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1

Prefeitura Municipal de Passo Fundo


Secretaria Municipal de Educação

Airton Lângaro Dipp


Prefeito Municipal

Rene Cecconello
Vice-Prefeito Municipal

Vera Maria Viera


Secretária de Educação

Gestão 2009/2012
Passo Fundo - RS

2
PREFEITURA MUNICIPAL DE PASSO FUNDO

Airton Lângaro Dipp


Prefeito

Rene Ceconello
Vice-Prefeito

Vera Maria Vieira


Secretária de Educação

Maria Salete Fernandes


Coordenadora de Educação

NÚCLEO DE EDUCAÇÁO INFANTIL


Silvia Maria Scartazzini
Teresinha Indaiá Mendes Fabris
Enir dos Santos Tormes
Michele do Amaral de Oliveira
Bolsista/PROPET

3
CONHECENDO O MUNDO
do saber infantil ao
conhecimento científico
Projetos de trabalho na Educação Infantil

O conteúdo dos projetos são de inteira responsabilidade dos autores.

4
Silvia Maria Scartazzini
Teresinha Indaiá Mendes Fabris
Editoria de Texto

Ingrid Denise Garbin


Revisão de Texto

Michele do Amaral de Oliveira


Capa e Diagramação

Michele do Amaral de Oliveira


Silvia Maria Scartazzini
Editoria e Composição Eletrônica

CIP – Dados Internacionais de Catalogação na Publicação


_________________________________________________________________

C743 Conhecendo o mundo: do saber infantil ao conhecimento científico :


projetos de trabalho na educação infantil [recurso eletrônico] /
Silvia Maria Scartazzini, Ingrid Denise Garbin, Teresinha Indaiá
Mendes Fabris, organizadoras . – Passo Fundo: Prefeitura de
Passo Fundo, 2012.

Modo de acesso: <http://www.p mpf.rs.gov.br>


Inclui b ibliografia.

1. Educação de crianças. 2. Educação de crianças - Projetos. 3.


Práticas de ensino. 4. Educação pré-escolar. I. Scartazzini, Maria
Silvia, coord. II. Garb in, Ingrid Denise, coord. III. Fabris, Teresinha
Indaiá Mendes, coord. IV. Título

CDU: 373.2

_________________________________________________________________
Bib liotecária responsável Daniele Rosa Monteiro-CRB 10/2091

5
PREFÁCIO

Redescobrindo o mundo pelos olhos das crianças

Estamos aqui diante de uma “obra”. Uma obra forjada a muitas


mãos: mãos pequenas, mãos grandes, mãos iniciantes na vida, mãos que
carregam marcas da experiência. Uma obra que se fez densa e forte no
percurso de sua produção. Um percurso marcado pelo desafio, pela
iniciativa, pela coragem de que se investiram seus autores de deslocarem-
se da zona de conforto proporcionada pelo cotidiano e de ocuparem
espaços não usuais, relacionarem-se com personagens não previstos pelo
script e expandirem intensamente o tempo cronológico estabelecido.
Nessa obra, pulsam vozes cheias de vitalidade. Vozes adultas,
vozes infantis. Vozes que se amalgamam na busca por descobrir o mundo
à sua volta. Vozes que indagam, que se marcam reciprocamente, que se
apoiam, imersas em belos enredos atravessados por conhecimentos e
experiências de diferentes procedências.
Essas vozes dizem seus cotidianos, mas não somente o cotidiano
que vai por si mesmo ou que, aparentemente, não tem necessidade de ser
dito, mas um cotidiano que se renova, que se torna um trampolim para o
possível, que mostra que se há desestímulos, há também o tempo de sua
superação.
É nesse cotidiano que observamos processos intensos de
transformação. Instados a superar os seus limites, sujeitos mostram o seu
melhor e investem em sua capacidade de inovar. Cada um a sua maneira,
cada um segundo suas possibilidades, cada um de um ponto de partida
6
diferente.
Nesta obra estão registros de pessoas que estão marcando a
história da rede municipal de ensino. Seus autores – professoras da
Educação Infantil –, juntamente com os demais membros de sua
categoria, participaram (e ainda participam) da constituição de um modo
de atender a criança pequena que investe em sua educação, no cuidado
com o seu desenvolvimento e com a ampliação de seus horizontes.
Desde 1996, a Educação Infantil passou a integrar o ciclo da
Educação Básica. O que isso significa? Juntamente com o Ensino
Fundamental e o Ensino Médio, ela é responsável por prover cada novo
membro da sociedade de um conjunto de conhecimentos, de um alicerce
educacional que lhe permita prosseguir aprendendo ao longo de toda a
vida. Isso implicou uma transformação muito grande em relação à
herança dos tempos em que a população de 0 a 6 – atualmente 5 – era
objeto da ação da assistência social. Implicou estabelecer objetivos
educacionais, lugares e tempos de aprendizagem, conteúdos de ensino em
acordo com as possibilidades das crianças e com os anseios da
comunidade à sua volta. Ou seja, demandou um currículo.
O movimento de formação dos quadros para atender a essa nova
demanda pautou-se na crença segundo a qual um professor é um
intelectual capaz de produzir currículo. Isso afirma as suas condições não
somente de constituir conteúdos de ensino, mas de considerar em que
tempos e espaços esse ensino pode se dar, que sujeitos atuarão na sua
definição e execução e por que meios esse ensino será organizado. Nesse
percurso, algumas linhas de conduta foram se delineando. Uma delas
materializa-se nos textos expostos nesta coletânea.
7
Rousseau, em meados do século XVIII, defendia que a natureza
dava mostras de que queria que as crianças fossem crianças antes de
serem adultas. Mas o que é ser criança? A leitura dos relatos a seguir
aponta o quanto as professoras estão descobrindo sobre o ser criança no
convívio diário com seus alunos. Também diz muito sobre o que é deixar
viver essa criança em um espaço institucionalizado, carregado de
tradições e de lógicas nem sempre favorecedoras da criatividade, da
curiosidade e da vitalidade que a caracterizam. As autoras chegam a isso
olhando para as crianças, aproximando-se do seu universo e
beneficiando-se da capacidade criativa de inteligir o mundo que elas
possuem. E o fazem mediante um recurso muito simples, o recurso da
escuta. No entanto, não se trata de uma escuta qualquer, mas de uma
escuta que se aproxima do que em pesquisa costumamos chamar de
“escuta sensível”. Uma atitude que busca sentir o universo afetivo,
cognitivo, imaginário do outro para poder comprendê- lo melhor,
compreender suas atitudes, suas ideias, seus valores, seus medos, sua
linguagem. Pela escuta sensível, o professor consegue perceber o lugar
da criança, não a julga, não a compara, aceita-a incondicionalmente.
Sabemos o quanto esta postura exige de nós. A grande maioria
dos professores, quando crianças, não foi vista e ouvida dessa maneira.
Forjar um modo de se relacionar com o outro sem um modelo de
referência mostra o impacto das aprendizagens e das reflexões que ao
longo desses últimos anos se deram. Mais uma razão para admirar esse
grupo que nesta obra se manifesta. O movimento que faz deixa sua
marca. Indica as possibilidades de um processo articulado, coerente e
denso de formação de entrar na vida da escola, fazer diferença na vida
8
das crianças e recuperar a beleza que é poder conhecer guiado pela força
das perguntas. São atos que mobilizam, que impulsionam e que criam.
Expressam modos de interagir com o mundo que fizeram diferença na
história da humanidade. O que seríamos sem a força motriz do
desenvolvimento que há na pergunta?
O meu respeito por esse trabalho está para além dos resultados
que aqui se encontram registrados. Respeito a força que cada professor
carrega de transcender a sua própria experiência como criança,
posicionar-se diante do universo infantil que vem até ele e, deixando-se
envolver pelos impulsos de vida dos bebês, dos meninos e meninas,
percorrer com eles uma trajetória repleta de novos significados, de
descobertas.
Não obstante todas as forças que convergem para a deterioração
da profissão docente, essa experiência mostra que é possível ser feliz
sendo professor e que, contagiados pelas crianças que nos rodeiam,
poderemos e temos forças para construir uma escola feliz.

Adriana Dickel
Passo Fundo, novembro de 2012.

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SUMÁRIO

Reco mpondo o percurso: entrelaçando ideias em projetos d e trabalho ...................... 13

1. INDICADORES METODOLÓGICOS .................................................................................. 20

NATUREZA ............................................................................................................................... 20

LINGUAGEM ............................................................................................................................ 26

MOVIMENTO ........................................................................................................................... 31

MATEMÁTICA .......................................................................................................................... 36

SOCIEDADE .............................................................................................................................. 40

ARTE.......................................................................................................................................... 46

2. PROJETOS............................................................................................................................ 49

ABELHAS E BORBO LETAS DANDO ASAS AO SABER .......................................................... 49

BRINQ UEDO DE PLÁSTICO .................................................................................................... 56

CAIXA D’ÁGUA ........................................................................................................................ 61

COMO CUIDAR DO BEBÊ ....................................................................................................... 68

CONTRACHEQUE..................................................................................................................... 72

FRIO........................................................................................................................................... 79

LUA ............................................................................................................................................ 83

POR QUE TA NTA CASINHA IGUAL? ...................................................................................... 87

O QUE TEM DENTRO DO CAMINHÃO? ............................................................................... 92

TUCANOS ............................................................................................................................... 101

CUECA OU CALCINHA........................................................................................................... 108

O MOFO ................................................................................................................................. 116

AS FORMIGAS ........................................................................................................................ 120

OLHA PRÔ! A ÁRVORE TÁ PELADA!................................................................................... 127

PRÔ, OLHA O SAPO! ............................................................................................................. 131

PRÔ, TU TEM FERRO NA BOCA? ........................................................................................ 138


10
A BARRIGA DA PRÔ .............................................................................................................. 141

O QUE SE ESCONDE ATRÁS DA PORTA? ........................................................................... 145

SOMBRA ................................................................................................................................. 148

AS GALINHAS ......................................................................................................................... 151

BEZERRO ................................................................................................................................ 155

CAÇA AO PIOLHO .................................................................................................................. 158

CAMINHÃO DO CD ............................................................................................................... 161

CAVALO .................................................................................................................................. 165

FORMIGAS ............................................................................................................................. 170

MINHOCA OU MINHOCO? .................................................................................................. 175

MÚSICA NA ESCOLA ............................................................................................................. 183

O NENÊ ................................................................................................................................... 187

PRÔ, TEM UM SAPO NA TUA MOCHILA? ......................................................................... 194

PANO MOLHADO .................................................................................................................. 198

RECICLAGEM ......................................................................................................................... 201

POLENTA ................................................................................................................................ 204

O ARCO-ÍRIS DO CARACOL .................................................................................................. 211

PRETINHA, A CACHORRINHA .............................................................................................. 216

AU, AU .................................................................................................................................... 218

FEIJÃO ..................................................................................................................................... 222

GOLFINHO .............................................................................................................................. 225

LUA QUEM É VOCÊ?............................................................................................................. 229

DONA ARANHA ..................................................................................................................... 234

ÁRVORE .................................................................................................................................. 239

QUEM BOTOU O LIXO ALI? ................................................................................................. 242

FRANGO ................................................................................................................................. 244

POR QUE A BORBOLETA ESTÁ PARADA? .......................................................................... 247


11
BRINCAR E APRENDER NA ERA DIGITAL ........................................................................... 255

SARDINHA - “O QUE É ISSO?”............................................................................................. 259

LÁPIS ....................................................................................................................................... 262

DE ONDE VEM O LEITE? ...................................................................................................... 264

OLHA O CAVALO!.................................................................................................................. 270

ARMÁRIO ............................................................................................................................... 273

COMO NASCE O FEIJÃO? ..................................................................................................... 281

BICHO ESQ UISITO ................................................................................................................. 284

PRÁ ONDE VAI O DENTE VELHO? ...................................................................................... 285

A PINHA DO PINHÃO............................................................................................................ 291

COMIDINHAS GOSTOSAS .................................................................................................... 296

NÃO GOSTO DE CARNE DE GALINHA, SÓ DE CAVALO, TEM? ........................................ 300

SÃO ÍNDIOS, PRÔ? ................................................................................................................ 302

POR QUE MEU DENTE CAIU? .............................................................................................. 317

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Recompondo o percurso:

entrelaçando ideias em projetos de trabalho

Silvia Maria Scartazzini 1


Teresinha Indaiá Mendes Fabris 2

Escola, lugar de vida, de encontro de sujeitos e suas histórias.


Espaço onde, tradicionalmente, se torna possível, aos que a frequentam,
apropriarem-se dos conhecimentos científicos e culturais produzidos pela
humanidade.
Desde que a educação infantil passou a fazer parte deste contexto,
muitas têm sido as indagações que se colocaram a este nível de ensino.
Especialmente relevantes são aquelas que discutem o espaço do cuidar e
do educar, como se fosse possível uma prática pedagógica que fizesse
opção por uma dessas ações em detrimento da outra.
Romper com a ideia de uma instituição que, historicamente se
ocupou em prover os cuidados básicos dos pequenos, e torná- la capaz de
olhar a criança para além de fraldas e mamadeiras, percebendo em seus
gestos, em suas palavras e em suas brincadeiras o sujeito que ali se
encontrava, fez com que a administração municipal de Passo Fundo se
preocupasse em oferecer, aos seus profissionais, espaços coletivos de
estudo e de reflexão.

1
Mestre em Educação. Coordenadora do Núcleo de Educação Infantil da Secretaria de
Educação, da Rede Municipal de Passo Fundo. Professora da Faculdade de Educação da
Universidade de Passo Fundo – RS.
2
Psicopedagoga. Coordenadora Pedagógica do Núcleo de Educação Infantil da
Secretaria de Educação, da Rede Municipal de Passo Fundo.
13
Nasce o programa de formação continuada (Re)significando
Saberes na Educação Infantil, para os professores da rede municipal, que
se desenvolveu de 2007 a 2012.
Esta formação continuada diferenciou-se de cursos e treinamentos
desvinculados da prática pedagógica do educador. Procurou romper com
uma metodologia verticalizada, que por envolver um conjunto de
conteúdos e atividades pré- estabelecidas, desconsidera o contexto da
aprendizagem, deixando pouco espaço para uma atuação ativa, criativa e
crítica dos educadores. Buscou, nesta perspectiva, como sugere
Stenhouse (1981, p.211), que os educadores adotassem uma atitude
investigadora perante suas ações pedagógicas, entendendo “atitude
investigadora” como “uma disposição para examinar a própria atividade
prática de uma forma crítica e sistemática”. Ainda, Elliott (1990), ressalta
a importância de o educador estar constantemente refletindo na e sobre
sua ação, pois só assim amplia e enriquece a sua bagagem de
conhecimento profissional. Ensino e pesquisa são dois processos que,
quando imbricados na ação do educador, vão garantir o seu
desenvolvimento profissional e, consequentemente, a melhoria de sua
ação pedagógica.
Assim, foi fundamental que o programa propusesse uma
metodologia de formação continuada que possibilitasse o encontro dos
educadores em grupos de estudo. A interação, o intercâmbio de saberes,
as análises reflexivas das experiências socializadas e a proposição
coletiva de diferentes fazeres pedagógicos tornaram-se estruturantes na
efetivação de um novo paradigma de trabalho.

14
No decorrer desses anos, diferentes aspectos curriculares
tornaram-se objeto de estudo, sempre considerando que a natureza do
trabalho pedagógico requer domínio de saberes específicos das diversas
áreas do conhecimento, bem como daqueles relativos às metodologias e a
compreensão dos processos presentes no planejamento, na organização
curricular e na avaliação.
Nos anos de 2007 e 2008 constituímos grupos de estudos onde os
professores, tomando a prática pedagógica como objeto de análise e
interpretação, articularam sua prática com teorias pedagógicas mais
atualizadas e com os indicadores nacionais para educação infantil. Dessa
etapa da formação resultou uma obra elaborada coletivamente, o
Referencial Curricular Municipal que, no momento, orienta o currículo
das escolas municipais.
De 2009 a 2012, a metodologia pedagógica fo i colocada como
prioridade de estudo nos encontros de formação. Dedicamo- nos à
construção de indicadores metodológicos que permitissem a transposição
didática do referencial curricular para a prática pedagógica, tornando-a,
assim, uma prática vivenciada. Tais indicadores estão referendados em
textos, que nascem da reflexão coletiva, tendo sido sistematizados pela
assessoria de cada área do conhecimento, e que se encontram transcritos
na primeira parte deste caderno.
Os momentos de formação foram mostrando que era necessário
colocar a criança como o centro do planejamento. Assim, pensar uma
escola para crianças pequenas implicava em tê- las como sujeito desse
processo de ensino e aprendizagem. Incorporar esse princípio a uma
prática pedagógica constituía-se no grande desafio do programa de
15
formação. Então, enquanto discutíamos a prática nos encontros,
procurávamos autores que dessem conta de nosso problema: uma ação
pedagógica para a criança pequena a partir da própria criança. Essa busca
remeteu-nos ao planejamento dentro de um contexto de projetos de
trabalho.
Os Projetos de trabalho, porém, não poderiam ser qualquer
sequência de atividades com temas de interesse das crianças.
Precisávamos ir além. Era necessário ter a criança participando
ativamente nessa ação pedagógica, inserida em seu contexto cultural,
tendo possibilidades de ampliação de seus conhecimentos.
Dessa forma (cf BARBOSA e HORN, 2008; BENEKE e HELM,
2005; HERNÁNDEZ, 1998), passamos a considerar projetos de trabalho
numa perspectiva interdisciplinar, na busca por resolução de problemas.
Segundo Barbosa e Horn, resolução de problemas passa a ter
conotação de reflexão a cerca de um mesmo tema, quando:

A organização do ensino por meio de projetos pretende


fazer as crianças pensarem em temas importantes,
permit indo-lhes refletir e indagar a atualidade, a vida fora
da escola, escutando e aprendendo com os demais. Esse
caminho de construção coletiva permite às crianças
aprender a estudar, pesquisar, exercer a crítica, argumentar,
enfim, pensar.
Co locar em prát ica essa ação pedagógica, projetos de
trabalho, remeteu-nos a reflexão em relação à estruturação
desta forma de planejamento, uma vez que existem vários
elementos interligados que sustentam este fazer. Vários são
os sujeitos que se integram nes sa ação: criança, professor e
família, num primeiro mo mento e, posteriormente, todos
aqueles outros que possam dar suporte ao tema em
discussão. Nosso olhar precisava deslocar-se do lugar onde
estava ancorado para encontrar novos pontos de
observação. (2010, p.11)

16
Neste momento, o desafio foi compreendermos de onde nasce m
os projetos, de que forma tratar a situação problema que se apresenta,
quem seriam os sujeitos envolvidos nesse processo e de que forma se
daria a atuação de cada um.
Procurando saber de onde nascem os projetos, encontramos em
Henández (1998) alguns princípios a serem considerados: ter um
percurso guiado por um tema-problema que favoreça a análise, a
interpretação e a crítica; ter atitude de cooperação entre todos os sujeitos
envolvidos. Ao professor cabe saber que cada percurso é singular,
exigindo diferentes formas de abordagem e escuta das vozes dos outros.
Há diferentes formas de aprender aquilo que pretende ensinar e que cada
um aprenderá aquilo que lhe for possível no momento, desde que lhe seja
oportunizado explorar seu próprio conhecimento na interação com
materiais didáticos e conhecimentos de outros.
Barbosa e Horn (2008) anunciam a escuta das vozes infantis
como sendo o lugar de onde derivam as melhores situações-problemas
para serem trabalhadas com as crianças. Escutar as vozes infantis não é
uma tarefa das mais simples, é preciso educar-se para tal e ainda,
estruturar momentos em que as crianças possam expressar suas
considerações, afirmações e hipóteses a cerca do mundo em que estão
inseridas. É a partir de uma postura de observação e investigação que o
professor conseguirá perceber o que as crianças realmente almejam
aprender.
Com a situação-problema definida, cabe ao professor propor
atividades que o auxiliem a descobrir o que mais as crianças conhecem
do tema em questão. O processo que se deflagrará vai levar o professor e
17
sua turma por caminhos nem sempre conhecidos. Sendo assim, o
professor precisa estudar de modo aprofundado o tema a ser discutido,
para que possa mapear os percursos, iniciando a investigação, a reflexão
e estabelecendo os propósitos do estudo.
As diferentes maneiras com que o professor organiza os
conteúdos curriculares e as estratégias didáticas para responder as
perguntas dos alunos é que servirão de suporte para que as crianças
estabeleçam relações iniciais com o tema e reorganizem conceitos.
Assim, as aprendizagens realizadas nesse processo não resultarão num
simples somatório de informações isoladas.
É nessa etapa, também, que se define: o que precisa ser feito;
como o trabalho pode ser desenvolvido; como podemos obter os
materiais; como serão distribuídas as responsabilidades e tarefas; quem
pode colaborar e de que forma será essa colaboração. Isso nos mostra que
a estrutura de um projeto de trabalho não é rígida ou pré- determinada. O
planejamento não estará pronto em um único momento, tampouco será
realizado por uma única pessoa, “[...] as crianças participam da gestão
desse processo, propiciando-se, assim, que o poder do planejamento seja
distribuído entre os adultos e as crianças” (BARBOSA e HORN, 2008,
p.58).
Transpor a etapa da discussão e efetivar projetos de trabalho nas
escolas, por muitas vezes provocou insegurança nos professores. Isso,
principalmente, porque não é possível que se tenha, desde o princípio, o
domínio do desenvolvimento integral do projeto uma vez que ele vai
sendo constituído aos poucos. Mas isso não foi um impedimento para que

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o grupo de professores da educação infantil da rede municipal efetivasse
a ação pedagógica nas escolas através de projetos de trabalho.
Estudo, reflexões e discussões marcaram os diferentes momentos
de construção teórico-prática acerca de projetos de trabalho. Muitas
dúvidas e angústias perpassaram esse caminho trilhado coletivamente por
aqueles que integram a educação infantil, e ousaram lançar-se no
desconhecido.
Significativas aprendizagens e momentos de emoção não faltaram
a todos os envolvidos nesse processo que ora se materializa neste
caderno, através das vivências aqui registradas. E para quem se permitiu
aprender, fica a certeza de que projetos de trabalho tornam o professor
cidadão, condutor de seu próprio conhecimento e capaz de gerir um
currículo adequado ao grupo de crianças pelas quais é responsável.

Referências Bibliográficas

BARBOSA, M. C. S., HORN, M.G. S. Projetos Pedagógicos na


Educação Infantil. Porto Alegre: Artmed, 2008.

____________ Plantando em solo fértil. In: Revista Pátio, ano VIII,


Jan/Mar 2012, ISSN 1677-3721, nº 22.

ELLIOTT, J. La investigación-acción em educación. Madrid Morata,


1990.

HERNÁNDEZ, F. Transgressão e mudança na educação: os projetos de


trabalho. Porto Alegre: Artmed, 1998.

STENHOUSE, L. Investigación y desarrollo de currículo, 3. Ed. Madrid:


Morata, 1991.

19
1. INDICADORES METODOLÓGICOS

NATUREZA
Sylvana Carpes Moraes3

O valor do trabalho com a natureza não está em


experimentos sofisticados, mas sim na simplicidade das
descobertas. Parafraseando Guimarães Rosa “... a coisa
não está nem na saída, nem na chegada, mas sim na
travessia...” O que queremos é que as crianças
permaneçam curiosas e instigadas a experimentar e
descobrir sobre coisas simples do nosso cotidiano. 4

As crianças, em sua singularidade enquanto sujeitos humanos


mostram-se ávidas por conhecer e adentrar o mundo, dele se apropriarem
e terem possibilidades de transformá-lo, (re) significando-o. O presente
texto faz incursões breves a respeito dos princípios teórico-
metodológicos que entendemos devam orientar uma proposta de ação
investigativa da criança, tendo o professor como mediador na
transposição dos conhecimentos cotidianos aos científicos. Indica ainda,
implicações requeridas para a permanente revitalização da ação
pedagógica na Instituição de Educação Infantil.
A exploração do mundo pela criança, incluindo a compreensão da
natureza humana e ambiental, precisa ser regida por ações que permitam
o estabelecimento de relações entre as concepções prévias que a mesma

3
Mestre em Educação. Professora da Faculdade de Educação da Universidade de Passo
Fundo - RS. Assessora do Programa de Formação Continuada (Re)Significando Saberes
na Educação Infantil.
4
Janúsia Guedes Fontes. Professora da EM EI A mizade, da Rede Municipal de Ensino
de Passo Fundo.

20
constrói a partir do mundo natural e cultural e as concepções científicas
que apontam para conhecimentos a serem estruturados com atribuição de
significado: Os conhecimentos são como uma rede. As crianças se
apoiam nos conceitos cotidianos para elaborar e entender os científicos
e, neste processo, a interação e a linguagem são extremamente
importantes.5 Portanto, os conhecimentos são construídos pelas
oportunidades de interação e fala. Assim, é importante atentar para o
papel da escola de educação infantil, enquanto instituição responsável
pelo “cuidar” e “educar”, no sentido de oportunizar de forma inte ncional,
a ascendente compreensão e o aprendizado dos conhecimentos científicos
produzidos e sistematizados na história da humanidade.
Ensinar Ciências da Natureza é ensinar muito mais a perguntar
do que a responder. As situações de ensino e aprendizagem devem
contemplar vivências comunicativas, explicitação de questionamentos,
construção de problemáticas significativas passíveis de investigação,
construção de hipóteses que dialoguem com problemas reais, enfim, o
uso de diferentes estratégias que permitam ao professor, um olhar e uma
escuta, gradativamente mais apurados. Então, entendemos ser necessário
lançar um olhar com “óculos da ciência” para cada gesto, cada fala, cada
expressão da criança vislumbrando uma educação que contemple não
somente a construção de competências e habilidades na execução de
ações de investigação e compreensão, mas também que desencadeiem
processos comunicativos com o uso de diferentes linguagens, que

5
Marilene Fátima Scandiel Ferreira. Pro fessora da EMEI Padre Zezinho, da Rede
Municipal de Ensino de Passo Fundo.
21
valorizem as descobertas das crianças junto aos coletivos que interagem.
Faz-se mister saber como os alunos pensam, concebem conceitos e
proposições conceituais para orientá- los em relação à coerência e
consistência de suas hipóteses: Se aprende muito com a observação, com
as reações, com as caras e bocas (.. .) tudo nos deixa em alerta para
6
sabermos como lidar com as diferentes situações.
Portanto, acreditamos que a articulação entre as descobertas
pessoais e coletivas realizadas junto às famílias e a ampliação da
participação da criança em grupos sociais mais amplos, promove a
essência do papel social que a instituição de educação infantil deva
desempenhar na concretização de algumas estratégias, quais sejam:
promover debates através de inquietações cotidianas, que ultrapassem a
metodologia da superficialidade; realizar coleta de dados a partir de
histórias de vida, depoimentos e pesquisa em diferentes fontes; estimular
diálogos críticos entre os conhecimentos escolares e a realidade social;
oportunizar experiências de sensibilização e consciência corporal
incluindo as questões relacionadas aos elementos, aos fenômenos e à
preservação da natureza. Ainda, intencionar leitura de imagens e objetos
(vídeos, fotos, gravuras, filmes, pinturas), manuseio de livros e impressos
diversos (propagandas, reportagens, panfletos (flyers e e- flayers);
desenvolver jogos e brincadeiras que objetivem a vivência lúdica do
cotidiano; provocar ações que envolvam a literatura infantil como forma

6
Cleo mar de Melo Santos. Professora da EM EI Maria Elizabeth, da Rede Municipal de
Ensino de Passo Fundo.

22
de, através das relações estabelecidas,compreender o mundo natural e
social vivido e assim, criar “novas” formas de ação.
Quando se faz referência à natureza, as crianças precisam
vivenciar práticas que permitam a sensibilização e a internalização de
conceitos que as constituam como sujeitos humanos que primam pela
harmonia entre todos os seus elementos e, especialmente, consigo
mesmo. Neste sentido é responsabilidade da escola possibilitar a
construção e a vivência saudável da sexualidade, permitindo ações de
sensibilidade, cuidado e respeito com o próprio corpo em suas relações
com o outro.
Para tanto, algumas questões se apresentam e se instala m como
propósitos a serem perseguidos pelos profissionais que trabalham com
crianças na faixa etária dos 0 aos 5 anos. A transposição didática precisa
ter como foco a ludicidade e estar alicerçada em saberes e fazeres
planejados e intencionais, subsidiados por crenças e concepções que
envolvem posturas, atitudes, procedimentos, estratégias e ações dos
profissionais da educação responsáveis pela mediação. Atitudes no
sentido de transformar as crianças em sujeitos críticos e construtores de
conhecimentos (re)significados, agindo de forma autônoma, inventando e
criando novos modelos de se relacionar com a cultura e a natureza
auxiliam na definição de estratégias e procedimentos que incidem nas
seguintes questões: flexibilização do tempo e respeito ao ritmo de cada
criança; ampliação de espaços e objetos de ação; superação da
improvisação pelo encadeamento de propostas significativas.
A curiosidade e as necessidades infantis, à medida que o tempo
passa, se ampliam e se diversificam e, na ausência de esquemas de ação
23
reais “as crianças se envolvem num mundo ilusório e imaginário, onde
os desejos podem ser realizados e esse mundo é o que chamamos de
brinquedo” (VYGOTSKY, 1991, p.106). Essas questões têm implicações
na ação pedagógica dos profissionais da educação infantil sendo
inevitável desenhar estratégias adequadas a cada etapa do
desenvolvimento. A criação de situações em que a criança possa através
do jogo, da dança, do teatro, da música, da exploração do seu corpo, dos
colegas, dos familiares e amigos e na exploração dos objetos do mundo
que a cerca, com o envolvimento dos sentidos, é de incontestável valor
enquanto estimulação neurológica para melhoria no desempenho
pedagógico e maior valor social. (SILVA, 1998, p.190).
Nessa perspectiva, acreditamos que os pressupostos teórico-
metodológicos implícitos à ação de todo professor devem atender à idade
e potencialidades das crianças, à natureza do trabalho, à temática bem
como o tempo e o espaço para sua realização.

Quando se tira da criança a possibilidade de conhecer este


ou aquele aspecto da realidade, na verdade se está
alienando-a da sua capacidade de construir seu
conhecimento. Porque o ato de conhecer é tão vital como
comer ou dormir, e eu não posso comer ou dormir por
alguém. A escola em geral tem esta prática, a de que o
conhecimento pode ser doado, impedindo que a criança e,
também, os professores o construam. Só assim a busca do
conhecimento não é preparação para nada, e sim VIDA,
aqui e agora. E é esta vida que precisa ser resgatada pela
escola. Muito temos a caminhar para isso, mas é no hoje
que vamos viabilizando esse sonho de amanhã. (FREIRE,
1989, p.15)

24
Referências Bibliográficas

CRAIDY, Carmem Maria e KAERCHER, Elise P. da Silva (org.).


Educação Infantil: pra que te quero? Porto Alegre: Artemed, 2001.

FARIA, Vitória Líbia Barreto. Currículo na educação infantil: Diálogo


com os demais elementos da proposta pedagógica. São Paulo: Scipione,
2007.

FREIRE, Madalena. A paixão de conhecer o mundo. 7ª ed. São Paulo:


Paz e Terra,1989.

SILVA, Cenira Ribeiro. Educação Infantil: fundamentos biológicos.


Passo Fundo: UPF, 1998

VYGOTSKY, L. S. A formação social da mente. São Paulo: Martins


Fontes, 1992.

25
LINGUAGEM
Adriana Bragagnolo 7

As palavras só têm sentido


quando fazem parte da realidade da criança8
.
A linguagem, especialmente na educação infantil, manifesta-se
nas crianças, das mais variadas e criativas formas. Este texto tem a
intenção de apresentar pressupostos teórico-metodológicos, com o
enfoque na linguagem verbal, ou seja, o que defendemos e que
perspectivas metodológicas dão suporte ao desenvolvimento da fala e da
escrita com crianças desse nível de ensino.
Nessa perspectiva, entende-se que a linguagem verbal
desenvolve-se de acordo com as interações que a criança estabelece com
outras crianças, adultos e instrumentos que o meio oferece. O
desenvolvimento da fala depende de mecanismos físicos, aspectos
emocionais, sociais e culturais, além das questões pedagógicas, que
influenciam no processo de maneira significativa. Acreditamos que, com
a intervenção das primeiras experiências na comunicação com o adulto,
as crianças vão estabelecendo novas relações de acordo com os
fenômenos vividos e percebidos e, ao estabelecer relações com a
linguagem verbal, elas vão regulando sua própria conduta.
No caso da língua escrita, as primeiras experiências das crianças

7
Mestre em Educação. Professora da Faculdade de Educação da Universidade de Passo
Fundo – RS. Assessora da Área de Linguagem Oral e Escrita do Programa de Formação
Continuada (Re) Significando Saberes na Educação Infantil.
8
Claudia Pires, Joselene Souza. Pro fessoras da EMEI Raio de Lu z, da Rede Municipal
de Ensino de Passo Fundo.
26
com esta forma de expressão, revelam que, mais importante do que
pensarmos em como se ensina, é compreendermos como aprendem, ou
seja, como elas trilham o caminho ao se apropriar de tal conhecimento, o
que defendemos como o entendimento da psicogênese da língua escrita.
Nessa perspectiva acreditamos na importância do simbolismo, nos
conhecimentos que as crianças já possuem da língua e da relação que irão
estabelecer com as oportunidades que a escola oferece. Segundo
professora da rede municipal, a bagagem cultural que cada criança traz
deve ser respeitada, valorizada, pois a construção do conhecimento
começa de sua bagagem. Os alunos nos mostram o caminho, quando
fazem das diferentes linguagens o seu objeto de conhecimento9 .
Portanto, acreditamos na inserção das crianças em práticas de
letramento, ou seja, nas mais variadas práticas sociais de leitura e de
escrita. Crianças pequenas, registrando espontaneamente o que pensam, o
que sentem e o que desejam, nos mostram o real processo. Assim,
compreendemos a alfabetização na educação infantil como um caminho
de compreensão a ser construído por elas, que depende das oportunidades
a que serão submetidas, um processo contínuo que implica momentos
ricos de intervenção os quais possibilitam tomadas de consciência.
Frente a esses pressupostos, estão as estratégias que referenciam a
metodologia assumida pelo corpo docente da educação infantil. Assim é
importante que as crianças presenciem a fala, a le itura e a escrita do

9
Dagmar Zanatta. Professora da EM EI Santa Lu zia, da Rede Municipal de Ensino de
Passo Fundo.

27
adulto para compreender entre outros aspectos o significado do seu uso
social. Além de se constituir modelo - ao falar, ao ler e ao escrever -, o
professor tem a responsabilidade de propor atividades didáticas capazes
de ampliar os conhecimentos acerca da linguagem.
O espaço para a fala, que pode se apresentar em forma de rodinha,
reconto, momentos espontâneos de expressão oral, entre outros, permite a
argumentação, a organização do pensamento, o avanço de vocabulário e a
produção oral de textos. É importante considerar que as crianças
precisam aprender a ouvir e tem necessidade de serem ouvidas.
Nesse contexto, destacam-se os textos literários que, além de
serem bem- vindos ao universo dos pequenos por sua característica lúdica
e imersão no mundo do faz-de-conta, permitem que as crianças possam ir
construindo seu conhecimento da linguagem escrita. Linguagem esta que
não deve se limitar ao conhecimento das marcas gráficas ou a interpretar,
mas envolve gênero, estrutura textual, funções, formas e recursos
linguísticos. É pertinente, então, oferecer-se diferentes portadores de
textos, explorando-os de diversas maneiras, visto que a cultura escrita
apresenta variados gêneros textuais e uma vasta produção com a qual a
criança deve ter contato.
Da mesma forma que as crianças fazem tentativas de leitura,
precisam tentar escrever. Deixar que se expressem ao rabiscarem em
diferentes superfícies com o uso de variados materiais é uma forma de
possibilitar a expressão gráfica. Sabendo-se que a escrita é um objeto
simbólico, para que as crianças reconheçam nas marcas gráficas estes
objetos simbólicos, os agentes sociais, professores, devem atuar como
intérpretes, tendo a função de transformar tais marcas gráficas em objetos
28
linguísticos (TEBEROSKY; COLOMER, 2003, p. 17).
Além disso, é necessário que as crianças sejam oportunizadas a ter
momentos de contradição, conflitos sócio-cognitivos, tenham o máximo
de experiências com as diferentes linguagens, brinquem com a língua
para descobrir semelhanças e diferenças sonoras, joguem, montem ou
tentem montar palavras significativas, ou simplesmente “namorem” a
escrita. Elas têm o direito de construir e reconstruir hipóteses, errar,
tentar e reorganizar seus conceitos acerca dessa modalidade. Segundo
Smolka:

A alfabetização é u m processo discursivo: a criança aprende


a ouvir, a entender o outro pela leitura; aprende a falar, a
dizer o que quer pela escrita. Mas esse aprender significa
fazer, usar, praticar, conhecer. Enquanto escreve, a criança
aprende a escrever e aprende sobre a escrita. Isso traz para
as implicações pedagógicas os seus aspectos sociais e
políticos. (1999, p. 63).

Dessa forma, reitera-se o olhar da escola ao processo de


desenvolvimento da linguagem, ao desempenhar um papel essencial que
está para além do cuidado, o ensinar. Isso significa educação responsável
e intencionalidade pedagógica.
Como professores de crianças de educação infantil, cabe o papel
de um sujeito que realiza intervenções qualitativas, que provoca as
crianças e as oportuniza pensar. O educador da Educação Infantil é
essencial na formação das crianças, na medida em que compreende

29
como elas se desenvolvem e está preparado para intervir
10
qualitativamente nesse processo.
Ao vivenciar a escrita como uma forma de representação da
linguagem, num ambiente favorável ao seu desenvolvimento,
possivelmente as crianças construirão as ferramentas necessárias para
encarar o processo de aprendizagem com melhores condições. Quando há
uma proposta pedagógica comprometida com a infância, ocorre um
ensino de maior qualidade para as crianças, cada um se desafia e assume
um compromisso, uma postura política, com respeito e melhores
perspectivas de futuro.

Referências Bibliográficas

BRAGAGNOLO, Adriana. A aquisição da linguagem escrita na


educação infantil: concepções presentes nos meios acadêmicos. 2004.
Dissertação. (Mestrado em Educação). Universidade de Passo Fundo,
Passo Fundo, 2004.

SMOLKA, Ana Luiza Bustamante. A criança na fase inicial da escrita: a


alfabetização como processo discursivo. 8. ed. São Paulo: Cortez;
Campinas, SP: Editora da Unicamp, 1999.

10
Adriana Tortelli. Diretora da EM EI Margarida, da Rede Municipal de Passo Fundo.
30
MOVIMENTO
Bernardete Madalena Milani Surd i 11

Partindo da concepção de corporeidade como presença no mundo,


onde a criança, desde a mais tenra idade busca pelo movimento corporal,
inserir-se no meio, este texto busca apresentar o movimento como uma
linguagem tão importante como qualquer outra contemplada na proposta
do Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil.
A expressão corporal, como linguagem imediata, pode ser
compreendida como uma conduta espontânea pré-existente, na qual o ser
humano expressa sensações, emoções, sentimentos e pensamentos com o
seu corpo, integrando-o às suas outras linguagens expressivas como a
fala, o desenho e a escrita. O papel que o educador exerce é de suma
importância no sentido de ajudar a criança a vivenciar situações corporais
para que possa aproveitar com mais eficácia e menos gasto de energia
suas experiências diárias.
Sendo o corpo o ponto de referência que o ser humano possui
para conhecer e interagir com o mundo, este servirá de base para o
desenvolvimento cognitivo e para a aprendizagem de conceitos
importantes no desenvolvimento da criança. É na educação infantil que
podemos oportunizar a criança conhecer seu corpo para manejá- lo
melhor. Quando abordamos as questões do corpo, do movimento e da
emoção como determinantes no processo de aprender, levamos em

11
Mestre em Educação, Assessora do Programa de Formação Continuada
(Re)Significando Saberes na Educação Infantil.
31
consideração a contribuição do corpo- movimento ao processo de
desenvolvimento da criança e o lugar que ocupa o corpo da criança e do
docente no âmbito da educação. Por isso, é tão importante assumirmos a
responsabilidade pedagógica de oferecer aos alunos o eixo do movimento
corpóreo sob uma ótica de organização, sistematização e compreensão
teorizada acerca deste campo de conhecimento. 12
A grande preocupação para todos que lidam com crianças deveria
ser ajudá-las a usar seu corpo para apreender os elementos do mundo que
as envolve e estabelecer relações entre eles. É com seu corpo que a
criança vai se movimentar, conhecer e relacionar-se. Se uma criança não
conhece, não valoriza, não confia em seu corpo nessa etapa, vai ser mais
difícil que o consiga quando entrar para o primeiro ano, onde muitas
vezes, não pode utilizar todo seu corpo com tanta liberdade, pois tem que
começar a usar os membros de forma diferenciada. O movimento global
tende a desaparecer no trabalho específico de aula e a motricidade fina
fica focalizada em áreas, como por exemplo, o treinamento olho- mão na
escrita. Sendo o corpo o mediador da capacidade de simbolização na
criança, o movimento pela sua natureza e complexidade participa
ativamente de nossas construções mentais. Como todo ato motor é
carregado de emoção, o movimento tem um papel fundamental na
afetividade e na cognição, elementos importantes para a aprendizagem.

12
Ana Meire Meyer Odorcick. Professora da EM EI Raio de Lu z, da Rede Municipal de
Ensino de Passo Fundo.

32
Nesse sentido, por exemplo, os jogos tradicionais infantis, como a
amarelinha, esconde-esconde, corda, bola, pegador, cada macaco no seu
galho, propiciam a descentração da criança, a aquisição de regras, a
expressão do imaginário e a apropriação do conhecimento. Segundo
Kamii, os jogos de perseguição do tipo pegador estimulam o processo de
descentração do pensamento e a elaboração de estratégias para fugir do
perseguidor ou para perseguir: essas estratégias exercitam o raciocínio
espacial, pois levam as crianças a tentarem descobrir, por exemplo, o
caminho mais curto ou inverter a direção para fugir do perseguidor ou
para pegar alguém de surpresa.
No brincar corporal, na representação, em toda sua expressão
corporal, a criança pensa, reflete, organiza-se internamente para aprender
aquilo que ela quer, o que precisa, o que necessita e que está no momento
de aprender. Na verdade, o brincar é a forma de resolver problemas que a
criança encontra e o instrumento é o corpo.
Wallon coloca que o ser humano é geneticamente social e a
própria natureza humana se constitui num processo de interação inter-
pessoal e inter-cultural, cabendo ao corpo o papel principal (Dantas,
1992).
Nesse contexto, de acordo com as ideias wallonianas, o ato
mental se desenvolve a partir do ato motor, reafirmando que a criança
pensa na ação. Isto ocorre com toda intensidade no período sensório-
motor – que se constitui na principal via de expressão de seu mundo
interno- e se prolonga durante toda a primeira infância. A busca da
construção do conhecimento por meio de atividades corporais leva a
criança a agir para pensar. E na ação, ela constrói, vivencia experiências,
33
relaciona-se com o mundo e as pessoas, brinca com seu corpo: arrasta,
atira, enche, esvazia, escolhe, compara, larga, agarra, imita, recorta,
rasga, amassa, chuta, rola, brinca com as mãos, com os pés, salta,
equilibra, constrói, destrói, desenha, rabisca,escreve , faz-de-conta...
Dessa maneira, a atuação do educador precisa voltar-se para a
evolução e crescimento da criança. Cabe salientar que nesse meio
educativo, a criança tomará consciência que existe e de que é olhada,
constituindo-se num sujeito capaz de ação, sujeito presença no mundo.
Acreditamos “não ser possível negar a cultura infantil e os movimentos
pelos quais a criança se constitui desde seu nascimento (SURDI, 2001,
p.193). Para tanto, precisa ser considerada e olhada como um ser criador,
capaz de escolher e selecionar. Para que a escola proporcione um clima
de acolhida e de segurança, a prática educativa deverá oferecer recursos
que permitem a criança a expressividade motora e do movimento, pois
a escola de Educação Infantil acolhe a criança na sua idade de “ouro”
para as aprendizagens. O profissional dessa fase tão importante do ser
humano, precisa buscar constantemente amparo teórico-metodológico
para poder construir um currículo de qualidade, proporcionando às
crianças desenvolvimento pleno de suas potencialidades corpóreas para
ser, estar e interagir no mundo.13

13
Guio mar Salete Bolner. Diretora da EM EI Fofão da Rede Municipal de Passo Fundo.
34
Referências Bibliográficas

DANTAS, Heloisa. Do ato motor ao ato mental; a gênese da inteligência


segundo Wallon. In: LA TAILLE, Yves; OLIVEIRA, M.K.; DANTAS,
H. Teorias psicogenéticas em discussão. São Paulo: Summus, 1992.

SURDI, Bernardete M.M. Corporeidade e aprendizagem: o olhar do


professor. Ijuí: Ed. UNIJUÍ, 2001.

35
MATEMÁTICA
Cínthia Castoldi14

[...] nas condições de verdadeira aprendizagem os


educandos vão se transformando em reais sujeitos da
construção e da reconstrução do saber ensinado (FREIRE,
1998, p.26)

Desde muito pequenas, as crianças entram em contato com grande


quantidade e variedade de noções matemáticas, ouvem e falam sobre
números, comparam, agrupam, separam, ordenam e resolvem pequenos
problemas envolvendo operações. Estes conhecimentos variam, em maior
ou menor grau, de acordo com a cultura e o meio social aos quais as
crianças pertencem e constituem um bom ponto de partida para novas
aprendizagens. Cabe às Instituições de Educação Infantil articular estas
experiências com os conhecimentos matemáticos socialmente
construídos. Para tanto, é preciso organizar situações que desafiem os
conhecimentos iniciais das crianças, ampliando-os e sistematizando-os.
Mas para organizar tais situações, é necessário primeiramente,
estarmos atentos às crianças, observando os indícios que estas nos
apresentam, as informações que suas falas e atitudes revelam de modo a
poder interferir e educá-los. Ao nos dar conta dos fatores que interferem
e/ou influenciam direta ou indiretamente a criança, pode-se estar
valorizando, por exemplo, o raciocínio lógico da criança e sua
argumentação. Desse modo se estaria explorando com crianças uma série

14
Mestre em Educação. Assessora do Programa de Formação Continuada
(Re)significando Saberes na Educação Infantil.
36
de saberes sobre o mundo matemático que as mesmas possuem ao chegar
à escola.
Aprender a valorizar o raciocínio lógico e argumentativo, torna-se
um dos objetivos da educação matemática, ou seja, despertar no aluno o
hábito de fazer uso de seu raciocínio e de cultivar o gosto pela resolução
de problema. Mas é fundamental que a solução do determinado problema
fique a cargo das crianças, para tanto, é necessário que o professor abra
um espaço de exploração e de busca. É preciso não dar diretamente um
procedimento que deve ser utilizado por todos, mas é necessário
controlarmos a ansiedade e aguardar para validar as produções das
crianças depois de um longo processo de construção do conhecimento.
Como destaca a professora Angelita Mello 15 jamais devemos
subestimar os alunos, sejam eles bebezinhos ou não, pois sabemos que
crianças, mesmo na educação infantil, podem trabalhar diretamente com
os números, contando objetos, lendo e escrevendo números, resolvendo
situações de comparação, ordenação e reunião de quantidade, sempre em
situações significativas, contextualizadas e com sentido.
Ao trabalhar com conhecimentos matemáticos, como o sistema de
numeração, medidas, espaço e formas, por meio da resolução de
problemas, as crianças poderão desenvolver sua capacidade de
generalizar, analisar, sintetizar, inferir, formular hipóteses, deduzir,
refletir e argumentar. E, como destaca a Professora Arleia Bellini 16 eles

15
Professora da EM EI Tio Patinhas, da Rede Municipal de Ensino de Passo Fundo.
16
Professora da EM EI Fadinha, Rede Municipal de Ensino de Passo Fundo.
37
se sentem valorizados quando podem comentar sobre seu processo de
como chegaram ao resultado.
Tomar como ponto de partida o conhecimento matemático que a
criança já possui para “ensiná- la” na busca da construção daquilo que ela
ainda não conhece é um dos modos de aproximar a realidade da criança
do conhecimento humano e histórico. D’Ambrósio (1996) chama a isso
de Etnomatemática, onde a matemática escolar deve tomar a
compreensão, o conhecimento e a explicação dos processos de
construção de saberes a partir do contexto sócio-histórico em que os
sujeitos cognoscentes se inserem.
Considerando a ludicidade na educação infantil, muitas vezes
possuímos a preocupação em proporcionar materiais concretos para que
as crianças realizem contagens, no entanto, precisamos observar que ao
propor o uso do material concreto como único meio de solução de um
problema, a criança é impedida de decidir qual procedimento quer
utilizar. Provavelmente, muitas crianças não precisariam recorrer à
contagem para resolver o cálculo ou poderiam fazer a contagem com
marcas em uma folha ou ainda utilizando os dedos.
Outra prática muito utilizada é a utilização de jogos matemáticos,
para tanto vale destacar que conforme os PCN (1997), os Jogos
Matemáticos, além de aproximarem a criança do conhecimento
matemático, ainda, são “[...] fontes de significados e, portanto
possibilitam compreensão, geram satisfação, formam hábitos que se
estruturam num sistema, [...] importante no sentido de ajudar a criança a
perceber regularidades.” Sendo assim é necessário selecionar materiais

38
apropriados/ adequados para que estes não se tornem obstáculos ao
objetivo que o educador tem para a determinada atividade.
Considerando a necessidade de incluir na educação infantil o
ensino de certos conhecimentos matemáticos que se articulem com os
conhecimentos que as crianças possuem e permitam ampliá- los, estamos
proporcionando situações, para que as crianças desde pequenas possam ir
construindo ideias sobre o que é a matemática, sobre como se faz a
matemática e sobre si mesmas fazendo matemática.
Vale destacar que propor um trabalho assim não é tarefa simples,
requer uma constante reflexão sobre o nosso próprio fazer pedagógico,
considerando a práxis pedagógica.
A maneira como o professor concebe o ensino, permitindo,
encorajando, provocando as crianças a utilizar as relações entre os
saberes que já dispõem e os que têm que aprender é um aspecto
fundamental para diminuir a distância entre aqueles que sempre sabem e
o que se encontra em condições diferentes. Sendo assim, poderemos
estar, desde a educação infantil, mostrando que a matemática é uma
ferramenta para podermos interagir e intervir no mundo em que vivemos
e não uma fonte de exclusão social.

Referências Bibliográficas

BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares


Nacionais. Matemática. Brasília: MEC/ SEF, 1997,142 p.

D’Ambrósio, Ubiratan. História da Matemática e Educação. In: Cadernos


Cedes. História e Educação matemática. 1ª ed. São Paulo: Papirus,

39
SOCIEDADE

Carina Tramontina Corrêa 17

As escolas ajudam as crianças pequenas a entenderem a si


mes mas, o mundo à sua volta e suas relações com ele. Elas
aprendem sobre si mes mas por meio das respostas que
recebem do ambiente externo ao testarem seus poderes
sobre o mundo físico e social. Elas adquirem con sciência
do contexto em que vivem e se esforçam para entendê-lo,
integrando-se mais e mais a ele ao definirem as fronteiras
entre elas e o mundo que as cerca (SPODEK &
SARACHO, 1998, p. 324).

Considerando a Educação Infantil como uma primeira etapa da


educação básica, que complementa a ação da família e da escola e que
tem por finalidade o desenvolvimento integral da criança até cinco ano
sem seus aspectos físico, motor, psicológico, intelectual, moral e social,
percebem-se a necessidade da escola infantil estar preocupada com um
planejamento que leve em conta o bem-estar da criança, seu grau de
desenvolvimento, sua diversidade cultural, os conhecimentos que serão
universalizados e o regime de atendimento (integral ou parcial).
As crianças vêm, cada vez mais, tendo consciência da dimensão
do mundo que as cerca. Esta conscientização surge a partir da
exploração deste meio, o que passa a constituir aprendizagens por meio

17
Mestre em Educação. Professora da Faculdade de Educação da Universidade de
Passo Fundo – RS, Assessora da do Programa de Formação Continuada (Re)
Significando Saberes na Educação Infantil.

40
de vivências práticas e significativas. É a socialização da criança com o
meio que favorecerá o seu desenvolvimento, a construção da sua
identidade e da sua autonomia.
O planejamento escolar precisa considerar esses aspectos que
caracterizam a infância, explicitando também os fundamentos teórico-
metodológicos, os objetivos/conteúdos, o tipo de organização e as formas
de avaliação da escola. Na verdade, tudo passa a fazer parte do currículo.
Silva define de maneira clara um currículo, o que faz com que se
perceba a relação do currículo com a área do conhecimento abordada
aqui: sociedade.

O currícu lo é lugar, espaço, território. O currícu lo é relação


de poder. O currículo é trajetória, viagem, percurso. O
currículo é autobiografia, nossa vida, curriculu m v itae: no
currículo se forja nossa identidade. O currícu lo é texto,
discurso, documento. O currículo é documento de
identidade (1999, p. 150).

O contato com o meio oportuniza o desenvolvimento de


capacidades em que passam a perceber a existência do ambiente, das
coisas, dos seres vivos. É nesta interação que as emoções também são
descobertas e que as relações são estabelecidas, o que auxilia na
formação de um ser humano capaz, consciente, crítico e transformador.
Os próprios documentos legais refletem sobre isso, quando
afirmam que “o crescente domínio e uso da linguagem, assim como a
capacidade de interação, possibilitam, todavia, que seu contato com o
mundo se amplie, sendo cada vez mais mediado por representações e por
significados construídos culturalmente” (RCNEI, 1998, p. 169).
41
Na medida em que a criança se desenvolve, experiência o que o
mundo oferece, passa a fazer descobertas, elaborar suas teorias
espontâneas, descobrir que o seu pensar e o seu agir refletem diretamente
num meio que exige a sua intervenção, representar através de diversas
linguagens seu entendimento, que aos poucos é aprimorado pela cultura,
pela socialização e pelo próprio conhecimento científico.
O estudo da Área Sociedade no currículo da Educação Infantil
oportuniza o desenvolvimento de habilidades e competências que estarão
direcionadas aos aspectos sociais, antropológicos, culturais, religiosos,
filosóficos, históricos, geográficos e econômicos. Esta contribuição
multidimensional, multidisciplinar e interdisciplinar que a Área
Sociedade propicia faz com que a criança descubra o seu papel numa
sociedade de relações subjetivas e objetivas que a constituem enquanto
sujeito. Castrogiovanni expressa esse entendimento quando afirma que,

o processo de ensino-aprendizagem supõe um determinado


conteúdo e certos métodos. Porém, acima de tudo, é
fundamental que se considere que a aprendizagem é u m
processo do aluno, e as ações que se sucedem devem
necessariamente ser dirig idas à construção do
conhecimento por esse sujeito ativo (2000, p.92).

Desta forma, princípios teórico- metodológicos passam a ter que


ser pensados e construídos pelas escolas num planejamento inter e
transdisciplinar, os quais caracterizam projetos político-pedagógicos que
contemplem a complexidade do saber e da própria sociedade. Afinal, é o
reflexo deste mundo complexo que hoje está cada vez mais evidenciado
no espaço escolar.
42
Torna-se relevante, portanto, estudar as relações sociais
estabelecidas entre as pessoas e os grupos sociais, os espaços
topológicos, projetivos e euclidianos, o tempo vivido e construído numa
relação com o presente, com o passado e com o futuro. Pois, para Callai
“se o ponto de partida é conhecer a realidade em que vivem, é neste
âmbito que se problematiza a questão de como dar conta dos conceitos de
grupo-espaço-tempo” (2003, p.66).
Não é só no conteúdo do currículo escolar que vamos
encontrar os caminhos para trabalhar os princípios teórico- metodológicos
que contemplam a área sociedade, mas sim na dinâmica do processo de
construção da aprendizagem. Ou seja, tendo a observação, a elaboração
de hipóteses, as representações gráficas, exercícios de orientação espacial
e temporal, as diversas formas de expressão da linguagem, o ler, o
escrever, o contar, entre outros, caracterizam pontos fundamentais que
consideram significativamente as situações de aprendizagem. Situações
estas que formalizam as informações e conceitos adquiridos nas
vivências escolares e não-escolares, contemplando compreensões a cerca
do lugar, do tempo, do espaço, do grupo, da paisagem, de escala, de
mapeamentos, de maquetes, de cartografia... Enfim, de conhecimentos
teorizados a partir da realidade estudada. Concorda-se com
Castrogiovanni quando afirma que,

compreender o lugar em que vive, permite ao sujeito


conhecer a sua história e conseguir entender as coisas que
ali acontecem. Nenhu m lugar é neutro, pelo contrário, é
repleto de história e com pessoas historicamente situadas
num tempo e num espaço, que pode ser o recorte de um

43
espaço maior, mas por hipótese alguma é isolado,
independente (2000,p. 84).

Por isso, a necessidade também em relacionar os princípios


teórico- metodológicos do estudo da Área Sociedade com os princípios
teórico- metodológicos da educação infantil num fazer pedagógico
realmente preocupado com a formação deste ser humano.
A imitação, o faz-de-conta, o brincar, o jogo, a linguagem, a
apropriação da imagem corporal são elementos que darão subsídios
teórico-práticos numa pedagogia que considere o conhecimento cotidiano
através de teorias espontaneamente inventadas, a vivência real e o mundo
imaginário que pertencem ao contexto infantil.
Cabe ao professor, nesse processo de aquisição do conhecimento
referente à sociedade, oportunizar práticas pedagógicas que contemplem
a pesquisa enquanto prática investigativa, a construção de conceitos
científicos, a representação do imaginário e do real nas diferentes
linguagens, bem como o aprimoramento das várias formas de se estudar
o meio, considerando em especial, o lugar onde estamos e onde vivemos.
Num ratificar constante destes princípios teórico- metodológicos,
reflete-se sobre a intencionalidade educativa da escola infantil e a
necessidade de um planejamento significativo tanto para o corpo docente
quanto para a própria criança e demais integrantes da escola. O professor
da escola infantil tem que saber com quem está trabalhando. São
crianças de 0 a 5 anos com identidades próprias, com diferentes maneiras
de ser, de viver e pertencentes a mundos culturais diversos. E o professor
não deve estar sozinho na sua ação educativa. A família e os demais

44
agentes da escola também devem comprometer-se com o processo
educativo. Todos precisam sentir-se motivados para a ação que promove
o desenvolvimento da criança.
Num repensar pedagógico, torna-se fundamental o
comprometimento político com a educação. Conscientizar-se deste real
contexto histórico e social só fortalecerá as intervenções pedagógicas nos
espaços escolares, que precisam ser urgentemente (re)significados por
princípios teórico- metodológicos claros, coerentes, fundamentados e que
possam contribuir com uma educação de qualidade e com as mudanças
sociais.

Referências Bibliográficas

BRASIL. Ministério da Educação e do Desporto. Secretaria da Educação


Fundamental. Referenciais Curriculares Nacionais para a Educação
Infantil. Brasília: MEC/SEF,1998.

CALLAI, H. (Org.) O ensino em estudos sociais. Ijuí: Unijuí,2002.

_____. e CALLAI, J. Grupo, Espaço e Tempo nas Séries Iniciais. In:


CASTROGIOVANNI, A. (Org.) Geografia em sala de aula: práticas e
reflexões. Porto Alegre: UFRGS, 2003.

CASTROGIOVANNI, A. (Org.) Ensino de Geografia: práticas e


textualizações no cotidiano. Porto Alegre: Mediação, 2000.

SILVA, Tomaz Tadeu da. Documentos de Identidade: uma introdução às


teorias do currículo. Belo Horizonte: Autêntica, 1999.

SPODEK, B. e SARACHO, O. Ensinando crianças de três a oito anos.


Porto Alegre: Artmed, 1998.
45
ARTE

Ilse Ana Vanzin Boeira 18


“Precisei de toda uma existência para
desenhar como as crianças”. (Pab lo Picasso).

Afirmação que dignifica e valoriza historicamente o ensino de


arte e suas linguagens: artes visuais, teatro, dança e música. Os
pressupostos teóricos e conceituais da Educação, alicerçados nos estudos
de Piaget, Vygotsky, Freire, Giroux, Derdyk, e outros, mostram a
preocupação com a formação, a consideração da cultura, o meio e a
busca da formação integral do sujeito. O ensino da arte em suas
linguagens contribui para esse grande objetivo.
Quando a questão da visualidade é o desenho, é correto considerar
suas fases evolutivas. O que inicia cedo pode ser considerado arte
rupestre, conhecida como a primeira forma de expressão e comunicação
humana, ao longo da história e que é entendida também, como primeira
forma de expressão das crianças, neste caso, quando possível, nas
paredes de suas próprias casas são registradas. O entendimento desta fase
infantil entre pais e escola implicará no despertar para a leitura, com
maturidade e autonomia. Simbólicas, as crianças transmitem suas idéias e
podemos auxiliá- las na associação de seus desenhos e rabiscos às outras
linguagens.
A linguagem da música envolve mais que o cantar. Além de

18
Mestre em Educação. Professora da Faculdade de Educação da Universidad e de Passo
Fundo – RS, Assessora da do Programa de Formação Continuada (Re) Significando
Saberes na Educação Infantil.
46
brincar de roda, bater palmas e cantar, manusear objetos sonoros é muito
importante. As experiências concretas com objetos que emitem sons,
instrumentos musicais ou outros, constituem o vocabulário sonoro. O
gesto do movimento corporal é música porque o som é movimento. A
flexão, o estiramento, o balanceio, andar, saltitar, saltar, correr, implicam
gestos sonoros. É possível viver sem música?
O ensino da linguagem do teatro na educação infantil deve
privilegiar a expressão corporal, o jogo, o brincar, o faz-de-conta,
devendo jamais conduzir ou pretender o “espetáculo”. O teatro infantil
inclui jogos dramáticos com a intenção da desinibição, da entrega e do
desenvolvimento da linguagem do movimento interagindo com a
linguagem verbal. É importante a afirmação “Cada imagem, cada gesto,
cada som que imerge nas formas artísticas criadas em sala de aula têm
grande importância, uma vez que se referem ao universo simbólico do
aluno”. (IAVELBERG, 2003, p.27.).
A dança, parte significante das linguagens corporais, na educação
infantil associa-se às demais manifestações de ensino de arte explorando
espaço, som e movimento. Como no faz-de-conta usado no teatro,
também na dança a ideia do brincar prevalece, motivando, mediando,
permitindo a pesquisa e a descoberta.
O trabalho com projetos na educação infantil tem apresentado
resultados animadores, no sentido de considerar as múltiplas linguagens,
o envolvimento escola-família e o processo de desenvolvimento do
indivíduo. Este permite às crianças extrair o sentido mais profundo de
acontecimentos do seu próprio ambiente e de experiências que mereçam
sua atenção. O projeto permite a parte do currículo onde as crianças são
47
encorajadas sobre o trabalho a ser realizado, tomar decisões e fazerem
escolhas, em colaboração com os colegas. A exploração das linguagens
da arte permite o registro de suas ideias, observações, sentimentos.
Trabalhar com projeto implica ensinar considerando o modo como as
crianças aprendem, oferecendo múltiplas oportunidades e experiênc ias.
O momento atual exige da escola, dos professores e de família
compromisso e consciência para com o sujeito da educação infantil,
portanto, agilidade, compromisso e participação são prioridades. Afinal

Há os que adquirem conhecimento pelo valor do


conhecimento – e isso é vaidade de baixo nível. Mas há os
que desejam tê-lo para edificar os outros – e isso é amor. E
há outros que o desejam para que eles mes mos sejam
edificados – e isso é sabedoria. (Bernardo de Clavaral).

Referências Bibliográficas

DERDYK, Edith. Formas de Pensar o desenho: desenvolvimento do


grafismo infantil. São Paulo:Editora Scipione,1989.

IAVELBERG, Rosa. Para gostar de aprender arte: sala de aula e


formação de professores. Porto Alegre:Artmed,1998.

HERNANDEZ, Fernando. Cultura Visual, mudança e projeto de trabalho.


São Paulo:Artes Médicas, 2000.

SCHAFER, Murray. O ouvido pensante. São Paulo:INESP.1991.

PIAGET, Jean. A formação do símbolo. Imitação jogo e sonho imagem e


representação. Rio de janeiro: Zaar, l978.

48
2. PROJETOS

ABELHAS E BORBOLETAS DANDO ASAS AO SABER


Alice dos Santos
Andréa da Silva kat zwin kel
Camile Guimarães
Cleci Ramos, Fatima Toledo
Marla Debastiani Maffi
Valderes de Rezende Moreira

A experiência a ser relatada foi realizada na Escola Municipal de


Educação Infantil Criança Feliz, onde todas as crianças e professoras
tiveram a oportunidade de vivenciar momentos de construção e
aprendizagem. Com a participação e o envolvimento do grupo, foi
possível o desenvolvimento do trabalho de pesquisa. Essa proposta
possibilitou a investigação, o levantamento das hipóteses, as reflexões e a
busca de respostas às perguntas levantadas pelas crianças. Abriu-se um
leque de possibilidades que contribuíram para o processo de ensino e
aprendizagem, fazendo com que o aprender fosse realmente significativo
e mais próximo da sua realidade. No decorrer do projeto, vários foram os
momentos de curiosidades em que se pode ancorar o processo de
construção de conhecimento pelas crianças, sujeitos de sua
aprendizagem. Então, a relação com projetos de trabalho tomou forma,
gosto e desejo. A seguir, será especificado todo o processo de construção
e desenvolvimento do projeto “Abelhas e Borboletas dando asas ao
saber”.
As crianças estavam no pátio da escola realizando atividades
recreativas, quando se ouviu um choro de dor. Ao redor do menino

49
Nicolas, as crianças curiosas procuravam pela abelha que picara o colega.
Foi feito o atendimento ao aluno enquanto se ouvia a falas das crianças,
já que todos queriam comentar e perguntar sobre o fato. Porque a abelha
picou o Nicolas? A abelha quis beijar ele com o ferrão e picou? Eu
prefiro as borboletas, elas não picam e são coloridinhas. Porque tinha
abelhas no pátio, prô?
Na roda da conversa passou-se então a levantar algumas
questões: o que será que aconteceu com a abelha que picou o Nicolas?
De onde vêm as abelhas e as borboletas? O que é o ferrão? Porque as
abelhas picam e as borboletas não?
As crianças foram opinando e levantando algumas hipóteses: a
aluna Maira comentou que a abelha morre depois que pica alguém e que
vem o enterreiro 19 e a enterra. Ao ser questionada sobre quem seria o
enterreiro, ela respondeu: Você não sabe, prô? O enterreiro é aquele que
enterra quem morre. A partir de então havia uma situação problema,
muita fantasia e curiosidade envolvendo as crianças. Com o problema
definido era preciso estabelecer, com as turmas, os caminhos para buscar
informações a cerca da problemática, ou seja, mapear os percursos.
Combinou-se então, que cada criança conversaria com seus pais
e traria para a escola algumas informações, livros, gravuras ou objetos
que estivessem relacionados com as abelhas e borboletas.
No dia seguinte, a aluna Maíra trouxe, dentro de um vidrinho,
alguns casulos de borboletas o que deu início a um trabalho de

19
Palavra nova que surgiu durante a roda da conversa com as crianças da Pré - escola
50
observação e registro das transformações. Foi inexplicável a alegria de
ver a borboletinha Laura Gabriela 20 nascendo. As crianças levaram a
Laurinha ao pátio e ela foi entregue à natureza. A expectativa era de que
ela voasse, no entanto, seu corpinho frágil não resistiu. Foi um momento
de tristeza, mas que nos levou a pesquisar sobre o motivo pelo qual ela
não sobrevivera.
. As crianças, com as informações e materiais que haviam
buscado com seus familiares e outros selecionados pelas professoras,
começaram a pesquisar sobre a vida das abelhas e borboletas. Elas
queriam saber tudo! Aproveitando os dados levantados e a curiosidade
das mesmas, foram interpretados os conceitos de metamorfose,
polinização, anatomia, néctar, pois os mesmos apareciam com frequência
nos materiais de pesquisa. O entusiasmo e a vontade de aprender
direcionavam cada vez mais a busca pelo conhecimento.
Na sistematização das informações, foram montados painéis com
as ideias coletadas, confeccionados álbuns, colmeias, abelhas e
borboletas com materiais alternativos. Construíram-se maquetes,
livrinhos, flores, joguinhos de memória, trilhas, todos relacionados aos
objetos de pesquisa.
Além disso, os alunos queriam ser cientistas de verdade!
Resolveu-se então, procurar uma lagarta e iniciar a construção de um
berçário. Com essa intenção, saíram a passear pelas redondezas da escola
e, nas folhas de couve da horta de um vizinho, muitas lagartas foram

20
No me escolhido pela turma do Pré do turno da tarde
51
encontradas e logo passaram pela metamorfose tornando-se borboletas.
Estudaram-se os diferentes tipos de lagartas, a alimentação mais
adequada para cada espécie, a higiene do berçário. Estes fatos eram
observados diariamente.
Construído o berçário, o registro das observações e conclusões
foi realizado através de criações com argila, desenhos e peque nos textos
escritos. Também foi confeccionado um calendário de anotações das
transformações ocorridas no berçário. Quanto mais a pesquisa avançava,
ampliava-se também o interesse das crianças por assuntos relacionados
ao tema em questão.
Assim, as crianças plantaram mudinhas de flores, pois
descobriram que as mesmas são necessárias para a polinização e para
manter a vida das borboletas e das abelhas. Através do cuidado constante
com as plantinhas, observavam as transformações que iam ocorrendo
com elas. Algumas delas morreram, provavelmente, por excesso de água.
Quanto alvoroço e entusiasmo quando o aluno Mateus
encontrou na terra de sua flor uma lagarta camufladinha. Esse fato
contribuiu para aprender que a camuflagem é uma defesa da espécie. No
muro da escola havia casulos grudadinhos que passaram também a ser
observados. O acompanhamento permitiu perceber que somente um,
dentre muitos, conseguiu concretizar a metamorfose. A explicação para
tal foi descoberta em pesquisa na internet, uma vez que a cada ce m
lagartas, apenas duas conseguem realizar todo o seu ciclo.
Após algumas semanas de observação e registro das lagartas que
viviam no berçário, percebeu-se que nenhuma delas transformara-se em
borboleta. Depois de novas pesquisas, concluiu-se que as lagartas não
52
conseguiram chegar ao fim do ciclo, porque era muito frio e mesmo com
todas as folhas que foram colocadas no berçário o ambiente não foi o
mais adequado.
Prosseguiam-se também, os estudos sobre as abelhas. Além das
pesquisas nos livros científicos e na internet, foram utilizados livrinhos
de literatura infantil.
A história da abelha Julita, traduzida num livrão, fez o maior
sucesso! Foi estudado todo o processo de produção do mel, a criação da
rainha e o trabalho das abelhas operárias. As crianças readaptaram a
história com produções artísticas utilizando diversos tipos de materiais.
Ainda realizaram a confecção de mini- quadrinhos que se transformaram
em um jogo de encaixe que permitia a construção de várias histórias de
acordo com a imaginação das crianças.
Uma mini- televisão foi usada para contar a história da abelhinha
Zazá, que ajudou na compreensão sobre a vida das abelhas, sua
importância para a polinização e preservação das espécies.
O trabalho com poesias de Cecília Meirelles inspirou a criação
de poesias pelas crianças. Assim nasce “O voar da borboleta” e a “Zum,
zum, zum” a partir da organização da fala das crianças que,
posteriormente, transformaram-se em poesias musicadas.
Novas descobertas sucederam-se com o estudo bicho da seda e da
produção de fios de seda. As crianças entenderam como tudo acontece,
mas não gostaram de saber que a lagarta nesse processo, que hoje
acontece em cativeiro, não chega a virar borboleta.
Durante as pesquisas na internet foram encontradas as obras de
Salvador Dali, um artista que representou em muitas de suas obras a
53
metamorfose e a vida das borboletas. A biografia de Salvador Dali foi
pesquisada e várias releituras de suas obras foram realizadas. Quantos
artistas manifestaram-se com essa atividade! As crianças observavam os
detalhes, a luz, a sombra, as formas, as cores, os materiais, criando
verdadeiras obras de arte!
Dentre as obras lidas, as crianças escolheram o livro de literatura
infantil intitulado “Um amor de família”, de Ziraldo, para represe ntá- lo
através de fantoches no painel de teatro.
O projeto teve sequência com a confecção de bolachas de mel e
o piquenique do pão com mel. Cada criança pode observar a quantidade e
os ingredientes utilizados, mexer a massa, fazer e enfeitar as bolachas,
que, depois de embaladas, puderam ser levadas para casa. Afinal, as
mamães haviam mandado as receitas, que também serviram para a
confecção do caderno de receitas, tendo o mel como principal
ingrediente.
O ponto alto do projeto foi a visita do apicultor a escola. O tio
Osvaldo 21 explicou o ciclo de vida das abelhas, a importância delas para
o processo de polinização e, falou ainda, sobre os benefícios do mel e da
própolis para a saúde. Comentou sobre a construção das caixas e dos
favos e também sobre o processo da colheita do mel. Trouxe objetos
utilizados pelos apicultores, algumas abelhas, mel, própolis e favos para
que as crianças pudessem ver, tocar e experimentar.

21
O Senhor Osvaldo é formado em Agronomia, min istra palestras sobre o mel e
trabalha como Apicu ltor.
54
No sentido de documentar e comunicar essa pesquisa, para que
pudesse ser admirada por todos, foi proporcionada a socialização dos
conhecimentos adquiridos, entre as turmas da escola e comunidade
escolar. Cada criança deveria também, contar em casa suas
aprendizagens e fazer o registro das explicações. Foi interessante
constatar como elas construíram conhecimentos e com que clareza
conseguiam demonstrar as aprendizagens. Ao visitarem a escola, os pais
encantaram-se ao ver as obras de seus filhos, em tantas produções de seus
pequenos artistas.
Ao findar esse projeto constatou- se muitas aprendizagens
históricas e concretas, onde os objetivos ganharam forma real.
Emoção, alegria e prazer em pesquisar e construir
conhecimentos definem alguns dos sentimentos despertados com a
realização desse projeto. Talvez a certeza de que o ato de ensinar é no
fundo sempre um ato de aprender nos leve a encontrar outras definições.

55
BRINQUEDO DE PLÁSTICO
Regina Costa dos Santos

O Projeto “Brinquedo de Plástico” foi desenvolvido na Escola


Municipal de Educação Infantil Sonho Encantado na turma do Pré II.
Surge de uma negativa dos alunos, ou seja, de uma constatação
quando estavam jogando o jogo “De onde as coisas vêm?” os alunos não
aceitaram a afirmação de que o brinquedo de plástico é proveniente do
petróleo. Mesmo após as coordenadas fornecidas pelo jogo a afirmação

56
não foi aceita. Os alunos foram orientados a continuar jogando e observar
quais outras possibilidades poderiam existir como resposta.
 Prô está na minha cabeça, pensei, mas ainda não descobri da
onde vem o brinquedo de plástico.
Levamos o jogo para a sala de aula e continuamos tentando jogar,
no entanto quando chegavam ao elemento brinquedo de plástico os
alunos tinham várias hipóteses, mas todas discordavam da resposta que o
jogo apresentava, pois, sempre acabavam associando o uso do petróleo à
gasolina e ao álcool.
Então percebemos a inquietação e a necessidade de buscar mais
elementos para continuar o jogo, a turma colocou o brinquedo de plástico
no cronograma de projetos a serem pesquisados.
O projeto teve como objetivo esclarecer e aprofundar de onde
vem o brinquedo de plástico.
Os conteúdos priorizados pelo projeto foram o brincar, mineral
(petróleo), convivência em grupo, preservação e cuidado com a natureza.
Em um primeiro momento os alunos fizeram a coleta de
brinquedo de plástico onde observaram tipos de plástico (resistentes,
frágeis, transparente, colorido...), momento em que muitos alunos
buscaram associar a cor do petróleo à do brinquedo.
Os alunos foram desafiados a conversar com a família sobre o
tema a ser estudado e ver o que descobriam: é das árvores; meu pai disse
que é da borracha que é queimada com o plástico reciclável; prô vem da
fábrica; já sei é do jornal.

57
Trouxeram variadas revistas sobre o tema, pesquisas na internet,
livros de ciências com várias gravuras do petróleo e após esta coleta a
turma começou a pensar e elaborar as atividades do projeto.
Pesquisamos tipos de brinquedos (tipos de plásticos). Foram feitas
várias brincadeiras para explorar os brinquedos coletados pelos alunos.
Como o projeto não era o único em desenvolvimento na turma,
tivemos vários momentos de retomada onde foram usadas como recurso
as fotos das atividades que já tinham sidas realizadas.
Descobrimos que o brinquedo de plástico vem de uma substância
que é retirada do petróleo, enfim da natureza. A partir dos conhecimentos
adquiridos o projeto foi trazendo uma preocupação: o que estamos
fazendo com nossos brinquedos, como cuidamos deles e que critérios
estamos utilizando para comprá- los.
Fizemos a experiência de quanto tempo leva para se decompor.
Os alunos pesquisaram a média de vida de uma pessoa e compararam
com o tempo de decomposição do plástico.
Foi proposto pela turma continuarmos o projeto e pesquisar mais
sobre os brinquedos.
Realizou-se uma pesquisa com as famílias, onde os pais foram
entrevistados pelos alunos relatando como eram os brinquedos da sua
infância. Foram desafiados a escolher um para ser construído com as
famílias e após realizaram um minisseminário onde apresentaram aos
colegas os objetos construídos.
Visitamos uma loja de brinquedos onde os alunos conversaram
com a gerente sobre suas descobertas e conheceram um pouco do
funcionamento da loja e puderam manusear variados brinquedos.
58
Conversamos com uma recicladora do bairro e percebemos a
importância de estar fazendo a separação do lixo coletado e reciclar.
Foi feito uma oficina de construção de alguns brinquedos. Os
alunos selecionaram qual seria o material (tipo de plástico) a ser utilizado
e escolheram um brinquedo a ser confeccionado; (aranha, tubarão, sapo,
bilboque, vai- vai, cavalo de pau...)
O projeto culminou com uma campanha de conservação, cuidado
com os brinquedos e conscientização da importância da reciclagem do
plástico levando em conta os danos causados à natureza.
Os alunos fizeram um livro com os conhecimentos do projeto que
está circulando nas famílias as quais terão como desafio fazer a coleta
seletiva do lixo.
Os brinquedos coletados e confeccionados no projeto foram
expostos na Universidade de Passo Fundo.
O projeto do brinquedo de plástico é o nosso quarto projeto
temático, ano no qual trouxe muito trabalho, mas nos proporcionou
muitas descobertas.
Não foi fácil fazer com que os alunos acreditassem que o plástico
vem do petróleo, tivemos que comprovar através de pesquisas. Em outro
período ou modelo de educação a professora faria uma afirmação e os
alunos acatariam, mas com certeza o gosto e realização pela inquietação
do saber não seria o mesmo.
Recordo- me em uma das nossas rodinhas de conversas quando
falávamos sobre a nafta (substância retirada do petróleo que se faz o
plástico) onde uma das alunas disse:
 Prô tenho uma na boca. Isso ocorreu quase no final do projeto
59
onde tivemos que resgatar algumas informações e trabalhar as diferenças
de Afta e Nafta. Mas foi algo que marcou, pois quando perguntado aos
alunos de onde vem o brinquedo de plástico logo dizem que é do
petróleo, de onde é retirado a nafta que não é a da boca.
Foi muito bom ver os brinquedos alternativos tomando o lugar
dos industriais, o gosto dos alunos em fazer o concurso de bilboquê ou
ainda a diversão no pátio com o vai-vai...
Alegra-me saber que os alunos estão construíndo brinquedos para
se divertirem em casa, com litros de garrafa pet. Acredito que fomos
muito além do nosso objetivo de descobrir de onde vem o brinquedo de
plástico, o projeto não só proporcionou aos alunos aulas de cidadania,
mas também a todos os envolvidos. Que conseguimos desmistificar que o
catador que busca material reciclável é mau e que pega criancinhas.
Os alunos estão dando aula de cidadania aos pais que a cada novo
projeto junto com seus filhos, aprendem. O pai de uma das alunas relata,
na hora da entrada, que agora na casa deles fazem coleta seletiva e a filha
é quem cobra o cuidado de por o lixo no lugar certo.
A metodologia de projetos é rica em avanços no desenvolvimento
dos alunos. Percebo que os alunos vêm melhorando muito seu
vocabulário, crianças que antes a prô tinha que auxiliar na leitura nas
apresentações do minisseminário hoje fazem isso sozinhas.
O espírito investigativo vem tendo avanços significativos e a cada
novo projeto estão mais observadores, curiosos e criativos.
O projeto do brinquedo proporcionou à turma, enriquecer ainda
mais os momentos de faz-de-conta e do jogo simbólico.

60
Na avaliação que os alunos fizeram do projeto relatam que
aprenderam de onde vem o brinquedo, brincar sem estragar os
brinquedos, a consertar e quando não quiserem mais podem dar a outras
crianças, separar o lixo e assim ajudar a natureza. E o mais interessante é
que um cobra do outro que respeite o conhecimento adquirido no projeto,
exemplificado com colegas chamando a atenção de outros que não estão
cuidando dos brinquedos da sala.

CAIXA D’ÁGUA

Cladiane Sch mitt


Silv ia Teres da Silva (Colaboradora)

O projeto “Caixa d'Água” desenvolvido na Pré-escola da Escola


Municipal de Educação Infantil Santa Luzia, contou com a participação
de toda comunidade escolar, mobilizando principalmente as crianças que
são autoras dessa aprendizagem.

61
O projeto surgiu com o questionamento de um aluno da pré-
escola: O que é aquela coisa ali fora? Imediatamente as outras crianças
começaram a falar e expor inúmeras possibilidades do que poderia ser
aquilo. Tratava-se da caixa d’água da escola. Percebendo o interesse e
envolvimento das crianças na discussão do assunto, estimulamos suas
falas, que permitiram melhor subsidiar a efetivação do projeto sobre a
caixa d’água da escola.
Começamos então a fazer um levantamento das hipóteses iniciais
das crianças registrando-as e assim fomos dando início a rede temática do
projeto.
As crianças sabiam que “aquilo” era uma caixa d’água e que nela
ficava guardada a água da escola. Mas por que é tão grande? Por que
fica no alto? Também queriam saber de onde vinha a água, como
chegava até a caixa e para onde ia depois.
As primeiras questões do projeto foram: COMO A ÁGUA VAI
PARA A CAIXA? e PARA ONDE VAI A ÁGUA DA CAIXA? Nosso
foco não era o elemento água, mas sim os caminhos da água até a caixa e
como saía de lá, aspectos relativos ao transporte da água. O objetivo
principal centrava-se em propiciar às crianças momentos prazerosos de
observação, investigação, experimentação de situações problemáticas e
descoberta. As crianças foram desafiadas a pensar e pesquisar sobre o
trajeto da água até nós, assumindo papel de pequenos cientistas.
Inicialmente realizamos uma pesquisa familiar, através de um
tema de casa onde as crianças coletaram dados sobre encanamentos em
sua residência, existência de caixa d’água, quais seriam os pontos de

62
água, buscaram encanamentos visíveis e observaram o hidrômetro. Ainda
visualizaram uma conta de água.
Socializando os dados coletados, as crianças confirmaram a ideia
inicial de que dentro das caixas d’água havia água e que ela guarda água
para quando esta faltar. Descobriram com os pais que a á gua vai pelos
canos até as torneiras, que na conta de água existem dados sobre a
composição da água e que ela vem pelo correio, que existem canos no
banheiro e na cozinha e que estes estão embaixo do piso.
Buscando comprovar estas informações e acrescentar outras,
agendamos uma entrevista com um engenheiro e visitamos a loja de
materiais de construção que existe no bairro da escola. Na entrevista com
o engenheiro e durante a visita à loja tivemos contato com diversos tipos
de canos, conexões, caixa de água, caixa de gordura, torneiras. Também
conhecemos melhor as profissões de engenheiro e encanador. As crianças
estavam entusiasmadas, perguntavam a todo o momento, queriam contar
o que sabiam, interagindo constantemente com o engenheiro. Elas
perceberam que havia toda uma organização para que a água armazenada
na caixa chegasse até as torneiras.
Partimos para a sistematização dessas informações entre muitas
conversações. Construímos uma maquete de canos, onde visualizamos a
movimentação da água de um recipiente a outro através deles. A
experiência foi fascinante, pois foram necessárias várias tentativas de
organização dos materiais até termos sucesso. Num primeiro momento a
seleção dos tipos de canos necessários, depois encontrar as conexões
ideais para juntar estes canos. Um balde representava, no momento, a
caixa d'água e foi preciso encontrar uma boa posição em lugar mais alto,
63
a fim de que a água tivesse força para fazer o percurso. Então
descobrimos o motivo das caixas d’água estarem em local alto. Por fim,
tivemos que lidar com os vazamentos, refizemos as conexões, lendo com
atenção o rótulo da cola PVC. A riqueza da vivência foi a
experimentação, através de várias tentativas para se chegar ao resultado
desejado.
Continuamos fazendo o mapeamento e maquete da caixa d'água
da escola. Fomos novamente até a caixa d’água para observá- la
criteriosamente. Identificamos formas, cores e escritas que haviam nela e,
também, detalhes do ambiente. A partir disso, como famosos artistas,
ficamos representando nosso objeto de estudo. O diálogo e as
negociações entre as crianças faziam de cada atividade um desafio, todos
queriam dar ideias, modificar e melhorar as criações.
Sabíamos que os canos estão embaixo do piso, porque o homem
que fez a escola segundo as crianças, os colocou lá. Mas então, como
saber onde eles estão? As crianças lembraram-se do inventador de casas,
como eles haviam definido o engenheiro da loja de materiais de
construção, e buscamos a planta hidráulica da escola para podermos
encontrar os canos.
Fizemos leitura daquelas imagens e das legendas contidas naquele
desenho. Na planta, localizamos as salas de aula, o banheiro, a secretaria,
o refeitório e também as canalizações. Com esse conhecimento
marcamos com papel colorido, no piso e nas paredes da escola, as
canalizações descobertas através da planta hidráulica, percorrendo os
principais pontos da escola. A atividade foi realizada em grupo,

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promovendo a discussão e o confronto de ideias, desenvolvendo noção de
planejamento, localização espacial e ampliação do vocabulário.
Uma outra dúvida era: “COMO A ÁGUA CHEGA NA CAIXA
D'ÁGUA? OU COMO SE ENCHE A CAIXA D'ÁGUA?” Logo surgiram
algumas hipóteses: Deus manda uma chuva forte, Não! São os bombeiros
que enchem ela. Diante destas dúvidas fomos observar mais uma vez a
caixa d'água da escola. Vimos canos que entravam e saiam dela, e por
sorte ouvimos o barulho da água entrando para enchê-la. Constatamos
que são os canos que enchem a caixa, também. Mas de onde vem a água
que enche a caixa?
Agendamos com um funcionário da CORSAN (empresa
responsável pela distribuição e tratamento da água em nossa cidade), uma
visita na escola para buscar mais informações. Durante a conversa
aprendemos que a CORSAN manda água para nossas casas e que ela
vem dos rios. A água chega aos depósitos, é tratada e vai para nossas
casas através de canos. As explicações através de imagens facilitaram a
compreensão das crianças. Com auxilio da internet as crianças
visualizaram a instalação destes canos nas ruas e de todo processo de
tratamento da água.
Ao final de cada investigação as crianças eram desafiadas a
registrar suas aprendizagens através de desenhos. Nestes momentos
tomávamos conta da grandiosidade da experiência vivida, pela riqueza de
detalhes e a perfeição de formas, pelos relatos e avaliação da
aprendizagem.
O próximo destino estabelecido foi visitar uma nascente para
conhecer a origem da água e verificar a necessidade ou não de tratamento
65
desta para nosso consumo. Descobrimos que nas proximidades da escola
existia uma nascente e na observação vimos a água borbulhar da terra. Ao
olharmos o entorno da nascente, para nossa surpresa, encontramos muito
lixo. Neste momento iniciou-se uma discussão sobre a poluição dos rios e
a necessidade da preservação da água. Em breves palavras como uma
criança concluiu: Graças a Deus existe a CORSAN, senão eu não
tomaria mais água. As crianças tinham noção das consequências que a
ingestão de alimentos sujos pode causar à saúde. Como afirmou um
deles: as bactérias causam doenças.
Quando pensávamos que as dúvidas haviam acabado, eis que
surge a colocação: Um dia o rio de Indaial secou, meu pai rezou e Deus
mandou uma chuva forte. Partimos então para uma nova investigação.
Utilizando a internet pesquisamos imagens sobre rios, enchentes e secas.
Percebendo que aquele lixo que encontramos na encosta da nascente
poderia causar muito estrago. Encontramos também em livros escolares o
ciclo da chuva, compreendendo que a chuva é necessária para encher os
rios, senão a água acaba. Encontramos na escola o livro “O HOMEM
DA CHUVA”, que de maneira lúdica, relata situações de seca e enchente,
enfatizando a consequências da falta e excesso da chuva.
Durante o projeto, após cada atividade, fazíamos exposição das
produções na recepção da escola oportunizando a documentação do
trabalho. O comprometimento das crianças era tanto que diariamente
solicitavam seus registros para levar aos pais, o que fortaleceu a relação
família e escola e gerou reconhecimento do trabalho desenvolvido na
instituição.

66
A partir das hipóteses iniciais das crianças o conhecimento foi
sendo socializado, discutido, experimentado. As ideias e os argumentos
expostos pelas crianças foram incentivados, valorizados e respeitados em
todo processo. Através da intervenção do professor, pela proposição das
atividades, as crianças reelaboravam ou reafirmavam conceitos.
Enfim, para nós professoras, o trabalho com projetos tornou-se
visível em cada etapa, pois evidenciaram em seu trajeto novas
experiências e descobertas, surpreendendo a todos. O desenvolvimento
das atividades foi prazeroso para crianças e professores. Experiências
enriquecedoras tanto para as crianças, que se sentiram autoras e atores de
seu próprio desenvolvimento, exploradores do mundo ao seu redor,
quanto para nós professores e comunidade escolar, que pudemos nos
surpreender com os conhecimentos prévios, a evolução das hipóteses e os
novos conhecimentos construídos.

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COMO CUIDAR DO BEBÊ
Claudete Viana Acker
Lisandra Patrício Gonçalves
Carla Nascimento Pereira

Como troca a fralda? Por quê você usa luva? Quando faz cocô
tem que dar banho? Por quê você cuida dele? Quer que eu te ajude a
cuidar? Eu já sei! Por quê os bebês comem no pratinho?
De tanto ouvirmos se repetir essas perguntas, nós, as professoras
do berçário passamos a pensar numa maneira de oportunizar às crianças
da turma a buscarem suas próprias respostas e construírem
conhecimentos sobre como cuidar de um bebê, quais suas próprias
respostas e, quais necessidades para um desenvolvimento saudável e
feliz.
Acreditamos que a curiosidade expressa nas perguntas se deve em
grande parte pela diversidade de idades das crianças que compõe a turma
do berçário da EMEI Margarida: a turma da manhã é composta por seis
meninos e quatro meninas com idade entre 7 meses a 3 anos e 2 meses,
ou seja, a diferença de idade entre eles é bem significativa.
Em função desta especificidade surgiu o projeto “Como cuidar do
bebê?”, na escuta diária da fala das crianças e na observação das
brincadeiras, momentos em que reproduziam os cuidados das professoras
para com os bebês. Em algumas ocasiões as crianças maiores assumiam o
papel de cuidadoras dos bebês: dando água, alcançando a chupeta,
balançando o carrinho, verificando se a fralda estava suja, auxiliando na
alimentação.
A escolha do bebê: Mas para que as crianças pudessem exercer
estes cuidados sem oferecer riscos aos colegas menores seria necessário
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recorrer a algum instrumento que pudesse ser manipulado a vontade: uma
boneca. A partir daí as crianças juntas escolheram entre as bonecas da
turma aquele que elas mais gostavam. Nasce, então, o bebê da turma.
Percebemos que a escolha baseou-se no critério do tamanho que se
aproxima do tamanho de um bebê, o que facilita a manipulação.
Após a escolha do bebê a turma foi questionada sobre o que ele
precisava para que pudesse ficar bem, imediatamente as crianças fizeram
referência com os objetos que normalmente trazem para a escola em suas
sacolas, então fomos pesquisar o que cada criança tinha na sacola.
Fizeram comparações com que tinha de semelhante e diferente na sua
sacola com a sacola dos demais colegas. O Gabriel destacou que na
sacola do Robert tem fralda e na dele tem cueca. A prô explicou que
todas as crianças quando bebês usam fraldas e precisam da ajuda de um
adulto para serem trocadas, depois é que aprendem a ir ao banheiro
sozinhas. Os maiores perceberam que comum em todas as sacolas é a
agenda.
Começamos a preparar a sacola do novo bebê e nela fomos
colocando tudo o que as crianças achavam necessário: mamadeira,
fraldas, prato, talher, roupas, agenda, entre outros pertences. A Sabrina
disse que na sacola da Bianca tem mamadeira porque ainda é muito
pequena, mas ela já é grande e come no prato, então na sacola do bebê
tinha que ter mamadeira e prato.
Agora o bebê precisa de um nome: considerando que cada criança
tem um nome, a turma começou a questionar sobre o nome do novo bebê,
pois chamá-lo apenas de bebê não o identificava. Conversando sobre a
história do nome de cada um, descobrimos que o mesmo é registrado
69
num documento e que foi escolhido pelos pais ou por alguém próximo.
Cada criança pôde manusear a sua certidão de nascimento onde estava
destacado com uma cor o seu nome e o dos seus pais. Depois dessa
atividade concluíram que quem deveria escolher o nome do novo bebê
era a turma, aí surgiram várias sugestões de nomes, cada um queria que
sua sugestão fosse acatada. Após tantas discussões e impasses, surgiu o
nome Claudinha e a maioria da turma gostou.
Agora o bebê já tem um nome e a partir disso elaboramos uma
certidão de nascimento para Claudinha, cujos pais e mães são todos os
meninos e meninas do berçário.
Agora o bebê precisa de cuidados: além dos cuidados já
mencionados a turma ainda perguntava o motivo de algumas colegas
tomarem banho na escola e reproduziam esta tarefa nas brincadeiras com
as bonecas. Explicamos que todos precisam tomar banho diariamente,
usar sabonete e xampu, trocar as roupas, cortar as unhas, pentear os
cabelos, para manter o corpo saudável. Os bebês por serem muito
pequenos precisam ainda de ajuda de um adulto para isso. E quando
fazem cocô a prô precisa dar banho para deixá- lo bem limpinho e
cheiroso. Passamos a trabalhar com rótulos e embalagens de diversos
produtos usados na higiene pessoal: sabonete, xampu, creme dental,
creme para pentear, esponja, escova de dente e de cabelo. As crianças
gostam muito de manusear esses materiais e se divertiram muito,
enquanto brincavam realizavam agrupamentos seguindo atributos de cor
e tamanho. Para encerrar montamos um painel com os rótulos e as
embalagens.

70
Claudinha começa as visitas: agora que todos já aprenderam os
cuidados básicos: como alimentar, trocar e dar banho, ela passou a visitar
cada dia a casa de um dos seus respectivos pais. Durante as suas visitas,
levava a sacola montada pelas crianças e a agenda onde os pais
respondiam um questionário sobre o sono, a alimentação, as brincadeiras
da Claudinha e também relatavam como a criança reagiu com a presença
de outro bebê na casa, suas falas, atitudes e reações.
No outro dia, quando retornava à escola, era rea lizada uma
rodinha de conversa onde quem havia levado o bebê relatava aos colegas
como fora o dia de Claudinha na sua casa... e a prô registrava na agenda.
Claudinha passou a compor a turma do berçário e a participar das
atividades: hora dos jogos, soninho, brincadeiras, trabalhos.

71
CONTRACHEQUE
Ana Meire Meyer Ordocick
Vanessa da Veiga Mendes

O projeto “Contracheque” começou no final do mês de junho,


quando numa tarde despretensiosa de inverno, eu estava trabalhando com
a turma do Pré II atividades rotineiras e sem nenhum intuito a diretora da
Escola entrou na sala e disse: Vim trazer seu contracheque que estava na
caixinha da Prefeitura. Eu me dirigi até a porta em meio a risos e
algumas conversas das crianças e antes que eu pegasse aquele simples
papel um aluno destacou-se dos demais e perguntou: Prôôôô, o que é
esse papel?.
Sem perceber, comecei a explicar do que se tratava pensando que
seria apenas uma curiosidade momentânea. Para minha surpresa, o
interesse de outros alunos pelo assunto foi crescendo de tal forma que
vislumbrei nesse tema o potencial para se trabalhar inúmeros conceitos
que ainda não haviam sido explorados, especialmente por alguns alunos
que apresentam menor compreensão em torno do eixo da matemática.
Esse tema tão desafiador, logo começou a envolver mais as
crianças que passaram a se perguntar se nas suas famílias tinham alguém
que também recebia um contracheque. Com as explicações iniciais, eles
pensavam que aquele papel significava poder aquisitivo, ou seja, quem
tinha o direito de receber aquele papel gozava também do direito de
comprar.
Identificado o problema inicial, iniciou o processo de pesquisa,
para saber até aonde ia o interesse dos alunos e quais as possibilidades de
aprofundar tais conceitos com aquela turma.
72
Na síntese de todas as anotações que foram feitas para registrar
perguntas, atitudes, gestos, hipóteses levantadas pelas crianças, os
principais tópicos foram: Tem dinheiro aí?Lá em casa quem traz
dinheiro é o meu pai, a minha mãe e a fada do dente. Meu pai me dá
moedas e eu gasto tudo. Aí tem os números do que você ganha. No banco
tem aquela máquina que fica grudada na parede onde você passa o
cartão e cai o dinheiro.
Depois de registrar as atitudes, gestos e hipóteses levantadas pelas
crianças, começamos a construção da rede.
Terminado esse primeiro passo de investigação, houve a grata
surpresa de que além da possibilidade de emergir muitos elementos
matemáticos no decorrer das aulas, também poderia ser maximizado o
envolvimento das famílias como sujeitos colaboradores da aprendizagem
e no que diz respeito à valorização da realidade social e cultural em que
os nossos alunos estão inseridos.
No intuito de aumentar o interesse dos alunos e não deixar
abrandar sua curiosidade começamos a fazer atividades práticas.
Os pais recebiam informativos durante o desenvolvimento do
projeto que explicavam cada passo do processo e onde eram solicitadas
informações sobre suas profissões, como e onde as famílias gastam o seu
dinheiro, quem trabalha para contribuir com a rend a do lar e outras
questões que fossem pertinentes. Ainda pedimos que os pais ajudassem
as crianças a encontrarem reportagens e imagens sobre profissões em
jornais e revistas ou mesmo escrevessem um pouco sobre o seu trabalho.
Cada criança tinha a oportunidade de colar a figura que trouxera num
grande pedaço de papel pardo e também explicar o que sabia sobre a
73
profissão que estava mostrando. Essa fase de investigação foi permeada
por múltiplas encenações. Cada diálogo nas rodinhas de conversa trazia
um elemento novo que devia ser explorado e experimentado, com uma
mistura de realidade e ludicidade.
Novamente mandamos um questionário para os pais, que
responderam onde trabalhavam e de que maneira a sua profissão
contribui para a transformação da sociedade. Quando os questionários
voltaram, pudemos conversar sobre a importância de se ter um emprego.
Cada criança começou a contar onde gostaria de trabalhar quando
crescesse e decidimos que seria legal se cada criança encenasse a
profissão por ela escolhida.
Depois, cada criança “recebeu o seu contracheque”. Montamos
um banco em plena sala de aula, com direito a caixa eletrônico, cartão
para saque e criação de senha individual.
De uma forma criativa e divertida, todos foram até o banco e
receberam o seu primeiro salário com cédulas e moedas confeccionadas
pelas próprias crianças.
Quando resgatamos as informações que vieram de casa, elas
chegaram à conclusão de que todas as famílias tinham contas em comum
para pagar: água, luz, alimentação, gás, roupas, mas que entre todas o que
havia em comum era o maior gasto de todos com alimentação.
Encontramos carnês antigos de lojas e demos um jeito de criar uma
loja imaginária para pagá-los, mas o principal não podia faltar, a ida ao
supermercado do bairro.
A visita ao supermercado do bairro foi um dos pontos altos desse
projeto. Lá todos puderam perceber as diferenças de preços entre marcas
74
e entre produtos e esboçar as suas opiniões sobre caro e barato e sobre o
que realmente precisamos comprar e o que é dispensável. As crianças
também perceberam que havia uma organização no mercado, material de
higiene não poderia ficar junto com os alimentos, que os produtos eram
expostos nas prateleiras um ao lado do outro e que existiam muitas
maneiras de se comprar os produtos, por exemplo, por unidade e por
quilo.
No fim da visita decidimos comprar um suco para tomarmos juntos
na escola. A moça que trabalha no caixa do mercado presenteou a todos
com uma bala. Nesse momento surgiram novas ideias sobre o que é
troco e o que é grátis, e no caminho de volta para a escola foram
discutidas entre as crianças sendo que aquelas que já entendiam um
pouco mais do assunto socializavam os seus conhecimentos ajudando
aqueles que ainda não sabiam.
As atividades foram se desenrolando e as crianças elaborando e
reelaborando significados sobre o que viam e vivenciavam. Entretanto,
permaneciam inquietos com relação ao dinheiro que está no banco.
Percebendo que a ansiedade deles aumentava, planejamos uma
visita ao Banco SICREDI, agência bancária mais próxima da Escola,
onde todos poderiam ir a pé.
Antes do passeio, a diretora da Escola, que estava em contato direto
com o desenvolvimento do projeto, fez os contatos necessários para que
fôssemos recebidos na agência fora do horário de expediente, A gerente
do banco disse estar surpresa ao saber que estávamos trabalhando um
tema tão complexo com crianças pequenas. Elas puderam ver todos os
setores, conhecer como funciona um banco, que há uma organização,
75
cada um espera sua vez para ser atendido de acordo com a senha que é
chamada pelo painel eletrônico. Olharam bem de perto um caixa
eletrônico, fizeram suas perguntas e sanaram dúvidas.
Um dos momentos surpreendentes da visita foi quando a gerente
perguntou o que eles tinham aprendido com o p rojeto e um aluno
respondeu: não devemos gastar de uma só vez o salário, senão vai faltar
para pagar as contas e comprar comida.
No fim do passeio todos puderam trazer para casa folders que
embora tratassem de assuntos alheios a sua compreensão, as remetiam
um pouco mais àquele universo de novas descobertas. Todo o
planejamento nos levou ao sucesso da visita, pois a nossa “guia” dentro
do banco, foi muito acessível e percebeu o quanto às crianças estavam
interessadas naquelas descobertas e como tudo aquilo contribuiria na vida
daqueles pequenos investigadores, explicando com paciência e satisfação
todas as perguntas.
Como não poderia ser diferente, surgiu a outra face do tema. Um
aluno perguntou: E aqueles que não trabalham e não recebem um
salário? Então partimos para uma nova linha de investigação, que tratava
das necessidades básicas do ser humano, como alimentação, banho,
roupas limpas, uma casa para morar. E novos e acalorados debates se
faziam presentes em nossas aulas. Tudo o que era relatado, em seguida
era registrado pelas crianças como mendigos, pobres sem teto, moradores
de rua sem camisa, sujos, com sede e fome, com expressão triste. Ao
mesmo tempo surgiam fios de esperança, de solidariedade nos relatos e
desenhos que mostravam pessoas ajudando outras pessoas.

76
Para formar a memória pedagógica do trabalho tudo foi
devidamente fotografado e arquivado para posterior exposição.
No fechamento do projeto foi possível montar um painel de
memórias das crianças para serem compartilhadas com os próprios
colegas e com as famílias.
Esse projeto deu-nos muitas oportunidades de experimentar novas
situações e validar ou rejeitar hipóteses antigas, As crianças aprenderam
o significado daquele simples papel (onde está escrito o quanto a prô
ganha por mês para trabalhar), agregando a esse conhecimento a
importância do trabalho e o planejamento de gastos da família.

77
Registro através da escrita,
Números e letras
confecção do contracheque, cédulas
e moedas. Noções de quantidade
Dramatização
Escrita dos símbolos e
dos valores reais

Escrita
Como fazemos ara pegar
Real aquele dinheiro?
Isto é um papel que tem
escrito quanto a prô ganha
Como é o nome do No banco tem aquela máquina
nosso dinheiro?
que fica grudada na parede e
Serve para O que é isso? passa o cartão e cai o dinheiro
comprar comida

Aí tem os números CONTRACHEQUE


do que tu ganha

Lá em casa quem traz o dinheiro é Tem dinheiro aí?


Meu pai me dá moeda e eu gasto
o pai, a mãe e a fada do dente

Não! O dinheiro está


Todos tem Onde você gasta? O que mais
no banco. podemos comprar com esse dinheiro?
trabalho diferente

Construção de maquetes e Brincadeira de mercado,


Como temos direito de Profissões
brincadeiras de bancos e visita ao mercado vizinho
ganhar o salário?
caixas eletrônicos e construção de cédulas
e moedas

Pesquisa junto às
famílias Rda de Coversa
Desenho Recorte de revistas de
Rodas de Conversa Dramatização produtos e preços

Álbum elaborado pel as Rda de Coversa Produtos e Quantidades


famílias e desenhos 78
FRIO
Janúsia Guedes Fontes

O projeto “Frio” foi desenvolvido pela turma do Pré II A, do


turno da manhã que é composta por 19 alunos e possui como
especificidade a inclusão de três crianças com necessidades educacionais
especiais e, portanto conta com o auxílio de uma monitora.
No mês de junho, quando pela manhã a temperatura começou a
baixar, iniciou-se uma nova rotina na vida das crianças que incluía uma
diversidade de roupas de inverno, as quais as crianças não gostavam de
usar e também as gripes, bronquites, asmas e as medidas de prevenção da
gripe H1N1. Diversos foram os questionamentos e argumentações das
crianças diante da mudança climática que se apresentava: Não gosto de
casaco?, Quando tem cobertor é bom!, Tem crianças que passam frio!.
Com isso ficou claro que um projeto sobre o inverno seria
interessante e ajudaria as crianças a perceberem a importância de vestir-
se adequadamente diante da baixa temperatura que se apresentava.
Iniciamos com a observação diária, sempre no mesmo horário, de como
se apresentava o clima (vento, temperatura, nuvens, chuva, geada,
nevoeiro). Estas informações diárias eram registradas em uma planilha e
envolvia a participação de todas as crianças, oportunizando momentos
em que elas discutiam e comparavam diferentes percepções que
realizavam dos aspectos do clima do dia Não estou sentindo vento!, Mas
as folhas das árvores estão sacudindo, então tem vento! Aquela nuvem
desmanchada é nuvem? É sim, se é branco é nuvem! Mas tem nuvem
cinza e preta quando chove!.
79
Foram diversos momentos de reflexões sobre o inverno. Em uma
manhã com geada, tivemos a oportunidade de caminhar na grama
congelada e sentir os estalos que o gelo fazia, este passeio foi registrado
através de fotos da turma no pátio da escola. Em outra oportunidade
observamos um forte nevoeiro que se formou e aguardamos para
verificar se o ditado popular era mesmo verdadeiro: “Serração baixa, sol
que racha!”, a alegria das crianças em perceber que as nuvens foram
embora e deram lugar a um lindo dia de sol foi imensa, reafirmando o
conhecimento dos avós. Este ditado popular foi registrado no caderno e
foi interpretado através de desenho.
Percebendo a riqueza das informações que começavam a se
estabelecer foi iniciada a criação de uma rede de hipóteses, objetivando a
organização e visualização do projeto de uma forma dinâmica.
Para enriquecer o trabalho foram realizadas pesquisas na internet,
onde se verificou que dependendo da região do país o inverno apresenta
características diferentes. A partir desta pesquisa construímos uma
maquete representando o clima e as regiões do país.
Criamos um mascote em forma de criança que iria visitar todas as
casas, objetivando principalmente o interesse das crianças no vestuário
de inverno. O mascote recebeu o nome de Mateus e teve suas
características físicas definidas em votação: cabelos pretos, olhos azuis e
sexo masculino.
Para a surpresa das crianças o mascote foi para suas casas, tendo a
data definida através de sorteio, o contemplado do dia o levaria
juntamente com um caderno de registro, onde duas tarefas deveriam ser
cumpridas: a primeira, se possível, doar para o boneco uma peça de
80
roupa que não estava sendo usada, já que o mesmo não tinha roupas
adequadas para a estação; a segunda, registrar, com o auxílio dos pais,
um costume da família nos dias frios (receitas, formas de enfrentar o frio,
brincadeiras...). Ficou combinado com a turma e com os pais que todas as
roupas dadas ao mascote, após o término das visitas, seriam
encaminhadas para doação. Com esse gesto, as crianças puderam
vivenciar o sentimento de solidariedade, tão presente em nossa região
que apresenta frio intenso no inverno.
As crianças também vivenciaram um gesto de solidariedade
quando receberam uma mantinha de presente do mascote. Outro olhar
para a solidariedade foi realizado através da leitura do livro “O tricô de
Tina” de Sheryl Webster e Caroline Pedler. Neste dia cada criança
observou a sua professora fazendo tricô e teve a oportunidade de
experimentar com linhas e espetinhos este tipo de artesanato tão presente
em nossas famílias. Outra obra trabalhada foi “Amigos da Neve” de M.
Christina Butler e Tina Mcnaughton que enfatizava a questão da
amizade. Para registrar esta história foi construído um boneco de neve
utilizando papel e recortes de fibra. O boneco recebeu de presente das
crianças uma manta confeccionada em tricô, resultado do trabalho
anterior.
A palavra FRIO estava presente todos os dias e em todos os
momentos, já que o inverno foi muito rigoroso: Prô, tá frio!, Hoje não
vamos brincar no pátio porque está muito frio!. A partir desta palavra tão
significativa, foram estabelecidas relações com outras palavras e
construído um cartaz com figuras.

81
Concomitante a todas estas atividades, seguia as anotações da
planilha diária do clima. Após um mês de observações encerrou-se esta
etapa e partimos para a organização dos dados. Interpretamos e
agrupamos as informações na construção de um gráfico, onde
enfatizamos os aspectos climáticos e diversas habilidades envolvendo os
conhecimentos lógico- matemáticos.
As notícias sobre casos de gripe H1N1 motivaram o convite para
que enfermeiras do Posto de saúde da Vila União fossem até a escola
conversar com as crianças sobre o inverno e suas doenças. A turma
preparou-se para a palestra, com questionamentos sobre o tema. Na
palestra, entre outros aspectos, as enfermeiras ressa ltaram a importância
de lavar as mãos tendo como recurso lúdico gravuras e histórias.
O projeto continua em andamento com o mascote passeando nas
residências. Mas alguns conhecimentos já estão consolidados como: a
importância do uso adequado de roupas para evitar doenças no inverno, o
envolvimento e alegria na doação de roupas através do mascote
trabalhando a solidariedade, o cuidado com o corpo no sentido de lavar
bem as mãos e manter higiene e principalmente na observação do
ambiente com a percepção que as variações climáticas afetam o modo de
vida de todos.

82
LUA

Professoras da EM EI Osório Cardoso Teixiera 22

No cotidiano da EMEI Osório Cardoso Teixeira fomos


surpreendidas pela atitude de um menino que, durante atividade de
recreação no pátio, deitou-se sobre a grama para descanso e,
contemplando o céu, constatou que era possível visualizar a LUA. Por
que ela não cai? Por que ela muda? Por que podemos vê-la de dia?

22
Cecília Amaro Cavalheiro; Chaiane Colonbelli; Danusa Tobias Machado; Gelcy
Cristina de Souza Castejon Branco; Giovana Petry; Glaycianne Oliveira Freit as Silva;
Joslaine Weydmann Rezende; Simone Costa; Viviane Tessaro Silva.
83
Em outras situações algumas crianças explicavam os fenômenos
nas rodinhas de conversas onde evidenciavam hipóteses primárias: A lua
é presa nas nuvens! Jesus é o pai da lua! A lua é colada com durex ! O ar
e o vento seguram a lua! A lua tem uma ficha e vai trocando! A lua muda
como a gente muda de roupa! Existem várias luas. É quatro! A lua e o
sol combinaram de aparecer um de cada vez! A lua é amiga do sol!
O interesse e a curiosidade das crianças pelo tema fizeram com
que a Escola ampliasse o planejamento pedagógico a fim de dar
encaminhamento ao projeto que surgira.
Oportunizamos às crianças momentos de investigação sobre o
assunto. Assim, durante as rodas de conversa conhecemos crenças
populares. Lemos muitos livros infantis e alguns científicos que
apresentavam os astros. Pesquisa na internet, fotos e vídeos também
serviram como fonte de consulta.
A partir de materiais alternativos construímos binóculos, lunetas e
óculos ultravioletas.
Brincando com os óculos, as lunetas e os binóculos as crianças
verificavam que, conforme a cor do papel celofane usado o céu mudava
de cor.
Utilizando o globo que construímos com as crianças usando
material alternativo e com a ajuda de uma lanterna, a professora explicou
os movimentos da Terra e as mudanças das fases da lua. Registramos as
novas descobertas em cartazes e construímos a caixa das fases da lua.
Confeccionamos, utilizando diversos materiais, painéis
representativos do dia e da noite: de dia o céu é azul, tem sol e nuvens...
de noite é escuro, tem lua e as estrelas. Durante a montagem do painel
84
surgiram hipóteses sobre a chuva o que nos deu a ideia de montar, no teto
de cada sala, um “céu”. Com a ajuda das crianças, montamos os
ambientes que serviram para observação no decorrer do projeto. Na sala
do Pré onde estava representado o dia ensolarado, as crianças observaram
e diziam: O sol é amarelo, ele brilha forte. Na sala do Maternal II, ao
observarem a representação da noite com as quatro fases da lua, diziam:
A lua muda, ela é uma só, às vezes ela é gorda e às vezes como uma
banana. Na sala do Maternal I, onde havia um céu escuro e a chuva, eles
diziam: Tem que usar guarda-chuva, a chuva esconde a lua e o sol, o céu
fica escuro. Na sala do berçário um grande arco-íris era contemplado
pelos bebês que, admirados, apontavam e os maiorzinhos nomeavam as
cores.
Em seguida realizamos outras atividades de registro: confecção de
álbuns sobre as fases da lua, modelagens do céu e de tudo o que pode
aparecer lá.
Para que houvesse uma melhor compreensão sobre os
questionamentos que surgiram, foi realizada uma apresentação dos
acadêmicos do curso de Física da Universidade de Passo Fundo, o grupo
GEMPAF, sobre a lua e suas fases.
Com o desenvolvimento do projeto, a ampliação do conhecimento
das crianças pode ser observada nas suas próprias falas: Existe uma só
lua; enquanto é dia em um lugar é noite em outro, que nem no Brasil
aqui e Japão lá (apontando para o globo terrestre); a lua é só uma e ela
muda, se transforma; existe uma força grande e invisível que segura a
lua no céu; só vemos a lua de dia quando é Nova, é um jeito diferente
que ela aparece; o sol ilumina a lua e ela muda e a terra gira; tem um
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lado todo escuro que é nova; outro lado iluminado é cheia; quando fica
perto da cheia fica só uma partezinha de luz e depois escuro, é a
minguante, depois da nova vem a crescente que o sol tá ali perto.
Proporcionamos um momento para que as famílias, juntamente
com as crianças, apreciassem os espaços montados nas salas de aula e
escutassem as suas explicações. E depois todos se dirigiram para um
terreno ao lado da escola para apreciar um eclipse lunar com o telescópio
montado por professores e crianças.

86
POR QUE TANTA CASINHA IGUAL?
Andrieli dos Santos
Arleia Bellini
Joane Ferreira da Silva
Maria A laíde Winter Ferreira

O projeto da EMEI Fadinha denominado “Por que tanta casinha


igual?” surgiu a partir de um passeio que as crianças das turmas do
Maternal e Pré-escola II realizaram no bairro onde moram, já que,
seguidamente as crianças desenvolvem atividades fora do espaço da
escola explorando assim o contexto da comunidade local.
Neste passeio, assim como em outros, as crianças manifestaram
interesse em compreender as modificações do contexto. Atentas a tudo o
que acontece em seu redor, neste dia o interesse das crianças voltou-se
para a construção de muitas casas iguais próximas à escola.
Antes de iniciarem as construções as crianças brincavam naquele
espaço que era um local com muitas árvores, uma paisagem natural que
estava sendo modificada. Em suas observações as crianças faziam
comparações com fatos de outros locais. Lá perto de casa estão
arrumando os terrenos e deixando eles bem retinhos para fazer uma casa
em cima. Eu também vi que tem umas casas que já estão sendo pintadas.
O lugar em que estavam sendo construídas as casas fica nas
proximidades da escola e sempre que passavam por ali as crianças
acompanhavam as modificações que estavam sendo realizadas e daí seus
questionamentos: Ô prôôôôôô... Porque tanta casinha igual? Quem vai
morar aí? De quem são essas casas?
Ao observarem um caminhão despejando concreto nas formas das
paredes das casas, mais perguntas: É o caminhão que constrói a casinha?
87
Tem um monte de homens trabalhando lá nas casinhas. O prefeito é o
dono das casinhas. A minha casa é diferente, é de madeira.
As novas casas de concreto, todas do mesmo tamanho e a
maneira de serem construídas, foi o que realmente empolgou as crianças
e começou a despertar seu interesse e curiosidade. Eu vi as terras bem
retinhas e umas quantas casinhas. Eu até vi que estão colocando as
portas e as janelas nas casas. Tem um monte lá.
Em meio a tantas perguntas, nós professoras fomos buscar
informações que começassem a responder as dúvidas dos alunos. Assim
fizemos contato com o arquiteto responsável pela obra e fomos
informadas que se tratava de um projeto habitacional de casas populares
da Secretaria Municipal de Habitação.
Também nos disseram que aquelas casas eram construídas de uma
forma diferente. Mas como assim de uma forma diferente?
Em meio a tantas novidades, perguntas e curiosidades a respeito
das construções começamos o projeto “Por que tanta casinha igual?”
Inicialmente foram realizados vários passeios ao loteamento onde
estavam sendo construídas as casas, lá as crianças puderam observar as
diversas etapas da construção das casas e ficavam eufóricas e
maravilhadas com o processo da construção: a preparação do terreno, a
construção do radie (base), as formas para erguer as paredes, o concreto
despejado nas formas, e eles faziam comparações com as construções
tradicionais, e também com suas casas, dizendo: A minha casa é de
madeira. A minha é de madeira e tijolos. Enquanto outro aluno falava
que a casa da história do lobo era de palha. Assim, cada dia que passava
muitas histórias eram contadas pelos alunos que acompanhavam com
88
muito interesse o processo de construção do conjunto habitacional. E na
escola através de diversas atividades as descobertas iam sendo
sistematizadas.
Em uma nova visita à construção, observamos que eram montadas
formas e que nelas era depositada uma massa cinza que era trazida por
um caminhão.
Surgiram assim outras perguntas: Ô prôôôôô, porque que esses
homens montam essas coisas? E o que tem dentro desse caminhão? O
que ele traz? Parece uma massa cinza.
Foram realizadas entrevistas com os responsáveis pela obra, com
o secretário de Habitação, com o arquiteto e com profissionais que
trabalhavam na construção como pedreiros e pintores. Ficamos sabendo
que no início, no terreno que a casa ocuparia, era feita a terraplenagem,
ou seja, deixar a terra bem retinha. Após era iniciada a construção da
base da casa, que é chamada radie. Feito isso, são montadas aquelas
coisas, que na verdade são formas de ferro armadas sobre a base pronta.
Então, em vez de tijolos ou madeira, nas formas é depositada aquela
massa cinza trazida pelo caminhão, ou seja, o concreto. Espera-se de 12 a
18 horas depois que o cimento foi colocado e então a forma pode ser
retirada, depois é construído o telhado e realizados os demais
acabamentos da casa.
As crianças receberam na escola a visita de um pai que é pedreiro
e de uma forma prática os alunos ficaram conhecendo pedra de brita e
cimento, componentes que dão origem ao concreto. Eles puderam
visualizar cada ingrediente separadamente, analisando sua textura, sua

89
cor. Também tiveram a oportunidade de fazer seu próprio concreto, com
a ajuda do profissional e das professoras.
Durante a visitação à construção os alunos puderam conhecer o
interior das casas prontas, onde viram seus cômodos e sua estrutura
interna. Na escola eles representaram a planta baixa de uma casa. Para
realizar esta atividade nos orientamos pelo estudo da planta das casas
fornecida pelo arquiteto. As crianças aprenderam que em primeiro lugar
se faz um desenho de como a casa será construída e a partir desse
desenho a construção tem início.
No dia seguinte, foi feito um passeio pelo bairro, onde as crianças
observaram como as casas próximas a escola eram construídas.
Encontramos casas de tijolo, de madeira, mistas e também de várias
cores. Durante o passeio fizemos visitas às casas dos alunos e
registramos com fotos. Cada aluno descreveu sua casa aos colegas
dizendo como ela é construída e que materiais foram usados para isso.
Em sala de aula os alunos realizaram desenhos retratando suas
casas. Também trabalharam com jogos pedagógicos, com os quais
construíram suas casinhas de brinquedo e podiam fazer comparações
entre as várias maneiras de montagem. Também puderam observar as
formas geométricas dos jogos e suas cores.
Num desses passeios, as crianças observaram uma casa de barro
no alto de um poste, então descobrimos que aquela era a casa de um
pássaro, o joão de barro, e assim as crianças passaram a observar o que
encontravam no caminho, e descobriram casas de diferentes animais:
formigueiros, ninhos, canil. Com isso foram realizadas conversas na
rodinha sobre a importância de se ter uma casa, de como é bom estar com
90
a família em nossa casa, que existem crianças que não têm uma casa para
morar. E que, assim como nós seres humanos, os animais também
precisam de um lugar seguro para viver e que é errado destruir suas
casas. Que existem pessoas, que sem necessidade, destroem as casas de
vários animais com a derrubada de árvores, queimadas, caça ilegal.
A partir dessa conversa, uma das turmas confeccionou um jogo ao
qual deram o nome: De quem é essa casa?, onde as crianças
relacionavam cada ser vivo ao seu respectivo habitat natural.
Também trabalharam com livros, entre eles A Casa Sonolenta e os
Três Porquinhos. A contação de histórias foi acompanhada por atividades
em que observavam os tipos de casas e tipos de materiais usados na s ua
construção.
Confeccionamos uma maquete representando o Conjunto
Habitacional através da utilização de materiais alternativos, recorte,
colagem, dobraduras. Através dela os alunos puderam visualizar as
casinhas numa perspectiva diferente.
As aprendizagens realizadas foram socializadas entre as turmas
através da divulgação e exposição dos trabalhos produzidos e também
uma exposição aberta à comunidade escolar que contou com a
participação dos pais dos alunos. As crianças também participaram da
inauguração do Conjunto Habitacional.

91
O QUE TEM DENTRO DO CAMINHÃO?
Claudia Fabrina Bohrer
Vanusa Rocha Assis
Priscila Beck Fabiani

O projeto “O que tem dentro do caminhão?” iniciou em uma tarde


do mês de maio, quando a turma do berçário, composta de 13 crianças,
na faixa etária de 1 a 2 anos de idade brincavam no pátio.
Enquanto algumas crianças estavam distraídas brincando, o
menino Renato avistou um caminhão que estava parado em frente à
escola e gritou: Prô o minhão! Nesse momento os demais, motivados
pela curiosidade do colega, aproximaram-se da grade do pátio para
observar a movimentação no caminhão. Notando a agitação e o interesse
das crianças, também nos aproximamos e percebemos que se tratava do
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caminhão que faz a entrega das frutas e hortaliças na escola. Como nem
todas as crianças conseguem se expressar verbalmente, devido à sua faixa
etária, apenas algumas comentaram o que estavam visualizando e as
outras apenas ficaram olhando atentamente.
Enquanto olhavam o caminhão as crianças comentavam: O
minhão! É gandi! Tem papá! Banana! O titio! Um sei!
A partir das primeiras curiosidades das crianças no pátio,
retornamos para a sala de aula e na rodinha demos continuidade à
conversa: explicamos que o titio do caminhão estava trazendo comida
para as crianças, mostramos alguns caminhões de brinquedo que temos
na sala de aula, momento em que as crianças se dispersaram brincando
com os caminhões, ficamos observando a suas reações ao brincarem e
percebendo o entusiasmo e satisfação das mesmas pelo caminhão,
vislumbramos um excelente tema a ser trabalhado e começamos a
estruturar a rede do projeto.
Para saber mais sobre o caminhão e despertar ainda mais a
curiosidade das crianças, decidimos fazer uma visita ao caminhão.
Compreendemos que seria interessante mostrar para as crianças o que
realmente havia dentro do caminhão. Na semana seguinte, quando o
caminhão chegou à escola para fazer a entrega, conversamos com o
motorista da possibilidade das crianças visitarem o caminhão.
Prontamente ele estacionou o caminhão bem em frente à escola para
facilitar a entrada das crianças, pois estava estacionado do outro lado da
rua.
As crianças ficaram encantadas dentro do caminhão, caminhavam
de um lado para o outro e pegavam um pouco de tudo, levavam os
93
alimentos à boca, cheiravam e faziam os seguintes comentários: a Bruna,
logo que entrou gritou: batata, batata, na realidade era mamão; o Nicolas
pegou o tomate e disse vermelho e assim, de uma forma divertida, as
crianças foram fazendo as suas descobertas, apenas o Kauã não quis
entrar no caminhão.
O motorista do caminhão ficou encantando com as crianças,
principalmente quando explicamos o trabalho que estava sendo realizado
e comentou: Como a escola é importante no desenvolvimento das
crianças. No meu tempo só tinha jardim e não se trabalhava assim,
agora as crianças já começam a aprender desde bem pequenos, eu não
imaginava. Vocês devem mostrar as fotos para os pais, eles vão ficar
muito orgulhosos.
Como entrar no caminhão não esgotou o entusiasmo e o interesse
pelo assunto, demos continuidade ao trabalho com caminhões.
Construiríamos caminhões em tamanhos diferentes, de forma que as
crianças pudessem brincar e diferenciar os tamanhos, pois uma das falas
que surgiu no dia em que avistaram o caminhão foi: É gandi! Sendo que,
no caminhão maior, eles poderia brincar dentro. Começamos a recolher
caixas de papelão com as colegas e mercados próximos à escola e
iniciamos a atividade. As crianças arrastavam as caixas pela sala e
ajudaram com muito entusiasmo a construir, pintar, colar figuras de
frutas e legumes de encartes de supermercado e principalmente a disputar
o passeio no caminhão. Não poderiam faltar alguns desentendimentos,
quando o Renato gritava o minhão é meu, é meu, não querendo deixar
mais ninguém entrar no caminhão, decidimos então fazer um passeio

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coletivo, com varias crianças dentro do caminhão, apesar de apertado, as
crianças adoraram.
Conforme estávamos desenvolvendo as atividades achamos
necessário envolver as famílias. Conversamos com os pais quando
vinham pegar os filhos na escola, explicamos sobre o projeto que estava
sendo trabalhado e entregamos um questionário para obtermos mais
informações a respeito de quais as frutas e legumes eram mais
consumidas em casa e qual a fruta ou legume que a criança mais gostava.
Ao retornarem os questionários percebemos que poucas
famílias têm o hábito de comer diariamente frutas e legumes e o que
mais nos chamou a atenção foi que muitos pais não souberam responder
qual a fruta que seu filho mais gosta. Colhidas estas informações,
começamos organizar mais algumas atividades para sanar as
curiosidades das crianças e melhor vivenciar o tema.
Selecionamos algumas frutas e as crianças puderam manipulá- las,
pronunciamos o nome e observamos a cor de cada fruta e,
principalmente, degustamos. As crianças foram fazendo várias hipóteses:
a Stéphanie quando viu o kiwi disse é milho; o Nicolas comentou sobre a
maçã dizendo é cor de menina, no mesmo momento houve a
oportunidade de comparar a cor da maçã com a camiseta que o menino
estava usando, a Maria Beatriz quando viu o mamão disse nojo, a
Giovana quando tocou o abacaxi disse dói.
No intuito de aumentar o interesse das crianças pelas
frutas e incentivá- las a comer e mostrar que podemos consumi- las de
várias maneiras decidimos fazer, na semana seguinte, junto com as
crianças, suco e batidas. As professoras e a assistente se dividiram e
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cada uma trouxe um tipo de fruta, um dia foi feito suco e no outro,
batida. Colocamos um cartaz com os tipos de frutas utilizadas,
mostramos as frutas para as crianças e explicamos o que seria feito,
pedimos emprestado o liquidificador para a Tati da cozinha e iniciamos
o trabalho. As crianças ficaram muito atentas a tudo que acontecia e
apenas o Kauã e o Pedro se assustaram com o barulho do liquidificador.
Tivemos que parar, pegá- los no colo e mostrar de perto o que estávamos
fazendo e explicamos a eles que o barulho era parecido com o do
caminhão; aos poucos eles foram se acostumando e não choraram mais.
Na hora da degustação, algumas crianças não quiseram nem provar,
como a Maria Beatriz. Em compensação, o Renato provou todos e
repetiu o suco de abacaxi.
Após terem conhecido melhor as frutas, organizamos um
piquenique no pátio da escola com vários tipos de frutas, onde as
crianças tiveram a oportunidade de escolher a de sua preferência para
comer. Algumas crianças escolheram a fruta de sua preferência e
degustaram com muito prazer, enquanto outras pegaram a que lhe
chamou mais atenção, mas ao levarem à boca, fizeram carinha de nojo e
disseram caca; outros ainda pegaram na mão e cheiraram para depois
levar à boca e também houve os que pegavam várias frutas e não
quiseram comer nenhuma. Descobrimos que a fruta de maior aceitação
pelas crianças é a maçã.
Para encerrar as atividades com as frutas, fizemos um
círculo no chão e contamos a história “Frutinhas Amigas” da coleção
“Festa dos Dentinhos”. Entusiasmadas, as crianças queriam pegar o
livrinho, tentavam imitar a encenação da professora e a Maria Beatriz
96
repetia o nome da fruta maçã dizendo machã. Após contarmos a história
usamos figuras de frutas organizadas por cores e junto com as crianças
montamos um painel.
No caminhão também havia legumes, nosso próximo foco de
trabalho. Pedimos alguns legumes emprestados na cozinha (batata,
cenoura, beterraba e chuchu) levamos para a sala de aula e na rodinha de
conversa retomamos o que havia dentro do caminhão e demonstramos os
legumes vindos da cozinha, onde eles tiveram a oportunidade de
manuseá- los. Nesse momento alguns alunos levaram o legume direto
para a boca outros não queriam devolvê- lo. A Maria Beatriz, quando
pegou o chuchu logo jogou no chão e exclamou: ai pô. Deixamos os
legumes no meio da roda e a maioria queria pegar a cenoura e a
beterraba. Percebendo os legumes que mais chamaram a atenção na roda,
decidimos fazer salada com estes legumes. Fomos ao mercado do bairro
e compramos cenoura e beterraba, preparamos e ralamos os legumes
junto com as crianças, para que eles pudessem acompanhar todo o
processo e após provar, sentindo o gosto dos legumes. Observamos que
alguns alunos ao levar à boca e cuspiram, outros como o Renato e o
Kauã pediram repetição e muitos ficaram impressionados quando a
beterraba manchou seus dedinhos.
A partir da observação que fizemos quando a beterraba manchou
as mãos das crianças, resolvemos fazer junto com elas uma tinta de
creme com o suco da beterraba, receita que retiramos e adaptamos da
revista Creche.
De uma forma lúdica e divertida as crianças ajudaram a fazer a
receita e espalhando a tinta sobre o papel realizaram um lindo trabalho
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artístico. Essa técnica possibilitou o contato com uma textura diferente
proporcionando prazer pelo manuseio o que fascinou as crianças.
Ficamos impressionados com a postura das crianças, pois, realizaram a
atividade com muita maturidade, sem levar à boca ou espalhar pelo rosto,
o que é normal nesta idade.
Dando continuidade às atividades e levando em consideração
que a criança nessa faixa etária fala pouco e é nessa fase que desenvolve
a oralidade e a imaginação, selecionamos algumas histórias envolvendo o
tema: “A Sopa dos Dez Indiozinhos”. Durante a dramatização a
professora ia montando um painel com figuras de legumes. Na história do
“Camilão, o Comilão” colamos um pedaço de papel pardo no chão da
sala onde foi feito um registro coletivo. Algumas crianças participava m
expressando-se oralmente e outras demonstravam interesse através de
gestos corporais. A história em que houve maior participação das crianças
foi a “Sopa dos Dez Indiozinhos”, na dramatização as crianças
interagiam, na tentativa de falar o nome dos legumes e querendo pegar os
fantoches, pois estavam maravilhadas com a encenação.
Sabendo que as crianças gostam muito de brincar com bola,
resolvemos promover na sala de aula um espaço de descontração
realizando uma brincadeira dinâmica e interativa: o jogo de boliche,
incluindo figuras de frutas e legumes com o intuito de desenvolver a
capacidade motora, a contagem oral e a memorização do nome das horti-
frutis. No início, as crianças ficaram impressionadas e no decorrer da
atividade apresentaram inquietação, todos queriam participar ao mesmo
tempo. A Maria Beatriz, ao pegar a bola para jogar, colocou-a no chão e
chutou os demais, percebendo a atitude da colega repetiram a mesma
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ação, pois notaram que tinham mais força para derrubar as garrafas com
o pé. Todos adoraram a brincadeira tanto que o Nicolas não queria largar
a bola para guardar, pedindo para jogar mais vezes.
Como já estávamos concluindo as atividades do projeto,
achamos importante envolver a família novamente. Solicitamos que nos
enviassem receitas culinárias fáceis de fazer utilizando frutas e legumes
que as crianças costumavam comer, das quais selecionaríamos uma para
fazer na sala de aula com a participação das professoras, crianças e dos
pais.
Após termos analisado as receitas enviadas verificamos que
muitos gostavam de sopa de legumes, levando isto em consideração e a
repercussão que a história “A Sopa dos Dez Indiozinhos” causou,
decidimos fazer uma sopa. Conversamos com os pais e os convidamos
para participar da realização da receita. Explicamos que seriam eles que
iriam conversar com as crianças e fazer a sopa.
No dia escolhido para fazermos a sopa houve a presença de
poucos pais, pois estava chovendo muito. Confeccionamos um cartaz
expondo as figuras dos legumes que usaríamos para a receita com o
nome de cada um em letra script. Os pais conversaram com as crianças
sobre a importância de consumir legumes e logo iniciaram a atividade.
As crianças puderam manusear os alimentos, sentir o cheiro, a textura, o
tamanho e o formato, ver as cores, além de observarem o preparo da
refeição que comeriam mais tarde. Os alimentos foram mostrados
inteiros e depois cortados em pedacinhos, o que possibilitava aos
pequenos fazerem a correlação entre aquilo que comeriam e o que estava
sendo apresentado. Neste dia o Pedro não queria ficar parado, querendo
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pegar os legumes, a Giovana só queria o colo da mãe que estava
presente, e a Maria Beatriz estava encantada com a presença do pai.
O que chamou à atenção de todos foi a presença do pai da
Maria Beatriz, pois raramente os pais participam desse tipo de atividade.
Após auxiliar na sopa, ele comentou que estava surpreso com o projeto
principalmente por estar sendo desenvolvido no berçário, e que a filha
chega em casa todos os dias tentando relatar o que aconteceu na escola.
Também ressaltou sobre a importância do projeto na educação alimentar
das crianças, pois eles estão desenvolvendo o paladar e muitas famílias
não têm o hábito de consumir frutas e legumes. Prosseguindo, falou que a
escola está de parabéns pelo trabalho que vem realizando.
Para os registros do projeto foram feitos, além dos caminhões,
os painéis e tudo foi devidamente fotografado. Ao término do projeto, as
crianças além de saberem o que realmente havia dentro do caminhão,
também começaram o aprendizado da importância de uma alimentação
saudável.

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TUCANOS
Simone de Fát ima Borges Cavalheiro

O projeto “Tucanos” surgiu em uma manhã de junho quando


alguns tucanos fizeram uma visita ao pátio da escola enquanto a turma do
pré E se encaminhavam ao refeitório para tomar café. O aluno Arthur
gritou chamando a atenção da professora e da turma para um visitante
inusitado pousado em uma árvore no pátio interno da escola, afirmando
que era um tucano. Parando, observamos a linda ave e as crianças
começaram a questionar se seria mesmo um tucano ou um pardal, ou
ainda um joão de barro. Perguntaram, também, se ele morava na árvore
sozinho, se à noite ele ia embora, se só dava para ver de dia, se ele comia

101
banana, se dava para prendê- lo. Como não podíamos perder a hora do
café, combinamos que conversaríamos mais sobre os tucanos em sala de
aula.
Na sala de aula, já na rodinha, o assunto voltou e surgiram novos
questionamentos. As crianças queriam saber se eles tinham dentes; se
engoliam inteiro e comiam rato do banhado; como os caçadores pegam
os tucanos; se podem ser vendidos. Decidimos então que iríamos
procurar respostas para aprender mais sobre essa ave tão linda que após
esta visita, passara a fazer parte das suas vidas.
Continuamos conversando e decidimos como iríamos trabalhar a
problemática levantada em sala de aula. Após organizar tudo que as
crianças falaram em uma teia, percebemos que seria necessário de dois a
três meses para estudar o tema escolhido.
Com tudo organizado e o tempo definido, foi feito um
levantamento dos recursos que iríamos utilizar e com quem poderíamos
contar na organização do projeto. Contaríamos com as professoras da
escola, as funcionárias da biblioteca pública, o funcionário do zoológico
da UPF e precisaríamos de folhas de ofício, materiais alternativos, colas,
cartolinas, lápis de cor, papel colorido, canetinha, canetões e o que fosse
necessário para conhecermos os tucanos.
Definido os primeiros percursos, começamos a buscar respostas
para as problemáticas levantadas sobre o tema. Sendo que as tarefas
foram divididas conforme o interesse dos alunos.
O primeiro passo na busca da construção do conhecimento foi
enviar um questionário para os pais, onde eles nos responderam
perguntas simples como: se já haviam visto um tucano, se sabiam do que
102
eles se alimentavam, como era o ninho dessa ave e se seus filhotes
nasciam com penas. Com as respostas, fizemos um levantamento do
conhecimento demonstrado pelas famílias e que também significava as
primeiras informações que as crianças possuíam e que foram
compartilhadas na hora da conversa.
Desse modo o próximo passo foi o de procurar respostas para as
questões levantadas. Partimos, então, para uma busca na internet. Lá as
crianças viram que existem aproximadamente 40 espécies de tucanos,
mas o estudo foi focado no de bico verde por ser a espécie que nos
visitou. Nesta pesquisa vimos o tamanho do tucano, como é seu ninho,
seus hábitos, sua alimentação, a reprodução, como nascem os filhotes, as
ameaças a que estão expostos, os predadores dos ninhos, os traficantes de
aves, suas cores e outros assuntos, que foram sendo integrados no
desenvolvimento do projeto.
A seguir fizemos uma visita à biblioteca pública. As crianças, ao
manusearem os livros dispostos com muito carinho pelas bibliotecárias
em uma mesa, se maravilharam com tantas imagens e com o que mais
descobriram sobre a ave em questão. Ao retornar à escola eles tinham
muitas ideias sobre o novo amigo.
A leitura do livro “A turma do loteamento”, que conta a história
de um bando de tucanos de bico verde que foram à cidade em busca de
alimentos, assemelhando-se com o que aconteceu com os tucanos que
visitaram a escola, foi de grande ajuda na busca pela compreensão do que
os tucanos estavam fazendo no pátio da escola.
Quando já havíamos coletado uma quantidade significativa de
informações sobre o tema, partiu-se para o estudo prático de tudo o que
103
viram. Iniciaram as atividades para fixar o conhecimento que foi
construído, o trabalho foi articulado a partir das primeiras falas das
crianças.
Com as primeiras falas Prô olha lá na árvore é um tucano, É um
pardal, Não, não é um João de Barro. Buscamos diferenciar as três
espécies conforme o tamanho e o tipo de ninho. Trabalhamos esta
diferença, primeiro em um cartaz, onde as crianças puderam comparar os
tamanhos com suas próprias mãozinhas e com palitinhos de picolé e foi
levantada outra questão, de que quantos picolés tinham que comer para
dar o tamanho do tucano e dos outros pássaros e quantas mãozinhas
seriam necessárias. Após essa atividade, em um exercício xerografado,
eles compararam os tamanhos, diferenciando o maior, o médio e o
pequeno.
Os tipos de ninho também foram trabalhados em cartaz.
Construíram e relacionaram os ninhos dos pássaros: o ninho do joão de
barro, uma casinha de barro; o do pardal com gravetos e o do tucano um
tronco feito de serragem. Depois eles fizeram essa relação em uma folha
xerografada e um desenho livre com o ninho dos tucanos coberto de
serragem para registro da atividade. Com um tronco de árvore, fizemos o
ninho do tucano e representamos como ele alimenta a fêmea quando ela
está chocando os ovos.
Com as afirmações O tucano come banana e Também, come rato
do banhado, partimos em busca do que o tucano come para sobreviver.
Voltamos às nossas anotações das pesquisas na internet e na biblioteca e
construímos um cartaz colocando estes alimentos registrados através de
um desenho livre das crianças.
104
Buscando as respostas para Ele engole inteiro e Ele tem dente,
voltamos à internet e assistimos a um vídeo, onde as crianças observaram
que o tucano come pedacinhos pequenos por não ter dente.
E para saber o que acontece com os tucanos de noite, De noite
eles vão embora? Só dá prá ver de dia? voltamos às nossas anotações e
não encontramos nada específico sobre isso. As crianças fizeram suas
próprias conclusões e disseram que ele só vem de dia para se alimentar,
pois enxergam as frutas e as sementes, podem voar sem bater em nada,
podem fugir dos caçadores e alimentar seus filhotes. À noite não dá, pois
eles não enxergam para voar, têm medo da coruja que pega eles e não
podem achar comida, por isso ficam em casa como nós, pois de noite é
hora de dormir, não ficar voando por aí. Essas são respostas criadas pelas
crianças, não serão encontradas em nenhum livro.
A fala Ele mora nessa árvore sozinho? levou a construir o
conhecimento de que os tucanos vivem em bandos. Para que as crianças
compreendessem o que é um bando de tucanos, foi feito uma pintura na
mão delas representando os tucanos. Primeiro num aluno, mostrando que
sozinho o tucano viveria triste. Depois com outra aluna, foi formado o
casal, e para encerrar com muitas mãozinhas pintadas surgiu o bando.
Assim, elas puderam compreender que um bando significa muitos
tucanos.
Quanto a sua cor, Ele é preto, Não, ele é amarelo!, Buscando
desenvolver a criatividade das crianças foi construído um cartaz com
recortes de revistas de outras coisas do cotidiano que tivessem as mesmas
cores dos tucanos. Em outra atividade, onde elas puderam exercitar a
percepção visual, fizeram a leitura de duas imagens que a professora
105
Rosane do Pré B nos deu. A primeira observação feita foi a de que não
era o nosso amigo tucano, pois nas imagens apareciam tucanos de bico
amarelo, então relataram o que viam em seus mínimos detalhes.
Brincaram com as cores e as figuras geométricas. Construímos um cartaz
com um tucano de origami, depois cada criança fez o seu, seguindo o
passo-a-passo do cartaz.
Para sabermos se Dá pra prende ele?, Não pode vender tucano? e
Como os caçadores fazem para pegar os tucanos?, tivemos inicialmente
a orientação de um soldado do batalhão ambiental da Brigada Militar,
que respondeu às perguntas das crianças. Depois fizemos um cartaz
mostrando como o homem está destruindo as árvores, local onde os
tucanos moram.
Após a conversa com o soldado, assistimos ao filme “Rio”, que
conta a história de um pássaro que foi capturado ainda filhote e teve
dificuldades para aprender a voar, pois foi criado em uma gaiola,
demonstrando às crianças que os pássaros sofrem quando são retirados de
seu ambiente natural.
Sendo escriba das crianças escrevi a história sobre os tucanos. As
falas das crianças para a construção da história foram guiadas pelos fatos
que ocorreram no decorrer do projeto “TUCANOS” e com uma boa dose
de imaginação. Falas e fatos foram registrados e vivenciados no dia a dia
das crianças. Após a construção da história, as crianças fizeram a sua
ilustração e também foi editado um gibi ilustrado pela professora.
As famílias participaram como a primeira fonte de informação,
através do questionário já anunciado e na fase de conclusão quando

106
fizeram um relato sobre o que as crianças comentavam em casa sobre o
novo amigo.
Sabe-se que tudo que se produz forma a memória do projeto. Para
conclusão do trabalho foi realizada uma exposição para as outras turmas
e para os pais, onde as próprias crianças narraram a linda história
vivenciada mostrando todo o conhecimento construído no decorrer do
projeto.
Com esta exposição ficou claro que a maior parte dos
questionamentos iniciais das crianças foi respondida. Elas aprenderam o
que os tucanos comem, a diferença entre tucano, pardal e joão de barro.
Elas mesmas disseram porque eles só aparecerem de dia; como é o ninho
e seus filhotes; que não se pode prender e nem permitir que esta linda ave
seja comercializada; que eles vivem em bandos, entre outras
aprendizagens.
Sabe-se que os questionamentos irão continuar, então para fechar
com chave de ouro e premiar a dedicação das crianças na construção do
projeto foi decidido fazer uma visita ao zoológico da UPF e conversar
com quem entende mais sobre esta ave, buscando assim o crescimento do
conhecimento já adquirido.

107
CUECA OU CALCINHA

Enir dos Santos Tormes

O projeto “Cueca ou Calcinha” aconteceu na EMEI Sonho


Encantado, localizada no Bairro Hípica na cidade de Passo Fundo. O
projeto foi desenvolvido na turma do Maternal I, (02 e 03 anos).
O projeto começou a ser vislumbrado a partir das observações e da
leitura que a professora realizava da turma, no modo como as crianças
agiam nas suas brincadeiras de faz-de-conta e o modo como davam
significado às suas manifestações. Ao brincar com as bonecas (boneco
Leleco/menino e Lupita/menina) as crianças imitavam os adultos na troca
de fraldas, colocando as luvas em suas mãos e colocando o boneco no

108
colchonete. Enquanto isso falavam: Nós vamos trocar o bebê! (Três
crianças colocando as luvas para trocar a fralda da boneca). Abriu ele!
(Abre as pernas do boneco para tentar colocar a fralda). Pô Nir, onde tá
a roupa dele! Ele fez cocô! (Pega a maleta abre o zíper para pegar
roupas). Pô, to arrumando a roupa! Eu vou levar! (Tirando e colocando
as roupas do boneco na maleta do Leleco, pois ele iria levar para a sua
casa).
Também foi observada a curiosidade das crianças pelos órgãos
genitais nas trocas de fraldas (durante a realização da troca de fraldas
sempre tinha uma criança olhando e apontando para o órgão genital) ou
quando estávamos na pracinha da comunidade, alguma criança pedia
para fazer xixi, e a professora segurava as meninas enquanto os meninos
faziam xixi em pé. Muitas eram as manifestações realizadas por eles
quanto ao uso da cueca e da calcinha. Em algum momento da aula,
sempre surgia um dos meninos que vinha me mostrar ou falar de sua
cueca, isso era a deixa para que os demais colegas também mostrassem
suas cuecas ou calcinhas. Olha minha cueca nova! Eu uso cueca! Eu uso
calcinha! Eu tenho perereca, eu sou menina! Eu passei batom na minha
boca e comi tudo! Eu tenho pinto, eu sou guri!
A princípio, as crianças não conhecem a existência de diferenças
entre as pessoas. Mesmo quando nomeiam “menino” ou “menina” ainda
não significa que já tenham alcançado a dimensão do que verbalizam. As
crianças custam a identificar que existem dois sexos, que existem
meninos e meninas. Perceber isso demanda tempo e “trabalho mental”. É
a partir de inúmeras experiências vividas pela criança que ela poderá ir
fazendo uma ideia a respeito. Este trajeto não está já estabelecido a
109
priori. A criança vai vivendo, sempre mediante os cuidados e contato
com um adulto, e é nessa relação que ele trilhará suas descobertas e suas
noções.
Para perceber o quanto as crianças sabiam sobre o assunto foi lhes
proporcionado um momento para que olhassem e observassem alguns
encartes de lojas. No primeiro momento, as crianças olhavam e
identificavam coisas das quais gostavam e que gostariam de possuir. Os
meninos identificavam brinquedos como: carrinhos, dinossauros,
bicicleta, boneco Max Steel, Play Car Bombeiros, Fórmula I, bola de cor
azul ou de um personagem como o Ben 10 ou Capitão América e diziam:
É de menino! É meu, eu vou comprar! Eu vou ganhar da minha mãe! É
minha namorada! (olhando para as fotos de meninas). É de menina,
cara! (Ao identificar o desenho gatinha, menina, princesas), personagens
(Barbie, Moranguinho, Hello Kitty) ou cor (rosa ou roxo) das gravuras.
Quando olhavam a seção de roupas, identificavam o que usavam:
Eu uso cueca! A minha cueca é esta (mostrando uma cueca Boxer). Eu
uso bermuda! É minha! (toalha do Inter ou do Grêmio). Eu vou comprar
este chinelo para mim! (Mostrando a sandália do Ben 10). Eu uso
calcinha! Eu uso vestido! É meu esse! (olhando e mostrando xampú,
creme dental e a bolsa da Barbie).
Para que as crianças pudessem manejar e operar com as
descobertas que iam surgindo e no sentido de ir fazendo uma construção
mental do que é ser menino e ser uma menina, foram organizados vários
momentos de brincadeiras de faz-de-conta com as bonecas. A criação de
alguns livros também contribuiu com a discussão do tema: “Na barriga
da mamãe”, “Livro do menino e o Livro da menina”. Estes livros eram
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trabalhados todos os dias na rodinha e observados com curiosidade, o que
trazia novos comentários: Eu tenho perereca, eu sou menina! Eu tenho
pinto e sou guri! Ela não tem pinto, é menina! Eu e o mano! Para a
figura de gêmeos. Eu na barriga da minha mamãe!
Foi então que propusemos e realizarmos o contorno de seus corpos
no papel pardo. Esse momento foi de grande alegria, todos queriam deitar
no papel pardo e ajudar a desenhar. Após o desenho do contorno do
corpo, íamos questionando a criança desenhada sobre o que ela possuía
no corpo bem como o que ela usava. – O que você usa, cueca ou
calcinha? Enquanto a professora e os assistentes desenhavam, as crianças
iam pintando seus desenhos com giz molhado. Nos dois dias seguintes
terminamos o contorno do corpo e as crianças foram ajudando a recortar.
Em outro momento, cada uma das crianças pintou o que usava (cueca ou
calcinha) e após colou no seu boneco. Depois confeccionamos um painel
com o contorno do corpo das crianças e elas identificavam-se dizendo
para os demais colegas o que cada um usava: cueca ou calcinha e se era
menino ou menina.
Para que as crianças soubessem que cada um deles cresceu e se
desenvolveu na barriga da mamãe e que foram esperados com muito
amor e curiosidade por parte de seus pais: Como seriam? (características
físicas). Parecidos com quem da família? De que sexo? Foi convidada
para visitar nossa turma uma mamãe que falaria sobre sua gravidez e seu
bebê. Aproveitando a oportunidade de termos uma grávida na escola,
convidamos a professora Daniele para conversar com a turma.
No dia da visita, esperamos pela mamãe Daniele sentados na
rodinha com os nossos bebês (bonecas) no colo. A Daniele apresentou-se
111
e mostrou- lhes o ultra-som do seu bebê, dizendo que neste filme o
médico havia gravado o bebê que tinha ali na sua barriga. No filme
apareceu um tiquinho, então soube que era um menino. Apareceu a
cabecinha, o bracinho, a perninha, apareceu o bebê bem pequenininho,
quando a barriga ainda nem aparecia e agora ele ficou bem grandão. A
prô fica imaginando como ele vai ser, seu rostinho, se vai chorar muito
ou se vai ser calminho.
Contou ainda que quando soube que era um menino, a primeira
coisa que comprou foi um cobertor azul, para colocar no bercinho e ele
ficar bem quentinho. Mostrou para a turma uma toalha bordada com o
nome Rafael, nome que daria ao seu bebê e também várias roupinhas de
diferentes cores. Salientou que ele usaria as cores: vermelha, amarela,
verde e azul porque as pessoas identificam melhor se é o menino pela cor
azul. Perguntou para a turma se os bebês nascem com roupa ou sem
roupas. Eles responderam que sim e que a mamãe teria que botar roupas
nele. Ela também mostrou os diferentes tipos de roupas que o bebê usaria
e que ao nascer ele iria precisar de fraldas.
A professora Daniele também mostrou a sacola do bebê Rafael e
questionou a turma sobre o que ela levaria quando fosse passear. As
crianças falaram em mamadeira, roupinha, fralda, paninho para limpar.
Se ele chorasse o que a mamãe daria para o bebê? O mamazinho, foi a
resposta. Onde a mamãe daria o mamá? Na mamadeira, ou, lá em casa é
na teta da mamãe, foram as hipóteses das crianças.
Depois da visita da professora, assistimos o ultra-som do bebê
Rafael e a turma brincou com as bonecas, trocando de roupas, colocando
fraldas, dando mamá, fazendo dormir e dando banho.
112
A atividade seguinte foi a confecção de um boneco menino e outro
menina, em EVA, com roupas de verão e inverno para as crianças
brincarem de vestir. E a turma pintou o fantoche de palito com a figura
do menino e da menina, com os quais brincaram alguns dias.
Junto com a turma elaboramos o cartaz EU USO: fralda, calcinha
ou cueca, onde cada uma das crianças pegava a gravura que representava
o que usava no momento e colava no seu nome. E o cartaz: EU FAÇO
XIXI: com gravura do vaso sanitário e de fralda. Neste cartaz as crianças
colavam um adesivo na gravura que representava o que eles usavam no
momento. Estas tarefas se deram a partir da história: “Vamos usar o
peniquinho”.
Com os dados do cartaz, lançamos o incentivo para que duas
crianças da turma deixassem de usar fraldas e passassem a usar o vaso
sanitário. Um dos incentivos foi individual, para ser levado para casa e
outro coletivo para ser feito na sala de aula. Então, fizemos novamente o
reconhecimento do banheiro e os procedimentos de higiene como: puxar
a descarga e lavar as mãos.
Para documentar e comunicar o que aprendemos sobre o projeto
Cueca e Calcinha as crianças fizeram o cartaz “Coisas de Menino e
Menina”. Neste cartaz, eles recortaram gravuras de encartes, que
representassem coisas de menino e de menina e colaram cada qual no
lugar indicado pelo desenho de um menino ou uma menina. As crianças
não fizeram distinção quanto ao gênero, pois em ambos os lados possuía
bola, bicicleta, motocas, carrinhos, bonecas. O que ficou evidenciado foi
a cor rosa ou roxo predominante no lado da menina.

113
Para concluir o projeto, convidamos a turma do Pré I para ir até a
nossa sala e lá, diante dos painéis e cartazes realizados, as crianças com a
ajuda da professora e as histórias elaboradas, contaram para os visitantes
o que havíam aprendido com o projeto Cueca ou Calcinha: que meninos
e meninas crescem na barriga da mamãe e vão se desenvolvendo a cada
mês. Aos nove meses ele está pronto para nascer; que somente ficamos
sabendo se o bebê será menino ou menina ao nascer ou se a mamãe fizer
ultra-som; que meninos têm pênis (pinto), usam fraldas quando bebê e
quando deixam as fraldas passam a usar cueca; que as meninas têm
vagina (perereca), usam fraldas quando bebê e quando deixam as fraldas
passam a usar calcinha; que os bebês alimentam-se e respiram dentro da
barriga da mamãe pelo cordão umbilical e que, ao nascer, o médico corta
o cordão, que será o nosso umbigo; que o bebê ao nascer mama no seio
da mamãe; que às vezes crescem na barriga da mamãe e nascem bebês
gêmeos como o Gabriel e o Guilherme; que meninos e meninas podem
brincar juntos com os mesmos brinquedos; que existem roupas que são
feitas para meninos e outras para meninas; que meninos e meninas
podem usar diferentes e variadas cores.
Alguns comentários das crianças no decorrer do projeto :
- Menino passa batom? Não, é menina que passa! Menino passa
manteiga de cacau!; Eu não tenho tênis! (referindo-se à palavra pênis) O
que você tem? Pinto?; Não é fêmea, é menina! (quando olhávamos a
gravura dos jacarés e eu comentava sobre o jacaré fêmea e o jacaré
macho); Oh, eu tô usando cueca! E menina usa calcinha! (mostra sua
cueca para a colega na pracinha); O Prô Alex usa o quê? Cueca! E você
usa o quê? Eu uso calcinha!; É de menino grande! (desenho de um carro
114
maior); Eu, meu primo e minha namorada! (olhando fotos de encartes); É
de bebê menina! Ela tá de vestido!; Sandália de menina! A do menino é
do grêmio! (coisas do Mickey e com desenho de carrinho); Esta é a
minha namorada! (mostra para a foto de uma menina).
A partir dos 3 anos de idade a criança tem noção de gê nero e
sexualidade. Já sabe se é menino ou menina, descobre os genitais e as
sensações de tocá- los. É responsabilidade do professor estar atento para
combater padrões estereotipados dos papéis do homem e da mulher. E
não repetir clichês como “menino não chora”, “cor rosa é de menina”,
“menino brinca de carrinho e menina brinca de boneca”.
A família foi informada sobre o projeto através de um bilhete
pedindo sua colaboração, participou do projeto relatando no caderno do
Leleco ou da Lupita, que visitavam as casas das crianças, o que seus
filhos realizaram em casa com os bonecos. Os bonecos possuíam uma
maleta contendo suas roupas e outros pertences como mamadeira e bico.
Além disto, foi solicitado que a família incentivasse a criança a
usar o vaso sanitário em casa também, para tanto foi entregue às duas
crianças que ainda usavam fraldas um incentivo individual. Se a criança
usasse o vaso sanitário em casa, recebia um adesivo para ser colado
naquele dia da semana.
O pai Everson muito feliz diz: Vocês estão de parabéns pela
iniciativa. Nós já estávamos tentando tirar as fraldas do Vítor, mas não
estávamos conseguindo, ele resistia, ficava sem urinar o tempo que
ficava sem fralda. Depois do projeto foi bem mais fácil, agora ele usa
fralda só durante a noite.

115
O MOFO
Elis Tatiana Barbosa Vargas

O projeto “O mofo” surgiu durante o desenvolvimento de uma


atividade de colagem, quando a aluna Éwelin, ao usar um tubo de cola,
ficou intrigada com algo estranho que tinha dentro dele e questionou a
professora sobre o que seria aquilo e da possibilidade de ser ou não mofo.
A turma parou a atividade e voltou-se para observar o tubo; os
alunos que sentavam em mesas mais distantes levantaram para observar.
Neste momento, a professora fez uma intervenção e pediu que
terminassem o trabalho que havia sido proposto e combinaram retomar o
assunto na próxima aula.
116
Na aula seguinte, sentados em roda, foi levantado o assunto sobre
o tubo de cola, onde ficou explícito o interesse das crianças por mais
informações. Em seguida a professora propôs o trabalho de pesquisa para
obter informações a respeito dos questionamentos levantados. A partir
deste momento teve início o trabalho de registro do tubo de cola e ficou
definido o tema do projeto. As crianças desenharam o tubo de cola
evidenciando o mofo. Posteriormente foi montado um painel com os
tópicos: O que sabemos / O que queremos saber / O que aprendemos.
Mapeado o percurso do projeto, a turma foi até a biblioteca do
CIEP da São Luiz Gonzaga para fazer uma pesquisa bibliográfica a
respeito do tema. Durante o trajeto de ida, a conversa entre os alunos
tinha temas diversos, bem diferente do assunto durante o regresso à
escola, onde as falas giravam em torno do projeto. Na biblioteca, as
crianças puderam visualizar fotos, manusear os livros e apreciar uma
leitura importante sobre o que é o mofo e onde ele pode ser encontrado,
assim como suas causas. Fizemos um registro através de desenhos, da
pesquisa feita até então.
No momento seguinte, foi realizada uma pesquisa na internet,
onde foram obtidas novas informações, foram observadas diversas
imagens e a constatação de que o mofo pode ocorrer em outros produtos
como pães, frutas e queijos.
As famílias dos alunos foram informadas sobre o andamento do
projeto e, com a devida autorização dos pais, os alunos foram levados até
o teatro Múcio de Castro para assistir a um filme de curta metragem “O
Menino Mofado”.

117
No retorno à escola foi realizado um momento de socialização a
respeito do filme assistido, abordando temas como o excesso de proteção
com que a mãe tratava o menino mofado. Também foi discutida a
questão da inclusão social, visto que o menino Marcos, personagem
principal do filme, não possuía amigos por ser diferente.
Reconhecendo a importância de se trabalhar as diferentes áreas
do conhecimento, bem como a criatividade e a sensibilidade, foi
realizada uma produção artística do filme “O Menino Mofado”, com a
técnica do giz de cera derretido para representar o mofo no corpo do
menino.
Em outro momento, com as crianças dispostas em círculo, foi
retomada a conversa sobre o tema, com as questões: o que é o mofo, suas
causas, cor e o seu aspecto. Foi realizado um experimento onde foram
deixados num pote, por vários dias, um pão, uma laranja e três limões,
que eram observados diariamente pelos alunos, que registravam através
de desenhos, as transformações ocorridas nesses alimentos.
Na escola, foi realizado um passeio no pátio com o objetivo de
procurar mofo nos mais diversos lugares. Esta atividade aparentemente
simples levou os alunos a perceberem que o mofo é encontrado onde há
mais umidade, ou seja, em lugares onde não ocorre a incidência direta do
sol.
Os alunos trouxeram de casa rótulos de alimentos para juntos
observarem data de fabricação, validade e o modo de conservação dos
produtos, além de verificar estes mesmos itens também no rótulo do tubo
de cola. Foi feita em sala de aula uma degustação de pão, laranja e
banana, com o objetivo de chamar a atenção dos alunos sobre a
118
importância de se ter uma alimentação saudável e de boa qua lidade para
a saúde. Nesta mesma aula, foi montado um painel com os rótulos que os
alunos trouxeram de casa.
Na sequência, a professora proporcionou nova pesquisa sobre os
mofos úteis e os mofos perigosos para a saúde, com visualização de fotos
e degustação de queijo gorgonzola.
Dando continuidade ao projeto e procurando responder as
questões levantadas inicialmente, a turma fez uma visita ao laboratório de
microscopia do curso de Ciências Biológicas da Universidade de Passo
Fundo, onde puderam visualizar no microscópio o mofo do pão, do
mamão e do limão. De volta à escola fizeram um registro através de
desenho das observações feitas.
Considerando o conhecimento como ato social, foi promovida
uma mostra dos registros do projeto para a comunidade escolar, pais,
professores e demais alunos da escola, como forma de expandir as
aprendizagens sobre “O Mofo”.

119
AS FORMIGAS
Elisângela Martins Camargo Sloczinski
Fláv ia Quadros Gehlen
Gerusa Zanotto
Isione Andreotti
Ivani Hoppen da Silva
Rosane Maria Dariva
Simone de Fát ima Borges Cavalheiro

O projeto Formiga surgiu simultaneamente nas turmas do pré, no


finalzinho do verão deste ano. No pré A, a professora trabalhava com
uma história onde os personagens eram formigas. No pré B, as crianças,
ao brincarem na pracinha, viram uma formiguinha caminhando,
colocaram na mão e os questionamentos começaram. Já no pré D, as
formigas apareceram num passeio ao pátio vizinho da escola, enquanto
120
coletavam folhas secas. Acharam uma formiga, colocaram- na num pote e
levaram para a sala de aula.
As outras turmas perceberam as formigas ao brincarem, no chão
da sala, com os jogos ou brinquedos e comentavam: É uma aranha; não,
é uma formiga; esta é pequena, eu vi uma grandona lá na vó.
Durante o planejamento, na hora atividade, percebemos o
interesse comum entre as turmas. Elencamos os comentários das
crianças, as possibilidades de conhecimentos a serem abordadas e
construímos uma teia. Definimos os recursos que iríamos utilizar e a
pesquisa de atividades que melhor responderiam à problemática
levantada pelas crianças. As tarefas foram divididas conforme o interesse
dos alunos e os questionamentos que iam surgindo. O nome do projeto
partiu da afirmação dos alunos, que em suas turmas comentavam: Prô, é
uma formiga; olha a formiguinha; é uma formiga sim.
A partir desta organização inicial, decidimos que algumas
atividades fariam parte de um circuito de construção do conhecimento,
onde as professoras prepararam atividades para serem desenvolvidas em
todas as turmas de pré-escola. As atividades eram preparadas em uma
determinada sala e as crianças iam até lá participar.
O primeiro passo foi enviar um questionário para os pais, que
responderam às perguntas: Por que as formigas andam em fila? Por que
as formigas carregam folhas? Tatu come formiga? Formiga pica ou
morde? Por que as formigas entram nas casas? Como é a casa das
formigas? Elas moram juntas como uma família? Elas comem nossa
comida? O retorno dos questionários permitiu ampliar o conhecimento

121
prévio das crianças no seio familiar. As respostas foram compartilhadas
na rodinha de conversa.
Desse modo, o próximo passo foi procurar respostas para as
questões levantadas nos comentários iniciais das crianças e no momento
da rodinha. A busca começou por pesquisa na internet: descobriram que
existem inúmeras espécies de formigas; o tamanho delas; a
responsabilidade de cada uma dentro do formigueiro; como é a sua casa;
sua alimentação; como nascem; quem são seus predadores além do
homem.
Depois disso visitamos a biblioteca pública, onde as crianças, ao
manusearem os livros dispostos com muito carinho pelas bibliotecárias
em uma mesa, maravilharam-se com tantas imagens e informações sobre
o tema em questão. Ao retornarem à escola, eles tinham muitas ideias
sobre a formiguinha.
A leitura de histórias também foi de grande ajuda na busca do
saber em relação ao tema: “A formiga e a cigarra” e “A formiga e a
neve”, que tratam da forte jornada de trabalho da formiga preparando-se
para a chegada do inverno.
As pesquisas feitas serviram de base para as atividades seguintes.
As falas: prô, é uma formiga; não, é uma aranha; é uma formiga,
sim, encaminharam um trabalho em relação à diferenciação entre os
dois animais considerando o formato do corpo, a quantidade de patas e
os órgãos internos, sendo que esta ação integrou o circuito de atividades
entre as turmas.
Trabalhamos esta diferença em cartazes, onde as crianças
puderam comparar as diferenças entre os dois animais. As crianças
122
registraram através de desenhos e montaram os dois bichinhos em
tamanho grande, observando o formato do corpo e a quantidade de patas
e também modelaram com massinha.
Com relação à fala: elas andam em fila, montamos um circuito
no pátio. Traçamos um risco, com giz, o ferromônio. Dissemos às
crianças que este era um perfuminho que a formiga solta para marcar o
caminho e não se perderem ao voltar para o formigueiro após um longo
dia de trabalho. O caminho de ida era livre, mas ao voltarem
encontravam obstáculos, da mesma forma que, por vezes, a formiga
encontra. Precisavam encontrar um modo de transpô- lo e continuar o
caminho seguindo o perfuminho. Nesta etapa foi usado o conto “A
formiga e a pena”, que teve o texto desmembrado em partes e ilustrado
pelas crianças.
Outras turmas adoraram a experiência e participaram da
brincadeira. No berçário, as professoras dos pequeninhos fizeram
roupinhas de formiga para eles e traçaram na sala um caminho que eles
seguiram muito contentes.
Porque a formiga carrega folha? e são um monte carregando
folhinha, resultou numa brincadeira em equipes. Montamos duas
equipes, uma composta por um membro e a outra por cinco. Cada
equipe tinha que carregar folhas, ao mesmo tempo, até os formigueiros
criados pela professora. Ao final, as crianças fizeram a contagem do que
tinha em cada formigueiro e puderam perceber como é importante essa
união das formigas para o bom funcionamento do trabalho. Trabalhando
juntas acumulam mais mantimentos para os dias frios do que algué m
solitário.
123
O filminho “A formiga na natureza” contribuiu com a afirmação:
formiga é da natureza. Depois de assistirem ao filme, a professora
construiu, para fazer parte do circuito, um caminho das sensações. Este
caminho simulava os obstáculos que a formiguinha passa ao andar na
mata em busca de alimentos para o formigueiro. Os participa ntes
percorriam essa trilha com os olhos vendados, teciam seus comentários
a respeito da experiência e somente depois de todos da turma tere m
feito seu trajeto é que puderem ver os obstáculos. Além dos alunos das
turmas envolvidas participaram também, as mães e as professoras. Em
seguida, uma turma, com sua professora, construiu um pedacinho da
mata na entrada da escola.
Considerando as afirmações eu mato ela; não pode matar os
bichinhos e coitada da formiguinha, trabalhamos com o filme “Lucas,
um intruso no formigueiro”. O enredo trata de um menino que destruía
os formigueiros com água e que, em função de uma poção mágica, fo i
encolhido e levado para reconstruir o que tinha destruído. No
formigueiro, ele aprende sobre a união das formigas e a sua importância
para a natureza. As crianças registraram, através de desenhos, as
atitudes iniciais do menino para com as formigas e o que aprendeu co m
elas.
Tatu come formiga? e não, é o Tamanduá, partimos para a
pesquisa na internet. Foram construídos cartazes sobre os predadores,
onde aparecia entre eles um tatu bola.
Buscando respostas para as questões uma formiga cortadeira me
mordeu e não, ela pica, encontramos na internet que algumas picam e
outras mordem. Para representar esta questão, construímos formigas e m
124
prendedor de roupas, recortando e colando desenhos coloridos, para
brincar de pica ou morde. Conforme o prendedor é aberto há uma
sensação de mordida ou picada.
O apontamento de uma criança encheu minha casa de formigas,
levou-nos à história “A cigarra e a formiga”, que mostra a formiguinha
trabalhando o tempo todo em busca de alimentos para estocar e, então,
ela procura em várias partes. Criamos dois cartazes demonstrando as
atividades das formigas no inverno e no verão.
Nas questões elas vivem na terra; ela entrou naquele buraquinho;
Como é a casa das formigas?; elas moram juntas?; esta é a família
das formigas? e essa é pequenina, eu vi uma grandona lá na vó...
voltamos às pesquisas e constatamos que o formigueiro é dividido por
castas, onde cada formiga desenvolve uma função e tem tamanho
diferente, sendo que a rainha é a maior de todas. A partir delas
realizamos a construção de cartazes de formigueiro: um visto de fora e
outro por dentro. Também foram modelados, em argila, as duas vistas
do formigueiro, mostrando os caminhos e a organização das formigas
de acordo com suas castas.
O tamanho das formigas foi comparado a objetos conhecidos pelas
crianças, em uma tabela, e também ao tamanho em relação ao ser
humano.
As pesquisas continuaram aprofundando-se com o que elas estão
fazendo? (quando viram duas formigas que se encontraram de frente e
pararam). Voltamos às respostas encontradas no filme “A formiga na
natureza”, nos livros e na internet. Assim vimos que este toque é a
forma delas comunicarem-se, dizendo para a outra que está com fome
125
ou cansada. Para demonstrar este ato, a professora fez com os alunos,
em sala de aula, uma simulação de um carrinho e o recebimento do
alimento pelo colega, como as formigas o fazem. As crianças tocavam-
se com as mãos e entregavam, na boca do colega um alimento.
Pesquisando as falas elas comem nossa comida? e não, elas
comem frutinhas, folhinhas e doces... utilizamos um documentário que
mostra que as formiga alimentam-se de um fungo produzido por elas
dentro de câmaras no formigueiro. As folhas e alimentos que elas
carregam são mastigados e transformados neste fungo que depois serve
para alimentá- las. Sendo assim, a professora junto com as crianças,
usando banana e um garfo, simulou a mastigação da formiga, ao
transformá- la em uma pasta representando o fungo. As crianças então
comeram a banana amassada saciando a fome como as formigas.
Após tantas pesquisas sobre o tema, construímos, com as
crianças, fantoches de formigas em palitos de picolé. Os fantoche s
foram levados para casa e lá, juntamente com seus familiares e
contando com o conhecimento já construído, as crianças criara m
histórias de formigas. As histórias foram ilustradas com desenhos das
próprias crianças, pela professora. Concluída a parte das ilustrações fo i
construído um livro com todas as histórias manuscritas pelas crianças e
seus pais. Ver a magia da imaginação e da criatividade das crianças e a
colaboração dos pais foi maravilhoso e muito gratificante.
Para dar notoriedade ao trabalho foi realizada uma exposição para
as outras turmas da escola e para os pais, onde as próprias crianças
narraram o conhecimento que construíram a partir das atividades
realizadas no decorrer do projeto. Elas agora sabem o que as formigas
126
comem, a diferença entre a formiga e a aranha, como é a casa e como
vivem as formigas no formigueiro.

OLHA PRÔ! A ÁRVORE TÁ PELADA!


Silv ia Morin
Gisele Simões Boeira

O “Projeto por que as folhas caem?” foi desenvolvido com a


turma de Pré II, na EMEI Fofão. O interesse pelo tema surgiu numa tarde
em que saímos para o pátio, Maria, uma aluna muito atenta, olha para
uma árvore, sobe e diz: “OLHA PRÔ!!!!!! A ÁRVORE TÁ
PELADA??????”

127
No mesmo momento, com o celular, registrei o objeto de interesse
das crianças, que continuaram manifestando-se: Árvore não usa roupa!,
As folhas são as roupas das árvores. Mais tá frio e ela tá pelada, sem
roupa. Quando é frio temos que por muitos casacos, tocas, luvas pra não
morrer congelada., A árvore tá morrendo, com frio, pelada?. Nesse
instante, as árvores da escola passaram a ser motivo de curiosidade,
investigação, descobertas e grandes desafios. Começamos então a mapear
os percursos em busca de resposta às duvidas e curiosidades da turma.
Ao retornarmos do pátio, depois de tantas afirmações, perguntas e
constatações registramos as ideias através de desenhos.
Com as crianças organizadas em círculo, foi apresentada a música
“Sou uma árvore feliz”, com o vídeo. A partir desta canção, refletimos
sobre os aspectos necessários para a sobrevivência da árvore: água, sol,
chuva, terra bem fofinha. Fizemos o plantio de uma árvore com as
crianças.
A professora leu para a turma o livro “Viagem pelo corpo
humano” e mostrou várias figuras de árvores de diferentes formas e
tamanhos. Com a leitura e as gravuras foi feito um comparativo entre a
estrutura do corpo humano e da árvore. A partir dos comentários
montamos uma árvore e desenhamos o contorno de nossos corpos.
Assistimos a um filme sobre as quatro estações do ano, onde as
crianças puderam observar as modificações ocorridas com as árvores de
acordo com as condições climáticas.
Fizemos uma experiência para imitar o inverno, que consistia em
colocar um copo com terra no congelador e deixar outro em temperatura
ambiente. Depois os copos foram colocados, cada qual, sobre um
128
guardanapo de papel e foi despejado um pouco de água neles. As
crianças ficaram observando o que acontecia. Fizemos linhas com caneta
em ambos os lados do guardanapo para ver até aonde a água corria e com
que velocidade e tempo. As crianças concluíram que a água passa mais
depressa através da terra em temperatura ambiente do que através da terra
fria. Então, relacionamos com o que acontece com a água que as raízes
vão buscar na terra. Se a terra estiver muito fria é mais difícil que ela
chegue às raízes. Como conseguem menos água, as folhas mudam de cor,
envelhecem e caem. Uma das coisas de que as folhas precisam para viver
é de água.
Como culminância do projeto, fomos visitar a Reserva Maragato.

129
-Exposição dos trabalhos realizados no decorrer do projeto para a comunidade
escolar

- partes do corpo -pesquisa sobre -pesquisa de diferentes tipos de


as estações do folhas
-partes da arvore
ano
-coleta de folhas para a produção
-pesquisa em livros e
-filme: as quatro de um álbum
desenhos do esquema
estações
corporal e das partes
de uma arvore para
As folhas são as
comparação
A árvore usa roupas das arvores?
roupa?
A árvore esta
As pessoas
morrendo com frio?
são como as PRÔ OLHA! A
arvores? ÁRVORE TÁ Chove vem vento e
PELADA derruba?
Vento e água se
misturam e A culpa é do vento?
criam um Apodrece a De onde ele vem?
-experiência com congelamento da folha?
folhas arvore , a água
-vento minuano
enferruja a folha
e a arvore
apodrece? -pesquisa em livros,
-decomposição da vídeos, internet e
folha e da arvore histórias

-Visita a RESERVA MARAGATO

130
PRÔ, OLHA O SAPO!
Inaciana Lacourt Zorzo

Em certa manhã, na segunda quinzena de junho, em um dia


chuvoso na hora da saída do pré II, da EMEI Maria Elizabeth, o aluno
Gabriel e sua mãe enquanto se encaminhavam para sua casa, viram um
sapo localizado num canto da escola, na calçada e disseram: Prô, olha o
sapo!. As crianças que ainda estavam na sala comentaram: Meu tio tem
dois em casa!, Ele tem nome!, Vamos pegar?, Ele não se mexe, prô?.
Enquanto nós observávamos o sapo, um pai estava passando,
então solicitei que pegasse o sapo porque eu tinha medo. O pai dispôs-se
a pegar o animal e ele foi colocado dentro de um pote de chimia.
Juntamente com as crianças, furamos a tampa para ele poder respirar e o
alvoroço com o nosso visitante foi grande.
No dia seguinte, colocamos o sapo dentro de um aquário, que eu
havia solicitado à diretora que comprasse. Com o animalzinho no centro
das atenções, iniciamos as observações que geraram mais comentários e
dúvidas: Prô que cores ele tem?, Olha o tamanho dele., O do meu tio é
grande! Ele tem dois do mesmo tamanho., O olho dele é grande!, A cor
dele é marrom com verde em baixo!, E a cabeça dele é triangular!, Prô
ele tem 3 dedos na mão e 4 nos pés!, Não ele tem 4 na mão e 4 nos pés.,
Tem um filme em que o sapo vira príncipe, mas no filme o sapo é verde.,
O que ele tava fazendo aqui?, Quantos anos ele tem?.
Diante destes comentários, montamos um cartaz em papel pardo
sobre a característica do “nosso mascote”, como cor, tamanho,

131
quantidade de dedos nos pés e nas mãos, forma do corpo, forma da
cabeça, idade e habitat.
No outro dia, algumas crianças trouxeram pesquisas realizadas na
internet, sobre o sapo e suas características e assim procuramos na
rodinha analisá- las e montar um painel.
Mas as crianças não contentes queriam em sua sede de aprender
escolher um nome para o mascote, então deram algumas sugestão que
escrevi em uma cartolina. Realizamos uma eleição sobre o nome do
nosso amigo, tendo como vencedor “Mister Mec”. Então registramos
nossos conhecimentos em desenho livre.
No dia do filme da Princesa e o Sapo, da Disney, tivemos uma
surpresa desagradável. Ao chegarmos na sala algo havia acontecido.
Nosso mascote havia falecido!! Como? Perguntavam-se as crianças. E
continuaram: Como ele morre?, De que jeito?, Quem o matou Prô?
Então todas as crianças perceberam que o nosso mascote havia morrido.
O que será que aconteceu com ele?, Ele virou uma estrelinha?, Não, ele
morreu!, Foi do coração igual ao meu vô!, Não, ele parou de respirar!.
Diante da situação voltamos ao cartaz com a pesquisa para vermos o
que faltou para o sapo. Iniciamos assim a leitura do mesmo para
responder alguns questionamentos, como o que foi que faltou? E por que
ele morreu? Descobrimos que o habitat não era o correto. Depois fomos
ver o filme que estava programado para aquele dia. O filme ajudaria a
responder alguns questionamentos.
Após o filme voltamos à discussão sobre o habitat do sapo, então
surgiram algumas constatações: Ele vive num rio, né prô, igual ao do
filme., Eles comiam inseto, até enrolaram a língua quando tavam com
132
fome., E tem gosma., Não, era musgo tu não viu?. Para registro da
atividade, solicitei que as crianças desenhassem o que gostaram no filme.
Neste mesmo dia, as crianças levaram um bilhete para casa, para que
pesquisassem o que os sapos comem.
As informações trazidas foram socializadas na roda de conversa
onde algumas crianças contaram o que pesquisaram e lemos algumas das
pesquisas. No quadro, registramos as informações, concluindo que a
alimentação do sapo é mosca, por isso ele morreu de fome, disseram as
crianças.
Para ilustrar a alimentação do sapo, que caça os insetos com a
língua, fizemos um bilboquê de garrafa pet, que serviu para simular o ato
de caça do sapo. A professora cortou a garrafa em duas partes deixando a
parte do gargalo para as crianças pintarem com tinta guache e em seguida
foi auxiliando na colagem dos olhos e das pernas para compor o sapo e
montar a mosca. As crianças pintaram um jornal com giz de cera e
dobraram- no para compor a mosca. No meio do jornal dobrado foi atado
um fio de barbante. E fomos brincar de caçar moscas.
Como nosso sapo tinha morrido, promovemos o seu enterro, com
direito a um funeral.
Para termos certeza de onde o sapo mora, voltamos a conversar na
rodinha e novas pesquisas se sucederam. Lemos o livro do Ziraldo “Cada
um mora onde pode”, sendo que o bichinho da maçã conta onde cada um
gosta de morar. Nossas pesquisas mostraram que o sapo mora no brejo e
a tarefa, então, foi criar a casa dele em uma folha sulfite. Mas a casa só,
não bastava, era preciso ter o sapo, que foi construído com dobradura sob

133
a orientação da professora. E colocaram o sapo na lagoa, montando assim
uma maquete da casa do sapo.
Na semana seguinte, na hora da história, pude contar a da “Festa
no céu”, recontada por Braguinha, tendo o sapo como personagem
principal em uma festa junina. E estávamos na época de festas juninas.
Unimos o útil ao agradável e foi assim que a nossa festa junina obteve
uma temática referente ao nosso projeto.
As indagações continuavam e foi assim que surgiu o tema de
casa, pesquisar como são os sapos quando pequenos. Na sala lemos o
livro “A promessa do girino”, onde pude explorar a sequência do
nascimento do sapo e suas transformações na natureza. Depois ass istimos
a um filme sobre o nascimento dos sapos, extraído da internet. Montamos
uma maquete para ilustrar a transformação que acontece, com massa de
modelar. Além disso, as crianças desenharam o ciclo de vida do sapo.
Durante estas atividades, os alunos perceberam que o sapo, quando
cresce tem pulmão.
Com o auxílio do data show foi possível mostrar às crianças, uma
foto, com as partes internas do corpo do sapo, onde visualizaram o
pulmão, bem como os ossos e o cérebro, parte interessante como disse o
aluno Elias. Novamente fomos fazer o registro através de desenho livre.
Foi ai que iniciamos outra pesquisa em relação às espécies de
sapos existentes. Fui novamente para a internet e trouxe imagens de
outros tipos de sapos, inclusive coloridos: vermelho, azul e laranja bem
como os verdes e o cururu, que chamaram a atenção das crianças. Para
sequência das atividades montamos um cartaz com as espécies de sapo
encontradas. Comentamos a respeito das regiões onde vive cada tipo de
134
sapo, pois as crianças estavam interessadas em função das cores. Com
estas novas questões fez-se necessário o estudo do mapa da pajeia. Em
especial, queriam saber onde era a China e o Japão, bem como localizar o
Brasil.
Para registro, ampliamos o mapa da pajeia e do Brasil para as crianças
pintarem. Durante esta atividade, as crianças pintavam e questionavam
onde viviam os sapos. As dúvidas direcionaram-se para a casa dos
pinguins e do Papai Noel. De volta as pesquisas, descobrimos que nos
lugares mais frios não existem sapos. Para finalizar mais esta etapa,
colamos as imagens dos sapos nos mapas de acordo com a localização da
espécie. Ainda montamos um quebra cabeça para brincar.
A questão da gosma ou musgo continuava inquietando as
crianças. Para respondê- la, proporcionei a elas algumas observações tais
como a textura da pele do sapo, através de imagens, comparando os da
espécie que tem a pele lisa com aquela que tem a pele enrugada. Usamos
as placas de textura para termos um parâmetro de comparação de como
seria a pele do sapo. Para demonstrar a pele enrugada do sapo usamos
papel crepom enrugado, numa atividade de pintura, recorte e colagem e
para a pele lisa foi usado E.V.A no corpo do sapo.
Seguindo o projeto, a professora trouxe a música “O sapo não
lava o pé”, para ser lida e cantada. E em casa, juntamente com seus
familiares, cada criança construiu seu sapo com o material que
considerou mais conveniente.
Assistimos a outro filme o “Grande Urso”, que apresenta lendas
de sapo com veneno e medos. A partir daí foram elencadas algumas
crendices a respeito do sapo, também com a contribuição dos pais. As
135
lendas foram lidas na roda de conversa. Pintamos pratos de papel com
tinta guache para montarmos mascaras para brincar, imitando o som dos
sapos que apareceram no filme.
A história da princesa e o sapo, que tinha como título “Posso
ficar”, foi contada com o uso de um fantoche feito de caixa de leite. Isso
nos auxiliou a refletir sobre o acontecido com o Mister Mec, nosso
mascote.
Para finalizar o projeto e ver o que aprendemos, foi feita pela
professora, um jogo de trilha para as crianças brincarem. Depois
promovemos um painel na sala de aula para comunicar o que aprendemos
para outras pessoas. As crianças dividiram-se para a apresentação e
organizaram um cronograma para a visitação das turmas, com horários
programados. As crianças adoraram ser professores por um dia, como
eles diziam. Após a explanação das crianças, a professora da turma lia
uma das histórias trabalhadas durante o desenvolvimento do projeto ou
cantavam as músicas. Houve também exposição no pátio para a visitação
dos pais.

136
Filme
Prô, ele tem 3 dedos
Alfabeto: Vogais Tem um filme que o
Fantoche e sapo Prô, ele tem dois do na mão e 4 dedos no
com PET e EVA né? Porque ele não 4 sapo vira príncipe
mesmo tamanho?
Escolha do nome na mão e jo pé?
Cor, tamanho, Música Eles comiam
quantidade insetos com
Ele tem gosma? Não! Que cor estranha né prô? língua?
Prô, ele não tem nome? Histórias:
Era musgo tu não viu? Contos e
Olha a barriga
dele Lendas Livros de Histórias:
Pintura com tinta guache Porque ele não se Quantos anos ele tem? O do meu tio é grande Ziraldo
mexe? Ele tinha que
Você beijaria
Textura: Pele, Gosma pular né? Ele tem a cara esmagada Comem insetos,
um sapo? você comeria?
Montagem de cartaz
Medos Bilboquê Alimentação
com as características Meu tio tem dois em casa de sucata dos Sapos
PRÔ OLHA O SAPO!
Ele tem veneno? Prô, você tem medo?
Onde ele mora prô?
O que ele come? Ele come comida?
Quebra-cabeça Vamos pegar ele? Recorte e Colagem
feito pelas crianças
Ele é pequeno e eu De onde ele veio? Habitat
Dobradura
tinha um grande
Tempo de Porque ele morreu? Como é a casa dele?
Desenho Livre Os olhos são grandes Coleta de Dados Ele mora no brejo
vida dos sapos
Ele morreu porque Ele vive num rio
Olha o pulmão dele
Observações não demos comida
como é pequeno, Ele é pequeno eu
Máscara de sapo com
respira por ali Reprodução Espécies de tinha um grandão
prato de papelão
dos sapos sapos Ele virou estrelinha? Quem o matou prô?
Maquete Existe outros sapos?
Pesquisa na internet Foi do coração
de imagens e vídeos Mapa Mundi Não, ele parou de respirar igual meu vô
e do Brasil
Tu veste sapinho quando Mapa da Pajeia e
Na história os 137ele
Tu não viu que
pequeno vira sapão do Brasil, Pintura
sapinhos são iguais morreu de fome?
ao sapão
PRÔ, TU TEM FERRO NA BOCA?
Francenise Anesi Maschio
Tamires Schubert Saldanha
Tanisa Borowski

O Projeto “O ferro na boca da Prô” surgiu em meados de julho, na


turma do Berçário II com crianças de 1 e 2 anos de idade. A turma é
composta por 20 crianças da Escola Municipal de Educação Infantil O
Mundo da Criança.
Numa manhã em que as crianças brincavam, o menino Lorenzo
pede colo à assistente. Observa sua boca e pergunta: Prô, tu tem ferro na
boca? A assistente devolve a pergunta para a criança: Será que é ferro
que a prô tem na boca? As demais crianças ouviram e se interessaram
pela questão, vindo rodear a prô e observar melhor sua boca. A
professora explicou que quando era bebê chupava bico e talvez isto
tivesse estragado seu dente.
Como a turma ficou curiosa, as professoras e assistentes
decidiram aproveitar o tema para elaborar o projeto com o objetivo de
descobrir porque as pessoas põem ferro na boca e o que se pode fazer
para evitar tal procedimento.
Nos dias que se sucederam, foram trazidas gravuras de dentes
com aparelho, dentes sadios e dentes doentes para que as crianças
pudessem perceber a diferença entre eles e desde já compreender a
importância do cuidado com a dentição. Foram trazidos para as crianças
desenhos de escovas de dente utilizados para trabalhar formas e
tamanhos.

138
No decorrer do projeto foram elaborados trabalhos com pintura e
colagem de diferentes materiais destacando-se a confecção das máscaras
onde as crianças tiveram autonomia na escolha de cores e materiais que
usariam e depois puderam observar o conjunto das máscaras produzidas
em uma exposição feita na sala.
As crianças ficaram entusiasmadas com as histórias contadas da
coleção “Festa dos dentinhos”. Manusearam os livros e ouviram das
professoras a mesma história por várias vezes, conforme seu interesse.
Foi solicitada a presença de uma mãe que usa aparelho nos
dentes. Ela veio até a escola, participou da rodinha de conversa e
explicou os motivos que a levaram a colocar o aparelho ortodôntico na
sua boca e os cuidados que precisam ser tomados desde criança para
evitar o aparelho. Salientou o uso da chupeta como um dos problemas.
Temos também na turma uma mãe que é técnica em enfermagem.
Pedimos sua ajuda para intermediar uma visita do dentista que trabalha
no ambulatório do bairro à nossa turma. A visita foi agendada e o
dentista veio. Assim, as crianças puderam conhecer o profissional que
cuida dos dentes e que coloca o “ferro” (aparelho) na boca das pessoas.
As crianças foram até a pia e o dentista distribuiu escovas de dente a cada
criança ensinando a todos como deve ser a escovação. Perguntou quem
chupa o dedo e quem se utiliza da chupeta e da mamadeira
principalmente durante o dia e recomendou às crianças que não o façam,
pois o uso da chupeta e do dedo são grandes responsáveis por deixar o
dente torto, e que se a criança gosta e precisa da chupeta deve usá- la só
na hora de fazer o soninho.

139
As professoras passaram a fazer este exercício na sala ensinando
as crianças a guardar a chupeta na mochila para pegá- la somente na hora
do soninho, respeitando, é claro, a necessidade de cada criança, mas
insistindo nesta meta. Como na turma ninguém chupa dedo, esta
preocupação não foi relevante.
O dentista convidou a turma para visitar o seu consultório no
ambulatório do bairro. A visita foi agendada para a semana seguinte e lá
as crianças sentaram na cadeira odontológica. Não demonstraram medo
ou receio. O dentista observou os dentinhos de cada criança e dialogou
com a professora sobre a consulta para fazer recomendações aos pais.
Na internet, pesquisamos sobre alguns mitos e verdades q ue nos
auxiliam para uma boa saúde bucal. Esta apresentação foi realizada a
partir do teatro de fantoches. As crianças interagiram de forma lúdica
com os personagens assimilando de forma significativa a proposta que os
adultos envolvidos no trabalho propuseram.
Aprenderam as músicas “Escovar os dentes” de Rose Nascimento
e “Escove os dentes” da Xuxa. Durante a escovação, em cada dia, foram
trabalhadas as poesias “Dentinhos” e “Os dentinhos do Jacaré”.
Como forma de divulgação foi elaborado um portfólio pa ra cada
criança com trabalhos realizados, músicas, poesias e fotografias das
atividades. As crianças expuseram aos pais a história de cada trabalho
que compunha o portfólio, cantando as músicas e ensinando-os como se
faz para ter os dentes sadios e não precisar usar aparelho quando for
adulto.
Com o término do projeto podemos concluir que as crianças da
turma iniciaram uma boa compreensão do tema e sabem responder à
140
pergunta que originou o projeto: “Prô, tu tem ferro na boca?”, nos
relatando que a prô tem ferro na boca porque usou bico quando não
devia, não escovou direito os dentes, não foi ao dentista e que desde
pequenos devemos cuidar bem dos nossos dentinhos.

A BARRIGA DA PRÔ
Gesiele A. da Silva Rodrigues
Adriane Salles Vieira

O projeto “A barriga da prô” originou-se a partir de uma


observação realizada na hora do café quando uma criança da turma do
maternal percebeu que a professora do pré não estava acompanhando a
sua turma. Logo veio a pergunta: E a prô Fernanda?
A sua professora respondeu que ela não viria neste dia e de novo a
criança pergunta: Por quê? Desta vez a resposta vem de um colega:
Porque ela foi corta a barriga pra tira o nenê! Ao que a professora
141
retruca: Não, Bruno, ela foi ao curso. Primeiro tem que esperar crescer a
barriga para depois tirar o nenê. As crianças quase em coro concordam:
É prô tem que fica bem grande.
O interesse pela barriga da prô Fernanda começou a se mostrar,
outros comentários foram sendo realizados e a barriga passou a ser
observada.
Percebi que os alunos sabiam que para o bebê nascer é preciso
que cortem a barriga e que antes disso tem que crescer a barriga, porém
não conhecem o processo de desenvolvimento do bebê e o parto normal
no qual a barriga não precisa ser cortada.
Assim, fui questionando os alunos: O que acontece com o bebê
dentro da barriga da mamãe? Qual o tamanho dele? Será que vai demorar
para nascer? Será que ele come? Como deve ser a alimentação da prô?
Com o objetivo de estruturar o projeto, fiz uma entrevista com os
pais perguntando sobre a gravidez e o nascimento de cada aluno. Com
base nos dados obtidos e pesquisas feitas, estudamos o desenvolvimento
do bebê. Iniciamos assistindo a um vídeo de uma gestação de até oito
semanas, o mesmo tempo do bebê da prô Fernanda e os alunos
questionavam: prô, não parece um bebê... cadê a mãozinha... e o
olhinho. Então expliquei que o bebê começa a se formar devagarinho,
que neste período ele ainda é bem pequeno, do tamanho de uma uva,
representamos seu formato e seu tamanho com os dedos. Em seguida
mostrei uma ultrassonografia, explicando o que era e para que servia.
Depois, os alunos realizaram uma atividade na qual desenharam a
professora Fernanda e seu bebê. As crianças puderam compreender
porque a barriga estava pequena e de que tamanho estava seu bebê.
142
Conversamos sobre a alimentação saudável para a gestante e para
nós, o que ela deve ou não comer para um bom desenvolvimento e saúde
do bebê. Em seguida as crianças procuraram em revistas alimentos
saudáveis para a confecção de um cartaz, no momento de colar as
imagens ia questionando sobre cada alimento, buscando refletir com as
crianças como saberíamos se eles eram saudáveis, que características
deveriam possuir para serem saudáveis. Concluída a atividade, levamos o
cartaz até a turma do pré e os alunos do maternal apresentaram e
conversaram sobre a alimentação saudável, mas a prô Fernanda estava
ausente neste dia.
A prô Adri que estava retornando da licença gestante, foi uma
importante fonte de consulta. Mostrou às crianças seus ultrassons, fotos
de sua gravidez e do parto. Os alunos encheram-na de perguntas:
questionaram sobre a sua alimentação e o ultrassom; porque a bebê
estava sujo de sangue, pelado e chorando. Então a prô explicou tudo o
que eles queriam saber, falou do peso e do tamanho da bebê o que deixou
as crianças curiosas. Para dar a noção de peso pegamos farinha e
colocamos dentro de um saco, pesamos e passamos de mão em mão para
segurarem e sentirem o peso que a bebê nasceu, alguns falaram que
estava pesado, outros leve. Quiseram saber onde ela estava e qual o
tamanho dela agora.
Retomamos a alimentação, construindo a pirâmide da alimentação
com recortes de encartes de mercado, expliquei o que era a pirâmide.
Agora as crianças pediram que apresentássemos para a prô Fernanda, que
não estava presente na primeira explicação sobre alimentação saudável.
Então, fomos até sua sala e dialogamos com ela e sua turma sobre a
143
alimentação saudável e a pirâmide da alimentação, mostramos que os
alimentos que estão no topo é que menos devemos comer e mostramos,
também, os mais importantes. E deixamos ao lado da pirâmide dicas de
alimentação para gestantes. Os alunos a abraçaram e passaram a mão na
barriga.
Depois disso, em uma rodinha, conversamos sobre a história da
gestação dos alunos da turma (altura, peso, alimentação da mãe...)
conforme informações dadas pelas mães.
Agora, vamos acompanhar e registrar através de fotos e gráfico da
medida da barriga, a gravidez da prô Fernanda durante os nove meses.

144
O QUE SE ESCONDE ATRÁS DA PORTA?
Ana Paula Cadore
Sirleide Rigo da Silva
Terezinha Zilio

Este Projeto foi realizado na Escola Municipal de Educação


Infantil Jardim do Sol, com uma turma de Berçário, onde os alunos têm
entre seis meses e dois anos.
A sala de aula fica na parte da frente da escola, com acesso para a
rua. A porta usada para chegada e saída das crianças é de ferro. Em dias
de sol, esta porta fica quente e as crianças costumam encostar-se nela
para sentir seu calor. Outra curiosidade são os barulhos da rua que eles
escutam de dentro da sala, como automóveis, animais e pessoas que
passam pela rua. Nesta mesma sala tem a porta do banheiro das
professoras e a porta de acesso ao corredor da escola. Aproveitando as
informações de nossas crianças e seus interesses, partimos para o projeto:
“O que se esconde atrás da porta”, afinal o que eles pensam ter atrás das
portas, são curiosidades de todos.
Tanto em casa como na escola quando uma porta encontra-se
entreaberta, há grande tendência das crianças em investigar o que ocorre
atrás da mesma. O maior interesse apresentou-se na porta do banheiro e
na porta da rua.
Partindo do interesse das crianças em saber o que ocorria atrás da
porta fomos perguntando a elas: o que tem atrás da porta? As respostas
foram: o caminhão, o passarinho, o avião, o au-au, o cavalo, a mamãe.
A aplicação do projeto deu-se em cinco dias e em cada dia
trabalhou-se um conteúdo diferente. Foram realizadas atividades que

145
permitissem conhecer os diferentes ambientes da escola. Os alunos
visitaram as salas do maternal e do pré, o refeitório, os banheiros e os
corredores da escola. Em todos os espaços buscavam descobrir o que
havia atrás das portas. Conheceram e puderam brincar em diferentes
ambientes, ficam entusiasmados em conhecer lugares diferentes na
escola. Além disso, puderam integrar-se com os demais colegas da
escola.
A porta estava relacionada com a chegada e saída dos pais, numa
relação de carinho e afeto. Então, todos que chegavam ou saiam eram
abraçados. Outro recurso utilizado foi a história “Adivinha o quanto eu te
amo” do autor Sam Mcbratney, que foi contada com uma TV de papelão.
Os sons vindos da rua continuavam aguçando a curiosidade das
crianças, sendo que os carros despertavam a curiosidade em especial.
Construímos, com caixa de papelão, um carrinho onde todos puderam
brincar com o mesmo pela sala. Imitaram os sons dos automóveis e
passearam com eles. Foi a maior festa.
A curiosidade pelos animais surgiu quando ouviam o som dos
latidos dos cães, os piados de aves, o trotar e o galope de cavalos e o
cacarejo de algumas galinhas. Começamos a dar ênfase ao nome destes
animais. As crianças visitaram uma casa nas proximidades da escola para
conhecer a cachorrinha Bianca. Demonstraram alegria ao vê- la e
puderam acariciá-la e brincar com ela. A galinha e os pássaros foram
trazidos para a sala de aula. As crianças puderam alimentá-los e brincar
com eles. Foram construídos móbiles com pássaros e realizadas também
brincadeiras com roupas de cachorro.

146
Com o desenvolvimento do projeto “O que se esconde atrás da porta?” as crianças puderam ampliar seus conhecimentos e linguagem
oral, conhecer novos ambientes e brincar bastante.

Nome do Projeto
Fala do Aluno Construir meios de transporte com caixas de
Fala do Professor Di ferentes meios de transporte papelão e deixar que explorem. Fazer sons
Conteúdos
Metodologia
Meios de transporte Diferentes
Atividades de Registro Conhecer
ambientes o que há
a trás de
Qual som que faz? É a sala do
vá rias
maternal?
portas
Caminhão
Avião Será que é um
banheiro?

O que se O que tem lá? É a rua?


Sentidos Encosta a mão para ver
A porta é quente es conde a trás
se é quente do sol?
da porta ? É o corredor?
Explora r o ta to, olfa to, Mamãe Au Au
audi ção e paladar Cavalo Mostrar diferentes
A mamãe Como anda o
Foi a Passarinho ambientes, outras
chegou? cavalo na rua?
Caixa dos sentidos vovó? salas, banheiro,
cozinha, rua.
Afetividade Animais
Tra zer pa ra a escola
animais

Onde está o Móbiles com


Receber e da r ca rinho
História com TV, cachorro? animais, Pinturas
pa ra alguém
Dar abraços
Trazer cachorro, 147
Imitar cachorro
SOMBRA
Gisele Cristiane Anhaia

O projeto teve como base a pergunta da aluna M.E. durante uma


brincadeira no pátio, em um lindo dia de sol. Estávamos brincando
quando a aluna olhou para frente e vendo sua sombra perguntou: Olha
pô! O que é? Neste momento a prô respondeu: Olha só , é a tua sombra!
Novamente a aluna M.E. questionou: É somba pô? e exclamou: Olha o
que ela tá fazendo! Então a professora respondeu; Você que se mexe e a
sua sombra mexe junto. O aluno J.G. aproxima-se e exclama: Nossa
Duda que legal esta tua sombra! e imediatamente chama seus colegas.
Todos passam a olhar para frente e observar sua sombra refletida no
chão.
Devido ao interesse de todos resolvemos abordar o tema de forma
mais profunda, demos início ao projeto tendo como ponto de partida a
mesma situação que gerou os questionamentos. Fomos ao pátio,
novamente em um dia ensolarado, para observarmos nossas sombras,
pedimos que as crianças se movimentassem para verificar o que ocorria,
posteriormente brincamos de pular nas sombras uns dos outros, também
tentamos pegar nossas sombras no chão e por último registramos a
atividade utilizando giz branco para contornar as sombras dos colegas.
Depois de introduzir novamente este tema no cotidiano das crianças,
resolvemos realizar questionamentos e diálogos através das rodas de
conversas dirigidas.
Aguçamos a curiosidade dos alunos realizando experiências e m
sala de aula. Com o uso da lanterna projetamos as sombras das crianças
148
na parede, observando que se o foco de luz estiver posicionado abaixo do
corpo a sombra ficará grande e se for posicionado acima do corpo ficará
pequena, assim todos concluíram que possuem sombra. Ao finalizar esta
atividade, questionamos os alunos se os objetos também possuíam
sombra, utilizando um brinquedo como exemplo, mas nos
surpreenderam, pois acreditavam que só eles tinham sombra. Para
demonstrar às crianças que tudo que nos rodeia tem sombra, propusemos
uma atividade aos pais, para que interagissem com o projeto. Enviamos
uma caixa pequena para que cada família colocasse na mesma, um objeto
que fizesse parte do cotidiano da criança e enviasse para a escola. Após
reunir todos os objetos, projetamos a sombra dos mesmos na parede, só
que desta vez utilizando a luz de uma vela e as crianças identificaram o
seu objeto. Neste momento utilizamos como recurso o desenho para que
cada um pudesse expressar seu entendimento sobre o assunto.
No decorrer do projeto, propusemos atividades de identificar e
ligar objetos, pessoas e animais às respectivas sombras, a maioria dos
alunos já conseguia fazer as correlações necessárias neste tipo de
exercício. Para ampliar os conhecimentos sobre o tema procuramos
novas fontes de informação, assistimos ao filme Peter Pan, que havia
perdido sua sombra. Também coletamos vídeos da internet sobre o teatro
chinês. Após assistir o teatro chinês de sombras, observamos que as
crianças ficaram curiosas com o que ocorreu, pois os artistas que
desenvolviam o espetáculo utilizavam o corpo para produzir sombras e
construir imagens, com a união de pessoas e objetos, faziam uma única
sombra (ex.: mulher andando de bicicleta, elefante, ônibus...).
Confeccionamos o nosso próprio teatro de sombras, utilizando caixa de
149
papelão, papel manteiga, fantoches e uma lâmpada como luz, para contar
a história “A festa no céu”. Todos adoraram e pediram para repetir o
teatro. Manusearam os fantoches podendo se expressar cada um a sua
maneira.
Dando continuidade ao projeto, realizamos a contação de outras
histórias, como: “Quem tem medo do escuro?” e “Que nem gente
grande”. Dialogamos e refletimos sobre tudo o que ocorreu e suas
próprias experiências em relação às histórias. Houve ainda a confecção
de um miniprojetor de sombras, utilizando rolinho de papel higiênico e
fixando na ponta figuras que refletiram sombra na parede com o auxílio
de um tipo de luz, neste caso posicionamos a lanterna para refletir. Para
finalizar o projeto foi elaborado um álbum com fotos e relatos das
aprendizagens e experiências vivenciadas pelas crianças.

150
AS GALINHAS
Professores da EM EI Maria Elizabeth 23

A escola Municipal de Educação Infantil Maria Elisabeth


localiza-se no bairro São Cristóvão, e próximo dela existem algumas
empresas onde trabalham grande parte dos pais dos alunos, entre elas
enfatizamos, por ser destaque na origem do projeto, a Frangosul.
Um caminhão desta empresa, carregado de caixas com galinhas
para o abate, frequentemente ficava estacionado ao lado da escola. Esse
fato chamou a atenção e despertou o interesse dos alunos que começaram
a questionar: O que as galinhas estão fazendo ali? Elas são mansinhas?
Elas fazem cocó? Para onde vão as galinhas que estão no caminhão?
Onde é a Frangosul? Quem trabalha lá?
A partir dos questionamentos e o interesse demonstrado pelas
crianças, fomos delineando os percursos através de um mapa conceitual
(rede de significações). Nessa perspectiva, ampliaram-se as
possibilidades na busca da resposta para o problema: De onde vêm as
galinhas? O que elas comem? O que tem dentro do ovo? Como é a casa
delas?
À medida que o projeto se delineava através das histórias, dos
vídeos e da fala das crianças entre seus pares, as demais turmas da escola
foram aderindo à proposta iniciada no pré I. Os professores socializavam

23
Adriana de Moraes Zimermann, Maria Arlete Nadal Manfroi, Cleo mar de Mello dos
Santos, Camila Oliveira, Dave Mognon, Inaciana Lacourt Zorzo, Carine do Amaral
Rodrigues, Rose Keli de Mello, Liliane Fior Rodrigues Carvalho, Marina M iri Braz,
Sueli Fernandes de Souza, Rudimar Go mes, Tânia A lmeida.
151
as atividades oportunizando diferentes estratégias que objetivaram
ampliar os conhecimentos e sanar as dúvidas dos sujeitos envolvidos no
processo de ensino-aprendizagem. Sempre levando em conta a faixa
etária das turmas para a realização das atividades.
Buscando esclarecer o motivo de o caminhão estar carregado com
todas aquelas galinhas foram realizadas observações e diálogos nas
rodinhas. Foi convidado o motorista do caminhão para dar um
depoimento de sua prática de trabalho e tentar esclarecer as dúvidas da
turma. Iniciou-se, então, uma sequência didática.
Para saber de onde vêm as galinhas e com o objetivo de organizar
o pensamento, foi proposta uma sequência lógica com imagens
explicativas sobre o nascimento dos pintinhos e seu desenvolvimento.
Em seguida, os alunos produziram coletivamente pequenas frases para as
imagens, que deram origem a uma história onde a professora foi a escriba
que anotou as ideias do grupo.
Outra estratégia tinha como foco responder ao seguinte
questionamento: “Elas são mansinhas?”. Os alunos realizaram a leitura
visual de diferentes tipos de animais, expondo seus conhecimentos
prévios e, com o auxílio da professora, fizeram um cartaz com os animais
“brabos” e os “mansinhos”. E lá estava a galinha, um animal mansinho.
Também foi explorada a importância de cada animal para o equilíbrio
ambiental e para a alimentação dos seres humanos.
Um momento muito especial foi a visita de uma galinha e de um
pintinho. As crianças ficaram eufóricas e fizeram inúmeras observações
que já demonstravam novos conhecimentos adquiridos.

152
Objetivando a ampliação da oralidade utilizou-se da parlenda da
“Galinha do Vizinho’, a poesia do “Galo Aluado” do autor Sérgio
Caparelli e as canções “Seu Lobato”, “O pintinho fugiu, fugiu”, “Meu
Pintinho Amarelinho” e “A galinha Magricela”.
Coletivamente construiu-se um grande caminhão utilizando
diferentes tipos de materiais (caixas de leite, tinta guache, tampas de
potes, massa de modelar, cola...).
Foi realizada uma pesquisa junto às famílias para saber dos
sujeitos que trabalhavam na referida empresa. As crianças relataram na
rodinha de conversa, as diferentes ocupações de seus familiares,
ampliando o conhecimento sobre outras profissões. Um aluno contou
que seu pai trabalhava em um posto de gasolina e, ao ser questionado
pela professora como o trabalho estava relacionado com a Frangosul ou
com as galinhas ele respondeu que o seu pai colocava gasolina no
caminhão que carregava as galinhas para a Frangosul. Outras crianças
relataram o setor em que seus pais trabalhavam na citada empresa: minha
mãe trabalha lá e corta o pescoço das galinhas, meu pai carrega a caixa
onde estão as galinhas. Outra criança expôs que sua mãe trabalhava no
mercado e que tinha galinha lá: tem galinha no mercado? tem, só que
fica no gelado!
Com os novos conhecimentos reunidos foi proposta uma visita ao
mercado para as crianças observarem os produtos e derivados da carne de
frango. As crianças foram sendo estimuladas a observar e a buscar
respostas, mas novas questões foram surgindo, como as galinhas vieram
parar aqui? o caminhão que traz. As crianças conversaram com o dono
do mercado e novas informações foram agregadas. O passeio encerrou e
153
foram comprados alguns frangos. De volta à escola, as informações
anteriores foram comparadas com as novas adquiridas e o registro foi
feito por meio de desenhos e a elaboração de um texto coletivo.
A culminância do projeto foi uma refeição especial: arroz com
galinha. A atividade de abrir a galinha, com o objetivo de observarem
como é por dentro, limpá-la, para depois cozinhar com o arroz, foi muito
interessante porque por mais que as crianças já tivessem visto seus pais
fazerem isso em casa nunca tinham participado da atividade.
Todos os trabalhos realizados pelas turmas foram expostos e
apresentados por um aluno de cada turma aos presentes na hora do
lanche.

154
BEZERRO
Clarice Brito de Carvalho
Adriane Salles Vieira

Em uma roda de conversa da pré-escola, na Escola Municipal de


Educação Infantil Chapeuzinho Vermelho, surgiu o comentário de um
aluno sobre as características de um bezerro que nasceu em sua casa: “O
terneiro não é parecido com a mãe, mas ele não vai ser mocho igual a
ela”. Esse comentário causou um grande alvoroço na turma.
Para instigar ainda mais a curiosidade dos alunos a professora
questionou-os sobre o fato a fim de conhecer o que sabiam sobre o
assunto. A partir da conversa propôs um passeio para conhecer o bezerro
na casa do aluno.
O passeio foi organizado. Na casa do coleguinha, a turma teve a
oportunidade de observar o bezerro e a vaca. Nessa observação surgiram
novas curiosidades e comentários em relação aos animais, tais como:
Aquele boi não era o pai, A cor não é igual a da mãe, O touro é
perigoso, O primeiro leite não dá pra tomar. Essa experiência permitiu
que se planejassem algumas atividades que contemplassem as ideias
expressadas pelas crianças.
A professora propôs às crianças a construção de uma maquete
representando o lugar onde o bezerro vivia. Também buscaram saber
como vive e o que come um bezerro, com pesquisas.
Com a realização desse trabalho, uma menina da turma convidou os
demais colegas para conhecerem um bezerro guacho que mamava em
uma garrafa pet.
Durante esta outra visita souberam que o filhote era guacho porque
155
a mãe o abandonara. A dona da casa, mãe da menina, explicou como
fazia para alimentar o bezerro: ela tirava o leite da vaca e colocava na
garrafa pet que tinha um bico de borracha. Muitas crianças já conhecem a
prática da ordenha, já que a escola é vizinha a zona rural do município.
No caminho de volta para a escola passamos em frente à casa de outra
aluna, que fez questão de mostrar onde ficavam os bezerros recém
nascidos. Contou que este lugar chama-se estrebaria e entramos para
conhecer. As crianças olhavam os animais e teciam comentários a
respeito do que viam.
Aproveitando o interesse sobre as observações do passeio,
especialmente em relação ao leite foram pensadas algumas atividades.
Foi oferecido para as crianças o leite em três formas diferentes: o leite em
pó, o leite de “saquinho” e o leite tirado diretamente da vaca. Elas
experimentaram as três versões e deram sua opinião em relação ao gosto.
Fizeram novas pesquisas em relação à origem do leite e puderam
constatar que é a mesma. Além disso, as crianças modelaram uma
vaquinha em garrafa pet.
O assunto trouxe a tona novas palavras para algumas crianças. Para
responder o que significa “mocho”, evidenciado na afirmação Ele não vai
ser mocho igual à mãe, procuramos na internet o significado do termo
em relação ao contexto em que fora usado: mocho é o animal que não
possui chifres. Mas havia mais uma definição; banco baixo, sem encosto.
Isso permitiu que pudessem perceber que alguns termos têm mais do que
um significado. Para ilustrar essa aprendizagem, construímos mochinhos
com garrafas pet, gentilmente arrecadadas pelos pais. Essa construção
permitiu, ainda que se envolvessem em trabalhar com quantidades,
156
formas, alturas.
Para sistematizar o projeto foi construído um painel com: recortes de
imagens de bezerros, bois e vacas, fotos tiradas nos passeios pelo bairro,
fotos trazidas pelos próprios alunos e desenhos feitos por eles. O painel
foi exposto no corredor da escola para que todos pudessem apreciar a
aprendizagem realizada.
Quando iniciamos o projeto, pensamos em sanar uma curiosidade
dos alunos, despertada pelo comentário de um colega, porém com o
desenrolar das atividades, principalmente os passeios, outra questões
surgiram e novas descobertas aconteceram, o que levou a um
redirecionamento da proposta inicial, fazendo com que o projeto tivesse
seu foco inicial reordenado.
Chegou-se a conclusão de que as crianças ampliaram conhecimento
a cerca do tema, uma vez que outras indagações foram aparecendo com o
decorrer das atividades. Elas traziam de casa informações compartilhadas
com suas famílias e que eram confirmadas ou reorganizadas pela
pesquisa científica realizada.

157
CAÇA AO PIOLHO

Aline Roehrig Hero ld


Jeanna Roehrig Herold dos Passos
Perla Rubiara Ribas Rosa
Silvana Laidens

O projeto foi desenvolvido na Escola Municipal de Educação


Infantil Francisco Luiz Biancini, envolvendo alunos e professoras das
turmas do Maternal I, Pré I e Pré II A e B.
As crianças do Maternal I reproduziam, em suas brincadeiras, o
ato de catar piolhos, imitando o que os pais e outros familiares fazem em
casa. Os alunos das outras turmas começaram a demonstrar interesse pelo

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assunto. Partindo disso, as professoras reuniram-se para desenvolver um
projeto envolvendo toda a escola.
Através de leitura das histórias “O Piolho”, de Bartolome u
Campos Queirós; “Marcelo está com piolho”; de Beatrice Rouer,
“Expulsando a quadrilha de piolhos”, de Stela Maris Rezende e “A
princesinha e o piolho”, retirado do Blog de Vera Guedes, os alunos iam
compartilhando seus conhecimentos nas rodas de conversa e
reproduzindo através de desenhos, recorte e colagem.
Buscando mais informações fomos pesquisar em livros a
anatomia do piolho, seu ciclo de vida e o prejuízo que pode causar à
saúde humana. Observamos um piolho verdadeiro com auxilio de uma
lupa, fizemos dobraduras e confeccionamos um piolho gigante com
material alternativo.
A turma do maternal I utilizou fantoches confeccionados pelas
professoras para recontar as histórias lidas.
O pré I confeccionou, em EVA, formas geométricas coloridas
com as quais as crianças montavam um piolho utilizando o círculo para
representar a cabeça, o retângulo para o corpo, o “bumbum” era um
triângulo e as patinhas eram pequenos quadrados.
Realizamos uma pesquisa com as famílias perguntando sobre
receitas de xampu caseiro contra piolho. De posse das receitas enviadas
pelas famílias, organizamos um mural que ficou exposto na escola para
conhecimento de toda a comunidade. Os alunos do pré II, após a leitura
das receitas e identificação dos ingredientes, escolheram uma para ser
feita por eles.

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Escolhida a receita, solicitamos aos pais que providenciassem os
ingredientes. Como temos um fogão pequeno na escola, levamos para a
sala de aula. Os alunos ajudaram a colocar as ervas na panela e picar o
sabão. Ficamos, então, observando o que iria acontecer... a água ferveu e
o sabão derreteu. E um cheiro diferente ficou no ar.
Pedimos que os pais mandassem um frasco pequeno, para que
cada aluno levasse para casa um pouco de xampu.
Uma palestra dada pelas enfermeiras do PSF do bairro e os
informativos distribuídos à comunidade escolar deram fechamento ao
projeto.

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CAMINHÃO DO CD
Cláudia Neci Bilhar Dutra
Denise Vieira
Kelly Andrade
Silvia Ancines

O projeto Caminhão do CD iniciou a partir da observação feita


pelos alunos da turma do Pré II A, da Escola Municipal de Educação
Infantil Amizade, que é localizada na Vila Operária em Passo Fundo.
Toda vez que as crianças brincavam no pátio, com a chegada de
um caminhão, paravam suas brincadeiras para observá- lo, assim como a
atividade dos entregadores. Além de observarem, comentavam: Porque
este caminhão grande vem aqui na escola?, O que tem lá dentro?, De
onde vem o caminhão?, Quem são esses homens?. As professoras
começaram a se deter a essas indagações. Passado algum tempo, outras
crianças fizeram outras observações, pois perceberam que outros
caminhões também faziam entregas na escola: esse caminhão é mais
“menor” que o outro. E o interesse por caminhões foi se expandindo.
Um caminhão betoneira numa construção em frente, também era alvo de
curiosidade. Um grupo de alunos, inclusive meninas, gostava de brincar
com carrinhos, caminhões, usando a sua imaginação. A professora
passou a compartilhar os comentários com seus alunos e percebeu a
possibilidade de um projeto de trabalho.
Nas conversas com as crianças pode-se perceber que alguns pais
exerciam atividades profissionais ligadas a caminhões, como trabalhar
em oficinas mecânicas.

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A partir desses dados foram elaboradas as primeiras atividades
para lidar com a questão. Foi criada uma rede de hipóteses com as
observações que o assunto proporcionava. Com os primeiros passos
definidos na rede sentimos confiança, acreditamos no interesse e
envolvimento dos alunos e professoras e demos início ao projeto.
As crianças fizeram observações do caminhão do CD, entrando
nele, conversando com o entregador, observando todos os aspectos do
caminhão em sua parte interior. Após as observações registraram as suas
experiências através de desenho, onde alguns alunos cuidavam para que
não faltasse nenhum detalhe. Todas as observações fizeram surgir, ao
longo do processo, novos questionamentos, pois a curiosidade infantil é
imensa.
Os desenhos e pinturas dos caminhões acabaram estimulando os
alunos menores. As crianças começaram a questionar sobre os trabalhos
expostos na sala, pois utilizam a mesma sala no outro turno. Assim, a
turma do Pré I acabou por se engajar no projeto, compartilhando as
atividades.
Pensamos em visitar uma transportadora, para que os alunos
pudessem ter contato mais direto com caminhões, o que não foi possível.
Então, buscamos ajuda com os pais, que se ofereceram para trazer seus
caminhões até a escola, a fim de que os alunos pudessem esclarecer suas
dúvidas e construir novos conhecimentos.
Os conhecimentos que os alunos demonstraram ter era de que o
caminhão vinha apenas visitar a escola e também de que poderiam
passear nele. A partir de então, começamos a buscar informações,
juntamente com as famílias, como as profissões exercidas por seus
162
membros. Preparamos um questionário onde a família informava as
profissões existentes no grupo. Após o retorno da pesquisa, fizemos um
gráfico classificando as profissões. Contamos quantas pessoas tinham a
mesma profissão, dando ênfase para aqueles que tinham caminhões e
faziam entregas, sendo que as quantidades foram registradas em cartolina
com EVA colorido e marcação numérica.
Para refletir a cerca de: quem são esses homens? e Ô, tu não vê o
que os homens descarregam lá de dentro? contamos com a participação
de alguns pais, proprietários de caminhões, que vieram até a escola para
esclarecer alguns questionamentos. Antes da visita dos pais, partindo de
suas experiências, as crianças elaboraram perguntas para uma entrevista:
1) O que precisa ter para poder dirigir um caminhão? 2) Qual é a marca
do caminhão? 3) Eu posso andar de caminhão? 4) Para onde eles viajam?
5) O que você carrega dentro do caminhão? 6) Por que um é mais menor
do que o vermelho? 7) Tu tem ajudante?
Os pais responderam na íntegra todas as perguntas realizadas
pelas crianças. Elas entraram nos caminhões para melhor conhecer as
suas características, mas não puderam andar devido à falta de
equipamento de segurança adequada para a faixa etária. Esta atividade
resultou na construção de um gráfico e na observação de que alguns
motoristas não têm ajudantes. Os próprios motoristas é que descarregam
e fazem a entrega da carga.
No caminhão que o pai trouxe para a escola tem um ajudante que
o auxilia nas tarefas de carga, descarga e entrega. Analisamos o tipo de
carga de diversos caminhões e concluímos então, que as cargas são

163
diferentes. No caso específico do caminhão do CD são alimentos que
serão consumidos pelas crianças nas refeições da escola.
Assim, iniciamos uma atividade com recorte e colagem desses
alimentos trazidos à escola, através de uma de lista de compras. No
decorrer da atividade, um aluno lembrou que há outros caminhões que
vem até a escola: Prô, tem um que vem pra trazer saladas e frutas, né?,
O, tu não vê que aquele é mais pequeno que o da comida?. A partir daí
trabalhamos a diferença de tamanhos e a relação de quantidade. Como as
crianças já haviam entrado nos caminhões, fizemos a tentativa de colocar
o mesmo número de crianças dentro de um caminhão de passeio.
Professora não 'cabeu' todo mundo. Após esta experiência fizemos o
registro.
Para o dia do brinquedo de casa na escola, elaboramos um bilhete
para que as crianças trouxessem apenas carrinhos e caminhões. A
brincadeira correu solta e depois, na roda de conversa, fizemos todas as
explorações partindo da pergunta “De onde vem esse caminhão?”.
Usamos mapas do Rio Grande do Sul para ver o trajeto do caminhão do
CD. Continuamos as atividades traçando uma trilha de giz no pátio da
escola para as crianças brincarem com os carrinhos trazidos de casa,
utilizando as regras de trânsito, que haviam sido trabalhadas no dia
anterior.
O projeto culminou com uma mostra da produção dos alunos para
toda a comunidade escolar, para que se evidenciasse a proposta de
organização do ensino por meio de projetos de trabalho, onde as crianças
podem ampliar, conceituar e relacionar suas certezas a respeito das coisas

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do mundo com os saberes cientificamente estruturados tornando suas
aprendizagens significadas.

CAVALO

Priscila A marante
Claudete Brandt

O “Projeto Cavalo” foi desenvolvido com uma turma de crianças de


Maternal I, na EMEI Fofão. O interesse pelo tema “Cavalo” surgiu no
momento em que a turma fazia um passeio na quadra da escola onde
viram um cavalo. Percebeu-se que seria uma boa proposta de pesquisa,
pois o entusiasmo das crianças era grande, teciam muitos comentários,
como: Olha o cavalo pô! O que será que o cavalo está fazendo aqui? O

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cavalo tá comendo mato, pô! Tá com fome, o cavalo. Olha... os piás tão
puxando ele! Ele quer fugir. Olha prô, lá embaixo tem mais dois e eles
tão vindo! Tão vindo!Tão babos, corre pô. Igual o do Felipe, mas não é
dessa cor. É banco. Não é laranjado. Pô, ele é pequeno da pra andar
nele!
Na sala de aula, no momento da rodinha de conversa, relembramos
com as crianças um pouco do passeio. Enquanto elas iam falando, íamos
fazendo perguntas relacionadas às suas afirmações. A partir destes
comentários dos alunos percebemos muitas curiosidades sobre os
cavalos. Então, mapeamos os seguintes percursos a serem seguidos para
buscarmos respostas às duvidas e curiosidades da turma.
Com as crianças organizadas em círculo, foram postos cavalinhos
de brinquedos (grandes, médios e pequenos e um cavalinho com uma
perna quebrada) As crianças brincaram, sempre fazendo comentários.
Usando do imaginário em suas brincadeiras, encontraram motivos para o
cavalinho estar sem a perna.
Colocamos na parede, várias gravuras e fotos de diferente s
cavalos, até mesmo de pôneis, que nos foram enviadas pelas famílias. As
crianças foram observando as semelhanças e diferenças entre os animais.
Ativeram-se principalmente no tamanho e na cor deles, bem como a
existência da crina. Também imitaram o barulho do cavalo ao andar.
Para registrar as atividades anteriormente trabalhadas, as crianças
foram desafiadas a representarem as características percebidas em um
cartaz, usando tinta guache.
Assistimos ao filme infantil “O cavalo é branco e a sela é
amarela,” que mostra as diferentes cores da pelagem dos cavalos e,
166
também a indumentária necessária para que se possa cavalgar. Em
seguida foram feitos tais acessórios, que se usa no cavalo para montaria
e, com recorte e colagem, colocados em um cavalo feito de isopor.
Depois destas primeiras experiências, constatamos que as crianças
tinham elaborado algum conhecimento sobre as partes físicas dos
cavalos: diferenciavam a cor, o tamanho (pequeno ou grande),
identificavam pernas, cabeça, rabo, crina.
Em outro dia, voltamos ao pátio para nova observação do cavalo.
Mas naquele dia os cavalos não apareceram. Retornamos à sala de aula e
fizemos um registro de memória, usando canetinhas, de como seria o
cavalo que procurávamos.
As crianças não têm clareza de onde vivem os cavalos, o que
comem, o que fazem. Pedimos a colaboração do dono do cavalo que
visita o pátio da escola. Ele nos atendeu e levou o animal para apreciação
das crianças.
Antes de irmos ao encontro do cavalo, fizemos algumas
combinações com os pequenos, como manter uma certa distância. As
crianças estavam com um pouco de medo, mas continuaram fazendo seus
comentários. Puderam comprovar o tamanho (grande), que ele estava
comendo grama, que tinha rabo e crina, que era alaranjado ou vermelho,
assim como partes de seu corpo: pernas, olho grande.
Na sala de aula, as crianças enumeraram outras observações: ele
tem costas, faz hiohiohio, ele tem uma corda no pescoço, tá preso pro
homem puxar ele. Surge então a dúvida do que se coloca nas costas do
cavalo para poder andar nele. Coloca uma cadeira, sugere uma das
crianças. Foi aí, que um cavalinho de brinquedo serviu para mostrar as
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crianças o que era uma cela. Para registro desta atividade, os alunos
fizeram cavalinhos com massa de modelar e um desenho.
Durante o filme ”Spirit, o corcel indomável”, as crianças se
mostraram interessadas em saber o que aconteceria com o cavalo. Viram
o nascimento de um potrinho, seu aleitamento, quem é sua mãe, no
começo chamada de cavala, mas logo descoberto que o verdadeiro nome
é égua. Acompanharam o crescimento do animal, sua alimentação
enquanto pequeno, que era o leite materno, depois grama e ração.
O filme trouxe ainda alguns aspectos de maus tratos, que
comoveram as crianças.
Com a autorização dos pais, foi realizado um passeio d e
carrocinha, puxada por um cavalo. Depois, a criança que se encorajou,
pode andar no cavalo. Na sala de aula, tivemos uma conversa com a tia
que é dona do cavalinho. Ela nos contou como cuida do cavalinho, o que
dá para ele comer, o lugar onde ele fica e o que faz por sua família. O
cavalo é usado para puxar a carrocinha de coleta de papelão, por isso
cuidam bem dele. A alimentação dele é feita de pasto, grama, milho e
ração. Ele trabalha muito, portanto, bebe muita água e come em grande
quantidade. Quando ele fica doente eu o levo ao veterinário na UPF, lá
eles o atendem de graça. Atrás da casa tem uma casinha pra ele, que se
chama estábulo, que é onde o cavalo fica protegido da chuva e do frio.
Em sala de aula, na rodinha contamos a história “O potrinho”, que
rememora as informações dadas pela dona do cavalo. As crianças
procuraram figuras de cavalos ou de alguma coisa referente a ele.
Recortaram e fizeram colagem.

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Dando sequência foi feita uma dramatização, onde os personagens
eram diferentes tipos de cavalos, representados por dedoches e fantoches.
As crianças envolveram-se fazendo imitações, poemas e músicas com
base no tema do projeto.
Com as crianças organizadas em círculo fizemos uma pesquisa, a
partir de informações coletadas em livros e na internet. Então, mostramos
uma caixa, decorada com livros e figuras de cavalos, e dissemos que ali
dentro daquela caixa havia informações sobre os cavalos. Procedemos a
leitura do material e promovemos o diálogo entre as crianças, lembrando
o que havíamos aprendido até aqui. Por fim, cada aluno pegou uma ficha
ou um livro de dentro da caixa e fez a leitura de imagens aos demais
coleguinhas. A professora leu as informações escritas. Após essa
trajetória, sistematizamos as descobertas e informações obtidas com a
turma em um cartaz.
Para que a turma tivesse a oportunidade de socializar seus novos
conhecimentos, construímos um potreiro com isopor, palito de picolé e
barbante para demonstrar o ambiente onde o cavalo vive e sua
alimentação. A grama foi representada por erva-mate e caixinhas
representaram os coxos para os alimentos dos animais. Com papel azul
ilustramos o açude onde os cavalos bebem água e banham-se. As
crianças criaram um cavalo moldado em jornal e construíram cavalos
com material alternativo. Ao fim do projeto realizamos uma exposição de
todo material utilizado para os demais colegas da escola e para os pais.

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FORMIGAS
Selena Moretto
Maria Nelsi Cardeal

O “Projeto Formigas” foi desenvolvido com uma turma de


Maternal II, na EMEI Fofão. O interesse pelo tema “formigas” surgiu no
momento em que um aluno foi picado por uma formiga no pátio da
escola. Observando o interesse da turma, percebeu-se que seria uma boa
proposta de pesquisa, já que as crianças tinham muitas perguntas, como:
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Por que a formiga morde? O que ela come? Onde mora? O que as
formigas fazem no pátio?
A partir desse interesse das crianças definimos o problema: a
picada da formiga.
Primeiramente foi feito uma roda em sala de aula e as crianças
puderam socializar aquilo que já sabiam sobre as formigas. Surgiram
colocações do tipo: elas mordem e são venenosas, são iguais as aranhas,
tem antenas igual as abelhas, umas são pequenas e outras são grandes e
todas tem boca, moram nos buracos ou na grama, fazem casinhas de
terra, elas caminham com duas pernas e comem comidas. A partir daí foi
lançado o primeiro desafio: retornar ao pátio, para observar de forma
mais atenta a vida das formigas. Com uma lupa na mão foi possível
observar e coletar diferentes tipos de formigas, assim como observar as
suas “casinhas”. Retornando para a sala de aula as formigas coletadas
foram comparadas com uma imagem ampliada de formiga. Essa
atividade contribuiu com a verificação das características das formigas,
trazendo à tona as primeiras constatações da turma: número de patas,
antenas, forma do corpo, tamanho e cor. Estas primeiras descobertas
foram registradas pelas crianças através de desenho.
Observando as afirmações e indagações dos alunos percebeu-se
que ainda havia muitas curiosidades sobre as formigas, a serem
investigadas pelas crianças. Então fomos mapeamos os percursos.
Seguindo o percurso estabelecido, a coleta de informações foi
feita em diversas fontes como pesquisa em livros, internet,
documentários, sendo que o material sempre foi analisado com

171
antecedência pelas professoras. A partir de então, começamos a refletir e
sistematizar sobre o tema.
Nesta etapa foram disponibilizados diferentes livros de pesquisa,
onde as crianças, separadas em grupos, puderam fazer leitura de imagens.
Elas receberam marca páginas com a palavra formiga, que deveriam ser
usados por elas toda vez que encontrassem a imagem de formigas para
destacar as páginas dos livros. Após a pesquisa das crianças, as
professoras fizeram uma seleção do que seria lido em diferentes
momentos nas rodas de conversa.
Depois da realização das primeiras atividades constatamos que as
crianças não têm clareza em relação à alimentação das formigas, algumas
características das formigas, como número de patas e quantas moram
juntas.
Nessas leituras surgiram palavras desconhecidas dos alunos.
Aproveitamos a oportunidade para fazer consultas ao dicionário, para
descobrir o que significavam, como por exemplo: formigueiro, que até
então não tinha surgido no vocabulário das crianças; usavam “casinhas” e
“buracos”. Também consultamos galerias e fungos.
Através da leitura dos livros, que têm uma linguagem mais
científica, o grupo fez algumas descobertas: a utilidade das antenas, a
comunicação e as diferentes formas de moradia.
Após a pesquisa nos livros, a turma retornou ao pátio, com o
objetivo de comprovar as informações obtidas. Para isso, foi feito a
remoção de parte de dois formigueiros, onde foi possível observar com
clareza como se formavam as galerias dentro dele. Observaram que o
formigueiro não estava presente somente na superfície do solo, mas
172
também no seu interior, que os caminhos percorridos pelas formigas iam
a diferentes direções no pátio, em meio à grama ou as calçadas. Foi aí,
que uma criança fez uma nova descoberta: Prô as formigas vivem em
paus! chamando a atenção da turma toda. E essa descoberta foi validada
pela professora em sala de aula através de uma leitura científica onde
dizia que algumas formigas preferem os troncos das árvores.
Assistimos a um vídeo da TV/Escola, onde a turma pode
observar, com muito entusiasmo, detalhes internos de um formigueiro, as
diferentes funções dentro do formigueiro, quem exerce cada função e o
modo de vida de duas espécies de formigas, as carnívoras e as
herbívoras.
Os pais contribuíram com o trabalho, realizando com seus filhos,
coleta de diferentes tipos de formigas, que foram enviadas para a escola.
Esses exemplares permitiram que os alunos realizassem observações com
a lupa e fizessem comparações entre os bichinhos.
Por meio dessas pesquisas o grupo teve a oportunidade de
ressignificar suas hipóteses iniciais. Após terem pesquisado e descoberto
as principais características das formigas puderam modelar formigas em
papel machê, massa de modelar e argila.
Paralelo ao trabalho de pesquisa, as crianças vivenciaram
momentos lúdicos, a partir de leituras de livros infantis, filmes, poemas e
músicas. A matemática esteve presente em várias situações, como por
exemplo, em estimativa de quantidade de formigas presentes em um
formigueiro, comparação de tamanho e de cor das diferentes espécies,
contagem do número de patas e antenas, comprimento e distância dos

173
trajetos percorridos pelas formigas e a forma de construção do
formigueiro em galerias.
Em relação ao desenvolvimento gráfico, foram trabalhados
desenhos de observação, produções livres e produções com interferência.
Após essa trajetória, as descobertas com a turma foram
sistematizadas e escritas em papel pardo: as formigas são formadas por
cabeça, corpo, bunda e antenas; possuem várias patas, assim como as
aranhas; possuem antenas, como as abelhas e elas se movem; existem
formigas de cores e tamanhos diferentes; moram em montes de terra
duros ou moles; carregam folhas para comer; moram em “paus” e cascas
de árvores.
Esse trabalho foi completado com a colaboração de diferentes
imagens de formigas e fixado no mural da sala.
Para que a turma tivesse a oportunidade de socializar seus novos
conhecimentos propusemos a confecção de uma grande formiga com
jornais e fitas, revestida com papel pardo. Para isso as crianç as
precisaram utilizar-se dos conhecimentos construídos até então. Fizeram
também um formigueiro em uma embalagem pet. A fim de comunicar as
aprendizagens realizamos uma exposição dos materiais utilizados e
construídos no decorrer do projeto, com uma exposição oral, pelas
crianças da turma, para os familiares e coleguinhas de outras turmas.
Além dos conhecimentos específicos elaborados, percebemos a
construção de valores a cerca da natureza como habitat natural dos seres
humanos e dos animais, mesmo dos pequeninos. A percepção do trabalho
em equipe, a divisão de tarefas e o respeito ao meio e aos seres vivos
também se mostrou forte entre as crianças. É pelo envolvimento e
174
entusiasmo da turma que se justifica o planejamento de ações
pedagógicas em projeto de trabalho, pois só assim é possível ressignificar
cada nova hipótese levantada pelas crianças.

MINHOCA OU MINHOCO?

Arali Mattos do Prado


Loni Salete Michelin
Viv iane Fátima Lima do Prado

No ano de 2010 o projeto gerador da escola teve como uma das


linhas de ação o cuidado com o meio ambiente, em 2011 na busca de

175
continuar com este trabalho, optou-se por dar ênfase ao cuidado e
proteção à natureza.
Buscando embasar o projeto verificou-se a realidade da
comunidade local: cercada por diversos problemas ambientais, entre os
quais acúmulo de resíduos, má utilização da água potável, falta de
hábitos de higiene e limpeza entre outros.
Considerando a liberdade que cada turma tem de gerar mini
projetos a partir das curiosidades de seus alunos, com a montagem do
minhocário, que tinha como primeiro objetivo gerar adubo orgânico para
a horta, as professoras do Maternal III, Pré Misto e Pré I observamos a
curiosidade dos alunos em relação à função das minhocas, como vivem,
suas peculiaridades e a importância delas para o meio-ambiente.
Desta maneira, buscando desenvolver estes conhecimentos e
sensibilizar as famílias para destinar corretamente seus lixos orgânicos
organizou-se este projeto.
Antes de partimos para a realização prática deste trabalho, faz-se
necessário a retomada de conceitos essenciais ao desenvolvimento das
atividades de esfera ambiental com a educação infantil e os referencias
para a educação infantil foram nosso primeiro material de pesquisa
É importante ressaltar que ao brincar as crianças rec riam e
repensam os acontecimentos por elas vivenciados nas mais diversas
situações, buscando para elas soluções e novas aprendizagens .
Nestas ocasiões surgem as oportunidades para que o profissional da
educação possa intervir e auxiliar na aprendizagem.

176
Como este projeto está relacionado a outro de toda a escola,
descreveremos a seguir algumas ações comuns a toda escola e que
influenciaram significativamente o nosso trabalho:
 Construção da horta;
No mês de abril iniciou-se a construção da horta, com o auxilio de
alguns pais que dividiram os canteiros e prepararam a terra para receber
as sementes. Cada duas turmas ficaram responsáveis por um canteiro
indo desde o berçário ao pré, as crianças semearam, cuidaram e também
colheram as hortaliças. As sementes foram arrecadadas através de doação
e tudo que foi colhido complementou a alimentação das crianças de
forma saudável, sem uso de agrotóxico e com o real valor de ser fruto do
trabalho dos estudantes.
Antes do plantio foi feita uma pesquisa com as famílias, através
de questionário para saber se possuíam horta em casa, quais os legumes e
verduras que consumiam mais e foi pedido para que escolhessem um
para plantarmos na horta e fizessem uma pesquisa sobre este alimento e
enviassem para escola, assim decidimos o que iríamos plantar e
realizamos o plantio. Tivemos grande participação das famílias tanto ao
responderem os questionários quanto no auxilio e construção da horta.
 Minhocário;
Construído com o auxilio dos pais, as minhocas foram trazidas
pelo CETAP e todo lixo orgânico produzido pela escola será
transformado em adubo para horta através do minhocário. As famílias
dos alunos foram convidadas a enviar para a escola o lixo orgânico
produzido em suas casas para contribuir na alimentação das minhocas.
Passado um mês o envio de resíduos orgânicos diminuiu. Ao investigar o
177
motivo, descobrimos que as famílias estão realizando compostagem em
suas residências.
 Plantio de árvores frutíferas
A escola juntamente com o CETAP, CONALTER e a
comunidade escolar plantou árvores nativas e promovendo desta forma
seu cultivo e valorização. Os frutos serão estudados e complementarão a
alimentação das crianças. Durante o plantio das árvores utilizamos o
adubo produzido no minhocário e cada turma ficou responsável pelo
cuidado de uma dessas plantas e estudo a seu respeito para posterior
apresentação aos colegas.
 Palestra com CETAP e CONALTER:
No mês de abril tivemos a palestra do CETAP e CONALTER
para os professores a respeito da agricultura familiar, dos produtos
saudáveis e da boa alimentação. Neste encontro firmamos algumas
parcerias para a construção do minhocário e a arborização do pátio. Esta
parceria com a CETAP e CONALTER foi muito boa e nos rendeu bons
frutos, além da palestra inicial, recebemos a doação das minhocas, das
mudas das flores e árvores frutíferas. Fomos convidadas a participar da
oficina do pinhão.
- Palestra com Secretaria Municipal do Meio Ambiente de Passo
Fundo;
Realizada no mês de agosto propiciou a comunidade escolar
compreender mais a respeito da separação correta do lixo e
principalmente do destino correto do lixo orgânico. Foi apresentada aos
pais, professores, alunos e demais membros da comunidade escolar a
realidade do nosso município, bem como a situação na qual se encontra o
178
rio Passo Fundo, do qual foi retirado no último mês, aproximadamente
três toneladas de lixo, que poderiam, se destinados corretamente, ser
reciclados e gerar renda para as famílias que trabalham com coleta
seletiva. Através da palestra conseguimos telefones importantes de locais
que realizam a coleta e separação correta do lixo.
 Pesquisa de receitas com reaproveitamento de alimentos;
No mês de abril algumas professoras participaram da Oficina do
Pinhão aprendendo receitas simples com o uso do pinhão que valorizam
nossas frutas nativas e estas receitas serão utilizadas em futura oficina
com as famílias.
No mês de maio as professoras e funcionárias da Estrela da
Manhã realizaram uma oficina de culinária com reaproveitamento de
alimentos. Posteriormente a atividade será desenvolvida com as famílias.
-Reciclagem do lixo;
A escola conseguiu de doação 10 tonéis de plástico que se
tornaram lixeiras de separação do lixo, elas foram pintadas por pais de
alunos e colocadas na frente e no interior da escola com o objetivo de
que toda a comunidade escolar separe o lixo adequadamente.
No decorrer do projeto algumas atividades específicas foram
realizadas com as turmas envolvidas neste projeto, entre elas:
- Passeios e observações:
Foram realizados alguns passeios aos arredores da escola com a
finalidade de observar a arborização da região, os tipos de árvores e
colher material para análise, construção da réplica de uma árvore e coleta
de frutas, tais como: laranja, limão, bergamota, roman, que recebemos

179
como doação. Com estas frutas fizemos sucos, cremes, vitaminas, salada
de frutas e degustação.
- Visita ao minhocário:
As crianças foram convidadas a trazer de casa cascas de frutas,
verduras, ovos para realizarem a alimentação diária das minhocas. As
cascas produzidas na escola também eram levadas pelos alunos ao
minhocário. Durante estes momentos, muitas dúvidas surgiram nas
crianças entre elas à desencadeadora do projeto, se era minhoca ou
minhoco? Nos passeios ao minhocário realizamos diferentes observações
de cores e tamanhos das minhocas. Pudemos observar também a
diferença na cor da terra do minhocário e da terra da horta. Após estas
visitas realizamos rodas de conversa, criações de histórias, desenhos,
recortes e colagens. No intuito de representar simbolicamente as formas
da minhoca e demonstrar que mesmo sendo minhocas elas possuem
características próprias de acordo com o tipo. Os alunos, com base nos
estudos realizados, construíram uma minhoca de argila. Recriamos a
imagem da minhoca com a utilização de material alternativo como caixas
de ovos, rolos de papel higiênico, barbante, tampas e outros. Além do uso
de cola, tinta e grampos. As minhocas criadas tornaram-se brinquedos e
foram utilizadas em brincadeiras pelos alunos que depois as levaram para
casa.
- Construção de duas árvores:
Com o material coletado nas ruas, montamos junto aos alunos,
uma árvore com semente, raiz, caule, folhas, flores e até um fruto, ideia
de uma das crianças. Durante a montagem explicamos as principais

180
funções de cada parte e que dependendo da planta algumas destas partes
não existem ou não possuem as mesmas funções.
- Contação de Histórias:
Foram trabalhadas três histórias, Tinoca Minhoca, Pipa a
Sementinha e Minhoca Dorminhoca. Após a contação os alunos foram
motivados a recontar as histórias e destacar fatos importantes que
ocorreram durante a mesma. A partir da observação das gravuras os
alunos contaram a história da Minhoca Dorminhoca. A história da Pipa a
Sementinha foi dramatizada pelas professoras, bem como a Tinoca
Minhoca. Foram usados também, recursos como a casa de fantoches para
contar aos alunos como vivem as minhocas.
- Roda de conversa:
Realizadas diariamente após diferentes atividades foi um
importante momento onde os alunos compartilham suas dúvidas e seus
conhecimentos. Através dos debates realizados nas rodas de conversa as
crianças criam hipóteses e geram novas curiosidades.
Compuseram, também, o desenvolvimento do projeto, as
seguintes atividades: assistimos ao filme A Banda das Minhocas;
observamos diferentes minhocas com posterior registro, comparamos
minhocas utilizadas em pescarias com as minhocas que temos no
minhocário. Observamos fotos de minhocas gigantes retiradas da
internet e os alunos realizaram desenhos individuais e coletivos;
construímos álbuns e painéis, através de recortes de jornais e revistas
buscando a diferenciação entre cobras e minhocas; fizemos pesquisas na
internet e em livros referentes à vida das minhocas; enviamos
questionários aos pais para identificar a proximidade das famílias com a
181
natureza, se cultivam horta, se reciclam lixo orgânico, se possuem
árvores frutíferas em seus terrenos ou próximo a suas residências; no
circuito da minhoca as crianças realizaram diferentes movimentos,
buscando imitar os movimentos das minhocas e a tentativa de
alimentação das mesmas sem utilizar membros superiores ou inferiores;
montamos com material alternativo a maquete da escola, com o pátio, o
minhocário, a horta, e as minhocas; brincamos com quebra-cabeça
contendo a imagem de uma cobra e outro com a figura da minhoca
observando as diferenças entre elas.
A culminância do projeto ocorreu com o passeio e a observação
no serpentário da UPF. Durante o passeio as crianças puderam observar
as cobras e assim diferenciá- las melhor das minhocas. Além de ouvir as
devidas explicações e sanar dúvidas ainda existentes, junto aos
profissionais da área, pois tivemos uma palestra com um biólogo para
sanar dúvidas tanto dos alunos quanto dos professores.

182
MÚSICA NA ESCOLA
Enoir Santana
Catiane Cristina Zanco

Para a realização do projeto Música na Escola, partimos da


observação das crianças em adaptação, no seu choro, nas suas
inquietações ou em outras situações de desconforto. Nestes momentos, as
crianças perguntavam: Que música tem hoje?, Vamos cantar o Sapo
Cururu?, Vamos cantar a música do jacaré?, Prô, nós não vamos cantar
hoje?, Prô, por que não vamos cantar hoje?, Prô, deixa eu escolher uma
música agora?, Podemos cantar essa música hoje?
Tendo em vista as observações aliadas aos pedidos por músicas
ou canções infantis, compreendeu-se a necessidade de reorganizar as

183
práticas pedagógicas para tornar o ambiente mais calmo, confortável e
alegre.
Sabendo-se que a música proporciona situações de conforto,
buscou-se desenvolver atividades musicais que possibilitassem maior
alegria, autoconfiança, prazer, assim como o desenvolvimento de
potencialidades cognitivas, afetivas, sociais, motoras e culturais.
O projeto teve início ouvindo a criança, a escola e a família. A
participação de todos esteve presente nas ações propostas do fazer
pedagógico. Foi realizada uma pesquisa junto às famílias com a intenção
de saber sua relação com o tema, que gênero musical era mais ouvido em
casa e de que forma poderiam contribuir com a escola no
desenvolvimento do projeto.
Com dados da pesquisas, foram planejadas e realizadas atividades
com as crianças respeitando as individualidades e faixas etárias.
Na turma de berçário, a música era oferecida para o
reconhecimento do ritmo e movimentos corporais. Também foram
confeccionados chocalhos, com imagens de animais, para que pudessem
acompanhar as músicas.
Já no maternal, as professoras perceberam a necessidade de
trabalhar o silêncio e em seguida os sons do corpo e da natureza. As
atividades giraram em torno da identificação e execução dos diversos
sons emitidos pelo corpo: palmas, assobios, batidas dos pés, batidas das
mãos em outras partes do corpo, enfim as diversas capacidades de
emissão de sons. Os sons da natureza foram ouvidos e identificados com
passeios ao pátio e escuta de cds. As atividades foram registradas através
de desenhos e produções artísticas.
184
A música fazia parte da rotina das crianças e, a partir das
respostas enviadas pelas famílias, teve um novo enfoque no sentido de
dar mais atenção também ao que era ouvido em casa. Algumas músicas
eram ouvidas e por fim foi construído um livro com canções infantis do
cotidiano escolar e com músicas que os pais cantavam para as crianças
em casa, resgatando canções de infância.
Num segundo momento, trabalhou-se com alguns ritmos e
instrumentos musicais, onde era apresentado um som instrumental. A
gaita foi um dos instrumentos presentes, com a música Mercedita. As
crianças reconheciam o instrumento, a representação da música através
do canto, o manuseio do instrumento musical original. Foram explorados
instrumentos como gaita, violão, guitarra, pandeiro, piano elétrico, flauta,
chocalhos diversos, agogô, tambor, pau de rema, bumbo legueiro, reco-
reco, bateria. Foram trabalhados gêneros musicais: regional, clássico,
sertanejo, popular e canções infantis de diversos ritmos. Essas
experiências levaram à construção de uma bandinha com materiais
alternativos.
Nas turmas de Pré foram trabalhadas algumas obras de Toquinho
e Vinícius de Morais, onde as crianças também puderam visualizar as
fotos dos autores. Dentre as músicas mais trabalhadas, a música Aquarela
e O Pato foram as que os alunos mais gostaram.
As crianças escutavam e sentiam a música, cantavam junto,
imaginavam e exploravam a letra, coloriram desenhos e criaram um livro
com a música Aquarela a partir das imagens coloridas anteriormente.

185
Também foram trabalhadas as músicas: A galinha do vizinho,
Indiozinhos, Elefante incomodativo, Cinco patinhos, Cinco macaquinhos,
com ênfase nas relações de quantidade.
Os alunos visitaram o CTG Moacir da Motta Fortes, localizado
próximo à escola, onde puderam conhecer o centro de tradições gaúchas,
a culinária, as bebidas típicas, o vestuário e especialmente as músicas
tradicionalistas.
As turmas ainda estudaram diferentes instrumentos musicais,
como o pandeiro, bateria, gaita, piano elétrico, tambor, chocalhos, reco-
reco, violão, flauta. Os alunos puderam manusear os instrumentos,
identificar seus sons e criar uma bandinha com materiais alternativos.
As músicas infantis presentes no cotidiano das crianças, dos
grupos Patati e Patatá, Trem da Alegria, Pandorga da Lua, Palavra
Cantada, bem como cantigas de roda também fizeram parte do repertório
trabalhado.
O projeto Música na Escola proporcionou uma maior interação
com as famílias, facilitou a expressão e o movimento co rporal, a
linguagem oral, a memória, a socialização e o reconhecimento e a
identificação sonora.
O projeto consolidou a ideia de que a música não pode faltar no
dia a dia das salas de aula.

186
O NENÊ

Rafaela Rocha de Quadros


Tamara Dalla Giaco massa
Mariane Oliveira Bica

As peculiaridades da vivência dos alunos contribuem para


aprendizagem dos mesmos. Partindo deste princípio, observamos nas
crianças da turma do Berçário II (dois anos), da EMEI Cantinho Feliz um
interesse muito grande pelos bebês. E, quando é dito turma, não
exageramos, pois, todos os vinte e um alunos, em algum momento,
demonstravam esse interesse.
Em nossa sala de aula há uma grande janela voltada para o
corredor da escola que fica ao alcance das crianças. Então, elas podiam
187
observar toda a movimentação da sala vizinha, que era da turma do
Berçário I (bebezinhos). Percebemos que, independente da atividade que
estivessem realizando, quando um bebê da turma vizinha chorava ou
passava pelo corredor com os pais ou com uma professora, todos eles
corriam para a janela muito exaltados. Queriam tocar o bebê, fazer- lhe
carinho, conversar e brincar com ele.
A partir destes momentos, nosso olhar ficou mais atento.
Podemos perceber então, que na maioria das brincadeiras realizadas
pelos alunos o bebê estava presente, seja com o papai, com a mamãe,
com a professora. Muitas vezes, eles mesmos, nas brincadeiras de faz-de-
conta, denominavam-se como bebês. Toda essa expressão nos levou a
crer que este era um assunto motivador, divertido, cativante, instigante
para as crianças.
Apesar das crianças estarem em momento de construção da
linguagem oral e pouco se expressarem desta forma, era gritante o que
queriam nos dizer. Então, decidimos que faríamos um projeto com o
tema: “O Nenê”, como elas mesmas diziam.
Sabíamos que este era o grande interesse das crianças, porém
desconhecíamos suas compreensões sobre o nenê. Por isto fomos à busca
de mais informações, questionando os alunos nas brincadeiras de faz-de-
conta e naqueles momentos de observação na janela. Descobrimos que os
alunos sabiam que o nenê chorava: ó, tá chorando, porém desconheciam
o motivo. Também que quando o nenê saia da sala de aula ele ia tchau,
tchau, porém, não sabiam aonde ele ia. Houve outro momento em que
uma das professoras parou em frente a janela com um bebê no colo e um
dos alunos a questionou: é teu nenê? Ainda constataram que o nenê
188
usava sapato, então poderia descer do colo e caminhar: ele tem sapato,
pode ir caminhando.
Além disso, buscamos elementos externos que pudessem
contribuir nesta jornada, como, por exemplo, informações e fotos com os
pais das crianças de quando eram bebê, busca de referências
bibliográficas tanto científicas quanto literárias referentes ao tema, busca
de diversos recursos pertinentes ao assunto bonecas, mamadeiras,
banheira, fraldas.
Após ouvir as crianças e organizar as demais informações
coletadas, começamos a traçar um percurso em busca de respostas,
afirmações, reconstruções de conceitos e, até mesmo, de no vas dúvidas
referentes ao nenê. A construção deste mapa do percurso tornou-se um
emaranhado de descobertas e conhecimentos em cada momento de
sistematização e reflexão das informações a partir das atividades
propostas.
Estas atividades foram de certa forma, planejadas com as
crianças, pois elas mesmas expressavam nas brincadeiras não só o que
gostariam de saber, mas também como gostariam de aprender. Então,
visando sempre os aspectos cognitivos, afetivos, sociais e motores,
propomos atividades extremamente lúdicas, já que as crianças
desenvolviam-se brincando.
Certo dia, a professora entrou na sala de aula com uma linda
boneca em seu colo, dramatizando como se fosse um nenê. Logo,
chamou a atenção dos alunos que queriam ver o “nenê”, fazer carinho
nele. A partir daquele momento, a professora contou às crianças que
aquele “nenê” ficaria aos cuidados da turma. Neste instante surgiu a
189
necessidade de investigar quais cuidados os bebês precisam, para isso
convidamos uma aluna da turma do Berçário I e sua professora para nos
contar como é o dia a dia da Rayla na escola. Organizamos uma roda de
conversa onde as crianças, com o auxílio das professoras perguntaram
sobre a alimentação do nenê, se ele comia ou só mamava; sobre a
linguagem, se ele falava; sobre o descanso, onde ele dormia, entre outras
curiosidades. Após a conversa combinamos que cada dia um dos alunos
levaria “o nenê” para casa, a fim de cuidá- lo.
Um dos alunos quis saber qual era o nome do nenê. Foi então que
percebemos que o nenê precisava de um nome, afinal todos temos um
nome. Aproveitando a oportunidade, trabalhamos o nome de cada
criança, enfatizando que cada uma é única. Depois disso então, cada
aluno deveria sugerir um nome para o nenê. Surgiram duas opções de
nome: Julinha e Nicoli. Cada aluno disse como gostaria que “o nenê”
fosse chamado: Julinha ou Nicoli e a maioria das crianças optou pelo
nome de Julinha. Neste mesmo dia, com a turma em círculo,
questionamos o que a Julinha precisava levar para passear na casa do
colega. Surgiram inúmeras respostas, até que um aluno falou: mochila. A
partir daí cada criança foi olhar o que havia dentro da sua mochila. E
começamos a organizar a mochila da Julinha. Foram colocadas fraldas,
mamadeira, bico, roupas, sapato, sabonete, toalha e pente.
Para que tivéssemos um acompanhamento do alcance do projeto
na casa das crianças enviamos, um questionário para que os pais
respondessem como o aluno interagiu com a boneca. No outro dia, os
próprios alunos deveriam contar aos colegas o que fizeram com a
Julinha.
190
Os pais mostraram-se dispostos e interessados em compartilhar
estes momentos de brincadeiras e aprendizagens com seus filhos.
Elogiaram o projeto e sentiram-se parte integrante deste. Uma mãe
inclusive comentou que enquanto observava a filha cuidar da boneca
identificou-se no papel da mãe.
Para que os alunos pudessem compreender melhor sua relação
com a Julinha e os cuidados que deveriam ter com ela, visitamos o
Berçário I para que observassem e questionassem as professoras, o
espaço, os bebês. Durante a visita, o toque inevitável. Queriam abraçar os
bebês, pegar seus objetos (brinquedos, berços). Após esta visita, o nenê
da turma ganhou mais vida, pois as crianças o tratavam como se
realmente fosse um nenê.
Durante a realização do projeto as crianças puderam experienciar
atividades como trocar a fralda e dar banho no nenê. Na atividade de
troca de fralda foram utilizadas fraldas, paninhos, água, pomada, luvas,
banheira, toalhas, sabonete, xampu, tudo que se pudesse aproximar da
realidade e efetivar as aprendizagens sobre os cuidados de higiene para
com o nenê.
Durante a realização da atividade “o banho do nenê”, foi visível o
interesse e entusiasmo dos alunos que, organizados em círculo, em torno
de uma banheira com água morna foram conversando sobre como
tomavam banho em casa, quem lhes dava banho e o que era utilizado. Em
seguida os alunos deram banho na Julinha com a participação de todos
até o nenê estar bem limpinho.
Outra atividade que desencadeou muitas aprendizagens,
principalmente afetivas e sociais, foi a construção da casinha do nenê.
191
Previamente havíamos conversado com os alunos sobre sua casa e sua
família, quem lhe dava banho, quem fazia comida, com quem ele
brincava e a partir de então montamos a casa do nenê. Tinha o local onde
ele dormia, comia, brincava, tomava banho, trocava a fralda. Nesta casa
estavam presentes, o papai, a mamãe, o maninho. Tudo de acordo com as
próprias indicações dos alunos.
Os alunos continuaram os cuidados fazendo o “papá do nenê”:
uma gelatina que todos saborearam. Para isso os alunos foram
organizados na mesa e questionados sobre o que os bebês comem,
relembrando a visita ao berçário I. Nesta atividade exploramos os
sentidos como olfato e paladar, cores e temperatura. Após levamos o
nenê para passear na pracinha, de carrinho, pois era “nenezinho e ainda
não sabia caminhar”. Enfim, foram diversas atividades em que o foco
principal era o nenê Julinha.
Outras atividades auxiliaram as crianças a compreender melhor os
nenês, como por exemplo, o quebra-cabeça do corpo do nenê. Nessa
brincadeira foi possível identificar e nomear partes do corpo fazendo uma
relação com o corpo do nenê e do próprio corpo.
A apresentação das fotos de cada aluno, de quando era bebê, para
a turma, ajudou a se perceberem como criança em desenvolvimento. Foi
confeccionado um mural com o título: “Quando Eu Era Nenê Eu Era
Assim”, no mural foi montado um painel com fotos deles bebês e suas
mãos carimbadas.
Com a contação da história “Cadê Clarice?” foi possível
identificar alguns comportamentos comuns de um bebê, também foram
trabalhadas noções de posição e localização. Depois, os alunos receberam
192
livros e revistas para procurarem bebês e identificarem o que estes
estavam fazendo. Em seguida com o auxílio da professora essas imagens
foram coladas em um painel com o letreiro “CADÊ O NENÊ”.
Este projeto teve, aproximadamente, três meses de duração e
todos os momentos de aprendizagem foram filmados e fotografados para
que ficassem, de certa forma, documentados. Por fim, organizamos todo
o material produzido pelas crianças durante o projeto e realizamos uma
exposição de trabalhos, fotos e vídeos para toda a comunidade escolar, na
qual os alunos pudessem compartilhar tudo que aprenderam com os
demais alunos, pais e professores.
A cada momento vivenciado, os alunos puderam construir e
reconstruir conhecimentos, confirmando ou não o que já sabiam,
esclarecendo o que questionavam, descobrindo o desconhecido,
deparando-se com novas dúvidas. Enfim, o projeto “O nenê” foi ao
encontro das inquietações dos alunos e, a partir do lúdico, da imaginação
e da brincadeira, as crianças puderam encontrar-se, e, ao mesmo tempo,
perder-se em um mundo encantado onde aprendizado é sinônimo de
alegria, felicidade e muita diversão.

193
PRÔ, TEM UM SAPO NA TUA MOCHILA?

Kelly Sartori Sebben


Maria das Dores Bo rba Mareth

O tema do presente projeto surgiu de uma pergunta realizada


pelos alunos do maternal II, da EMEI O Mundo da Criança: “Prô, tem
um sapo na tua mochila?”
Tudo aconteceu quando certa manhã, durante uma roda de
conversa com as crianças, ouviu- se um toque de celular que estava dentro
da mochila da professora. O toque lembrava o coaxar de um sapo. Os
alunos intrigados fizeram a pergunta. A professora aproveitou então, a

194
oportunidade e fez algumas indagações, buscando uma maior reflexão
dos alunos: O sapo pode morar em uma mochila?. Porém, eles insistiam
que havia um barulho de sapo ali.
Propusemos que procurassem o animalzinho pela sala. E as
crianças passaram a olhar por todos os espaços da mesma, inclusive no
banheiro, no ralo do banheiro, nos armários. Como não encontraram nada
e o barulho cessou, voltaram para roda de conversa e a professora passou
a questioná- los sobre o habitat dos sapos.
Boa parte das crianças já conhecia o animal e falaram que ele
morava na rua, na grama e embaixo de suas casas. Também disseram que
era muito feio e que não dava pra chegar perto dele, pois era muito
perigoso. Durante a conversa surgiram mais perguntas em relação ao
anfíbio, sua alimentação e suas características.
A partir dessas primeiras considerações dos alunos a professora
iniciou a organização do mapeamento dos percursos. Selecionou livros
de literatura da escola, filme cujo personagem fosse um sapo. Na
internet, selecionou gravuras e pequenos textos com maiores
esclarecimentos sobre o tema.
Num primeiro momento as crianças pediram ajuda aos pais para a
realização de uma pesquisa sobre o assunto. Eles toparam e ficaram
envaidecidos com o “tema de casa”. O questionário fora elaborado pela
professora após ouvir as crianças. Constava das seguintes perguntas: No
pátio, ao redor de suas casas tem sapo? Onde o sapo fica? Como é o lugar
que ele fica? Você sabe o que ele come? O sapo é um bichinho bom ou
mau?

195
As questões foram enviadas aos pais juntamente com um texto
explicativo orientando-os para que respondessem por escrito e para que
falassem com seus filhos sobre suas respostas. Isso ajudaria as crianças a
poderem contar para os colegas o que haviam pesquisado com seus pais.
Também selecionaram gravuras de sapo e enviaram para a escola. Essas
gravuras, depois de observadas foram coladas em um painel.
Em aula foi lido o livro “O Sapo Curioso” e as crianças ficaram
maravilhadas com o texto e com as gravuras. Em seguida todos puderam
comparar as informações da história com as informações que já
detinham. Por fim as crianças registraram a história através de desenho e
explicaram suas produções aos colegas. Os trabalhos foram expostos na
parede da sala de aula.
Em todas as aulas era organizada a memória do trabalho até então
realizado. Num desses momentos surge a questão de quem seria o sapo
mãe, o sapo pai e os filhinhos. Para esclarecer esta pergunta foram usadas
figuras que demonstravam todas as etapas da evolução do animal.
Algumas crianças comentavam que os girinos pareciam com pequenos
peixinhos, já que vivem na água.
Para que o sapo ficasse mais concreto foi confeccionado, junto
com as crianças, uma dobradura do bicho. O sapo foi colorido por cada
um. A dobradura tinha articulações que permitiam que o sapinho pulasse
e as crianças partiram para a brincadeira.
A música “O sapo cururu” era cantada pelas crianças nas
atividades no pátio, fazendo imitações, dançando de acordo com a letra
da canção.

196
Foi assistido o filme “A Princesa e o Sapo”, que conta a história
de uma menina que vive diversas aventuras no corpo de uma sapinha,
juntamente com um príncipe, um crocodilo e um vagalume.
As crianças puderam ver o sapo de perto, quando um exemplar foi
levado para a escola, dentro de uma caixa plástica transparente. Os
alunos colocaram folhas e água dentro da caixa, demonstrando
preocupação com a alimentação e sobrevivência do bichinho. Com o
sapo presente retomou-se a conversa a respeito da pergunta inicial, o
sapo poderia estar dentro da mochila?
As respostas do questionário foram lidas com as crianças e
compuseram um cartaz que demonstra quem tinha sapo ou não no pátio
de casa. Depois realizaram a análise do cartaz verificando qual tinha mais
e qual tinha menos respostas.
Para finalizar as atividades a turma expôs suas produções,
juntamente com o sapo, para que as demais turmas pudessem visitar.

197
PANO MOLHADO
Elenice O. Menezes
Ivone Apostolo de Oliveira
Mariluse F. F. Hahn
Maria Paula Dall’Agnol Sonaglio

As professoras do berçário da EMEI Nossa Senhora das Graças,


que atendem as crianças entre 6 meses e 1ano e 8 meses de idade,
desenvolveram o projeto “Pano Molhado” considerando o interesse
dessas crianças por panos molhados. Observou-se que sempre que uma
professora deixasse um pano sobre a mesa, ou em qualquer outro lugar,
imediatamente uma criança pegava e buscava uma forma de molhá- lo
para brincar com aquele pano.

198
O entusiasmo com os panos era geral, e nada que estive à mão
fugia da limpeza: era cadeira, mesa, cama, chão, parede, pé, mão, boca.
Até os menores disputavam o pano para chupar. Neste contexto a ideia de
transformar o tema em projeto de trabalho pareceu às professoras
bastante pertinente.
Procurando saber se em casa também as crianças buscavam panos
para brincar, as professoras indagaram a família e houve relatos dos pais
que o interesse pelo pano molhado existe em casa também, inclusive
ajudando o pai a lavar o carro. As mães contaram que as crianças
gostavam de passar pano molhado nos móveis e objetos e também de
chupar o pano molhado. Motivo pelo qual cuidavam para não deixar
roupas ou panos de molho em baldes porque elas pegavam e queriam
chupar.
Convidadas a participar do projeto as famílias colaboraram
levando para a escola retalhos de tecidos de diferentes texturas e cores.
Com este material, adultos e crianças construíram fantoches, almofadas,
tapetes, cartazes.
Em uma das atividades foi proporcionado às crianças que
rabiscassem com giz em madeira, calçadas, tijolos, pisos e paredes, o que
seria um bom motivo para usar o pano molhado na limpeza. Na hora de
usar o giz algumas ficavam inseguras e até um pouco constrangidas, pois
lhe provocava arrepios, repulsa e nojo, enquanto outras manifestaram
prazer e alegria. Mas a procura pelo pano molhado para “apagar” os
rabiscos era ainda a maior satisfação.
As professoras puderam observar que quanto mais
proporcionavam materiais e situações de uso diferentes, mais
199
empolgados os pequenos ficavam. O pano foi usado de escorregador - as
crianças sentavam em cima e as prôs as puxavam; para embalar as
bonecas – cada criança pegava o pano de um lado e colocavam a boneca
em cima, elas perceberam que se embalassem muito forte a boneca caía,
o que foi motivo de muitas risadas; as professoras enrolaram o pano de
forma a transformá- lo em um bebê, uma grande atração, porém
acabavam por desmontá-las ao usá- las para esfregar o chão.
Durante o desenvolvimento do projeto foi possível que as
professoras envolvidas fizessem o registro do entendimento de cada
criança, na maneira como observavam os objetos, seus gestos e
expressões faciais e corporais.
Finalizando o projeto as famílias e a comunidade escolar puderam
apreciar seu resultado através de uma exposição dos trabalhos realizados,
documentados através de fotos e painéis.

200
RECICLAGEM
Janaína de Castro Nunes
Márcia Pernoncini Lago
Marilene de F. S. da S. Ferreira

Reciclar é um termo que vem sendo tratado com bastante


seriedade por muitos grupos que atuam na defesa do meio ambiente. No
entanto, para alguns, a reciclagem é vista apenas como mais um
modismo; sem haver o pleno entendimento da profunda dimensão que o
tema abrange. Mesmo não sendo por causa ecológica, mas nem por isso
menos nobre, muitas pessoas vivem da reciclagem e dela retiram o
essencial para o sustento de suas famílias. Neste contexto está inserida a
comunidade da Escola Municipal de Educação Infantil Padre Zezinho,
onde estão situados alguns locais de coleta, separação e venda de
materiais reciclados.
As crianças participam ativamente deste processo juntamente com
sua família, o que é demonstrado, para além de seus relatos, através dos
brinquedos, das roupas e de outros objetos, que são extraídos da
reciclagem. E foi valorizando suas falas e questionamentos que teve
início o projeto Reciclagem.
Por que a mãe do colega recolhe lixo na carrocinha? Lá em casa
a gente guarda as latinhas prá vender. O que é feito com este lixo depois
de recolher? Prô, quando eu crescer quero trabalhar no Giro
(Reciclagem do bairro). Meu pai traz fruta suja do lixo mais aí ele lava e
elas ficam bem boas. “Quanto a gente ganha prá cata lixo?
Toda a escola esteve engajada na execução deste projeto, os
alunos envolveram-se entusiasticamente tanto na execução das atividades

201
propostas, quanto na divulgação na comunidade e junto à família, esta
última não mediu esforços para providenciar todos os materiais
solicitados, mesmo isto representando uma diminuição dos próprios
rendimentos advindos da venda dos recicláveis.
Durante todo o processo, foram feitas “verdadeiras mágicas”:
transformando o que era tido como feio e desprezível em algo belo e útil,
feito pelas próprias mãos infantis. Foi construída uma infinidade de
objetos com uso de material alternativo, tudo de maneira contextualizada
e estimulante à curiosidade e criatividade infantil. Uma profusão de
coloridas flores de PET, charmosos alimentadores de pássaros com caixa
de leite, tartaruguinhas transparentes de fundos de garrafa, aquários,
delicados móbiles com rolinhos de papel higiênico, velozes carrinhos de
caixa de papelão, cavalinhos de pau, bilboquês, pinheirinhos, presépios e
festivas guirlandas de PET. Tudo devidamente registrado através de fotos
e vídeos.
Foi no processo de produção destes diferentes objetos que se
centrou o verdadeiro significado do projeto e não somente no produto
final. As atividades exigiam uma organização das crianças o que
proporcionava serem trabalhados importantes conceitos, como:
responsabilidade, cooperação, respeito, tolerância, autoestima individual
e do grupo. Assim, as atividades se constituíram como elementos para
alcançar um ideal maior: uma convivência melhor e mais saudável entre
as crianças.
A família não ficou de fora deste processo e a elas foi oferecida a
possibilidade de participar de uma oficina de artesanato com os
educandos e educadoras da APAE/Passo Fundo, onde foram apresentadas
202
técnicas de confecção de papel reciclado, pintura e decoupagem em latas.
As mães e avós participantes ficaram encantadas com o que aprenderam
no curso. Perceberam o quanto é possível utilizar materiais alternativos e
transformá- los em objetos decorativos, úteis e rentáveis. Sendo que
muitas delas passaram a utilizar a aprendizagem também como mais um
complemento na fonte de renda para a família.
Através deste trabalho, muito mais do que confeccionar objetos,
foi aprendido que todos têm algo a ensinar e sempre existe algo a
aprender. Não importa qual seja a limitação ou as dificuldades
encontradas, o ser humano pode oferecer muito mais do que se espera
desde que lhes sejam oportunizadas as devidas condições. É preciso uma
constante ação conscientizadora que valorize adequadamente o processo
de reciclagem e prime pela redução do lixo, tornando cotidiana a coleta
seletiva, desenvolvendo atitudes de preservação do meio ambiente e
consequentemente da vida.

203
POLENTA

Elisete Chaves da Silva Valente

O Projeto “Polenta” ocorreu na Escola Municipal de Educação


Infantil Tio Patinhas, na turma do Maternal I, turno da manhã onde são
atendidas onze crianças com idades de dois e três anos.
Envolvemo-nos na construção deste trabalho com as crianças,
observando e ouvindo nossos alunos, buscando informações, materiais e
auxiliando as crianças nas atividades. Algo difícil, durante o projeto, foi
promover a participação das famílias, mas procuramos mantê- los

204
informados sobre o que estava acontecendo na escola, assim como,
buscar a sua ajuda.
Há algum tempo, já havíamos observado o gosto das crianças pelo
alimento em questão: a polenta. Nas refeições em que é proporcionado
este prato é possível ouvir comentários como: Polenta! Quero polenta!
Além de vê-los comendo tudo e com satisfação, este fato foi
chamando nossa atenção, até que, a pequena Yasmin começou a
comentar com regularidade: Minha vó faz polenta! A polenta da minha
vó! Ou ainda: Vou pra casa comer polenta!
Assim, surgindo a oportunidade, a diretora da escola, professora
Lídia, conversou com a avó da menina, que relatou o gosto da Yasmim
pelo alimento e por acompanhar o preparo, até atrapalhando o trabalho na
cozinha, pois aos sábados ela almoçava na casa da avó, e o cardápio era
sempre polenta. Então, resolvemos explorar este interesse com a turma.
Procuramos saber o que eles, embora pequenos, sabiam e gostariam de
saber sobre o prato. Consideramos a idade e características da turma, o
desenvolvimento da fala, o que mais se torna atrativo nesta etapa da vida.
Na roda da conversa, então, após a fala de Yasmim sobre a polenta de
sua avó, o que mais os colegas expressaram relacionou-se à forma de
saborear: polenta frita, polenta com carne, ou ainda a afirmação: Eu
como polenta!
Desta maneira, nós professoras envolvidas com a realização do
projeto polenta, nos reunimos para criar uma rede, redirecionando e
orientando como poderíamos trabalhar as atividades com as crianças que
ampliasse seus conhecimentos.

205
Enviamos uma carta aos pais relatando o que estávamos fazendo e
para que serviriam as informações do questionário que estava em anexo.
Solicitamos também, a contribuição dos pais enviando para a escola
embalagens de farinha de milho. As questões que enviamos para os pais,
foram: quem cozinhava na casa da criança, se costumavam fazer e comer
polenta, de onde vinha a receita e como a família gostava de saborear
este prato. As respostas dos pais aos questionamentos foram muito
interessantes, e contribuíram de forma significativa para a elaboração das
receitas que mais agradariam às crianças, embora nem todos os
questionários tenham voltado preenchidos. Analisando os escritos dos
pais e responsáveis, é admirável a participação das avós no preparo dos
alimentos das famílias. É unanime também, o fato de ser uma receita que
passa de geração para geração, sempre aprendida com a mãe ou a sogra.
Constatamos que é um alimento que permite às crianças
desenvolverem seu paladar, pois é saboreada de diferentes formas nas
famílias: com ossinho de porco; com caldo de feijão; mais mole ou mais
dura; frita; com molho de frango ou carne bovina moída e até mesmo
com leite. E nenhuma das famílias disse que não consumia esta comida,
todos disseram que comer polenta faz parte do cotidiano de suas casas.
Também vieram muitas embalagens de farinha de milho para a escola.
Iniciamos o trabalho com as crianças levando para nossa roda de
conversa dois pacotes de farinha de milho: um pré-cozido e outro de
farinha grossa. Eles demonstraram interesse, seguraram e observaram as
embalagens. Questionamos para que servia e uma criança falou: Polenta!
A seguir, proporcionamos o contato direto com a farinha: sentiram o
cheiro, olharam e puderam comparar a cor da farinha com a cor da
206
polenta pronta, relacionando ainda a cor amarela a outros objetos como
roupas e brinquedos da sala. Também tocaram a farinha, conhecendo
desta maneira texturas. Provaram o sabor, alguns com um pouco de
receio. Enfim, puderam estimular os sentidos de forma prática e
construtiva.
A proposta seguinte foi utilizar farinha para criar. Cada criança
ganhou um tubo de cola e a usou como lápis sobre o papel, registrando a
sua maneira a atividade anterior. Em seguida, coloriram o desenho com
farinha de milho, o resultado ficou muito interessante e provocou
admiração nas crianças. Perguntamos quem havia provado milho, todos
demonstraram conhecer, alguns disseram que era bom, repetiam a
palavra milho. Por isso, procuramos trazer para a escola espigas de milho
e grãos. Por ser mais acessível e prático, trouxemos primeiramente milho
em conserva para a escola. Como sempre, as crianças manifestaram
grande curiosidade, todos queriam ver, cheirar e provar. Alguns já
disseram: milho!
Inicialmente cada um sentiu o cheiro do milho, que em conserva
costuma ter um odor mais intenso para, em seguida degustarem os grãos
de milho, alguns não queriam, mas logo todos provaram e, sentiram o
sabor, pediam mais, sorriam.
Logo, o milho foi relacionado à pipoca, que também vem de um
tipo de milho. Em nossa rodinha de conversa, tro uxemos o pacote de
pipoca. Ficaram muito alegres. Comparamos a cor da pipoca à cor
amarela da farinha, dos grãos de milho e da própria polenta. Após,
acompanharam a professora no preparo e degustaram a pipoca: o que eles
gostam muito e não recusam. Também se considerou importante
207
conhecer quais animais utilizam o milho como alimento. Contamos as
histórias “O sanduíche da Maricota” e “Orelhas e olhinhos, caudas e
focinhos na fazenda”. As crianças imitaram os animais, procurando a cor
amarela e cantamos a música “Meu pintinho amarelinho”. Para brincar
com eles, confeccionamos, com material alternativo, galinhas com
potinhos de iogurte que fazem barulho. Para melhor explorar o tema e
satisfazer o desejo das crianças em ver a polenta de verdade pensamos
em oportunizar manuseio com o alimento, mas por se tratar de alimento
que seria ingerido pelas crianças certamente, decidimos nesta fase usar a
imaginação com massa de modelar amarela para que eles pudessem
manusear e criar como se fosse polenta. Foi divertido, a criança tem
facilidade em simbolizar. Percebemos, logo depois desta atividade, que já
era hora de prepararmos nossa própria polenta, descobrindo como a
farinha seca se transformaria em um saboroso alimento.
Nesta fase do projeto, a turma reuniu-se no refeitório, ao redor da
mesa, onde observaram os ingredientes e utensílios: bacia, panela, colher,
água, sal, farinha de milho (Pré-cozida). Eles repetiam as palavras que
ouviam muito concentrados. A professora conduziu o preparo: as
crianças despejavam organizadamente os ingredientes e logo outro
colega misturava. Em seguida, outra professora levou ao fogo para
cozinhar e voltamos para a sala. Enquanto o alimento cozinhava,
conversamos com as crianças sobre a origem deste cardápio: a Itália,
neste momento uma das professoras mostrou figuras do país e dos trajes
típicos italianos. Começamos, nesta hora, a confecção de panos de TNT
verde e vermelho nossas roupas típicas italianas. As crianças puderam

208
observar as cores e vestir aventais e lenços para a cabeça, ficaram
animados e queriam tirar muitas fotos.
Dirigimo-nos ao refeitório novamente e, lá observamos a polenta
pronta e como poderia ser servida. As crianças provaram a polenta em
pequenos pedaços, esfriando ainda. Todos comeram e alguns pediram
para repetir. Com o pedaço que sobrou, acatamos uma das sugestões dos
alunos na variação “polenta frita” só que acrescentamos o queijo,
deixamos para comer no almoço, as crianças aprovaram o sabor e
comeram muito bem o alimento nutritivo, que os deixaria fortes,
ajudando-os a crescer. Resolvemos registrar este momento pintando com
tinta no papel pardo, todos usaram, ao menos um pouco, a cor amarela.
Constatamos a participação dos pais, que mandaram
continuamente muitas embalagens de farinha de milho. Em um papel
pardo, cada criança colou uma embalagem, formando um cartaz.
Permitimos a observação no chão, e para eles tão pequenos, tornou-se
interessante observar as figuras contidas nos pacotes: milho, pratos de
polenta, cozinheiras. Procuramos então, pesquisar mais sobre os
benefícios da polenta para o organismo e um pouco de sua história.
Na pesquisa descobrimos que a polenta nasceu como um prato de
pobre, era quase um pão, uma base do dia a dia. Na tradição antiga, era
mais consistente, cortada com um fio de linha e comida pura, ou ainda
com carne ou ovo. A polenta, nome de origem latina, de “póllen”, que
significa flor de farinha, é um alimento muito antigo, anterior ao
surgimento do pão. Conhecida na época do império Romano, não com
farinha de milho, como hoje a preparamos, mas sim com grãos
esmigalhados de fava ou farro, cereal semelhante ao trigo, porém de
209
consistência bem mais dura. Já os cartagineses a temperavam com mel,
ovos e queijos. Também, a polenta é um alimento rico em carboidratos
obtidos do milho.
Assim, julgamos que seria uma boa forma de divulgar o trabalho
feito, montando um informativo sobre a polenta, identificando a origem,
reproduzindo uma receita simples e seus benefícios para a saúde,
conforme descobrimos em nossa pesquisa. Produzimos o material e cada
criança levou para casa. Finalmente, conseguimos sementes de milho e
espigas. As crianças puderam desta forma, observar a espiga e os grãos.
Conversamos com eles sobre a sequência, onde se planta o milho, nasce
uma planta, após a espiga de onde se retiram os grãos, que serão
transformados em farinha e preparada, enfim a polenta. E ainda,
plantamos os grãos de milho no pátio da escola, com a participação das
crianças. Juntos plantamos um sonho, de quando nascerem os pés de
milho, com suas espigas e grãos, podermos transformá- los em uma
deliciosa polenta, por que não? O Projeto Polenta pode não ter esgotado
todas as possibilidades de conhecimento possíveis, mas respondeu o
desejo de saborear uma deliciosa polenta acompanhada de queijo com
gosto de avó.

210
O ARCO-ÍRIS DO CARACOL

Janaína de Castro Nunes


Márcia Pernoncini Lago
Marilene de F. S. da S. Ferreira

O Projeto Arco-Íris do Caracol surgiu em uma manhã de so l


quando a turma da Pré-Escola II estava tomando o café da manhã no
211
refeitório da EMEI Padre Zezinho. Havíamos enfrentado uma semana
inteira de muita chuva e dias sombrios. Finalmente o sol estava radiante e
as crianças felizes, saboreando o seu desjejum.
De repente, um dos meninos olha para a janela iluminada pelos
raios dourados e diz entusiasticamente: Olha o arco-íris do caracol!!!
Todos se voltaram assustados para a janela e o que se vê? Um
pequenino caracol com sua casinha nas costas passeando pela vidraça e
deixando seu rastro. Devido aos reflexos solares, o visgo adquire um
brilho furta-cor realmente parecido com um pequeno arco- íris. Conclusão
coletiva infantil: O caracol é um pintor de arco-íris e tem um arco-íris só
dele!
Retornando para a sala o debate continuou e muitas outras ideias
surgiram. Muitos afirmando que o caracol de fato era quem pintava o
arco-íris. Cada um fazia o seu comentário... O assunto estava gerando
polêmica e abrindo espaço para novos questionamentos e hipóteses. Era
realmente preciso estudar o assunto de forma científica a fim de
desmistificar algumas ideias fantasiosas, sem ofuscar o brilho e as cores
da imaginação infantil. Foram feitas algumas intervenções questionando
as crianças e a maioria demonstrou a convicção de que o caracol tinha
um arco- íris. Somente um aluno tinha a clara noção de que o caracol
deixa um visgo por onde passa. E que este visgo não é arco- íris!
No outro dia apareceu um caracol na cozinha e a turma recebeu-o
de braços abertos, com uma alegria incomum em se tratando de um
bichinho tão polêmico. Foi realizada uma eleição na sala para esco lher
um nome para o novo amiguinho. O nome vencedor foi MELEQUINHO.
Todos aplaudiram e apreciaram. Este passou a residir em um pote de
212
margarina adaptado e recheado de plantinhas trazidas pelos alunos para
que ele não passasse fome. Ah! E água, também, claro!
Quando a turma da Pré-Escola I chegou no turno da tarde, já
percebeu que alguém diferente estava na sala. Foi uma explosão de
perguntas, possibilidades e experiências com caracol relatadas em
linguagem infantil. Enquanto isto, o caracol pintava o arco- íris por toda a
borda do pote, comprovando as suposições das crianças... Parecia até
feliz!
Foram passear e levaram o novo amigo junto. Observaram o
local, conversaram, mas não quiseram deixar o caracol na natureza. Ele
retornou junto e faceiro para passar a noite... Os alunos demonstraram
profunda preocupação a fim de que nada faltasse para o amiguinho,
reivindicações atendidas pela professora.
Surgiu então o DIÁRIO DE BORDO DO CARACOL, fora m
sendo anotadas todas as observações cotidianas a respeito do
Melequinho.
Só que um dia, ele desapareceu... Motivo de tristeza? Nem
pensar! Na visão dos alunos, ele deve estar pintando o arco- íris pelo
mundo afora...
Logo surgiu outro caracol, na cortina do Berçário e os pequenos
olharam curiosos para o bichinho. Mais uma turma envolvida no projeto!
A professora trouxe-o para a sala da Pré-Escola II e as pesquisas
continuaram. Os alunos queriam levar o caracol para suas casas; como
não seria viável, foi confeccionado um de feltro, bem colorido, para
visitação e pernoite nas casas dos alunos com relato posterior da visita

213
em uma agenda e possibilidade de agregação de detalhes
personalizadores, podendo-se citar botões, lacinhos e outros.
Foram realizadas várias atividades relacionadas ao tema: pesquisa
in loco e em diversos livros com coleta de imagens e fotos, utilização de
vídeos de documentários e entrevistas aos pais sobre o comportamento
familiar quando ocorre a presença destes animais. Aos poucos, foram
sendo observadas e definidas as características específicas dos caracóis e
lesmas: habitat, alimentação, locomoção, reprodução, partes do corpo,
venenosos ou não, cadeia alimentar, tipos de moradias de animais e
humanas, solubilidade. A mesa das descobertas provocou uma
diversidade de experiências, na qual foram colocados diversos elementos
e testada a sua solubilidade; a exposição de compridinhos, modelados em
argila e massa de modelar, também despertou grande interesse e
criatividade, bem como as degustações do buffet sensório-visual. Outro
ponto alto, com ativa participação, foi o Jardinzinho Gastronômico do
Caracol onde os alunos trouxeram e plantaram mudinhas de flores e
folhagens para observação das preferências alimentares do referido
bichinho.
Após toda esta pesquisa, nada foi encontrado que relacionasse o
caracol ao arco- íris. Ato contínuo passou-se ao estudo do arco- íris,
através de atividade com tintas; culminando com a semana arco- íris na
escola, efetivando a exploração sensorial das cores pertinentes. O
envolvimento dos pais e alunos foi bastante acentuado, sendo que as
mães até coletavam caracóis e lesmas em frascos adequados,
alimentando-os e até dando “banho” antes de encaminhar para
observação. Foram parceiras de fato, coadjuvantes ativas no processo de
214
orientar ações infantis, explicar, observar e respo nder muitas, mas muitas
perguntas, mesmo!
As atividades e pesquisas que foram feitas e o material produzido
foi organizado em um lindo portfólio em scrapbook.
Este foi um projeto bastante inusitado devido ao preconceito e m
relação ao bichinho ser pegajoso, mas com um alto nível de criatividade e
fantasia, onde se percebeu que o imaginário infantil é livre de ideias
preconcebidas e lindamente colorido. Um universo onde todos têm o seu
espaço e os direitos básicos de cada um são respeitados; onde até mesmo
os caracóis têm a oportunidade de serem PINTORES DO ARCO-ÍRIS.

215
PRETINHA, A CACHORRINHA

Maria Paula Dall’Agnol Sonaglio

O Projeto "Pretinha, a cachorrinha" surgiu através da fala das


crianças e da presença constante da cachorrinha na escola.
Prô!!! Lá vem a cachorrinha... A cachorrinha foi me buscar lá na
rua... A cachorrinha tá me esperando...
Por ser uma cachorrinha de rua, estava solta e acompanhava as
crianças o tempo todo, criando um vínculo afetivo, as crianças passaram
a ter muito carinho pela Pretinha.
Com o objetivo de descobrir de onde veio, de quem era, como
cuidar e não abandonar, começamos nosso trabalho. Precisávamos antes
de tudo, escolher um nome para a cachorrinha, após várias opções e
montagem de um gráfico, a maioria optou pelo nome Pretinha.
Profissionais foram convidados para falar sobre os cuidados e
carinho para com os animais, focando-se mais na figura do cachorro. A
veterinária passou um vídeo, mostrando e conversando sobre como
devemos cuidar da cachorrinha, alimentação, vacinas, higiene. Um
representante do CAPA (Clube dos Amigos e Protetores dos Animais)
conversou com as crianças, informando o quanto é importante ter um
animalzinho presente em sua vida, do carinho que deve-se dar a ele para
sempre. Falou também do abandono e que tem muitos animais
abandonados pelas ruas. De olhar atento e curioso, as crianças prestaram
atenção e participaram com perguntas e comentários pertinentes ao
assunto.
Promovemos uma campanha junto com as famílias, para
216
conseguirmos roupas, comida e também para a adoção da Pretinha. Uma
família adotou nossa Pretinha, mas para surpresa de todos, ela voltou,
estava tão acostumada ao convívio com as crianças que não se adaptou.
Muitas foram as aprendizagens construídas no decorrer do
projeto. O que mais se destacou foi o respeito e o cuidado com os
animais e, com certeza, marcou a vida das crianças.
A escola envolveu-se com a exposição dos materiais construídos
de forma que os pais e a comunidade pudessem ter acesso a esse
conhecimento.
Hoje, a Pretinha ainda faz parte da escola, não mais sozinha, mas
com sua família. A Pretinha "casou" com o cachorro "Chorinho" e
tiveram cinco filhotes, dois foram doados, ficando Zeus, Lulu e Karisca,
formando sua família, e a alegria de seus novos cuidadores.
Cada visita da Pretinha e sua família à escola é motivo de muita
alegria e carinho por parte das crianças.

217
AU, AU
Patricia Barros Fauth

O Projeto “Au, Au” foi desenvolvido na Escola Municipal de


Educação Infantil Sonho Encantado com a Turma do Berçário, a partir do
dia 20 de junho e teve duração de 15 dias.
O Projeto foi desenvolvido baseado na curiosidade das crianças.
Havia um grupo de alunos que já se encontrava na sala, quando o
aluninho Gabriel começou a gritar au au e todas as crianças que se
encontravam na sala correram para a janela gritando: au au. Foi aí que
avistei um cachorro preto, grande, de pé em frente à janela do berçário.
Aproveitei para filmá- los, pois assim, teria as falas e imagens das
crianças, ao mesmo tempo observando o visitante. As crianças

218
encontravam-se num entusiasmo só, gritando au au, o au au tá lá, ele tá
aqui, gande entre outras.
O cachorro ficou em duas patas, colocando a cara na nossa janela,
as crianças estavam comendo bolacha e começaram a jogá-las para o
cachorro. Acomodei as crianças de forma que pudessem ver melhor o
animal, pois elas mal alcançavam a janela. Tendo melhor acesso à janela,
o Gabriel conseguiu atirar a sua bolacha para o cachorro, que não saía
mais dali. As crianças continuaram observando o cachorro, exc itadas por
um bom tempo, mais precisamente enquanto havia bolachas. Com o fim
das bolachas o cão afastou-se e perguntei às crianças: aonde o au au vai?
E o Gabriel batia no vidro para tentar fazer com que o cachorro voltasse e
dizia: tá lá o au au. E então eu falo: o au au tá indo embora, foi sentar lá
na graminha e logo em seguida o cachorro foi embora.
A partir do interesse e curiosidade das crianças pensamos que
seria importante desenvolver um projeto sobre o cachorro, que
denominamos “AU, AU”. Optamos por trabalhar a questão do ser vivo: o
cachorro, suas necessidades e cuidados.
Começamos trabalhando então, as características do cachorro
como tamanho, pelagem do cachorro, que o cachorro tem suas
características próprias: orelhas, focinho, boca, quatro patas e faz au au.
Numa rodinha mostramos para as crianças revistas com cães,
comentamos com eles os aspectos citados anteriormente.
Através da Revista Cães Amigos descobrimos que as raças mais
indicadas para as crianças são: Pug, Beagle e Boxer e assim trab alhamos
também suas características. As crianças puderam manusear a revista e
fazer comparações. O Boxer chamou a atenção pelo seu tamanho, uma
219
criança falou é gande e outra é babo. Fizemos então, um trabalho de
colagem de imagens de cachorros de vários tamanhos, grandes e
pequenos, peludos ou não.
Confeccionamos um cachorro, isto é, a cara de um cachorro onde
as crianças podiam tirar o focinho e as orelhas porque eram presas com
velcro, para que observassem com mais clareza as suas partes. As
crianças reuniam-se em torno deste brinquedo e montavam suas
respectivas partes.
Resolvemos pedir a participação da família, para saber se as
crianças do berçário tinham contato com cachorros e como se
comportavam diante deles. Para isso enviamos um questionário e
solicitamos fotos a quem tivesse e pudesse nos emprestar. As fotos
serviram pra montar um painel.
Foram trabalhados vários livros de literatura infantil: A pulguinha
Daninha, Filé o Cachorro e o Cachorro Peralta. As crianças tocavam e
folheavam suas páginas acompanhando a historinha contada. Para
registrar a atividade, as crianças pintaram, em papel pardo com tinta a
dedo, a historinha contada.
Conversamos sobre o cão, que ele precisa comer, precisa de
higiene, que ele também fica dodói. A partir daí, construímos um cartaz
com diversas imagens de cachorros, um cachorro tomando banho, um
tomando remédio, outro comendo. Depois de coladas as imagens, o
cartaz foi pintado com giz de cera pelas crianças.
Para os bebês, confeccionamos móbiles de cachorro, com
colheres amarradas na ponta. Eles foram pendurados em vários pontos da
sala, onde as crianças tinham acesso. Os bebês mordiam as colheres e
220
balançavam os móbiles fazendo com que o cachorro balançasse junto.
Foi o maior sucesso entre as crianças e os bebês, pois os maiores
balançavam os móbiles sem parar e os bebês eram colocados no carrinho
logo abaixo dos móbiles e se acalmavam instantaneamente.
Para fazer o fechamento do Projeto Au, Au não poderia faltar a
presença do cachorro em carne e osso, como se diz. Levei o meu
cachorrinho para a sala de aula. Eles passaram a mão, abraçaram,
beijaram, puderam dar ração e água também. Levamos a Loli, como é
chamada, ao solário onde as crianças puderam interagir com ela, sempre
com a supervisão da professora.
O Projeto Au, Au foi muito legal e deu oportunidade às crianças
de conhecerem as necessidades, cuidados e diferenças entre os cachorros.
Para comunicar o Projeto da turma, a pré-escola veio até a sala do
berçário para ver o trabalho desenvolvido, através de fotos e das
atividades que se encontravam presentes na sala, como os móbiles, o
cachorro desmontável, os cartazes e os painéis.

221
FEIJÃO
Juliane C. Treméa
Franciele Garcia dos Santos

O Projeto “Feijão” foi realizado na escola Municipal de Educação


Infantil Tio Patinhas, na turma Maternal I. A escola está localizada na
Vila Jardim. Teve a duração de dois meses
Há algum tempo, já havíamos observado a curiosidade dos
colegas pelo fato da colega Nicole não gostar de feijão. Nas refeições em
que é proporcionado este prato, é comum ouvir comentário como: Come
Nicole, é bom, Come prá ficar forte. Além de vê- los comendo tudo com
satisfação e incentivando a colega a fazer o mesmo. Este fato foi
chamando nossa atenção, até que a pequena Nicole, começou a comentar
Minha mãe faz feijão, mas eu não como e ela fica triste ou ainda minha
tia fez sopa de feijão. Assim, surgindo a oportunidade, conversamos com
a mãe da aluna, que relatou que a menina Nicole nunca quis comer feijão.
Nem quando bebê. Logo, resolvemos explorar este tema, procuramos
saber o que eles, embora pequenos, sabiam e gostariam de saber sobre o
prato, considerando a idade e características da turma, desenvolvimento
da fala.
Na roda da conversa, os colegas expressaram a forma de saborear
o feijão: com farinha, com purê, com arroz, com pão e revirado ou
mexido. A partir disso, criamos uma rede direcionando e orientando
como poderíamos trabalhar de maneira a beneficiar os alunos com esta
atividade.
Organizamos, também, um questionário para as famílias,
envolvendo-as para que nos auxiliassem contando o interesse de seus
222
filhos. Achamos importante iniciar, compartilhar com os pais o que
estávamos fazendo e para que serviriam as informações.
As questões giraram em torno de saber quem cozinhava para as
crianças, receitas de feijão e curiosidades que soubessem em relação ao
tema.
Analisando a resposta dos pais e responsáveis, percebemos que
muitas avós são responsáveis pelo preparo da alimentação das famílias. É
unanime, também, o fato de uma receita ser passada de geração para
geração, sempre aprendida com a mãe ou a sogra. É um alimento que
permite às crianças desenvolverem seu paladar, pois é saboreada de
diferentes formas nas famílias: sopa de feijão, revirado ou mexido de
feijão e até como salada, sendo que todas as famílias consomem esta
comida no cotidiano de suas casas. Também vieram muitas curiosidades
sobre o preparo do feijão.
Começamos, então, trazendo para nossa roda de conversa grãos
de feijão com cores e tamanhos diferentes. As crianças demonstravam
interesse, seguravam e observavam os grãos. Foi possível sentir a textura
dos grãos crus e compará- los com o grão que fora cozido.
A proposta seguinte foi utilizar o feijão para criar uma
representação da atividade realizada.
Devido ao fato das crianças se preocuparem com a colega Nicole,
que não comia feijão e que iria ficar fraquinha, trouxemos uma receita de
bolo de feijão. A cozinheira fez o bolo e lanchamos como de costume.
Todos adoraram o bolo, inclusive a Nicole, achando que o bolo era de
chocolate. Seguimos então, conversando sobre o lanche do dia, seu sabor,

223
se haviam gostado, com que se parecia. Depois foi revelado o principal
ingrediente do bolo.
Em outro dia auxiliamos no preparo do feijão escolhendo a cor,
localizando e retirando as pequenas sujeirinhas, assim como a escolha
dos temperos. Voltamos para a sala e dialogamos com as crianças sobre a
origem do grão, que pelo censo comum, o feijoeiro, origina-se do
continente americano.
Nos dirigimos para o refeitório novamente e lá observamos o
feijão, já pronto, e como poderia ser servido. As crianças degustaram o
feijão, primeiramente sem acompanhamento e depois acompanhado de
arroz. Resolvemos registrar esse momento pintando com tinta em um
papel pardo.
Conversamos com as crianças sobre como o feijão nasce, onde ele
é cultivado e suas fases de desenvolvimento. Todos plantaram uma
semente em sala de aula e observaram seu desenvolvimento. Para
completar os estudos feitos em sala de aula, as crianças foram ao pátio da
escola fazer uma pequena plantação de feijão. Foi divertido e prazeroso
para as crianças.
Para divulgar o trabalho foi montando um informativo sobre o
feijão, com a divulgação dos benefícios desse alimento, e todas as
crianças que frequentam da escola puderam levá- lo para suas casas.
O Projeto colaborou com a alimentação da menina Nicole e
permitiu a ampliação de conhecimentos para a menina e para seus
colegas.

224
GOLFINHO

Adriane Salles Vieira

Alguns minutos antes do almoço, os alunos do PRÉ assistiam ao


filme: Golfinho – A História de um Sonhador, trazido pela assistente da
escola. Nesse momento surgiu a pergunta que deu origem ao nosso
projeto: Prô, porque o golfinho tem um buraco na cabeça? Questionei a
turma: Não sei, para que vocês acham que serve? E já saíram respostas:
Para respirar., Para entrar água. É para entrar vento e água, né prô?.
Propus uma pesquisa sobre o assunto e todos concordaram.

225
Iniciei perguntando sobre o golfinho: Onde e como vive? Quais
os outros tipos de animais que existem? O que o golfinho é: ave,
mamífero, peixe, réptil, anfíbio... E todos responderam que era um peixe.
Esses questionamentos foram feitos na rodinha de conversa. Visto que as
crianças apresentam grande curiosidade pelos animais e que esses fazem
parte de suas vidas cotidianas seja no convívio com animais domésticos,
nos desenhos animados a que assistem, nos jogos e nas histórias, as
crianças foram para casa com a tarefa de trazer gravuras de animais de
todas as espécies. No dia seguinte, com o objetivo de descobrir o que já
sabiam e quais suas dúvidas sobre os animais, utilizando as gravuras
trazidas pelos alunos, fomos construindo um cartaz sobre vertebrados e
invertebrados. Para isso dividimos a turma em dois grupos: os animais
que têm ossos e os animais que não têm ossos. Cada um desenhou um
animal correspondente ao seu grupo. Em seguida classificamos as
gravuras e cada grupo colou-as em seus cartazes. Apresentaram um
conhecimento prévio sobre os animais muito bom, pois sabiam classificar
os que tinham ossos e os que não tinham.
Organizei uma visita à biblioteca da escola de ensino fundamental
do bairro e lá pesquisamos em livros de ciências para descobrirmos a
classificação dos animais. A turma foi dividida em duplas com a tarefa de
pesquisar e discutir. O momento seguinte deveriam apresentar o que
haviam encontrado ao restante da turma com ajuda da professora para ler
os textos. A pesquisa nos trouxe como resultados grandes aprendizagens
como: habitat aquáticos e terrestres, que se classificam por terem
características semelhantes como alimentação, reprodução, anatomia
externa e a respiração. Então conhecemos as aves, os répteis, os anfíbios,
226
os peixes e os mamíferos; que alguns são aquáticos outros terrestres; os
ovíparos vêm de ovos e os vivíparos se geram na barriga das mães e
como se alimentam quando pequenos. Essas descobertas foram
socializadas na roda de conversas e registradas em um álbum de
dobraduras, foram feitas dobraduras de um pássaro (aves), cachorro
(mamíferos), peixes, sapo (anfíbios) e tartaruga (répteis), ao colar a
dobradura no álbum deveriam desenhar a principais características desses
animais conforme sua classificação: os mamíferos são vivíparos e
mamam quando pequenos; as aves têm penas e bico e vem dos ovos; os
anfíbios começam seu ciclo de vida na água e depois na terra e põem
ovos; os répteis põem ovos, têm a pele grossa e rastejam pelo chão e os
peixes respiram embaixo da água, põem ovos, têm escamas e são da
água.
Muitas descobertas, mas o mistério do buraco da cabeça do
golfinho não havia sido resolvido. Precisávamos saber quem era esse
animal e porque tinha aquele buraco na cabeça, o que tirou o sossego da
Turma do pré.
Para descobrirmos quem era o golfinho, pesquisamos na internet.
Após a pesquisa surgiram as seguintes dúvidas: Prô, como e que ele
nasce? O que come? Será que ele é um peixe?Ele é grande!
Como incentivo para não faltarem às aulas e integrar a família às
nossas atividades, cada dia um levava um golfinho de pelúcia para casa e
deveria pesquisar e também registrar o que fez com ele através de textos
ou desenhos e apresentar aos colegas na próxima aula.
Na sala também realizamos pesquisas na internet sobre o golfinho
eu, professora, lia os textos e as crianças analisavam as fotos e assistiam
227
aos vídeos, com isso descobrimos que o golfinho era aquático, vivíparo,
mamífero, que existem trinta e sete espécies, alguns de águas doces e
outros de águas salgadas, mamam até um ano e quando adultos comem
lulas, peixes, camarões e moluscos, que vivem aproximadamente por
trinta e cinco anos, são animais brincalhões e inteligentes, sua
comunicação é através de sons e que respiram pelo espiráculo (buraco
localizado na cabeça do golfinho que funciona como uma válvula que se
fecha embaixo da água abrindo só quando ele salta para respirar).
Pois bem, tínhamos chegado ao nosso destino descobrimos para
que servia o buraco da cabeça do golfinho: para a sua respiração. Mas um
dos alunos ainda não satisfeito pergunta: Prô, como eles não se afogam
quando comem? Não entra água pela boca?. Já respondi com outro
questionamento: Que tal descobrirmos juntos?.
Encontramos uma imagem da anatomia interna do golfinho.
Então, cada aluno fez os órgãos com massa de modelar. Surgiu o
coração, intestinos, estômago e o pulmão. Com canudinhos de
refrigerante representamos o esôfago e a faringe, com uma garrafa pet
confeccionamos o corpo do golfinho usando o gargalo como bico. As
crianças recortaram as nadadeiras com EVA e colamos com cola quente.
Foi preciso abrir a garrafa para colocarmos os órgãos. O canudo, que
representava o esôfago, foi colocado na boca e o que representava a
faringe no buraco da garrafa – espiráculo. Assim, puderam observar que
os canais eram separados não tendo contato da boca com o pulmão.
Nosso projeto foi curto, mas envolvente. Todos participaram com
muito entusiasmo e as descobertas foram acontecendo. Para finalizar e
divulgar nossos trabalhos, enchemos a piscina com balões azuis e
228
convidamos o berçário para brincarmos com os golfinhos. Foi um
sucesso.

LUA QUEM É VOCÊ?


Juliana Vargas Antunes
Elizangela Makeli Maciel Cru z

Tudo começou durante o trabalho com as lendas folclóricas no


mês de agosto de 2010, mais especificamente, com a Lenda do Dia e da
Noite. Decidimos colocar no teto da sala de aula a representação do dia e

229
da noite, com seus elementos. Ao sairmos para o pátio, surgiu a seguinte
colocação Prô, você colocou a lua na noite, mas agora é dia e tem lua!
Com isso teve início o projeto “Lua quem é você?” realizado nas
turmas de pré-escola na EMEI Abelhinhas, localizada no bairro Nossa
Senhora Aparecida, no município de Passo Fundo e teve duração de dois
meses.
As crianças faziam observações em relação à lua trazendo falas
como: Por que a lua não cai do céu? Por que ela aparece redonda e
depois quebrada? Alguém já foi à lua? Esses diálogos comprovavam a
curiosidade e o interesse que as crianças tinham a respeito da Lua.
Começamos a planejar as atividades para que as crianças
pudessem aprender mais sobre o assunto.
No decorrer do projeto, levamos sempre em consideração as
experiências, dúvidas e observações vindas das crianças. Considerando a
importância da comunidade escolar, buscamos contribuições sobre a
temática junto aos pais. Foi solicitado, como tema de casa, que os pais
escrevessem o que sabiam sobre a lua, contemplando crenças populares,
fases da lua...
Após todos os conhecimentos levantados, fomos pesquisar na
internet e em livros de física a respeito das perguntas das crianças.
Adaptamos as respostas de forma que os alunos pudessem compreender o
assunto, de um jeito menos formal.
As informações serviram de base para a estruturação da pesquisa.
Iniciamos com a observação diária da Lua durante um ciclo completo.
Estas observações foram realizadas tanto na escola quanto em casa. Em
casa, o registro era feito através de um desenho com a ajuda dos pa is. Na
230
escola, ao trazer o desenho, sentávamos na rodinha e cada um mostrava o
seu para a professora e para os colegas. Através do diálogo, as crianças
relatavam o que haviam concluído. Vale destacar a alegria, participação e
interesse que demonstravam na atividade. Surgiam cada vez mais
questionamentos, falas, e descobertas: “quando a lua que aparece durante
o dia é a lua nova”. Tal conclusão deu-se da seguinte maneira. Percebia-
se através das observações que havia somente uma lua e que durante o
mês ela passava por um ciclo de quatro fases: cheia (toda iluminada),
crescente (em forma de C), minguante (em formato de D) e a nova
(somente um anel em seu contorno).
Em todas as suas fases, a lua aparecia à noite, porém as crianças
perceberam que a lua nova era difícil de visualizar durante a noite, mas
completamente clara durante o dia com o mesmo formato da lua cheia.
Essa descoberta veio com a seguinte fala: Prô, ontem eu não vi a lua
direito, mas hoje quando saí vi ela bem direitinho e ela tá igualzinha a
lua cheia, então essa é a lua nova!. A partir dessas descobertas passamos
à parte concreta. Com materiais alternativos propusemos a modelagem
das fases da lua a partir das anotações constantes no calendário da sala.
Para descobrimos como acontecia a mudança da lua em suas
fases, realizamos uma experiência que demonstrava essa transformação.
Usamos uma caixa de sapato com a tampa e fizemos apenas um orifício
na lateral e uma bolita no centro, representando a lua. Enquanto íamos
abrindo a caixa, era possível, na medida em que a luz incidia, observar as
diferentes fases da lua. Reafirmamos a descoberta de que a lua passa por
quatro fases e as crianças disseram que a lua muda por causa da luz que
bate nela, então não tem luz própria e depende da luz do sol.
231
Comprovamos também que a Lua só aparece durante o dia quando fica
“só redonda”, ou seja, na fase nova, nomenclatura que alguns alunos já
conseguiam usar.
Assistimos aos filmes “Space Buddies” e “A chegada do homem
à lua”. Logo após os filmes realizamos, na roda de conversa, a análise do
mesmo, destacando seus aspectos mais importantes e realizando
conexões com os conhecimentos já adquiridos. Dialogamos sobre como
foi a primeira vez em que o homem colocou os pés na lua, descobrimos
que ela é da cor cinza composta de rochas e pedras. E ainda, que quando
o homem colocou os pés na lua lá deixou “pegadas” e também fixou a
bandeira dos Estados Unidos. As crianças também falaram que era
necessário muito dinheiro e uma avançada ciência para que qualquer
pessoa pudesse viajar até ela.
Para concretizar as novas aprendizagens, construímos nosso
foguete de faz-de-conta com materiais alternativos, para que pudéssemos
“voar” no mundo da imaginação. Após nossa viagem, pisamos na nossa
lua de brincadeira, que havia sido desenhada em uma cartolina branca
com formato circular. Os alunos pintaram seus pés com tinta guache
cinza carimbando a cartolina, representando assim as pegadas deixadas
na lua de verdade.
Após todas estas descobertas decidimos, juntamente com as
crianças, realizar a construção de uma maquete. As crianças coloriram
bolinhas de isopor representando as fases da lua e o sol, que foram
fixadas em um isopor representando o que realmente acontecia.
A culminância do projeto deu-se através da visita ao laboratório
de física do Instituto de Ciências e Geografia da Universidade de Passo
232
Fundo. Ao chegarmos lá, fomos recepcionados por um grupo de
estudantes de física, que nos levaram até o planetário construído dentro
do laboratório. Os alunos puderam visualizar as fases da lua e o universo
em geral, enquanto eram convidados a caminhar ao redor da lua
improvisada no laboratório. Toda esta brincadeira fez com que as
crianças reforçassem o que já haviam aprendido na sala, ou seja, que
podemos ver a lua de diferentes maneiras e que depende da luz do sol
para que ela apareça. As crianças adoraram ver tudo isso e sentiram-se os
verdadeiros cientistas analisando a lua. A todo o momento exclamavam:
Olha prô, que legal!, É que nem a que tinha lá no céu., Prô, esta lua é
mais grande que a nossa caixa, remetendo-se a experiência, Né prô, que
a lua não é de isopor que nem esta aqui.
Para a documentação deste projeto utilizamo- nos de registros
gráficos feitos pelos alunos das duas turmas, fotografias e mini maquetes
representando as diferentes fases da lua. As crianças utilizaram o material
como base para explicarem suas descobertas aos pais e à comunidade
escolar. Ressaltamos que todas as produções feitas pelos alunos foram
enviadas para casa, para que pudessem continuar compartilhando suas
descobertas com outras pessoas.

233
DONA ARANHA
Bianca Lopes Bertuol
Nalú e Silva do A maral
Laís Rigon

O Projeto “Dona Aranha” realizou-se nas turmas do Maternal I B


e C da EMEI O Mundo da Criança, sendo que uma turma funciona no
turno da manhã e a outra no turno da tarde. As indagações surgiram,
primeiramente, na turma da tarde: prô, tinha uma aranha embaixo do
meu sofá, e tinha também o papai e a mamãe. Coincidentemente, na
manhã seguinte surgiu uma aranha na sala e um aluno da turma do
maternal B relatou aos colegas tem uma aranha na sala.
Partindo desses relatos, as professoras reuniram-se para dar
encaminhamento ao possível projeto, organizando as atividades que
234
seriam desenvolvidas, bem como capturando a aranha e colocando-a em
um pote transparente com tampa, para a observação e levantamento dos
conhecimentos prévios. Iniciou-se a pesquisa com o seguinte
questionamento às crianças: O que sabemos sobre a aranha?. Algumas
das afirmações obtidas após a conversa foram: Ela nasce da barriga da
outra aranha, Ela pica e tem veneno na boca, Dorme na folha e na terra
e gosta de se esconder na grama, Constrói a sua própria casa, ela como
formiguinhas, minhocas e toma água, Coloca ovos e dos ovos nascem as
aranhas, Não pode passar a mão porque ela pica, e tem oito olhos.
Outra atividade desenvolvida foi a pesquisa em livros, inclusive
enciclopédias, que foram disponibilizados para a turma. Neles, as
crianças puderam procurar a dona aranha e analisar as imagens
encontradas enquanto as professoras realizavam a leitura do que estava
escrito. Durante essa atividade foi possível confirmar algumas das
questões levantadas. Descobriu-se que existem várias espécies de aranhas
e que algumas realmente são venenosas. Algumas espécies fazem teia e
vivem nos cantos das casas e ainda existem aquelas que vivem em
jardins. Descobriu-se que a viúva-negra, apesar de ser pequena é muito
venenosa e seu veneno pode até matar.
Após a pesquisa foram disponibilizados materiais para que as
crianças realizassem o registro de como imaginavam a aranha, ficando
livres para suas criações. Ainda, foi realizada uma oficina com materiais
alternativos, dentre eles, fundo de garrafa pet, copo descartável, fundo de
caixa de ovos, bandejas de isopor, cola colorida, EVA, tinta guache, para
a confecção da aranha.

235
Após estas atividades deu-se continuidade à pesquisa. O que
queremos saber? E na fala das crianças ouvimos: como a aranha constrói
a sua teia, quantos ovos ela coloca e quanto tempo demora para nascer
uma aranha, se ela come minhoca ou come o que, qual é a espécie da
aranha da nossa sala, todas as aranhas têm veneno, se ela enxerga,
porque a aranha da nossa sala se escondeu na grama.
Buscando responder aos questionamentos de forma científica, as
professoras entraram em contato com o Museu Zoobotânico Augusto
Ruschi – MUZAR, da UPF. Durante conversa com a responsável para
agendamento de um horário para a visita, explicou-se que se tratava de
uma turma de educação infantil, na faixa etária de três anos.
Antes do passeio, as turmas organizaram uma lista de
questionamentos para serem respondidos pelas biólogas responsáveis, no
decorrer da visita. No Muzar foram observados vários tipos de animais,
com destaque especial para a aranha. As biólogas explicaram e sanaram
as dúvidas levantadas pelas turmas.
Não são todas as aranhas que são venenosas, depende de cada
espécie. No caso da caranguejeira, ela solta um pelinho que é tóxico e
pode causar irritação. A aranha come qualquer tipo de insetos, porém
somente as partes internas e o sangue, deixando o corpo dos insetos sem
comer. Conforme a aranha vai crescendo, ela passa por um processo de
troca de pele, chamado Ecdise. Pode ter de cinco a oito olhos. E
descobriu-se também, que a aranha que a turma tem na sala é uma
Tarântula, que tem veneno sim, e é conhecida como aranha de jardim. O
nome do ovo que a aranha coloca chama-se “ooteca” e dentro dele pode
conter até oitocentos ovos, geralmente, a aranha carrega a ooteca presa ao
236
seu corpo. O predador da aranha é a vespa, que coloca sua larva em cima
do corpo da aranha para alimentar-se do corpo.
Ao retornarmos do passeio foi elaborado um cartaz com os
conhecimentos científicos adquiridos. Com base nisso, foi confeccionada
uma aranha utilizando-se a mão como carimbo. As professoras
questionaram quantos dedos seria preciso pintar para que a aranha ficasse
com oito patas. Foi realizada a contagem com o grupo, comparando-se
com a aranha da sala para verificar se a quantidade era a mesma.
Em outro momento, a professora mostrou em uma régua o
tamanho que uma aranha caranguejeira poderia ter, cerca de 20 cm. Neste
momento, um aluno fez a seguinte colocação. Prô o número do meu tênis
é 20, igual ao tamanho da aranha.
Partindo dessa afirmação, a professora fez o contorno do pé de
todos os alunos, pegou uma régua e marcou o tamanho real de cada um,
fazendo uma comparação com o tamanho da aranha.
Partindo de todo o trabalho de pesquisa já realizado, pensamos
numa atividade que envolvesse a família da criança. Foi enviada para
casa uma folha, na qual a família e a criança deveriam construir um
pequeno texto que apresentasse suas curiosidades ou informações sobre a
aranha. Juntamente com o texto, deveriam confeccionar uma aranha
utilizando materiais diversos que ficaram a seu critério.
As famílias colaboraram enviando o texto e a aranha solicitados.
Durante a rodinha, as crianças, muito contentes, apresentavam aos
colegas suas criações, relatando quem havia auxiliado na confecção e o
que tinham utilizado.

237
A aranha conviveu com as crianças por quase dois meses.
Cotidianamente, professoras e alunos, precisavam catar moscas e insetos
vivos para alimentá-la. Por isso, foi um pouco triste ter que soltá-la em
seu habitat natural.
As aranhas confeccionadas e todos os outros materiais
pertencentes ao projeto foram expostos na escola. Para finalizar o
projeto, convidamos a comunidade para apreciar os trabalhos e
compartilhar dos conhecimentos adquiridos. A exposição foi aberta para
outras turmas e para os pais. Nesse momento, cada criança pode falar
sobre a sua aranha, além de expor as aprendizagens que construíram no
decorrer das atividades.

238
ÁRVORE
Gelcy Cristina de Souza Castejon Branco
Graziela de Quadra
Rúbia B. Ractz
Tuizi Ferreira Theodoro

O projeto surgiu da derrubada de árvores no campo que fica


próximo à escola, fato que, durante uma semana, chamou muita atenção
das crianças ao virem para a escola e ao brincar no parquinho, tornando
até de difícil a concentração em outras atividades de rotina. Dentre os

239
seus questionamentos e afirmações destacaram-se: Prô, porque estão
derrubando os eucaliptos? Por que estão tirando as árvores? Será que
caiu em cima de alguma casa? Tão tirando prá fazer lenha, porque tá
frio? Não, tiraram as árvores para construir casas, para ter espaço.
O desenvolvimento do projeto se deu da seguinte forma:
primeiramente ocorreram as rodinhas de conversa sobre as possíveis
causas da derrubada das árvores; acompanhada da observação do corte
das árvores, inclusive a poluição aos arredores; depois foram
confeccionados cartazes em protesto contra a derrubada das árvores e
também em comemoração ao Dia do Meio Ambiente, onde as próprias
crianças, junto com a professora, produziram frases. Foi feita uma
passeata nas imediações da escola e, como última atividade, realizou-se a
adoção e o plantio de árvores no pátio da escola e fora dela.
Para realizarmos as atividades citadas acima, conversamos com
alguns moradores das proximidades da derrubada, também conversamos
com os pais, realizamos pesquisas na internet, em livros, assistimos a
filmes e lemos histórias. Ainda conversamos com o presidente da
associação do bairro e com uma moradora, pois teriam outra versão sobre
o corte das árvores. Uma palestra realizada com um ambientalista
também contribuiu muito com as reflexões.
A partir das reflexões realizadas nas rodinhas, as crianças
puderam observar os diferentes tipos de mudas de árvores, trazendo à
tona a discussão de que há árvores que dão frutos e outras não,
possibilitando até a ligação com outro projeto Frutas, já existente na
escola.

240
Também na roda da conversa iniciou-se a discussão sobre a
hipótese de adotar e plantar uma árvore para compensar a perda ocorrida,
discutiu-se sobre: Onde conseguir uma árvore? Quem ajudaria a plantar?
Porque tem que cavar bem fundo. Qual o melhor lugar para plantar essa
árvore? O que precisamos para o plantio? Entre os combinados
decidimos que necessitaríamos de ferramentas, balde para molhar a terra,
ripas para fazer um cercado de proteção e uma placa com o nome da
árvore.
Durante o desenvolvimento do projeto as crianças se mantiveram
bastante envolvidas, dando sugestões, auxiliando no plantio e regando a
árvore.

241
QUEM BOTOU O LIXO ALI?
Ana Lúcia Rocha Neitske
Dag mar Zanatta

Este tema foi escolhido pelo grupo de crianças do maternal, pelas


observações que foram feitas na parte externa da escola. Todas as
manhãs as crianças ao chegar a nossa escola se deparavam com o lixo
espalhado pela vizinhança. Ouvimos e mapeamos as falas, fomos a
campo com a turma. Coletamos informações com familiares, ouvimos
alguns vizinhos, professoras e comentários em geral. Iniciamos
questionando o que poderíamos fazer, contando histórias, registrando
com massa de modelar, desenhos, tintas... E visitamos algumas vezes o
lixo para buscar materiais que poderíamos usar em nossas atividades
(garrafas pet, madeiras, cabos, tampas de potes, latas...), nós as
professoras usamos luvas e limpamos os materiais para serem
reutilizados sem oferecer nenhum perigo para as crianças.
Fizemos alguns brinquedos com esses materiais que estão sendo
utilizados com entusiasmo, entre eles: o cavalinho de pau, a banda de
latas, garrafa do Saci, roda a roda. Os pneus que inicialmente vieram para
fazermos o jardim viraram brinquedos para todas as turmas, cada um de
acordo com seu interesse brinca da maneira mais significativa para si e
alguns foram separados para organizar o nosso jardim.
Acompanhar a limpeza pesada do lugar onde eles planejam
transformar em jardim, ouvir as pessoas que vieram fazer essa limpeza e
também questionar o que aconteceu ali e para onde vai e sse lixo faz com
que eles tivessem mais ideias e interesse em fazer diferente, em mudar o
cenário.
242
As crianças trouxeram mudas de flores e a terra preparada de casa
onde iniciamos os jardins suspensos, fizemos um na janela de nossa sala
com ajuda das mães e outro na grade que temos na entrada da escola.
Também plantamos girassóis e alpiste, cuidamos e observamos as plantas
crescerem seguidas de histórias e músicas. O interesse das crianças em
manter contato com a terra, plantar, só cresce.
Usamos a nossa bandinha de latas para comunicar o que está
acontecendo nos arredores da escola, e a vizinhança nos observa e com
certeza já temos uma pequena mudança de hábitos com relação ao lixo.
Poderíamos usar a expressão “do lixo ao jardim” que estaria
muito bem empregada, mas esse projeto foi se desenrolando de uma
maneira diferente as crianças trouxeram uma preocupação externa para
dentro da escola.
As crianças se mostram interessadas e envolvidas, pedem
histórias, querem plantar mais e trazem questionamentos e ideias sobre o
que podemos fazer. Por isso nós enquanto escola, buscamos ajuda de
outros segmentos e vamos dar continuidade a esse projeto. O que o que
fizemos até aqui está registrado com fotos e exposto na entrada da escola
para que a comunidade possa conhecer e também contribuir com a sua
parte.

243
FRANGO
Eliane Casagrande de Lima

O projeto frango teve início na sala de aula, em uma roda de


conversa, quando a professora do Maternal II contava uma história do
Pintinho Carijó de Gerusa Rodrigues Pinto, onde um dos alunos faz a
seguinte colocação: Prô! Existem galinhas de várias cores né! E a
professora respondeu: Sim, você tem em casa? Não, mas sei que tem
galinhas de várias cores. Em seguida outro fala: Prô ! Lá em casa nós
temos na gaiola. Então começa uma conversa sobre: Aonde elas vivem?
De que se alimentam? Todos se incluíram no diálogo sobre as galinhas.

244
Diante dos questionamentos e curiosidades que se repetiram
resolvemos abordar o tema FRANGO mais profundamente. O início
ocorreu quando a professora contou a história Era uma vez um ovo de
Cecília e Felipe, e ao conversar sobre a história, inesperadamente, eles
falaram as mesmas coisas sobre os frangos e fizeram mais algumas
colocações, falando que: gostavam de comer ovos, alguns não gostavam,
galinhas tinham penas e cachorro não.
Considerando os relatos colocamos em uma caixa feno, ovos de
várias cores, fizemos um ninho e levamos para a sala de aula, os alunos
olhavam admirados e perguntaram: Prô! Por que os ovos são de cores
diferentes? A professora explicou que, depende da raça, de estar solta, é
o caso das galinhas caipira tratadas com milho e as de aviários que
seriam as poedeiras tratadas com ração para postura, por esse motivo
teriam as cores diferentes, mas as vitaminas seriam as mesmas. Dando
continuidade contamos quantos ovos havia no ninho. Em um prato
quebramos um dos ovos e mostramos suas partes - gema e clara. Um dos
alunos questionou: Prô, por que tem isso? Era um pontinho na gema.
Assim, as crianças ficaram sabendo que aquele ponto era onde formava o
pintinho, que as galinhas chocavam os ovos (ficam sobre os ovos e com o
calor do corpo das mesmas aquecem os ovos) durante 21 e dias, depois
disso descascavam os ovos e nasciam os pintinhos, mas que nem todos os
ovos tinham pintinho dentro. O porquê foi inevitável e nova descoberta
ocorreu.
Na sequência a professora falou aos alunos que eles iriam receber
um convidado especial – um pinto – as crianças tocaram, olharam as

245
penas e o alimentaram. Chamou atenção que logo após alimentarem o
pinto ele evacuou, surgiu daí uma comparação com as pessoas.
Depois cozinhamos, fritamos e fizemos gemada dos ovos e
realizado um momento gourmet onde todos inclusive aqueles que falaram
que não gostavam de ovos experimentaram. Diferenciamos doce do
salgado falamos de alimentos saudáveis, com as cascas que os alunos
descascaram os ovos fizemos colagem. Tivemos um momento musical
cantamos e fizemos gestos da música Pintinho Amarelinho. Em uma
folha encontramos nos ovos a letrinha inicial do seu nome e envolvemos
com pedacinhos de lã.
Continuamos assistindo ao filme A fuga das galinhas, onde
mostra um fazendeiro colhendo ovos na sua granja para vendê- los e
alguns frangos eram abatidos para a produção de tortas. Após o filme a
professora perguntou o que gostariam de desenhar com cola brilho, e os
alunos escolheram desenhar os ovos e os bolos.
Em outro momento com ajuda dos pais trouxeram figuras de
diferentes animais, com as quais fizemos um cartaz separando os animais
que possuem o corpo coberto por pelos daqueles que tem penas.
Findando o projeto confeccionarmos um pintinho com material
alternativo como: pratos descartáveis, formas de docinho e garfinhos e
colocamos no álbum de fotos dos registros do projeto frango.

246
POR QUE A BORBOLETA ESTÁ PARADA?

Joselene Fontana de Souza

O interesse das crianças pelo tema “Borboletas” surgiu no final do mês


de junho em uma tarde quente e ensolarada. A turma do Pré I, composta por 15
alunos, na faixa etária dos 4/5 anos, estava no horário da entrada, quando o
aluno “João Gabriel” chegou na sala e viu uma borboleta na parede. O aluno
logo questionou a professora:
- Prô! Por que a borboleta está parada?
Antes que a professora pudesse responder ao questionamento, outros
alunos responderam:
- Ela esta parada porque está cansada de tanto voar.
- Os carros fizeram barulho lá em cima, e ela veio aqui na nossa sala.
Mas se a gente fizer barulho ela vai para a outra sala.
247
Neste momento toda a turma começou a fazer colocações sobre as
“Borboletas”. Percebi então que seria um bom tema para ser trabalhado, pois
envolveria vários assuntos que desafiariam as crianças intelectualmente,
atendendo as metas e padrões estabelecidos para o trabalho com projetos.
O ponto de partida do projeto foi a realização de uma roda de conversa.
À medida que fui ouvindo e interferindo no assunto, os alunos me
surpreenderam com suas colocações, entre elas: As borboletas voam longe.
Elas voam que nem os passarinhos. Mas elas não são passarinhos, elas eram
uma minhoquinha. Tinha uma vermelha lá no sofá da minha vó. Borboleta é
com B de Betina e de bola.
Ao terminar este primeiro passo de investigação percebi que vários
conceitos poderiam ser trabalhados. A seguir, começamos a construir uma rede
temática com eles para determinar o novo nível de conhecimento sobre o
assunto. As questões não foram coletas de uma só vez, mas ao longo do
processo.
À medida que observei os conceitos e as informações contidas na rede,
percebi que algumas áreas do conhecimento poderiam ser trabalhadas, entre
elas: linguagem oral e escrita, natureza e sociedade e artes. Partindo disso,
começamos a realizar atividades que expandiriam o interesse dos alunos pelo
tema.
Partindo da leitura do poema “Borboleta de Vinícius de Moraes”
realizamos uma roda de conversa onde todos os alunos fizeram suas colocações
sobre o que ouviram. Os alunos exploraram muito as cores e as rimas do poema,
bem como a repetição da palavra “borboleta” e mais algumas palavras que
iniciam com a letra “B”. Realizamos uma listagem destas palavras e
combinamos que na próxima aula iríamos trabalhar com estas palavras.

248
Retomamos o poema onde os alunos localizaram as palavras que
iniciavam com “B” e as circularam. E, para finalizar os trabalhos do dia,
representaram o poema através de desenho e a dobradura de uma borboleta.
Como havíamos combinado na aula anterior, dei continuidade ao
trabalho explorando a lista das palavras que iniciavam com “B”, desafiando os
alunos a descoberta de novas palavras (escrita, som, topografia, com ênfase na
primeira letra). Os alunos realizaram o desenho das palavras e escreveram o
nome (conforme sua hipótese de escrita).
No intuito de aumentar o interesse dos alunos e não deixar abrandar sua
curiosidade sobre as borboleta, optei por trabalhar com a história “Romeu e
Julieta de Ruth Rocha”, pois através desta literatura vários conceitos
importantes e fundamentais do desenvolvimento infantil poderiam ser
trabalhados, entre eles: cores, tamanhos, diferenças e semelhanças.
No primeiro momento foi realizada a leitura da história e seu reconto
pelos alunos. Neste momento várias observações e colocações acerca da história
foram feitas, entre elas: O Romeu era um menino, e era azul. A Julieta era
menina, ela usava vestido. Eles moravam com a família, que nem a gente. Eles
voavam para todos os cantos e quando cansavam paravam... Que nem a
borboleta que estava na nossa sala. A gente não pode matar as borboletas
porque elas enfeitam tudo e fica muito colorido.
O registro da história foi realizado através de desenhos. Neste momento
os alunos mostraram uma grande preocupação com os pequenos detalhes da
história, as cores e as formas dos personagens principais; entre eles
conversavam para que nenhum detalhe fosse esquecido.
Dando sequência às atividades, ouvimos a história novamente; porém,
narrada pelo “Palavra Cantada”. Montamos um painel coletivo com as
borboletas feitas de dobraduras e, através das montagens e desenhos,
enfatizando as cores e as diferenças e semelhanças entre Romeu e Julieta e as

249
borboletas do nosso meio. Durante a organização e montagem do painel, os
alunos demonstraram novamente a preocupação com os detalhes da história, a
utilização de diversos materiais como: tinta guache, canetinha, cola colorida,
papéis, foi muito importante para que os alunos decidissem o que cada um faria
e qual material deveria utilizar.
Ao terminar a montagem do painel e, enquanto a professora o fixava, os
alunos foram recontando partes da história, o que na verdade mais chamou a
atenção das crianças. Das falas, destaco a da Vitória: Agora o Romeu e a Julieta
vão ficar parados aqui na nossa sala para descansar... Que nem a borboleta
que estava aqui outro dia.
Pedimos aos pais que ajudassem as crianças a encontrar imagens de
borboletas em jornais, revistas ou livros e escrevessem um pouco sobre elas.
Essa fase foi permeada por múltiplas interpretações, entre elas: a importância de
trabalharmos com aspectos da natureza; valorização do trabalho;
responsabilidade dos pais.
Decidimos então montar um pequeno “livro” com as falas dos pais e
com as gravuras trazidas. Como não poderia ser diferente na montagem e
exploração do “livro”, uma aluna disse aos colegas: Quando minha mãe “estava
cortando” minha borboleta (figura), ela disse que as borboletas nascem de uma
minhoca, que é que nem um “mandruvá”.
Percebi então que este seria o momento de dar continuidade,
trabalhando com o eixo da “Natureza e Sociedade” explorando elementos
acerca da metamorfose das borboletas.
O trabalho teve início com a leitura da história “Borboletas de Rita
Foelker” e, no decorrer da leitura, vários questionamentos e observações acerca
do livro começaram a ser realizados. Porém, o que mais chamou a atenção dos
alunos foi a descoberta que a borboleta é um inseto, pois é pequena, não tem
ossos e realiza a sua metamorfose.

250
- Mas como acontece esta metamorfose? Para explicar melhor utilizei
um painel montado em EVA com todo o processo da metamorfose, aumentando
o interesse e a curiosidade dos alunos. Durante a explicação os alunos ficaram
observando atentamente cada passo. Vários questionamentos e afirmações
surgiram, entre eles: A borboleta nasce de um ovinho. Tem que dizer para meu
irmão que a gente tem que cuidar das lagartas e dos casulos. Prô, as lagartas
não têm que ter uma casa para morar? (Betina) A casa delas é o casulo.
(Henri)
Neste momento acredito ter estimulado nos alunos a curiosidade não só
pelos animais, mas a descoberta da possibilidade de transformação e cuidados
com os seres vivos.
Sendo assim, num primeiro momento os alunos realizaram de forma
criativa, divertida e integradora, o desenho da “metamorfose”, fazendo a relação
entre ovo/lagarta/casulo/borboleta. Dando continuidade, confeccionamos um
móbile da metamorfose. Antes, todas as quatro etapas da metamorfose,
confeccionadas em EVA, foram misturadas e os alunos deveriam encontrar
todas as peças para a construção de seu móbile.
Durante a realização desta primeira parte da atividade alguns alunos
encontraram dificuldades em localizar todas as peças e acabaram pegando duas
peças iguais, necessidade de intervenção da professora. Porém, a troca das
peças foi solucionada com a ajuda dos colegas que já estavam com todas elas na
mão. Após terem encontrados todas as peças, cada aluno enfeitou usando sua
criatividade com cola colorida, cola glitter e alto relevo. Para finalizar,
receberam os barbantes e com ajuda da professora montaram seu móbile.
Acredito que a atividade tenha sido de extrema importância, pois no
horário da saída os alunos chegavam na porta com o móbile e já queriam contar
para pais, irmão, avôs... o que era aquilo; como ocorria o processo da
metamorfose.

251
Na medida em que as atividades foram se desenvolvendo os alunos
foram elaborando e reelaborando os seus significados sobre o que vivenciavam.
Entretanto, permaneciam inquietos em relação às borboletas e, percebendo à
ansiedade deles em relação ao assunto, planejamos uma visita ao Museu
Zoobotânico Augusto Ruschi – Muzar, localizado na UPF.
Antes do passeio realizamos os contatos necessários para que fossemos
recebidos no Muzar, explicando aos responsáveis o surgimento do projeto e o
seu desenvolvimento, bem como explicando a importância do passeio para que
os alunos pudessem visualizar borboletas e o processo da metamorfose.
Fomos recebidos pela responsável e algumas estagiárias nos deram
alguns avisos gerais a respeito do passeio (o que pode/o que não pode) e de uma
forma muito alegre questionaram os alunos: Contem para nós... O que vocês
vieram ver aqui no museu? Muito alegres e falantes, em “coro” responderam:
As borboletas...
De uma forma muito alegre e divertida iniciamos a vis ita.
Durante as explicações da “guia”, um aluno disse: Você sabe... tinha uma
borboleta lá na nossa sala, ela “tava” parada, bem quietinha... (Luiz
Fernando).
Neste momento aproveitamos a colocação feita pelo aluno
(guia/professora) e retomamos a pergunta inicial do projeto: POR QUE A
BORBOLETA ESTAVA PARADA?
Segundo a explicação que recebemos as borboletas estão em muitos
lugares, voam pelos ares e são coloridas. Na cabeça tem um par de antenas, um
par de olhos, e a boca é que nem um canudinho. Elas tem diferentes cores e
formas (asas) fogem do inverno, gostam mesmo é do calor, do sol.
Como nós, as borboletas gostam de mudar de ares; voam mais de três
mil quilômetros em menos de quatro semanas e, quando se cansam, pousam nas
flores ou em locais calmos para descansar, não ficam muito tempo em um

252
mesmo local. Então aquela borboleta que estava na sala de vocês, estava parada
lá para descansar, assim como todos nós descansamos. Depois iria voar muito,
muito, comer e descansar novamente.
As borboletas fazem parte da natureza e a gente precisa preservar a
natureza. Se as pessoas conhecerem e cuidarem das borboletas também cuidam
da natureza.
Todo o planejamento nos levou ao sucesso da visita, pois nossa “guia”
dentro do “Muzar” foi muito acessível e percebeu o quanto os alunos estavam
interessados naquelas descobertas acerca das borboletas e como tudo aquilo
contribuiria na vida daqueles pequenos investigadores, explicando com
paciência e satisfação a todas as perguntas.
No dia seguinte da visita, realizamos uma roda de conversa para que
cada aluno pudesse expor o que tinha sido mais significativo durante o passeio e
várias colocações foram realizadas, entre elas: Eu gostei das borboletas que só
voam de noite. Eu não gostei porque elas eram pretas. Eu gostei de ver as
lagartas, na foto que tinha “um monte”. As borboletas eram bem coloridas.
Após as colocações dos alunos, retomei a pergunta inicial do projeto e a
resposta dada pela “guia”, pois a mesma seria fundamental para a conclusão de
nosso projeto.
Retomamos questões importantes sobre: a preservação do ambiente e
dos seres vivos; valorização e a proteção as diferentes formas de vida; atitudes
de solidariedade e respeito ao próximo e aos seres vivos.
O registro do passeio foi realizado através de desenhos, nos pequenos
grupos iam conversando entre si e desenhando. Porém, o que mais me chamou a
atenção foi que muitos alunos desenharam “várias pessoas de mãos dadas” ao
serem questionados por mim sobre o que era aquilo, a resposta: Nossa fila!!!!
Quando a gente estava chegando lá no “museu” para ver as borboletas. Para

253
encerrarmos as atividades da tarde foram distribuídos aos alunos quebra-cabeça
da metamorfose da borboleta.
Para encerrarmos os trabalhos acerca das borboletas, usamos o livro “
A Lagarta e a Borboleta de Eunice Braido”. A contação da história aconteceu
na rodinha, os alunos puderam ouvir e recontar a história. Durante o reconto da
história percebemos que os alunos não esqueçeram dos detalhes da narrativa;
imitaram de forma lúdica e divertida a cara que a “Larva Cris” fazia quando se
olhava no espelho e o tamanho que a ela ficou de tanto comer. O registro da
história foi realizado através de desenho e com a confecção de uma borboleta de
garrafa PET. A construção da borboleta foi importante não só para o registro da
história, como também para o desenvolvimento de todo o projeto, pois falamos
muito em “Borboletas”, mas até então não tínhamos construído uma réplica.
Durante esta construção cada aluno escolheu um nome para sua
borboleta, suas cores e os detalhes individuais de cada uma e brincaram entre si
com as suas borboletas.
Acredito que a nós professores cabe a responsabilidade de propor
problemas, criar situações que permitam às crianças descobrir novos
aspectos do objeto estudado, estabelecendo relações entre elas e seus
conhecimentos prévios. É importante lembrar que a aprendizagem é
ampliada à medida que os conteúdos não se limitam a uma única fonte de
informação.
Desta forma, o projeto possibilitou aos alunos descobrir novas
situações, validando e rejeitando hipóteses antigas acerca do “por que
aquela borboleta estava parada na nossa sala”, levando-nos à conclusão
de que devemos respeitar, proteger e valorizar as diferentes formas de
vida, pois assim como nós, aquela borboleta se “cansa” e naquele
momento estava em nossa sala para descansar.

254
O envolvimento do grupo com o projeto foi tão grande que no se u
fechamento foi possível montar um álbum de memórias dos alunos para
serem compartilhados com seus colegas e familiares, formando assim a
memória pedagógica do projeto, pois tudo foi devidamente fotografado e
arquivado.

BRINCAR E APRENDER NA ERA DIGITAL


Pâmela Pol Saraiva

A ideia do projeto “Brincar e Aprender na Era Digital”, da EMEI


Geny Araujo Rebechi, surgiu na semana do Dia dos Pais, quando
estávamos confeccionando um presentinho com a foto do aluno. Para
isso, utilizei meu celular para tirar as fotos e no outro dia trouxe-as

255
impressas. Foi aí que apareceu o primeiro questionamento: Prô, como a
foto do teu celular foi parar aí? No momento dei uma resposta um tanto
quanto superficial e notei que não havia sido suficiente, então fiquei
instigada com a possibilidade de criar um projeto em cima do tema. Em
outra aula, trouxe o meu notebook para uma atividade e o interesse e
curiosidade pelo aparato eletrônico foi geral: Prô, me ensina a mexer?,
diziam vários alunos. Esta foi a questão decisiva. Precisava desenvolver
um projeto que suprisse essa necessidade.
Para saber mais enviei um questionário às famílias, com questões
relativas ao tema. Com o retorno, notei que mais da metade das crianças
não tinham acesso ao computador.
Iniciamos as atividades com uma roda de conversa, avaliando o
que as crianças já sabiam sobre o tema e o que eu poderia acrescentar.
Percebi que a maior necessidade e interesse das crianças era o contato
direto com o computador. Também, neste dia fizemos o “Show da
Fantasia”. Usamos a mala de roupas antigas e algumas fantasias, que há
na escola. As crianças caracterizaram-se como preferiram e, em grupos,
fizeram uma apresentação a sua escolha. Neste momento, minha tarefa
foi a de filmar tudo. Em seguida, utilizamos o cabo para transferir os
vídeos para um notebook. Assistimos a todos eles. A empolgação foi
tanta que uma vez só não foi o suficiente.
Durante todo o período de realização do projeto fiz filmagens e
tirei fotos das crianças com celular, filmadora e máquina fotográfica.
Elas sempre tiveram acesso a estes registros. Aliás, em alguns momentos
eram elas que tiravam as fotos, como no dia em que fizemos um passeio
pela escola para cada criança escolher um espaço e fotografar. A partir
256
das fotos, fizemos um mapeamento da escola e também uma releitura das
imagens. Cada criança registrou através de desenhos, a sua foto.
Utilizamos as fotos para fazer um jogo de memória.
Vimos as partes que compõem o computador e cada criança
construiu uma delas com sucata: cpu, monitor, mouse e estabilizador.
Depois de conhecermos as partes do computador, partimos para o seu
uso. Cada aluno, com a ajuda de uma ficha, escreveu o seu nome no
word, salvamos tudo em um pendrive e nos dirigimos até a secretaria da
escola para imprimimos todas as escritas.
Disponibilizei para as crianças alguns jogos educativos em CD-
Room e foi um desafio controlar o mouse! Ainda com o computador, as
crianças fizeram desenhos no Paint, que imprimimos juntos. O momento
que as crianças mais adoraram, foi a conversa na Web Cam, quando um
grupo de crianças estava em outra sala da escola, acompanhados de uma
assistente, e puderam conversar entre si. Por fim, visitamos o Laboratório
de Informática da UPF, onde foram desenvolvidas várias atividades
extremamente significativas.
Mais uma vez pedi ajuda aos pais, para que enviassem à escola
objetos tecnológicos antigos ou que não funcionassem mais. Com isto, as
crianças tiveram a oportunidade de brincar, exercitando sua capacidade
de colocarem-se no lugar de quem usava esses aparelhos, imaginando e
recriando situações. Foi um momento muito significativo, repetido várias
vezes.
Comparamos telefones convencionais e telefones celulares e, no
quadro, fizemos uma lista das funções e tarefas de cada um deles. Em

257
seguida, escrevemos o número do telefone da escola e as crianças
fizeram um desenho alusivo ao telefone convencional e ao celular.
Fizemos uma tarde especial de cinema, assistimos alguns vídeos,
preferidos pelas crianças, do You Tube, no Datashow.
Neste dia também, analisamos as imagens de duas obras de
Glauco Paiva e construímos uma escultura com sucata tecnológica. As
crianças a batizaram de “Babu”.
Como forma de comunicar o nosso projeto à comunidade,
fizemos, dentro da escola, uma exposição aberta, com todas as atividades
realizadas durante o projeto. Além disto, foi exposto todo o material
tecnológico antigo que havíamos conseguido e que formavam o que
chamamos de Museu da Tecnologia. Também um Datashow com as
imagens e filmagens das crianças durante o período do projeto, foi sendo
exibido, enquanto a comunidade apreciava os trabalhos.

258
SARDINHA - “O QUE É ISSO?”
Bibiane Sanches Dornelles Ferreira de Oliveira

A turma do maternal, da EMEI Margarida, interessou-se muito


pela sardinha. A sardinha foi incorporada ao cardápio da escola neste
ano, por conta disso os alunos tiveram uma nova experiência de
alimentação, contando com comidas diferenciadas do habitual. A
novidade da sardinha na alimentação do Maternal fez surgir diversos
questionamentos sobre “o que era aquilo que eles estavam comendo”. O
primeiro contato da turma com esse alimento foi polenta com molho de
sardinha, sendo que o gosto era diferente e as crianças começaram a
perguntar: O que é isso?, Isso é peixe?, Eu comi peixe com o meu vô!,
Que peixe é esse?, Quem pescou o peixe?.
Elaboramos e enviamos um questionário para as famílias,
perguntando se sabiam de onde vinha a sardinha e se comiam esse
alimento em casa. As respostas aos questionários foram tabuladas e
organizadas em um gráfico pelas crianças, para ver quantas famílias
comiam sardinha. Ainda, fizemos uma exposição das respostas obtidas
com as famílias sobre a enquete enviada para casa. Construímos um
quebra-cabeça da sardinha, em EVA, para ser montado por cada criança.
Pesquisamos na internet de onde vinha a sardinha, como ela era,
como vivia e como ia parar dentro da lata. Observamos fotos de seu
habitat e conversamos sobre essas descobertas. A partir disso
construímos um cartaz em que fizemos o mar com diferentes papéis e as
sardinhas em dobraduras. Nas pesquisas, descobrimos que existem
animais que comem sardinha, como a baleia-sardinheira. Organizamos
259
outro cartaz com esta baleia, no mar, comendo as sardinhas, que haviam
sido pintadas pelas crianças.
Direcionamos o olhar para a cor e a pele da sardinha.
Descobrindo que ela tinha escamas e para que estas serviam, as crianças
colaram papéis redondos feitos pelo perfurador de papel sobre o corpo de
suas sardinhas.
Montamos um mural com recorte e colagem de gravuras de
jornais e revistas, sobre a sardinha. Selecionamos uma notícia falando
dos nutrientes da sardinha para ser levada para as famílias, com um
questionário sobre o que acharam importante na reportage m.
Procuramos na comunidade por pessoas que soubessem algumas
receitas que tivessem como ingrediente, a sardinha. Registramos em um
cartaz as receitas de polenta com sardinha, massa com sardinha,
sanduíche de sardinha. Também construímos um livro com as receitas
coletadas com a comunidade e com as famílias.
A turma participou da preparação de uma receita com sardinha.
Viram como a cozinheira preparava e quais os ingredientes utilizados.
Ela nos mostrou as latas de sardinha e abriu-as para vermos onde estava
acondicionada a sardinha que eles comiam. Cada criança que quis,
experimentou um pouco da sardinha da lata. Alguns não quiseram
experimentar, pois estava crua, outros porque ela estava morta. Quando o
lanche ficou pronto quase todos saborearam o prato.
As embalagens utilizadas na receita, bem como as quantidades de
cada ingrediente compuseram um painel. Além disso, fizemos a
comparação da quantidade de sardinhas ingeridas por uma pessoa, em
uma refeição e os animais que também se alimentam deste ingrediente.
260
Tivemos também a presença de uma nutricionista, que nos falou
sobre as propriedades nutricionais da sardinha e seus benefícios à saúde.
Para comemorarmos o Dia dos pais, preparamos um sanduíche de
sardinha para oferecer a eles, que estariam na escola para um lanche
festivo. O sanduíche foi preparado e experimentado pelas crianças, com
os ingredientes trazidos por elas.
Divulgamos para as outras turmas da escola como era bom comer
sardinha e fizemos as receitas do livro para serem experimentadas pelos
outros colegas da escola. Depois cada criança levou um livro de receita
para sua família.

261
LÁPIS
Elda Terezinha da Silva
Jossemari Moreira
Lisiane Ceo lin Lima

O projeto “Lápis” apresenta uma proposta de ação para as


crianças do Maternal I, atendidas na EMEI Padre Zezinho. Ao chegarem
à escola, as crianças têm como rotina colocar as mochilas no lugar
designado para cada um. Naquele dia ao fazer isso, o Guilherme falou
que na sua mochila não tinha lápis, só o seu irmão tinha lápis na mochila.
Neste momento, outros colegas ouvindo a fala dele também
manifestaram opiniões semelhantes.
Para ampliar as informações que as crianças tinham sobre o lápis
foi organizada uma roda para observar, conversar e pensar sobre uma
caixa de lápis cor e de escrever colocados em cima da mesa. Surgiram
inúmeras colocações: Eu quero fazer letrinhas com o lápis., Eu vou
desenhar meu nome., Minha mãe pinta o olho com este lápis ((preto).,
Esse lápis é da cor da árvore. (verde), Vou pintar um avião.(lápis de
cor), Tem caminhão branco., Esse lápis é do Grêmio.(azul), Esse lápis é
do time do meu pai. (vermelho), Essa cor é do sol.(amarelo), Quero
desenhar bolinhas. (círculos). Percebemos então, o quanto este
momento foi interessante ao grupo e traçamos os objetivos para este
projeto envolvendo o lápis.
Com essas informações, o professor é o principal responsável
pelo planejamento das atividades que auxiliarão na investigação do
problema em questão no projeto. Nesta perspectiva, buscamos organizar

262
as ações pedagógicas considerando também as contribuições do nosso
referencial curricular ao mapear os percursos de trabalho.
A vontade das crianças em desenhar bolinhas permitiu que se
trabalhasse com formas geométricas e contagem de quantidades.
As várias citações a respeito de cores serviram de base para que
se aprofundasse a aprendizagem a cerca dos nomes das cores, sempre
associando a elementos conhecidos pelas crianças. Também trabalhamos
as músicas “Pequeno Girassol”, “Arco- íris”, “Aquarela“, “O lápis gira,
gira”, entre outras, com ênfase para as cores. Construímos um painel com
tinta, retratando a música Aquarela.
O uso social do lápis, fazer marcas e, mais especificamente, a
escrita, aliadas a vontade de escrever foram trabalhadas com a escrita dos
nomes dos alunos. Pesquisamos com os familiares a origem do nome de
cada criança e depois a família enviou um desenho para a escola.
Fizemos uma pesquisa sobre o lápis, sua utilidade e forma de
fabricação e após modelamos um lápis.
Para diversificar as fontes de pesquisa realizamos visita a uma
papelaria, a Papelarty. Lá, as crianças puderam ver a variedade de
materiais existentes. Observaram os diferentes tipos de lápis e suas cores,
as embalagens em que estavam acondicionados e a característica de cada
lápis, em relação a sua função: escrever, pintar. Conversamos sobre os
formatos, tamanhos, grossuras, quantidades nas caixas.
No retorno à escola confeccionamos lápis em EVA, palitos de
picolé e garrafas pet, que foram usados para contagem e classificação de
elementos de acordo com seus atributos.

263
As obras literárias também se fizeram presentes. Foram lidas para
as crianças: ”O lápis Mágico”, “De letra em letra”, “De todas as Cores”,
“ABC Curumim já sabe ler...”. Os alunos registraram as histórias com o
uso de diferentes lápis: giz de cera, lápis de cor, lápis de escrever.
Os materiais produzidos foram expostos para a comunidade
escolar e as crianças encenaram a música Aquarela, no dia em que houve
a exposição.

DE ONDE VEM O LEITE?


En ir dos Santos Tormes

O projeto “De onde vem o leite” aconteceu na EMEI Sonho


Encantado, na turma do Maternal I. Ele foi pensado a partir do interesse
das crianças em saber de onde vem o leite: Da teta da mãe? Da
mamadeira? Da vaca?.
264
Estas indagações estavam presentes durante a aula e nas
brincadeiras com as bonecas, trocando fraldas, dando comidinha, dando
mama no peito ou na mamadeira, além do fato de que algumas destas
crianças terem sido desmamadas durante esse ano. Muitas vezes os
comentários apareciam: Você tem teta prô?, A tua teta é grande!, Deixa
eu ver tua teta?, Tem mamá aí?, A minha mãe Grazi tem teta!, O pai
aperta a teta da mãe!, Eu tenho teta! (levantando a blusa e mostrando
seu peito, tanto meninos quanto meninas), A minha teta vai crescer?, Eu
mamava na teta da minha mãe!
Na turma também tinha crianças que conviviam com animais no
sítio de seus avós e traziam experiências vivenciadas com animais.
Quando brincavam com os amimais da fazenda ou da selva, sempre tinha
alguém que amarrava o pescoço da vaca e fazia de conta que ia tirar leite
e comentava: O bezerro mama na teta da vaca!, Dói a teta da vaca?,
Tiraram a canga do Nego!, O bebê da Rosquinha é o Granito!, Se tira
leite da vaca assim (mostravam com as mãos), A vaca faz: mu, mu, mu!,
Na vovó Juju tem a Nega, a Fia, a Vivi, a Rosquinha, a Tieta, o
Namorado e o Granito!, Eu tomo leite da vaca!, O leite da mamadeira é
comprado no mercado!.
Para dar início ao projeto foi realizado um levantamento de dados
sobre a amamentação das crianças, retirado de um questionário que os
pais responderam. Além disso, foi enviado um bilhete para informá- los
sobre o projeto que estaríamos desenvolvendo nos próximos dias.
Para sabermos da importância da amamentação e descobrir de onde
vem o leite que tomamos em diferentes momentos de nossa vida quando
bebê, criança e adultos, foram realizadas as seguintes atividades:
265
Convidamos uma enfermeira para ir até a nossa EMEI conversar
com a turma sobre a origem do leite que alimenta o bebê. Neste dia
olhamos e conversamos sobre as fotos trazidas pelas crianças sendo
amamentadas no peito ou na mamadeira, as quais foram posteriormente
colocadas no painel.
Quando a enfermeira chegou com seu uniforme branco carregando
uma caixa, a curiosidade das crianças foi aguçada, seus olhos voltaram-se
para ela concentrados, esperando-a falar. A enfermeira apresentou-se,
contando quem era e o que veio fazer na escola. Com auxílio de bonecas,
mostrou e falou sobre a importância da amamentação, quem produz leite,
o que acontece com o seio das meninas, quem amamenta e como
devemos segurar o bebê enquanto amamentamos.
As crianças tocaram e conheceram um seio de silicone, depois
brincaram com as bonecas dando mama nos seios confeccionados de
tecido. Tanto meninas quanto meninos exploraram e brincaram com os
seios levantando suas blusas e dando de mamar aos seus bebês, enquanto
teciam seus comentários: Eu mamei na teta da minha mãe!, A minha mãe
não tem mais leite na teta!, Eu não tenho mamá, eu sou menino!, Eu vou
dar a mamadeira para o nenê!, Não chora nenê, a mamãe dá leite,
colocando a boneca no peito.
De posse do levantamento de dados enviado pelos pais foi
confeccionado um cartaz: “Quando bebê mamei: no seio da mamãe ou na
mamadeira” (com desenho de uma mãe amamentando no seio e de uma
mamadeira). Cada criança marcava um xis no seu no me. Com estes
dados descobrimos que somente uma das crianças da turma foi
amamentado na mamadeira quando bebê e que as demais mamaram no
266
seio de sua mãe. Posteriormente cada criança colou a figura de uma
mamadeira ou um copo no cartaz com o título “Tomo leite”, onde havia a
possibilidade de copo ou mamadeira. Descobrimos que apenas duas
crianças tomavam leite somente no copo, algumas na mamadeira e quatro
tomavam em ambos; copo e mamadeira.
No decorrer do trabalho a turma também pintou com diferentes
materiais uma mamãe dando mamá ao seu bebê no seio e na mamadeira.
Convidamos a mãe do Guilherme e do Gabriel para amamentar seu
filho Eduardo na nossa sala de aula. Foi um momento em que as crianças
puderam ver e relembrar como eles mamavam. A mãe contou que o
Guilherme e o Gabriel experimentaram o leite do Eduardo e disseram
após provar: “Não gostei, é salgado!”. Enquanto olhávamos o Eduardo
mamar conversamos sobre quem produz leite, que meninos têm peito,
mas eles não crescem, que a mãe oferece os dois seios para o bebê e
porque as crianças da turma não precisavam mais mamar no seio.
Para explorarmos de onde vem o leite que alimenta as crianças e os
adultos levamos para a sala de aula um saco surpresa com vacas de
diferentes materiais e assistimos aos vídeos: De onde vem o leite? Da
Kika e do Doki e filhotes mamando. Cantamos músicas de vaca, ouvimos
as histórias: “Vaca Mimosa e a mosca Zenilda”, “Animais da fazenda”,
“As aventuras dos filhotes”, “A vaquinha Vera e a vaca Fofinha”, este
livro em formato de vaca, com pêlos, patas, rabo e ubre. Confeccionamos
junto com as crianças uma vaca de caixa de leite e EVA, pintaram o
desenho de uma vaca e brincamos de engolir a mosca Zenilda e soltá- la
com um pum (flatulência).

267
Para conhecer a vaca e ver uma ordenha, realizamos um passeio até
o sítio da assistente Ana. Lá no sítio, o sogro da assistente Ana realizou a
ordenha manual. A vaca estava comendo pasto amarrada no pescoço e no
rabo para não balançar e machucar as crianças. As crianças passaram a
mão no pelo da vaca e algumas experimentaram o leite tirado na hora.
Também aproveitaram pra fazer uma trilha até o rio, alimentaram os
peixes e as galinhas, viram e tocaram em um couro de vaca que estava
secando.
Realizamos com as crianças a compra e a degustação de alguns
produtos como: queijo, leite (soja, em pó, de caixinha e de saquinho),
leite com Nescau, iogurte e sorvete, para conhecerem alguns produtos
derivados do leite e sua importância em nossa alimentação. Depois a
turma fez um cartaz com os derivados do leite e tipos de leite colando
gravuras e rótulos dos produtos experimentados.
Todas as atividades realizadas foram preparando as crianças para o
“Dia Mágico”, onde a turma do Maternal I receberia a visita da fada e
fariam a troca de suas mamadeiras pelo copo. Co nversamos com as
crianças e enviamos um bilhete para os pais para que nos auxiliassem na
retirada da mamadeira.
Para envolvê- los no mundo de faz de conta, deixamos na sala
algumas coisas utilizadas pela fada para que brincassem, como a varinha
mágica, o chapéu e as asas da fada, com um bilhete que dizia o seguinte:
“Olá, crianças sou a fada Sininho. Estive fazendo uma visita para vocês
hoje, ao chegar à sala de aula não encontrei ninguém, por isso estou
deixando esta carta. Virei visitá- los novamente na quarta- feira e irei
trazer comigo um presente para vocês em troca de suas mamadeiras.
268
Vocês não são mais bebês e podem tomar o leite da vaquinha no copo.
Estou deixando com vocês a minha varinha mágica, cuidem bem dela, é
com ela que o faz de conta acontece, experimentem vocês irão gostar de
brincar com ela. Grande beijo, fada Sininho.”
Neste dia as crianças brincaram de fazer mágica transformando e
imitando vários animais. Falando “Pim piririm pim, pim, transforma o
(nome da criança) em (nome de um animal)” e encostavam a varinha na
cabeça do colega.
No dia marcado, na entrada da sala de aula, tinha uma mesa enfeitada
com o chapéu, uma varinha e vários tipos de fadas, além de copos
coloridos, aonde as crianças chegavam e colocavam sua mamadeira.
Neste dia e durante os dois próximos dias a professora Enir vestiu-se de
fada, brincou com as crianças e fez a troca da mamadeira pelo copo.
Conforme as crianças iam realizando a troca também ia colando a
gravura do copo no cartaz “Eu tomo leite” (no copo ou na mamadeira).
Das dezoito crianças da turma, quatorze realizaram a troca. Por ser final
do ano tínhamos crianças que já não estavam indo mais na aula.
Para comunicar e concluir o projeto, convidamos a turma do Pré I para
ir até a nossa sala de aula e com a ajuda das crianças, do painel de fotos,
dos trabalhos feitos e das histórias recontamos as aprendizagens
realizadas. Depois as turmas brincaram juntas com os bebês e os animais.
Montamos e passamos slides com fotos da turma sobre que
aprendemos com o projeto “De onde vem o leite?”:
- Que o leite que: alimenta o bebê vem do seio da mamãe; as
crianças e adultos tomam o que vem da vaca; o ubre da vaca não dói
quando ela é ordenhada; existe a ordenha manual e a mecânica; meninos
269
também têm peito, mas não crescem como o das meninas; as meninas
produzem leite quando crescem e têm bebê; compramos o leite tirado da
vaca no mercado; comemos produtos derivados do leite como: queijo,
iogurte e sorvete; não somos mais bebês, por isso já podemos tomar leite
no copo e não mais na mamadeira; alguns animais também mamam nas
suas mamães como os bebês.

OLHA O CAVALO!

Odete S. Palma
Talita M. Cu iawa
Ana Lúcia Kapczynski

Este projeto começou no mês de abril, numa tarde ensolarada


quando a turma do maternal estava brincando na quadra da escola e a
270
Vitória avistou um cavalo e disse: Olha o cavalo! . Os colegas correram
para ver o cavalo que estava amarrado no terreno ao lado da escola e
comentavam: É igual ao do dindo Alberto!, O teu dindo tem cavalo de
verdade?, Por que eles estão correndo?, Tem dois cavalos., Um é
branco o outro é de outra cor., Meu pai tem um cavalo que leva a
gaiota.,Por que o homem trouxe ele ali?
A partir das intervenções das crianças respondemos as perguntas
que surgiram, mas ao retornar para a sala de aula o assunto continuava
sendo o cavalo que estava amarrado ao lado da escola. Assim, demos
início aos encaminhamentos pedagógicos.
Na rodinha de conversa, mais afirmações e questionamentos
sobre o cavalo: Por que ele deita no chão com a barriga para cima e
ergue as patas?, Prô ele come grama?, Ele toma água?, Ele vai dormir
ali?
Por serem crianças do maternal decidimos começar pelas
brincadeiras em sala de aula, ou seja, imitar o que eles tinham visto lá
fora. As crianças revezavam-se ora sendo o cavalinho, ora o cavaleiro.
Seguimos as brincadeiras com confecção do tradicional cavalo de pau,
juntamente com as crianças. Fizemos uma corrida de cavalo de pau na
sala de aula, já que nesse dia o tempo estava chuvoso e não poderíamos
sair para o pátio. Os alunos brincaram muito com os cavalos e enquanto
brincavam comentavam: esse cavalo não come grama, ele não tem rabo.
Para dar conta da temática em questão, procuramos os livros da
escola e escolhemos a história "O cavalo Clóvis", que mostra os animais
na fazenda, onde se destaca o cavalo. Após a contação, as crianças

271
fizeram um desenho coletivo com giz de cera em papel pardo, que foi
colocado na parede para que eles pudessem desenhar o cavalo Clóvis.
Em outro dia, fomos ao pátio para ver o cavalo. Ao chegarem no
pátio, as crianças avistaram o cavalo amarrado como no primeiro dia.
Sabíamos que o pai de um aluno tinha um cavalo, que usava na
gaiota para recolher materiais recicláveis, pois essa é a sua profissão.
Sendo assim, resolvemos envolver as famílias para conhecer a profissão
de cada um dos seus membros. Enviamos um tema de casa com um
questionário para que escrevessem a respeito de suas profissões. Na roda
de conversa cada aluno falou sobre as profissões dos pais. Percebemos
que apenas em duas famílias da turma os pais tinham gaiota e cavalo.
Os alunos também observaram que o cavalo estava amarrado e
comendo grama. Então, conversamos com os alunos sobre os diferentes
tipos de alimentos que existem e os preferidos de cada pessoa e dos
animais, numa roda de conversa. Contamos a história "Os filhotes da
fazenda", extraída de um livro, com o auxilio de um cartaz e
demonstração de um cavalo de brinquedo. Esse brinquedo também
permitiu que as crianças explorassem as partes do corpo do ca valo,
comparando com o cavalo de verdade.
Considerando a motivação dos alunos em relação ao assunto,
confeccionamos um cavalo com dobradura de papel, cola e giz de
cera.Depois puderam brincar com suas produções.
Ao observarem o cavalo, as crianças perceberam que eles
corriam e brincavam. Por isso, colocamos, na quadra da escola, bambolês
para as crianças pularem, ora com um pé, ora com o outro, ora com os

272
dois pés juntos, depois alternando os movimentos. Também realizamos
atividades dirigidas imitando as brincadeiras dos cavalos.
Para encerrar assistimos ao filme "O cavalo selvagem" e
fizemos um diálogo sobre o habitat do cavalo, que foi mostrado no filme.

ARMÁRIO

Ana Paula Menegol


Eliane dos Santos
Mariane Oliveira Bica

Percebeu-se, na turma do Berçário, um grande interesse pelos


armários da sala de aula. Por serem de fácil acesso, presos à parede e sem
trancas nas portas, os alunos frequentemente abriam e fechavam as
portas, mexiam no que havia dentro, tentavam escalar suas divisórias e,
às vezes, escondiam-se dentro destes armários. Neste sentido,
273
compreendemos a necessidade de possibilitar oportunidades de
aprendizagens a partir deste interesse dos alunos: o armário.
Foi necessário coletar informações para realizar o projeto.
Primeiramente, encaminhamos um questionário às famílias com as
seguintes perguntas: As crianças gostam de brincar no armário em casa?
Qual o armário? Vocês permitem que as crianças mexam e entrem nos
armários? Também foi necessária a busca de materiais alternativos:
encarte de jornais, caixa de papelão, embalagens. E o livro Cadê
Clarisse? foi um importante aliado neste trabalho.
Para iniciarmos as atividades, permitimos que as crianças
explorassem os armários abrindo e fechando suas portas e principalmente
manipulando os objetos ali guardados.
No primeiro armário estavam cadeiras, rádio e aquecedor. Os
bebês não se interessaram pelas cadeiras nem pelo aquecedor, mas sim
pelo rádio: mexeram nos botões, esperando que o mesmo ligasse, porém
não aconteceu. Frustrados, entregaram o aparelho para a professora, que
“magicamente” ligou a música. Todos firam encantados e, agora com o
som ligado, puderam exploram o volume e as estações de rádio.
Já o segundo armário, onde há materiais de higiene pessoal, foi o
mais disputado pelos alunos, pois cheiraram todos os produtos e tentaram
passar no corpo (o perfume, ou o “xuxume” como fala a Rayane, o
xampu, o condicionador). Também pentearam os cabelos com os pentes e
escovas que encontraram. O papel higiênico não chamou a atenção. A
professora questionou o uso dos objetos com relação às partes do corpo,
os alunos relacionaram da seguinte forma demonstrando com ações:
xampu/cabelo, perfume/pescoço, papel higiênico/nariz (como ainda usam
274
fraldas, apesar de ser usado, não relacionaram a higiene íntima, mas ao
que veem e fazem como limpar o nariz).
O terceiro armário, que é o dos brinquedos, não chamou muito a
atenção. Por ser conhecido pelas crianças que sempre tiveram autonomia
de explorá- lo, abrindo a porta e retirando os brinquedos, este armário foi
logo descartado pelos alunos. A professora aproveitou o momento para
reforçar a importância de guardar os brinquedos, que é uma das
dificuldades da turma.
O quarto armário, onde guardamos panos de higiene e caixa da
literatura, chamou muita atenção. Alguns se encantaram pelos livros
folhando, observando as imagens e outros pelos panos - pediram “nenê”
para a professora que observou a ação: ao invés de limparem a boquinha
das bonecas – que é a ação da professora, as meninas cobrira m os
“nenês”, enrolando-os no paninho e nanando-os. Mesmo assim, a
professora questionou a função dos paninhos obtendo como resposta,
uma ação: o paninho na boca. Porém, o jogo simbólico de usar o paninho
como manta tornou-se mais interessante.
Por fim, havia dois armários que nunca eram explorados por
diferentes motivos, o armário da professora e o armário do lixo, por isso,
os alunos sentiam muito curiosidade e foi lhes permitido. O primeiro, o
armário da professora, gerou muita atenção, pois não é permitido que os
alunos mexam. Abriram as portas e primeiramente só observaram. A
professora incentivou os alunos a explorarem os objetos (cola, tesoura,
lápis, agendas, tintas, livros, materiais escolares em geral), quando
questionados sobre o que eram aqueles materiais, não sabiam nomeá- los,
apenas diziam “é da prô”. Neste sentido, a professora nomeou os objetos
275
e questionou para que serviam. Neste momento as crianças fizeram as
seguintes ações: tinta/abrir, tesoura/cortar a unha do pé. Os outros
materiais apenas foram manuseados e alguns postos na boca. O segundo
e último a ser explorando pelos alunos foi o do lixo. Este armário
provavelmente não seria aberto pelas crianças, pois é o armário da
“foudinha” e da “cacaca”. Quando aberto, reclamaram do cheiro. A
professora questionou o que havia ali dentro, o porquê do mau cheiro ao
que responderam “cocô”, “xixi” e “cacaca”.
Partindo desta situação, a professora organizou uma brincadeira
diferente: o ajudante da fralda. Durante a exploração dos armários, os
alunos não tiveram interesse pelo armário do lixo. Acredita-se que o
desinteresse acontece pelo cheiro desagradável e pela falta de autonomia
de por o lixo no lixo. Neste sentido, a professora propôs aos alunos o
“Ajudante da fralda”, que, todos os dias, seria um aluno que, ao usar o
babador do Ajudante da fralda, ficaria responsável por colocar as
“cacacas” que percebessem na sala, no lixo e também auxiliaria a
professora em determinados momentos com as fraldas sujas. A
professora pediu também que no momento de por a fralda no lixo,
colocassem uma luva. A luva chamou muito a atenção e todos queria usá-
la. A atividade rendeu frutos, pois todos agora compreendem a
importância daquele armário e adoram por o lixo no lixo.
A partir dos questionários que retornaram das famílias, a professora
percebeu que grande parte da turma interessava-se por variados tipos de
armários. Neste sentido, foi permitido que os alunos visitassem outros
espaços da escola além da sala de aula para que explorassem outros tipos
de armários.
276
O primeiro espaço visitado foi a cozinha. A professora levou os
alunos que ficaram fascinados com o lugar e, quando foi permitido que
abrissem os armários, ficaram extremamente encantados. Adoraram as
jarras com tampas, alguns temperos, panelas e utensílios em geral. A
cozinheira interagiu bastante com os alunos mostrando suas ações com os
objetos, brincaram de comidinha e de lavar a louça.
O segundo espaço visitado foi o da sala de atividades múltiplas. No
armário desta sala são guardadas roupas, fantasias e o som grande da
escola. Ao explorarem, tentaram vestir as roupas, mas o que mais
chamou a atenção foram as fantasias, principalmente da bruxa e da fada.
O som impressionou pela potência maior que o da sala. Neste momento,
exploram o volume e também dançaram muito empolgados.
Para que as crianças pudessem compartilhar ainda mais seus
conhecimentos, a professora entregou encartes de lojas de móveis para os
alunos. Pediu que encontrassem armários de cozinha, banheiro e quarto.
Os alunos tiveram um pouco de dificuldade, porém alguns apontaram
armários, principalmente os de cozinha. Neste momento a professora
recortou os armários identificados para a construção de réplicas e,
posteriormente, montar uma casinha de bonecas.
Com uma casinha de bonecas os alunos identificaram onde ficava
cada cômodo (sala, cozinha, banheiro, quarto). Depois, colocaram os
armários recortados nos encartes de lojas em seus respectivos cômodos.
Os alunos tiveram muita dificuldade em localizar os cômodos, apenas
alguns conseguiram identificar. Depois a professora permitiu que os
alunos brincassem com a casinha, armários e bonecas, possibilitando a
exploração do jogo simbólico.
277
Dando continuidade ao projeto, os alunos puderam realizar
seriação e classificação. Para esta atividade, antes dos alunos chegarem à
escola, a professora retirou todos os materiais dos armários espalhando-
os no chão. Considerando que os alunos já haviam explorado os
armários, a professora pediu que fizessem a seriação dos materiais,
guardando-os em seus devidos lugares. Os alunos tiveram um pouco de
dificuldade de entender a atividade, mas, quando viram a colega Natália
guardar o lixo, compreenderam o que deveriam fazer. O que chamou
atenção nesta atividade foi o espírito de coleguismo da turma, pois
quando algo era pesado, ajudavam o colega a carregar e quando alguém
errava o lugar do objeto, outro colega o advertia. Por fim, todos os
objetos foram guardados em seus respectivos armários.
Brincar de esconde-esconde dentro dos armários para que os outros
colegas encontrassem, foi muito apreciado pelos alunos e eles se
divertiram bastante. Alguns esperavam serem achados, outros saíam
antes. Nenhum teve medo de entrar, pelo contrário, achavam muito
engraçado. Também perceberam algumas questões de espaços e
tamanhos, pois em alguns armários cabia só uma criança e em outros,
duas. A professora questionou se ela caberia em algum armário, tentando
entrar. As crianças acharam engraçado e perceberam que a professora
não cabia em nenhum armário.
Uma das atividades mais curiosas do projeto foi o desafio do armário.
Primeiramente, a professora mostrou um punhado de balas para os
alunos. Porém, colocou as balas em uma prateleira alta de um dos
armários da sala que fica fora do alcance das crianças. Contudo, antes
disso, posicionou uma cadeira próxima ao armário e pediu para que os
278
alunos pegassem as balas. A primeira reação foi pedir para que a
professora buscasse as balas, entretanto ela disse que eles mesmos
deveriam pegá- las. A segunda tentativa foi em dupla, a aluna Rayane
tentou erguer o colega Vitor, porém a estratégia não teve sucesso. A
terceira tentativa foi com a aluna Natália que tentou escalar o armário,
mas não conseguiu. Neste momento, a aluna Rayane percebeu a cadeira,
puxou-a, posicionou na frente do armário e subiu, alcança ndo as balas.
Surpreendentemente, desceu da cadeira e dividiu as balas prontamente
com os colegas.
A história Cadê Clarisse? proporcionou um rico momento de
interlocução. A professora fez a leitura da história e depois conversou
com os alunos sobre onde a menina se escondia, em que ela mexia e se
existiam aqueles lugares na sala. Os alunos apontaram a mesa, o rádio e o
armário.
Por fim, construímos o armário da turma. A professora pediu para as
famílias trazerem para a escola um objeto que os alunos gostavam de
manusear ao abrir os armários de casa. Vieram diversos objetos: potes de
plástico, desodorante, panela, copo de plástico e uma lata de milho.
Porém, não havia nenhum armário vazio na sala para guardar os objetos.
Então, a turma construiu um de papelão. Com a ajuda da professora,
pintaram com tinta guache uma caixa de papelão. Este momento foi
divertido para os alunos e tumultuoso para professora, que em vários
momentos teve que intervir para que os alunos não colocassem a tinta no
olho e na boca. No outro dia, os alunos puderam guardar seus objetos
dentro do armário. Este ficou à disposição das crianças para que
pudessem mexer e brincar com os objetos quando quisessem.
279
Ao término do projeto, percebeu-se que as atividades com os
armários foram de grande valia, pois além das crianças divertirem-se e
explorarem sua curiosidade, também aprenderam muito. Construímos
uma cartilha para ser distribuída na comunidade a partir de uma
campanha: “Brincar no armário é legal”. Nesta cartilha constam todas as
aprendizagens que um bebê terá ao brincar com armários e objetos que
ali ficam guardados. Também, consta algumas atividades e fotos feitas
durante o projeto. Além da comunidade escolar, as cartilhas foram
distribuídas em locais da cidade onde educadores, pais e crianças
frequentam.
Acreditamos que é a partir da brincadeira e da interação com o
meio que as crianças aprendem e desenvolvem suas potencialidades
cognitivas, afetivas, sociais e motoras. Para tanto, a família e os
educadores devem oportunizar estes momentos de aprendizagem aos
bebês. Portanto, brincar com os armários, abrindo e fechando as portas,
manuseando, retirando e colocando nos devidos lugares os objetos,
brincando de esconde-esconde, desafiando-se a alcançar, é uma atividade
lúdica, prazerosa e estimulante para a criança.

280
COMO NASCE O FEIJÃO?
Tamara Pinto Possebom

O projeto “Como nasce um feijão”, foi desenvolvido na EMEI


Padre Pergentino Dalmagro nas turmas de pré-escola, a partir de uma
atividade com as mãos. Numa caixa surpresa, dentre diferentes objetos,
havia o feijão. Depois de tocá- lo, um dos alunos perguntou: “Como
nasce um feijão?”, o que acabou inquietando os demais, que aos poucos,
iam acrescentando afirmações e mais questionamentos: “Ele vem em uma
cápsula verde, quando ela fica velha ele sai dela”, “ O feijão é uma
árvore?”, “Ele é preto”, “O caminhão trás o feijão até o mercado.”.
Compreendemos que as experiências vivenciadas durante os
projetos na educação infantil são de grande relevância, de acordo com
281
isso, foram organizadas e selecionadas atividades que pudessem
contribuir para tal desenvolvimento.
Como atividade inicial, fizemos a plantação de feijão, que teve o
acompanhamento diário de sua germinação. As crianças diziam: “Será
que ele vai crescer?”, “Como que vai ficar?”,“Que tamanho ficará?”. O
tempo... a espera... dois dias já haviam se passado e nada! No 3º dia,
uma grande surpresa: “Ele brotou?”,“Olha! Ele já está nascendo !”.
Nesse momento os alunos ficaram vidrados nos copinhos com feijão,
cada pessoa que entrasse na sala, precisa ver os feijõezinhos crescendo.
As histórias “A sementinha” e “João e o pé de feijão”, dera m
sequência ao trabalho.
As famílias receberam um questionário e, assim, co laborara m
com informações a respeito do tema. Um cartaz foi confeccionado com
os diferentes tipos de feijão (qualidade), com o objetivo de mostrar e
familiarizar as crianças sobre a diversidade de feijões que existem. Foi
salientado, pelos pais, que o preto, o branco e o vermelho são os mais
conhecidos. Trabalhamos então, com alguns outros tipos, como o carioca,
o formiga e o feijão amendoim.
Outra atividade trabalhada foi a preparação do bolo de feijão, co m
a ajuda de todos os alunos, uma vez que as famílias disseram
desconhecer esse prato em suas respostas ao questionário. Também
encontramos mais opções de receitas que contém o feijão e trabalhamos
como forma de diversificar o cardápio e manter uma alimentação
saudável.
Visitamos um supermercado, onde as crianças puderam fazer a
identificação e localização do feijão nas gôndolas, sua diversificação e
282
organização. A partir daí, pesquisamos também sobre como o feijão
chega até o mercado, de onde ele vem, e como vai parar no pacotinho. Na
volta da visita, fizemos um “mercadinho” na sala de aula, com a
construção dos produtos, a escrita de seus nomes, os preços e a
organização do nosso ambiente.
Tivemos uma palestra com um agricultor, que nos explicou como
ocorre a plantação do feijão, que partes têm essa planta, de como é a
vagem (a dita cápsula). E a dúvida maior: será que quando o feijão
crescer ficará do tamanho de uma árvore? Ainda aprendemos a
importância da chuva e do sol para a germinação e desenvolvimento do
grão.
O gosto e o cheiro do feijão foram apreciados a partir da
observação de seu cozimento. Para finalizar, foi feita a degustação do
feijão, da sopa de feijão e do revirado.

283
BICHO ESQUISITO
Serlei de Rigo da Silva
Terezinha Zílio
Ana Paula Cadore

Em um dia chuvoso, para surpresa das crianças do berçário, atrás


da caixa de brinquedos havia uma perereca e na porta do banheiro havia
outra. As crianças logo comentaram: Ela morde prô Sirlei? Que bicho é
esse?
Dias depois apareceu um grilo na cesta de brinquedos: Prô! Prô !
Olha uma formiga grande! Não é um grilo. Ele morde?. Em outra
oportunidade próxima, quando estavam no solário, viram uma abelha. A
partir daí surgiu o projeto.
Ao perceber a expectativa das crianças em relação aos animais,
mostramos, através de imagens e vídeos, esses animais, para que as
crianças pudessem observar.
Pais e professores pesquisaram sobre onde e como vivem estes
animais. Construímos então um terrário, simulando o ambiente natural do
grilo. Foi colocada uma camada de pedra, uma de terra adubada, um
pouco de carvão vegetal para evitar a proliferação de microrganismos,
plantas, pedaços de pau, o grilo e, além disso, animais como minhocas e
cascudinhos. Após montado o terrário, junto com as crianças, cuidamos e
observamos tudo o que acontecia nele.
Colmeias vazias foram levadas até as crianças e uma réplica fo i
montada em caixa de papelão, na qual as crianças puderam brincar. Além
disso, foram montados móbiles de abelhas.

284
Também construímos réplicas de ranários, com garrafas pet, para
a perereca de verdade, que foi alimentada durante alguns dias com
insetos, já que este foi o bichinho que mais chamou a atenção das
crianças. Eles fizeram desenhos e pinturas. Brincaram bastante com uma
perereca de pelúcia.
Ao final do projeto a perereca de pelúcia acabou tornando-se
mascote da turma, sendo companheira para diversas brincadeiras e até
mesmo na hora do sono das crianças.

PRÁ ONDE VAI O DENTE VELHO?


Dirce Anelise Dorst

Numa manhã de segunda-feira, na turma do maternal II, uma


aluna chegou à escola contando que não viera na semana anterior, porque
estava com dor de dente e o dentista havia tirado seu dentinho. Nesse

285
momento, os outros alunos também desejaram contar suas experiências
com o assunto: Prô, eu também já fui no dentista, ele botô massinha; Eu
fui porque eu tinha cárie. E a maioria das crianças falou que ainda não
tinham ido ao dentista.
A partir dessas colocações provocamos os alunos com duas
atividades: a observação e identificação de diversas imagens sobre
higiene bucal e leitura visual de histórias.
Na manhã seguinte foram exibidas, na televisão, algumas fotos
da internet para esclarecer melhor as falas feitas pelas crianças. Elas
estavam maravilhadas com a exposição; era uma aula diferente, pois a
professora manuseava o notebook e a foto aparecia na televisão. A cada
nova imagem que aparecia, novas falas surgiam: O dentinho novo
empurra o velho; Pra onde vai o dente velho? Essas afirmações
chamaram a atenção das crianças. A fadinha recolhe o dente que cai. E
continuaram a falar: Colocar o dentinho embaixo do travesseiro, pra
fadinha vim buscar; Colocar num copo com água, pra levar prô dentista;
Vai prô lixo!; O dentinho novo é um bebê?; O dente nasce na barriga.
Na rodinha, distribuímos os livrinhos da coleção “Festa dos
Dentinhos”. As histórias da coleção eram as seguintes: “A Amiga
Escovita”, “O Super Fio Dental”, “O Amigo da Onça”, “A Balinha
Sapeca”, “Nasce um novo dentinho”. As crianças olharam, observaram e
comentaram apenas o que estavam vendo, ou seja, fizeram uma leitura
visual e alguns comentários. Conforme relatavam, era feito o registro das
falas. E a dúvida de “Pra onde vai o dente velho?” persistia.
No intuito de manter as famílias informadas sobre o projeto
surgiu a ideia de confeccionar uma lembrancinha referente ao projeto.
286
Cada criança saiu da escola com uma tiara de dente e escova. Além da
lembrancinha, foram mandados também bilhetes às famílias, explicando
a importância da participação e frequência das crianças para a realização
deste projeto, junto com um questionário onde as famílias poderiam
colaborar enviando informações pertinentes.
As crianças ajudaram a analisar as repostas e observamos que a
maioria das famílias não costumava levar as crianças ao dentista para
fazer avaliação, ou até mesmo tirar dúvidas sobre o nascimento dos
dentes de leite e higienização, que são cuidados básicos para a saúde dos
dentes.
Foi importante trabalhar com as crianças uma cantiga sobre
saúde bucal, frisando que quem escova os dentes direitinho previne-se de
doenças e garante a saúde bucal. Fizemos uma demonstração de como
escovar os dentinhos.
A música foi escrita dentro do desenho de um dente, que as
crianças contornaram colando barbante e fazendo de conta que estariam
passando o fio dental. Colaram o barbante ludicamente. Depois de cantar,
fazer algumas demonstrações de higiene e trabalhar com colagem, seria
indispensável conhecer mais sobre nossa boca, atividade que foi
realizada no dia seguinte.
Nesta atividade, conversamos sobre nossa boca e todos mostraram
que tinham dente e língua. As crianças falaram que os dentes serviam
para mastigar a comida e a língua servia para falar. Depois da conversa,
as crianças ganharam o desenho da boca para p intar. Logo perceberam
que não tinha os dentes e os desenharam.

287
No próximo momento foi realizada uma atividade seguindo os
passos para ter um “Sorriso saudável”. Primeiramente foram distribuídas
várias revistas e solicitado às crianças que observassem as pessoas
sorrindo e como eram seus dentes. Enfim, conversamos sobre o quanto é
legal dar um sorriso com os dentes branquinhos e brilhantes. Foram
distribuídos os desenhos para que pintassem: o dentista, a escova, o fio
dental, o creme dental e nosso inimigo que é a cárie.
Dando sequência, as crianças receberam um desenho de um dente,
em sulfite 60, para colarem as letras que compõem a palavra dente,
semelhante à brincadeira da forca. Depois, com o auxilio da professora,
montaram um móbile com papel color set. O móbile foi levado para casa.
Usando fantoches, para fazer algumas demonstrações,
conversamos sobre como deixar nossa boca e nossos dentes mais bonitos,
sendo que para isso precisávamos conhecer alguns cuidados que devemos
ter com nossos dentes: a higiene e o material necessário para tal.
Trabalhamos com os personagens; “Boquinha e Bocão; Superescova, Fio
Dental e Creme Dental”. As crianças brincaram de fazer a higiene bucal
usando os personagens.
A partir das demonstrações realizadas com os fantoches fo i
necessário dar continuidade aos trabalhos, agora com os alimentos, pa ra
descobrirmos o que é e o que não saudável para os dentes.
Observamos embalagens de alimentos expostas sobre a mesa e
fizemos um painel com alimentos saudáveis e não saudáveis.
Feito o painel, foi organizado um mini-álbum em forma de dente
com figuras recortadas de encartes de mercado. Numa página do álbum
pintaram a cárie do dente, na qual foram coladas as figuras dos alimentos
288
não saudáveis. Depois fizeram os dentes sadios e os alimentos que
contribuem para isso.
Planejamos uma visita de dentistas na escola para perguntar “Prá
onde vai o dente velho?”. Contamos então, com o apoio do “Projeto
Sorria Passo Fundo”, da Secretaria Municipal de Saúde, tendo por
finalidade conversar com as crianças sobre higiene bucal e suas demais
curiosidades. Este grupo de dentistas visita as escolas e conversa com as
crianças sobre higiene bucal, cuidados básicos e prevenção da cárie.
Além disso, fazem teatros explorando o mundo imaginário da criança
através de contos de fadas.
No momento em que os profissionais chegaram à sala do
maternal II, observaram as atividades expostas na parede da sala. As
crianças os recepcionaram cantando a música da “saúde bucal”. Os
dentistas começaram a conversar com as crianças a partir do que viram
na sala, até que chegou a derradeira pergunta “Você sabe pra onde vai o
dente velho?”. Os dentistas explicaram que ele pode ir para vários
lugares, menos para o lixo. O dente velho pode ir para debaixo do
travesseiro, ser guardado, virar um adorno. Eles ainda reforçaram muitas
coisas que já havíamos estudado como: escovar os dentes pelo menos três
vezes ao dia, que as crianças pequenas têm 20 dentes na boca, que mais
adiante terão mais dentinhos e que os dentes de trás servem para mastigar
bem os alimentos. A equipe do “Projeto Sorria Passo Fundo” apresentou
um teatro às crianças. Concluída a apresentação, os dentistas distribuíram
escovas para todos.
Para enriquecer ainda mais o aprendizado das crianças,
realizamos também um passeio à UPF, no curso de odontologia. Ao
289
chegarmos fomos muito bem recepcionados pelo Dr. Lagão e, enquanto
aguardávamos a Dra. Cristina, descobrimos que aquele era o lugar onde
as pessoas iam estudar para ser dentista. Enquanto caminhávamos pelas
dependências da odontologia, passamos por uma sala fechada, com
parede de vidro. A dentista nos disse que era a sala onde a fada guardava
fotos, instrumentos antigos, a cadeira do tempo da vovó/bisavó e que
tinha ali alguns dentes velhos guardados para os estudantes fazerem seus
temas.
Seguimos em direção ao laboratório onde eram guardados os
dentes velhos para estudo, a dentista foi falando, que iríamos conhecer
onde a fada trabalha. Ela contou que naquela sala linda tinha o
laboratório da fada onde havia uma gelad eira para guardar todos os
dentinhos que a fada buscava na casa das crianças, mostrou também, as
fotos que a fada tirava dos dentes, o Raio X, que mostra se o dente tem
cárie ou não.
Fomos então, para os gabinetes pediátricos e as crianças
puderam manusear a cabeça de um boneco e ver os dentes em sua boca.
De repente a dentista recebe um telefonema. Era a fada dizendo que
havia deixado um presente para as crianças: escovas de dente e livrinhos.
Durante a visita conhecemos vários laboratórios, inclusive a Clínica do
Bebê.
Para concluir o trabalho, a escola informou às famílias sobre o
possível agendamento de uma avaliação na odontologia pediátrica da
UPF, via escola, para o mês de setembro, o que teve uma procura
significativa.

290
A PINHA DO PINHÃO
Vanessa da Veiga Mendes

O Projeto “A Pinha do Pinhão” desenvolvida na turma de Pré II


da manhã, que é constituída de 19 alunos entre 5 e 6 anos de idade, teve
inicio no começo do mês de junho, quando a Professora Marinês me
falou que havia ido visitar alguns parentes em Vacaria para pegar pinhão.
Sabendo que eu gostava muito de pinhão, trouxera uma pinha para me
presentear. Peguei a sacola e fui para a sala de aula e, mal havia
terminado de espiá- la, uma das crianças curiosíssima gritou: Prô, que é
isso? Eu, antes de responder, questionei: Quem já viu uma coisa dessas?
O que vocês acham que é? Bom, a partir daí, foram muitos os
291
questionamentos e hipóteses levantadas: É um abacaxi!. É uma
moranga!, É uma pinha, tem lá em casa!, Meu avô faz pinha para mim.,
Minha mãe abre a pinha jogando ela no chão, até ela rachar, daí
espalha tudo., Para abrir tem que descascar com a faca., Tem que
cozinhar o pinhão para comer., As falhas minha mãe joga fora, não dá
para comer., Meu pai cata pinhão no mato., Tem espinho, a prô espinhou
o dedo!
Depois das primeiras curiosidades das crianças, iniciamos a
construção da rede que estruturaria o projeto. Após essas primeiras
considerações fui em busca de mais informações sobre a pinha, pois
percebi que eles trocavam experiências sobre o que já sabiam da pinha e
que alguns nunca haviam visto os pinhões daquela maneira.
A fonte de consulta inicial foi a internet, com o computador na
sala pesquisamos juntos a respeito desta semente tão curiosa e saborosa.
Uma das descobertas foi que antigamente o pinhão era alimento
dos índios, por ser muito nutritivo. Também descobrimos que serve ainda
de alimento para muitos animais, uma ave em especial, a gralha azul, que
esconde o pinhão sobre a terra fazendo com que esta planta seja semeada.
As crianças ficaram muito admiradas com a informação imaginando o
pássaro escondendo as sementes na terra.
Vimos que as pinhas vêm de uma árvore conhecida como
Araucária com um formato diferenciado e único e descobrimos que,
infelizmente, ela está em extinção porque sua madeira foi muito
explorada e muitas árvores foram cortadas. Por este motivo atualmente
ela está sob proteção ambiental e é proibido seu corte.

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A Araucária Angustifolia, seu nome científico, é uma árvore
muito importante, pode-se dizer que tudo nela é aproveitável, desde a
amêndoa, no interior dos pinhões, até a resina que, destilada fornece
alcatrão, óleos diversos, terebintina e breu, para variados usos industriais.
Através do desenho registramos o formato desta magnífica
árvore. E ainda realizamos uma moldura com as “falhas” da pinha para
confecção da Araucária com sucata.
Muitos outros questionamentos e curiosidades a respeito da
pinha surgiram: Como se planta?, Quanto tempo ela demora a crescer?,
Quais animais se alimentam dela?. Resolvemos então procurar auxílio
com profissionais da agronomia.
Marcamos a visita com o diretor da faculdade de agronomia e
veterinária da Universidade de Passo Fundo. Ao chegarmos, fomos muito
bem recebidos e encaminhados para uma sala onde um professor nos
explicou muitas coisas que ainda não tínhamos conhecimento. Ente elas
que existe a Araucária fêmea e a macho e somente na fêmea que se
formam as pinhas, mas sem o macho isso não seria possível. As crianças
contribuíram com as informações que pesquisamos na internet e o
professor se impressionou pelo interesse e conhecimento prévio das
crianças. As crianças comentaram que já haviam realizado uma pesquisa
na internet e descobriram que os índios comiam pinhão também.
Ele explicou sobre o plantio, que se deve colocar o pinhão em
num recipiente com um pouco de terra e sua ponta inclinada para baixo
até ele brotar e depois transferir o broto para um ambiente maior, ou seja,
o transplante definitivo. Comentou ainda sobre o ciclo de vida da
araucária e o tempo que demora do plantio até a formação da pinha. Tudo
293
isso deixava as crianças cada vez mais interessadas e maravilhadas com
os novos conhecimentos a respeito da pinha.
Fomos à estufa onde as araucárias “bebês” ficam. Lá os alunos
puderam observá- las prontas para serem transferidas para um ambiente
definitivo.
De volta para a escola, sentamos na roda de conversa e
refletimos sobre tudo que havíamos aprendido em nossa visita ao
CEPAGRO. Foi quando resolvi abrir uma pinha, tivemos uma grande
surpresa: havia visitantes morando dentro dela. E agora, o que é isso?
Pesquisando a respeito dos animais que se alimentavam do nosso
objeto de estudo descobrimos que essa lagartinha vive nas pinhas e
também é alimento para outros animais, como as aves. Eles queriam
saber muitas coisas a respeito dessas lagartinhas: Será que é a mamãe e o
papai?, Será que elas vão virar borboletas?
Quanto a estas perguntas ficamos mais na imaginação e
colocamos as lagartinhas num pote e observamos que elas morreram e
não viraram borboletas.
Depois de abrir a pinha e fazer nossa descoberta, as crianças
perceberam que havia mais “falhas” do que pinhões. Mas por quê?
Reportamo-nos aos conhecimentos construídos e lembramos que as
“falhas” serviam para proteger o pinhão, para que ele se desenvolvesse.
As falhas e os pinhões nos permitiram explorar noções de quantidade,
pois logo as crianças queriam saber o que tinha mais e se tinham o
mesmo peso. Foi então que fizemos a pesagem do pinhão e das falhas e
da própria pinha também. Havia 750g de pinhões e 450g de falhas. Ao
comparar as quantidades percebemos que havia mais falhas do que
294
pinhões. Neste momento eles entenderam o porquê da diferença do peso,
pois os pinhões têm a semente dentro e as falhas são vazias.
Mas o que fazer com os pinhões que havia na pinha?
Aproveitando que estávamos em época de festas juninas, cozinhei os
pinhões para eles degustarem. Eles adoraram a ideia, mas alguns não
quiseram experimentar. Perguntei então o que mais poderíamos fazer
com o pinhão e se alguém já havia experimentado o pinhão e m alguma
receita que a mamãe faz em casa. Assim, pedi para que as famílias
enviassem para a escola alguma receita com nosso objeto de estudo, o
pinhão, integrando os pais a nossa pesquisa.
Das receitas encaminhadas pelas famílias escolhemos a mais
acessível para ser realizada: bolo de pinhão. Separamos os ingredientes,
observamos suas quantidades, fizemos a massa e logo após colocamos o
bolo no forno. A seguir, fomos para sala de aula fazer os registros,
escrevendo a receita no caderno. Após o bolo estar pronto eles
saborearam e, assim como ao experimentar o pinhão, alguns não
quiseram provar, mas a maioria aprovou a receita e pediu repetição.
Depois das crianças contarem em casa o que aprenderam, pedi
aos pais que mandassem uma caixa de leite com terra para fazermos o
plantio do pinhão. Explicamos que esse processo demora e por isso
precisamos dos cuidados dos familiares das crianças. Ressaltamos que
somente depois que o pinhão germinar e estiver com uns 30 cm, eles
deveriam retornar para escola onde realizaríamos o plantio definitivo.
Após as pesquisas as crianças não somente conheceram a pinha,
mas todo o processo de crescimento da araucária, árvore que dá origem à

295
pinha, como também os animais que se alimentam dela, um pouco de sua
história ao longo dos tempos e o porquê da sua quase extinção.

COMIDINHAS GOSTOSAS
Alessandra Zanella Rosso

O projeto teve como temática “Comidinhas Gostosas”, para que


as crianças do berçário se identificassem com a linguagem trabalhada.
No início do trabalho foram enviados questionários para as
famílias dos alunos, buscando respostas em relação às frutas e outros
alimentos saudáveis que as crianças consomem em casa.
Os alunos conheceram o Senhor Abacaxi, um boneco com corpo
de pano e cabeça de abacaxi, que foi o amigo da turma, no caso, quem
apresentou as hortaliças para eles. Ele trouxe sua sacola ecológica e
dentro dela uma surpresa. As crianças ficaram assustadas e a primeira
296
reação foi de medo, não queriam colocar a mãozinha para tocar a
surpresa. Alguns alunos foram corajosos e colocaram a mão, então
perceberam que espetava e era consistente. O Senhor Abacaxi trouxe um
abacaxi para dividir entre todos. As crianças tocaram, cheiraram,
observaram. O mascote visitou as casas dos alunos e ao voltar, sempre
trazia consigo receitas registradas pelas famílias, as quais eram
selecionadas e realizadas em sala de aula. As crianças também traziam
outras frutas para partilhar com a turma.
Os elementos verduras, legumes e frutas, foram trabalhados um
de cada vez, aprofundando-os, de forma que fossem estabelecidas com
clareza as texturas, os cheiros, as cores, os sabores. As crianças
participaram de culinárias desenvolvidas em sala de aula, tais como:
sucos, vitaminas, saladas, sanduiches, salada de frutas. Sempre que
realizaram alguma receita com hortaliças, as cascas (quando não
utilizadas) eram levadas ao minhocário da escola. O que despertava
muito o interesse das crianças, pois elas sempre queriam procurar as
minhocas, saber se elas estavam gostando ou se comiam realmente as
cascas.
Os alunos realizaram uma visita à fruteira mais próxima e a
reproduziram em sala de aula com uma tenda de TNT. Durante a visita
eles fizeram muitas perguntas à funcionária do estabelecimento.
Perguntaram se as verduras, legumes e frutas nasciam ali, como elas
chegavam até a fruteira. Queriam saber, também, sobre os nomes de
alguns alimentos que ainda não conheciam. A partir da visita perceberam
que as hortaliças não nasciam e nem cresciam na fruteira, eram apenas

297
comercializadas ali. Eram plantadas em hortas e pomares e chegavam até
a fruteira de caminhão.
Sendo assim, plantar na horta da escola foi muito interessante.
Como estava próximo da Páscoa, as crianças plantaram cenoura. E para
cultivar árvores frutíferas, foram plantados pés de Araçá no pátio da
escola. As plantações chamaram a atenção dos demais estudantes da
escola, que foram assistir e prestigiar o plantio realizado pela turma do
Berçário II.
As crianças estavam ansiosas para comer as cenouras que
plantaram e devido à faixa etária, não tinham muita noção de tempo,
perguntando todos os dias se as cenouras já estavam grandes. Pensando
em trabalhar um pouco a noção de tempo, foram feitos bonecos de alpiste
com meias de nylon. Os alunos, com auxilio da professora e da
assistente, colocaram alpiste e terra dentro da meia de nylon, depois
desenharam com canetas de tecido os rostos de seus pequenos mascotes.
Todos os dias as crianças regavam seus bonecos e percebiam que a cada
dia os cabelos cresciam mais e desta forma também a cenoura ia
crescendo na horta, mas embaixo da terra, sem que eles pudessem ver.
Organizamos um piquenique natural, com suco produzido pelos
alunos e frutas picadas que eles trouxeram de casa dentro de suas sacolas
ecológicas. Estas sacolas haviam sido customizadas pelos alunos, com
tintas de tecido, em momentos anteriores. A sacola foi levada para casa,
para que pudessem utilizá- la para irem com os familiares ao mercado e
também para trazer frutas para a escola; criou-se assim um hábito
saudável.

298
As crianças leram e manusearam livros como: “Frutinhas
amigas”, “O Sanduíche da Maricota”, “A cesta da Maricota” e “Camilão,
o Comilão”. Algumas histórias foram apresentadas numa televisão de
material alternativo. As histórias foram registradas com materiais
diversos, como giz molhado, lápis de cera queimado na vela, papel
crepom molhado, tintas naturais e tintas de tecido.
Ao perceberem que os legumes e verduras podiam liberar tintas
naturais, como a beterraba libera a cor rosa, a cenoura libera a cor laranja
e o espinafre libera a cor verde, as crianças ficaram encantadas. Foram
construídos, com as crianças, painéis de tintas naturais que foram
expostos no corredor da escola, valorizando ainda mais o trabalho dos
alunos.
Como culminância, as mães foram convidadas a realizar uma
sopa com seus filhos, cuja finalidade era verificar os resultados do
projeto e também comemorar o Dia das Mães.

299
NÃO GOSTO DE CARNE DE GALINHA, SÓ DE CAVALO, TEM?
Danielli Godinho Jury
Eno ir Santana
Jucilene Lodi Pasqualoto
Mauren da Silva Annes

O tema do nosso projeto surgiu a partir do comentário - Não gosto


de carne de galinha, só de cavalo, tem?, de uma aluna do berçário
durante o segundo lanche. A professora perguntou para a criança se ela já
300
havia experimentado carne de cavalo, ao que ela concordou fa zendo sinal
afirmativo com a cabeça. Foi neste momento que consideramos
pertinente desenvolver um projeto que abordasse a alimentação fazendo
reflexões a cerca do comentário da criança.
Assim, coletamos informações com familiares, consultamos
diferentes fontes como: Referencial Curricular da Educação Infantil,
material da formação continuada, pesquisas bibliográficas, internet, CDs,
DVDs, livros de literatura infantil, fizemos passeios na Universidade de
Passo Fundo (Faculdade de Nutrição), Brigada Militar e CONVIDAS.
Proporcionamos palestra com nutricionista e momentos de conversa com
os pais. Exploramos diferentes materiais, confeccionamos painéis com
desenhos, pintura, dobradura, colagem e construímos um livro da turma
referente ao tema. Realizou-se exploração e experimentação de diferentes
tipos de alimentos, oportunizando assim experiências concretas. No
decorrer do processo cada criança e sua família buscaram meios de
contribuir com o desenvolvimento do projeto, de certa forma,
direcionando os questionamentos, as falas de cada criança e auxiliando
de forma efetiva na resolução das hipóteses e problemas que surgiram
durante o projeto.
Todas as informações coletadas foram vivenciadas,
experienciadas e registradas ludicamente, tornando-se novas fontes de
consulta.
A proposta inicial deste projeto foi trabalhar a alimentação com
ênfase nos diferentes tipos de carne para o consumo humano, bem como
a importância de uma alimentação saudável. Diariamente podíamos estar
observando as aprendizagens realizadas pelas crianças, principalmente
301
nos momentos de alimentação, na percepção de como a criança está ou
não aceitando os alimentos oferecidos.
Os trabalhos foram expostos na escola para apreciação dos
alunos, pais e comunidade e no Seminário Municipal da Educação
Infantil.

SÃO ÍNDIOS, PRÔ?

Dirce Anelise Dorst Nienow


Vanessa da Veiga

O projeto “São índios, Prô?” foi desenvolvido com duas turmas


de Pré II constituídas por alunos entre 5 e 6 anos. Inicialmente as
professoras planejaram uma aula diferente, a co ntação da história

302
MÚSICAS DAQUI, RITMOS DO MUNDO de Zezinho Mutarelli e
Gilles Eduard.
As professoras realizaram uma atividade “inovadora” com as duas
turmas. A sala do Pré II B era preparada com um ar de mistério para
receber as crianças que aguardavam ansiosas, após o café, na sala do Pré
II A. O globo juntamente com diversos instrumentos musicais
escondidos debaixo de um TNT estava exposto na mesa no meio da sala,
depois de tudo pronto as crianças das duas turmas foram entrando e já
tentando adivinhar o que havia por debaixo de tanto segredo.
Depois de tudo revelado foi iniciada a contação da história
realizada pelas duas professoras, pois enquanto uma das professoras lia a
história, a outra ligava o som com o cd das cantigas da história e fazia
algumas anotações, como de costume, a respeito das falas das crianças.
Antes de iniciar a contação da história as crianças faziam algumas
falas: tem uma bola, tem o som, tem o mapa numa bolona, é uma bola da
lua, é o mapa das cidades, o Brasil tá ali, tem o Passo Fundo, o que é o
azul, é a água, o que é aquela rodinha ali, são os pontos cardeais para as
pessoas se localizarem, respondeu a professora, o violão é pra tocar, os
instrumentos estão ao redor do mundo.
Após ter sido contada a história que trata de uma aventura de três
amigos que depois de um incidente vão parar em uma estranha ilha, e
quando um deles fica preso naquele local os demais vão em busca dos
diferentes ritmos do mundo para poder salvar o amigo, novamente o
diálogo se instalou na sala e muitas observações foram relatadas pelas
crianças: aquele é um pássaro, não é um macaco; aqui é a África, tem
um monte de bichos; eles foram felizes para sempre por causa da
303
música; eu aprendi a parte que a música trouxe alegria na ilha do sem
tom; os amigos deram a volta ao mundo; eles se perderam por causa do
vento forte; ilha é um monte de areia com bastante espaço; na ilha não
tinha música; a música traz felicidade; eles foram buscar músicas nos
países; eu nunca viajei; o avião atravessa na água; posso ir de navio
também; não tem uma ponte pra ir de carro; não dá pra ir de carro
porque acaba a gasolina. Após o término das reflexões, as crianças
fizeram um registro através de desenho.
A aula foi um sucesso e as crianças se divertiram e cantaram
muito, e aprenderam através da história que cada país, cada região tem
uma cultura, costumes e ritmos diferentes. Percebendo o interesse das
crianças pelo globo, os lugares onde os três amigos visitaram durante sua
viagem em busca de diferentes ritmos e ainda as cantigas, as professoras
decidiram dar continuidade e trazer para sala de aula imagens e músicas
com os mesmos ritmos de cada parte do mundo que apareceram na
história.
Organizado um acervo de imagens coletadas da internet e
projetadas na televisão, as duas turmas foram reunidas e as crianças,
pensando que iriam ver um filme e vendo o globo se entusiasmaram e
logo os questionamentos se iniciaram: Prô vamos ver computador na TV;
Olha a prô vai mostrar o mundo na TV. As imagens e também as
músicas e ritmos foram mostrados na ordem em que os lugares iam
aparecendo na história. Inicialmente foi mostrado o Globo e o Mapa
Mundi às crianças, para localizarem os diferentes lugares, observando
cada um deles, tendo como ponto de referência o Brasil.

304
As crianças teciam muitos comentários sobre cada local que era
mostrado e as falas eram registradas. Variadas atividades foram sendo
realizadas, explorando as especificidades das diferentes regiões e seus
ritmos. Do rio Mississipi explorou-se o BLUES e a cantiga atirei o pau
no gato. Recorte e colagem. Colocar a cantiga na sequência correta e
escrita da palavra gato. De Nova York encheu-se balões e a brincadeira
com a cantiga “cai, cai, balão”. O balão não poderia cair no chão. Depois
da brincadeira as crianças registraram através de desenho a experiência.
Dos Estados Unidos depois de assistida uma apresentação da cantiga “o
sapo não lava o pé” e o ritmo funk, realizou-se pintura com guache do
lago e dobradura do sapo.
Do Brasil, os diferentes ritmos foram explorados, desde o sertão
nordestino até nossa cidade. O rock veio da Inglaterra, mais
especificamente de Londres e a Espanha deslumbrou-os com o ritmo
flamenco. Os barcos de Veneza e o ritmo lírico lembraram gritos, o ritmo
de Portugal se mostrou parecido com o da Espanha. Na África o que mais
chamou a atenção foram os animais, seguido pelo som dos tambores e a
dúvida - são índios, prô? lá onde tem selva; eles tocam tambor que nem
índio.
A Havana foi observada como mais um pedacinho do mundo e as
crianças comentaram: nossa quantos pedacinhos tem o mundo. A Arábia
com suas lindas dançarinas e a Argentina, tão perto do Brasil com o gelo
e o tango. E a balsa, que possibilitou o transporte de todos os ritmos para
a Ilha do Sem Tom.
Durante a exposição das imagens na TV, surgiram muitas falas
das crianças a respeito do que iam vendo, temas inusitados e muitos
305
questionamentos foram interessantes para realização de projetos. Mas
uma pergunta em especial fez com que as professoras parassem para
refletir, pois a mesma foi a que mais chamou atenção e curiosidade das
crianças: SÃO ÍNDIOS, PRÔ? Percebendo o grande interesse das
crianças em conhecer mais a respeito das culturas afro e indígena, até
mesmo para diferenciá- las melhor, as professoras então iniciaram o
projeto mostrando novamente algumas imagens fazendo um comparativo
com as duas culturas que seriam abordadas no trabalho.
Neste primeiro momento, após a visualização, as crianças fizeram
um registro através de desenho do que observaram na atividade,
realizando um paralelo ente o povo indígena e a cultura africana. Depois
de muitas falas registradas e percebendo que as crianças ainda se
confundiam com as duas culturas, as professoras decidiram trabalhar com
características mais especificas de cada cultura para, ao final do p rojeto,
fazer novamente um comparativo
Sempre utilizando as imagens através do computador como
instrumento do trabalho, as professoras trouxeram o acervo de figuras
que caracterizavam a cultura afro. Uma das imagens que chamou a
atenção das crianças foram as máscaras africanas, da qual sugeriu uma
ótima atividade com modelagem de papel machê no balão e a pintura
com tinta guache. Outra atividade com máscaras foi a pintura com tinta
no molde já pronto. As crianças adoraram realizar as atividades com as
máscaras, e estavam interessadas em saber onde e para que os africanos
as faziam. Então, as professoras com auxílio da internet, fizeram uma
pesquisa que foi socializada com as crianças em uma roda de conversa.

306
Os alunos nos desafiaram também a uma pesquisa, devido ao
interesse dos mesmos em saber por que e em que momentos os africanos
usam as máscaras. Então, realizou-se uma investigação para responder às
questões levantadas.
Para enriquecer mais o projeto as professoras fizeram uma
pesquisa sobre histórias que apresentavam a cultura negra e suas
características. Assim, as crianças dariam asas à imaginação. Entre elas
foram usadas “Bruna e a Galinha D´angola” de Gercilga de Almeida e a
história “Meninas Negras” de Madu Costa. Dois pontos de destaque nesta
última história sugeriram atividades. Um, foi a variedade de animais
existentes na África. Sendo assim, pesquisadas algumas características da
girafa, o animal que mais gostaram, e para registrar isso, foram utilizados
rolinhos de papel higiênico. As crianças coloriram com tinta guache e
depois de colorir, recortaram e colaram a cabeça. Percebendo, como os
animais interessavam às crianças, as professoras decidiram fazer uma
atividade com o mapa da África, colando os animais que lá existem.
A outra questão foi como os negros vieram para o Brasil.
Novamente discutimos o tema em uma roda de conversa e, com uma
pesquisa descobriram que inicialmente os negros vieram trazidos de
navio para trabalhar como escravos. Para registrar esta passagem, foi
realizado um painel com os mapas da África e do Brasil cercados pelo
oceano e um barco feito de dobradura no meio simbolizando a viagem
dos negros. Neste momento também conversamos sobre os meios de
transporte que conhecemos e utilizamos.
A história da “Bonequinha Preta” de Alaíde Lisboa de Oliveira
possibilitou reflexões sobre a desobediência. Então, ao registrar esta
307
história as crianças fizeram a cena da bonequinha preta caindo da janela e
o gato. Coloriram as figuras da bonequinha e do gato, depois recortaram
e colaram em outra folha onde estava a janela da casa da bonequinha, e
colaram o gato logo abaixo. Durante esta atividade as crianças falavam
muito sobre como deveriam obedecer seus pais e professoras, que assim
não aconteceria nada de ruim.
Outra atividade que também partiu das crianças foi a confecção
da bonequinha preta para ser a mascote na sala de aula. Nas falas,
principalmente das meninas, ficou a vontade de ter uma bonequinha preta
para brincar. No dia seguinte, as professoras fizeram com TNT marro m
o formato do corpo da bonequinha, e para preencher o corpo as crianças
picaram EVA. O interesse das crianças sempre surpreendia as
professoras e como haviam visto nas imagens eles falavam muito a
respeito de como os negros se enfeitavam, usando muitos colares e
pintando o corpo. Surgiu a atividade de confeccionar os colares. Como
seria muito difícil fazer com sementes, foi decidido fazer com macarrão.
As crianças passaram o barbante entre os furos do macarrão e depois
coloriram com tinta guache. Acharam engraçado usar macarrão.
Dando continuidade ao estudo desta cultura, conversando e
trocando idéias com a diretora, achamos conveniente a visita de pessoas
afro descendentes em nossa instituição, assim ficaria mais produtivo
nosso trabalho junto com as crianças. Depois de alguns contratempos,
dois senegaleses chegaram para uma rápida visita, pois os mesmos
tinham que ir para o trabalho. Seus nomes eram Burama e Moro, vieram
do Senegal para ter uma vida melhor aqui no Brasil. Relataram como é
difícil a vida naquele país.
308
A comunicação foi difícil, pois o seu idioma de origem é o
Francês e ainda estão aprendendo o português. Quando eles entraram na
sala as crianças se admiraram, um deles veio vestido com GRANBUDU
túnica típica, que eles têm costume de usar quando estão em casa. As
crianças fizeram inúmeras perguntas: como eles vieram para cá; como
eram as casas onde eles moravam lá no Senegal; se eles gostavam de
pintar o corpo; o que eles gostavam de comer; a comida daqui era igual
a que eles comiam no Senegal; estavam gostando daqui; onde eles
trabalhavam; como era o nome da roupa que ele estava vestindo; onde
estavam seus pais; eles estudavam também; vocês usam máscaras
também. E também comentaram sobre algumas atividades que foram
realizadas em sala de aula: nós fizemos máscaras com papel e tinta; a
gente fez colar com massa; na áfrica tem muitos bichos?
Outras falas que surgiram após a visita: o cabelo deles é igual ao
do Cézar (cozinheiro); eles são bem escuros; a roupa dele parece um
vestido grande; eles não vieram de barco porque agora tem avião; a
casa do pai e da mãe deles é bem pequena; eles falam diferente, é ruim
de ouvir; eles falam chinês, inglês; é bem calor onde eles moravam.
Com a visita dos amigos senegaleses, as crianças puderam
compreender melhor como foi a vinda dos negros para o Brasil, fazendo
um comparativo de como era a vida deles antigamente e como é hoje,
relembrando que os antepassados destes visitantes vieram como escravos,
e que agora vêm para tentar uma vida melhor, desta maneira foi
relembrada a história das meninas negras, as quais contam, sonham,
dançam e brincam com as maravilhas da África.

309
Desta forma, as professoras decidiram compartilhar esta história
com as famílias, sabendo também da importância de envolvê- los neste
processo.
Pensando em uma forma de socializar as pesquisas e
conhecimentos a respeito da cultura afro com as famílias, as professoras
decidiram confeccionar a “Sacola Cultural”, a qual seria enviada para
casa, com o livro Meninas Negras, a bonequinha preta e um caderno para
os registros das crianças. Inicialmente as professoras mandaram para os
pais um bilhete informando do projeto. No dia que decidimos
mandar a Sacola Cultural explicamos às crianças como seria a atividade
da sacola em suas casas. Eles adoraram a ideia e estavam ansiosos pela
chegada da sua vez de levá- la para casa. Ficou decidido que seria por
ordem alfabética e caso a criança não viesse, passaria adiante e a mesma
ficaria por último.
No primeiro dia que a sacola foi para casa, as professoras
perceberam a felicidade das crianças, a atividade foi bem recebida pelos
pais. Porém, houve alguns probleminhas com as sacolas como o fato de
alguns pais contornarem os desenhos no livro, usando como molde para o
filho desenhar e pintar, extravio de uma sacola e por esse motivo
ressaltamos através de um bilhete colado na frente do caderno de
registros a importância do cuidado com o material. Ainda, aconteceu que
os desenhos de registros estavam sendo realizados pelos pais e não pelas
crianças.
Cada dia mais as atividades entusiasmavam as crianças, que
esperavam ansiosas por sua vez. Quando a sacola retornava para a escola
era realizada uma conversa a respeito de como havia sido a visita e a
310
realização das atividades. Assim foram registradas muitas falas, tanto dos
pais ao chegar à escola quanto das crianças na roda: meu pai leu a
história e eu fiz um desenho bem lindo; eu dormi com a bonequinha na
minha cama; foi minha mãe que fez o desenho e eu pintei; eu brinquei
muito com a bonequinha; minha mãe tirou foto de nós e colocou no
computador; quase molhou a sacola com a chuva; passamos uma tarde
maravilhosa fazendo a atividade; ele que contou a história para mim
como a prô contou na sala; muito bom esse projeto sobre uma cultura
que quase não conhecemos e de tanta importância para o nosso país.
As crianças perceberam exatamente o que a história das “Meninas
Negras” falava após tudo que vimos e fizemos sobre a cultura afro.
Ao encerarmos o tema da cultura africana, as professoras
precisavam iniciar os trabalhos a respeito da cultura indígena.
Inicialmente pensamos em trazer para escola alguém que pudesse falar a
respeito dos costumes indígenas.
Na roda de conversa relembramos tudo que havíamos visto a
respeito da cultura negra e ainda do primeiro questionamento das
crianças que confundiram os negros com índios, e assim foi introduzido o
tema sobre a cultura indígena. A princípio, como essa tradição é mais
próxima deles, registrou-se as seguintes falas: os índios vivem na
floresta; eles comem frutas, peixes; eles pintam o rosto e usam pena na
cabeça; os índios andam de barco pra pescar no rio; tem arco e flecha;
eles moram na oca de palha.
No dia marcado, as crianças aguardavam a representante da
FUNAI. Ela se apresentou ao grupo, expôs alguns artesanatos e fotos de
uma aldeia Caingangue. Nas fotos estavam registrados rituais de cura
311
com ervas, dança e um casamento, tudo da comunidade Caingangue. As
crianças puderam manusear os objetos: chocalho, cocar, flauta e livros.
A índia relatou como é a vida atualmente nas comunidades
indígenas, que as casas são de madeira e têm água e luz, como uma casa
normal. Esta fala deixou as crianças confusas, pois sabiam que os índios
viviam na floresta e em ocas de palha. Então, contamos a Dona Maria
tudo que já vimos com nossos alunos sobre esta cultura.
Esclarecido isso, ela relatou que ainda existem aldeias assim,
muitos ainda caçam, vivem da agricultura e da natureza. Mas, como o
“homem branco” veio destruindo a natureza para construir as cidades, o
espaço dos índios começou a ficar muito pequeno, e os animais que antes
eram em grande quantidade também, diminuíram, principalmente os
peixes, devido à poluição dos rios. Por isso os índios evoluíram e
modificaram alguns costumes, explicou.
Os índios confeccionam seus instrumentos musicais, de trabalho e
caça, e ainda muito artesanato, como brincos, colares, cestas, explicou a
professora e tudo isso vocês podem ver nas ruas da cidade, por que eles
vêm para vender.
Enfim, muito enriquecedora a fala da nossa convidada, e muitas
falas também foram registradas durante a conversa com a índia: os índios
cuidam da natureza, né; eles usam as penas dos passarinhos para fazer
a “coroa”; tem o chefe dos índios que manda neles; têm arco e flecha
para caçar; o que os índios comem?; deixam os rios limpos, não sujam
com lixo; fazem fogueira.
No fim da visita a índia ensinou às crianças uma cantiga em
Caingangue, elas se divertiram ouvindo-a cantar em um idioma diferente.
312
Nossos alunos foram convidados a cantar e fazer os gestos conforme
eram ensinados, é claro que todos tiveram dificuldade para cantar em
Caingangue, então, foi traduzida a canção para português.
Quando a índia concluiu sua fala e foi embora, ficamos no grande
grupo com as duas turmas e eles relembraram os relatos da nossa
convidada e para registrar essa visita as crianças fizeram um desenho.
Para dar continuidade ao projeto as professoras trouxeram um
acervo de imagens que caracterizavam a cultura indígena. Observando as
diversas imagens, as crianças lembraram da fala da índia sobre as
características e costumes dos índios. O chocalho foi um dos
instrumentos por eles manuseado e que sugeriram confeccionar.
Juntamente com as crianças ficou decidido que para a confecção
do chocalho seriam recolhidas pedrinhas para serem coloc adas nos
potinhos de iogurte, para isso fomos ao terreno vizinho. Todos se
divertiram muito e fizeram muitas descobertas percorrendo o terreno.
Perceberam que haviam pedras pequenas e outras muito grandes,
observaram como havia lixo jogado e encontraram uma galinha morta. O
mais divertido do passeio foram os “morrinhos” de terra, onde as
crianças corriam subindo e descendo.
Depois da coleta das pedras, os potinhos foram colados com cola
quente, um sobre o outro para formar o chocalho. Assim, as crianças
brincaram e cantaram a música dos dez indiozinhos surgindo mais uma
atividade com a música. Pensando na cantiga, as professoras sugeriram
às crianças a atividade de pintura dos dez indiozinhos na canoa. Para
fazer os índios e a canoa eles usaram tinta guache e giz de cera. As

313
professoras fizeram o molde da canoa e um círculo para representar as
cabeças dos indiozinhos.
Para trabalhar a quantidade foi realizada uma atividade com a
cantiga dos “dez indiozinhos”, onde as crianças deveriam contar e
colocar o número correspondente de índios que havia na canoa.
A aventura de uma indiazinha órfã que vive com o seu avô, o
sábio e velho Tigé, em um belo recanto do Rio Negro na Amazônia
conduziu- nos às lendas e histórias de seu povo, convivendo intimamente
com a floresta e seus animais. O filme mostra alguns costumes dos
índios, principalmente a harmonia e o respeito pela natureza.
Após a aula onde as crianças assistiram o filme Tainá, as
professoras se reuniram e ao discutirem o assunto acharam interessante
confeccionar uma maquete de uma aldeia indígena. Foi solicitado
material à diretora. Foi realizada uma pesquisa com imagens de
diferentes aldeias para as crianças visualizarem para facilitar a
identificação do que compõe uma aldeia e os alunos foram desafiados
para a nova tarefa.
Explicamos o que era uma maquete e trouxemos o isopor. As
crianças foram dando suas ideias de como colorir para fazer a floresta.
No dia seguinte, com tinta guache, as crianças pintaram o isopor. Ficou
decidido que onde seriam colocadas as ocas pintariam de marrom, porque
nas imagens aparece sempre terra e não grama, então com auxílio de um
círculo feito pelas professoras um grupo pintou com marrom, logo
perceberam que precisavam decidir onde o rio seria pintado com a cor
azul e o restante seria pintado com a cor verde, representando a mata.

314
Foram gastos vários dias nesta atividade. Depois da pintura do
isopor, com rolinhos de papel higiênico pintados com guache foram
confeccionadas as ocas: o teto feito com molde e colorido com lápis de
cor foi recortado pelas crianças e colado com cola quente pelas
professoras.
As professoras pesquisaram diferentes tipos de árvores que
pudessem ser confeccionadas com as crianças. Então, foram produzidas
com jornal, rolinhos de papel higiênico e tinta guache, as árvores e junto
com as crianças foi decidido onde cada um colocaria sua árvore. Porém,
ainda faltavam elementos na maquete: os animais. Por último e mais
importante, foram confeccionados os índios com prendedores de roupas
para o corpo, palitos de fósforo para os braços, guache para colorir o
cabelo e EVA para roupa.
Quando a maquete ficou completa, as turmas sentaram em roda
para discutir a criação e muitas falas foram registradas: nossa que lindo
que ficou; tá igual a da foto; tem muitos bichos; os índios estão se
esquentando na fogueira.
Juntamente com as crianças, as professoras sugeriram que cada
um reproduzisse um desenho observando a maquete e que neste desenho
eles registrassem tudo o que mais gostaram e acharam interessante. Desta
forma, ficou concluída a atividade da maquete.
Para concluirmos de fato as atividades sobre os costumes
indígenas, pensou-se em trabalhar também com as famílias,
encaminhando diariamente a Sacola Cultural com uma história e argila
para as crianças fazerem artesanato.

315
Explicamos às crianças que levariam para casa a Sacola Cultural
com a História “Uma vida diferente” de Vânia Ramos e estariam
levando também um pouco de argila, para que os pais e/ou responsáveis
os auxiliassem a confeccionar potes, vasos, entre outros utensílios que
tivessem interesse de fazer.
Cada dia uma criança trazia uma novidade, inclusive teve criança
que trouxe vasinhos com arranjos de flores, muito criativos. Vendo a
alegria estampada no rostinho das crianças, percebe-se que as famílias
estavam bem envolvidas com a atividade.
De acordo com tudo que as crianças conheceram sobre os
costumes dos índios, entenderam que apesar dessas pessoas terem
evoluído, muitos ainda sobrevivem da agricultura e o artesanato também
passa a fazer parte do cotidiano indígena e para ajudar no seu sustento
vão para cidade vender os objetos artesanais.
As professoras conseguiram perceber nas crianças que o
conhecimento específico da cultura afro e indígena ficou claro, pois após
muitas pesquisas e comparações as crianças reconhecem as diferenças
entre as duas culturas trabalhadas neste projeto, enriqueceram seus
conhecimentos e ainda fortaleceram a semente do respeito pelas
diferenças.

316
POR QUE MEU DENTE CAIU?

Tanandra Aparecida Knetz de Camargo

O Projeto Dente surgiu em uma tarde de maio quando a turma do


pré II estava no refeitório lanchando. As refeições na EMEI Margarida
são momentos em que as crianças vivenciam experiências de bem
alimentarem-se, partilham ideias, desenvolvem sua autonomia, estreitam
afetos, socializam informações, enfim, “colocam as fofocas em dia”.
Durante o lanche a turma espantou-se ao ver sua colega Mikéli chorando,
pois havia caído um dente dela. E ela ainda afirmou que a cada dia estava
perdendo mais e mais dentes.

317
A turma tendo sua noção básica no assunto aconselhou a colega,
explicando que os dentes devem cair, sim. Neste momento, a Mikéli
perguntou: Mas por que meu dente caiu? A partir desta pergunta a
professora percebeu que seria uma boa oportunidade para desenvolve r
um projeto em que a turma construísse conhecimentos a respeito do tema,
superando as hipóteses já demonstradas. Após este bate papo inicial,
ficou combinado que continuariam a discussão em sala de aula.
Conforme o combinado, as crianças lancharam, então retornaram
para a sala, formaram a rodinha de conversa e o assunto voltou à tona.
Surgiram inúmeros questionamentos e hipótese: Bebê não tem dente?, Os
dentes caem para virem os novos?, Se eu não cuidar o dente cai!, Com
que idade os dentes começam a cair?, Por que a minha avó usa chapa?
Ela nunca teve dente de verdade?, Quando o dente cai, a fada da moeda
vem?.
A professora exerceu seu papel de escriba registrando todas as
informações levantadas sobre o “problema” surgido. O grupo decidiu
então que iria estudar sobre o assunto e aprender mais sobre o dente.
Nesse momento surgiu o projeto “POR QUE MEU DENTE CAIU?”.
Continuaram conversando e tomaram algumas decisões de como
iriam trabalhar para efetivar o novo estudo: por onde começar, quem faria
o que, onde buscar informações e quais seriam as fontes de pesquisa, que
recursos utilizar, quem poderia ajudar. Após organizou-se tudo o que as
crianças falaram em uma teia.
Com tudo organizado, o primeiro passo para começar o projeto
foi a solicitação da professora para que cada criança trouxesse para a
318
escola um dente de leite, seu ou de outra criança, com objetivo de
observar as características, semelhanças e diferenças. Para isso, a turma
foi dividida em dois grupos para procederem à observação. Depois se
reuniram novamente para relatar a conclusão de suas observações na
rodinha de conversa.
Partindo da hipótese de que dentes caem para vir os novos!,
buscaram descobrir qual a importância da troca do dente de leite para o
permanente e de que maneira isso ocorre. A leitura de histórias foi uma
rica fonte de pesquisa: "Menino Chuim" – que perde seu dente
inesperadamente e "A linda janelinha" – uma menina que tem seu dente,
chamado Dentolino, despedindo-se da sua boca.
As histórias foram registradas livremente pelas crianças através
de desenhos. Também foi confeccionado o dente Dentolino com garrafa
pet. A turma foi dividida em dois grupos e cada grupo ficou responsável
por pintar com tinta guache duas bocas grandes de papel pardo, uma com
uma boca saudável e o dente perdido do menino Chuim e outra boca com
os dentes cariados.
Para enriquecer ainda mais o estudo, foi assistido o vídeo do
Youtube: "Princesinha, meu dente caiu", que conta a história da princesa
que perdeu o seu dente porque estava ficando grande. As crianças
puderam concluir que a troca de dentes é sinal de que estão crescendo e
que todas as crianças passam por esse processo na infância.
Buscando discutir a respeito da afirmação: bebê não tem dente, e
que aproximadamente aos seis meses é inquieto e agitado em
consequência da coceira na sua gengiva, conhecimento esse demonstrado
319
através da fala das meninas da turma, Manuele e Eliane, que têm
irmãozinhos bebês, a professora leu a história “O bebê ainda não tem
dente”.
Foi proposto a construção de uma linha do tempo num cartaz em papel
pardo, com figuras recortadas de bebês de 0 a 1 ano e de 1 ano até a
idade das crianças da turma (5 anos). A atividade permitiu debater na
rodinha de conversa questões como: "com que idade começam a nascer
os dentes dos bebês" e "em que idade acontece a troca". Nesse momento
surge um elemento novo na discussão: o uso da chupeta. Algumas
inquietações se fizeram presentes: "até que idade se faz necessário o uso
da chupeta", "o uso da chupeta prejudica o crescimento dos dentes",
"qual das crianças da turma usa chupeta".
No intuito de buscar informações a esse respeito foi elaborado e
enviado para os pais um questionário para que colaborassem com
informações a cerca do tema: motivo da troca de dentes pelas crianças,
relação da alimentação com dentição saudável, relação do uso da chupeta
e dentição, coisas que gostaria de saber sobre o assunto.
Com o retorno dos questionários, a professora concluiu que
também os pais demonstraram não possuir muitos conhecimentos a
respeito do assunto. Somando-se as dúvidas das crianças dos pais, foi
convidada uma dentista da UPF, que trabalha do Estratégia Saúde da
Família da Zácchia, para conversar com a turma e tentar esclarecer tantas
dúvidas. Antes da visita a dentista tomou conhecimento dos
questionários e das curiosidades das crianças e preparou sua fala a partir
deles. A visita da dentista foi uma rica fonte de informações. Ela prestou
320
uma série de esclarecimentos bem importantes, como: a necessidade de
uma alimentação saudável, a função dos dentes de leite e como acontece
a troca, o cuidado para evitar as cáries, o uso da chupeta e os hábitos de
higiene. Também elaborou um material escrito para enviar às famílias e
orientou a escovação correta com todas as crianças da turma.
Após a visita da dentista, a aluna Manuele, que até então usava
chupeta, decidiu trocá-la por uma escova de dentes e a partir desse dia
não usou mais a mesma.
Depois da visita da dentista as crianças já demonstraram algum
conhecimento a respeito da hipótese Se não cuidar, o dente cai, através
de suas falas: Se come muito doce dá cárie no dente., É a bactéria que
come o dente ., O dente fica podre e dói e daí tem que ir no dentista
arrumar., Tem que escovar sempre os dentes depois das refeições.
A professora optou por trabalhar essa etapa do projeto em dois
eixos distintos, para melhor compreensão das crianças: alimentação e
higiene. Na parte da alimentação, utilizou o clássico da literatura infantil
João e Maria para realizar várias atividades: roda de conversa, reconto da
história, confecção dos dedoches dos personagens, confecção de um
dente saudável com massa de modelar. Foi solicitado que as crianças
trouxessem de casa balas, pirulitos, chicletes, doces em geral para colar
no cartaz intitulado "A casa dos doces de João e Maria", que foi exposto
na sala de aula.
Para tratar a respeito da higiene, a professora propôs a confecção
de um livrinho, de cinco páginas, a partir de um cartaz que contava a
história de um dentinho solitário, que não conhecia os materiais de
321
higiene (escova, creme dental, fio dental). Cada criança coloriu as
páginas do seu livrinho e colou pedacinhos de papel laminado prata para
dar a ideia de um dente branquinho e saudável.
Depois foi trabalhado a letra da música "Escovar bem os
dentinhos". A professora trabalhou a letra da música em um cartaz onde
as crianças fizeram a leitura, localizaram e destacaram as vogais,
relacionando com as letras do seu nome. Confeccionaram fantoches com
os personagens da letra da música: a dentista, o dentista, a cárie, a
escova, o creme dental e fio dental. Apresentaram um teatro para os
colegas da turma e para a turma do maternal. Para encerrar a parte da
higiene, cada criança trouxe de casa o rótulo do creme dental que usa
para montar um painel. Foi feita a comparação entre os rótulos.
Trabalhando um pouco a questão do imaginário infantil,
demonstrada na fala Quando o dente cai, a fada da moeda vem, a turma
pesquisou na internet sobre a origem da história da fada do dente, que
leva o dente em troca de uma moeda, mas só se for saudável. Depois o
dente vira estrela. Foi feita uma roda de conversa para discutir a respeito
de quem acredita na fada e quem não acredita. Observou-se que todas as
crianças acreditam na existência da fada do dente, principalmente depois
da pesquisa. A turma assistiu aos filmes "A fada do dente 1 e 2", em dias
diferentes, e após cada filme retomavam a conversa e faziam a releitura
através de desenhos.
Para mostrar o projeto desenvolvido foi enviado para as famílias o
texto explicativo elaborado pela dentista a partir das dúvidas enviadas

322
nos questionários; confeccionado um livro contendo os desenhos,
atividades, fotos, explicações, registros de tudo o que envolveu o projeto.

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PROJETOS DESENVOLVIDOS AO LONGO DE
QUATRO ANOS NAS ESCOLAS MUNICIPAIS DE
EDUCAÇÃO INFANT IL

ABELHINHAS
Diretora: Sônia Rodrigues da Costa
Lua quem é você? (CD-Rom)

AMIZADE
Diretora: Cláudia Neci Dutra Bilhar
Caminhão do CD (CD-Rom)
Frio

CANTINHO FELIZ
Diretora: Roselise Maria Borchardt
O nenê (CD-Rom)

CHAPEUZINHO VERMELHO
Diretora: Ingrid Denise Garbin
A barriga da prô
Bezerro (CD-Rom)
Golfinho (CD-Rom)

CRIANÇA FELIZ
Diretora: Marla Maria Debastiani Maffi
Abelhas e borboletas dando asas ao saber
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ESTRELA DA MANHÃ
Diretora: Maria Júlia Dolbe rth
Comidinhas Gostosas (CD-Rom)
Minhoca ou Minhoco? (CD-Rom)

FADINHA
Diretora: Maria Alaíde Winter Ferreira
Porque tanta casinha igual?

FOFÃO
Diretora: Guiomar Salete Bolner
Cavalo (CD-Rom)
Formigas (CD-Rom)
Olha prô! A árvore tá pelada.

FRANCISCO LUIZ BIANCINI


Diretora: Solange Edília de Andrade Freitas
Caça ao Piolho (CD-Rom)

GENY ARAÚJO REBECHI


Diretora: Maribel Tessaro
Armário (CD-Rom)
Brincar e aprender na era digital (CD-Rom)

JARDIM DO SOL
Diretora: Márcia Inês Oliveira da Silva
Bicho Esquisito (CD-Rom)
O que se esconde atrás da porta?

JOSÉ ANTÔNIO FALCÃO


Diretora: Vera Nice Palma Argerich
O Mofo

MARGARIDA
Diretora: Adriana Tortelli
Como cuidar do bebê
Por que meu dente caiu? (CD-Rom)
Sardinha – “O que é isso?” (CD-Rom)

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MARIA ELIZABETH
Diretora: Sueli Fernandes de Souza
As Galinhas (CD-Rom)
Prô olha o sapo!

NOSSA SENHORA DAS GRAÇAS


Diretora: Ivone Apostolo de Oliveira
Pano molhado (CD-Rom)
Pretinha, a cachorrinha (CD-Rom)

O MUNDO DA CRIANÇA
Diretora: Maria das Dores Borba Mareth
Dona Aranha (CD-Rom)
Prô, tem um sapo na tua mochila? (CD-Rom)
Prô, tu tem ferro na boca?

OSÓRIO CARDOSO TEIXEIRA


Diretora: Irace ma de Lara Bortoluzzi
Árvore (CD-Rom)
Lua

PADRE PERGENTINO DALMAGRO


Diretora: Soeli Martins Santos
Como nasce o feijão? (CD-Rom)

PADRE ZEZINHO
Diretora: Elda Teresinha da Silva
Lápis (CD-Rom)
O arco-íris do caracol (CD-Rom)
Reciclagem (CD-Rom)

PEQUENO POLEGAR
Diretora: Fabiane Placedino
Frango (CD-Rom)
Sombra

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RAIO DE LUZ
Diretora: Marilsa Bilhar Zanotto
A pinha do pinhão (CD-Rom)
Contracheque
O que tem dentro do caminhão?
Olha o cavalo! (CD-Rom)
Porque a borboleta está parada? (CD-Rom)
Pra onde vai o dente velho? (CD-Rom)
São índios prô? (CD-Rom)

SANTA LUZIA
Diretora: Márcia da Silva Henz
Caixa D’água
Quem botou o lixo ali? (CD-Rom)

SILOÉ ROCHA BORDIGNON


Diretora: Martha Lúcia Bernardon
As formigas
Tucanos

SONHO ENCANTADO
Diretora: Maria Arlete Pereira
Au, Au (CD-Rom)
Cueca ou calcinha
De onde vem o leite? (CD-Rom)
Brinquedo de Plástico

TIO PATINHAS
Diretora: Lídia Beatriz Boscatto Kerber
Feijão (CD-Rom)
Polenta (CD-Rom)

URSINHOS CARINHOSOS
Diretora: Enoir Santana
Música na escola (CD-Rom)
Não gosto de carne de galinha, só de cavalo, tem? (CD-Rom)

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