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Atividade Final Cinema Brasileiro na Prática Docente

Um grito silencioso

Maira Bastos dos Santos

O vídeo “A vida é urgente”, de Yasmin Thayná, traz em seus oito


minutos um questionamento pungente: “Quem pode respirar no Brasil?”.
Abordando em uma tacada só o isolamento social imposto pelo Covid-19, as
mortes causadas pela dificuldade de respirar, o assassinato de George Floyd e
a situação atual da população negra no Brasil.

Recentemente, o mundo todo presenciou a morte de George Floyd,


todos ouviram ele dizer insistentemente “Eu não consigo respirar” até o seu
último minuto. Retomando esse fato, o vídeo reforça a ideia de que os negros
precisam respirar, precisam viver, precisam ter liberdade para se expressar e
se posicionar no mundo.

O vídeo tende a expor uma realidade que é por muitas ignorada,


camuflada por um discurso de que todos são iguais e têm os mesmos direitos.
De forma singular, o texto nos coloca cara a cara com um problema real e
gritante não só no nosso país, mas também especialmente nos EUA. Ao inserir
esse curta no contexto escolar, é possível criar estratégias para minimizar o
preconceito institucional, construindo bases para edificar uma escola mais
humana, ética e aberta à diversidade.

Silenciosamente, o vídeo grita: “Eu não consigo respirar”.

Disponível em:

https://ims.com.br/convida/yasmin-thayna/ - acesso em 28/08/2021

Classificação indicativa.
Não localizada. Acredito que o curta seja LIVRE pois o mesmo não apresenta
cenas de violência, sexo ou drogas, também não há linguagem inadequada.
Contudo, levando em consideração a profundidade da temática abordada no
filme, eu indicaria esta obra para crianças maiores de 12 anos.

Ficha técnica.

A vida é urgente, 2020. 8’, vídeo, colorido.


Realização: Yasmin Thayná
Voz off: Conceição Evaristo
Clarinete: Rafael Braga Lino
Música: “Jequié”, de Moacir Santos
Respiros: Brenner Oliveira, Clara Anastácia, Izabella Suzart, Lucas Sampaio,
Luma Nascimento, Marta Supernova, Vítor José Pereira e Yhuri Cruz.

Filmografia da diretora ou do diretor.

Yasmin Thayná é cineasta, diretora e fundadora da Afroflix, curadora da Flupp


(Festa Literária das Periferias) e pesquisadora de audiovisual no ITS-Rio
(Instituto de Tecnologia e Sociedade do Rio de Janeiro).
- “Kbela, o filme” (2015), uma experiência sobre ser mulher e tornar-se
negra (direção e roteiro)
- “Batalhas” (2016), sobre a primeira vez que teve um espetáculo de funk
no Teatro Municipal do Rio de Janeiro (direção e roteiro
- Fartura ( 2019) discute a discriminação racial e de gênero a partir do
cabelo das mulheres negras. Neste novo trabalho, Yasmim traça um
paralelo ao mesmo tempo afetivo e antropológico sobre famílias negras
e periféricas, a partir do seu núcleo familiar.
- Série Afrotranscendence, (2016) 12 capítulos que discutem racismo,
memória, práticas artísticas e a necessidade de produzirmos
conhecimento como ato político, direção de Yasmin e roteiro de Diane
Lima.
- Pretalab (2017) entrevistas com mulheres negras que trabalham com
tecnologia.

(https://www.nexojornal.com.br/colunistas/author/Yasmin-Thayn%C3%A1 -
acessado em 29/08/2021)

Temas que poderiam ser abordados a partir do filme/faixa etária.

Temas que poderiam ser abordados:

- Poesia marginal como forma de expressão das minorias;


- Racismo estrutural no Brasil e nos EUA;
- Notícia de jornal: como a estrutura do lide corrobora com a manutenção
do preconceito racial;
- Pandemia no Brasil e no mundo: o que poderia ter sido evitado;
- Movimentos populares de protesto;
- Como o cinema evidencia e discute os problemas sociais.

Duas atividades (se possível, interdisciplinares/transdisciplinares) –


apontem as intencionalidades educativas.

Atividade 1
Disciplinas envolvidas: Português, Inglês, Sociologia e Artes.

Turma: 3o. ano do Ensino Médio

Tempo: 8 a 12 aulas

Tema: Racismo estrutural no Brasil e nos EUA

Objetivos da aula:

- Entender o que é racismo estrutural;


- Perceber de que forma o racismo está presente na nossa sociedade;
- Entender a estrutura dos textos jornalísticos;
- Analisar um filme brasileiro e sua relação com outros contextos;
- Identificar o racismo apresentado em situações expostas em textos
jornalísticos no Brasil e nos EUA;
- Conhecer a literatura marginal, especialmente Conceição Evaristo;
- Pesquisar sobre cinema nacional, especialmente a biografia e obra de
Yasmin Thayná;
- Produzir um curta.

Justificativa

Tal produto cultural é acessível e gratuito, pois está disponibilizado na


rede em um site aberto, o que propicia a utilização do vídeo por professores e
alunos. Diante de tão ampla temática abordada, tal recurso poderia ser
utilizado por diversos componentes curriculares, como: língua portuguesa,
história, filosofia, sociologia e língua inglesa. É possível fazer relações com o
momento único em que vivemos, ao contexto histórico e cultural do racismo no
Brasil e no mundo, bem como fazer um link com as relações sociais que
estabelecemos hoje e a luta do povo preto por equidade. Além disso, o
curta-metragem propicia o diálogo com outros gêneros textuais, favorecendo o
trabalho interdisciplinar e transversal.

Desenvolvimento

A discussão deve ser iniciada nas aulas de Sociologia sobre Racismo


Estrutural, partindo de uma roda de conversa com a pergunta “Quem pode
respirar no Brasil”, na qual o professor propicia o debate sobre o tema
introduzindo conceitos mínimos necessários para que o aluno compreenda a
temática.
Na aula de Língua Portuguesa, o professor deve trazer uma notícia que
apresente algum caso de racismo estrutural, solicitando que os alunos leiam o
texto e procurem identificar os elementos básicos de uma notícia e a relação
com o racismo estrutural aprendido na aula de Sociologia.
Na sequência, na aula de Língua Inglesa o professor pode apresentar
notícias sobre o assassinato de George Floyd e vídeos que mostrem a
sequencia de ações que levaram à morte dele. Os alunos serão convidados a
refletir sobre as atitudes da polícia, o racismo estrutural e as semelhanças e
diferenças com situações que acontecem no Brasil.
Depois da realização das três aulas acima, os alunos devem assistir o
curta “A vida é urgente”, de Yasmin Thayná, preferencialmente com o docente
de Artes. Propiciar na sequência uma roda de conversa sobre o que os alunos
entenderam sobre o filme, que pontos eles acharam mais interessante, que
sentimentos e sensações o filme trouxe e de que forma o filme pode ser
relacionado aos conteúdos que estavam sendo estudados ao longo da
semana.
Em casa, os alunos serão convidados a pesquisar sobre quem foi
Conceição Evaristo e quem é Yasmin Thayná, na expectativa de contextualizar
o lugar de fala de cada uma dessas mulheres negras.
Em sala de aula, divididos em grupo, os alunos devem produzir um
curta, ou mini curta, apresentando as ideias expostas pelo filme “A vida é
urgente”, de outra forma; orientados por um dos professores participantes da
aula interdisciplinar.

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Nem só de praia vive o Nordeste brasileiro

Maíra Bastos dos Santos

Apresentando o sertão do nordeste, o filme O auto da Compadecida,


dirigido por Gael Arraes, traz temas complexos com uma roupagem cômica e
uma linguagem bem humorada. Com um elenco fantástico, o longa aborda a
corrupção que assola o país, a cultura popular, as crendices e costumes típicos
do nordeste, o cangaço e o jeitinho brasileiro. De forma dinâmica e leve, somos
levados até a aridez do sertão e convidados a conhecer personagens
complexos e únicos.
Sem perder a genialidade de Ariano Suassuna, o filme mostra o
nordeste além das praias belíssimas e das mulheres desfilando de bíquini.
Atualmente, disponível na Globoplay e no Telecine, stream pagos; mas
também no youtube https://www.youtube.com/watch?v=SpA_LJDrX-I .

Classificação indicativa.

O filme recebeu selo de “livre” em 1999. Após nova avaliação, porém, a


coordenação subiu a classificação para 12 anos, o que o torna
recomendável para exibição na TV aberta a partir das 20h.
O órgão argumentou que o longa apresenta violência, conteúdo sexual e
drogas lícitas.

Ficha técnica.

O auto da compadecida, 2000, 105’, vídeo, colorido.


Roteiro: Guel Arraes, Adriana Falcão, João Falcão
Produtor: Daniel Filho.
Diretor: Guel Arraes.
Elenco: Aramis Trindade, Bruno Garcia, Denise Fraga, Diogo Vilela, Eurico
Enrique Diaz, Fernanda Montenegro, Lima Duarte, Luis Melo, Marco
Nanini, Matheus Nachtergaele, Mauricio Gonçalves, Paulo Goulart, Rogério
Cardoso, Selton Melo, Vírginia Cavendisch.
Direção de arte: LIa Renha
Figurino: Cao Albuquerque
Direção de fotografia: Félix Monti
Assistência de direção e fotografia: Gilberto Otero
Cenografia: Fernando Schmidt e Claudio Domingos
Caracterização: Marlene Moura
Produção de arte: Moa Batsow
Câmera: Ricardo Fuentes
Assistente de câmera: Joaquim Torres e Pedro Serrão
Som direto: Zezé d’Alice
Eletricista chefe: Olivio de Lima
Maquinista chefe: Joverci Souza
Efeitos visuais: Capy Ramazzina
Efeitos especiais: James Rothman
Direção e pós-produção: José Canos Piéri
Montagem: Paulo Henrique Reis e Ubiraci Mota
Produção musical: João Falcão e Carlinhos Borges
Trilha sonora original: Grupo Sá Grama e Sérgio Campelo
MIxagem final: Octávio Lacerda
Efeitos sonoros: Simone Petrillo
Edição de som direto: Alexandre Reis
Coordenação técnica: Marcelo Bette
Produção de engenharia: Celso Araújo
Abertura: Hans Donner e NIlton Nunes
Continuidade: Fernanda Borges
Assistentes de direção: Paola Balloussier e Flávia Lacerda
Equipe de produção: Edson Souza. Daniela Ribeiro, Gabriela Pelicano e
Sidne Fernandes
Coordenação de produção: Gustavo Nielebock
Gerência de produção: Andrea Comodo
Direção de produção: Eduardo Figueira

Baseado na obra “O auto da compadecida”, peça teatral de Ariano


Suassuna.

https://memoriaglobo.globo.com/entretenimento/minisseries/o-auto-da-com
padecida/ficha-tecnica/ - acessado em 29/08/2021

Filmografia da diretora ou do diretor.

Como diretor
● 1986 - 1988 Armação Ilimitada
● 1988 - TV Pirata
● 1991 - Doris para Maiores
● 1997 - A Comédia da Vida Privada
● 2000 - O Auto da Compadecida
● 2001 - Caramuru - A Invenção do Brasil
● 2003 - Lisbela e o Prisioneiro
● 2008 - Romance
● 2010 - O Bem Amado
● 2010 - Papai Noel Existe - Escritor
● 2011 - Esquenta!

Como produtor

● 2000 - O Auto da Compadecida


● 2001 - Caramuru - A Invenção do Brasil
● 2003 - Lisbela e o Prisioneiro
● 2003 - Os Normais - O Filme
● 2004 - Meu Tio Matou um Cara
● 2005 - O Coronel e o Lobisomem
● 2007 - A grande família - O filme

https://www.adorocinema.com/personalidades/personalidade-132574/filmog
rafia/ acessado em 30/08/2021

Temas que poderiam ser abordados a partir do filme/faixa etária.

Temas:

Variedade linguística: diferentes falares, o nordeste em foco.

Cada região uma história, uma crença

Nordeste: cangaço, religião, literatura e variante linguística

Do palco a telona.

Modernismo no Brasil: o nordeste em foco.

Duas atividades (se possível, interdisciplinares/transdisciplinares) –


apontem as intencionalidades educativas.

Atividade 2
Disciplinas envolvidas: Português, Geografia, História e Artes.

Turma: 3o. ano do Ensino Médio

Tempo: 8 a 12 aulas

Tema: Modernismo no Brasil: nordeste em foco.

Objetivos:

- Conhecer o nordeste brasileiro através do cinema;


- Entender o que foi o cangaço e a relevância desse movimento no
sertão do Brasil;
- Analisar o movimento Modernista brasileiro e o olhar para o
nordeste;
- Aprender sobre variedades linguísticas e preconceito linguístico;
- Produzir um mapa mental;
- Reproduzir uma cena do filme.

Justificativa

Diante de tanta intolerância, se faz necessário quebrar alguns estereótipos


e preconceitos. Em muitas situações o nordeste é alvo de piadas nas quais
eles são vistos como preguiçosos, como desocupados e lentos na
realização de tarefas; bem como o seu modo de falar é menosprezado ou
menos prestigiado. Diante desse contexto, faz-se necessário trazer essa
discussão para a sala de aula e um filme leve e divertido como O auto da
Compadecida é um ótimo pretexto para esse trabalho.

Desenvolvimento

Nas aulas de geografia, estudo sobre o nordeste brasileiro, especialmente


do sertão brasileiro. (Se a escola estiver aberta a ampliar o projeto, os
alunos poderiam começar as atividades assistindo ao filme “Garapa”)
Nas aulas de história, ainda falando sobre o nordeste, analisar a
construção histórica dessa região, destacando o abandono que algumas
áreas sofreram e ainda sofrem devido a ausência de políticas públicas que
favoreçam o seu pleno desenvolvimento.
Nas aulas de Artes, colocar em evidencia os aspectos culturais e regionais
referentes ao nordeste. Seria interessante que os alunos pudessem trazer
de casa essas crendices e histórias, haja vista que boa parte dos nossos
alunos (na região onde leciono) são filhos ou netos de nordestinos.
Nas aulas de português, dentro do movimento literário Modernismo,
apresentar as principais obras produzidas nesse período que abordam o
Nordeste. É possível levar para sala de aula autores como Graciliano
Ramos, Jorge Amado, Augusto dos Anjos, Rachel de Queiroz, Ariano
Suassuna e outros. Discutir também a questão das variedades linguísticas
e do preconceito linguístico.
Depois de todo esse processo, assistir ao filme com os alunos.
Após o filme, fazer uma roda de conversa e tentar trazer para a discussão
todos os conteúdos que foram abordados anteriormente, fazendo relações
e criando teias. Os alunos podem produzir um mapa mental com todas as
informações relevantes que eles conseguiram conectar com o filme e os
conteúdos estudados.
Em seguida, divididos em grupos, apoiados por um professor orientador, os
alunos devem escolher um trecho do filme para analisar mais
profundamente e reproduzi-lo para a turma em um curta.

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