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AULA 1

DIVERSIDADE CULTURAL
COMO PRÁTICA NA EDUCAÇÃO

Prof. Jeferson da Costa Vaz


INTRODUÇÃO

Aqui, discutiremos a pertinência da diversidade cultural como prática na


educação. Entretanto, antes de iniciar o percurso a respeito dos motivos que
levam à pertinência de pensar a diversidade, é importante uma sensibilização
acerca do porquê da necessidade desse debate. Sugerimos, assim, um momento
dedicado à compreensão dos fatores que motivam o presente diálogo que
pretendemos fazer com você.
Por isso o objetivo aqui é compreender os motivos históricos, sociais e
demográficos que indicam a urgência de se pensarem referenciais diversos para
a prática educativa, na intenção de entender a razão dessa urgência, bem como
a relevância de uma prática que mire as diversidades e dialogue com mais eficácia
com a nossa sociedade caracterizada pela pluralidade.
Para atingir essa meta geral, propomos cinco metas específicas que serão
efetuadas em cinco tópicos em função dos quais dividimos a nossa etapa. A
primeira meta específica é a de questionar o motivo de pensar a diversidade. Em
seguida, o objetivo é tratar da educação inclusiva para que possamos
compreender os seus mais diversos aspectos. Na intenção de refletir o motivo da
diversidade como prática no Brasil, o próximo tópico se propõe a focar na
diversidade demográfica existente no país. Adiante, a ideia é levar você a
compreender pressupostos que dificultam na valorização da diversidade cultural
no âmbito formativo, num momento em que discutiremos o etnocentrismo na
educação. Por fim, o último tópico será acerca da importância da
representatividade no ambiente educacional.

TEMA 1 – POR QUE PENSAR A DIVERSIDADE?

Ultimamente, muito se tem discutido sobre a diversidade, seja em relação


a grupos humanos, seja em relação à natureza quando falamos em
biodiversidade, seja na diversidade de maneiras pelas quais seres humanos se
identificam, em debates que levam em conta a diversidade de identidades no
âmbito social. Você deve estar se perguntando: ora, mas por que dialogar tanto
sobre a diversidade? Acreditamos que resposta à pergunta se encontra na própria
pergunta.
Acompanhamos, em materiais de publicidade, telenovelas, filmes, séries
ou até mesmo nas redes sociais, que a diversidade tem sido tematizada de muitas

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maneiras. É fato que muito se conversa sobre a diversidade e de muitas maneiras.
Isso se apresenta para nós como um indicativo de que é urgente dialogar acerca
da diversidade, pois a diversidade faz parte da natureza e, em consequência
disso, as perspectivas acerca da natureza são múltiplas, variadas. O que
pretendemos com isso? Buscamos argumentar que pelo fato de a natureza se
apresentar como uma biodiversidade na qual uma gama múltipla de seres que
convivem, não seria de se admirar que cada ser humano observasse a natureza
a partir de uma perspectiva singular, diferente de outras pessoas, pois o ser
humano é apenas mais um ser dentre a pluralidade de seres que existem nessa
biodiversidade.

1.1 Diversidade na natureza: Gregor Mendel e as ervilhas

Ora, mas com base em que podemos afirmar que a diversidade se encontra
na natureza? Poderíamos fazer uso de diversos recursos para defender esse
posicionamento. No entanto, escolhemos aqui um fato científico desenvolvido nos
estudos de genética do biólogo e botânico austríaco Gregor Mendel (1822-1884).
Ele foi um frade agostiniano da Igreja Católica meteorologista que ficou muito
conhecido por um experimento que fez com ervilhas. Nesse experimento, ele fez
uso de ervilhas que se apresentavam distintamente, pois havia um conjunto de
ervilhas lisas e outro conjunto de ervilhas rugosas.
Assim, Mendel buscou compreender o motivo pelo qual algumas ervilhas
são rugosas e outras são lisas. Para isso, realizou cruzas de sementes que
geravam ervilhas diferentes e também experimentou utilizar apenas sementes de
onde brotavam ervilhas semelhantes. Ao fazer o experimento utilizando apenas
sementes lisas e esperando que brotassem só ervilhas lisas, o biólogo se
surpreendeu com o fato de que um quarto (1/4) delas se apresentaram rugosas.
É como se, de 100 ervilhas advindas de sementes lisas, brotassem 25 rugosas
apesar de não ter tido cruzamento entre ervilhas lisas e rugosas. Podemos
concluir, portanto, que, a despeito da expectativa de obter seres com uma
característica predominante, a cruza teve como resultado a diversidade.
A outra parte do experimento se realizou mediante a cruza de sementes de
ervilhas lisas com rugosas. Procedendo assim, o botânico esperava que se
resultasse um tipo diferente de ervilha com características tanto das ervilhas lisas
como da rugosas. Porém, se deu algo também diverso, pois brotaram apenas
ervilhas lisas.

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A partir destes experimentos, Mendel postulou uma lei que até os dias de
hoje auxilia nos estudos de genética. Além disso, esses experimentos resultaram
numa compreensão acerca da genética que muito interessa para pensar a
diversidade como algo inerente à natureza. Se acompanharmos as etapas da
pesquisa de Mendel, é possível verificar que a diversidade se coloca no proscênio,
ou seja, como pano de fundo para os acontecimentos que resultaram das cruzas,
seja entre sementes com características em comum, seja com sementes com
características distintas.
Coloquemos os acontecimentos numa perspectiva simplificada, a fim de
compreender como a diversidade se estabelece como regra nessa dinâmica
genética.
Da mistura de ervilhas iguais brotaram ervilhas diferentes da origem. Da
mistura de iguais com diferentes resultaram-se ervilhas iguais entre si dentre as
que brotaram, mas diferentes duma parcela significativa das ervilhas originárias.
Trata-se de uma explicação que simplifica a maneira de observar o fenômeno,
pois, se acompanharmos o experimento com mais acuro e considerarmos a
especificação genética de cada ervilha, notamos que todas são diferentes, por
possuírem um DNA distinto e singular. O que não podemos negar é o fato de que,
seja em termos simplificadores ou numa perspectiva mais acurada, a natureza
parece se apresentar como uma usina produtora de diversidade,
independentemente da expectativa humana.

1.2 A diversidade entre seres humanos

Tendo compreendido a dinâmica da natureza na formação genérica dos


seres vivos, tomando como base o experimento de Mendel, podemos estender o
exemplo para a humanidade. Convém fazer isso porque compreender a
diversidade como algo que se inscreve na natureza é um desafio contemporâneo,
uma vez que presenciamos diversos conflitos e dificuldades sociais que existem
em decorrência da não compreensão disso como algo natural. Em outro momento,
aprofundaremos essa temática, porém agora convém que façamos o nosso
próprio experimento.
Atente para outros seres humanos ao seu redor. Note como cada ser
humano é diferente. Cada pessoa tem um tipo de corpo singular, com determinada
forma, com determinada tonalidade de pele, com determinado tipo de cabelo.
Cada pessoa tem uma voz, um modo de se exprimir distinto. Inclusive, há muitas

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pessoas que se exprimem sem fazer o uso da voz, mas articulando o corpo em
prol da comunicação.
Portanto, a diversidade é algo presente na natureza, entre seres humanos
e seres não humanos. Como a natureza é diversa, segue-se que a forma de
conviver com ela também se diferencia. Por isso, as visões de mundos dos mais
diversos grupos humanos também são diversas, produtos da natureza, essa usina
de diversidade.

TEMA 2 – EDUCAÇÃO INCLUSIVA

Diante da diversidade existente entre as pessoas, medidas de inclusão que


contemplem o público mais diverso possível passam a ser uma exigência,
sobretudo nos dias de hoje. Isso porque a diferença se estabelece como regra na
dinâmica da natureza, como você acompanhou na seção anterior.
Essa exigência é um desafio porque procuramos organizar as nossas
instituições segundo normas. Numa escola, por exemplo, organizamos os
estudantes em turmas que se distinguem por frequentarem salas diferentes. De
alguma maneira, seguimos um padrão na prática formativa. O desafio que se
coloca é o de repensar esses padrões, uma vez que o público de pessoas
envolvidas com a prática formativa é diverso.
É por esse motivo que precisamos pensar em práticas de inclusão no
ambiente formativo, as quais dizem respeito à estrutura de um ambiente formativo,
à maneira pela qual organizamos estudantes em sala de aula e à forma na qual
articulamos a nossa comunicação durante a exposição do conteúdo. É evidente
que esse desafio não depende apenas de uma pessoa, mas de uma comunidade
envolvida com a educação. No entanto, acreditamos que com iniciativas advindas
de docentes, ou seja, de pessoas que estão mais diretamente envolvidas com o
dia a dia de estudantes, torna-se possível transformar o ambiente formativo de
modo que isso venha a contemplar mais estudantes.

2.1 Os desafios da inclusão: refletindo sobre estruturas

Quando você pensa em dificuldade estrutural, qual é a primeira coisa que


passa pela sua cabeça? Você já subiu ou desceu uma escada com degraus
maiores do que de costume? Você já tentou empurrar um carrinho de
supermercado por uma superfície áspera e com desnível? Em momentos assim,

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você poderia ter pensado: “Isso poderia ter sido feito de outra maneira, para
facilitar a passagem”. Quando pensamos em educação e estrutura formativa
inclusivas, a pergunta que precisamos nos fazer continuamente tem relação com
esse pensamento. Ou seja: para quê dificultar?
Dentre o público diverso que tem o potencial de fazer parte de uma
comunidade formativa, temos que considerar cadeirantes, pessoas cegas, surdas
ou portadoras de outras deficiências. Deficiência é uma palavra no mínimo curiosa
e, por isso, fazemos uso desse termo com alguma reserva. No prefixo dela há a
palavra déficit, oriunda do latim. Déficit quer dizer literalmente falta, de onde
podemos inferir que uma pessoa deficiente seria uma pessoa em que falta algo.
Porém, não podemos afirmar de maneira categórica que as pessoas nas quais se
nota a ausência de uma, por assim dizer, “capacidade” não consigam fazer o que
outras pessoas, nas quais não há essa ausência, fazem no dia a dia. Por exemplo:
há pessoas que não falam, que são mudas. Mas disso não se segue que não
podem se comunicar. Assim como seria equívoco pensar que pessoas cegas não
podem ler, interpretar.
Compreendendo o fenômeno assim, podemos nos perguntar: se uma
instituição não está preparada para acolher pessoas surdas e/ou cegas, falta
nessas pessoas a capacidade suficiente para frequentar determinada instituição,
ou falta na instituição uma estrutura adequada que contemple essas pessoas
viabilizando a entrada e a permanência delas naquele espaço? Onde está a falta?
Nas pessoas? Na estrutura?
Pensando desse modo, podemos considerar que, de acordo com a
perspectiva mediante a qual encaramos o fenômeno, a falta, o déficit, se encontra
nas estruturas e não nas pessoas. Não seriam, nesse sentido, as estruturas
deficientes de uma estrutura que facilite o acesso para essas pessoas? Se existe
a possibilidade de viabilizar o acesso, para que dificultar? É evidente que a
terminologia Pessoa com Deficiência é importante, pois mediante o uso dessa
categoria é possível destacar as pessoas que historicamente sofrem e vêm
sofrendo com estruturas que dificultam a vida delas, pela falta de preparo e de
tecnologia para acolher essas realidades. No entanto, se observamos sob outra
perspectiva, podemos perceber que a deficiência não é um problema das
pessoas, mas do meio social que dificulta o acesso às pessoas.
Se pararmos para pensar sobre isso, encontramos estruturas deficientes
(no sentido que convidamos você a refletir anteriormente), muito presentes no

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meio social de convivência. Você já reparou na presença de calçadas feitas com
pedras desniveladas que deslizam em dia chuva no meio urbano? Em que medida
isso não dificulta a passagem de pessoas idosas, pessoas com cadeira de rodas,
pessoas que usam bengala, pessoas com carrinho de bebê, entre outras?
Estruturas pouco inclusivas existem de um modo geral no meio social. A pergunta
que convém levantarmos é: em que medida isso não se estende para o âmbito da
escola?
Circunscrevendo a problemática na esfera formativa, é possível refletir
acerca de coisas que estão além dos desafios para a acessibilidade de Pessoas
com Deficiência – fazendo uso da categoria mais consolidada.
Retrospectivamente pessoas adultas relatam, nos dias de hoje, que durante o
período escolar foram obrigadas a escrever com a mão direita. A destreza se
tratava de um requisito para a formação, excluindo a possibilidade de fazer uso
do braço esquerdo. Destarte, a operação para a escrita não podia ser canhestra.
Além de rampas com antiderrapante, pisos táteis, textos em braile, pessoas que
se comunicam por linguagem de sinais e outras mudanças estruturais para
acolher as pessoas com deficiência, é um desafio também promover a
continuidade de mudanças as pessoas canhotas. Inclui-se nisso uma
reestruturação da própria linguagem, pois se compreendermos os pressupostos
que permitiram o uso das categorias destreza e canhestra, entenderemos que a
exclusão na prática condiz com a exclusão simbólica no âmbito da linguagem,
conforme abordaremos adiante.

2.2 Finalizando: das barreiras materiais às dificuldades estruturais da


linguagem

Atentando-se para o modo pelo qual os desafios estruturais influenciam nas


condições materiais de lugares físicos que os diversos corpos podem ocupar,
cabe também refletir nas estruturas relacionadas à linguagem e nos usos
semânticos que fazemos popularmente delas no dia a dia. Talvez o termo
canhestro não se faça tão presente em nosso vocabulário, mas a destreza, com
carga semântica que pressupõe o seu oposto, acusa um lugar não físico existente
no imaginário social que não é ocupado por pessoas canhotas.
Isso pode nos levar a pensar outras terminologias e expressões populares
com cargas semânticas semelhantes que operam para delimitar um espaço no
imaginário social ocupado por tipos de pessoas excluídas. Notamos isso nos
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termos mongo, mancoso, baleia; nos verbos judiar e denegrir; na expressão a
coisa vai ficar preta ou baianada etc. Nos próximos tópicos buscaremos explicar
o porquê tais expressões delimitam de forma excludente campos semânticos e de
sentido, e os motivos pelos quais convém evitar dificultar a digna inclusão de
pessoas nas estruturas simbólicas do campo social.

TEMA 3 – DIVERSIDADE NA FORMAÇÃO DEMOGRÁFICA DO BRASIL

Não haveria outra maneira de compreender o Brasil que não como um país
no qual o povo é diverso. Trata-se de um país continental, com ampla extensão
territorial, dividido em regiões com culturas diversas. É um país no qual, em
decorrência de diversos fatores, populações transitam de uma região a outra,
misturando sua cultura originária com a cultura do local onde escolhe viver.
Porém, além desses fatores localizados no país, há ainda outro de relevância
para estudarmos aqui, a saber: a história do Brasil após a invasão colonial
portuguesa. É necessário passarmos por essa etapa com a perspectiva de que,
com esse evento, mais povos passaram a habitar o país, somando-se à diversidade
de povos que já viviam aqui. Esse processo não foi de maneira alguma pacífico.
Você conseguiria pensar na tensão presente nesse contexto em que povos que
aqui já habitavam tiveram ou que guerrear ou se deslocar forçadamente para conter
a opressão portuguesa que queria escravizar os povos originários? Além disso,
você pode supor a dificuldade que os povos oriundos da África tiveram que passar
no Brasil depois de serem sequestrados do continente de origem?
Tais tensões têm implicações até os dias de hoje na cultura brasileira. Por
conta destes acontecimentos hoje temos uma formação demográfica
caracterizada pela diversidade e que também nos propõe os desafios de promover
mais inclusão na prática formativa.

3.1 Colonização: perseguição de povos originários e africanos

Você já deve ter experenciado alguém comunicando que o Brasil “não foi
descoberto, foi invadido”. Caso não tenha ouvido, é interessante que possamos
aqui dialogar sobre essa afirmação. É uma afirmação de caráter polêmico, uma
vez que a História Oficial do Brasil informa que o país foi descoberto em 1500,
ano em que navios de Portugal aportaram na costa deste território que ainda não

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tinha este nome. Inclusive, no Brasil há uma data oficial que celebra esse feito
anualmente aos 22 dias de abril.
Porém, observando o fenômeno com critério, a conclusão mais acertada a
que podemos chegar é a de que houve uma invasão deste território, que já era
habitado por vários povos, com culturas diferentes, cosmovisões diferentes e,
inclusive, idiomas diferentes. Isso porque, se já havia pessoas habitando o local,
seria contraditório sugerir que houve uma “descoberta”. Vamos pensar juntos. Se
você está em sua casa e chega alguém que, desconsiderando o fato de que você
está fazendo uso daquele espaço, se aloja, dá um nome e depois alega ter direito
de posse sobre a casa, temos que concordar que essa pessoa atua como uma
invasora, certo? Essa é a lógica que acompanha o nosso raciocínio proposto nas
linhas acima.

Saiba mais

Para uma compreensão acerca da diversidade de povos originários


existentes no Brasil até os dias de hoje, recomendamos que você acesse o link a
seguir:
POVOS INDÍGENAS NO BRASIL. Disponível em:
<https://pib.socioambiental.org/pt/P%C3%A1gina_principal>. Acesso em: 8 fev.
2023.
Houve, assim, uma invasão. Isso é afirmado pelo líder indígena, escritor e
filósofo Ailton Krenak, no documentário Guerras do Brasil, de 2018. Segundo ele,
os portugueses invadiram o país. Não bastasse isso, invadiram de uma forma
imoral, abusando da boa acolhida dos povos que aqui já habitavam. Krenak
menciona que, antes de violentamente escravizarem indígenas, os portugueses
aprenderam com a tecnologia desses povos e aprenderam como sobreviver nas
florestas. Os diversos povos autóctones compreenderam aqueles seres humanos
como mais um povoado que intentava viver naquele imenso território, junto de
outros povos que já conviviam neste lugar, a despeito de terem características
diferentes.

Saiba mais

GUERRAS do Brasil.doc, Ep. 1: As guerras da conquista. MPA Brasil,


2022. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=1C7eQBl6_pk>.
Acesso em: 8 fev. 2023.

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Ou seja, segundo Krenak (Guerras..., 2018), os invasores agiram de
maneira desleal, abusando da acolhida dos povos indígenas. Por isso o líder
indígena afirma que até hoje o Brasil está em guerra, uma guerra entre os
repressores de indígenas e os povos originários que resistem.
Além disso, outra ação da colonização diz respeito ao sequestro de povos
africanos para o Brasil. Isso fez com que mais povos se somassem à diversidade
de povos já aqui existentes e aos povos invasores. Houve, entre esses povos, a
miscigenação. Mas não nos iludamos. Essa miscigenação não foi pacífica.
Poderíamos sugerir, inclusive, que raras vezes o foi. De acordo com um estudo
publicado no site do Instituto Geledes, podemos inferir que muito da miscigenação
se explica por uma cultura do estupro estabelecida no Brasil. De acordo com o site:

Da meta de analisar 40 mil brasileiros, os pesquisadores já completaram


o sequenciamento do genoma de 1.247. Os voluntários são de todas as
partes do país, o que inclui desde comunidades ribeirinhas na Amazônia
até moradores da cidade de São Paulo. De acordo com os dados, 75%
dos cromossomos Y na população são herança de homens europeus.
14,5% são de africanos, e apenas 0,5% são de indígenas. Os outros
10% são metade do leste e do sul asiáticos, e metade de outros locais
da Ásia. Com o DNA mitocondrial foi o contrário: 36% desses genes são
herança de mulheres africanas, e 34% de indígenas. Só 14% vêm de
mulheres europeias, e 16% de mulheres asiáticas. Somando as
porcentagens femininas, temos que 70% das mães que deram origem à
população brasileira são africanas e indígenas – mas 75% dos pais são
europeus. A razão remonta aos anos colonização portuguesa no Brasil.
O estupro de mulheres negras e indígenas escravizadas era o padrão.
(Gomes, 2020)

Ou seja, entre as pessoas que se voluntariaram para contribuir com a


pesquisa, constatou-se que 70% tinham herança materna de origem nativa (34%)
e africana (36%). Porém, 75% dessas pessoas têm herança paterna europeia.
Diante dessa constatação, como podemos inferir que havia a prática da violência
sexual nessa miscigenação? Basta observar que apenas 14,5% das pessoas têm
herança paterna africana e 14% com herança materna europeia. Logo,
percebemos uma assimetria na miscigenação, pois a maior parte tem herança
paterna europeia e herança materna ou nativa ou africana.
Além disso, houve também diversos investimentos que viabilizaram a
colonização europeia de terras no Brasil, mesmo depois dos períodos colonial e
imperial. Em artigo intitulado “Os cotistas desagradecidos”, o articulista Golin
(2014) afirma no século XVIII o Estado cedeu cotas de terras com medidas que
chegavam a 13.000 hectares dos povos nativos para europeus colonizarem, no
sentido de se desenvolverem economicamente usufruindo deste território. Foi com

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essa história marcada pela violência e pela injustiça direcionada a alguns povos
em detrimento da vantagem de outros que se formou a demografia do Brasil.

3.2 Distribuição populacional segundo censo do IBGE

Essa história fez com que, nos dias atuais, tenhamos uma população
diversificada. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE), em pesquisa de 2010, o Brasil tem uma população de 207.750.291
habitantes, dentre os quais 896.917 são indígenas, divididos em 305 etnias que
se comunicam por 274 línguas diferentes (IBGE, 2010). Essa pouca quantidade
nos mostra o etnocídio que esses povos sofreram ao longo do tempo.

Saiba mais

Por etnocídio compreendemos a sistemática promoção da morte de


determinado grupo étnico por parte ou do Estado ou de outros grupos humanos
intolerantes.
Além disso, o IBGE (2021) também informa que 53,1% da população se
autodeclara negra, categoria que contempla pessoas pretas e pardas. Trata-se de
uma maioria populacional, sobretudo se somar com a população indígena. Mas é
também parcela da população a mais pobre, segundo amostragem do IBGE
(2022). Acompanhando a história do Brasil, você pode compreender os motivos
pelos quais esta parcela da população é a menos favorecida. Trata-se de uma
história marcada pela escravidão e exploração de povos nativos e africanos. Por
isso, ao pensarmos em inclusão da diversidade, não podemos perder de vista
essas particularidades.

TEMA 4 – O PROBLEMA DO ETNOCENTRISMO NA EDUCAÇÃO

Por etnocentrismo na educação entendemos a tendência em considerar


uma etnia como o centro gravitacional que sustenta a prática educativa. Etnia é
uma palavra cuja raiz se encontra na língua grega. No interior da palavra,
encontra-se a palavra grega ethnos, que quer dizer povo, conjunto de pessoas
com o mesmo ethos, que significa costume e que tem também a mesma raiz. O
etnocentrismo seria, assim, a tendência em privilegiar apenas uma cultura
pertencente a um povo.

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Diante disso, o que seria propriamente um etnocentrismo na educação?
Seria a prática educativa que leva em conta apenas um ethnos, uma etnia, um
povo, uma cultura. Seria, assim, uma prática educativa que não contempla a
diversidade de povos e costumes existentes no mundo. Portanto, trata-se de uma
prática formativa que unilateralmente desconsidera a multiplicidade de povos e
costumes.
No contexto de um país colonizado, o etnocentrismo tem a tendência de se
orientar pela cultura do país colonizador e se entende pela cultura daquele povo.
Ou seja, no caso de um país como Martinica, por exemplo, há uma tendência em
alinhar a cultura própria com a cultura da França, país colonizador. Mas a
específica colonização operada pela França em nada impede o alinhamento
cultural com outros países europeus de cultura semelhante. Frantz Fanon (2008),
em Pele negra, máscaras brancas, realizou uma análise de como pensavam os
martinicanos e constatou que havia uma veneração exacerbada pela cultura
europeia e uma aversão pela cultura senegalesa.
Esse apreço pela cultura europeia somado à aversão ao que pertencente
à África expressam o que é a tendência de privilegiar uma etnia em relação às
outras. Assim, opera-se um etnocentrismo quando se valorizam as contribuições
de apenas uma cultura, invisibilizando as demais.
O etnocentrismo se estabelece e se mantém muito em função da
colonização operada em tempos passados com implicações até os dias de hoje.
É algo que é disseminado entre as pessoas ainda que sem intenção consciente,
pois a colonização, de certo modo, invadiu a estrutura mediante a qual as pessoas
pensam e formulam suas opiniões.

4.1 Colonização epistemológica: por que a cultura europeia é a base do


nosso pensar?

Você já teve a experiência de presenciar alguém comunicando uma ideia


de que nada que é brasileiro é bom o suficiente quando em comparação com
algum país europeu? Ou então que coisas europeias são melhores do que na
América Latina? Ou ainda que, no Brasil, as únicas coisas boas são aquelas
provenientes da influência da Europa? Essas perguntas são apenas para
iniciarmos o nosso diálogo acerca de conceitos como colonialidade do poder, do
sociólogo peruano Aníbal Quijano (1930-2018) e complexo de vira-lata do
jornalista e dramaturgo brasileiro Nelson Rodrigues (1912-1980). Na articulação
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desses conceitos, podemos compreender como se deu uma colonização
epistemológica no contexto da educação, uma colonização que afeta a produção
e a difusão do conhecimento e da cultura.
A colonialidade do poder (2002) é uma dinâmica existente no mundo em
que o poder colonial se estabeleceu de tal maneira que as pessoas compreendem
a suposta superioridade dos povos colonizadores e a suposta inferioridade de
povos colonizados como algo normal. Complexo de vira-latas foi um conceito
forjado na ocasião em que a Seleção Brasileira de Futebol perdeu a Copa do
Mundo em 1950. Com esse conceito, o dramaturgo fazia referência ao trauma da
derrota por parte de torcedores. Segundo ele, o fato de os brasileiros se
autodepreciarem, a despeito da campanha boa do time que chegou à final,
mostrou algo que era geral e que ele se referiu como sendo um narcisismo às
avessas. Em resumo, o complexo de vira lata é a conduta de se autodepreciar
culturalmente, baseando-se no pressuposto de que tudo o que é estrangeiro é
melhor.
Para Quijano, esse complexo de inferioridade se instala nas pessoas
colonizadas em decorrência das investidas coloniais permeadas de informações
que afirmam a superioridade europeia. Góes (2018) nos explica como europeus
se consideraram os melhores seres humanos do mundo, se autorizaram a
dominar outros povos e espalharam pelas colônias essa ideologia eugenista. Isso
contaminou as demais culturas, de modo que é possível presenciarmos, ainda nos
dias de hoje, pessoas que desconsideram a própria cultura a fim de venerar a
cultura europeia. O problema não está na cultura europeia em si, cujas
contribuições são inegáveis. Há um problema na medida em que a negligência
em relação a algumas culturas se instaura e a diversidade é negada. Assim, nega-
se também a natureza, se a consideramos como uma usina produtora da
diversidade.

4.2 Refletindo o etnocentrismo na educação

Tendo compreendido em linhas gerais os conceitos, convém algumas


perguntas: quantos referenciais teóricos não-europeus você usa em aula? De que
maneira as contribuições de personalidades negras na história aparecem em suas
aulas? Quantas vezes você abordou os saberes do Tibete ou de qualquer outro
país do Oriente? Você já trabalhou com quantos materiais didáticos que contam
a história do Descobrimento do Brasil na perspectiva dos povos originários? Você

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sabia que sem a contribuição de povos africanos dificilmente a ciência teria se
desenvolvido no continente europeu?
Ao estudarmos a filosofia antiga, nos deparamos com a informação de que
a ciência surgiu no contexto da Grécia por causa da separação entre mito e
ciência. Porém, como negar o fato de que os povos do Kemet (Egito), país do
norte da África, não desenvolviam uma ciência? Não podemos negar que havia
um sistema de escrita, que compreendemos como hieróglifos. As pirâmides nos
dão mostras de uma ciência da engenharia que até hoje é misteriosa para
arqueólogos.

Saiba mais

Kemet é a palavra mediante a qual o povo situado no país do norte da


África, por influência ocidental, chama o Egito.
Isso se estende para os saberes advindos do Oriente, do Oriente Médio.
Ainda que não seja exigida uma formação em medicina para a sua prática, a
acupuntura tem se mostrado um método eficaz para remediar dores e lesões do
corpo. A ioga, originária da Índia, é um saber que, para além de auxiliar a mente
e o espírito, auxilia no corpo na precaução de enfermidades relacionadas com as
articulações. Do Oriente Médio e do Norte da África temos conhecimento de vários
códigos presentes na nossa ciência usual. Podemos mencionar os números
arábicos – muito comuns e usados por pessoas que enxergam – e a diversidade
das palavras que iniciam com al numa referência a Alá, Deus para esta cultura.
Isso acontece porque a colonização mental influencia na prática educativa.
A colonialidade do poder opera na educação, na medida em que as contribuições
científicas de outros povos diferentes dos europeus são negligenciadas. De
acordo com a filósofa Oyèronke Oyěwùmí (2021) na obra A invenção das
mulheres (2021), a diversidade fica comprometida também quando há a
desconsideração das contribuições de mulheres, algo que também herdamos do
modo europeu de proceder. Essa ausência de referências para além das
contribuições europeias nos indicam, por fim, um problema de representatividade
nas práticas do ensino.

TEMA 5 – IMPORTÂNCIA DA REPRESENTATIVIDADE NAS PRÁTICAS


EDUCATIVAS

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Você pôde acompanhar nas discussões anteriores que a diversidade é algo
que faz parte da natureza, a ponto de arriscarmos dizer que a natureza é uma
usina produtora de diversidade. A própria dinâmica da natureza, de acordo com o
experimento de Mendel, recusa a preponderância de um só tipo de ser em
detrimento da ausência de seres com características diferentes.
Contudo, maneiras de pensar que intencionaram promover a uniformidade
na característica dos seres foram sendo sugeridas no decorrer da história, o que
teve implicações que se arrastam até os dias de hoje. Há uma influência na
educação, na prática formativa, uma vez que, de maneira geral, as ciências são
pensadas com base na contribuição europeia.
Porém, não se trata de um problema de professoras e professores,
gestores e gestoras, ou pedagogas e pedagogos. Trata-se de algo que está
inculcado no contexto brasileiro, algo que pode ser estendido, grosso modo, para
outros países que foram colonizados. Assim como é preciso adaptar e adequar a
estruturação física de instituições para acolher pessoas diferentes por conta de
alguma deficiência, é preciso também reformar o nosso modo de pensar e de se
comunicar com o mundo, a fim de retirar do campo simbólico da linguagem partes
da nossa estrutura de pensamento que obstam a compreensão de pessoas de
cultura diferente como seres humanos dignos.
De maneira direta, é preciso uma reforma na consciência para que
estruturas de pensamento contidas de resquícios de xenofobia, sexismo, racismo
sejam retiradas e substituídas por estruturas que, ao invés de excluírem, incluam.
Assim como podemos operar o movimento de substituir degraus por
rampas, adaptar superfícies para se tornarem pisos táteis, é possível também
substituir expressões populares e palavras por outras expressões que possam ter
o mesmo efeito para a comunicação.
Mas, além dessa reforma interna, é importante também reformar o que
apresentamos ao mundo, ou seja, as referências com base nas quais
intencionamos representar uma ideia, um conceito. Trata-se, pois, da importância
da representatividade para pensarmos outros valores, outros padrões que incluam
a diversidade de corpos e culturas.

5.1 Desafios da representatividade

Para o nosso contexto de estudo, representatividade significa meios pelos


quais buscamos fazer com que um público se sinta representado em uma

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dinâmica comunicativa. Pensando em um público discente, trata-se de oferecer
meios mediante os quais este seja contemplado nas intervenções docentes em
sala de aula.
Para melhor compreensão da importância da representatividade,
oferecemos um exemplo de como a não representatividade pode ser danosa para
contemplar um público. Um clássico exemplo é a representação de Machado de
Assis (1839-1908), um dos maiores escritores brasileiros e considerado um dos
maiores contistas lusófonos de todos os tempos, como sendo branco. Essa
representação dá a ideia de que o êxito intelectual está relacionado apenas com
a pele branca, como se pessoas negras não pudessem ser bem-sucedidas nesse
campo. Sendo o Brasil um país em que a população é composta majoritariamente
de pessoas negras, a representação de Machado de Assis não é apenas uma
falha em relação à história, mas também uma falha que não permite que a maioria
da população do Brasil represente a ideia de êxito e reconhecimento no campo
intelectual com a cor negra. Trata-se de uma prática que influencia na autoestima
de pessoas negras, pois forja uma ideia mentirosa de que apenas pessoas
brancas podem ser consideradas intelectuais. É um obstáculo, portanto, análogo
à corda no braço esquerdo de pessoas canhotas que as impedem de agir segundo
as suas naturezas, obrigando-as a comprar a ideia de que o correto é usar o braço
direito. É nesse sentido que a representatividade se faz importante.
Um modo de realizar isso é mediante referenciais teóricos pertencentes aos
grupos humanos distintos dos europeus. Entre os povos originários, entre as
personalidades negras, orientais, entre outras, encontramos contribuições nas
artes, nas letras, na filosofia, na sociologia, na matemática. Qual tal trazer isso
para a sala de aula? Que tal trazermos mais nomes como Davi Kopenawa, Silvio
Almeida, Confúcio, bell hooks, Luiz Gama, Neil deGrasse Tyson, Avicena, Sonia
Guajajara para as nossas aulas? Qual tal mais imagens de corpos com fenótipos
distintos do europeu em nossas apresentações de slides e materiais didáticos?
Este é um convite que fazemos a você, para que possamos progredir neste
movimento que busca desobstruir estruturas simbólicas pertencentes à linguagem
e que têm implicações na vida prática das pessoas, tal como a história nos
mostrou.

5.2 Representatividade e diversidade

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Ao ampliarmos o nosso repertório de referências que representam o nosso
público discente, contribuímos para reparar as estruturas que obstruem o
reconhecimento de pessoas com cultura e traços fenótipos distintos das
características europeias. São estruturas psíquicas que, analogamente às
estruturas físicas, podem dificultar o acesso dessas pessoas a um universo
simbólico digno.
Nesse mesmo sentido, também é importante a busca por
representatividade entre as pessoas com deficiência, como pessoas também
passíveis de ocupar os espaços sociais que desejarem.
Como vimos, a natureza se manifesta numa dinâmica em que a diversidade
é pressuposta. Cabe a nós, formadores, a tarefa de acolher a natureza, acolher
tudo o que é fruto da dinâmica natural da geração da vida. A tendência
uniformizadora é uma invenção humana que já foi posta em prática em
determinados contextos, tendo como consequência implicações prejudiciais à
humanidade. Um exemplo é o que se deu durante o regime nazista, que culminou
na Segunda Guerra Mundial. Com um propósito eugenista, o partido nazista
perseguia grupos humanos que julgavam imperfeitos por conta da diferença deles.
O projeto de compreender a diversidade cultural como prática na educação
está na contramão daquele projeto, pois busca representar, valorizar, respeitar e
acolher a diversidade, compreendendo-a como fruto da dinâmica natural.

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REFERÊNCIAS

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Edufba, 2008.

GÓES, W. L. Racismo e eugenia no pensamento conservador brasileiro: a


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Disponível em: <https://www.geledes.org.br/brasil-e-nacao-construida-em-estupro-
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População: Indígenas. IBGE, 2010. Disponível em:
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_____. Desigualdades Sociais por Cor ou Raça no Brasil. IBGE, 2022. Disponível
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os discursos ocidentais de gênero. Tradução Wanderson Flor Nascimento. Rio de
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