,
o segundo, presente nos quarto e quinto capítulos, estudou os
vestígios da mediação e do processo de negociação e
contestação entre os diferentes grupos envolvidos, diretamente,
ou não, na elaboração oficial da legislação, dos projetos e dos
planos educacionais, no período. Para tanto a pesquisa está
referenciada por uma diversidade de documentos
predominando a documentação selecionada no acervo histórico-
documental da Biblioteca Infantil desta escola, no qual
encontramos os produtos da história da escola, da cultura escolar
e objetos da memória, nos quais se incluem atas e regimentos,
bem como os cadernos, os trabalhos e as redações de alunos,
além de fotografias e material confeccionado para as
cerimônias comemorativas, especialmente, os relativos ao
processo de produção do Jornal Nosso Esforço. Neste sentido,
trabalhou-se o cruzamento de vozes, advindas das fontes
documentais escolares e das fontes secundárias dialogando,
especificamente, com a perspectiva da Nova História Cultural.
As considerações finais, tecidas por este trabalho, apresentam a
interpretação dos dados, que apontam para a não exclusividade
do Estado na organização da atividade pedagógica e, também
estão presentes, no caso particular desta escola, nas
articulações destes educadores em defesa de uma memória
educacional paulista diante das medidas centralizadoras, anti-
regionalistas, implementadas no processo de nacionalização do
ensino. Ressaltando, os elementos que constituem a epopéia
bandeirante e a conectam ao contexto político da escolarização em
São Paulo e à construção de processos locais, que pode ser
mencionado como um dos aspectos que estabelecem a
peculiaridade da educação paulista.
RODRIGUES, Cibele de Souza. Letras estudantis em Sergipe: Esta tese tem por objeto e principais fontes de estudo os
cultura escolar em impressos de alunos secundaristas de jornais estudantis produzidos por alunos secundaristas de
Aracaju na década de 1930. 2020, 214 f. Tese (doutorado em Aracaju/SE, durante o período de 1930 a 1939. O objetivo central
Educação). São Cristóvão: Universidade Federal de Sergipe, é identificar e analisar estes jornais com vistas às articulações dos
2020. aluno s para a promoção da imprensa em que estavam engajados,
tão logo, uma reconstrução de parte da cultura escolar imbricada
entre essas ações. O marco temporal toma por princípio a
considerável produção de impressos estudantis entre a década
de 1930 em Sergipe, considerando o número elevado de
publicações, neste decênio, um indicativo de singularidades da
cultura escolar do período. A explicação para tal profusão pode ser
encontrada no conjunto político, econômico e social da
época, marcado por alterações educacionais, culturais e
tecnológicas, como, por exemplo, a criação do Ministério da
Educação, expansão de atividades culturais e espaços de
sociabilidade, criação de maquinários modernizados para a
imprensa, crescimento de indústrias entre outros. Sobre o
caminho metodológico, a tese segue aquele de cunho histórico e
bibliográfico, pautado na área da História da Educação, sob a
perspectiva da Nova História Cultural. O referencial teórico contou
com o suporte de Bourdieu (1994; 1998; 2007), no que diz respeito
ao entendimento de habitus, campo e capital cultural; Viñao Frago
(1994; 2001) sobre cultura escolar; Chartier (1990) sobre
representação e Sirinelli (2003) no que se refere a redes de
sociabilidade. Dessa forma, defendo a tese de que uma
parcela dos estudantes secundaristas de Aracaju, na década
de 1930, envolvida na produção de jornais estudantis,
articulou-se com colegas de outras instituições além daquelas que
se mantinham matriculados, mobilizando suas redes de
sociabilidades, a fim de legitimar a classe estudantina e a atividade
desenvolvida nos impressos. O estudo põe em destaque o sujeito
aluno e suas atividades na imprensa estudantil, revelando uma
prática que fez parte da cultura escolar na década de 1930 em
Sergipe.
COSTA, Eliezer Raimundo de Souza. Os grêmios escolares e Através deste estudo apresento a inserção de práticas educativas
os jornais estudantis: práticas educativas na Era Vargas (1930 oriundas do Movimento Escola Nova, cujo objetivo era formar a
- 1945). 2016, 249 f. Tese (Doutorado em Educação). Belo juventude brasileira em processos pedagógicos capazes de tornar-
Horizonte: Universidade Federal de Minas Gerais, 2016 lhes indivíduos autônomos, segundo o modelo do self government.
O período analisado foi a Era Vargas, 1930-1945, marcada por um
processo de modernização em vários campos. Com relação à
educação, foram abertas mais oportunidades de incorporação de
novos setores da juventude, tanto no ensino secundário quanto no
profissional. As produções estudadas foram levantadas na Escola
Normal de Belo Horizonte, no Colégio Pedro II e no Instituto de
Educação, ambos da cidade do Rio de Janeiro. Todas eram
instituições públicas de ensino, sendo referência no seguimento
em que se enquadravam (secundário ou normal). As práticas
educativas analisadas foram as associações de estudantes,
conhecidas como grêmios escolares, consideradas espaços de
educação formal dentro da escola, porém atuando fora da sala de
aula, e os seus recursos ou suportes de expressão - livros de
grêmio, jornais e revistas estudantis. Foi priorizado estudo da
escrita autoral dos estudantes reconhecendo que, conforme a
proposição do Movimento Escola Nova, a ação educativa deveria
ser do aluno sob orientação do professor. Considerando o contexto
político característico da época, essa foi uma escrita de alguma
maneira mediada, de forma explícita ou não. A interpretação de
textos variados, como notícias, poesias, contos, crônicas, piadas,
brincadeiras, relatórios, atas de reunião, possibilitou a construção
de perfis através dos quais esses alunos apresentavam sua
compreensão sobre ser estudante, moça, rapaz, negro, índio,
branco, brasileiro, e como se preparavam para a vida adulta.
Destacando que estavam inseridos em um contexto social e
político marcado por fortes tensões entre a direita e a esquerda,
sua produção escrita (autorizada pela escola) revelou afinidades
mais à direita, com características conservadoras, sobretudo em
um período no qual o país passava por intensos processos de
modernização do seu quadro social e econômico. Essa escrita
permitiu, por contraponto, o entendimento de que havia
pensamentos e posicionamentos divergentes por parte dos
estudantes, mesmo que não tivessem sido autores nas fontes
analisadas. Contudo, este trabalho analisa prioritariamente os
estudantes autores dos documentos em questão, deixando em
aberto o estudo dos pensamentos e posicionamentos divergentes,
conforme citado.
HAUER, Licia Maciel. A imprensa estudantil no Colégio Pedro A presente pesquisa tem como objetivo investigar a imprensa
II dos anos 1930: Vozes dos estudantes secundaristas. 2015, estudantil que foi produzida no Colégio Pedro II durante os anos
278 f. Tese (Doutorado em Educação). Niterói: Universidade 1930. Nesse período, mudanças políticas, culturais e educacionais
Federal Fluminense, 2015. no país tiveram impacto no Colégio Pedro II e foram vividas
de modo particular pelos estudantes. Busca-se captar essa
experiência através dos jornais por eles produzidos durante o
período. Nas primeiras décadas do século XX, os jornais e outros
impressos eram os principais meios de comunicação. A intensa
produção de periódicos no meio estudantil, em diversas escolas,
foi estimulada pelas concepções pedagógicas do movimento
conhecido como Escola Nova. Os periódicos produzidos pelos
estudantes do Colégio Pedro II, nos anos 1930, cumpriam as
funções de ampliar o acesso à informação, difundir ideias e
valores, além de servirem como um dos instrumentos de
mobilização e organização dos estudantes da época, quando
as organizações estudantis eram ainda incipientes. Para a
concretização deste trabalho, que tem como objeto a imprensa
estudantil, foi utilizado como fonte os periódicos produzidos
por estudantes que frequentaram o CPII no período de 1930-
1939 disponíveis no NUDOM e em arquivos pessoais de
servidores e ex-alunos, com foco nos periódicos Pronome, O
Arauto, Ciências e Letras, O Atalaia, Muirakitan, Vetor e Ateneu.
Conhecer a imprensa estudantil do Colégio Pedro II e sua relação
com as questões estudantis e educacionais significa também
conhecer os silêncios produzidos em diversos momentos, no
processo de produção da história, das fontes, do arquivamento
e no momento da produção da narrativa. Através da leitura e da
organização de reportagens, artigos e notícias, procura-se
evidenciar as atividades estudantis no interior do Colégio, as
formas de organização e luta estudantil dos secundaristas nos
anos 1930, bem como a maneira como as políticas educacionais
afetavam o Colégio Pedro II. A partir das investigações, foi
possível conhecer um pouco mais dos diversos pensamentos e
ideias propagados nos periódicos estudantis da época e a relação
destes com as lutas mais amplas dos estudantes. Analisou-se as
múltiplas dimensões da produção dos periódicos, levando em
conta a atuação dos estudantes-autores e produtores desses
impressos, no sentido benjaminiano de autor como
produtor.
RUIZ, Tânia Maria Barroso. A posição axiológica do jornal Nesta pesquisa temos como objetivo investigar as finalidades
escolar O COLEGIAL (1945-50) acerca das práticas de leitura. e os valores da leitura discursivizados no jornal escolar O
253 p. Tese (doutorado) - Universidade Federal de Santa COLEGIAL, a partir da perspectiva social e histórica do Círculo de
Catarina, Programa de Pós-Graduação em Linguística, 2017. Bakhtin, no âmbito da Linguística Aplicada. Os dados são
compostos pelas seis edições anuais do jornal escolar O
COLEGIAL – Órgão dos alunos do Colégio Catarinense –
publicadas pelo Colégio Catarinense no período de 1945 a 1950,
em Florianópolis, Santa Catarina. Dessas edições (Anos I, II, III,
IV, V e VI), nosso recorte corresponde a 25 textos (vinte e cinco)
desses exemplares que se encontram no acervo da Biblioteca
Pública do Estado de Santa Catarina (BPSC). Com base no
percurso metodológico que parte da dimensão histórica,
analisamos os discursos da época de publicação do jornal escolar
O COLEGIAL (1945-1950) para compreender o cronotopo em que
esta publicação estava inserida. A partir de pesquisa sobre a
história das ideias pedagógicas na educação brasileira (SAVIANI,
2013, 2015), analisamos os discursos oficial e pedagógico que
incidiam sobre o ensino secundário nas décadas de 30 a 50 do
século XX. Em seguida, discorremos sobre os já-ditos em relação
ao Colégio Catarinense e às pedagogias tradicional e renovadora
(DALLABRIDA, 2001, 2006; SOUZA, 2005). Situada essa
dimensão histórica mais ampla, buscamos compreender a
dimensão social específica, a leitura no ensino secundário
brasileiro (RAZINI, 2000) e as concepções de leitura da época.
Com esses conhecimentos, iniciamos a descrição do jornal escolar
O COLEGIAL para, em seguida, analisar os dados. Como
resultados, observamos que a leitura é concebida primeiramente
como decifração, principalmente nos textos que tematizam a
alfabetização de jovens e adultos no Estado de Santa Catarina, e
como decodificação nos demais. Essa concepção em vigor na
época, na esfera escolar, influenciou as práticas de ensino de
língua portuguesa no Colégio Catarinense. A análise dos apontou
para a predominância de dois discursos sobre a leitura, a saber: 1.
Ler para a formação intelectual e moral; 2. Ler para a formação
educacional. Em relação às práticas de ensino discursivizadas no
jornal escolar O COLEGIAL, os discursos predominantes são dois:
1. A leitura precede a escrita de textos; 2. A leitura é a condição
essencial para a produção de textos orais e escritos. Os
enunciados analisados indicam que o ensino de leitura partia do
texto escrito indicado pelos professores para a realização de
tarefas escolares, como a redação (dissertação, narrativa e
descrição). De modo que a leitura concebida era a literária, lê-se
também para a escrita dos gêneros da esfera literária (biografias,
fábulas, contos, poemas, etc.), que poderiam ser publicados em O
COLEGIAL, e para estabelecer contato com outros jornais e
revistas literárias. As ideologias no jornal escolar O COLEGIAL
(1945-1950) foram as de que a leitura aprimora a inteligência,
humaniza, edifica o mundo interior, sendo uma forma de ação no
mundo. Nesses discursos, depreendemos os seguintes valores em
relação dialógica de oposição: leitura profunda x amena; leitura útil,
boa, recomendada, instrutiva x leitura inútil, ruim, destrutiva e
leituras perniciosas. Esses discursos revelaram a posição
axiológica do jornal escolar O COLEGIAL, de que a leitura era um
dos meios para a formação ideológica dos estudantes na doutrina
social cristã.
JUSTIFICATIVA 1
(Geralmente a parte de um projeto que contem a revisão, por vezes, pode-
se separar também)

Amarelados, com partes amassadas, rasgadas, riscadas, cortadas,


comidas por insetos e/ou roedores...Com essas e outras marcas do tempo
alguns jornais escolares resistiram ao completo esquecimento e chegaram até o
presente. Manuscritos ou impressos - escritos por estudantes (muitas vezes com
ajuda de professores ou outros adultos) e endereçados à estudantes, mas
também a outros adultos do cotidiano escolar – esses jornais são testemunhos
de presentes passados, de “restos” de escolas (ESCOLANO BENITO, 2017), de
práticas culturais e políticas, de fazeres e saberes, de relações sociais e de
poder. Salvos da destruição - por acidente ou por necessidades várias - de
preservação, incluindo o “arquivamento do eu” (ARTlÈRES, 1998), fazem parte
do conjunto de documentos “cada vez mais distantes do tipo de documento
ligado ao fundo de arquivos já instituídos, ou seja, dos documentos conservados
em função de sua suposta utilidade” (RICOEUR, 2010, p. 200). Caçados por
historiadores e anexados ao vasto território da pesquisa histórica nos últimos
anos, têm instigado a revisão das relações estabelecidas historicamente entre
escola, sociedade e cultura.
O objetivo dessa pesquisa é inventariar, catalogar, digitalizar e analisar
jornais escolares que foram produzidos e que circularam, em Santa Catarina,
nas décadas de 1930 a 1960. Esses materiais conformam parte da imprensa
pedagógica ou educacional, ou seja, um conjunto de publicações que pode ser
feita por docentes para docentes, por estudantes ou docentes para estudantes
ou docentes, ou ainda pelo Estado ou outras instituições (BASTOS, 2002)
endereçados a docentes e/ou estudantes. Tal conjunto possui características
identitárias próprias e complexas em razão dos sujeitos e instituições envolvidos

1 Não pode citar ou reproduzir partes desse texto posto que parte de um projeto, portanto não é
público. Excerto do projeto Jornais escolares como culturas de memória: vestígios de presentes
passados entre práticas culturais e políticas (Santa Catarina, 1930-1960) de Cristiani Bereta da
Silva.
no processo de sua construção e ao público a que se destina. Mas pode-se
afirmar que sua principal marca é a vinculação direta com assuntos que afetam
os processos de educação e de ensino.
No Brasil, a escrita da História por meio dos periódicos (LUCA, 2006) é
observada a partir da década de 1970, quando o alargamento do campo de
preocupação dos historiadores deslocou o estatuto da imprensa, antes objeto de
suspeição, tornando-a fonte da pesquisa histórica. A partir da década de 1980,
a imprensa periódica ligada ao ensino e a educação - nesse tempo muito mais
aquela produzida pelo Estado – passou a se tornar objeto também das pesquisas
da história da educação. Desde então o interesse dos historiadores se estendeu
também para outras produções periódicas: aquelas produzidas por estudantes
ou docentes voltados também para esse público, em diferentes níveis de ensino.
Contudo, ainda assim, pode-se afirmar que dentre os periódicos
pedagógicos ou educacionais, os mais privilegiados nos estudos ainda são
aqueles produzidos e/ou voltados para os docentes. Os estudantis, produzidos
pelos estudantes para estudantes, ainda carecem de estudos mais adensados e
abrangentes. Essa é uma das conclusões que chega Maria Helena Camara
Bastos (2015), em levantamento da pesquisa historiográfica existente sobre a
imprensa estudantil, no Brasil e na América latina. Nesse estudo a pesquisadora
também aponta que, muito embora haja vestígios da existência de periódicos
escolares no século XIX, a maioria das pesquisas analisa produções do século
XX, mais especialmente as situadas nas décadas de 1930 a 1960. Conclui,
ainda, que os estudos que tratam dos jornais produzidos no âmbito do Primário,
são ainda mais lacunares quando se compara com aqueles do Secundário2. Isso

2 Antes de 1971 não havia continuidade entre o Primário e o Secundário. Sua organização
também era diferente da atual. Até 1946 o Primário ficava sob responsabilidade dos municípios
que os organizavam, geralmente tinham duração de 3 a 4 anos, podiam ser seriados (como os
grupos escolares) ou multisseriados (mais comuns em escolas isoladas, localizadas nas zonas
rurais, coloniais ou mais afastadas dos centros urbanos). Até 1952 não era necessário comprovar
a conclusão do Primário para a matrícula no Secundário, mas sim apresentar o certificado de
aprovação nos exames de admissão, tornados obrigatórios com a Reforma Francisco Campos
(Decreto nº 19.890, de 1931). O Secundário era dividido em dois cursos seriados: fundamental
(com duração de cinco anos) e complementar (com duração de dois anos), este último exigido
para o acesso a alguns cursos superiores. Em 1942, o Ensino Secundário sofreu nova alteração
com a Reforma Gustavo Capanema (Decreto-Lei nº 4.244). Ele foi dividido em dois ciclos: um
primeiro de quatro anos, chamado de Ginásio, e um segundo de três anos, chamado de Colegial
(com dois tipos de cursos: Científico e Clássico). O Decreto-Lei nº 8.529, de 1946, organizou o
Primário no âmbito federal em dois cursos sucessivos - Elementar (duração de quatro anos) e
Complementar (duração de um ano). Essa organização dos ensino Primário e Secundário só foi
alterada pela Lei n. 5.692/71, que extinguiu os exames de admissão e unificou o Ensino Primário
decorre principalmente da falta de conservação desses documentos pelas
instituições, convertendo-os em documentos raros à pesquisa. A maior parte dos
registros desses jornais encontra-se em meio a relatórios escolares, em “acervos
é difícil localizar coleções completas, somente alguns exemplares que não
permitem rastrear o ciclo de vida e de produção” (BASTOS, 2015, p.28).
Cintia Medeiros Robles Aguiar e Jacira Helena do Valle Pereira Assis
(2020), realizaram um levantamento de produções sobre impressos estudantis
no Brasil - recortando apenas aqueles que os priorizaram como fonte principal
e/ou objeto de estudo, publicados entre os anos de 2002 a 2017. Muito embora
as pesquisadoras tenham observado a existência de aumento na produção de
artigos, monografias, dissertações e/ou livros sobre esses materiais, concluem
que “o documento ainda é pouco explorado no Brasil, e no que se refere ao
impresso produzido por e para estudantes, os estudos são raros” (AGUIAR;
ASSIS, 2020, p.13). Contribuir para a ampliação de futuras pesquisas sobre
esses materiais constitui parte importante dos objetivos desse projeto. Duas
ações distintas buscam dar conta disso: organização de um catálogo descritivo
com títulos e exemplares de todos os jornais escolares localizados no Estado -
independentemente do período e nível de ensino – e a ampliação do acervo
desses periódicos na Hemeroteca Digital Catarinense.
Em 2013, uma parceria entre a Fundação Catarinense de Cultura,
Biblioteca Pública de Santa Catarina e o Instituto de Documentação e
Investigação em Ciências Humanas (IDCH-UDESC), resultou em projeto com o
objetivo de divulgar o acervo de periódicos por meio de processos de
digitalização. Resultado desse trabalho, ainda em andamento, a Hemeroteca
Digital Catarinense já disponibiliza mais de 907 títulos de diferentes jornais que
abrangem os séculos XIX, XX e XXI. São mais de 600 mil páginas digitalizadas
disponíveis para consulta e download3.
A Biblioteca Pública de Santa Catarina possui acervo de jornais escolares
que datam de 18954. Na hemeroteca há, até o momento, 26 títulos digitalizados,

com o Ginásio, constituindo o Primeiro Grau, com duração de oito anos e o Segundo Grau, com
duração de três anos. Essa denominação vigorou até a Lei n. 9.394/96, que passou a denominar
essas etapas como Ensino Fundamental, com duração de nove anos e Ensino Médio, com
duração de três anos. As referências completas das leis citadas estão ao final.
3 Ver: http://hemeroteca.ciasc.sc.gov.br/.
4 Há, neste acervo, dois exemplares de um jornal chamado Estudante, manuscrito, de 1895, mas

não é possível identificar se foi mesmo escrito por estudantes e se está vinculado a alguma
que cobrem os anos de 1895 a 2019. Desse acervo digitalizado destaca-se O
Colegial, assinado por estudantes do Colégio Catarinense (ver nota 8). Esse
jornal era impresso e foi publicado entre 1945 e 1950, totalizando 44 exemplares.
O jornal O Estudante Orleanense, é outro exemplo que possui uma boa série
preservada. Assinado pelos estudantes do Grupo Escolar Costa Carneiro,
fundado em 1935, na cidade de Orléans, o jornal é manuscrito e circulou entre
os anos 19495 e 1973. Na hemeroteca constam 57 exemplares que circularam
entre os anos de 1951 a 1973.
O inventário inicial (e ainda não concluído) dessa pesquisa levantou um
total de 105 títulos de jornais escolares (ver quadros, ao final) que foram
produzidos em escolas catarinenses de diferentes níveis de ensino. O universo
pode ser bem maior, se se considerar, por exemplo, que no Arquivo Público do
Estado de Santa Catarina (APESC) esses materiais estão anexados aos
relatórios escolares do Departamento de Educação do Estado e só foram abertas
caixas dos relatórios de 1941. Além disso, há escolas mais antigas públicas e
privadas do Estado que possuem exemplares de seus jornais em seus arquivos
que ainda estão por ser inventariados.
A existência de jornais escolares era estimulada pelos protagonistas do
movimento da Escola Nova, desde as primeiras décadas do século XX, como
atividade escolar ou extraclasse. Guerino Casasanta (1939), no livro Jornais
escolares6, resultado de um inquérito sobre jornais escolares, realizado em
Minas Gerais, em 1933, enquanto ocupava o cargo de inspetor de ensino do
Estado, defende a inserção dos jornais escolares no currículo escolar.
Fundamenta sua importância como instrumento pedagógico e apresenta,
inclusive, as etapas de sua elaboração e organização. Para ele os jornais

instituição. Já em 1898, há três exemplares de jornal com o mesmo título, impresso, que é
atribuído aos estudantes do então Ginásio Catarinense. Instituição privada, de Florianópolis/SC,
foi fundada por iniciativa do poder público estadual, em 1892 (sendo refundada em 1894). Em
1905, a partir de uma aliança entre os poderes públicos catarinenses e o alto clero católico, foi
entregue à Companhia de Jesus. A partir de 1942 passou a se chamar Colégio Catarinense.
Administrado por padres jesuítas alemães funcionou em regime de externato e internato até
1963. Exclusivamente voltado ao público masculino (torna-se misto só a partir de 1970) e, devido
as altas mensalidades, também às famílias mais ricas. Até 1928 constituía-se na única instituição
secundária oficial de Santa Catarina (DALLABRIDA, 2001).
5 Só constam exemplares a partir de 1951, contudo, em pesquisa realizada na escola, Giani

Rabelo (2013) encontrou atas de reuniões desse jornal que indicam que tenha sido publicado
desde 1949.
6 32° volume da coleção Atualidades Pedagógicas, da Biblioteca Pedagógica Brasileira, dirigida

por Fernando de Azevedo de 1931, ano de seu lançamento, até 1945.


contribuíam para “preparar o indivíduo a viver numa democracia; tornar o
indivíduo guia de si mesmo; ensinar o valor da cooperação; despertar o interesse
do educando pela escola; despertar no educando os sentimentos de ordem e de
legalidade” (CASASANTA, 1939, p. 39-40). Mesmo que tais práticas tenham
recebido maior estímulo por parte dos escolanovistas, há vestígios da existência
desses jornais, no Brasil, bem antes disso. Por exemplo, em São Paulo, havia O
Colegial, de 1880, redigido por meninos de dez a onze anos, do Colégio
Albuquerque, de Piracicaba; e, em 1896, O Jovem Escolar, dos alunos do Grupo
Escolar do Sul da Sé, na capital (BASTOS; ERMEL, 2013). Em Santa Catarina,
há números preservados do Estudante, de 1898, do então Ginásio Catarinense,
Florianópolis. E, em 1914, A Escola, jornal do Grupo Escolar Jerônimo Coelho,
de Laguna.

Estudos apontam que a primeira experiência com jornal escolar, no século


XX, foi feita no pós-Guerra, na Escola Decroly, na Bélgica, com o Courrier de
l’École. Mas foi com “Celéstin Freinet, que iniciou suas experiências a partir de
1924, que se ampliou a divulgação e utilização do jornal escolar como texto livre”
(TEIVE; DALLABRIDA, 2013, p.58). Esse pedagogo francês defendia a sua
produção como textos livres pelos estudantes, sem redações formais e sem a
intervenção dos adultos. Esses dois jornais escolares catarinenses, de 1898 e
1914, certamente não se enquadram na categoria de “textos livres”, pois é bem
evidente que a participação dos estudantes é restrita (a redações, por exemplo)
e que sua concepção e elaboração são de responsabilidade dos adultos da
escola (ambos os jornais são impressos). De todo o modo, sua existência pode
indicar tentativa de aproximação com a pedagogia moderna, de ensino ativo.
Segundo Gladys Teive (2005), o método intuitivo ou “as lições de coisas” foi o
privilegiado nos programas do Estado até 1935, aliado que era em assegurar a
produção do cidadão republicano, saudável, civilizado, produtivo e aliado do
governo. Esse modelo vinha sendo implementado nos Estados Unidos e nos
principais países da Europa ocidental em seus sistemas de escolarização em
massa e desde o final do século XIX era tido como o símbolo da pedagogia
moderna. Nele valorizava-se o papel dos sentidos no processo de
aprendizagem, ou seja, devia-se estimular a observação dos fenômenos
estudados ou a representação destes por meio de mapas, quadros sinóticos,
imagens, entre outros recursos materiais.
A partir da década de 1930 observa-se maior crescimento dos jornais
escolares nas escolas catarinenses, principalmente no Primário, e sua
configuração como uma das associações auxiliares ou complementares da
escola ganha contornos bem definidos nos documentos oficiais. Essas
associações conformavam práticas escolares que tinham como objetivo permitir
que as crianças experienciassem situações semelhantes aos acontecimentos
vividos em sociedade, preparando-os para a vida, especialmente voltada à uma
sociedade dita moderna. Funcionavam como pequenas organizações dentro das
escolas públicas e particulares, principalmente no Primário. Eram integradas e
dirigidas por estudantes de diferentes séries, sob a orientação de um professor
responsável (OTTO, 2012).
O Departamento de Educação catarinense, criado em 1935, elencava quais
seriam as associações e suas respectivas finalidades, bem como de que maneira
deveriam ser organizadas. Assim como o jornal, também eram associações
auxiliares a Liga Pró-Língua Nacional, o Pelotão de Saúde, a Liga da Bondade,
a Biblioteca Escolar, o Clube de Leitura, o Orfeão Escolar, o Museu Escolar, a
Caixa Escolar, a Cooperativa Escolar, o Clube Agrícola, o Círculo de Pais e
Professores e Centros de Interesse. O volume de referências a elas constantes
nos documentos localizados entre 1937 a 1945 evidenciam o quanto se tornaram
importantes como instrumento de intervenção estatal. Inspetores de ensino
recebiam instruções de observar a existência e bom funcionamento dessas
associações nas escolas; diretores e professores recebiam diferentes incentivos
para criar e atuar em sua promoção no âmbito das escolas. O plano de trabalho
para a inspeção escolar de 1941 reforça a necessidade de os inspetores de
ensino aconselharem os diretores a organizar as associações auxiliares da
escola, a realizar desfiles, comemorações, festas etc. (SANTA CATARINA,
1941, f. 11).
As associações foram tornadas obrigatórias para todas as escolas
catarinenses pelo Decreto-Lei n.º 2.991/44 (SANTA CATARINA,1944). O próprio
diretor do Departamento de Educação, professor Elpídio Barbosa7, considerava

7 Elpídio Barbosa (1909-1966) foi personagem importante no meio educacional catarinense,


tendo exercido diferentes funções, a saber: Inspetor Escolar (1931-1934), Técnico do
importante a difusão dessas associações nas escolas, como parte de um projeto
educativo que, em síntese, contribuísse para a formação de uma infância que
reverberasse em futuros cidadãos saudáveis e úteis à nação brasileira, em
discurso ele destaca:
Por intermédio das associações bem orientadas, colocaremos a
Escola nos moldes compatíveis à evolução, que a vida
experimenta, visto ser a fonte preparadora das gerações em
caminho de um plano melhor, condizente com a nossa
civilização (SANTA CATARINA, 1944, fl.1).

O levantamento inicial realizado sugere certa singularidade no contexto


catarinense, em razão da obrigatoriedade e do aparato de fiscalização e controle
que resultava em extensos relatórios dos inspetores. Para Giani Rabelo (2013,
p. 216) “o processo civilizador protagonizado pelo Departamento de Educação
do Estado de Santa Catarina cravou suas bases de sustentação em uma
legislação meticulosa que atingia o cotidiano escolar”. Nesses relatórios ficava
evidente a centralidade dessas associações nas escolas e no projeto civilizador
em curso. Observa-se que o jornal escolar ocupava dupla função. Era ele mesmo
uma prática política e educacional, que deveria atender as expectativas
hipotecadas as associações auxiliares, e, ao mesmo tempo, operava como
importante divulgador das outras associações existentes na escola.

Esses jornais são potenciais fontes históricas para se observar os projetos


de futuro dos sujeitos do passado; de possibilitar pensar de que forma a cultura
escolar se relacionava as demais culturas que lhes eram contemporâneas, como
a política e a histórica, por exemplo. As investigações certamente permitem
abordar, para além das práticas pedagógicas, as práticas culturais, seus sujeitos
e sua produção em determinado tempo e lugar. É possível, ainda, visualizar
quais valores, costumes e interesses circulavam nas páginas dos jornais, bem
como as apropriações feitas a partir da cultura escolar da instituição e
privilegiadas para serem mostradas, legadas a sociedade do presente e futuro
naquele passado. Os jornais escolares, especialmente aqueles com séries mais

Departamento de Educação de Santa Catarina (1935-1940), Diretor-geral do Departamento de


Educação (1940-1951); Inspetor-geral do Ensino Normal (1950), Orientador pedagógico do
SESC, em Santa Catarina (1955); membro do Conselho Diretor da Fundação da UDESC (1957);
Secretário de Estado da Educação e Cultura (1963-1965), Presidente do conselho estadual de
educação (1963). Fonte: FIORI, 1991.
longas preservadas, permitem a reflexão sobre os “sonhos não realizados, as
promessas não cumpridas do passado, em suma, todas as marcas do futuro no
coração do passado” (RICOEUR, 2004, p.378).

Alguns jornais encontrados possuem séries longas preservadas que


certamente resultarão em diferentes análises de presentes e futuros passados.
O jornal A Criança Brasileira é um bom exemplo. Assinado pelos estudantes do
Curso Primário e do Curso Complementar do Grupo Escolar Lauro Müller, ele
existiu entre 1942 e 1968. Impresso e em formato tabloide8, esse jornal permite
uma multiplicidade de análises, tanto das questões materiais e simbólicas quanto
de práticas pedagógicas, de concepções sobre História, de projetos e práticas
políticas e culturais que suas páginas, anúncios e imagens dão a ver e a ler.
Duas análises iniciais já foram inclusive realizadas. A primeira explorou as
relações estabelecidas entre o projeto político de nacionalização em Santa
Catarina e as práticas escolares, nos exemplares publicados nos anos de 1942
a 1945 (SILVA, 2013). A segunda, já como parte dos resultados preliminares
dessa pesquisa, analisou textos e notas sobre vultos nacionais, datas
comemorativas e outros temas do cotidiano escolar voltados para a construção
de valores cívicos e patrióticos, associados, por vezes, ao pacifismo, em razão
da participação do Brasil na Segunda Guerra (CUNHA; SILVA, 2020). A acervo
desse jornal é composto por 42 exemplares e 96 números. Sua publicação teve
distribuição desigual (considerando-se números e exemplares) entre 1942 e
1953, muito embora tenha sido regular (considerando-se os números e não os
exemplares) entre os anos de 1942 e 1968. Todos esses exemplares (originais)
foram doados a esta pesquisa, em 2018, por uma professora que os salvou
literalmente do fogo, quando um funcionário, atendendo a ordens de seu
superior, realizava a “limpeza” de um depósito numa instituição, em
Florianópolis. Pela fragilidade do material (que inclui vestígios de fogo) tratativas
para sua digitalização e incorporação a Hemeroteca Digital Catarinense já foram
iniciadas e devem ser concluídas ainda nesse ano de 2021.
É possível encontrar também outros títulos preservados em arquivos
históricos municipais, como, por exemplo, o Arquivo Histórico Eugênio Victor

8 Formato de jornal surgido em meados do século XX no qual cada página mede,


aproximadamente, 33cmx 28cm.
Schmöckel, de Jaraguá do Sul, que abriga o jornal Tudo pelo Brasil, assinado
pelos estudantes da Escola Isolada Municipal Luiz Delfino9, que circulou entre
agosto de 1941 e fevereiro de 1944. E também o Meu Torrão, dos alunos do
Curso Complementar anexo ao Grupo Escolar Abdon Batista, de Jaraguá do Sul.
Há ainda outros títulos de jornais escolares que circularam no Estado, que foram
objeto de análise de diferentes pesquisadores e que se encontram dispersos
entre arquivos escolares ou mesmo pessoais. Exemplo disso, é o Pétalas Infantil,
manuscrito, assinado por meninas de 7 a 10 anos do então curso Primário do
Colégio Coração de Jesus10, no período compreendido entre 1945 a 1952. 66
exemplares desse jornal foram preservados e encontram-se sob guarda da
Profa. Maria Teresa Santos Cunha, que os analisou e divulgou-os em diferentes
oportunidades (CUNHA, 2011; 2013a; 2013b; 2014). Destaca-se que todos
esses exemplares foram doados para essa pesquisa e farão parte do catálogo
descritivo. A perspectiva é que também sejam incorporados à Hemeroteca
Digital Catarinense.
Pela abrangência do projeto, o objetivo geral da investigação será
desdobrado em duas ações distintas, mas complementares: a primeira consiste
em inventariar, catalogar e digitalizar jornais escolares preservados em
bibliotecas e arquivos do Estado, incluindo os escolares e pessoais. Como já
informado, nessa etapa serão inventariados e catalogados todos os periódicos
escolares encontrados no Estado, independentemente do nível de ensino e
período de circulação. Tal ação, além da construção de um catálogo, tem como
meta contribuir para a ampliação do acervo de periódicos estudantis da
Hemeroteca Digital Catarinense. A ideia é tanto mediar a comunicação entre
diferentes acervos e os coordenadores do projeto da hemeroteca digital, quanto
se somar a eles em busca de recursos em agências de fomento como a

9De ensino Primário, situada no então distrito de Hansa Humboltd, de Jaraguá do Sul, mas hoje
município de Corupá. Região colonizada por imigrantes europeus, principalmente alemães.
Convém lembrar que as escolas isoladas - menos prestigiadas que os grupos escolares – eram
multisseriadas e localizavam-se nas zonas coloniais e/ou rurais. Para mais informações sobre
as escolas isoladas em Santa Catarina, ver: FERBER; SILVA, 2015.
10 Fundado em 1895 pelas Irmãs da Divina Providência, como colégio feminino, situação que
mudaria apenas em 1970. Católico e privado, até 1912 se dedicou exclusivamente a educação
primária, sendo que o Ginásio passaria a funcionar em 1935 e o Colegial em 1947, completando
o Secundário (MARTINI, 2011). Atualmente pertence ao Grupo Bom Jesus, do Paraná, ligado à
Ordem Franciscana e se chama Bom Jesus Coração de Jesus.
FAPESC, por meio de editais que tenham rubricas que possam contribuir com
parte do custeio dos processos de digitalização.
A segunda ação reside na análise propriamente. Nessa etapa só serão
privilegiados os jornais escolares produzidos no âmbito de dois níveis de ensino:
Primário e Secundário e somente aqueles com séries mais longas preservadas
e que circularam entre as décadas de 1930 a 1960. O estabelecimento desse
recorte temporal deu-se com vistas a dar continuidade às reflexões que a
proponente vem realizando desde 2010, primeiramente com o apoio da FAPESC
e a partir de 2012 também com o apoio do CNPq, sobre as intersecções entre
práticas culturais e práticas políticas no cotidiano da escola, numa perspectiva
histórica. No presente projeto os jornais escolares serão analisados, por meio de
um olhar em escalas (REVEL, 1998; RICOEUR, 2007), no entrecruzamento de
escalas material e simbólica, compreendidos como parte do universo polifônico
da cultura escolar e como suportes de memórias e práticas vinculados ao tempo
e ao espaço de sua elaboração.
Mesmo central em determinados projetos políticos de presentes
passados, o que o torna importante fonte para dotar de inteligibilidade variados
processos e práticas produzidos ou que atravessavam o cotidiano escolar, o
jornal estudantil ainda carece de pesquisa mais abrangente, posto que produção
é ainda isolada e pontual. Segundo Maria Helena Camara Bastos (2015), a
ampliação do foco de pesquisa com esses documentos passa, primeiro, pela
realização de um repertório de fontes em âmbitos regional e nacional, assim
como a interlocução com outros pesquisadores internacionais, com o objetivo de
construir ou reforçar redes que permitam ampliar as possibilidades da escrita da
História e avançar no adensamento das questões teórico-metodológicas.
A presente proposta de investigação é uma tentativa de contribuir,
inicialmente em Santa Catarina, para a superação de pesquisas pontuais e
lacunares sobre os jornais escolares. Claro está que o desafio é grande, espera-
se, contudo, que o projeto seja desenvolvido em período proporcional ao desafio
imposto, realizado por etapas (mais bem delineadas na metodologia), com a
contribuição de bolsistas de iniciação científica e orientandos do doutorado, bem
como docentes do grupo de pesquisa que queiram aderir à proposta. O desafio
justamente é com o alcance da pesquisa, que deve se ocupar da organização
de um catálogo de fontes, com a digitalização daquelas que forem autorizadas e
com análises e ações vinculadas que permitam o fortalecimento de redes
nacionais e internacionais já existentes, que se interessam por jornais escolares
como objeto e como fonte pesquisa.
Um exemplo de rede que se espera fortalecer é a mantida com
pesquisadores brasileiros, espanhóis, portugueses e italianos em torno da
temática do patrimônio histórico educativo, coordenado pelo pesquisador italiano
Alberto Barausse, por meio do Centro di documentazione e ricerca sulla storia
delle istituzioni scolastiche, del libro per la scuola e della letteratura per l’infanzia
(CESIS) e o Museo della Scuola e Dell’Educazione Popolare (MUSEP) da Universitá
degli Studi del Molise. Um evento sobre impressos e patrimônio histórico
educativo apenas para os pesquisadores da rede, ocorreu em maio de 2018, em
Campobasso, Itália. E o segundo encontro, com parte dos pesquisadores, foi
realizado nos dias 11 e 12 de setembro de 2019 na Universidade de Caxias do
Sul, RS, promovido pelo Grupo de Pesquisa História da Educação, Imigração e
Memória (GRUPHEIM) e coordenado por Terciane Ângela Luchese. Vale ainda
destacar que, em alguma medida, essa proposta de investigação tem potencial
de diálogo com a inserção da proponente11 no Transfopress-Brasil, Grupo de
Estudos da Imprensa em língua estrangeira no Brasil, rede de pesquisadores
sediada na Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (UNESP)
coordenado pelas Profa. Dra. Valéria Guimarães (UNESP) e Profa. Dra. Tania
Regina de Luca (UNESP)12. Não se descarta a possibilidade de encontrar
vestígios de jornais escritos em línguas alemã e/ou italianas, produzidos em
escolas situadas nas “zonas coloniais”. Antes da forte campanha de
nacionalização do ensino, iniciada em 1937, no Estado, que proibiu o ensino em
outra língua, que não a portuguesa, o funcionamento dessas escolas (mantidas
pelas comunidades, em sua maioria) era bastante comum nas cidades com
maior contingente de imigrantes e seus descendentes.

11 O projeto “Notícias de lá, olhares daqui”. Um estudo sobre jornais italianos que
circularam em Florianópolis (SC) no Século XX integrado à rede Transfopress Brasil é
desenvolvido pela Profa. Dra. Maria Teresa Santos Cunha em conjunto com a proponente, no
âmbito do PPGH/UDESC e IDCH/UDESC. Informações:
http://transfopressbrasil.franca.unesp.br/pesquisadores/.
12 Vinculado à rede internacional TRANSFOPRESS – Transnational network for the study of

foreign language press, sob coordenação geral de sua idealizadora Profa. Dra. Diana Cooper-
Richet do Centre d’Histoire Culturelle des Sociétés Contemporaines – Université de Versailles
Saint-Quentin-en-Yvelines (CHCSC-UVSQ).
A busca13 em portais de periódicos e no catálogo de dissertações e teses
da Capes, sobre jornais escolares, resultou no encontro de 10 artigos, 6
dissertações e 6 teses. Desses, 6 artigos, 1 dissertação (Educação) e 1 tese
(Linguística) tinham como objeto de pesquisa jornais catarinenses. Cintia
Gonçalves Martins (2017), em sua pesquisa de mestrado, analisou o jornal O
Estudante Orleanense, produzido pelos estudantes, do então denominado
Grupo Escolar Costa Carneiro, em Orleans, entre os anos de 1949 e 1973. O
objetivo principal do estudo foi o de compreender as relações de gênero dentro
do espaço escolar a partir das representações de mãe, mulher e maternidade,
nos textos comemorativos ao “Dia das Mães” que circularam nesse jornal. Já
Tânia Maria Barroso Ruiz (2017) trabalhou com o jornal O colegial, de
responsabilidade dos alunos do secundário do Colégio Catarinense de
Florianópolis e nele investigou “finalidades e os valores da leitura
discursivizados”, a partir da perspectiva social e histórica do Círculo de Bakhtin,
no âmbito da Linguística. Um artigo de autoria de Norberto Dallabrida e Juliana
Topanotti dos Santos (2010) tematiza o anticomunismo presente nesse mesmo
jornal. O Colegial aparece bastante citado em trabalhos relacionados a história
da educação do Estado, como parte do corpus documental e não como objeto.
Isso se justifica pela sua boa conservação e por estar, desde 2015, disponível
na Hemeroteca Digital Catarinense.
Além do O Colegial, O Estudante Orleanense e Pétalas Infantis são
explorados e aparecem em diferentes artigos. Maria Teresa Santos Cunha
(2011, 2013a, 2013b, 2014), por exemplo, divulgou diferentes produções sobre
o jornal Pétalas Infantis, assinado pelas alunas do Colégio Coração de Jesus, de
Florianópolis. Em sua pesquisa usou o jornal como fonte para problematizar
protocolos de civilidade, práticas de escrita e de sociabilidade nas décadas de
1940 e 1950. Esse jornal pertence ao acervo pessoal da pesquisadora, que foi
aluna da instituição. Inicialmente os exemplares também estavam no arquivo do
Colégio Coração de Jesus (atualmente Bom Jesus Coração de Jesus, do Grupo

13 Refeita em junho de 2021 usando os seguintes descritores: jorna* escolar, jorna* estudanti*;
imprensa estudanti*, imprensa escolar periódico estudanti*, periódico escolar (*o truncamento
permite a busca no singular e plural). Apenas foram selecionados os estudos que se referiam a
jornais produzidos por estudantes/para estudantes e aqueles cujos jornais tenham sido o objeto
da pesquisa ou a fonte principal para outros temas de estudo. Em relação aos artigos exclui dois
deles, de minha autoria, publicados em 2013 e 2020, sobre o jornal A Criança Brasileira.
Bom Jesus, do Paraná, ligado à Ordem Franciscana), mas pesquisas realizadas
recentemente não lograram êxito em localizar os originais na escola. Em
tratativas estabelecidas com a historiadora, o acervo deverá também ser
digitalizado e incorporado à hemeroteca digital e ao catálogo que se presente
construir, para futuras pesquisas.
Giani Rabelo (2013) e também em coautoria com Vanessa Massiroli (2017)
trabalhou com o jornal O Estudante Orleanense, que circulou entre os anos 1949
e 1973, buscando dar visibilidade às práticas e saberes estudantis. Os
pesquisadores Gladys Teive e Norberto Dallabrida (2013) elegeram o jornal A
Escola, veiculado no Grupo Escolar Jerônimo Coelho, de Laguna, em 1916, para
analisar suas principais pautas: o patriotismo republicano e a civilidade
burguesa. Salvaram-se do completo esquecimento dois exemplares desse jornal
impresso, que ainda permitem explorar outras muitas questões. Ademir dos
Santos (2012) pesquisou o jornal Tudo pelo Brasil, assinado pelos estudantes
da Escola Isolada Municipal Luiz Delfino, hoje Corupá, que circulou entre agosto
de 1941 e fevereiro de 1944, para pensar o lugar da infância no projeto do Estado
Novo.
A revisão bibliográfica empreendida corrobora com as considerações das
pesquisadoras Maria Helena Camara Bastos (2015); Cintia Medeiros Robles
Aguiar e Jacira Helena do Valle Pereira Assis (2020) de que os estudos sobre
os jornais escolares ainda são pontuais e isolados. Destaca-se também que sua
materialidade e condições de produção são pouco exploradas.
Metodologicamente observa-se ausência de uma preocupação em estabelecer
estudos diacrônicos atentando para a historicidade do próprio jornal, mudanças
e permanências em suas pautas e seus interesses. O cenário é ainda mais
contundente quando se recorta apenas estudos que tiveram como objeto e/ou
fonte periódicos que foram produzidos e que circularam em Santa Catarina,
como os exemplos acima fazem ver. Observa-se que os jornais escolares, à
exceção da tese encontrada, não se constituem fontes principais nas pesquisas
referenciadas mas sim que transversalizam e tangenciam questões outras
ligadas ao cotidiano escolar, juntamente com outros tipos de documentos.

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