Você está na página 1de 2

As narrativas sobre a Independência do Brasil em livros

didáticos nacionais

Luiz Gustavo Martins da Silva, Assistente de Comunicação da Revista Almanack,


Doutorando em História pela UFOP, Belo Horizonte, MG, Brasil.

O artigo A independência do Brasil nos


livros didáticos de história (PNLD, 2020),
escrito pela historiadora Raissa Gabrielle
Vieira Cirino, e publicado na Revista
Almanack, n.º 34 (2023), discute as
diferentes abordagens da Independência
do Brasil nos manuais de História,
principalmente nas coleções aprovadas no
Programa Nacional do Livro Didático
(PNLD) de 2020. O foco de sua
investigação foi os meios de
sistematização, compreensão e
representação adotados, nesses materiais,
acerca desse evento histórico.

Seu estudo foi desenvolvido por meio de uma pesquisa bibliográfica e documental,
que apresentou, como uma das conclusões, a constatação de que o livro didático se
estabeleceu como uma “fonte de verdade” e tem sido utilizado como um meio de legitimação
de grupos sociais. Não podemos esquecer o papel do livro didático na construção de uma
cultura histórica, em que o passado dialoga com distintos meios sociais, sobretudo na sala
de aula.
Como doutora em História na Universidade Estadual do Maranhão e atual diretora
da Anpuh-Maranhão, Raissa Cirino tem desenvolvido pesquisas sobre História do Brasil
Império, Ensino de História, Historiografia e Livro Didático. A trajetória da pesquisadora
evidencia as motivações subjacentes ao seu artigo, que analisou, metodologicamente,
símbolos, metáforas e imagens presentes nos conteúdos sobre a emancipação política do
Brasil em relação a Portugal.
Imagem: Câmara Municipal de Teixeira de Freitas.

Um dos resultados apresentados pela autora é que os manuais didáticos contêm


premissas das narrativas nacionais anteriores, isto é, são livros recém-lançados para o
ensino básico que carregam em seus conteúdos a chamada “história única”. A respeito
disso, a escritora nigeriana Chimamanda Ngozi Adichie, em sua obra “O perigo de uma
história única”, de 2018, chamou a atenção para não sermos reféns de um único olhar sobre
o fato histórico – no caso, o processo de independência – e uma história aprisionada aos
“grandes” personagens.

O artigo amplia a perspectiva sobre as formas de ensino e aprendizagem no contexto


atual do Brasil, em que se tem feito usos e disseminação de discursos políticos
negacionistas. O impacto dos resultados da pesquisa para as áreas de História, Ciência e
para a sociedade em geral pode ser bastante profícuo, trazendo também uma
ressignificação do conhecimento histórico. Este enfoque tende a apontar cada vez mais
“para sala de aula” – conforme discutido na seção que compõe a coletânea “A
Independência do Brasil: temas de pesquisa e ensino de História”, publicada em 2022.

Dessa forma, o texto de Cirino trata de uma das facetas do processo das
independências em convergência com temas como cidadania, constituinte, regimes fiscais,
unificação territorial, entre outros. Trata-se de uma pesquisa original, com uma temática que
recebe pouca atenção por grande parte dos historiadores e possibilidades de ampliação,
através da investigação contínua das reformulações do PNLD. Portanto, as projeções
futuras da pesquisa podem ser variadas, desde novos caminhos interpretativos até
transformações na cultura e imaginário históricos da sociedade em geral.

Você também pode gostar