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DIVERSIDADE CULTURAL
COMO PRÁTICA NA EDUCAÇÃO
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maneiras. É fato que muito se conversa sobre a diversidade e de muitas maneiras.
Isso se apresenta para nós como um indicativo de que é urgente dialogar acerca
da diversidade, pois a diversidade faz parte da natureza e, em consequência
disso, as perspectivas acerca da natureza são múltiplas, variadas. O que
pretendemos com isso? Buscamos argumentar que pelo fato de a natureza se
apresentar como uma biodiversidade na qual uma gama múltipla de seres que
convivem, não seria de se admirar que cada ser humano observasse a natureza
a partir de uma perspectiva singular, diferente de outras pessoas, pois o ser
humano é apenas mais um ser dentre a pluralidade de seres que existem nessa
biodiversidade.
Ora, mas com base em que podemos afirmar que a diversidade se encontra
na natureza? Poderíamos fazer uso de diversos recursos para defender esse
posicionamento. No entanto, escolhemos aqui um fato científico desenvolvido nos
estudos de genética do biólogo e botânico austríaco Gregor Mendel (1822-1884).
Ele foi um frade agostiniano da Igreja Católica meteorologista que ficou muito
conhecido por um experimento que fez com ervilhas. Nesse experimento, ele fez
uso de ervilhas que se apresentavam distintamente, pois havia um conjunto de
ervilhas lisas e outro conjunto de ervilhas rugosas.
Assim, Mendel buscou compreender o motivo pelo qual algumas ervilhas
são rugosas e outras são lisas. Para isso, realizou cruzas de sementes que
geravam ervilhas diferentes e também experimentou utilizar apenas sementes de
onde brotavam ervilhas semelhantes. Ao fazer o experimento utilizando apenas
sementes lisas e esperando que brotassem só ervilhas lisas, o biólogo se
surpreendeu com o fato de que um quarto (1/4) delas se apresentaram rugosas.
É como se, de 100 ervilhas advindas de sementes lisas, brotassem 25 rugosas
apesar de não ter tido cruzamento entre ervilhas lisas e rugosas. Podemos
concluir, portanto, que, a despeito da expectativa de obter seres com uma
característica predominante, a cruza teve como resultado a diversidade.
A outra parte do experimento se realizou mediante a cruza de sementes de
ervilhas lisas com rugosas. Procedendo assim, o botânico esperava que se
resultasse um tipo diferente de ervilha com características tanto das ervilhas lisas
como da rugosas. Porém, se deu algo também diverso, pois brotaram apenas
ervilhas lisas.
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A partir destes experimentos, Mendel postulou uma lei que até os dias de
hoje auxilia nos estudos de genética. Além disso, esses experimentos resultaram
numa compreensão acerca da genética que muito interessa para pensar a
diversidade como algo inerente à natureza. Se acompanharmos as etapas da
pesquisa de Mendel, é possível verificar que a diversidade se coloca no proscênio,
ou seja, como pano de fundo para os acontecimentos que resultaram das cruzas,
seja entre sementes com características em comum, seja com sementes com
características distintas.
Coloquemos os acontecimentos numa perspectiva simplificada, a fim de
compreender como a diversidade se estabelece como regra nessa dinâmica
genética.
Da mistura de ervilhas iguais brotaram ervilhas diferentes da origem. Da
mistura de iguais com diferentes resultaram-se ervilhas iguais entre si dentre as
que brotaram, mas diferentes duma parcela significativa das ervilhas originárias.
Trata-se de uma explicação que simplifica a maneira de observar o fenômeno,
pois, se acompanharmos o experimento com mais acuro e considerarmos a
especificação genética de cada ervilha, notamos que todas são diferentes, por
possuírem um DNA distinto e singular. O que não podemos negar é o fato de que,
seja em termos simplificadores ou numa perspectiva mais acurada, a natureza
parece se apresentar como uma usina produtora de diversidade,
independentemente da expectativa humana.
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pessoas que se exprimem sem fazer o uso da voz, mas articulando o corpo em
prol da comunicação.
Portanto, a diversidade é algo presente na natureza, entre seres humanos
e seres não humanos. Como a natureza é diversa, segue-se que a forma de
conviver com ela também se diferencia. Por isso, as visões de mundos dos mais
diversos grupos humanos também são diversas, produtos da natureza, essa usina
de diversidade.
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você poderia ter pensado: “Isso poderia ter sido feito de outra maneira, para
facilitar a passagem”. Quando pensamos em educação e estrutura formativa
inclusivas, a pergunta que precisamos nos fazer continuamente tem relação com
esse pensamento. Ou seja: para quê dificultar?
Dentre o público diverso que tem o potencial de fazer parte de uma
comunidade formativa, temos que considerar cadeirantes, pessoas cegas, surdas
ou portadoras de outras deficiências. Deficiência é uma palavra no mínimo curiosa
e, por isso, fazemos uso desse termo com alguma reserva. No prefixo dela há a
palavra déficit, oriunda do latim. Déficit quer dizer literalmente falta, de onde
podemos inferir que uma pessoa deficiente seria uma pessoa em que falta algo.
Porém, não podemos afirmar de maneira categórica que as pessoas nas quais se
nota a ausência de uma, por assim dizer, “capacidade” não consigam fazer o que
outras pessoas, nas quais não há essa ausência, fazem no dia a dia. Por exemplo:
há pessoas que não falam, que são mudas. Mas disso não se segue que não
podem se comunicar. Assim como seria equívoco pensar que pessoas cegas não
podem ler, interpretar.
Compreendendo o fenômeno assim, podemos nos perguntar: se uma
instituição não está preparada para acolher pessoas surdas e/ou cegas, falta
nessas pessoas a capacidade suficiente para frequentar determinada instituição,
ou falta na instituição uma estrutura adequada que contemple essas pessoas
viabilizando a entrada e a permanência delas naquele espaço? Onde está a falta?
Nas pessoas? Na estrutura?
Pensando desse modo, podemos considerar que, de acordo com a
perspectiva mediante a qual encaramos o fenômeno, a falta, o déficit, se encontra
nas estruturas e não nas pessoas. Não seriam, nesse sentido, as estruturas
deficientes de uma estrutura que facilite o acesso para essas pessoas? Se existe
a possibilidade de viabilizar o acesso, para que dificultar? É evidente que a
terminologia Pessoa com Deficiência é importante, pois mediante o uso dessa
categoria é possível destacar as pessoas que historicamente sofrem e vêm
sofrendo com estruturas que dificultam a vida delas, pela falta de preparo e de
tecnologia para acolher essas realidades. No entanto, se observamos sob outra
perspectiva, podemos perceber que a deficiência não é um problema das
pessoas, mas do meio social que dificulta o acesso às pessoas.
Se pararmos para pensar sobre isso, encontramos estruturas deficientes
(no sentido que convidamos você a refletir anteriormente), muito presentes no
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meio social de convivência. Você já reparou na presença de calçadas feitas com
pedras desniveladas que deslizam em dia chuva no meio urbano? Em que medida
isso não dificulta a passagem de pessoas idosas, pessoas com cadeira de rodas,
pessoas que usam bengala, pessoas com carrinho de bebê, entre outras?
Estruturas pouco inclusivas existem de um modo geral no meio social. A pergunta
que convém levantarmos é: em que medida isso não se estende para o âmbito da
escola?
Circunscrevendo a problemática na esfera formativa, é possível refletir
acerca de coisas que estão além dos desafios para a acessibilidade de Pessoas
com Deficiência – fazendo uso da categoria mais consolidada.
Retrospectivamente pessoas adultas relatam, nos dias de hoje, que durante o
período escolar foram obrigadas a escrever com a mão direita. A destreza se
tratava de um requisito para a formação, excluindo a possibilidade de fazer uso
do braço esquerdo. Destarte, a operação para a escrita não podia ser canhestra.
Além de rampas com antiderrapante, pisos táteis, textos em braile, pessoas que
se comunicam por linguagem de sinais e outras mudanças estruturais para
acolher as pessoas com deficiência, é um desafio também promover a
continuidade de mudanças as pessoas canhotas. Inclui-se nisso uma
reestruturação da própria linguagem, pois se compreendermos os pressupostos
que permitiram o uso das categorias destreza e canhestra, entenderemos que a
exclusão na prática condiz com a exclusão simbólica no âmbito da linguagem,
conforme abordaremos adiante.
Não haveria outra maneira de compreender o Brasil que não como um país
no qual o povo é diverso. Trata-se de um país continental, com ampla extensão
territorial, dividido em regiões com culturas diversas. É um país no qual, em
decorrência de diversos fatores, populações transitam de uma região a outra,
misturando sua cultura originária com a cultura do local onde escolhe viver.
Porém, além desses fatores localizados no país, há ainda outro de relevância
para estudarmos aqui, a saber: a história do Brasil após a invasão colonial
portuguesa. É necessário passarmos por essa etapa com a perspectiva de que,
com esse evento, mais povos passaram a habitar o país, somando-se à diversidade
de povos que já viviam aqui. Esse processo não foi de maneira alguma pacífico.
Você conseguiria pensar na tensão presente nesse contexto em que povos que
aqui já habitavam tiveram ou que guerrear ou se deslocar forçadamente para conter
a opressão portuguesa que queria escravizar os povos originários? Além disso,
você pode supor a dificuldade que os povos oriundos da África tiveram que passar
no Brasil depois de serem sequestrados do continente de origem?
Tais tensões têm implicações até os dias de hoje na cultura brasileira. Por
conta destes acontecimentos hoje temos uma formação demográfica
caracterizada pela diversidade e que também nos propõe os desafios de promover
mais inclusão na prática formativa.
Você já deve ter experenciado alguém comunicando que o Brasil “não foi
descoberto, foi invadido”. Caso não tenha ouvido, é interessante que possamos
aqui dialogar sobre essa afirmação. É uma afirmação de caráter polêmico, uma
vez que a História Oficial do Brasil informa que o país foi descoberto em 1500,
ano em que navios de Portugal aportaram na costa deste território que ainda não
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tinha este nome. Inclusive, no Brasil há uma data oficial que celebra esse feito
anualmente aos 22 dias de abril.
Porém, observando o fenômeno com critério, a conclusão mais acertada a
que podemos chegar é a de que houve uma invasão deste território, que já era
habitado por vários povos, com culturas diferentes, cosmovisões diferentes e,
inclusive, idiomas diferentes. Isso porque, se já havia pessoas habitando o local,
seria contraditório sugerir que houve uma “descoberta”. Vamos pensar juntos. Se
você está em sua casa e chega alguém que, desconsiderando o fato de que você
está fazendo uso daquele espaço, se aloja, dá um nome e depois alega ter direito
de posse sobre a casa, temos que concordar que essa pessoa atua como uma
invasora, certo? Essa é a lógica que acompanha o nosso raciocínio proposto nas
linhas acima.
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Ou seja, segundo Krenak (Guerras..., 2018), os invasores agiram de
maneira desleal, abusando da acolhida dos povos indígenas. Por isso o líder
indígena afirma que até hoje o Brasil está em guerra, uma guerra entre os
repressores de indígenas e os povos originários que resistem.
Além disso, outra ação da colonização diz respeito ao sequestro de povos
africanos para o Brasil. Isso fez com que mais povos se somassem à diversidade
de povos já aqui existentes e aos povos invasores. Houve, entre esses povos, a
miscigenação. Mas não nos iludamos. Essa miscigenação não foi pacífica.
Poderíamos sugerir, inclusive, que raras vezes o foi. De acordo com um estudo
publicado no site do Instituto Geledes, podemos inferir que muito da miscigenação
se explica por uma cultura do estupro estabelecida no Brasil. De acordo com o site:
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essa história marcada pela violência e pela injustiça direcionada a alguns povos
em detrimento da vantagem de outros que se formou a demografia do Brasil.
Essa história fez com que, nos dias atuais, tenhamos uma população
diversificada. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE), em pesquisa de 2010, o Brasil tem uma população de 207.750.291
habitantes, dentre os quais 896.917 são indígenas, divididos em 305 etnias que
se comunicam por 274 línguas diferentes (IBGE, 2010). Essa pouca quantidade
nos mostra o etnocídio que esses povos sofreram ao longo do tempo.
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Diante disso, o que seria propriamente um etnocentrismo na educação?
Seria a prática educativa que leva em conta apenas um ethnos, uma etnia, um
povo, uma cultura. Seria, assim, uma prática educativa que não contempla a
diversidade de povos e costumes existentes no mundo. Portanto, trata-se de uma
prática formativa que unilateralmente desconsidera a multiplicidade de povos e
costumes.
No contexto de um país colonizado, o etnocentrismo tem a tendência de se
orientar pela cultura do país colonizador e se entende pela cultura daquele povo.
Ou seja, no caso de um país como Martinica, por exemplo, há uma tendência em
alinhar a cultura própria com a cultura da França, país colonizador. Mas a
específica colonização operada pela França em nada impede o alinhamento
cultural com outros países europeus de cultura semelhante. Frantz Fanon (2008),
em Pele negra, máscaras brancas, realizou uma análise de como pensavam os
martinicanos e constatou que havia uma veneração exacerbada pela cultura
europeia e uma aversão pela cultura senegalesa.
Esse apreço pela cultura europeia somado à aversão ao que pertencente
à África expressam o que é a tendência de privilegiar uma etnia em relação às
outras. Assim, opera-se um etnocentrismo quando se valorizam as contribuições
de apenas uma cultura, invisibilizando as demais.
O etnocentrismo se estabelece e se mantém muito em função da
colonização operada em tempos passados com implicações até os dias de hoje.
É algo que é disseminado entre as pessoas ainda que sem intenção consciente,
pois a colonização, de certo modo, invadiu a estrutura mediante a qual as pessoas
pensam e formulam suas opiniões.
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sabia que sem a contribuição de povos africanos dificilmente a ciência teria se
desenvolvido no continente europeu?
Ao estudarmos a filosofia antiga, nos deparamos com a informação de que
a ciência surgiu no contexto da Grécia por causa da separação entre mito e
ciência. Porém, como negar o fato de que os povos do Kemet (Egito), país do
norte da África, não desenvolviam uma ciência? Não podemos negar que havia
um sistema de escrita, que compreendemos como hieróglifos. As pirâmides nos
dão mostras de uma ciência da engenharia que até hoje é misteriosa para
arqueólogos.
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Você pôde acompanhar nas discussões anteriores que a diversidade é algo
que faz parte da natureza, a ponto de arriscarmos dizer que a natureza é uma
usina produtora de diversidade. A própria dinâmica da natureza, de acordo com o
experimento de Mendel, recusa a preponderância de um só tipo de ser em
detrimento da ausência de seres com características diferentes.
Contudo, maneiras de pensar que intencionaram promover a uniformidade
na característica dos seres foram sendo sugeridas no decorrer da história, o que
teve implicações que se arrastam até os dias de hoje. Há uma influência na
educação, na prática formativa, uma vez que, de maneira geral, as ciências são
pensadas com base na contribuição europeia.
Porém, não se trata de um problema de professoras e professores,
gestores e gestoras, ou pedagogas e pedagogos. Trata-se de algo que está
inculcado no contexto brasileiro, algo que pode ser estendido, grosso modo, para
outros países que foram colonizados. Assim como é preciso adaptar e adequar a
estruturação física de instituições para acolher pessoas diferentes por conta de
alguma deficiência, é preciso também reformar o nosso modo de pensar e de se
comunicar com o mundo, a fim de retirar do campo simbólico da linguagem partes
da nossa estrutura de pensamento que obstam a compreensão de pessoas de
cultura diferente como seres humanos dignos.
De maneira direta, é preciso uma reforma na consciência para que
estruturas de pensamento contidas de resquícios de xenofobia, sexismo, racismo
sejam retiradas e substituídas por estruturas que, ao invés de excluírem, incluam.
Assim como podemos operar o movimento de substituir degraus por
rampas, adaptar superfícies para se tornarem pisos táteis, é possível também
substituir expressões populares e palavras por outras expressões que possam ter
o mesmo efeito para a comunicação.
Mas, além dessa reforma interna, é importante também reformar o que
apresentamos ao mundo, ou seja, as referências com base nas quais
intencionamos representar uma ideia, um conceito. Trata-se, pois, da importância
da representatividade para pensarmos outros valores, outros padrões que incluam
a diversidade de corpos e culturas.
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dinâmica comunicativa. Pensando em um público discente, trata-se de oferecer
meios mediante os quais este seja contemplado nas intervenções docentes em
sala de aula.
Para melhor compreensão da importância da representatividade,
oferecemos um exemplo de como a não representatividade pode ser danosa para
contemplar um público. Um clássico exemplo é a representação de Machado de
Assis (1839-1908), um dos maiores escritores brasileiros e considerado um dos
maiores contistas lusófonos de todos os tempos, como sendo branco. Essa
representação dá a ideia de que o êxito intelectual está relacionado apenas com
a pele branca, como se pessoas negras não pudessem ser bem-sucedidas nesse
campo. Sendo o Brasil um país em que a população é composta majoritariamente
de pessoas negras, a representação de Machado de Assis não é apenas uma
falha em relação à história, mas também uma falha que não permite que a maioria
da população do Brasil represente a ideia de êxito e reconhecimento no campo
intelectual com a cor negra. Trata-se de uma prática que influencia na autoestima
de pessoas negras, pois forja uma ideia mentirosa de que apenas pessoas
brancas podem ser consideradas intelectuais. É um obstáculo, portanto, análogo
à corda no braço esquerdo de pessoas canhotas que as impedem de agir segundo
as suas naturezas, obrigando-as a comprar a ideia de que o correto é usar o braço
direito. É nesse sentido que a representatividade se faz importante.
Um modo de realizar isso é mediante referenciais teóricos pertencentes aos
grupos humanos distintos dos europeus. Entre os povos originários, entre as
personalidades negras, orientais, entre outras, encontramos contribuições nas
artes, nas letras, na filosofia, na sociologia, na matemática. Qual tal trazer isso
para a sala de aula? Que tal trazermos mais nomes como Davi Kopenawa, Silvio
Almeida, Confúcio, bell hooks, Luiz Gama, Neil deGrasse Tyson, Avicena, Sonia
Guajajara para as nossas aulas? Qual tal mais imagens de corpos com fenótipos
distintos do europeu em nossas apresentações de slides e materiais didáticos?
Este é um convite que fazemos a você, para que possamos progredir neste
movimento que busca desobstruir estruturas simbólicas pertencentes à linguagem
e que têm implicações na vida prática das pessoas, tal como a história nos
mostrou.
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Ao ampliarmos o nosso repertório de referências que representam o nosso
público discente, contribuímos para reparar as estruturas que obstruem o
reconhecimento de pessoas com cultura e traços fenótipos distintos das
características europeias. São estruturas psíquicas que, analogamente às
estruturas físicas, podem dificultar o acesso dessas pessoas a um universo
simbólico digno.
Nesse mesmo sentido, também é importante a busca por
representatividade entre as pessoas com deficiência, como pessoas também
passíveis de ocupar os espaços sociais que desejarem.
Como vimos, a natureza se manifesta numa dinâmica em que a diversidade
é pressuposta. Cabe a nós, formadores, a tarefa de acolher a natureza, acolher
tudo o que é fruto da dinâmica natural da geração da vida. A tendência
uniformizadora é uma invenção humana que já foi posta em prática em
determinados contextos, tendo como consequência implicações prejudiciais à
humanidade. Um exemplo é o que se deu durante o regime nazista, que culminou
na Segunda Guerra Mundial. Com um propósito eugenista, o partido nazista
perseguia grupos humanos que julgavam imperfeitos por conta da diferença deles.
O projeto de compreender a diversidade cultural como prática na educação
está na contramão daquele projeto, pois busca representar, valorizar, respeitar e
acolher a diversidade, compreendendo-a como fruto da dinâmica natural.
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REFERÊNCIAS
_____. Desigualdades Sociais por Cor ou Raça no Brasil. IBGE, 2022. Disponível
em: <https://www.ibge.gov.br/estatisticas/sociais/populacao/25844-desigualdades-
sociais-por-cor-ou-raca.html?=&t=resultados>. Acesso em 8 fev. 2023.
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