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CÓDIGO/DESIGNAÇÃO DA UNIDADE

6560 / Comunicação na interação com o utente, cuidador e/ou família

CARGA HORÁRIA 50 horas


ÍNDICE
Código/designação da unidade............................................................................................1
Carga horária....................................................................................................................... 1
Índice............................................................................................................................ 2
Objetivos gerais................................................................................................................... 5
Conteúdos programáticos....................................................................................................6
Introdução........................................................................................................................... 7
A comunicação na interação com o utente, cuidador e/ou família.....................................8
A comunicação na interação com indivíduos em situações de vulnerabilidade............19
A comunicação na interação com indivíduos com alterações de comportamento.......25
Agressividade.............................................................................................................25
Agitação.....................................................................................................................25
Conflito................................................................................................................ 26
A comunicação na interação com indivíduos com alterações ou perturbações mentais
....................................................................................................................................... 28
A comunicação na interação com o utente com alterações sensoriais.............................34
A comunicação não verbal.............................................................................................34
Outras linguagens..........................................................................................................35
Comunicação e Interculturalidade em saúde....................................................................42
Barreiras interculturais na comunicação.......................................................................42
Mitos e factos sobre saúde e (i)migração......................................................................47
A Comunicação e o Género em saúde...............................................................................56
A comunicação na interação com populações mais vulneráveis.......................................70
Tarefas que em relação a esta temática se encontram no âmbito de intervenção do/a
Técnico/a Auxiliar de Saúde...............................................................................................75
Tarefas que, sob orientação de um profissional de saúde, tem de executar sob sua
supervisão direta...........................................................................................................75
Tarefas que, sob orientação e supervisão de um profissional de saúde, pode executar
sozinho...........................................................................................................................77

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Conclusão...........................................................................................................................80

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OBJETIVOS GERAIS
 Identificar possíveis estratégias para ultrapassar as barreiras na comunicação e
interação com utente.
 Identificar mitos e crenças comuns nas populações migrantes e minorias étnicas
em Portugal.
 Identificar os aspetos de natureza cultural, de género e de vulnerabilidade que
podem consistir obstáculo à comunicação e à interação.
 Explicar que as tarefas que se integram no âmbito de intervenção do/a Técnico/a
Auxiliar de Saúde terão de ser sempre executadas com orientação e supervisão de
um profissional de saúde.
 Identificar as tarefas que têm de ser executadas sob supervisão direta do
profissional de saúde e aquelas que podem ser executadas sozinho.
 Aplicar técnicas de comunicação na interação com o utente, cuidador e/ou família
com alterações de comportamento ou alterações ou perturbações mentais.
 Aplicar técnicas de comunicação na interação com utentes com alterações
sensoriais.
 Explicar a importância de comunicar de forma clara, precisa e assertiva.
 Explicar a importância de demonstrar interesse e disponibilidade na interação com
utentes, familiares e/ou cuidadores.
 Explicar a importância de manter autocontrolo em situações críticas e de limite.
 Explicar o dever de agir em função das orientações do Profissional de saúde.
 Explicar o impacte das suas ações na interação e bem-estar emocional de terceiros.
 Explicar a importância de respeitar os princípios de ética no desempenho das suas
funções de Técnico/a Auxiliar de Saúde.
 Explicar a importância de adequar a sua ação profissional a diferentes públicos e
culturas.
 Explicar a importância de adequar a sua ação profissional a diferentes contextos
institucionais no âmbito dos cuidados de saúde.
 Explicar a importância da cultura no agir profissional.

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CONTEÚDOS PROGRAMÁTICOS
 A comunicação na interação com o utente, cuidador e/ou família
o A comunicação na interação com indivíduos em situações de vulnerabilidade
o A comunicação na interação com indivíduos com alterações de
comportamento:
 Agressividade
 Agitação
 Conflito
o A comunicação na interação com indivíduos com alterações ou perturbações
mentais
 A comunicação na interação com o utente com alterações sensoriais
o A comunicação não verbal
o Outras linguagens
 Comunicação e Interculturalidade em saúde
o Barreiras interculturais na comunicação
o Mitos e factos sobre saúde e (i)migração
 A Comunicação e o Género em saúde
 A comunicação na interação com populações mais vulneráveis
 Tarefas que em relação a esta temática se encontram no âmbito de intervenção
do/a Técnico/a Auxiliar de Saúde
o Tarefas que, sob orientação de um profissional de saúde, tem de executar
sob sua supervisão directa
o Tarefas que, sob orientação e supervisão de um profissional de saúde, pode
executar sozinho

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INTRODUÇÃO
Provavelmente já lhe aconteceu pensar: “Devia ter dito aquilo de outra maneira”.
Ou já se viu em situações onde perante a uma mesma informação, ou um determinado
comportamento (gesto, ou fala) quem está ao seu lado tira conclusões diferentes das
suas.
O processo comunicacional é intrínseco à condição humana, é ele que estabelece
relações que nos tornam humanos. Todos nós precisamos de nos fazer entender e
entendermos os outros, e foi através desta necessidade que ganhámos o principal fator
de vantagem evolutiva. Ao desenvolver a linguagem seja ela não-verbal ou verbal, a
nossa espécie permitiu-nos primitivamente dar a conhecer os perigos que o mundo
oferecia e dessa forma alertar a restante prole para o seu efeito, e de forma mais
evoluída, a criação de grandes ideias inovadoras que permitem atualmente o conforto de
todos os cidadãos.
Comunicação é um conceito histórico e polissêmico, que evoluiu entre o século XIX e XX,
sendo ponderada, em um primeiro momento, como um conjunto de canais e meios de
transporte, depois como um processo social de interação, para finalmente ser
considerada como positividade formada pelas práticas, discursos e ideais instituídas por
meio de uma veiculação social de mensagens das chamadas tecnologias da comunicação.
Uma mensagem é mais do que “simples” informação. Ela implica um significado e é este
significado que tem de ser compreendido para que haja comunicação efetiva.

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A COMUNICAÇÃO NA INTERAÇÃO COM O UTENTE, CUIDADOR E/OU
FAMÍLIA

Comunicação, definição e conceitos

Na Wikipédia definem comunicação como:


"A comunicação (do latim communicatio.onis, que significa "ação de participar") é
um processo que envolve a troca de informações entre dois ou mais
interlocutores por meio de signos e regras semióticas mutuamente
entendíveis. Trata-se de um processo social primário, que permite criar e
interpretar mensagens que provocam uma resposta."
A Infopédia, dicionário de língua portuguesa diz comunicação é:
"nome feminino
1. ato ou efeito de comunicar
2. troca de informação entre indivíduos através da fala, da escrita, de um código
comum ou do próprio comportamento
3. o facto de comunicar e de estabelecer uma relação com algo ou
alguém; relação; correspondência
4. o que se comunica; mensagem; informação; aviso; anúncio
5. meio técnico usado para comunicar; transmissão
6. capacidade de entendimento entre as pessoas através do diálogo
7. passagem de um local a outro; acesso; via"
Por favor, sigam as ligações abaixo para mais informação sobre comunicação:
https://www.youtube.com/watch?v=FDhlOovaGrI
https://www.youtube.com/watch?v=RKK7wGAYP6k
Para haver comunicação efetiva é necessário que se verifique:
 Troca de informação
 Assegurar que a informação é compreendida (o que é mais complicado do que
possa parecer à primeira vista. Requer treino e esforço);
 Estabelecer confiança - (quem ouve não só tem de compreender, mas também
acreditar no que lhe é dito);
 Compromisso para a ação.

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Qualquer relação entre pessoas é condicionada por um conjunto de circunstâncias, entre
as quais os papéis que desempenham e a posição que ocupam na estrutura social. Para
além disso, as atitudes e as expectativas de cada indivíduo são geridas de acordo com a
imagem que cada um tem e elabora em relação ao outro.
Toda e qualquer parte de um sistema está relacionada de tal modo com as demais partes
que uma mudança numa delas provocará mudança em todas as partes e no sistema
total. Nas interações humanas os objetos são pessoas-comunicando-com-outras-pessoas.
As pessoas existem com atributos (estados de espírito, expressão corporal, modo de
vestir e de estar, etc.). Estes atributos são comportamentos comunicativos.
As pessoas interagem num determinado ambiente. Este meio envolvente influencia as
pessoas e cada pessoa em interação com outra altera também o meio.
A comunicação acontece sempre e o sucesso de uma comunicação é possível apenas
quando aquele que envia e o outro que recebe a informação percebem a mensagem da
mesma maneira. É necessário:
 Haver confiança;
 Partilhar informação;
 Solicitar feedback;
 Atender ao contexto e à cultura.
A comunicação circula entre emissor e recetor. É um processo de reciprocidade. Há uma
troca mútua de mensagens. Na maior parte das vezes alternamos permanentemente nas
posições de emissor e recetor. O feedback que se dá mesmo em silêncio
(comportamento não-verbal), é uma mensagem enviada que será interpretada por quem
estiver a falar. Os significados estão nas pessoas, não estão nas palavras.

Figura 1- Esquema de comunicação

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Emissor
Pessoa, grupo ou organização que deseja ou pretende comunicar com um determinado
recetor.
Antes de enviar uma mensagem deverá procurar descobrir qual o nível de conhecimento
de quem ela se dirige, o seu nível cultural, a sua instrução, etc. Existem duas conduções
essenciais da parte de quem pretende transmitir informação de forma transparente, que
deverá ter em atenção:
 Credibilidade: dominar os aspetos técnicos, revelar conhecimento sobre o público
e o contexto em que a mensagem é transmitida;
 Conhecer a audiência (indivíduos ou grupos).
Se o emissor não for claro no que quer dizer e quais são as suas intenções, a outra pessoa
poderá fazer uma interpretação errada do que está a dizer. Esta interpretação errada
pode ser involuntária, devido à falta de clareza, mas também pode ser propositada, e
ainda com a desculpa de que não compreendeu bem...
Mensagem
É todo e qualquer sinal que desencadeia a resposta do recetor. Tudo que transmita um
sentido (seja a mensagem intencional ou não).
A comunicação desenrola-se quando o emissor traduz a sua ideia para um código ou
linguagem, que possa ser compreendida pelo recetor. O emissor tem de escolher as
palavras ou sinais não verbais que o recetor seja capaz de interpretar. Este código que é
escolhido pelo emissor deverá ser um sistema de significados que seja partilhado pelos
membros de uma cultura ou subcultura (grupos étnicos, grupos profissionais - gíria
técnica- etc.)
Em relação à mensagem tenha em atenção algumas variáveis antes de comunicar:
 Tom, volume e ritmo da comunicação;
 Organização do discurso;
 Validade dos argumentos;
 O que é dito e o que é deixado por dizer.
Canal ou meio
Todas as mensagens são transmitida ou atravessam algum tipo de canal. Meio através do
qual a mensagem é transmitida permitindo que o emissor e recetor comuniquem.
Exemplos: fax, ar, correio eletrónico, telefone, face-a-face, videoconferência, cartas,
telegramas, mensagens SMS, etc.

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Recetor
Aquele a quem se dirige a mensagem, aquele que recebe a informação e a descodifica.
Ao comunicar terá de ter em atenção que a pessoa com quem está a falar interpreta a
mensagem e lhe atribui um significado, consoante os seus valores, aquilo em que
acredita e história pessoal e das relações. O recetor descodifica mensagem, ou seja,
seleciona as palavras, símbolos e outras pistas para interpretar a mensagem.
O significado reside no recetor. (o que é que significa para quem recebe a mensagem).
Alguns exemplos:
 O que visualiza ou pensa quando ouve a palavra "cão"?
 Que imagem lhe vem à cabeça quando ouve a palavra "liberdade"?
 Que imagem lhe vem à cabeça quando ouve a palavra "escola"?
 O que visualiza ou pensa quando ouve a palavra "veículo"?
Quanto mais ambígua for a mensagem enviada, maior é a probabilidade de haver
diferentes interpretações, por diferentes pessoas. E um dos erros mais frequentes
cometidos por quem fala é partir do pressuposto de que os outros vêm a realidade da
mesma forma do que nós, com as mesmas lentes. Ou que atribuem igual significado às
palavras.
O que pensa ou visualiza com a palavra “funeral”?

Feedback
O feedback (retroalimentação) consiste na mensagem de retorno que o recetor
(transformando-se ele próprio em emissor) envia ao emissor de origem, as pessoas

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reagem de forma verbal e não-verbal à mensagem que é enviada, é um dado crucial que
nos informa se a mensagem está a ser bem compreendida ou não.
Pode ser solicitado pelo emissor:
 Entendi bem que...?
 Estou a pensar bem quando digo...?
 Esteve a dizer-me que...?
 Qual é a sua opinião relativamente ao que eu disse sobre...?
 Se bem percebi, está a dizer que...
Ao solicitar feedback está a criar condições para que a comunicação seja efetiva, ou seja,
para que a mensagem que está a interpretar/descodificar seja a mesma que a outra
pessoa está a enviar.
Dar e receber feedback
Todos os dias, na nossa vida pessoal ou profissional damos e recebemos informação
acerca do nosso comportamento. Sinais de reforço, por vezes positivo, outras vezes no
sentido de alterar o curso das nossas ações. Ou seja, "reenviamos à origem informação
sobre o resultado de um trabalho efetuado". in Infopédia - Dicionários Porto Editora.
Diferentes modalidades de feedback:
 Valorizar - Seja sincero nos elogios para que se estabeleça uma atmosfera
construtiva;
 Clarificar - Repita o que disse e aguarde por confirmação de que o que está a dizer
está certo;
 Redirecionar a questão de volta à pessoa, por exemplo: “Esta solução parece
interessante. Como é que está a pensar que pode ser feito aqui nesta situação?”;
 Dê enfoque ao desempenho melhorado - não utilize o feedback apenas para
criticar ou realçar a negativa que não deve ser deixada de referir, mas é
igualmente importante dar informação de reforço positivo acerca dos aspetos
positivos atingidos. Isto ajuda a pessoa a evoluir a partir daquilo que fez bem;
 Os comentários devem ser descritivos, e não, interpretações - mantenha-se
centrado no comportamento, e não no carácter, atitudes ou personalidade da
outra pessoa.
 Centrar-se nos acontecimentos recentes ou nas ações que precisam de ser
alteradas, a correção ou reforço deverá ser no momento da ação;
 Evitar a mudança coerciva - Isto significa que deve fornecer informação de modo a
guiar a pessoa no sentido de manter ou alterar um comportamento específico.

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 Seja sincero e realista - a intenção é ajudar a pessoa a melhorar. Aborde apenas os
fatores que estão ao alcance da outra pessoa alterar (que a pessoa pode
controlar);
 Ter a atitude de abertura suficiente para permitir a colaboração e o
desenvolvimento construtivo da aprendizagem. Sem o feedback da outra pessoa
não pode haver comunicação. E sem comunicação não poderá saber se o que está
a ilustrar e a explicar é claro e suficiente. Por isso deverá encorajar a solicitação
de feedback da outra parte.
 Separe factos de opinião, quer seja a fornecer feedback quer seja a receber, as
opiniões não deverão ser desprezadas, mas não têm o mesmo peso que a
demonstração de factos.
Perguntas que solicitam feedback podem ser:
 Fui claro no que disse?
 É aqui que está a ter mais dificuldade?
 Está a conseguir acompanhar todos os passos?
Saber ouvir
Na comunicação é muito importante o saber ouvir.
O saber ouvir tem duas dimensões:
 A escuta ativa: Escutar é "absorver" o sentido das palavras e das frases pelo
cérebro. Escutar leva à compreensão dos factos e das ideias, e a que se lembre
mais tarde do que foi dito. Requer atenção (ou pelo menos estar centrado na
tarefa que está a fazer, apesar das distrações) e concentração.
 A empatia, esta é a capacidade de se colocar "como se fosse" a outra pessoa e
perceber de uma forma consciente e propositada, o seu estado de espírito, as
emoções e os seus sentimentos, que estão presentes numa determinada
circunstância em particular.
Quanto melhor desenvolver estas duas vertentes, mais eficaz será no relacionamento
interpessoal.
Muitas pessoas estão de tal maneira confiantes nas suas posições que nem sequer se
apercebem do que o outro está a dizer. Em vez de ouvir, aproveitam a pausa para
preparar o que querem dizer depois. Por vezes fazem de conta que estão a ouvir, quando
na realidade estão apenas à espera da sua oportunidade.
A tarefa de escutar é dificultada pela urgência que temos em fazer com que as nossas
ideias sejam conhecidas, assim como pela necessidade de centrarmos a atenção da outra

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pessoa no que queremos dizer. A maior parte das pessoas adora falar de si, o que torna
um exercício de treino constante: parar para escutar os outros.
Escuta ativa é essencialmente ouvir com um objetivo. Ser capaz de estar com atenção ao
que a outra pessoa está a dizer. Isto é possível através de algumas atitudes e
comportamentos concretos:
 Manter o contacto visual. Faz com que mantenha a sua atenção focalizada na
tarefa e envolvido no assunto que está a ser tratado;
 Sorrir nos momentos apropriados;
 Tirar apontamentos apenas quando for mesmo necessário;
 Dar a quem está a falar a possibilidade de expor a sua ideia até ao fim, mesmo que
não concorde, com ela. Poderá exprimir a sua opinião depois;
 Ser sensível ao comportamento não verbal, ouvir com os olhos e com os ouvidos;
 Ouvir primeiro e tirar conclusões depois;
 Não estar a planear uma resposta enquanto a outra pessoa está a falar. Não pode
estar mesmo a escutar se já estiver ocupado a pensar no que é que vai dizer a
seguir;
A nossa mente tem a capacidade de ouvir, pensar, escrever e ponderar, em
simultâneo, mas é necessário treino;
 Tentar não filtrar a mensagem através das suas "lentes" de subjetividade. Reaja às
ideias, não à pessoa;
 Interromper apenas para fazer perguntas que visem esclarecer o que a outra
pessoa quer dizer. As pessoas gostam de acabar o seu raciocínio e dizer tudo o que
têm para dizer. Quando interrompe, pode dar a ideia de que não esteve a escutar,
mesmo que isto não seja verdade;
 Esperar pela resposta;
 Fazer perguntas. Se não tem certeza de que percebeu o que acabou de ser dito,
pergunte;
 De vez em quando, repetir com palavras suas o que a outra pessoa está a dizer, no
sentido de se certificar de que está a compreender a mensagem. Frases
como: “Portanto, se bem percebi, está a ter um problema com....";
 Não querer ter sempre a última palavra.
Escute as emoções por detrás das palavras
Procure compreender os sinais emocionais por detrás das palavras que são ditas. Isto
será uma enorme ajuda para poder detetar dificuldades ou problemas que as pessoas
podem estar a ter. Estes sinais não são sempre óbvios ou explícitos:

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 Eu não consigo atingir este objetivo - Esta pessoa poderá estar a dizer que precisa
da sua ajuda;
 Importar-se-ia, se eu esta semana não fosse à reunião de equipa? Eu preciso de
trabalhar com a Margarida nesta tarde - Este pode ser um pedido legítimo, mas
também pode indicar que estar presente na reunião signifique a criação de um
conflito pessoal que queira evitar;
Não aceite sempre o aspeto superficial das palavras. Principalmente em relações onde
existem diferenças de estatutos (pela hierarquia, pela idade, pela antiguidade) as pessoas
utilizam formas indiretas para pedir ajuda.
Estas emoções que detrás das palavras são pistas importantes para o tipo de suporte que
a pessoa precisa. Mas constitui um desafio para a sua correta deteção e saber como
responder perante estas situações.
Exemplos de resposta que demonstram empatia e diferentes tipos de suporte:
 Dar garantias que reduzem os receios de falhar: “Eu acho que deveria tentar esta
abordagem à gestão da dor, talvez seja pouco convencional, mas se não resultar
poderemos sempre voltar ao que fazemos hoje.”.
 Demonstração convincente de confiança: “Você tem uma enorme intuição para
saber o que vai funcionar ou não. Se há alguém capaz de fazer resultar esta
abordagem, este alguém é você!”.
Não se esqueça de garantir apenas aquilo em que acredita, e que estiver ao seu alcance!
Tipos de perguntas - Estabelecer diálogo
Perguntar ajuda a estabelecer um diálogo entre as pessoas. Se forem feitas de modo
adequado provocam uma reação no sentido da colaboração por parte das pessoas. Fará
com que pensem e participem.
 Como incentivar a resposta?
 Qual o tipo de perguntas mais eficazes para um determinado objetivo?
Existem dois tipos de perguntas:
 De final fechado - Dão origem a respostas de "sim" ou "não". Utilize-as para:
o Focalizar a resposta – “Está satisfeito com o seu progresso?”;
o Confirmar o que a outra pessoa disse – “Então, a sua maior dificuldade é a
que horas tomar a medicação?”;
o Manter ambas as partes de acordo – “Então estamos ambos de acordo que
as doses de analgésico que está a fazer, não são suficientes?”

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 De final aberto - São geradoras de participação e partilha de ideias. São úteis para
avaliar o grau de compreensão e estabelecer laços de confiança. Geralmente
começam por:
o Como...
o Porquê...
o Quando...
o Onde...
o O que é que ...
o Quais ...
o Utilize-as para:
 Explorar alternativas: “O que é que aconteceria se...”;
 Revelar atitudes ou necessidades: “Como é que se está a sentir com a
nova dosagem dos analgésicos?”;
 Incentivar o desenvolvimento do pensamento – “Então, na sua
opinião quais são as maiores dificuldades que tem encontrado até
agora?”
 Desencadear feedback de pessoas mais incomunicativas (que falam
pouco, perguntam pouco, participam pouco...).
O que dificulta a comunicação
Tudo o que possa criar problemas, mal-entendidos, dificuldades na comunicação são
chamadas de barreiras à comunicação.
Diálogo retirado de um fórum de informática:
“J - Quero fazer um random de uma string até a string estar cheia
A- Não percebi bem o que querias fazer, mas só conheço a função rand,
incluída na stdlib.h que gera um número pseudo-aleatório (tens que dar uma
seed) entre 0 e RAND_MAX. Talvez te ajude.
J- É capaz de ajudar, vou xprimentar logo vejo se funciona thx,”
Nesta breve passagem, os dois interlocutores parece que se conseguiram entender, no
entanto existem pelo menos dois fatores que poderão constituir barreiras à comunicação
- o jargão técnico, compreensível apenas para algumas pessoas, e aspetos da escrita que
apresenta abreviaturas (ex.:thx).
Neste exemplo a comunicação efetivou-se (ambos entenderam o que cada um estava a
falar) pois partilhavam o mesmo código com que foi construída a mensagem... Eu, pelo
contrário, não faço a mínima ideia do que estão a falar...

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Analise mais algumas barreiras à comunicação:
 Diferenças culturais entre o remetente e o recetor - Por causa das nossas
diferenças sociais, culturais ou sexuais, a nossa atitude em relação ao espaço,
gestos e tempo da outra pessoa, podem dificultar o processo de comunicação;
 Estereótipos - Preconceitos, julgamentos prévios ou ideias preconcebidas sobre a
pessoa que está a falar, bloqueia o significado da comunicação. Já nos aconteceu a
todos uma ou outra vez, "nem ligar à conversa" a partir do momento de que
sabemos de onde esta vem;
 Suposições - Supor que a outra pessoa ou pessoas pensam da mesma maneira
sobre o conteúdo do que está a ser comunicado. É necessário certificarmo-nos se
estamos todos da posse da mesma informação. A compreensão de informação
nova está muitas vezes dependente de informação previamente adquirida;
 História do relacionamento - A memória de diálogos anteriores, onde são
recordados o modo como estes diálogos decorreram e acabaram, assim como o
nível de envolvimento afetivo com uma pessoa, afetam a forma de atuar nos
diálogos futuros. Num relacionamento marcado por conflitos, a informação que é
veiculada entre emissor e recetor de forma contínua e circular, tende a ser
ignorada ou distorcida;
 Ruído externo - O ruído ambiente pode desviar a atenção perder-se informação
relevante para a compreensão correta do significado que se pretende comunicar;
 Sinais não verbais - Se os sinais não-verbais, tais como expressões faciais, contacto
visual, postura, aparência, etc. não acompanham a comunicação verbal o seu
significado pode ser distorcido;
 Gestão do tempo certo - A gestão da oportunidade (timing) deve ser
cuidadosa. Tentar comunicar um assunto importante sob pressão poderá ser um
obstáculo tanto para o remetente como para o recetor. Por outro lado, informação
que não é propriamente relevante no momento não será alvo de muita atenção e
a ação provavelmente não será levada a cabo de imediato (por ex.: solicitar a
realização de uma tarefa com uma data-limite para entrega ainda longínqua);
 Informação a mais ou irrelevante - Informação não específica ou clara, e sem
relação com o que está a ser transmitido pode ser uma barreira à comunicação
efetiva;
 Canal não apropriado - Escolher um meio de envio de informação errado. Por ex.,
enviar uma carta formal a um colega a solicitar uma conversa rápida, não é
certamente o meio mais eficaz e é até desadequado face ao tipo de relação entre
as pessoas. No entanto se for para pedir informações sobre certos aspetos de uma

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organização, em que é importante manter os registos das trocas de informação,
este será um meio adequado;
 Jargão - As palavras ou imagens usadas na comunicação afetam e podem
determinar a compreensão e eficácia da comunicação. Os trabalhadores altamente
qualificados e especialistas em determinada área poderão facilmente cair na
armadilha de utilizar linguagem demasiado especializada para uma audiência que
não é especialista na matéria. Para esta audiência será o equivalente a ouvir uma
língua estrangeira...Nem todos poderão conhecer o significado de determinados
termos de uma determinada área profissional. Ex: “O seu filho vai ter que fazer
uma tonsilectomia.”!!!
Como vencer as barreiras à comunicação
Existem algumas estratégias que poderá adotar por forma a ultrapassar diversas
barreiras à comunicação:
 Tenha em atenção às palavras que utiliza - frases longas e complicadas e palavras
pouco conhecidas (tonsilectomia) confundem as pessoas. A comunicação deve ser
clara, concisa, concreta, correta e educada;
 Verifique a ortografia na comunicação escrita e assegure que as frases são claras,
concisas e não ambíguas;
 Evite conversas importantes ao final do dia ou quando a outra pessoa está
visivelmente cansada, ocupada ou em stress;
 Escolha o melhor lugar possível - converse em lugar que encoraje uma
comunicação aberta, não no meio de um corredor barulhento, de uma sala de
espera cheia, ou de uma enfermaria com várias pessoas;
 Se a conversa é importante deverá preparar uma sala ou um espaço onde não
possam ser interrompidos;
 Escolha o tipo de canal de acordo com o tipo de mensagem a ser enviada (formal,
informal, escrita ou verbal);
 Pense antes de falar;
 Tenha atenção à oportunidade da mensagem (o timing);
 Dê tempo à outra pessoa para falar;
 Centre a sua atenção no conteúdo e não nas características da pessoa;
 Seja empático - olhar para a situação a partir do ponto de vista da outra pessoa e
tentar compreender as suas opiniões, preocupações e atitudes faz melhores
comunicadores;
 Dê e solicite Feedback- possibilita que a comunicação se processe de forma
circular, num processo com dois sentidos, em que emissor e recetor tentam chegar
a um entendimento comum;

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 Utilize a repetição - a repetição das mensagens diversas vezes, utilizando
diferentes exemplos pode ajudar as outras pessoas a entender melhor.
Existem dois aspetos que são centrais e constituem a base de todas estas medidas, que
poderá adotar para melhor comunicar:
 Autoconhecimento:
o Como é que eu me comporto habitualmente neste tipo de situações?
o O que faz desencadear em mim formas de comunicar agressivas?
o Que emoções tenho mais dificuldade em mediar?
o Que necessidades necessito de ver satisfeitas mais rapidamente?
 Autoconsciência:
o Atitude mental de atenção propositada ao tom de voz, aos gestos, ao
espaço, tempo e ritmo;
Se é verdade que em situações correntes do nosso dia a dia, poderemos adotar uma
postura mais descontraída e não estar tão alerta, em outras situações será certamente
importante e relevante ter atenção:
 Ao próprio comportamento;
 À forma de comunicar e de reagir a determinados estímulos.

A comunicação na interação com indivíduos em situações de vulnerabilidade


A comunicação em saúde refere-se ao estudo e utilização de estratégias de comunicação
para informar e para influenciar as decisões dos indivíduos e das comunidades, no
sentido de promoverem a sua saúde. A comunicação constitui, de facto, uma das
componentes centrais da área da saúde, sendo essencial para um desempenho com
qualidade. Desta forma, é fundamental que a comunicação em saúde seja clara,
compreensível, credível e principalmente personalizada, isto é, adequada às
necessidades de informação do doente naquele momento e adaptada ao seu nível
cultural e capacidades cognitivas. O processo comunicacional em saúde assume, assim,
uma extrema importância, na medida em que pode influenciar significativamente a
satisfação dos doentes/familiares, a sua adaptação psicológica à doença, os seus
comportamentos de adesão e a avaliação da qualidade dos cuidados de saúde prestados.
Partilha de Informação
No âmbito dos cuidados de saúde, o fornecimento de informação torna-se uma questão
essencial. Por um lado, temos os doentes que necessitam de informação, tentando

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adquiri-la de variadas formas, e por outro a obrigatoriedade dos profissionais de saúde
em informar os doentes sobre o seu estado clínico.
De facto, o Conselho Nacional de Ética para as Ciências da Vida (2011) defende que a
compreensão da informação de saúde, enquanto instrumento para a tomada de decisão,
insere-se no respeito pela autonomia da pessoa e no respeito pelos seus familiares, bem
como na responsabilidade dos profissionais de saúde pela proteção dessa mesma
informação, através do dever de confidencialidade e privacidade. Neste contexto, o
ponto 6 da Carta dos Direitos e Deveres dos Doentes (Direção Geral da Saúde, 2011)
menciona que o doente tem direito a ser informado, de forma clara, sobre a situação de
saúde, tendo sempre em conta a sua personalidade, o grau de instrução e as condições
clínicas e psíquicas. Esta informação deve conter elementos relativos ao diagnóstico, ao
prognóstico, aos tratamentos adequados e aos possíveis riscos. O mesmo documento
refere, também, que o doente pode desejar não ser informado do seu estado de saúde,
devendo indicar, caso o entenda, quem deve receber a informação em seu lugar.
De facto, a hospitalização gera, além de um medo irracional, um elevado grau de
incerteza no que concerne à sua etiologia, diagnóstico, tratamento e sobretudo
prognóstico. Assim, os familiares vêem-se obrigados a obter informação de modo que
esta os ajude a terem acesso ao que se passa com o doente, permitindo a redefinição dos
seus objetivos de vida.
O técnico de saúde, ao conviver com o doente por muito tempo, principalmente quando
se trata de uma doença crónica que exige um cuidado mais prolongado, ambos
experimentam um conjunto de fenómenos, sentimentos, pensamentos e reações que
podem interferir beneficamente no processo de comunicação. Entre eles estão a
empatia, o respeito mútuo e a confiança.
Quando esta perceção do mundo do outro acontece pode-se dizer que está presente a
empatia. A empatia e o envolvimento emocional são fundamentais para que o
profissional compreenda o mundo do outro. Somente assim ele pode oferecer um
cuidado individualizado, respeitando as crenças, os valores e a cultura da pessoa.
As capacidades de escuta são cruciais na profissão de técnico de saúde, pois só a atitude
de disponibilidade e escuta poderão conduzir a uma relação de confiança e respeito.
Define-se escuta ativa como a capacidade de ouvirmos com todos os nossos sentidos, a
fim de identificar as reais necessidades da pessoa.
Pelo exposto, podemos afirmar que, no desenvolvimento do processo terapêutico
existem técnicas de comunicação terapêutica que facilitam a interação técnico/doente.
Ao utilizá-las o técnico deve considerar cada uma delas particularmente para cada
situação específica.

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Competências Comunicacionais
A comunicação no cuidar deve ser holística, considerando a pessoa como um todo e
evidenciando respeito pelo doente como pessoa e não como um corpo alvo de
intervenções técnicas. Desta forma, torna-se fundamental que cada técnico de saúde
invista no desenvolvimento de competências comunicacionais, na medida em que a
comunicação se assume como a essência do cuidar, tornando possível a prestação de
cuidados humanizados, interdisciplinares, competentes e personalizados.
A informação prestada à pessoa e à família constitui uma das armas mais poderosas no
que se refere à ajuda necessária à aceitação, à confrontação da doença e à adaptação às
mudanças que ocorrem. E é através da comunicação que se obtém esta partilha de
informação, tornando-se essencial para o estabelecimento de uma relação terapêutica.
A comunicação no âmbito da saúde deve ser terapêutica, uma vez que objetiva o
cuidado, favorecendo, através deste, autoconfiança, respeito, individualidade, ética,
compreensão e empatia pela pessoa cuidada. A comunicação assume-se, assim, como
um processo que pode ser utilizado como instrumento de ajuda terapêutica.
O técnico de saúde, na implementação do processo de cuidados deve recorrer a técnicas
de comunicação terapêuticas como:
 Escuta - Capacidade em demonstrar, pela comunicação não-verbal, o seu interesse
pela pessoa, enquanto observa as reações deste face às mensagens recebidas.
 Silêncio - Capacidade de comunicar à pessoa, de forma não-verbal, a sua aceitação.
 Orientação - Instruções/orientações dadas à pessoa com o intuito deste saber o
que se espera dele.
 Comentários abertos - Observações de âmbito geral capazes de direcionar a
interação e encorajar a pessoa a prosseguir.
 Consideração - Reconhecimento da importância da pessoa na interação.
 Recapitulação - Validação da interpretação da mensagem por parte do profissional
à pessoa.
 Reflexão - Remeter à pessoa as suas próprias ideias, sentimentos, questões e
conteúdo, com o intuito deste reconhecer a importância das mesmas.
 Validação consensual - Demonstra o desejo do profissional em compreender o
significado de sinais ou conotação de palavras específicas emitidos.
 Focalização - Questões ou afirmações com o intuito de ajudar a desenvolver uma
ideia.
 Síntese - Revisão através da qual é feita uma constatação dos principais temas
discutidos durante a interação.

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 Planificação - Decisão mútua relativamente à finalidade e direção das interações
futuras.
As técnicas de comunicação terapêutica podem ser classificadas em três grupos:
 De expressão;
 De clarificação;
 De validação.
No grupo de expressão, estão implícitas estratégias que estimulam ou facilitam a
expressão verbal de pensamentos e sentimentos sobre a experiência que os
desencadeou, e são fundamentais na descrição da própria experiência. Algumas técnicas
deste grupo são:
 Ouvir reflexivamente;
 Usar terapeuticamente o silêncio;
 Verbalizar a aceitação e interesse;
 Usar frases com sentido aberto;
 Permitir à pessoa que escolha o assunto;
 Verbalizar dúvidas;
 Usar terapeuticamente o humor.
No grupo de clarificação, as estratégias são utilizadas para ajudar a compreender ou
clarificar as mensagens enviadas pelos doentes, quando parte delas contém
ambiguidades. Algumas destas técnicas, reportam-se a:
 Estimular comparações;
 Solicitar à pessoa que esclareça termos incomuns;
 que defina claramente o que se pretende;
 Descrever os eventos em sequência lógica.
A validação da mensagem deve ser contínua no processo de comunicação. A validação
tem importância fundamental na verificação da compreensão das informações e
orientações dadas à pessoa pelo técnico. Algumas técnicas de comunicação terapêutica
deste grupo de validação são:
 Repetir a mensagem;
 Pedir para repetir o que foi dito;
 Resumir o conteúdo da interação.
Se o técnico não clarificar e validar a mensagem, incorrerá no risco de agir com base nos
seus valores, crenças ou fazer interpretações erradas

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O uso da comunicação terapêutica é essencial para ajudar o doente a mover-se da
dependência para a interdependência e independência, dentro das suas possibilidades. O
objetivo é a autonomia do doente para desenvolver a própria vida.
Barreiras à comunicação terapêutica
Contudo, na prática diária são frequentes a utilização de técnicas de comunicação não
terapêuticas, ou seja, as que dificultam a interação técnico/doente e consequentemente
a implementação do processo de cuidados, estas técnicas de comunicação não
terapêutica dizem respeito a:
 Não escutar - Em que o técnico coloca as suas necessidades acima das
necessidades do doente;
 Colheita inadequada de dados - Ao se seguir rigidamente o formulário, podemos
não estar a explorar dados importantes para a prestação de cuidados
individualizados à pessoa;
 Julgar - Aprovando ou reprovando os relatos da pessoa, demonstrar aprovação ou
reprovação dos comportamentos, emitindo julgamento da situação retira á pessoa
a oportunidade de tomar as suas próprias decisões.
 Acalmar - Tentando dizer a palavra mágica, “tenha calma…”, negando o medo e
sentimentos da pessoa;
 Rejeição - Recusando discutir os temas com a pessoa;
 Defesa - Tentando proteger alguém ou alguma coisa do feedback negativo,
negando à pessoa o direito de exprimir a sua opinião.
 Aconselhamento - dizer à pessoa sobre o que deve pensar, como comportar-se ou
o que fazer, pode significar que o profissional sabe o que é melhor para o doente e
que este é incapaz de tomar decisões retardando o seu desenvolvimento para a
independência e autonomia.
 Responder com estereótipos - Ao utilizar expressões verbais banais e sem
significado, o profissional nega o significado da comunicação à pessoa.
 Mudar de conversa - O profissional dirige a interação para áreas de seu interesse,
levando à não existência de discussão de temas importantes para a pessoa;
 Paternalismo - Coloca o profissional num plano superior, evidenciando
condescendência;
Cabe a cada técnico de saúde, no seu dia-a-dia, evitar todas estas técnicas de
comunicação não terapêutica desenvolvendo a competência em comunicação e
descobrir novas formas de tornar sua comunicação a mais terapêutica possível, nunca
permitindo que ela se torne um ato puramente mecânico e rotineiro.
Comunicação com a família de uma pessoa internada em cuidados intensivos

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As unidades de cuidados intensivos (UCI) e as suas caraterísticas, inevitavelmente,
constituem um foco de stresse e ansiedade que é partilhado pelos profissionais
de saúde, doente e familiares. A comunicação que poderia servir como técnica eficaz na
redução do stresse e da ansiedade, surge-nos ela própria acompanhada de problemas,
tendo como um dos principais, a comunicação que, nestas unidades, ocorre quando
os doentes estão ventilados, logo, muitas vezes, impossibilitados de falar e apresentam
limitações motoras que lhes diminuem os movimentos.
A família sofre mudanças importantes e um impacto emocional relevante durante a
hospitalização de um dos seus membros, principalmente em unidades diferenciadas de
cuidados como as UCI. As angústias, os medos, os sofrimentos e as dúvidas estão
presentes, assim como as incertezas do tratamento e o prognóstico. Desta forma, a
família, como recetora de cuidados, requer informação e acompanhamento por parte
dos profissionais de saúde para lidar adequadamente com a situação de doença.
A integridade da família fica ameaçada pela separação, pelo medo de perda e pelo
próprio ambiente da UCI.
Os assistentes técnicos da UCI devem ajudar a perceber a condição da família da pessoa
em situação crítica, detetar as suas necessidades, nomeadamente ao nível da
comunicação, e combinar estratégias de comunicação que promovam a sua adaptação
ao estado de doença do familiar, otimizando a relação terapêutica e, desta forma,
minimizar os efeitos negativos que possam advir do estado de transição saúde/doença.
Torna-se fundamental humanizar os cuidados prestados através da comunicação com a
família, numa perspetiva de minimizar os efeitos negativos que advêm do internamento
do doente crítico.
Neste ambiente, demasiado técnico, é fundamental perceber a integralidade do doente e
da sua família, comunicando com eles de uma forma aberta e clara, explicando aos
familiares o que se pode esperar, tornando-os cientes da gravidade da situação, através
de informações precisas, certificando-nos da clareza de seu entendimento e
encorajando-os na sua tomada de decisões.
Nas necessidades da família do doente numa UCI uma das dominantes é a da
informação, a qual deve ser honesta e acerca do estado do doente e da sua evolução.
Este conhecimento torna-se essencial para a tomada de consciência da situação por
parte dos familiares, bem como para acionar os mecanismos adequados para a resolução
da crise. No contexto de uma UCI, a informação partilhada diariamente com os familiares
necessita de ser adequada a cada situação e deve ser dirigida para aspetos práticos que:
 Envolvam o estado do doente;
 A finalidade de determinada medicação;

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 A função dos equipamentos existentes;
 Exames realizados;
 Cuidados de enfermagem prestados.
Para a comunicação ser eficaz não é necessário transmitir informações exaustivas aos
familiares para tranquilizá-los, basta informações simples como por exemplo:
 Explicar o estado global;
 O quadro clínico do doente;
 Finalidade da medicação realizada;
 A função das máquinas.

A comunicação na interação com indivíduos com alterações de


comportamento
Agressividade
Agitação
A agressividade pode manifestar-se de diversas formas, tais como ameaças verbais,
destruição de objetos ou propriedade que estejam próximos, ou mesmo violência física.
Causas mais frequentes do comportamento agressivo no âmbito dos cuidados de saúde:
 Realização da higiene corporal, mais frequentemente o banho;
 Medicação, a toma ou a perceção da falta de medicamentos;
 Ser alvo de atenção indesejada;
 Perturbações mentais;
 Tempos de espera;
 Resultados não esperados.
Como lidar com estas situações:
 Se possível, procurar compreender o que originou a reação agressiva;
 Evitar a discussão, as reprimendas ou situações que se assemelhem a castigos;
 Dar espaço e evitar contatos físicos;
 Procurar manter a calma, não manifestando ansiedade ou medo;
 Não personalize as situações (lembre-se que não o estão a atacar a si);
 Concentre-se na situação e não na pessoa;
 Não o contradiga;
 Interprete corretamente o comportamento;
 Encaminhe o cliente/utente para a melhor solução;
 Gratifique-se por acalmar um cliente/utente agressivo.

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Para gerir a agressividade do utente utilize a técnica ERICA:
 Escute o que o interlocutor lhe diz;
 Recapitule o assunto e mostre que o compreendeu;
 Interrogue com perguntas abertas e fechadas, com o objetivo de obter o máximo
de informação;
 Combine a forma como o assunto vai ser tratado;
 Agradeça ao cliente/utente o facto de lhe ter colocado a situação.
Muitas pessoas difíceis têm os seus motivos pessoais/situacionais ou psicológicos.
Lembre-se que eles estão a ser difíceis por razões próprias, não por sua causa.
Prevenir crises de agressividade:
 Não ser demasiado exigente com a rotina diária da pessoa;
 Deixar que a pessoa faça o que ainda lhe é possível fazer, ao seu ritmo, sem
pressas e sem exigir a perfeição;
 Não criticar, antes pelo contrário, elogiar;
 Ajudar, dar informações/ instruções, mas não de forma autoritária;
 Não dar ordens;
 Procurar que a pessoa faça atividades que lhe interessem;
 Assegurar que a pessoa faz exercício físico suficiente (quando acompanhado em
contexto institucional);
 Estar atento a sinais que possam indiciar crise iminente e procurar distrair a
atenção da pessoa.
Conflito
Na Infopédia:
“nome masculino
1. disputa violenta; combate, luta
2. enfrentamento entre elementos contrários ou incompatíveis
3. antagonismo; oposição
4. hostilidade beligerante; guerra
5. altercação; briga; discussão
6. disputa, entre duas ou mais partes, pelo mesmo direito, competência, etc.”
O conflito é a convergência de forças de sentidos opostos e igual intensidade, que
surgem quando existe atração por duas opções positivas, mas opostas ou duas negativas
ou uma positiva e outra negativa.

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O técnico auxiliar de saúde está integrado numa equipa multidisciplinar, tendo de lidar
com diferentes tipos de pessoas, para além dos utentes e seus familiares, como
enfermeiros; médicos; colegas auxiliares, administrativos(as); chefias (…). Neste
contexto, é natural que surjam conflitos interpessoais.
Como gerir um conflito:
 Ser compreensivo;
 Acolher bem a pessoa;
 Identificar-se;
 Cumprimentar afavelmente;
 Não deixar que a sua expressão facial demonstre outra coisa que não calma;
 Cativar a pessoa agressiva;
 Durante a exposição do problema manter a calma, a neutralidade e prestar
atenção;
 Concentrar-se no problema e não na pessoa;
 Procurar deslocar-se para uma zona calma;
 Ser compreensivo;
 Colocar-se na posição da pessoa;
 Tratar a pessoa como gostaria de ser tratada;
 Se a pessoa se dirige a um colaborador de forma ofensiva, tal atitude não deve ser
considerada como algo pessoal;
 Normalmente o descontentamento é com a entidade, por isso é fundamental
dominar as emoções;
 Mantenha um tom educado;
 Evite aproveitar-se da constatação de que houve um equívoco por parte do utente.
Nestes casos é importante encontrar uma via que permita ao utente ter uma saída
airosa.
 Fazer perguntas que ajudem a resolver a situação, realçando queque as questões
são para obter informação e não para encontrar culpas ou desculpas;
 Evitar usar termos técnicos, pois o utente pode não dominar este tipo de
linguagem;
 A adoção de atitudes defensivas ou justificativas transmitem uma má impressão e
acentua a insatisfação;
 Evite dar desculpas, porque o que está em causa é a pessoa expor o seu problema
e solucioná-lo;
 O que interessa ao utente é ser escutado e solucionar o seu problema;
 Desculpar-se quando é claro que o erro foi nosso, a pessoa aceitará uma desculpa
sincera, seguida de uma eficaz solução para o problema;

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 Se a pessoa efetua uma reclamação injustificada devido a desconhecimento das
regras internas da instituição é importante dar-lhe explicações de forma clara e
completa.

A comunicação na interação com indivíduos com alterações ou perturbações


mentais
O que é que acontece quando compreende o que lhe é dito, mas não confia na
pessoa que está a falar consigo, ou não acredita que o que ele está a dizer seja
razoável ou a melhor solução?
Cada Pessoa com demência é única e as dificuldades na comunicação dos pensamentos e
sentimentos podem variar de pessoa para pessoa. Existem várias causas de Demência,
sendo que cada uma afeta o cérebro de forma diferente.
Demências Frontotemporais
O que é a Demência Frontotemporal (DFT)?
DFT é nome dado ao tipo de Demência em que ocorre degeneração de um ou de ambos
os lobos frontais e temporais do cérebro.
Lobos Frontais
Os lobos frontais (esquerdo e direito) regulam o humor, comportamento, julgamento e
autocontrolo. A existência de lesões nestes lobos, leva a alterações da personalidade e
comportamento, modificação da forma como a pessoa se sente e expressa as emoções e,
também, à perda da capacidade de julgamento.
Lobos Temporais
Os lobos temporais (esquerdo e direito) estão envolvidos na organização dos inputs
sensoriais (ex.: aquilo que se ouve ou vê). A existência de lesões nestes lobos pode levar
à dificuldade na colocação de palavras e imagens em categorias.
Existe uma diferença considerável nos sintomas manifestados consoante os lobos
cerebrais afetados. Os três principais subtipos ou variantes da doença são:
Demência Frontotemporal
Este é o subtipo mais comum, sendo também conhecido por Variante Frontal. É,
sobretudo, uma perturbação do comportamento. As pessoas com Demência
Frontotemporal podem ser desinibidas ou apáticas.

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Afasia Progressiva não-Fluente (AP)
Este subtipo anteriormente era conhecido por Afasia Progressiva Primária. As pessoas
com AP podem perder a capacidade de falar ou manifestar alterações da articulação das
palavras.
Demência Semântica (DS)
Este subtipo também é conhecido por Variante temporal. As pessoas com DS podem
perder a capacidade de compreensão das palavras e podem, também, tornar-se
preocupadas com uma única atividade.
Embora as pessoas com DFT possam ser diagnosticadas com um dos três subtipos
anteriores, à medida que a doença progride tendem a apresentar sinais e sintomas que
são uma combinação de dois ou três subtipos.
A DFT provoca, ao longo do tempo, o declínio progressivo e irreversível das capacidades
da pessoa.
O que é a Doença de Pick?
É um tipo de DFT e o seu nome deve-se ao neurologista alemão que a descreveu pela
primeira vez em 1892, ela afeta os lobos frontais, mas em alguns casos também pode
atingir os lobos temporais do cérebro. Se existirem lesões no lobo temporal, a memória
será a principal capacidade a ser afetada.
Quais são os sintomas da DFT?
Os sintomas iniciais podem:
Afetar o comportamento- demonstrar insensibilidade, apesar de serem pessoas que
anteriormente se preocupavam com os outros. Podem, ainda, tornar-se obsessivas e
repetir a mesma ação vezes sem conta.
Afetar a linguagem - apresentação de um discurso limitado, à total perda da linguagem.
Outros sintomas comuns são repetir as frases inúmeras vezes ou ecoar aquilo que os
outros dizem. Na DFT, a pessoa em vez de conseguir encontrar a palavra certa para
nomear um objeto, pode apenas conseguir descrevê-lo. Por exemplo, em vez de dizer
relógio, a pessoa pode referir-se a este como aquilo que serve para ver as horas.
Quem desenvolve DFT?
A DFT pode afetar homens e mulheres. Apesar de poder atingir pessoas de quaisquer
idades, tem início normalmente entre os 40 e os 65 anos.

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Como é que a DFT é diagnosticada?
Existem várias técnicas utilizadas para realizar o diagnóstico tais como, imagiologia
cerebral, eletroencefalograma ou testes neuropsicológicos. Estes testes podem ajudar a
determinar se a Demência é de tipo Frontotemporal ou se é de outro tipo, como por
exemplo Doença de Alzheimer. Tal como no caso da Doença de Alzheimer, o diagnóstico
só pode ser confirmado após a morte, pelo exame do tecido cerebral.
Quais são as causas da DFT?
Cerca de 50% das pessoas com DFT têm história familiar da doença. Aqueles que a
herdam parecem ter uma mutação no gene da proteína tau, no cromossoma 17, o que
leva à produção de uma proteína tau alterada. Outros fatores de risco são menos
conhecidos.
Como é que a doença progride?
A DFT provoca uma deterioração progressiva inevitável. A esperança de vida é, desde o
início da doença, de 2 a 15 anos, sendo a média de 6 a 12 anos. A morte ocorre,
normalmente, devido a uma infeção.
Existe algum tratamento disponível?
Infelizmente, ainda não existe cura ou tratamento disponível para a DFT. No entanto, os
sintomas secundários, como a depressão, podem ser aliviados pela medicação. A gestão
da doença baseia-se no desenvolvimento de estratégias para lidar com a mesma. Ter um
maior conhecimento sobre a doença e do motivo pelo qual a pessoa se comporta de uma
determinada maneira, pode ser uma forma eficaz de ajudar as pessoas a lidarem com
aquela. Em vez de tentar modificar o comportamento da pessoa afetada por este tipo de
Demência, os familiares e cuidadores podem desenvolver as suas próprias estratégias
para lidar com a pessoa com a doença, tal como evitar a confrontação e arranjar forma
de contornar as obsessões. Existem vários apoios disponíveis para as pessoas com
Demência, para as suas famílias e cuidadores. O apoio pode fazer uma diferença positiva
na forma de gerir a demência. As pessoas com este tipo de Demência, as suas famílias e
cuidadores, necessitam de uma atenção extra, uma vez que esta doença afeta os
indivíduos numa idade em que ainda desfrutam de um estilo de vida preenchido e
independente.
A resposta aos estímulos, a compreensão da informação que se recebe e a capacidade
para se fazer entender variam de pessoa para pessoa e podem originar algumas barreiras
comunicacionais. Essas barreiras tornam-se mais difíceis de ultrapassar quando existe
algum grau de demência associado. No entanto, existem algumas medidas simples que
podem facilitar a comunicação.

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Medidas simples para comunicar com pessoas com demência
As medidas estão relacionadas com o grau de atenção, o tipo de linguagem e o nível de
afeto. Veja também o que deve evitar.

Atenção:

 Assegure-se que tem a atenção da pessoa a quem se dirige;


 Limite as distrações e o barulho;
 Identifique-se pelo seu nome e refira quem é (por exemplo, sou a sua filha, sou o
seu enfermeiro, etc.);
 Tente manter o contacto visual.
 Tenha em atenção défices auditivos ou de visão;
 Simplifique as atividades;
 Peça uma tarefa simples de cada vez;
 Tente passar a decisão para o doente, ainda que lhe dê escolhas limitadas (sempre
que possível);
Direcione a sua atenção para outro assunto e volte a tentar mais tarde quando a
tentativa de comunicação perturbar o doente.
 Linguagem
o Fale pausadamente;
o Faça frases curtas;
o Utilize um tom de voz apropriado, associado a expressões faciais e a
linguagem corporal que ajudem a entender a sua mensagem;
o Use palavras simples, bem pronunciadas e espaçadas;
o Tente formular as questões de modo que a resposta seja simples ou dê 2
opções de resposta para escolher 1 (por exemplo, quer vestir a blusa verde
ou a blusa azul?);
o Estimule as respostas usando pistas verbais e visuais (por exemplo, imagens,
objetos ou mensagens escritas).
 Afeto
o Trate o doente com respeito;
o Seja simpático e afetuoso;
o Se é familiar ou amigo do doente, trate-o da forma como sempre fez;
o Se não é familiar ou amigo do doente, trate-o da forma como ele estava
habituado. Nessas circunstâncias: não use o nome próprio, a não ser que
este seja o único reconhecido pelo doente;

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o Dirija-se e fale com o doente de acordo com o seu grau de proximidade e
relacionamento;
o Adeque o contacto físico ao seu tipo de relacionamento com o doente, pois
este pode ser interpretado de forma muito variável.
A evitar
 Adotar uma atitude paternalista;
 Transmitir mais do que uma informação ou instrução de cada vez;
 Pressionar as respostas: se não conseguir obter uma resposta verbal a uma
questão, tente identificar no doente sinais associados à resposta que este
pretende dar;
 Insistir em corrigir respostas erradas e demonstrar que reconhece esses erros;
 Discutir. Isso só irá tornar a situação pior;
 Dar ordens à pessoa;
 Dizer à pessoa o que não pode fazer, em vez disso, diga-lhe aquilo que ela pode
fazer;
 Utilizar modos intransigentes, um tom de voz arrogante pode ser apreendido
mesmo que a pessoa não compreenda as palavras, o que a poderá deixar mais
perturbada;
 Perguntas que apelem à utilização da memória;
 Falar da pessoa que está presente como se ela não estivesse.
Dicas de uma pessoa com Demência
Christine Bryden foi diagnosticada com Demência aos 46 anos e partilhou as suas
reflexões sobre formas de ajuda que as famílias e amigos podem adotar. Christine é
também autora de várias publicações, incluindo «Who will I be when I die?» («Quem
serei quando morrer?»), que foi o primeiro livro escrito por um australiano com
Demência. Christine fornece as seguintes dicas para comunicar com uma pessoa com
Demência:
 Dêem-nos tempo para falar, esperem que consigamos encontrar a palavra que
queremos utilizar. Tentem não terminar as nossas frases. Oiçam e não nos deixem
sentir embaraçados se perdermos o fio da conversa;
 Não nos apressem a fazer algo, uma vez que não conseguimos pensar ou falar
rapidamente, para vos dizer se concordamos. Tentem dar-nos tempo para
responder, para que possamos informar-vos se queremos, realmente, fazer algo;
 Quando quiserem falar connosco, tentem encontrar uma forma de fazê-lo, sem
colocar-nos questões que nos assustem ou causem desconforto. Se nos
esquecermos de um acontecimento especial recente, não assumam que não foi

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especial para nós. Dêem-nos uma pista, pois podemos estar momentaneamente
em branco;
 No entanto, não se esforcem demasiado para ajudar-nos a lembrar algo que
aconteceu. Porque se não tivermos conseguido memorizar, nunca vamos
conseguir lembrar;
 Evitem ruídos de fundo. Se a televisão estiver ligada, retirem o som;
 Se estiverem crianças presentes, lembrem-se que nos cansamos facilmente e
temos dificuldade em concentrarmo-nos na conversa, assim como em ouvir. Talvez
seja melhor ter presente uma criança de cada vez e sem barulhos de fundo;
 Os tampões para os ouvidos podem ser utilizados quando visitamos centros
comerciais ou outros sítios ruidosos.

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A COMUNICAÇÃO NA INTERAÇÃO COM O UTENTE COM
ALTERAÇÕES SENSORIAIS
No corpo humano, atualmente, reconhecem-se 10 sentidos:
 Visão
 Audição
 Paladar
 Tato
 Nociceção (dor)
 Termoceção (temperatura)
 Propriocepção Espaço que o corpo ocupa e sua posição)
 Equilíbrio
 Interoceção (sensações interiores do corpo)
 Olfato
Destes todos os mais comumente usados para comunicar são a visão, a audição e o tato.,
o que quer dizer que qualquer alteração ao funcionamento interfere com o processo
comunicacional.
Ao longo do tempo, fruto da inventividade dos humanos, foram sendo cridos códigos que
permitem a comunicação das pessoas com essas alterações. Assim foi desenvolvida a
comunicação escrita (que estou aqui a utilizar profusamente), entre elas o braille, e a
linguagem gestual que tem um ramo em português.
Um jogo de palavras para comunicar em qualquer língua:
https://www.youtube.com/watch?v=-Z-ul0GzzM4
A comunicação não verbal
A comunicação não-verbal refere-se às mensagens emitidas pela linguagem corporal, ou
seja, é toda mensagem transmitida sem o uso das palavras. Ela ocorre por meio da
expressão facial, movimentos dos olhos e da cabeça, movimento do corpo, postura,
gestos, silêncio, palidez e sorriso. Este tipo de comunicação merece uma atenção maior,
uma vez que não se tem controlo consciente sobre ela.
Por favor, assistam aos vídeos abaixo referidos.
https://www.youtube.com/watch?v=1ow1oDkhkjo
https://www.youtube.com/watch?v=fLaslONQAKM
https://www.youtube.com/watch?v=E6NTM793zvo

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Lamento estes dois últimos estarem em inglês, mas são muito interessantes e não
consegui traduzidos, desculpem.
A comunicação não verbal exerce fascínio sobre a humanidade desde seus primórdios,
pois envolve todas as manifestações de comportamento não expressas por palavras:
 como os gestos;
 expressões faciais;
 orientações do corpo;
 as posturas;
 a relação de distância entre os indivíduos;
 organização dos objetos no espaço.
Pode ser observada na pintura, literatura, escultura, entre outras formas de expressão
humana onde está presente no nosso dia-a-dia, mas que, muitas vezes, não temos
consciência da sua ocorrência e, nem mesmo de como acontece. Considerando que a
capacidade de ouvir e compreender o outro inclui, não apenas a fala, mas também as
expressões e manifestações corporais como elementos fundamentais no processo de
comunicação, a cinésica, ou seja, o estudo da linguagem corporal, assume um papel
importante na descodificação das mensagens recebidas durante as interações
profissionais ou pessoais.
Outras linguagens
Na interação com as pessoas, o profissional deve estar atento aos diferentes tipos de
comunicação não-verbal, cinésica, proxémica, tacésica e paralinguagem e aperceber-se
de emoções e reações que deve aprender e reconhecer.
A cinésica
A Infopédia define cinésica como:
“nome feminino
disciplina que estuda o significado expressivo dos gestos e dos movimentos
corporais que acompanham os atos linguísticos (posturas, expressões faciais,
etc.); estudo da linguagem corporal.”
Estudiosos não identificaram qualquer expressão facial, atitude ou posição do corpo que
tivesse o mesmo significado nas diversas sociedades em que se considera que não há
gestos ou movimentos corporais que possam ser considerados como símbolos universais

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e, que todas as culturas têm no seu repertório gestual. Tomemos como exemplo o 👍 que
para a maior parte de nós é significado de gosto, fixe, bom, mas…se formos ao Irão tem
um significado fálico e é um insulto, enquanto aqui é sinal de simpatia passar a mão pela
cabeça de uma criança, na Tailândia é muito desrespeitoso, bem como cruzar as pernas e
apontar os pés para alguém. No Japão o toque é considerado uma intrusão.
Mas apesar disso as expressões inatas nas crianças recém-nascidas são todas entendidas
da mesma maneira: as variantes do choro, a alegria e o riso são comuns a todos os
humanos, tanto que geralmente os adultos reagem universalmente a essas
comunicações, fazendo estas parte de um mecanismo de sobrevivência.
Assim, quanto aos traços físicos, o que nos impressiona em primeiro lugar num doente é
a sua aparência física, a sua maneira de estar, de olhar, entre outros fatores. A expressão
do olhar e da face normalmente revelam sinais não-verbais muito importantes. por meio
das configurações faciais e de arranjos de sinais, principalmente, na testa, olhos e boca.
Sabe-se que é possível fingir uma expressão alegre, zangada ou triste, porém, a
dificuldade está em fazer esta expressão surgir de uma hora para outra, mantê-la ou
mesmo escondê-la.
Na comunicação verbal, os gestos, também são fundamentais, pois servem para ilustrar o
que o doente sente.
Compreendendo as questões ligadas à comunicação não verbal, é possível,
especialmente para profissionais do foro da saúde, obter maior sensibilidade para
prestar os devidos cuidados aos utentes. Assim, é de salientar o olhar como um
instrumento colocado em prática pelos técnicos, em todos os momentos da prestação de
cuidados à pessoa com intuito de captar todas estas emoções e reações referidas
reveladas através da comunicação não-verbal do doente.
Nem sempre o nosso comportamento é congruente com as nossas palavras, o que leva a
uma interpretação diferente daquela que seria obtida se nos limitássemos a dar atenção
apenas ao que é dito verbalmente.
Por vezes, a informação captada através do olhar torna-se invasiva para a pessoa na
medida em que as expressões, reações, ou mesmo algumas partes do corpo que o ela
entende que são privadas, conseguem ser alcançadas por este órgão dos sentidos, exceto
se houver algum tipo de impedimento que resguarde o observado.
Por favor, leia o artigo disponibilizado no link abaixo:
https://www.bbc.com/portuguese/vert-fut-44285496

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As expressões faciais dos diversos sentimentos foram classificadas como expressão de
afetividade/felicidade, medo/insegurança, dor, discordância, aprovação, surpresa,
tristeza, raiva, ansiedade, dúvida, interesse e vergonha.
As expressões faciais dos diversos sentimentos foram classificadas como expressão de:
 Afetividade/felicidade;
 Medo/insegurança;
 Dor;
 Discordância;
 Aprovação;
 Surpresa;
 Tristeza;
 Raiva;
 Repulsa.
 Ansiedade;
 Dúvida;
 Interesse;
 Vergonha.
Usando as personagens do filme da Disney, Divertidamente:

Quando a expressão é de afetividade e felicidade


o paciente costuma apresentar fixação do olhar,
pupilas dilatadas e olhos brilhantes.

As pálpebras fechadas rapidamente ou abrindo-se


excessivamente, expressões sérias e rígidas e
franzimento dos lábios refletem medo e
insegurança.

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Os sinais de tristeza são identificados quando a
comissura labial está voltada para baixo também
definido como “olhar cabisbaixo

A raiva costuma ser percebida quando a testa


está enrugada, o olhar e a boca se encontram
tensos, a mandíbula cerrada e as pupilas
contraídas

A repulsa é expressa com nariz enrugado, lábio


inferior voltado para baixo, lábio superior
levantado, lábios protuberantes e boca aberta.
Essa emoção está geralmente ligada a coisas que
não são higiênicas, não são comestíveis ou
agradáveis

A dor pode ser expressa pelo choro, por olhos


fechados, rugas na testa, lábios comprimidos,
aumento da rigidez facial.

A abertura da boca e dos olhos, sobrancelhas


erguidas e afastadas mostram que a pessoa está
surpresa.

A ansiedade manifesta-se através do suor na testa, palidez e por movimentações dos


lábios.
Quando há inclinação lateral da cabeça e a sobrancelha se encontra erguida pode ser um
indicativo de dúvida.

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Quando a pessoa se encontra interessada, o seu olhar costuma se fixar na direção do
objeto ou da pessoa de interesse, e algumas vezes ocorre o meneio positivo da cabeça.
A vergonha expressa-se com rubor na face, abaixamento dos olhos, mudança do foco do
olhar e observação através dos olhos entreabertos.
O técnico deve estar atento a estas expressões e movimentações, pois muitas vezes o
corpo fala o que o paciente está sentido naquele momento e ao avaliar os gestos,
posturas e movimentos dos pacientes pode-se buscar compreender o que eles querem
dizer.
Os estudos demonstram que a linguagem não verbal diz respeito às expressões do corpo
com as reações que a pessoa tem, o que significa que pode estar a dizer uma coisa e o
corpo a dizer outra. Podemos assim concluir que a forma mais fidedigna de compreender
como é que o indivíduo se expressa é, precisamente, através deste tipo de comunicação,
uma vez que a mesma foge ao controlo do nosso consciente.
A proxémica
A linguagem proxémica estuda os espaços interpessoais, a distância mantida entre os
participantes de uma interação.
Na Wikipédia refere:
“O termo proxémico foi criado pelo antropólogo Edward T. Hall em 1963 para descrever
o espaço pessoal de indivíduos num meio social. É exemplo de proxémica o fato de que
um indivíduo que encontra um banco de praça já ocupado por outra pessoa numa das
extremidades tende a sentar-se na extremidade oposta, preservando um espaço entre os
dois indivíduos.
Hall demonstrou que a distância social entre os indivíduos pode ser relacionada com a
distância física. Nesse sentido, menciona quatro tipos de distância:
 distância íntima: para abraçar, tocar ou sussurrar (15-45 cm);
 distância pessoal: para interação com amigos próximos (45–120 cm);
 distância social: para interação entre conhecidos (1,2-3,5 m); e
 distância pública: para falar em público (acima de 3,5 m).
Hall indicou que diferentes culturas mantêm diferentes padrões de espaço pessoal. Nas
culturas latinas, por exemplo, aquelas distâncias relativas são menores e as pessoas não
se sentem desconfortáveis quanto estão próximas das outras; nas culturas nórdicas,
ocorre o oposto.
As distâncias pessoais também podem variar em função da situação social, do género e
de preferências individuais.”

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Quando o técnico invade o território de uma pessoa aproximando-se demasiado dele ou
tocando-o produz neste rutura do equilíbrio psicológico e mesmo em certos casos um
sentimento de agressão e de insegurança.
O tocar depende também do conceito de territorialidade, uma vez que supõe uma
penetração no espaço imediato do doente.
A proxémica, ou seja, a aproximação dos corpos dos sujeitos que participam de uma
relação interpessoal, é na realidade o fator principal de influência que a comunicação
não-verbal pode ocasionar durante os cuidados de saúde, dado que a aproximação
técnico/doente se justifica devido à necessidade de estabelecer uma comunicação e do
relacionamento interpessoal, promovendo a melhoria da qualidade dos cuidados a
prestar ao doente.
A tacésica
A linguagem tacésica estuda o toque, não só como instrumento de sensação, mas
também como comunicação. Apesar das ambiguidades sempre possíveis, o tocar
continua a ser um meio de comunicação importante em cuidados de enfermagem.
É das primeiras sensações experimentadas pelo ser humano quando nasce. Desde a via
maternal e depois ao longo do desenvolvimento do ser humano, o tato permite a
expressão de afetos, a vinculação, a identidade e a intimidade, tornando-se num veículo
imprescindível nas relações de afeto e interpessoais.
O sentido do tato é privilegiado pela carga emocional que este poderá transmitir, as
mãos vão estabelecer um elo de comunicação. Aquando da prestação de cuidados, o tato
deve ser um ato espontâneo e sincero, logo este tipo de comunicação não deve traduzir
sentimentos negativos. Esta técnica deve ser utilizada quando o técnico se aproxima da
cama do paciente, seja para cumprimentá-lo ou para transmitir um gesto de carinho,
transmitindo uma sensação de segurança e confiança, capaz de deixá-lo mais tranquilo.
Há situações em que é sugerido o uso do toque: quando o paciente se sente sozinho,
quando se encontra em fase terminal, com dor, com autoestima e autoimagem
diminuídas. O local a ser tocado pelo profissional não deve constranger o paciente, sendo
mais aceito o toque nos ombros e membros superiores. A aproximação deve ser feita
mais lentamente, já que a rapidez neste processo pode provocar uma reação de defesa.
O toque realizado pelos familiares também deve ser recomendado pelos profissionais de
saúde, pois já se comprovou que esta ação diminui o ritmo cardíaco e gera uma
expressão que sugere melhora e alívio.
A paralinguagem
“A Infopédia define paralinguagem como:

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nome feminino
Conjunto de tons de voz ou sons não linguísticos que acompanham a fala e que
revelam o estado psicológico do falante.”

Conjunto de elementos que, não sendo verbais, acompanham a linguagem verbal oral e
incluem todas as características da voz.
A paralinguagem estuda o tom de voz, a ênfase dada a determinadas palavras, os
grunhidos, o choro e os soluços que utilizamos ao falar, o silêncio e as pausas entre
outros, são comportamentos paralinguísticos do doente indicadores ricos de significados.
Os sons emitidos podem ser os grunhidos (“ah”,”er”,”uh”), ruídos vocais de hesitação,
tosses provocadas por tensão, suspiros, pigarrear, riso, choro e gemidos forçados para
disfarçar tensão ou chamar atenção. Estes exemplos são sinais paralinguísticos que
demonstram características de personalidade, atitudes, relacionamento interpessoal e
autoconceito.
A técnica de paralinguagem é que confere emoção às informações. Também permite que
o profissional de saúde compreenda que o silêncio pode existir em situações ligadas a ele
mesmo ou ao próprio paciente. Este pode estar calado por vergonha, raiva ou testando o
profissional para ver se ele se mantém ao seu lado prestando a devida atenção às suas
ações.
Ao usar esta técnica o profissional deve estar atento ao tom, ao tempo, ao volume, à
altura e à inflexão do som emitido pelos pacientes, pois cada indivíduo pode expressar a
mesma sensação de maneiras diferentes, dependendo do dia, do momento, da situação
e dos estímulos recebidos.

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COMUNICAÇÃO E INTERCULTURALIDADE EM SAÚDE

Barreiras interculturais na comunicação


A comunicação no domínio da saúde é da maior importância na formação, pesquisa e
intervenção, inscrevendo-se numa perspetiva sistémica, interativa e interdisciplinar. Visa
uma melhor informação, capacitação e intervenção face às novas problemáticas
individuais, sociais, organizacionais, multi e interculturais e de cidadania que se registam
na sociedade contemporânea, particularmente na saúde, as quais vêm colocar questões
a diferentes níveis, nomeadamente às novas configurações e pluralidades no campo da
saúde, informação e comunicação. A comunicação é uma componente básica dos
cuidados e educação em saúde, da mudança comportamental e competência clínica e
intercultural ao nível sanitário, assim como da organização e gestão em saúde,
constituindo igualmente um bom indicador da qualidade dos cuidados e sistemas de
saúde. O encontro interdisciplinar entre saúde, comunicação e cultura vem colocar novos
paradigmas e desafios estratégicos, políticos, teóricos e metodológicos no campo da
prevenção, informação, educação e promoção em saúde, bem como das competências
comunicacionais e interculturais, particularmente em contexto multicultural.
Nos últimos anos assistiu-se a um acréscimo do número de imigrantes de diferentes
culturas que escolheram o nosso país para se estabelecerem, constatando-se uma
grande heterogeneidade deste grupo. As diferenças sentidas a nível da educação, salário,
estrato social, práticas culturais, crenças e língua são notórias trazendo uma diversidade
e uma riqueza que deve ser considerada quando se cuida desta população. Esta
diversidade de culturas veio trazer aos profissionais de saúde novos desafios, sobre os
quais importa refletir.
Desde já podemos começar com os motivos que levam o migrante aos serviços de saúde:
situações de urgência, doença incapacitante de trabalhar, final de gravidez e saúde
infantil. São situações pontuais que requerem uma intervenção no momento, um agir
rápido para resolução de uma situação. Mas decorrem daqui algumas questões:
 Onde se faz o seguimento?
 Qual a atitude preventiva ou promotora da saúde que o migrante adota?
 Serão os profissionais de saúde elementos facilitadores da utilização dos serviços
de saúde por parte dos migrantes?
O conhecimento da situação de doença, do episódio de urgência, constitui muitas vezes
uma parte ínfima da realidade do migrante, o qual considera os serviços de saúde como

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último recurso. Esta situação resulta do confronto entre o que a sociedade de
acolhimento espera do migrante e o que ele sente quando está doente. As dificuldades
sentidas na área da saúde são entendidas como um sinal de fraqueza e debilidade, por
parte do migrante e constituem, para muitos, uma sobrecarga adicional para o país que
acolhe os migrantes. A população que acolhe os migrantes cria expectativas e constrói
modelos, idealizando pessoas com uma boa capacidade física, dispostas a trabalhar
arduamente, se necessário, e que não tragam mais encargos e problemas para o país. Se
o migrante não vai ao encontro destas expectativas, é visto como um fardo e é olhado
com desconfiança. Este fardo é agravado, se aparecem problemas de saúde, que
funcionam como um empecilho à rentabilidade que o imigrante poderia ter.
A experiência da aflição e da doença entre os migrantes reveste-se de uma complexidade
técnica, histórica e antropológica, que exige uma resposta multidisciplinar. Estes podem
deparar-se com muitas barreiras no acesso aos cuidados de saúde:
 sejam elas linguísticas;
 culturais, comportamento e atitudes relacionadas com a saúde, higiene e
alimentação;
 religiosas;
 financeiras;
 conceitos diferentes sobre saúde e doença;
 características inerentes ao próprio sistema;
 o medo da denúncia, quando em situação irregular;
 desconhecimento sobre o direito e as condições de acesso ao Serviço Nacional de
Saúde;
 os estereótipos de poder que muitos profissionais ainda adotam (“os migrantes é
que têm de se adaptar”).
Também nas situações de internamento muitas questões se colocam:
 É tido em conta o contexto cultural na prestação diária de cuidados?
 Estarão os nossos serviços preparados para um cuidar multicultural?
 O respeito da pessoa em todas as vertentes, incluindo a cultural, é assegurado?
A comunicação em contexto de saúde tem de estar adaptada às capacidades cognitivas,
ao nível cultural/educacional, às representações e crenças de saúde, às necessidades
individuais, emocionais, sociais, culturais e linguísticas da pessoa cuidada.
Sendo cultura é definida como um sistema de crenças, valores, regras e costumes
partilhados por um grupo, que é usado para interpretar experiências e padrões
comportamentais, esta possui um papel modelador nas crenças relacionadas com a
saúde do indivíduo, comportamentos e valores, podendo influenciar o modo como este

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perceciona a doença e a comunicação. Quando os profissionais de saúde não
reconhecem e compreendem as diferenças socioculturais entre os seus pacientes e os
próprios, a qualidade do atendimento está em risco, é fundamental integrarmo-nos na
diversidade cultural daqueles que procuram os nossos cuidados, mantendo o respeito
pelas práticas culturais e religiosas de cada pessoa.
Algumas das dificuldades comunicacionais em contexto de cuidados de saúde têm a ver
com a falta de conhecimento e de respeito dos profissionais de saúde sobre as
representações e as crenças de saúde e doença do utente e sobre as relações deste com
o seu mundo social, espiritual, cultural e comunitário. Com efeito, os aspetos sociais e
culturais podem constituir barreiras e dificuldades aos cuidados de saúde: por um lado,
pela sua influência na forma de percecionar a saúde e a doença e o recurso aos cuidados
de saúde; por outro, pelas dificuldades que os prestadores de cuidados de saúde têm em
lidar com as populações que provêm de culturas diferentes, nomeadamente ao nível
linguístico, comunicacional e cultural.
Comunicação intercultural
Denomina-se por comunicação intercultural, a comunicação interpessoal entre
indivíduos de diferentes culturas.
A comunicação intercultural é um processo complexo, visto a cultura influenciar bastante
o modo comunicamos.
 Comunicar com um indivíduo de outra cultura pode ser muito difícil devido a:
 As pessoas com diferentes culturas pensam e veem o mundo de uma perspetiva
diferente;
 A comunicação noutro idioma pode não ser feita de forma clara e correta;
 Existência de dificuldades de relacionamento entre grupos de culturas diferentes.
“Alguns episódios em particular ficaram-me gravados na memória e fizeram-
me refletir sobre a relevância da medicina multicultural. O primeiro caso
corresponde a uma consulta de saúde infantil de uma lactente que vinha
acompanhada pela mãe, que apenas falava inglês. Era a sua primeira filha e
trazia, tal como muitas mães, as suas preocupações e dúvidas, nomeadamente
em relação ao início da diversificação alimentar. A família era indiana e de
crença muçulmana. De imediato, objetivei que seria óbvio e inevitável adaptar
o plano habitualmente recomendado, uma vez que a sopa não era um alimento
consumido pela família e o plano teria que ser sugerido na língua inglesa. Foi
ainda necessário tranquilizar a mãe relativamente à rarefação capilar da
lactente, pois na sua cultura um cabelo forte e longo é um sinal de beleza,

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sendo tradição aplicar óleo de amêndoas no cabelo para estimular o
crescimento do mesmo.
O segundo episódio surgiu com um utente português que estava a trabalhar no
estrangeiro e trazia um relatório médico em holandês. O terceiro caso era
relativo a um utente hipertenso que compareceu sozinho à consulta e não
falava português nem inglês. A internet e/ou a presença de acompanhantes
intérpretes podem ser úteis na resolução de alguns destes obstáculos, todavia
face ao tempo limitado que temos em consulta nem sempre é fácil colmatar
estas situações e responder às dúvidas e receios dos nossos utentes.”
Como ultrapassar as barreiras interculturais
Em contexto de diversidade cultural e de prestação de cuidados de saúde, torna-se
necessária a construção de um diálogo e cuidados de saúde despertos para esta
diversidade, o que passa pelo desenvolvimento de competências comunicacionais e de
conhecimentos interculturais dos profissionais, para as desenvolver, é importante:
 Encarar o outro com parceiro, esta atitude permitirá flexibilizar e relativizar
princípios e modelos apresentados como únicos e universais e evitar muitos
comportamentos etnocêntricos, de intolerância e discriminação;
 Desenvolvimento de competências linguísticas, e de consciencialização cultural e a
luta contra os preconceitos e os estereótipos e a adoção de atitudes e práticas
inclusivas;
 Desenvolvimento de competências tecnológicas, nomeadamente ao nível do
domínio e utilização das técnicas audiovisuais e das novas tecnologias de
informação e comunicação (TIC);
 Desenvolvimento de competências de cidadania que tornem possível o
funcionamento democrático das sociedades e das instituições.
Na comunicação com indivíduos e grupos de diferentes culturas é necessário:
 Aprender a conhecer-se a si mesmo e à sua própria cultura;
 Aprender a descobrir e a compreender o sentido de normas e valores, os quadros
de referência dos outros e os códigos culturais respetivos. Os conhecimentos
culturais constituem um sinal de interesse e reconhecimento do outro;
 Estabelecer as condições de diálogo, tendo em conta que não só a língua, mas
também a cultura, gestos, entonação e rituais têm importância na comunicação;
 Tomar consciência do grau de determinismo cultural dos comportamentos,
desenvolver a aprendizagem cultural;
 Evitar julgamentos rápidos e superficiais, estereótipos, preconceitos e atitudes
etnocêntricas, o que permitirá colocar-se no lugar do outro, de forma a tentar

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compreender as coisas do seu ponto de vista. Esta atitude dá-nos a capacidade de
relativizar e de visualizar uma situação através de várias perspetivas e outros
quadros de referência, ajuda cada um a adotar uma certa distância em relação a si
mesmo e conduz à autorreflexão constituindo uma das atitudes que todos os
profissionais têm de trabalhar em permanência;
 Dispor de tempo para comunicar, para compreender uma situação, para o
encontro clínico (por exemplo, um doente estrangeiro ou migrante, que não
domine bem a língua poderá exigir mais tempo que um nacional;
 Estar atento à comunicação não verbal, assim como aprender a respeitar os ritmos
e os estilos de comunicação próprios a cada indivíduo e a cada cultura;
 Ter em conta o espaço/a distância espacial, por exemplo certas culturas
privilegiam a distância proximal;
 Desenvolver uma melhor compreensão dos mecanismos psicossociais e fatores
sociopolíticos suscetíveis de originar a intolerância, a rejeição, o etnocentrismo;
 Combater os estereótipos e o etnocentrismo, ou seja, a tendência a interpretar a
realidade a partir dos nossos próprios critérios e modelos culturais.
Os profissionais de saúde necessitam de conhecer e compreender as culturas das
populações com que trabalham, as suas particularidades comunicacionais e a sua relação
com as crenças, os comportamentos de saúde e as práticas de cuidados.
Algumas das dificuldades comunicacionais em contexto de cuidados de saúde têm a ver
com a falta de conhecimento e de respeito dos profissionais de saúde sobre as
representações e as crenças de saúde e doença do utente e sobre as relações deste com
o seu mundo social, espiritual, cultural e comunitário. Com efeito, os aspetos sociais e
culturais podem constituir barreiras e dificuldades aos cuidados de saúde: por um lado,
pela sua influência na forma de percecionar a saúde e a doença e o recurso aos cuidados
de saúde; por outro, pelas dificuldades que os prestadores de cuidados de saúde têm em
lidar com as populações que provêm de culturas diferentes, nomeadamente ao nível
linguístico, comunicacional e cultural. Neste âmbito, é importante ter em conta não só a
compreensão da própria cultura e das suas diversas formas de inscrição no corpo, no
cuidar, na doença e nas modalidades de comunicação, como também o conhecimento
das culturas e da variabilidade das suas representações e práticas sobre a saúde, a
doença, a cura, e sobre as formas de comunicar a dor e o sofrimento.

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Mitos e factos sobre saúde e (i)migração
Ao apontarem-se diferenças culturais tende-se a referir os “outros”, os imigrantes, como
grupos específicos possuidores de outros referentes de entendimento do mundo, por
oposição a um “nós, cidadãos nacionais”. Contudo, sabemos que tal nem sempre é assim
pois, para além das diferenças culturais, referidas nos distintos sistemas de significados,
existem outras diferenças mais reveladoras que interligam o “nós” ao “eles” e que têm
origem na classe social, género, religião, idade ou mesmo grau de instrução, no contexto
até de uma mesma cultura. São os significados políticos que, em determinados contextos
de domínio e conflito, conduzem às diferenças culturais.
Por exemplo, certas culturas não compreendem, muitas vezes, a medicalização de certos
acontecimentos naturais, como a gravidez e a maternidade. Pessoas de culturas ou
subculturas diferentes podem atribuir significados diferentes às mesmas realidades e
desenvolver diferentes representações, o que poderá originar incompreensão mútua,
estereótipos, conflitos e dificuldades de comunicação
Para efeitos de elaboração deste manual, e com a finalidade de tentar mostrar a
diversidade de culturas no país, vou só referir três culturas que não ocidentais, mas
representativas da diversidade.
Islão
Em Portugal os seguidores do islão geralmente são oriundos de países tão diferentes
quanto o Paquistão, Nepal, Moçambique, Guiné-Bissau ou Egito.
Geralmente no Islão, cada objeto e ação é considerada permitida a menos que tenha
uma proibição sobre a mesma nas escrituras islâmicas. O termo é habitualmente usado
nos países não islâmicos para se referir aos alimentos autorizados de acordo com a lei
islâmica.
No Alcorão pelo menos vinte e quatro versículos referem-se a prescrições no domínio
alimentar. Algumas das interdições alimentares do islão coincidem com as da lei judaica,
bem como a diferenciação e separação do homem e da mulher porque as religiões de
matriz semita (como são o Islão e o Judaísmo) fazem uma distinção entre os homens e
mulheres. A principal justificação para o fazerem é o facto de homens e mulheres serem
pessoas de natureza diferente, razão pela qual estão melhor a rezar em espaços
distintos.
A palavra halal significa “permitido”, ou seja, o que se pode fazer, o que se pode
consumir, o que se pode ver, o que se pode ler, o que se pode vestir. Essa palavra não
usada apenas para a comida, mas para tudo. O antônimo de halal, ou seja, o que não é
permitido é haram que significa proibido.

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Alimentação no islão
Geralmente, os alimentos seguintes são permitidos ou halal para os muçulmanos: leite
de vacas, ovelhas, cabras ou camelas, mel, peixe, plantas que não são intoxicantes,
legumes frescos ou congelados em natura, frutas frescas ou secas, leguminosas como
amendoim, nozes, castanhas, grãos como trigo, arroz, painço, milho, aveia, etc.
Ao contrário, os alimentos seguintes são proibidos, ou seja, haram: suínos e seus
derivados, sangue e derivados do sangue, animais carnívoros, répteis e insetos,
animais halal que não foram abatidos de acordo com a Lei Islâmica, animais abatidos em
nome de outro deus, os corpos de animais mortos, álcool e intoxicantes como vinho,
álcool etílico, licores, etc.
Os muçulmanos celebram o Ramadão – o nono mês do calendário islâmico, durante o
qual os fiéis praticam um ritual de jejum, entre o nascer e o pôr do sol, abstendo-se de
comer e beber.
Condição feminina
Pares informações sobre o papel da mulher no islão por favor consultem:
https://pt.wikipedia.org/wiki/Mulheres_no_Isl%C3%A3
http://islamicbulletin.org/pt/ebooks/women/period_portuguese.pdf
Antes do surgimento do Islão no início dos anos 600, os árabes viviam em uma sociedade
tradicionalmente patriarcal. As mulheres eram consideradas como propriedade, e não
existiam limitações à poliginia. O Islão trouxe algumas reformas, particularmente no que
se refere ao estatuto das mulheres. O Alcorão reconheceu o direito de uma mulher
escolher seu próprio parceiro de casamento e fixou limites à prática da poliginiaː um
homem poderia ter até quatro esposas, se ele pudesse providenciá-las e tratá-las
igualmente.
A poligamia é permitida aos homens praticantes do Islamismo, não sendo difundido em
todos os segmentos da religião; em alguns países islâmicos, como o Irão (muçulmanos
xiitas), o homem pode contrair matrimónio temporário. Quanto às mulheres, a poligamia
é proibida e estão proibidas as mulheres de contrair casar com um homem não
muçulmano, embora um homem possa casar com uma não muçulmana.
As mulheres estão proibidas de jejuar durante o Ramadão quando estão menstruadas
porque todas as religiões de origem semita têm a pureza da pessoa como matriz
fundamental e os fluxos de cariz sexual são considerados impuros. Quando menstruada,
a mulher encontra-se “incapaz” de participar na oração, de entrar na mesquita, de fazer
o Ramadão.

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Rituais funerários
De acordo com os pressupostos do Islamismo a morte é uma realidade que ninguém
pode esquivar ou ficar a salvo dela, é uma transição entre mundos. O ser humano
abandona o mundo da matéria e passa a viver uma outra vida. O Islamismo acredita que
a existência humana continua após a morte na forma de ressurreição física e espiritual.
Para os muçulmanos existe uma relação direta entre a comportamento do indivíduo na
terra e a vida após a morte.
Os muçulmanos enterram os seus mortos logo que possível pois, após a alma sair do
corpo, ela permanece pairando sobre ele durante todo o tempo, até que o enterro esteja
completo.
Deve-se notar que, como indicado acima a alma está presente com o corpo até que ele
seja enterrado, então grande esforço deve ser tomado para tratar o corpo com dignidade
ao realizar a lavagem e o encobrimento devendo ser tratado como se estivesse vivo.
A cremação no islão é proibida e é considerada como um ato de desonra; temos que
tratar o corpo do falecido como se ele estivesse vivo e até mesmo uma vez que ele está
enterrado, não é permitido pisar sobre a sepultura, muito menos reduzir o corpo a
cinzas.
Hindus
Consideremos que para um hindu o conceito de família é bastante abrangente, não se
circunscrevendo aos laços consanguíneos, mas a todos aqueles com quem estabelecem
uma significativa ligação afetiva.
O respeito e a veneração pelos mais velhos são tónicas dominantes na cultura hindu, por
isso, a sogra é que comanda e orienta toda a casa, cabendo à mulher recém-casada
respeitar, aprender e fazer tudo o que lhe pedem.
Contactos físicos entre homens e mulheres, são geralmente evitados, este só é admitido
entre pessoas do mesmo sexo. Assim como o olhar nos olhos da pessoa durante uma
conversa, que para os ocidentais mostra a nossa franqueza, é considerado como falta de
respeito. Quando se fala com um casal (marido e mulher), o homem deve ser
considerado o interlocutor.
Os hindus sabem muito bem adaptar-se aos países para onde emigram e respeitam as
regras de convivência social de onde habitam, devido à consciência kármica que têm da
sua existência.
Como em muitas culturas orientais, na cultura hindu é hábito as pessoas retirarem os
sapatos antes de entrarem em casa, no quarto do doente ou nos locais de adoração. Por

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isso, é normal os visitantes do hospital deixarem os sapatos à entrada do quarto do
doente, em sinal de limpeza e de respeito. Tendo em conta esta prática, pode-se evitar
qualquer risco de infeção às visitas — ou que elas sirvam de veículo a microrganismos
nocivos — sem provocar contrariedade aos profissionais de saúde nos serviços de
internamento.
Os hindus, homens e mulheres, têm um elevadíssimo sentido do pudor, que é necessário
ter em conta no decurso dos processos clínicos.
Condição feminina
Na mentalidade hindu o valor das mulheres passa por servirem e obedecerem
docilmente aos maridos e sobretudo por darem à luz crianças do sexo masculino,
tradicionalmente, esta preferência pelo nascimento de indivíduos do sexo masculino
também se percebe por motivações socioeconómicas e religiosas, a saber:
 Assegura a continuação do nome da família;
 Assegura a estabilidade financeira, por causa do dote que recebe da família da
noiva quando casam.
Atualmente, esta situação encontra-se muito mais atenuada, não se notando já
predileções significativas entre um e outro sexo ao nascer.
À semelhança de muitas outras tradições também o hinduísmo considera que as
mulheres menstruadas estão numa situação impura para irem ao templo.
A maternidade é vista pelas mulheres hindus como consequência natural da sua
condição feminina. Os ensinamentos sobre os cuidados e preocupações da maternidade
são transmitidos informalmente através dos conselhos e orientações das pessoas mais
próximas, tais como a mãe, a sogra ou alguma cunhada.
Durante a gestação as mulheres hindus, são seguidas no médico, mas também seguem
os preceitos da sua cultura. Na alimentação investem muito no leite e derivados e em
doces para dar força ao bebé.
Logo que nasça o bebé deverá ser imediatamente lavado e amamentado, e em seguida
traça-se sobre a sua língua e na testa a sílaba sacra, com uma pena molhada em mel.
Entre os hindus depois de cortarem o cordão umbilical, encostam uma moeda de ouro ou
prata no umbigo do bebé, para desejar boa saúde e longa vida.
Alimentação
A alimentação dos hindus é predominantemente vegetariana, devido ao preceito de não
matar. O princípio consiste na abstenção de magoar física, mental ou emocionalmente
qualquer criatura viva. Daí que a alimentação mais comum entre muitos hindus seja a

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lacto-vegetariana. Os hindus consideram que o vegetarianismo é a forma de viver que
provoca o mínimo de dor aos outros seres; mas o hinduísmo como religião não impõe
nada, apenas dá a sabedoria para a pessoa escolher o que vai colocar no seu corpo. Por
exemplo, os sacerdotes e mestres religiosos são vegetarianos para manterem um
elevado nível de pureza e consciência espiritual. Em contrapartida, os soldados e os
agentes da lei, geralmente não são vegetarianos, porque têm que manter viva a sua força
agressiva para executarem o seu trabalho.
No regime alimentar hindu é frequente encontrar especiarias picantes, leite e derivados,
bem como doces, café e chá. É interessante notar que os hindus não se servem
geralmente de talheres, comendo com os dedos da mão direita, pois a mão esquerda,
que serve para a limpeza das partes baixas, é considerada impura.
Rituais funerários
O cadáver é lavado, ungido com óleo e envolvido em musselina antes de ser colocado no
féretro e, posteriormente, segurado com cordas e grinaldas de flores.
O corpo é levado para o crematório numa padiola, carregado pelos familiares enlutados
com vestes brancas. Este gesto não deve ser-lhes negado por o consideram de uma
piedade suprema para com aquele que veem partir. Se não é permitido transportar um
caixão aberto, poder-se-ia viabilizar um féretro com tampa parcial ou totalmente de
vidro e num formato semelhante aos tradicionais hindus.
Na perspetiva hindu, no ocidente a cremação existe para esconder os funerais, em vez de
lhe dar maior expressão, porque o incinerador está escondido e nem é permitido às
pessoas enlutadas acenderem a chama. Nada veem, nada ouvem, nada sentem, apenas o
deslizar do caixão num tapete rolante até desaparecer num buraco disfarçado por uma
porta. O sacerdote, em vez de cantar os mantras próprios das cerimónias fúnebres,
limita-se a fazer um sermão; e até expressar a tristeza com choros, gemidos e bater no
peito, comum num oriental nestas ocasiões, é considerado impróprio, pois para o
ocidental na contenção está a dignidade.
Cultura chinesa
A obediência e a deferência à hierarquia está entre os costumes mais rígidos na
sociedade chinesa. A ordem é colocar em primeiro lugar os homens mais velhos, depois
os homens mais jovens e, depois as mulheres mais velhas, seguidas das mulheres mais
jovens.
A interação social é regida pelo confucionismo, que prevê a honra, dignidade, lealdade e
respeito à antiguidade.

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O toque é permitido entre pessoas do mesmo sexo, mas pouco tolerado entre os
indivíduos do sexo oposto.
O Ano Novo Chinês, uma das mais importantes datas do calendário chinês, é uma
referência à data de comemoração do Ano Novo adotada por diversas nações
do oriente que seguem um calendário tradicional distinto do ocidental. As diferenças
entre os dois calendários fazem com que, todos os anos, a data de início de cada Ano-
Novo Chinês caia em uma data diferente do calendário ocidental, geralmente perto do
nosso Carnaval. Não há uma data fixa para o início do ano chinês; o seu início acontece
entre 21 de janeiro e 20 de fevereiro, em decorrência do surgimento da primeira lua
nova. Para fins civis, os chineses utilizam o calendário gregoriano, utilizado na maior
parte do mundo, e o calendário chinês marca as festividades e datas importantes.
Os chineses relacionam cada novo ano a um dos doze animais que teriam atendido ao
chamado de Buda para uma reunião. Apenas doze se teriam apresentado e, em
agradecimento, Buda transformou-os nos signos da astrologia chinesa.
Vermelho é a cor predominante nas celebrações de Ano Novo. O vermelho é o símbolo
da felicidade ou do prazer, e esta cor simboliza virtude, a verdade e a sinceridade. O
amarelo era a cor imperial podendo só ser usado pelo imperador.
A religião tradicional chinesa é antiquíssima, não tem um único texto sagrado, nem um
sistema rígido de crenças. É um sistema que venera muitos deuses, ancestrais, homens
considerados sábios (como Confúcio- confucionismo e Lao Zi- taoismo). Considera vários
locais como sagrados; templos, montanhas, florestas. Uma religião popular, com muitas
cerimónias e festas, que as pessoas praticam sem qualquer fanatismo. O confucionismo e
o taoismo, mais tarde unidos pelo budismo, constituem os "três ensinamentos" que
moldaram a cultura chinesa. Não existem barreiras claras entre estes sistemas religiosos
interligados, que não pretendem ser exclusivos, e elementos de cada religião popular ou
folclórica enriquecedora.
Neste conjunto chinês, podem-se encontrar vários elementos e valores do budismo, do
confucionismo, do taoismo, da mitologia chinesa e de outros costumes,
crenças, superstições e práticas tradicionais chinesas, sendo o culto aos
antepassados considerado fundamental pelos chineses. Estas religiões e crenças
populares são tão importantes na vida quotidiana de muitos chineses que são até
considerados por eles como uma parte integrante da tradição e da cultura chinesa.
Budismo:
Um importante princípio orientador da prática budista é o Caminho do Meio, que se diz
ter sido descoberto pelo Buda, antes de sua iluminação. O Caminho do Meio tem várias
definições:

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 A prática de não extremismo: um caminho de moderação e distância entre a
autoindulgência e a morte;
 Uma explicação do nirvana (perfeita iluminação), um estado no qual fica claro que
todas as dualidades aparentes no mundo são ilusórias;
Confucionismo:
Confúcio não pregava a aceitação plena de um papel definido para os elementos da
sociedade, mas sim que cada um cumprisse com seu dever de forma correta. Já o
condicionamento dos hábitos serviria para temperar os espíritos e evitar os excessos.
Taoismo:
As tradições e éticas taoistas variam de acordo com a escola, porém, no geral, enfatizam
a serenidade, a não ação, o vazio, a moderação dos desejos, a simplicidade, a
espontaneidade, a contemplação da natureza e os Três Tesouros: compaixão, moderação
e humildade.
Como muitos chineses han não consideram as suas crenças e práticas espirituais como
uma "religião" e não sentem que devem praticar nenhuma delas exclusivamente,
Condição feminina
O papel da mulher estava restrito à esfera doméstica até a revolução comunista na
China. Aos homens era permitido participar de todos os meandros da esfera da
sociedade e, além da vida doméstica, as mulheres só podiam atuar na agricultura.
A diferença social entre homens e mulheres também era apoiada pelos confucionistas
que a viam como uma propriedade, primeiro dos pais e, depois, dos maridos. As
mulheres também eram obrigadas a sacrifícios físicos excruciantes para se manterem
belas. Entre os mais difundidos estava a prática de amarrar os pés para impedir seu
crescimento. Amarrados por fortes ligaduras e, às vezes, quebrados, os pés não cresciam,
o que poderia impor nanismo e dificuldades de andar à mulher. O método foi proibido
em 1901.
Alimentação
Os chineses não têm grandes restrições alimentares, tudo o que tem as costas paralelas
ao céu e à terra, pode ser comido.
As técnicas de confeção alimentar variam de região para região e são muito diversas, a
única coisa em comum e não comerem vegetais crus (nem cozinhados, só salteados). O
arroz é omnipresente às refeições como o chá e caldos.

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Ritos funerários
É que Confúcio dissera: "trata o morto como tratas o vivo". E os chineses prolongavam os
seus afetos e as suas atenções aso falecidos, dirigindo-se-lhes através de tabuinhas de
madeira onde haviam sido registados os seus nomes.
Este costume explica, em parte, as raízes patriarcais da sociedade chinesa. É aos varões
que cumpre assegurar a sobrevivência do nome e do antigo clã original.
É curioso notar que os rituais mantêm, ainda, vestígios muito nítidos daqueles que se
praticavam, pelo menos há cerca de três milénios.
Não há coisa mais importante, para um chinês conservador, do que ser sepultado "como
deve ser", isto é, de forma que os seus familiares, nomeadamente o seu filho mais velho,
que o substituirá na chefia da casa, lhe deem força bastante para alcançar o mundo
espiritual dos antepassados, onde irá renascer e iniciar uma nova experiência.
Por outro lado, a pompa funerária é sempre um sinal de prestígio para a família, e de
consideração. Por outro ter um bom caixão, já comprado em vida e ainda com saúde, é,
para um chinês, um motivo de paz e de tranquilidade, assim não possuir o seu caixão, se
possível em boa madeira, talhado num tronco de árvore antiga, e revestido de secções
de madeira em lúnula, o que lhe confere uma forma muito característica, o motivo de
desgosto e de preocupação.
Dos rituais relacionados com a morte, há, na China, a considerar dois grandes grupos:
 O ritual funerário
o Verificação da morte
o A lavagem do morto.
o A seguir veste-se o cadáver com várias cabaias sem botões.
o Todos os familiares envergam, então, fatos simples, em burel chinês,
cobertos de tecido grosso de cânhamo. A cor branca lutuosa tem, na China,
um significado simbólico: representa um estado de passagem, qualquer
coisa de vazio, de provisório, que vai ser preenchido, contrariamente à cor
negra que evoca uma perda definitiva, uma queda sem retomo no não-ser.
o O caixão não sai nunca pela porta da casa, mas sim por uma janela ou porta
lateral ou por uma escada exterior, para não molestar os vizinhos e para que
a alma do morto perca a noção da porta de entrada da sua residência,
deixando a família em paz.
 As cerimónias em honra dos Antepassados, com veneração das estelas nos
templos e utilização de simulacros de moedas para "compra de vida" ou direito de

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viver e a oferta de alimentos e visita aos túmulos (a chamada veneração das
montanhas) em dias aprazados no calendário lunar.
Embora se verifique progressiva tendência para se apagar este uso na sociedade
moderna, a verdade é que ainda se encontram nas salas das casas de muitas famílias
chinesas tabuletas com os nomes dos antepassados, que os próprios emigrados levam
consigo quando se deslocam.

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A COMUNICAÇÃO E O GÉNERO EM SAÚDE
Enquanto a maioria das pessoas nasce biologicamente homem ou mulher, ou para
complicar, temos as pessoas que nascem intersexo, o que dificulta a atribuição do sexo, o
género é uma construção social de comportamentos apropriados para homens e
mulheres (normas de género):
 Na interação com outros do mesmo sexo e do sexo oposto, dentro de famílias,
comunidades e locais de trabalho (relações de género);
 Bem como as funções ou responsabilidades que devem assumir na sociedade
(papéis de género).
Identidade de género e orientação sexual são dimensões diferentes e que não se
confundem.
As expectativas de género variam de uma cultura para outra e podem mudar ao longo do
tempo. Algumas culturas têm papéis de género específicos que podem ser considerados
distintos da categoria "homens" e "mulheres", como as hijra na Índia e Paquistão, ou a
sociedade buginesa que reconhece cinco géneros: makkunrai, oroané, bissu, calabai e
calalai. O conceito de cinco géneros tem sido uma parte essencial de sua cultura há pelo
menos seis séculos, havendo tradições similares na Tailândia, Malásia, Índia e
Bangladesh.
A diferença conceitual entre sexo e género foi estabelecida pelo psicólogo Robert
Stoller em 1968: sexo refere-se aos aspetos anatómicos, morfológicos e fisiológicos
(genitália, gonadas, cromossomos sexuais, hormonas) da espécie humana. Stoller
estudou casos de meninos e meninas intersexo ou que possuíam "genitais escondidos" e
que foram educados de acordo com um género que não correspondia ao seu sexo
biológico. Esses meninos e meninas, mesmo depois de saberem que suas genitálias
externas eram atípicas ou sofreram alguma mutilação acidental, empenhavam-se em
manter os padrões de comportamento de acordo com os quais haviam sido educados, o
que levou Stoller à conclusão de que seria "mais fácil mudar o sexo biológico do que o
género de uma pessoa".
Género e saúde
Rendimento, escolaridade, idade, etnia, orientação sexual e local de residência são
determinantes importantes para a saúde, quando eles se cruzam com a desigualdade de
género, podem agravar a experiência da discriminação, dos riscos à saúde e da falta de
acesso aos recursos necessários para alcançar a saúde.

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As diferenças entre mulheres e homens definidas socialmente não constituem, em si
mesmas, um problema, salvo quando limitam as oportunidades ou os recursos
necessários para resultados de saúde e, por conseguinte, provocam discriminação e
desigualdades que podem ter consequências negativas para a saúde.
Dito de outra maneira, mulheres e homens devem e beneficiar das mesmas condições:
 No acesso à educação
 Nas oportunidades no trabalho e na carreira profissional
 No acesso à saúde.
Para tal, há que admitir que a abordagem das diferenças em saúde não se confina,
apenas, ao conhecimento das características identificadas nos indivíduos de um sexo e
do outro, dizem respeito, igualmente, às políticas de saúde, às formas de prestação e aos
prestadores de cuidados, mas também, às práticas educativas nos vários contextos de
socialização, em particular na escola. Assim, a Escola, fábrica de saberes e de boas
práticas, adquire também um protagonismo relevante neste domínio, dado o mandato
pedagógico de que está investida.
Tomando por referência o que se constata nas sociedades industrializadas, em particular,
Portugal, qualquer que seja o grupo etário considerado, a mortalidade é sempre mais
elevada nos homens do que nas mulheres, exceto a partir dos 75 anos. Nas idades jovens
da vida, o número de óbitos verificados no sexo masculino chega a ser triplo do
verificado no sexo feminino. Convirá, por isso, não esquecer que as determinantes sócio
económicas e políticas são cruciais neste indicador; ele reflete, assim, as disparidades
gritantes que existem, a nível mundial, entre Estados e entre regiões. A ilustrar o facto, a
esperança média de vida, na Noruega, era de 78,7 anos (76,1 nos homens e 81,4 nas
mulheres); no mesmo ano, no Burundi, aquele valor não passava dos 40,8 anos (38,4 nos
homens e 42,3 nas mulheres). A estas diferenças grosseiras não são alheios
determinantes como o grau de desenvolvimento dos países, os índices de pobreza, a
educação, o emprego, o contexto ambiental e os serviços; mas outros fatores a eles
ligados contribuem.
Mas o impacte destes elementos não pode, nunca, ser isolado da condição de homem ou
de mulher, a qual, ao longo da vida, gera exposição e vulnerabilidades diferentes face a
todos estes elementos. Quando se toma em consideração o tipo de causas de morte,
também encontramos diferenças muito relevantes entre os dois grupos. Tomemos
alguns exemplos:
 no que respeita aos óbitos por acidentes de trânsito com veículos a motor, em
Portugal, no ano de 2004, quase 80% dos casos aconteceram em homens;

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 No que se refere a mortes por doença crónica do fígado e cirrose, 74% dos casos
disseram respeito a homens e 26% a mulheres;
 Se se quiser salientar as questões do domínio da saúde mental, refira-se que uma
proporção semelhante de três para um pode ser encontrada nas situações
relacionadas com o suicídio.
Estas diferenças não podem deixar de suscitar várias interrogações. Uma delas poderá
ser o equacionar a possibilidade de os homens serem mais vulneráveis à doença, aos
traumatismos e à morte. Mas, a ser assim, como entender, então, que as mulheres sejam
mais utilizadoras dos cuidados de saúde? Fazem-no porque “adoecem” mais ou, ao
terem esse comportamento, cuidam mais da saúde e atingem maior longevidade? E por
que razão, a propósito do seu próprio estado de saúde, se declarem, em geral, menos
saudáveis do que os homens, em todas as idades? Por outro lado, existe evidência
científica de que em situações de doença aguda, de patologia crónica não letal e de
doenças autoimunes os índices encontrados são mais elevados no sexo feminino.
De facto, existe um número assinalável de outros fatores causais das diferenças entre
sexos (que não a dualidade biológica) em matéria de saúde. Não se referem tanto ao
domínio da suscetibilidade física, mas, muito mais, ao das biografias pessoais, às
condutas, no contexto dos mundos “masculino” e feminino”. O capital genético e o perfil
hormonal de homens e mulheres, tendem a ser constantes nas diferentes sociedades,
contudo, os padrões culturais geradores de diferenças nos valores, nas normas e nos
papéis atribuídos a homens e mulheres têm sempre em comum um pilar estruturante: a
persistência de uma dicotomia marcada entre sexos, assimétrica quanto ao eixo do
poder, assente em valores simbólicos persistentes. Não admira, por isso, que o género
seja, cada vez mais, reconhecido como um dos determinantes sociais com mais peso no
contexto da saúde dos indivíduos, ao longo de todo o ciclo de vida, ao mediar os padrões
de socialização, a atividade comunitária e as condutas individuais, quer as do domínio
público, quer as do privado.
Por exemplo, um homem de cinquenta anos colocar, de repente, a mão aberta sobre o
peito, seremos rapidamente tentados a admitir que foi acometido de doença cardíaca
súbita; no caso de se tratar de uma mulher, é provável que se pense, em primeiro lugar,
estarmos em presença de uma crise de ansiedade.
Nem a própria produção científica, nem as políticas de ação ou as práticas profissionais
estão imunes ao género pois fazem parte da sociedade em que vivem e, mesmo que
procurem evitá-lo, a sua produção emana do contexto ambiental em que intervêm e, por
esse facto, tem sido marcada por desigualdades de género. Não admira, por isso, que
exista literatura abundante acerca dos malefícios da nicotina nos homens, do

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compromisso vascular de que é responsável e da responsabilidade que tem na disfunção
eréctil; quanto ao impacte que o habito tabágico tem nas performances femininas, as
preocupações da ciência e o avanço no conhecimento têm vindo a centrar se, de uma
forma bem sugestiva, na gravidez, no parto e na amamentação… Historicamente, tem-se
valorizado mais a capacidade reprodutora das mulheres do que a vida erótica e sexual.
Uma das questões de saúde que ganha cada vez maior protagonismo na sociedade em
que vivemos, é a do excesso de peso e da obesidade, esta será uma das matérias em
termos de prevenção que exige uma abordagem de género mais aprofundada, posto que
nestas questões se constatam diferenças acentuadas entre sexos e, sem sombra de
dúvida, uma mera abordagem biológica das diferenças torna-se demasiado redutora. Por
exemplo, o facto do excesso de peso e da obesidade ser mais frequente nos rapazes que
nas raparigas, por outro lado, as raparigas são quem mais se declara insatisfeito com o
corpo, afirmando precisar de perder peso e se encontra envolvido em dietas restritivas.
As desigualdades de género estão presentes no estado de saúde de mulheres e homens,
bem como no acesso, na utilização e na participação nos cuidados de saúde e nos
cuidados de longa duração.
Desigualdade de género
Artigo 13.º da Constituição da República Portuguesa
Princípio da igualdade
1. Todos os cidadãos têm a mesma dignidade social e são iguais perante a lei.
2. Ninguém pode ser privilegiado, beneficiado, prejudicado, privado de
qualquer direito ou isento de qualquer dever em razão de ascendência, sexo,
raça, língua, território de origem, religião, convicções políticas ou ideológicas,
instrução, situação económica, condição social ou orientação sexual.
A desigualdade de género tem a sua raiz na subvalorização social pelo feminino e pelas
mulheres, exceto no que diz respeito às funções específicas de reprodução. Este fator
tem sido a base na desigualdade histórica entre homens e mulheres e, apesar dos
progressos atingidos em muitos países do mundo, ele persiste e pode reproduzir-se
através dos novos meios tecnológicos de comunicação.
Factos da desigualdade:
 As mulheres têm uma esperança de média de vida mais elevada que os homens, o
que torna o apoio social muitas vezes insuficiente, dado que as mulheres estão
sempre sobrecarregadas com o apoio a terceiros. Os cuidados de crianças, doentes
e velhos recaem predominantemente sobre as mulheres.
 As mulheres e crianças são as grandes vítimas da exploração sexual.

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 O desemprego afeta mais mulheres que homens.
 Por estarem mais sobrecarregadas, com a multiplicidade de tarefas domésticas e
trabalho, as mulheres sofrem com a indisponibilidade de tempo para cuidar delas
próprias.
 As políticas e serviços de saúde não estão ainda adaptados às necessidades de um
género com "menos" tempo.
 De acordo com a Organização Mundial de Saúde, as mulheres manifestam maiores
níveis de ansiedade e de depressão. Situações muitas vezes despoletadas pela
pressão da vida quotidiana e não tanto com fatores biológicos.
 A violência doméstica afeta sobretudo as mulheres.
 Os salários para as mesmas funções são mais elevados para homens do que para
mulheres.
 As mulheres contribuem para a economia através de trabalho remunerado, mas
também através de trabalho não remunerado realizado em casa, mas as tarefas
domésticas são simbolicamente desvalorizadas.
 As mulheres e raparigas estão sujeitas a estereótipos sociais mais prejudiciais face
aqueles que se associam aos homens.
 As desordens alimentares, como a anorexia e bulimia, afetam mais raparigas que
rapazes. A obsessão com o corpo e a pressão dos media afeta muito mais as
raparigas.
 A pobreza é feminina!
Na política da saúde é preocupação do ministério da saúde integrar nas políticas,
estratégias e programas de saúde as diferentes necessidades dos homens e das
mulheres, assim como as medidas necessárias para adotá-las adequadamente. Algumas
atuações que pretendem promover na área da saúde são:
 A adoção sistemática de iniciativas destinadas a favorecer a promoção específica
da saúde das mulheres, assim como a prevenir a sua discriminação;
 A promoção da investigação científica que atenda às diferenças entre homens e
mulheres em relação à proteção da saúde, especialmente no que se refere ao
acesso aos meios de diagnóstico e terapêutico, tanto nos aspetos clínicos como
assistenciais;
 Sempre que seja possível, será incentivada a obtenção e tratamento de dados,
desagregados por sexo, nos registos, inquéritos, estatísticas ou outros sistemas de
informação médica e sanitária;
 A presença equilibrada de mulheres e homens nos postos diretivos e de
responsabilidade profissional do conjunto do SNS;

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 A integração do princípio de igualdade na formação de todos os que trabalham nas
diferentes organizações de saúde, garantindo a capacidade para detetar e assistir
as situações de violência de género.
Saúde sexual e reprodutiva
A intervenção no âmbito da SSR envolve uma dimensão ética, médica e legal, chamando
à ação diferentes tipos de atores, desde os profissionais de saúde e educação até
decisores políticos e legisladores.
Numa abordagem que se caracteriza por ser multidisciplinar, são consideradas como
áreas de atuação para a promoção da SSR:
 Prestação de cuidados de saúde perinatais e pós-parto;
 Implementação e promoção do acesso a serviços de planeamento familiar;
 Prevenção da gravidez indesejada;
 Eliminação do aborto não seguro;
 Combate à infertilidade;
 Prevenção das infeções sexualmente transmissíveis e doenças do aparelho
reprodutor;
 Combate à violência sexual baseada no género e orientação sexual.
As estratégias para a promoção da saúde sexual e reprodutiva envolvem:
 Um compromisso político claro;
 Programas de intervenção comunitária;
 Informação adequada e livre de preconceitos;
 Educação sexual;
 Legislação adequada;
 Serviços e infraestruturas de apoio acessíveis;
 Investigação e partilha do conhecimento;
 Avaliação, acompanhamento e monitorização.
Planeamento familiar
Segundo a legislação portuguesa é assegurado a todos, sem discriminações, o livre
acesso às consultas e outros meios de Planeamento Familiar. Através das consultas,
todos os indivíduos têm o direito à informação, conhecimentos e meios que lhes
permitam tomar decisões livres e responsáveis.
As consultas de PF e os meios contracetivos proporcionados por entidades públicas são
gratuitos. Os jovens podem ser atendidos em qualquer consulta de Planeamento Familiar

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em centros de saúde ou serviços hospitalares pertencentes ou não à sua área de
residência.
Em todos os hospitais com serviço de ginecologia e/ou obstetrícia integrados no Serviço
Nacional de Saúde devem funcionar consultas de Planeamento Familiar de referência
que devem garantir a prestação de cuidados:
 Em situações de risco, designadamente, diabetes, cardiopatias e doenças
oncológicas;
 Em situações com indicação para contraceção cirúrgica (laqueação de trompas ou
vasectomia);
 Em situações de complicações resultantes de aborto;
 A puérperas de alto risco;
 A adolescentes.
Gravidez
https://www.sns24.gov.pt/guia/guia-para-gravidas/
As grávidas - portuguesas ou estrangeiras que residam em Portugal há mais de 90 dias -
têm direito a consultas gratuitas durante a gravidez, e 60 dias após o parto. Para isso,
terão de se dirigir ao Centro de Saúde, informar que estão grávidas e pedir para serem
seguidas por um/a médico/a de família. As grávidas estrangeiras que não sejam titulares
de residência têm direito a consultas gratuitas durante a gravidez, desde que apresentem
um atestado de residência, emitido pela junta de freguesia da área de residência,
indicando que reside em Portugal há mais de 90 dias.
O pai tem igualmente direito a exames gratuitos, quando esses exames forem
considerados essenciais pelo médico assistente da grávida.
Na primeira consulta, a grávida recebe um Boletim de Saúde da Grávida onde são
registadas todas as observações do profissional de saúde, incluindo a data provável do
parto.
O boletim pode ser usado para informar o empregador de que está grávida. É
aconselhável que a grávida se faça acompanhar do boletim para usufruir de atendimento
prioritário nos serviços públicos, bem como obter isenção de taxas moderadoras nos
serviços de saúde.
Para além das consultas, também são efetuados exames clínicos e análises regulares, que
permitem avaliar o estado de saúde da mãe e do bebé, ao longo da gravidez.
Quando se aproxima a data prevista para o parto, o/a médico/a de família encaminha a
grávida para uma consulta no hospital onde irá nascer o bebé.

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É a ocasião para falar com a equipa médica sobre o Plano de Parto, que inclui as
preferências da grávida sobre o método de controlo da dor (ex. tipo de anestesia) ou a
indicação da pessoa que irá estar presente durante o trabalho de parto (se existirem
complicações, não é possível estar acompanhada).
Saiba, no Guia para grávidas, do SNS24, se pode fazer exercício físico, qual a roupa mais
adequada para usar na gravidez, assim como quais as recomendações ao nível da
alimentação.
Para outros esclarecimentos de dúvidas sobre a gravidez, sexualidade e planeamento
familiar pode contactar a Ajuda de Mãe através da Linha SOS grávida.
Interrupção Voluntária da gravidez (IVG)
https://www.sns24.gov.pt/guia/consulta-ivg/
De acordo com a Lei 16/2007, a interrupção voluntária da gravidez é legal em Portugal
desde que:
 Constitua o único meio de remover perigo de morte ou de grave e irreversível
lesão para o corpo ou para a saúde física ou psíquica da mulher grávida;
 Se mostre indicado para evitar perigo de morte ou de grave e duradoura lesão
para o corpo ou para a saúde física ou psíquica da mulher grávida, e seja realizada
nas primeiras 12 semanas de gravidez;
 Haja seguros motivos para prever que o nascituro venha a sofrer, de forma
incurável, de grave doença ou malformação congénita, e for realizada nas
primeiras 24 semanas de gravidez, excecionando-se as situações de fetos inviáveis,
caso em que a interrupção poderá ser praticada a todo o tempo;
 A gravidez tenha resultado de crime contra a liberdade e autodeterminação sexual
e a interrupção for realizada nas primeiras 16 semanas de gravidez;
 Por opção da mulher, nas primeiras 10 semanas de gravidez.
Violência de género
https://www.sns24.gov.pt/guia/emocoes-relacoes-e-violencia/

Um ato é violento na medida em que alguém o classifica como tal: a vítima, o autor ou a
sociedade a que ambos pertencem. Ora isto depende de como o ato é percecionado e
vivido, ou como é representado; em qualquer dos casos, para ser considerado violento é
representado sempre como uma transgressão. O que varia é a gravidade da transgressão
e o nível como esta é representada. De um ponto de vista social, o significado de violento
atribuído a um determinado ato advém do facto de ele ser considerado como uma

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agressão a normas estabelecidas pelo sistema de valores que é reconhecido por uma
determinada sociedade ou segmento social. Por outro lado, o conceito de violência é
dinâmico, reportando-se genericamente a uma transgressão das normas e dos valores
socialmente instituídos em cada momento.
Os conceitos de crime e violência não devem ser confundidos. Eles podem ou não
coincidir. Crime corresponde aos atos que a lei rotula como tal.
A violência de género constitui um padrão específico de violência que se amplia e
reatualiza na proporção direta em que o poder dominante é ameaçado. Podendo
revestir-se de diversas formas, tanto físicas, como psicológicas, económicas, sexuais ou
de discriminação sociocultural, esta forma de violência é considerada, nacional e
internacionalmente, como uma das mais graves violações do direito à vida, segurança,
liberdade, dignidade e integridade física e mental daquelas que são as suas vítimas, e,
por consequência, um entrave ao funcionamento de uma sociedade democrática,
baseada no Estado de direito.
É considerada violência de género aquela que é exercida de um sexo sobre o sexo
oposto. Trata-se de violência baseada no género, referindo-se este conceito aos papéis,
aos comportamentos, às atividades e aos atributos socialmente construídos que uma
determinada sociedade considera serem adequados para mulheres e para homens.
De acordo com a Convenção de Istambul, algumas formas de violência de género
poderão ser elencadas:
 Violência em relações de intimidade;
 Casamentos forçados;
 Violência psicológica;
 Perseguição;
 Violência física;
 Violência sexual, incluindo a violação;
 Mutilação genital feminina;
 Aborto forçado e esterilização forçada;
 Assédio sexual;
 Crimes cometidos em pretensa defesa da “honra”;
 Auxílio ou instigação e tentativa da prática das formas de violência acima referidas.
Algumas destas formas de violência de género são ainda consideradas práticas culturais
em algumas comunidades, no entanto, a legislação portuguesa já as contempla enquanto
crimes, tais como o casamento forçado e a mutilação genital feminina.

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Uma parte das consequências já conhecidas da violência exercida contra as mulheres
prende-se com a saúde. Enquanto problema de saúde pública, a violência pode envolver
um vasto conjunto de custos físicos e emocionais para as vítimas, alguns dos quais se
podem associar diretamente a alguns atos, outros que se prolongam no tempo,
diminuindo de modo evidente a qualidade de vida dos sujeitos envolvidos.
O crime e a violência podem afetar as pessoas de modo diferente e estas não reagem
todas da mesma forma perante a vivência de uma situação de vitimização. Há reações
que são comuns nas vítimas de crime ou violência, tais como:
 Pânico geral,
 Medo intenso de morrer,
 Impressão de estar a viver um pesadelo,
 Desorientação geral,
 Sentimento de solidão,
 Estado de choque.
Existem, geralmente, um conjunto de consequências de carácter psicológico, físico e
social que se manifestam após a vitimização. Todavia, a vítima não é, regra geral, a única
pessoa em sofrimento:
 As testemunhas desta vitimização também podem ser afetadas;
 Familiares e amigos da vítima, ainda que não necessariamente testemunhas do
crime.
Uma grande parcela da violência de género prende-se com a violência doméstica.
A APAV (2010) define violência doméstica como qualquer conduta ou omissão
de natureza criminal, reiterada e/ou intensa ou não, que inflija sofrimentos
físicos, sexuais, psicológicos ou económicos, de modo direto ou indireto, a
qualquer pessoa que resida habitualmente no mesmo espaço doméstico ou
que, não residindo, seja cônjuge ou ex-cônjuge, companheiro/a ou ex-
companheiro/a, namorado/a ou ex-namorado/a, ou progenitor de descendente
comum, ou esteja, ou tivesse estado, em situação análoga; ou que seja
ascendente ou descendente, por consanguinidade, adoção ou afinidade.

É no artigo 152.º do código penal que é feita a caracterização do crime de violência doméstica no nosso
país, assume a natureza de crime público, o que significa que o procedimento criminal não está
dependente de queixa por parte da vítima, bastando uma denúncia ou o conhecimento do crime, para que
o Ministério Público promova o processo.

Artigo 152.º

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Violência doméstica
1) Quem, de modo reiterado ou não, infligir maus-tratos físicos ou psíquicos,
incluindo castigos corporais, privações da liberdade e ofensas sexuais:
a) Ao cônjuge ou ex-cônjuge;
b) A pessoa de outro ou do mesmo sexo com quem o agente mantenha ou tenha
mantido uma relação análoga à dos cônjuges, ainda que sem coabitação;
c) A progenitor de descendente comum em 1.º grau; ou
d) A pessoa particularmente indefesa, em razão de idade, deficiência, doença,
gravidez ou dependência económica, que com ele coabite;
é punido com pena de prisão de um a cinco anos, se pena mais grave lhe não
couber por força de outra disposição legal.
Nas sociedades ocidentais, e num sentido lato, podemos afirmar que a violência
doméstica implica a prática de um ou mais crimes no contexto de uma relação de
parentesco, adoção, afinidade ou simplesmente intimidade. A violência doméstica não se
restringe apenas a pessoas que vivem ou viveram em situação conjugal, casadas ou não.
Implica todas as relações de parentesco, adoção, de afinidade e de intimidade:
pais/filhos; avós/netos, etc.
Trata-se de um conceito cada vez mais unânime, distanciado já da época em que referir
violência doméstica era sinónimo de violência praticada por homens, maridos ou
companheiros, contra as mulheres, suas esposas ou companheiras.
Impactos nas vítimas/sobreviventes, de violência doméstica.
 Físico:
o Lesões físicas (nódoas negras, ossos partidos, e outras lesões físicas
traumáticas);
o Vários problemas físicos e mentais, temporários ou permanentes;
o Morte;
o Problemas reprodutivos;
o Gravidez indesejada;
o Abortos;
o Doenças sexualmente transmissíveis;
o Perturbações do sono;
o Perturbações psicossomáticas e cognitivas;
 Psicológico:
o Baixa autoestima;
o Ansiedade;

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o Stress pós-traumático;
o Perturbações Alimentares;
o Depressão;
o Sentimentos de inutilidade;
o Ataques de pânico;
o Sentimentos de culpa, incapacidade;
o Medo, insegurança;
o Dificuldades no relacionamento interpessoal;
o Falta de valorização pessoal
 Social:
o Falta de suporte social (familiar ou outro suporte social informal)
o Exclusão social (Direitos, recursos e informação);
o Isolamento (Geográfico);
 Emprego;
o Absentismo no emprego;
o Trabalho precário e instável;
o Baixos salários
o Dependência económica;
o Controlo financeiro por parte do parceiro.
Apesar dos efeitos físicos poderem ser graves ou mesmo com risco de vida, a maior parte
das sobreviventes considera o impacto emocional mais devastador e prolongado. As
sobreviventes, utilizam várias estratégias para lidar e prevenir a violência e para
protegerem as suas crianças. No entanto, a consequência mais grave da violência nas
relações de intimidade é a morte.
As consequências físicas incluem os resultados diretos das agressões sofridas pela vítima,
mas também respostas do organismo ao stress a que foi sujeito. No entanto, tais
consequências e reações físicas podem não surgir em simultâneo e a sua intensidade
poderá variar de pessoa para pessoa. Alguns exemplos poderão ser:
 Perda de energia;
 Dores musculares;
 Dores de cabeça e/ou enxaquecas;
 Distúrbios ao nível da menstruação;
 Arrepios e/ou afrontamentos;
 Problemas digestivos;
 Tensão arterial alta.

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A diversidade e intensidade dos efeitos psicológicos podem levar as vítimas a
questionarem a sua sanidade mental ou a considerarem estar a perder o seu equilíbrio
psíquico. Todavia, tais efeitos e reações constituem respostas naturais perante
acontecimentos de vida anormais. Algumas das consequências psicológicas da
vitimização poderão ser:
 Dificuldades de concentração;
 Dificuldades em dormir e/ou pesadelos;
 Dificuldades de memória;
 Dificuldades em tomar decisões;
 Tristeza;
 Desconfiança face aos outros;
 Diminuição da autoconfiança.
Um atendimento a alguém vítima de violência, seja num Serviço de Urgência, seja num
Centro de Saúde, pode ser determinante para o seu restabelecimento de saúde, em
particular (pelo tratamento imediato) e, no geral, para toda a sua vida (pelo apoio que
pode facultar para a resolução dos seus problemas). Por isso, os profissionais deverão
tentar sempre promover um processo de apoio que não termine aí, tão pouco devem
realizar um atendimento como se não estivessem diante de uma vítima de violência,
ainda que, em muitos casos a vítima não assuma essa condição.
O diagnóstico, que visa a colheita de informações para a história clínica, e o tratamento
começam geralmente, com a entrevista. Um profissional de saúde tem de possuir
capacidades de entrevistar a pessoa, de modo a realizar um adequado diagnóstico da
situação e a fazer seguir um tratamento correto e eficaz, por isso, a entrevista constitui o
núcleo da desta relação. E, muito mais além de uma simples recolha de informações, a
entrevista clínica deve ser o processo pelo qual o entrevistador tenta compreender todos
os fatores: biológicos, psicológicos e sociais que desempenharam um papel no
aparecimento do problema de saúde e que irão afetar a recuperação da pessoa.
É essencial que o profissional oriente a sua entrevista consoante as informações que
obteve previamente sobre a pessoa que vai consultar: se a vítima declarou, à entrada no
hospital que foi vítima de violência, a entrevista decorrerá desde logo numa abordagem
direta sobre o problema.
O profissional deverá ter em consideração que a entrevista dependerá da relação que
conseguir estabelecer com a vítima, do modo como esta discursa e como se comporta,
pelo que deverá adaptar o seu próprio comportamento durante a entrevista.
Porém, há alguns aspetos que, não são mais algumas técnicas de entrevista, que poderá
considerar, mas que o seu uso não basta para uma adequada Intervenção:

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 A sua apresentação.
 Clarificar, desde logo, o objetivo da entrevista.
 O modo de tratamento que dá à pessoa.
 Estar atento à comunicação verbal.
 A facilitação.
 A confrontação.
 Perguntar.
 Estar atento à comunicação não-verbal.
 Despedir-se.

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A COMUNICAÇÃO NA INTERAÇÃO COM POPULAÇÕES MAIS
VULNERÁVEIS
Lei n.º 95/2019
Lei de Bases da Saúde
Base 2
Direitos e deveres das pessoas
1 - Todas as pessoas têm direito:
a) À proteção da saúde com respeito pelos princípios da igualdade, não
discriminação, confidencialidade e privacidade;
b) A aceder aos cuidados de saúde adequados à sua situação, com prontidão e
no tempo considerado clinicamente aceitável, de forma digna, de acordo com a
melhor evidência científica disponível e seguindo as boas práticas de qualidade
e segurança em saúde;
Base 20
Serviço Nacional de Saúde
1 - O SNS é o conjunto organizado e articulado de estabelecimentos e serviços
públicos prestadores de cuidados de saúde, dirigido pelo ministério responsável
pela área da saúde, que efetiva a responsabilidade que cabe ao Estado na
proteção da saúde.
2 - O SNS pauta a sua atuação pelos seguintes princípios:
a) Universal, garantindo a prestação de cuidados de saúde a todas as pessoas
sem discriminações, em condições de dignidade e de igualdade;
e) Equidade, promovendo a correção dos efeitos das desigualdades no acesso
aos cuidados, dando particular atenção às necessidades dos grupos
vulneráveis;
Vulnerabilidade
Ao longo da história dos últimos séculos assistiu-se a várias situações de injustiça social,
mesmo quando ocorreram grandes inovações e alterações significativas na qualidade de
vida da população em geral, enquanto as populações vulneráveis continuaram a subsistir.
Mas, antes de abordar as populações vulneráveis é importante compreender o que se
entende por esta designação.

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 Como são caracterizadas estas populações?
 Porque é que são consideradas vulneráveis ou de risco?
 Que tipo de intervenção estatal é realizada para este tipo de populações?
É essencial entender o que significa o conceito de vulnerabilidade social para uma melhor
compreensão do que falamos. Vulnerabilidade social refere-se a grupos sociais
marginalizados de uma dada sociedade, ou seja, aqueles que estão excluídos dos direitos
e benefícios que todos nós deveríamos ter acesso num mundo dito civilizado.
Nas sociedades onde a economia de mercado detém um peso significativo, a pobreza
assume-se como um dos principais fatores de exposição à vulnerabilidade não possuindo,
por vezes, uma rede de proteção social. Neste sentido, se considerarmos a desigualdade
como um princípio intrínseco à estrutura social desta forma, a exclusão social pode ser
explicada através do crescimento desta desigualdade mencionada anteriormente, logo
pobreza, discriminação, marginalidade e desemprego são alguns exemplos de fenómenos
socias que levam à exclusão social.
Podemos afirmar que nas sociedades ocidentais, consideradas sociedades modernas, a
pobreza e a exclusão social reforçam-se mutuamente. A exclusão do mercado de
trabalho reproduz pobreza impedindo assim o acesso a bens e serviços socialmente
significativos, tais como o acesso à habitação, à saúde, à educação, entre outros. Torna-
se excluído das relações sociais e também de um mundo das representações das
mesmas, constituindo uma falha no tecido social. Deste modo, é compreensível o
desfasamento entre o indivíduo e a sociedade, dando origem à pobreza e exclusão social,
e, por consequência, ficam expostos e vulneráveis, surgindo muitas vezes associados às
classes marginais ou perigosas que colocam em causa a normalidade social.
Assim podemos verificar várias categorias de excluídos:
 Desempregados de longa duração devido à baixa escolarização ou qualificações;
 Toxicodependentes e ex-toxicodependentes que normalmente foram excluídos
das principais instituições sociais como família, escola, trabalho, entre outras;
 Sem-abrigo podendo as causas divergir entre o alcoolismo, a toxicodependência,
alguma deficiência ou rutura familiar;
 Mulheres;
 Jovens;
 Beneficiários do rendimento mínimo que cruzam com outras categorias acima
expostas;
 Outras.
Em comum estas populações geralmente têm a pobreza, e esta pode ser:

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 Pobreza absoluta - normalmente associada à incapacidade de satisfação das
necessidades básicas dos indivíduos, isto é, privação de alimentos, água potável,
educação, entre outros;
 Pobreza relativa - remete para a situação dos padrões sociais, isto é, diverge em
função do tipo de sociedade onde os indivíduos estão inseridos;
 Pobreza objetiva - associada a um padrão de referência, tipificando ou
caracterizando os pobres;
 Pobreza subjetiva - diz respeito às representações de pobreza que são produzidas
por grupos sociais e atores, isto é, a representação que o indivíduo detém de
pobreza;
 Pobreza duradoura - reflete a vivência da pobreza de forma durável como, por
exemplo, o desemprego de longa duração;
 Pobreza temporária - está relacionada com os curtos períodos que os indivíduos
permanecem na pobreza;
 Pobreza urbana/rural - remete-nos para uma dimensão espacial, a rural significa
escassez de recursos básicos que são originários da baixa produtividade agrícola e
alta dependência de prestações sociais, enquanto na pobreza urbana essa
dependência reflete os baixos rendimentos, falta de qualificações, desemprego,
alcoolismo, toxicodependência, deficiências físicas e mentais, entre outras.
Vulnerabilidade e saúde
A equidade no acesso aos cuidados de saúde é essencial para a melhoria do estado de
saúde dos cidadãos, entenda-se equidade em saúde como a ausência de diferenças
evitáveis, injustas e passíveis de modificação, no estado de saúde de grupos
populacionais oriundos de contextos sociais, geográficos ou demográficos diversos.
O respeito pelo princípio da equidade implica a ausência de diferenças evitáveis e
injustas nas respostas oferecidas pelo Sistema de Saúde a necessidades iguais de
cidadãos diferentes. Expressa-se, ainda, pela igual oportunidade de cada cidadão atingir
o seu potencial de saúde. Assim, pretende-se reduzir desigualdade através da
intervenção em determinantes de saúde, e em particular os determinantes sociais da
saúde.
As desigualdades em saúde:
 Estão fortemente associadas a determinantes sociais:
o Nível socioeconómico;
o Nível educacional;
o Estilos de vida;
o Acesso aos cuidados de saúde;

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As desigualdades afetam o desenvolvimento socioeconómico, pois a saúde está
associada à riqueza de cada país, sendo também geradora de desenvolvimento, que
pode ser avaliada através de indicadores de esperança de média de vida, mortalidade e
morbilidade, resultados em saúde materna e infantil, estratificados pelas características
socioeconómicas.
Neste âmbito, os profissionais de saúde devem:
 Ser sensíveis aos determinantes associados ao acesso, promovendo estratégias de
melhoria, adequando os serviços (por exemplo, primeira consulta de resposta
rápida para triagem ou reencaminhamento), flexibilizando a resposta,
diversificando as práticas (acesso telefónico, email), trocando experiências e
avaliando o desempenho.
 Desenvolver a articulação de cuidados e investir de forma proactiva na
comunicação entre prestadores intra e inter instituições, assegurando a articulação
de cuidados, orientando a pessoa de forma eficiente e permitindo a monitorização
e avaliação.
 Estimular ativamente a figura do cuidador informal, do voluntário e do sector
social como relevantes na prestação de cuidados.
 Ao reconhecer-se os aspetos que levam à maior vulnerabilidade do indivíduo,
grupo ou comunidade criam-se oportunidades de intervenções de saúde
facilitadoras de mudança e uma cobertura mais justa, equitativa e solidária.
 Ao nível da comunidade, tem competências para planear e avaliar o estado de
saúde de desta, podendo, assim, identificar as necessidades de saúde da mesma.
 O diagnóstico de saúde da comunidade constitui a primeira etapa do planeamento
em saúde e consiste no conhecimento da comunidade através da identificação dos
seus problemas, necessidades, grupos de risco e recursos existentes na área da
saúde.
 Com esse diagnóstico, o técnico consegue identificar os grupos vulneráveis que
serão alvo de uma atenção prioritária em projetos de intervenção comunitária.
 Dentro dessa intervenção, o técnico atua encorajando os indivíduos, famílias e
grupos vulneráveis a obterem serviços de saúde, orientando para estratégias de
prevenção e de promoção da saúde e ajudando a identificar forças, dificuldades e
recursos. Neste âmbito, a educação para a saúde é fundamental no trabalho com
populações vulneráveis, uma vez que capacita os indivíduos a serem capazes de
tomar as suas próprias decisões e a melhorar o seu estado de saúde.
 O primeiro passo para a capacitação dos indivíduos e grupos dá-se quando o
técnico se preocupa com a defesa das populações, nomeadamente na área das
políticas da saúde, daí que acredite que todos estes processos necessitam de ser

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acompanhados e por vezes impulsionados através da implementação de políticas
públicas.
 A avaliação das intervenções de saúde com as populações vulneráveis começa com
os objetivos que se querem alcançar e centra-se em verificar até que ponto os
resultados de saúde foram atingidos, quer seja a nível individual, de grupo ou
comunidade.
 Os técnicos de saúde, em particular em Saúde Comunitária, ao identificarem os
fatores de vulnerabilidade e ao intervirem no sentido de os reduzir, podem
contribuir para uma melhor qualidade de vida dos indivíduos, famílias ou
comunidades com quem trabalham.

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TAREFAS QUE EM RELAÇÃO A ESTA TEMÁTICA SE ENCONTRAM NO
ÂMBITO DE INTERVENÇÃO DO/A TÉCNICO/A AUXILIAR DE SAÚDE

Tarefas que, sob orientação de um profissional de saúde, tem de executar sob


sua supervisão direta
Nos contextos de saúde, o supervisor do técnico de saúde é um enfermeiro que pode ter
as competências de consultor, conselheiro, orientador, que estabelece e desenvolve
relações de ajuda em vários campos de intervenção e que:
 Disponibiliza os seus conhecimentos e saberes avaliando as necessidades de
formação e de suporte emocional para melhorar cuidados seus e dos seus pares;
 Promove e coopera em processos sistematizados de mudança e de atendimento
do doente;
 Dá visibilidade e incentivo às boas práticas;
 Promove a autorreflexão perante as situações que se deparam nos vários
contextos de trabalho;
 Desenvolve processos de reflexão-ação sobre o seu próprio papel como supervisor
e também como prestador de cuidados de enfermagem.
Os intervenientes na relação supervisiva devem ter em consideração as políticas
diretivas, as preocupações com a melhoria dos primados de qualidade para o cliente,
participar no debate sobre a filosofia do cuidar, desenvolvimento de processos
formativos e motivação para o seu próprio processo de desenvolvimento de
competências.
As medidas que o supervisor deve estabelecer apresentam-se como:
 O ser explícito no suporte,
 Considerar todas as formas de ajuda;
 Desenvolver os processos comunicativos;
 Ser um elemento encorajador, clarificador e dinamizador;
 Desenvolver o foco nos aspetos mais relevantes dos assuntos;
 Desenvolver as atividades do processo supervisivo de uma forma faseada;
 Utilizar as energias do próprio supervisado, mais do que dar conselhos, dar
informações para reflexão;
 Saber avaliar introduzindo as medidas corretivas educacionais;
 Saber refletir e levar o outro a desenvolver processos de autorreflexão

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De acordo com o respetivo perfil profissional, cabem ao técnico de saúde as seguintes
tarefas que, sob orientação de um enfermeiro, tem de executar sob sua supervisão
direta:
 Auxiliar na prestação de cuidados aos utentes, de acordo com orientações do
enfermeiro;
 Executar tarefas que exijam uma intervenção imediata e simultânea ao alerta do
técnico de saúde.
A supervisão das práticas do técnico auxiliar de saúde terá uma dimensão menos
intrusiva, permitindo a sua autonomia, nomeadamente quando nos referimos a:
 Relação de ajuda ao doente/utente, convivente significativo ou familiar;
 Promoção da melhoria do estado de saúde do doente em situação de urgência ou
emergência;
 O cuidar de doentes que se encontram em risco de vida;
 A identificação de problemas nos doentes;
 Aspetos da comunicação com o doente e a família.
Neste campo, a supervisão aponta para a identificação de soluções de problemas,
melhoria efetiva da prática e aumento de competências, capacidades e conhecimento
dos profissionais com vista à qualidade global e globalizante.
O Técnico auxiliar de saúde deve então:
 Adaptar-se e atualizar-se a novos produtos, materiais, equipamentos e
tecnologias.
 Agir em função das orientações do profissional de saúde e sob a sua supervisão.
 Agir em função de normas e/ou procedimentos.
 Agir em função de princípios de ética.
 Agir em função do estado de saúde do utente,
 Agir em função dos aspetos culturais dos diferentes públicos.
 Assumir uma atitude de melhoria contínua.
 Concentrar-se na execução das tarefas.
 Trabalhar em equipa multidisciplinar.
 Agir em função do bem-estar de terceiros.
 Comunicar de forma clara e assertiva
 Demonstrar compreensão, paciência e sensibilidade na interação com utentes.
 Demonstrar interesse e disponibilidade na interação com utentes, familiares e/ou
cuidadores.

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 Demonstrar interesse e disponibilidade na interação com os colegas de trabalho.
 Demonstrar segurança durante a execução das tarefas.
 Autocontrolar-se em situações críticas e de limite.
De acordo com o respetivo perfil profissional, cabem ao técnico de saúde as seguintes
tarefas que, sob orientação e supervisão de um técnico/a de saúde, pode executar
sozinho:
 Assegurar atividades de apoio ao funcionamento das diferentes unidades e
serviços de saúde.
 Efetuar o transporte de informação entre as diferentes unidades e serviços de
prestação de cuidados de saúde;
 Encaminhar os contactos telefónicos de acordo com normas e/ ou
procedimentos definidos;
 Encaminhar o utente, familiar e/ou cuidador, de acordo com normas e/ ou
procedimentos definidos.
Tarefas que, sob orientação e supervisão de um profissional de saúde, pode
executar sozinho
O Técnico Auxiliar de Saúde é o profissional que auxilia na prestação de cuidados de
saúde aos utentes, na recolha e transporte de amostras biológicas, na limpeza,
higienização e transporte de roupas, materiais e equipamentos, na limpeza e
higienização dos espaços e no apoio logístico e administrativo das diferentes unidades e
serviços de saúde, sob orientações do técnico de saúde.
Atividades Principais:
 Auxiliar na prestação de cuidados aos utentes, de acordo com orientações do
enfermeiro.
 Auxiliar nos cuidados pós-morte, de acordo com orientações do profissional de
saúde.
 Assegurar a limpeza, higienização e transporte de roupas, espaços, materiais e
equipamentos, sob a orientação de profissional de saúde.
 Assegurar atividades de apoio ao funcionamento das diferentes unidades e
serviços de saúde.
 Auxiliar o profissional de saúde na recolha de amostras biológicas e transporte
para o serviço adequado, de acordo com normas e/ou procedimentos definidos.
Face às características da relação de ajuda o técnico de saúde terá que ser portador de
determinadas competências pessoais e requisitos profissionais, devendo para isso
desenvolver as suas capacidades intelectuais, afetivas, físicas, sociais e espirituais.

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O técnico de saúde que ajuda deve possuir algumas capacidades, nomeadamente:
 Ter capacidade de especificar e fazer especificar;
 Ter capacidade de respeitar-se a si mesmo e ao utente;
 Ter capacidade de ser congruente consigo mesmo e na relação com o utente;
 Ter capacidade de ser simpático;
 Ter capacidade de confrontar-se e confrontar os outros;
 Ter capacidade de escuta.
Igualmente importante é que o técnico de saúde desenvolva e utilize as competências da
relação de ajuda para assegurar um ambiente encorajador e estimulante. Assim, as
competências são as seguintes:
 Clarificação:
o O técnico de saúde deve ajudar o utente a perceber com maior clareza o seu
problema ou as suas soluções;
 Empatia:
o O técnico de saúde deve reconhecer os sentimentos e ter a capacidade de se
colocar no lugar do utente, de compreendê-lo e transmitir ao utente essa
compreensão; “a enfermeira empática usa momentaneamente as emoções
do cliente com a finalidade de o compreender inteiramente, mas é essencial
que se mantenha consciente de sua própria individualidade” ;
 Respeito mútuo:
o O técnico de saúde deve respeitar o utente como pessoa humana, com as
suas características individuais, suas crenças e valores; “Respeitar o ser
humano é acreditar profundamente que ele é único e que devido a essa
unidade só ela possui todo o potencial específico para aprender a viver de
forma que lhe é satisfatória”.
 Congruência:
o Corresponde á concordância entre o que o técnico de saúde pensa e sente, e
aquilo que exprime durante a relação de ajuda; “A congruência tem as suas
raízes na espontaneidade e na segurança interior, as quais proporcionam o
prazer de se ser verdadeiramente aquilo que se é”.
 Escuta ativa:
o O saber escutar traduz-se por um comportamento físico (postura);
observação (olhar o outro) e o escutar propriamente dito (audição). Estas
atitudes demonstram o interesse e a atenção dispensada ao utente,
devendo o técnico de saúde estar atento á mensagem verbal e gestual.
 Confrontação assertiva:

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o O técnico de saúde confronta o utente com a finalidade de lhe proporcionar
novas perspetivas que o possam motivar a mudar comportamentos para
uma vida mais saudável.
 Aceitação incondicional do direito da pessoa doente:
o O técnico de saúde deve aceitar o outro tal como este é sem avaliação com
juízos de valor e sem preconceitos. Deve aceitar tanto o doente agressivo,
como o doente exigente ou com qualquer outro.
 Autenticidade:
o Evidencia a relação consigo próprio e manifesta-se pela capacidade do
técnico de saúde se manter, ele próprio, nas suas interações com o doente,
de ultrapassar as atitudes convencionais e de lhe juntar o que há de mais
verdadeiro e de mais real. Esta atitude supõe espontaneidade e sinceridade,
assim como ausência de comportamentos defensivos por parte do
profissional.

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CONCLUSÃO
Terminado este manual, espero que ao elaborá-lo tenha conseguido aumentar a
compreensão sobre o tema da formação, espero ainda que tenha sido um apoio útil às
tarefas pedidas.
Tentei ser o mais esquemático possível para facilitar a compreensão dos temas.
Chegado aqui só vos posso desejar que no futuro os temas aqui abordados possam
permitir-vos que encarem as situações que sevos apresentarem de mente aberta e com
algum conhecimento.
Obrigado pela paciência.

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https://elearning.iefp.pt/pluginfile.php/49585/mod_scorm/content/0/efi03/00efi03.htm
https://repositorio.iscte-iul.pt/bitstream/10071/675/1/Margarida%20Domingues%20de
%20Carvalho.pdf
https://ubibliorum.ubi.pt/bitstream/10400.6/1272/1/TESE_MESTRADO_S_GALANTE.pdf
https://www.acm.gov.pt/documents/10181/233158/Imigra%C3%A7%C3%A3o+
+os+Mitos+e+os+Factos.pdf/f4b20e3f-d309-470a-ae6b-bee48ee7de7b
https://run.unl.pt/bitstream/10362/49225/1/VAZ_Preconceito_Intolerancia_Imigracao_.pdf
https://knoow.net/ciencsociaishuman/jornalismo/codigos-sociais/
https://knoow.net/ciencsociaishuman/jornalismo/comunicacao-intrapessoal/
https://knoow.net/ciencsociaishuman/psicologia/comunicacao-intercultural-intercultural-
communication-icc/
https://knoow.net/ciencsociaishuman/psicologia/comunicacao-interacao-utentes/
https://knoow.net/ciencsociaishuman/psicologia/comunicacao-nao-verbal/
https://knoow.net/ciencsociaishuman/psicologia/comunicacao-verbal/
http://repositorio.ipvc.pt/bitstream/20.500.11960/1346/1/Diana_Borges.pdf
https://www.infopedia.pt/dicionarios/lingua-portuguesa/comunica%C3%A7%C3%A3o
https://pt.wikipedia.org/wiki/Comunica%C3%A7%C3%A3o
https://www.nucleodoconhecimento.com.br/comunicacao/processo-de-comunicacao
https://www.inem.pt/2020/09/27/sistema-de-traducao-de-lgp-garante-a-comunicacao-com-a-pessoa-
surda-nos-meios-do-inem/
https://actamedicaportuguesa.com/revista/index.php/amp/article/viewFile/492/200
https://core.ac.uk/download/pdf/61423651.pdf
https://perdaseluto.com/2016/11/08/o-significado-da-morte-e-o-processo-de-luto-na-visao-do-
islamismo/
http://1nj5ms2lli5hdggbe3mm7ms5-wpengine.netdna-ssl.com/files/2015/06/Plano-Nacional-de-Saude-
Revisao-e-Extensao-a-2020.pdf.pdf

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