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José Miguel Pinto dos Santos

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A máscara da
irresponsabilidade
Porque não legislar também a prevenção de constipações e
resfriados proibindo mini-saias e impondo o uso
obrigatório de meias por períodos (renováveis) de setenta
dias?

29 out 2020, 00:04 8 1699

Não são necessários grandes estudos científicos para


perceber que o uso de uma máscara dá, em certa
medida, alguma proteção contra doenças contagiosas
transmitidas entre pessoas através de gotículas e
aerossóis respiratórios. Que a proteção oferecida por
uma máscara depende do tipo de material de que é
feita, da espessura de cada camada e do número de
camadas protetoras que tem, também parece ser
razoavelmente evidente para qualquer hominídeo
com dois dedos de testa.

Os vídeos que mostram gotículas emitidas


por sprays a alta pressão passarem através de vários
tipos de máscaras são engraçados de se ver e provam
que muitas máscaras são pouco eficazes na proteção
contra aerossóis emitidos a … alta pressão. Mas não
provam a sua ineficácia total na redução do fluxo de
aerossóis emitidos pela respiração, conversa ou até
espirro de um humano normal—que não tem pressão
comparável à dos sprays.

Por isso, quando, em Fevereiro e Março, a sr.ª da DGS


afirmava e repetia que o uso de máscaras pela
população era pior que inútil, que era
contraproducente, ou:

1. Estava a brincar connosco; ou


2. Esta conscientemente a mentir; ou
3. Faltando-lhe dois dedos de testa, estava
enganada.

Partindo do princípio de que:

1. Quando queremos que brinquem connosco


vamos ao circo ver palhaços, mas esperamos
uma atitude e serviço profissional e competente
dos serviços públicos como é a DGS, paga com o
nosso dinheiro do IVA e do IRS;
2. Esperamos e aceitamos ser enganados, com
alguma paciência e humor, por mercadores e
feirantes ambulantes, com quem falamos uma
vez na vida, e aos quais adquirimos coisas sem
importância e baratas, mas não por pessoas e
entidades com as quais temos relações de
longo-prazo, estáveis e “para a vida”, que
fornecem bens e serviços essenciais e caros, nos
quais parece se devem incluir os serviços
públicos, o que requer que estes sejam
exercidos por profissionais probos, retos,
honestos e verazes;
3. Que os serviços públicos, para valerem a pena e
o nosso dinheiro do IVA e do IRS, devem ser
providos com elevada competência, qualidade e
profissionalismo, não por pessoas que parecem
não perceber do assunto e/ou se estão a lixar
para as consequências da sua negligência e
incompetência;

parece que a dita sr.ª da DGS ou


1. Devia assumir a responsabilidade pelo sucesso
da política de combate à pandemia incluindo a
excelente preparação do SNS no previamente
anunciado início do surto, a coerência nas suas
declarações públicas ao longo dos últimos
meses e o êxito das medidas tomadas para
contenção e supressão da pestilência,
requerendo o prémio que legitimamente
merece; ou
2. Devia ser responsabilizada e devidamente
premiada pelos mesmos sucessos por
autoridade superior.

A evidente falta dessa responsabilização é um tirar da


máscara à irresponsabilidade a que chegou a nossa
vida pública e política. Outra face dessa máscara é a
medida recentemente proposta e aprovada pelo ps/d,
e entretanto promulgada pelo sr. PR, de tornar
obrigatório o uso de máscara na via pública.

Se por um lado o uso da máscara dá alguma proteção


contra o contágio por bactérias e vírus transmitidos
por aerossóis respiratórios, por outro lado tem várias
desvantagens. Uma destas desvantagens é
desumanizar-nos. A face é aquela parte do corpo onde
a nossa alma é mais evidente. Uma face consegue
transmitir alegria ou angústia, antipatia ou
cordialidade como nunca conseguirão fazê-lo uma
nuca ou nádega. Por isso o uso de máscara é
alienante, no sentido anglo de nos tornar aliens uns
dos outros, estrangeiros e desconhecidos até para os
nossos amigos que não conseguem perceber os nossos
sorrisos e outras expressões minúsculas que, como
sacramentos, tornam corporalmente visíveis os
anseios do coração, as ambições da mente e os
apetites do abdómen.

Se os srs. deputados do ps/d tratassem os portugueses


como adultos e os considerassem pessoas imputáveis
deixá-los-iam ponderar, pessoal e responsavelmente,
situação a situação, se é oportuno por máscara ou se é
preferível tirá-la. Nesta matéria não imporiam regras
universais, que srs. deputados serão os primeiros a
violar, em que qualquer pessoa razoável percebe que
por vezes é prudente usar máscara, mas noutras o
risco é baixo e os inconvenientes altos.

Se os srs. deputados acham que os portugueses não


conseguem por si próprios tomar decisões razoáveis
deste tipo, e se as decisões que os portugueses tomam
põem em risco a capacidade de resposta do SNS e o
equilíbrio do Orçamento do Estado, então porque não
legislar também a prevenção de constipações e
resfriados proibindo mini-saias e impondo o uso
obrigatório de meias por períodos (renováveis) de
setenta dias? Ou, já agora, impondo um uniforme
único a todos os portugueses, um para o Inverno e
outro para o Verão, ao estilo dos camaradas Estakline
& Mau (1)?

Mas, se os portugueses são assim tão, tão


irresponsáveis, que no seu próprio interesse se tem
que lhes dizer e ordenar quando devem usar máscara,
como é que se lhes confia esse importante e delicado
encargo que é escolher quem os governa através de
eleições livres? Se os eleitores são uns irresponsáveis,
não será que escolherão governantes também eles
irresponsáveis? E se os governantes que eles escolhem
são irresponsáveis, que autoridade têm esses
governantes irresponsáveis para impor um uso
responsável de máscara?

(1) A representação comercial de produtos da linha


Estákline e Mau em Portugal está a cargo de duas
empresas de eventos, o PCP SARL e o BE SAII (2).
(2) SAII: Sociedade Anónima de Irresponsabilidade
Ilimitada.

U avtor não segve a graphya du nouo AcoRdo


Ørtvgráphyco. Nein a do antygo. Escreue coumu
qver & lhe apetece. #EncuantoNusDeixam

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