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$XOD 2º

2VȊSULPHLURVȋȴOµVRIRV

Nesta aula, vamos trabalhar e explicar quem foi, qual


foi e como foi a missão de Sócrates, Platão e Aristóteles,
três grandes filósofos que vieram marcar presença na
história. Antes deles existiam os pré-socráticos, que
vinham combater os mitos. Gostaria que você refletisse
sobre esses pensadores, pois sem essa reflexão, não há
como entender a Filosofia atual. Falar de Sócrates é falar
sobre argumentação, diálogo, reflexão, lógica etc. Então,
vamos à aula?
Boa aula!

2EMHWLYRVGHaprendizagem

Ao término desta aula, o aluno será capaz de:

‡VHOHFLRQDUSURFHGLPHQWRVTXHSULYLOHJLHPIRUPDVGHDWXDomRHPSUROGHREMHWLYRVFRPXQV
‡WHUFDSDFLGDGHGHUDFLRFtQLROyJLFRGHREVHUYDomRGHLQWHUSUHWDomRHDQiOLVHFUtWLFDGHGDGRVHLQIRUPDo}HV
‡DWXDUHPHTXLSHVPXOWLGLVFLSOLQDUHVHH[HUFHUOLGHUDQoD
18 )LORVRȴD 16
justiça humana, humilhando-se e desculpando-se mais ou
6H©·HVGHestudo menos. Tinha ele diante dos olhos da alma não uma solução
empírica para a vida terrena, e sim o juízo eterno da razão,
1 - Estudo sobre o pensamento de Sócrates. para a imortalidade. E preferiu a morte. Declarado culpado por
2 - Estudo Sobre o Pensamento de Platão. uma pequena minoria, assentou-se com indômita fortaleza de
3 - Estudo Sobre o Pensamento de Aristóteles. ânimo diante do tribunal, que o condenou à pena capital com
o voto da maioria.
1 - Estudo sobre o pensamento de
6µFUDWHV 1.1'RXWULQDVILORVµILFDV
Neste momento iremos
A resposta a que Sócrates
6Ð&5$7(6 D& trabalhar com a doutrina socrática, chegou é a de que o homem é a
$ 9LGD - Quando estudamos essa doutrina é uma verificação do sua alma - psyché, por quanto
é a sua alma que o distingue de
Sócrates, percebemos que o conhecimento e da análise sobre o qualquer outra coisa, dando-
lhe, em virtude de sua história,
pensamento é de suma importância, saber. uma personalidade única. E por
pois ele nos deixa uma mensagem psyché Sócrates entende nossa
sede racional, inteligente e
muita clara, que é a verificação &RQFHLWR eticamente operante, ou ainda,
de todos os argumentos, ou seja, A introspecção é o a consciência e a personalidade
intelectual e moral. Esta
devemos prestar muita atenção para característico da filosofia de colocação de Sócrates acabou
ΖPDJHPH[WUD¯GDKWWS SRUH[HUFHUXPDLQȵX¬QFLD
que possamos interrogar e argumentar i143.photobucket.com/ Sócrates. Exprime-se no famoso profunda em toda a tradição
sobre todas as coisas. Peço que atente- albums/r135/lucaskan/
Plato-raphael.jpg> Acesso
lema “conhece-te a ti mesmo” - europeia posterior, até hoje. O
WH[WRQDLQWHJUDHVW£GLVSRQ¯YHO
se na Maiêutica e na Ironia socrática. em 08 jul. 2010. isto é, torna-te consciente de tua em: <http://br.geocities.com/
carlos.guimaraes/socrates.
Quem valorizou a descoberta do homem feita pelos ignorância - como sendo o ápice da html> Acesso em: 25/abr./2006.

sofistas, orientando-a para os valores universais, segundo a via sabedoria, que é o desejo da ciência
real do pensamento grego, foi Sócrates. Ele nasceu em 470 ou mediante a virtude. Alcançava em
469 a.C., em Atenas, filho de Sofrônico, escultor, e de Fenáreta, Sócrates intensidade e profundidade tais, que se concretizava
parteira. Aprendeu a arte paterna, mas dedicou-se inteiramente e se personificava na voz interior divina do gênio ou demônio.
à meditação e ao ensino filosófico, sem recompensa alguma, Como é sabido, Sócrates não deixou nada escrito. As
não obstante sua pobreza. Desempenhou alguns cargos notícias que temos de sua vida e de seu pensamento devemos,
políticos e foi sempre modelo irrepreensível de bom cidadão. especialmente, aos seus dois discípulos Xenofonte e Platão,
Combateu a Potidéia, onde salvou a vida de Alcebíades e em de feição intelectual muito diferente. Xenofonte, autor de
Delium, onde carregou aos ombros a Xenofonte, gravemente Anábase, em seus Ditos Memoráveis, legou-nos de preferência
ferido. Formou a sua instrução, sobretudo, através da reflexão o aspecto prático e moral da doutrina do mestre. Xenofonte,
pessoal, na moldura da alta cultura ateniense da época, em de estilo simples e harmonioso, mas sem profundidade, não
contato com o que de mais ilustre houve na cidade de Péricles. obstante a sua devoção para com o mestre e a exatidão das
Inteiramente absorvido pela sua vocação, não se deixou notícias, não entendeu o pensamento filosófico de Sócrates,
distrair pelas preocupações domésticas nem pelos interesses sendo mais um homem de ação do que um pensador. Platão,
políticos. Quanto à família, podemos dizer que Sócrates não pelo contrário, foi filósofo grande demais para nos dar o
teve, por certo, uma mulher ideal na quérula Xantipa, mas preciso retrato histórico de Sócrates. Nem sempre é fácil
também ela não teve um marido ideal no filósofo, ocupado discernir o fundo socrático das especulações acrescentadas por
com outros cuidados que não os domésticos. ele. Seja como for, cabe-lhe a glória e o privilégio de ter sido
Quanto à política, foi ele valoroso soldado e rígido o grande historiador do pensamento de Sócrates, bem como
magistrado, mas, em geral, conservou-se afastado da vida o seu biógrafo genial. Com efeito, pode-se dizer que Sócrates
pública e da política contemporânea, que contrastavam com é o protagonista de todas as obras platônicas, embora Platão
o seu temperamento crítico e com o seu reto juízo. Julgava conhecesse Sócrates já com mais de sessenta anos de idade.
que devia servir à pátria conforme suas atitudes, vivendo O lema em que Sócrates cifra
justamente e formando cidadãos sábios, honestos e temperados toda a sua vida de “ &RQKHFH
- diversamente dos sofistas, que agiam para o próprio proveito WH D WL PHVPR” sábio. O perfeito
e formavam grandes egoístas, capazes unicamente de se conhecimento do homem é o objetivo
acometerem uns contra os outros e escravizar o próximo. de todas as suas especulações e a moral,
Entretanto, a liberdade de seus discursos, a feição austera o centro para o qual convergem todas
de seu caráter, a sua atitude crítica irônica e a consequente as partes da Filosofia. A psicologia
educação por ele ministrada criaram descontentamento geral, serve-lhe de preâmbulo, a teodiceia
hostilidade popular e inimizades pessoais, apesar de sua de estímulo à virtude e de natural
probidade. Diante da tirania popular, bem como de certos complemento da ética.
elementos racionários, aparecia Sócrates como chefe de Em psicologia, Sócrates professa
uma aristocracia intelectual. Esse estado de ânimo hostil a a espiritualidade e imortalidade da http://3.bp.blogspot.
com/_JnQZ8_pvNww/
Sócrates concretizou-se, tomou forma jurídica, na acusação alma, distinguindo as duas ordens de S2qPgv6U3nI/AAAAAAAABjQ/
G063AghoLbM/s1600-h/
movida contra ele por Mileto, Anito e Licon, de corromper conhecimento, sensitivo e intelectual, interroga%C3%A7%C3%A3o
a mocidade e negar os deuses da pátria introduzindo outros. mas não define o livre arbítrio,
Sócrates desdenhou defender-se diante dos juízes e da identificando a vontade com a inteligência.
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Em teodiceia, estabelece a existência de Deus: a) com o Sócrates encontrava-se frequentemente face a temíveis
argumento teológico, formulando claramente o princípio: tudo profissionais do saber e da eloquência que nunca se sentiam
o que é adaptado a um fim é efeito de uma inteligência; b) apanhados desprevenidos. Eram mestres que tinham respostas
com o argumento, apenas esboçado, da causa eficiente: se o para tudo e que ignoraram a hesitação do escrúpulo e da
homem é inteligente, também inteligente deve ser a causa que interrogação da reflexão. Sócrates, ao contrário, era o homem
o produziu; c) com o argumento moral: a lei natural supõe das interrogações, aquele que nunca se deixava enclausurar
um ser superior ao homem, um legislador, que a promulgou em nenhum sistema, aquele que se recusava a ter ponto certo
e sancionou. Deus não só existe, mas é também Providência, o que não era ou a estiar como problemática aquilo que era
governa o mundo com sabedoria, podendo o homem propiciá- perfeitamente certo.
lo com sacrifícios e orações. Apesar dessas doutrinas elevadas, A ironia de Sócrates consistia em apanhar o homem sério
Sócrates aceita em muitos pontos os preconceitos da mitologia na sua própria armadilha, mostrando-lhe que essa seriedade
corrente que ele aspira reformar. repousa na ignorância que se ignora. Como diz Bergson:

1.2 - Moral “A ironia que ele passeia com ele é destinada


a afastar as opiniões que não sofreram a prova
É a parte culminante da sua filosofia. Sócrates ensina a bem GDUHÁH[mRHDHQYHUJRQKiODVSRUDVVLPGL]HU
pensar para bem viver. O meio único de alcançar a felicidade pondo-as em contradição consigo mesmas.”
ou semelhança com Deus, fim supremo do homem, é a prática 'LVSRQ¯YHOHPKWWSSURIHVVRUPDXURȴORVRȴDEORJVSRWFRPEUȴORVRȴD
da virtude. A virtude adquire-se com a sabedoria ou, antes, com de-socrates.html. Acesso em: 19/09/2012.
ela se identifica. Essa doutrina, uma das mais características da
moral socrática, é consequência natural do erro psicológico de É por isso que o procedimento de Sócrates era
não distinguir a vontade da inteligência. Conclusão: grandeza frequentemente o seguinte: O diálogo que começava pela
moral e penetração especulativa, virtude e ciência, ignorância e procura de uma definição, o verdadeiro, o justo, o belo, a
vício são sinônimos. “Se músico é o que sabe música, pedreiro piedade, um interlocutor seguro de si que dava imediatamente
o que sabe edificar, justo será o que sabe a justiça”. uma definição. Sócrates ficava maravilhado. Aceitava a
Sócrates reconhece também, acima das leis mutáveis e definição do interlocutor que se empertigava, e tirava dela,
escritas, a existência de uma lei natural - independentemente com o seu consentimento, deduções cada vez mais precisas.
do arbítrio humano, universal, fonte primordial de todo direito O interlocutor não deixava de seguir Sócrates e de o aprovar,
positivo, expressão da vontade divina promulgada pela voz extremamente satisfeito por ver que a sua definição ainda era
interna da consciência. mais rica do que ele próprio tinha julgado.
Sublime nos lineamentos gerais de sua ética, Sócrates, em Em suma, a ironia socrática reconduzia as pseudocertezas às
prática, sugere quase sempre a utilidade como motivo e estímulo da justas proporções e, denunciava as suas pretensões usurpadoras,
virtude. Essa feição utilitarista encobre a beleza moral do sistema. apanhava o interlocutor nas suas próprias redes. A ironia
opunha-se a tudo o que desse conta da existência em termos
1.3 - Ironia socrática de conceitos e de sistemas fechados, a tudo que pretendesse
congelar a existência encerrando-a nos limites muito estreitos
“O filósofo do pensamento objetivo: ela denunciava a impotência dos falsos
ironiza”, dizia poderes. Sócrates não se preocupava em ser professor de hebreu,
Sócrates; quase todos nem escultor e nem primeiro dançarino, mas sim em ensinar
os diálogos de Platão aos outros o que todos sabiam ou mais exatamente deveriam
refletem em algumas saber. A intenção de Sócrates era, pois essencialmente irônica
passagens esta ironia uma vez que se propunha a fazer com que encontrássemos o
que, para Sócrates, que possuímos, fazer com que descobríssemos o que temos,
acompanhava toda ΖPDJHPH[WUD¯GDGHLURQLDVRFUDWLFDEORJEORJVSRW
com/> Acesso em: 20/07/2010. que nos colocássemos em presença da proximidade, e que nos
a reflexão séria, a tal conduzíssemos em direção ao caminho do simples e do imediato.
ponto que imensas discussões filosóficas se nos apresentam Como diz Kierkegaard, a ironia não é a verdade, mas o caminho,
como verdadeiras cenas de comédia. pois a ironia impede todo homem de ter a última palavra, pois no
Torna-se importante observar que a ironia socrática não fundo não há palavra que possa ser dada como última.
se tratava de um talento satírico ou da expressão de um desejo
de difamação. Conforme a observação de Romano Guardini: 1.4Ȃ$PDL¬XWLFD
$LURQLDGH6yFUDWHV>@QmRYLVDGHVTXDOLÀFDU Sendo filho de uma parteira,
o outro, mas ajudá-lo. Ela quer libertá-lo e abri- Sócrates costumava comparar a
lo à verdade [...]. A sua ironia procura criar um sua atividade com a de trazer ao
mal-estar e uma tensão no centro do homem, mundo a verdade que há dentro ΖPDJHPH[WUD¯GDGHZZZ
fbb.br/maieutica_capa_v2.asp>
para que aí proceda o movimento esperado, de cada um: Acesso em: 20/07/2010.
no próprio interlocutor, se este não puder ser
socorrido, no auditor. “Ora, a minha arte de maiêutico é em tudo
semelhante à das parteiras, mas difere nisto,
Disponível em: http://www.educ.fc.ul.pt/docentes/opombo/hfe/momentos/escola/
socrates/metodosocratico.htm. Acesso em: 20/09/2012. em que a ajuda a fazer dar à luz homens e não
mulheres e provê às almas geradoras e não aos
20 )LORVRȴD 18
FRUSRV ( QmR Vy SRLV R VLJQLÀFDGR PDLRU que era filho do povo, Platão nasceu em Atenas, em 428 ou
desta minha arte é que consigo, mediante ela, 427 a.C., de pais aristocráticos e abastados, de antiga e nobre
distinguir, com maior segurança, se a mente prosápia. Temperamento artístico e dialético - manifestação
do jovem dá à luz quimeras e mentiras, ou característica e suma do gênio grego - deu, na mocidade, livre
coisas vitais e verdadeiras. E tenho em comum curso ao seu talento poético, que o acompanhou durante a vida
com as parteiras precisamente isto: também
toda, manifestando-se na expressão estética de seus escritos.
sou estéril, estéril em sabedoria; e a censura
TXHMiPXLWRVPHÀ]HUDPGHTXHHXLQWHUURJR
Entretanto, isso prejudicou, sem dúvida, a precisão e a ordem
os outros, mas nunca manifesto o meu do seu pensamento, tanto assim que várias partes de suas obras
pensamento acerca de nada, é uma censura não têm verdadeira importância e valor filosófico.
muito verdadeira. [...] Por conseguinte, eu Platão como Sócrates, parte do conhecimento empírico,
próprio não sou de modo nenhum sábio nem sensível, da opinião do vulgo e dos sofistas, para chegar ao
se gerou em mim qualquer descoberta que seja conhecimento intelectual, conceptual, universal e imutável.
fruto da minha alma”. A gnosiologia platônica, porém, tem o caráter científico,
filosófico, que falta a gnosiologia socrática, ainda que as
A maiêutica, na realidade, não era mais que a arte da conclusões sejam, mais ou menos, idênticas. O conhecimento
pesquisa em comum. O homem não podia ver claro por si só. sensível deve ser superado por um outro conhecimento,
A investigação de que se ocupa não pode começar e acabar no o conhecimento conceitual, porquanto no conhecimento
recinto fechado da sua individualidade, pelo contrário, só pode humano, como efetivamente, apresentam-se elementos que
ser fruto de um dialogar contínuo com os outros como consigo não se podem explicar mediante a sensação.
mesmo. O método socrático tinha como característica levar cada O conhecimento sensível, particular, mutável e relativo
indivíduo a refletir acerca dos seus deveres. Sócrates começava não pode explicar o conhecimento intelectual, que tem por sua
por chamar a atenção de cada um para os seus interesses pessoais, característica a universalidade, a imutabilidade e o absoluto (do
interesses domésticos, educação dos filhos, problemas da vida conceito); e ainda menos pode o conhecimento sensível explicar
da cidade e questões relativas ao saber. Levava, em seguida, os o dever ser, os valores de beleza, a verdade e a bondade, que
seus interlocutores quaisquer que eles fossem, a extrair do caso estão efetivamente presentes no espírito humano, e se distinguem
particular o pensamento universal. Começando por suscitar a diametralmente de seus opostos, lealdade, erro e mal-posição e
desconfiança em relação aos preconceitos que cada um aceitou distinção que o sentido não pode operar por si mesmo.
sem exame prévio, conseguia convencer o seu interlocutor a Segundo Platão, o conhecimento humano integral
procurar em si próprio o que era. Conduzia-o, assim, por um fica nitidamente dividido em dois graus: o conhecimento
lado a extrair o universal do caso concreto e a expor plenamente sensível, particular, mutável e relativo, e o conhecimento
à luz aquilo que se esconde em qualquer consciência. E, por intelectual, universal, imutável, absoluto, que ilumina o primeiro
outro lado, obriga-o a destruir as generalidades aceites de conhecimento, mas que dele não se pode derivar. A diferença
imediato pela consciência. essencial entre o conhecimento sensível, a opinião verdadeira
Nesta próxima discussão, estudaremos outro filósofo, e o conhecimento intelectual, racional em geral, está nisso: o
chamado Platão. Platão foi discípulo de Sócrates. Platão tinha conhecimento sensível, embora verdadeiro, não sabe que o é,
seu pensamento filosófico voltado para o mundo das ideias donde pode passar indiferentemente o conhecimento diverso,
e seu mestre Sócrates voltado para a argumentação (como cair no erro sem o saber; ao passo que o segundo, além de ser um
vimos acima). Platão assimilou os ensinamentos de Sócrates, conhecimento verdadeiro, sabe que o é, não podendo de modo
mas não os seguiu. algum ser substituído por um conhecimento diverso ou errôneo.
Gostaria que você fizesse o exercício: ser o personagem Poder-se-ia também dizer que o primeiro sabe que as
da história, assim, ficará mais fácil de entender seu pensamento. coisas estão assim, sem saber por que o estão, ao passo que
Entender pensamento dos filósofos é um pouco complexo, mas o segundo sabe que as coisas devem estar necessariamente
com dedicação e curiosidade chegaremos a nossa meta. Vejamos!!! assim como estão, precisamente porque é ciência, isto é,
conhecimento das coisas pelas causas.
2(VWXGRVREUHRSHQVDPHQWRGH3ODW¥R
O pensamento de Platão 3ODW¥R
2.1 - Teoria das ideias
(Maritan, 1998) 10 trabalha em Sócrates mostrara no
amplitude e procura abraçar conceito o verdadeiro objeto da
todas as coisas de uma só vez. ciência. Platão aprofunda-lhe
Contudo, sua sabedoria superior a teoria e procura determinar
e maravilhosamente intuitiva a relação entre o conceito e
impede-o de deter de maneira a realidade, fazendo desse
irreparável e de condensar em problema o ponto de partida
doutrina definitiva muitas atitudes da sua filosofia. ΖPDJHPH[WUD¯GDDȴORVRȴDQRVDSR
que ele deixa em pleno movimento. A ciência é objetiva; ao pt/12prog2Plat3.htm> Acesso em: 20
jul. 2010
Onde se encontra um ponto fraco, conhecimento certo deve
e onde outro insistiria, ele passa Disponível em: <www. corresponder a realidade. Ora, de um lado, os nossos conceitos
por cima. PXQGRGRVȴORVRIRVFRPEU
platao.htm> Acesso em: 01/
são universais, necessários, imutáveis e eternos (Sócrates), do
Diversamente de Sócrates, fev./2006. outro, tudo no mundo é individual, contingente e transitório
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(Heráclito). Logo, deve existir, além do fenomenal, um outro
mundo de realidades, objetivamente dotadas dos mesmos *RVWDULDTXHYRF¬OHVVHSRLVDLGHLDVREUHRSHQVDPHQWRSODW¶QLFR
atributos dos conceitos subjetivos que as representam. Essas ȴFDULDPDLVFODUDHREMHWLYDHWDPE«PSDUDUHVSRQGHUDVTXHVW·HVQR
realidades chamam-se Ideias. As ideias não são, pois, no sentido ȴQDOGHVWDDXOD8PRXWURȴOµVRIRTXHPDUFRXDKLVWµULDGD)LORVRȴDIRL
platônico, representações intelectuais, formas abstratas do $ULVWµWHOHVGLVF¯SXORGH3ODW¥R
pensamento, são realidades objetivas, modelos e arquétipos
eternos de que as coisas visíveis são cópias imperfeitas e fugazes. Nas aulas anteriores estudamos Sócrates e seu
Assim, a ideia de homem é o homem abstrato perfeito pensamento argumentativo e reflexivo; depois estudamos
e universal de que os indivíduos humanos são imitações Platão, que foi discípulo de Sócrates, com seu pensamento
transitórias e defeituosas. sobre o mundo das ideias. Aristóteles foi e é um filósofo
Todas as ideias existem num mundo separado, o mundo que marcou seu tempo e nos ensina nos dias de hoje, com
dos inteligíveis, situado na esfera celeste. A certeza da sua a “junção” dos pensamentos de Sócrates e Platão, um novo
existência funda-a Platão na necessidade de salvar o valor modo de ver, analisar e estudar o universo.
objetivo dos nossos conhecimentos e na importância de
explicar os atributos do ente de Parmênides sem, com ele,
negar a existência do fieri. Tal a célebre teoria das ideias, alma
3 - Estudo sobre o pensamento de
de toda filosofia platônica, centro em torno do qual gravita
$ULVWµWHOHV
todo o seu sistema. Esse grande filósofo grego, $ULVWµWHOHV
2.2  7HRULD GDV LGHLDV LGHLDV H filho de Nicômaco, médico
FµSLDV de Amintas, rei da Macedônia,
nasceu em Estagira, colônia grega
Platão achava um absurdo que homens com mais votos da Trácia, no litoral setentrional
pudessem assumir cargos da mais alta importância, pois nem do mar Egeu, em 384 a.C. Aos
sempre o mais votado é o mais bem preparado. Era preciso criar dezoito anos, em 367, foi para
um método para impedir que a corrupção e a incompetência Atenas e ingressou na academia
tomassem conta do poder público, mas atrás desses problemas platônica, onde ficou por vinte
estava a psyché humana, como havia identificado Sócrates. anos, até a morte do Mestre.
Para Platão, o conhecimento humano vem de três fontes Nesse período, estudou também
principais: o desejo, a emoção e o conhecimento que fluem do os filósofos pré-platônicos, que
baixo ventre, coração e cabeça, respectivamente. Essas fontes lhe foram úteis na construção do ΖPDJHPH[WUD¯GDGHKWWS
seriam forças presentes em diferentes graus de distribuição nos seu grande sistema. OHYHVRIHQVDVȴOHVZRUGSUHVV
com/2009/06/aristoteles1.jpg>
indivíduos. Elas se dosariam umas às outras e num homem Em 343 foi convidado pelo Acesso em: 20/07/2010.
apto a governar, estariam em equilíbrio, com a cabeça liderando Rei Filipe para a corte de Macedônia, como preceptor do
continuamente. Para isso, é preciso uma longa preparação e Príncipe Alexandre, então jovem de treze anos. Aí ficou três
muita sabedoria. anos, até a famosa expedição asiática, conseguindo um êxito
O mundo das ideias seria um mundo transcendente, de na sua missão educativo-política, que Platão não conseguiu,
existência autônoma, que está por trás do mundo sensível. por certo, em Siracusa. De volta a Atenas, em 335, treze anos
As ideias são formas puras, modelos perfeitos eternos e depois da morte de Platão, Aristóteles fundava, perto do
imutáveis, paradigmas. O que pertence ao mundo dos sentidos templo de Apolo Lício, a sua escola. Daí o nome de Liceu
se corrói e se desintegra com a ação do tempo. Tudo o que dado à sua escola, também chamada peripatética devido ao
percebemos, todos os itens são formados a partir das ideias, costume de dar lições, em amena palestra, passeando nos
constituindo cópias imperfeitas desses modelos espirituais. Só umbrosos caminhos do ginásio de Apolo. Essa escola seria a
podemos atingir a realidade das Ideias, na medida em que pelo grande rival e a verdadeira herdeira da velha e gloriosa academia
processo dialético, nossa mente se afasta do mundo concreto, platônica. Morto Alexandre em 323, desfez-se politicamente
atravessando com a alma sucessivos graus de abstração, usando o seu grande império e despertaram-se em Atenas os desejos
sistematicamente o discurso para se chegar à essência do de independência, estourando uma reação nacional, chefiada
mundo. A dialética é um instrumento de busca da verdade. por Demóstenes.
Platão acreditava numa alma imortal, que já existia no Aristóteles, malvisto pelos atenienses, foi acusado
mundo das Ideias antes de habitar nosso corpo. Assim que de ateísmo. Preveniu ele a condenação, retirando-se
passa a habitá-lo esquece das ideias perfeitas. Então o mundo voluntariamente para Eubéia. Aristóteles faleceu, após
se apresenta a partir de uma vaga lembrança. A alma quer voltar enfermidade, no ano seguinte, no verão de 322. Tinha pouco
para o mundo das Ideias. Um dos primeiros críticos de toda essa mais de 60 anos de idade. A respeito do caráter de Aristóteles,
teoria de Platão foi um de seus alunos da Academia, Aristóteles. inteiramente recolhido na elaboração crítica do seu sistema
Igualmente conhecida na República é a DOHJRULD 0LWR  filosófico, sem se deixar distrair por motivos práticos ou
GD FDYHUQD, que ilustra como percebemos apenas parte do sentimentais, temos naturalmente muito menos a revelar do que
mundo, reduzindo-o. O texto está disponibilizado no site: em torno do caráter de Platão, em que, ao contrário, os motivos
http://giulianofilosofo.blogspot.com/2007/08/o-mito-da- políticos, éticos, estéticos e místicos tiveram grande influência.
caverna-de-plato.html ou no livro de Marilena Chauí, Convite à Do diferente caráter dos dois filósofos, dependem também as
Filosofia. Ed. Ática, São Paulo, 2000. vicissitudes exteriores das duas vidas, mais uniforme e linear a
22 )LORVRȴD 20
de Aristóteles, variada e romanesca a de Platão. Aristóteles foi que estudava, até começar a formular sua própria doutrina.
essencialmente um homem de cultura, de estudo, de pesquisas Fundador de várias ciências, seu esforço metódico e fôlego
e de pensamento, que se foi isolando da vida prática, social e filosófico – que o levou a empreender a grande obra – talvez
política, para se dedicar à investigação científica. só possam encontrar paralelo na fecundidade de Voltaire,
dono também de um espírito incansável. Desde cedo esta
3.1)LORVRILDGH$ULVWµWHOHV notável qualidade se fez notar no então estudante da Academia
Partindo, como Platão, do mesmo problema acerca do Aristóteles, como resume a frase de Platão a respeito de seus
valor objetivo dos conceitos, mas abandonando a solução do discípulos Xénocrates e Aristóteles : “Um precisa de rédeas, o
mestre, Aristóteles constrói um sistema inteiramente original. outro de esporas.”
Os caracteres dessa grande síntese são: A tradição nos conta que as desavenças entre Aristóteles e
 2EVHUYDomR ILHO GD QDWXUH]D - Platão, idealista, Platão se deram com este ainda em vida, chegando ele a dizer
rejeitara a experiência como fonte de conhecimento certo. “Aristóteles deu-me um pontapé, como fazem os potros com
Aristóteles, mais positivo, toma sempre o fato como ponto a mãe que os gerou”. Embora, como mostrado em Fédon,
de partida de suas teorias, buscando na realidade um apoio Platão desse ampla supremacia à alma sobre o corpo, numa
sólido às suas mais elevadas especulações metafísicas. espécie de ascetismo, ele também destaca, em A República,
 5LJRU QR PpWRGR - Depois de estudadas as leis na sua concepção de desenvolvimento da virtude, a prática
do pensamento, o processo dedutivo e indutivo aplica-os, da ginástica e o cuidado ao corpo. O fato é que alguns dados
com rara habilidade, em todas as suas obras, substituindo a levam a crer que Platão teria sido severo em uma crítica a
linguagem imaginosa e figurada de Platão, em estilo lapidar Aristóteles (cuja descrição é de uma pessoa franzina e de
e conciso e criando uma terminologia filosófica de precisão constituição frágil), chamando-o de “rato de biblioteca”, ou
admirável. Pode-se considerar como o autor da metodologia e seja, um homem totalmente absorto em estudos teóricos. O
tecnologia científicas. Geralmente, no estudo de uma questão, helenista inglês sir David Ross, por outro lado, toma essa crítica
Aristóteles procede por partes: a) começa a definir-lhe o como um aspecto positivo da relação entre os dois, afirmando
objeto; b) passa a enumerar-lhes as soluções históricas; c) que Platão tinha muito orgulho de Aristóteles, chamando-o de
propõe depois as dúvidas; d) indica, em seguida, a própria “o espírito da escola” e “o leitor por excelência”.
solução; e) refuta, por último, as sentenças contrárias. O ponto de Ross é que de fato houve uma relação amigável
 8QLGDGH GR FRQMXQWR - Sua vasta obra filosófica entre os dois pensadores, e o que aconteceu foi um afastamento
constitui um verdadeiro sistema, uma verdadeira síntese. Todas gradual do filósofo macedônico em relação à doutrina defendia
as partes se compõem, se correspondem, se confirmam. pela Academia. Parece que – a exemplo do que aconteceu com
A metafísica busca as causas primeiras. Aristóteles Platão em suas obras de juventude ditas aporéticas e as de
definiu as causas como quatro: maturidade – Aristóteles aproveitou o impulso inicial de seus
estudos e, à luz de sua grande inteligência, desenvolveu uma
 &DXVD IRUPDO - tanto essa como a segunda são a doutrina própria acerca dos assuntos estudados pela filosofia.
constituição das coisas. A forma ou essência das coisas. A Ross destaca também que Aristóteles introduziu muitos temas
alma para os animais, as relações formais determinadas para novos, que não eram pensados no platonismo. Esta mudança
diferentes figuras geométricas. seria observada na diferença entre as obras iniciais de Aristóteles
&DXVDPDWHULDO - A matéria de que é feita uma coisa. – infelizmente quase de todo perdidas -, escritas na forma de
Nos animais, por exemplo, seria a carne e os ossos. Numa diálogo com títulos platônicos como “Simpósio, Sofista” e as
taça de ouro, o ouro etc. de maturidade, que divergem totalmente do diálogo, sendo
&DXVDHILFLHQWH- ou motora. As coisas foram geradas teóricas e dissertativas.
a partir de uma causa, a eficiente. Dela provém a mudança e A evolução das obras de Aristóteles, contudo, foi feita de
o movimento das coisas. Os pais são a causa eficiente dos forma muito mais dramática do que o pensamento de Platão
filhos, por exemplo. Esta causa seria a que veio sobreviver na em relação a Sócrates. Pode-se dizer que houve uma ruptura
Filosofia Moderna, graças, sobretudo, a Descartes. de Aristóteles justamente no ponto mais caro à Academia: a
&DXVDILQDO- para onde tende o devir do homem. O separação entre as formas inteligíveis e o mundo sensível. É no
que é perfeito (Deus) não muda, pois não necessita de mais nada capítulo VI do livro I de Ética a Nicômaco, que Aristóteles afirma
para ser completo. As coisas mudam com aspiração à perfeição. o dever do filósofo de colocar a verdade acima da amizade. E
ele afirma isso justamente para criticar, logo adiante, a Teoria das
3.2 &HUWDVGLIHUHQ©DVHQWUH3ODW¥R Formas. Aristóteles critica a teoria, nesse trecho, por afirmar a
H$ULVWµWHOHV existência de um bem em si, imutável. Ora, o alcance da crítica
Existe uma controvérsia entre os comentadores sobre se faz sentir, pois o Bem é a Forma Suprema, que confere ser
a questão de Aristóteles ser ou não um platônico. É certo a todas as outras formas, e a partir do qual o mundo se torna
que a doutrina do estagirita difere em inúmeros pontos da inteligível. Nesse mesmo capítulo de Ética a Nicômaco está uma das
do mestre, mas seria tão fácil superar a influência intelectual, recorrências da famosa frase aristotélica de que o ser tem vários
mesmo que oculta, dos seus quase vinte anos envolvido sentidos, ou seja, se diz de vários modos. David Ross aponta a
nas atividades da Academia? Aristóteles, aluno destacado, importância desta frase, que aparece, segundo ele, nos momentos-
chamava a atenção para si, e devido ao seu gênio não chave da Metafísica, pois não é em Ética a Nicômaco e sim nos
conseguiria aceitar tudo passivamente. Dessa forma, teria livros de Ontologia que compõe a Metafísica que se encontra a
sempre formado opiniões próprias acerca dos assuntos explanação mais completa de Aristóteles sobre o assunto.
21 23
Aristóteles também coloca, como Platão, a questão do ousia que mais literalmente significa “o que é por si mesmo”,
Ser, como fundamental para o estabelecimento de uma ciência ou seja, o que é primeiro numa substância, não podendo ser
(epistéme) ou sabedoria (sophia). A investigação platônica sobre tirado desta sem que o ser perca o ser.
o assunto, segundo Aristóteles, foi influenciada basicamente Além do ser em si mesmo, Aristóteles distingue ainda
por três filósofos antigos: Pitágoras, Heráclito e Parmênides. outros três sentidos principais em que se diz que uma coisa
De Heráclito Platão teria tirado a noção de que as coisas é, a saber: por acidente, como verdadeiro e como falso e em
sensíveis estão em perpétuo estado de fluxo, sendo impossível potência e em ato.
conhecê-las. De Parmênides, a imutabilidade e unidade do Ser, O ser acidental pode ser dito como verdade, mas não
resolvendo o impasse entre os dois conhecimentos ao colocar uma verdade necessária ou habitual, e sim contingente. Por
o Ser na esfera do inteligível e não no sensível. De Pitágoras, exemplo, pode-se dizer: “O arquiteto é músico”. Ser arquiteto
Platão teria tirado – e isso não está expressamente escrito em não implica necessariamente em ser músico, mas, no entanto,
nenhuma de suas obras – a importância dos números como esta proposição pode ser verdadeira, visto que uma coisa é
estando na esfera do inteligível, algo intermediário entre o acidente de outra. O logos para saber o que é ser músico não
mundo sensível (lar da contradição, da aparência e da mimese) passa pelo logos de saber o que é ser arquiteto. O ser como
e as Formas imutáveis. verdade implica aceitar que dizer que uma coisa é, é aceitar
Contrariando o Ser platônico, que é universal, sendo o que ela é verdadeira, ao passo que dizer que uma coisa não é,
mesmo que está em tudo que lhe participa da forma, o ser é dizer que ela não é verdade, isto tanto na afirmação como na
aristotélico é formado de substâncias individuais. Se para Platão negação. Assim, como explica Aristóteles, tanto a afirmação
o mundo sensível é o mundo da opinião (doxa), para Aristóteles de que Sócrates é músico e não pálido deve ser verdadeira,
é o campo da experiência, em que a ciência deve se basear. Se ao passo que a proposição “Sócrates não é pescador” deve ser
para Platão, Sócrates é homem porque participa da forma do falsa. O ser como verdade e falsidade está ligado, portanto, à
homem, para Aristóteles, Sócrates, como substância, é o ser, e lei de não contradição que Aristóteles formulou.
ser homem é um atributo de Sócrates. A “metafísica” não estuda o ser como acidente nem o
ser como verdade. O primeiro não pode receber nenhum
3.32VHUSDUD$ULVWµWHOHV tratamento científico, pois existem infinitos atributos
acidentais. Uma casa, exemplifica o filósofo, pode ser agradável
Mas num mundo em que o universal não subsiste por
a uns e não a outros. A ciência arquitetônica não visa esses
si próprio, formado apenas por coisas individuais concretas,
atributos acidentais, mas a essência da ciência da construção
como seria possível conhecer, visto que as coisas individuais
arquitetônica é apenas a construção de receptáculo para
concretas são em número infinito? A resposta estaria na
abrigar móveis e seres viventes.
indução, onde o indivíduo, partindo do particular para o
O ser como verdade não é estudado pela metafísica
universal, procura agrupar um conjunto de elementos comuns
porque este pertence não a objetos, mas a estados de espírito.
em grupos e classes de coisas, para classificá-las e conhecê-
Tal estudo caberia mais à lógica do que à metafísica. Os
las. Assim, ao observar uma variedade enorme de cachorros
particulares, o homem abstrairia o comum entre eles para criar outros dois sentidos, o ser como essência – que subsiste por
o conceito de cachorro. Tal conceito existiria apenas no logos, na si mesmo, o qual diz que uma coisa é propriamente – e o ser
linguagem e intelecto humanos. em ato e potência serão tratados pela metafísica. Iremos agora
O objeto de investigação da Metafísica não é qualquer tentar explanar melhor cada um desses dois sentidos restantes,
ser, mas do ser enquanto ser. Esta investigação levaria à com ênfase no ser enquanto ser.
elaboração de uma ciência suprema, superior a todas as outras. Aristóteles afirma que as individualidades do ser em si são em
Esta ciência já estaria sendo feita, apesar de ainda existir de número igual às figuras de predicação. Ou seja, alguns predicados
forma crua. No livro I, Aristóteles fala da importância da indicam o que é no sujeito. Estes predicados podem ser expressos
causa desde a filosofia anterior. Os filósofos hoje ditos “pré- nas categorias de qualidade, quantidade, relação, atividade,
socráticos”, procurando explicar a existência física do mundo, passividade, lugar e tempo. Explicar as categorias é tarefa melhor
teriam considerado apenas a causa material em sua formação, empreendida nos escritos Analíticos e nas Categorias.
ao passo que Aristóteles aponta a existência de outras três, a Para nós, o mais importante é saber que a substância é
eficiente, a formal e a final. As quatro causas seriam quatro a categoria primeira no que diz respeito ao ser. A substância
sentidos de responder à pergunta por quê? E encontrar o que é é anterior às outras categorias por existir à parte (como coisa
primeiro em algo é conhecer o que lhe é próprio, seus atributos individual), por ser anterior à definição das outras categorias,
essenciais, opostamente aos atributos acidentais. e por ser anterior no conhecimento. Ou seja, a substância é
Não irei explicar estas quatro causas aqui, elas foram anterior no logos (na definição, pois ao definirmos as outras
lembradas apenas para mostrar que a causa em Aristóteles categorias precisamos definir uma substância ao mesmo
é o que contribui para ao conhecimento do Ser. A ciência tempo, ou seja, as outras categorias dependem dela), na ordem
superior do ser enquanto ser, portanto, seria também a ciência de conhecimento (conhecemos melhor uma coisa ao saber o
dos primeiros princípios e das primeiras causas. Delimitar os que ela é, mais do que sabendo suas qualidades, quantidades,
contornos desta ciência, é o que é tratado na Metafísica. etc.) e no tempo (a substância é anterior às outras categorias
Um atributo essencial é essencial porque é aquilo que que subjazem a ela). A substância é aquilo “que não pode
está numa coisa que é, que, se não estivesse, a coisa não seria. ser afirmado de um sujeito, mas aquilo de que todo o resto é
Sabemos que essência é uma palavra de origem latina (posterior afirmado”. Ou como afirma Aristóteles em 1028 a 29-30, é
ao grego, portanto). A palavra que isto traduz é o termo grego em virtude da substância que as outras categorias também são.
24 )LORVRȴD 22
Para responder à questão do que é a Substância, Aristóteles é possível, em potência que o mal e que o bem existam, mas
identifica pelo menos quatro sentidos para a palavra: a em ato só é possível um dos dois existir (pois dois contrários
essência, o universal, o gênero e o substrato. Abstraindo as não podem existir em ato, segundo a lei da não contradição).
diversas afecções e diferentes categorias, tirando todas as O mal não existe à parte das coisas más, porque sua potência é
determinações da substância restaria apenas a sua matéria superior ao seu ato, enquanto nos seres eternos não pode haver
(hylé) o que leva Aristóteles a considerar uma definição de nenhum mal, visto eles estarem sempre em ato. A mudança
substância como matéria. Mas isso seria insatisfatório, visto da matéria ao se tornar forma diria respeito apenas ao mundo
que “tanto a separabilidade como a propriedade de ser uma sublunar, de substâncias constituídas das quatro raízes, dos
coisa determinada são atribuídas principalmente à matéria”. quatro elementos. Além desses elementos adotados por
Mas a substância não é a ausência de determinações, visto Empédocles, haveria, no mundo supralunar uma quintessência
que tudo o que é, é um isto, ou seja, algo determinado. Para chamada éter, que seria a matéria dos astros e estrelas. A
resolver esse impasse, Aristóteles introduz o seu conceito de mudança nos mundos seria regida pela Substância pura, o
forma (eidos) Aristóteles em 1032b 1 define forma como a motor imóvel do mundo, que move sem ser movido, visto que
essência de cada coisa e a sua substância primeira. é puro ato, e imutável porque não muda. Aristóteles chama esta
Em 1032 b14, Aristóteles afirma que a substância é Substância pura de Deus, e diferencia-se das formas platônicas
matéria sem essência. O indivíduo, como veremos adiante, por ser capaz de causar o movimento. Para ser eterna, esta
é para Aristóteles composto de forma e matéria. Existe uma substância é imaterial. Mas por ora nos limitamos aos assuntos
distinção entre substância primeira e substância segunda que foi tratados até aqui: as características básicas da ruptura de
muito desenvolvida pelos escolásticos, a qual não enfocaremos Aristóteles com Platão, o desenvolvimento da concepção de
aqui. Para resumir, podemos dizer que a substância primeira é ser aristotélico e os quatro sentidos em que este pode ser dito,
sujeito do qual se afirmam ou se negam diversos predicados, até achar a substância como a categoria que melhor expressa
e que não é ele mesmo predicado de nada (como dissemos), o ser, sendo esta um individual composto de forma e matéria.
e a substância segunda é uma abstração, o tipo geral que
caracteriza uma classe de objetos, como os termos gerais
“homem e cavalo”. Mas esta substância segunda só pode ser 5HWRPDQGRDaula
chamada substância por analogia, visto que (como dissemos)
nenhum universal pode ser verdadeiramente um ser.
Assim, a substância seria um composto de forma e
matéria. A matéria, por exemplo, seria o bronze, e a forma 1R W«UPLQR GHVWD DXOD YRX ID]HU XP UHWURVSHFWR GR
seria a forma da estátua de bronze. Esta resposta parece ser a TXHYLPRVFRPHVWHVWU¬VȴOµVRIRVTXHPDUFDUDPR
mais satisfatória para a pergunta “o que é substância?”. LQ¯FLRGD)LORVRȴD
Desde a filosofia de Parmênides e Heráclito havia um
problema filosófico que dizia respeito à contradição entre o
ser e o movimento. O ser de Platão é imutável. Aristóteles, 1(VWXGRGR3HQVDPHQWRGH6yFUDWHV
para resolver esta contradição, introduz a noção de potência
e ato. É certo que a matéria está em constante devir, sempre Nesta seção estudamos a importância do pensamento de
mudando. Um bebê nasce e se modifica até o fim da vida, não Sócrates para a Filosofia e para cada um de nós. A introspecção
deixando nunca de ser uma substância. Isso acontece porque o é fundamental para que nós entendamos a necessidade de
ser pode ser em potência, antes de ser em ato. O ato pode ser estarmos atentos à reflexão rigorosa e radical, a argumentação
o exercício da atividade – esta podendo ser atividade tendo em e a interrogação, são elementos essências para darmos uma
vista um objetivo específico, como a construção de uma casa, resposta com mais segurança e clareza.
ou atividade em si mesma, como o pensamento -, ou a forma.
A matéria aspiraria à forma, se transformando sempre 2(VWXGR6REUHR3HQVDPHQWRGH3ODWmR
ao mudar de forma e se realizar como atualidade. Esta
Vimos que o pensamento de Platão é muito importante,
atualização é feita pela causalidade, mais especificamente pela
pois quando ele trabalha com o mundo das ideias, podemos
causa final, que rege a atualização da potência de um ser.
perceber que quando idealizamos algo temos que ter a
A mudança da potencialidade se transformando em
convicção de que nem sempre (ou quase sempre), não
atualidade demonstra a primazia da atualidade. Como
atingimos por completo a idealização. Idealizar é importante,
exemplifica Ross, o animal tem a faculdade de ver a fim de
mas sempre com o “pé no chão”, o mundo perfeito para ele
poder ver e não vê a fim de possuir a faculdade de ver. Mas o
é o das ideias, é por isso que a autoconfiança pode ser um
argumento principal apontado por Ross da maior importância
instrumento perigoso.
da atualidade é o seguinte: o que tem potência de ser também
tem potência de não ser, enquanto o eterno nunca pode 3(VWXGR6REUHR3HQVDPHQWRGH$ULVWyWHOHV
deixar de ser.
Estas mudanças estariam restritas às substâncias Estudamos a importância de entendermos a origem das
individuais. Não entrarei aqui na teologia aristotélica, que coisas. Deixo aqui uma sugestão para que você entre num site
afirma que toda mudança é regida por uma finalidade tendo de busca e pesquise as 10 categorias de Aristóteles. Nessas 10
em vista um bem. O mal não teria existência necessária no categorias você perceberá como é maravilhoso o pensamento
mundo, pois ele está mais ligado à potencialidade, visto que de Aristóteles.
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*/266É5,2 0LQKDVDQRWD©·HV
‡ ,GHLD: Aquilo através do qual o pensamento se
relaciona com o real.
‡ $UJXPHQWDU: “argumentar” quer dizer oferecer um
conjunto de razões a favor de uma conclusão ou oferecer
dados favoráveis a uma conclusão.
‡ 'HILQLomR: Definir um conceito é manifestar a sua
compreensão. Desse modo, definir é delimitar (delimitar as
fronteiras -- os limites! -- de um conceito relativamente a
outros).
‡ 'HVWLQR: Potência misteriosa e personificada que,
no pensamento antigo (nomeadamente, na tragédia grega e
no estoicismo) rege o devir universal, incluindo o curso da
história humana, sem qualquer possibilidade de intervenção
da vontade ou da previsão do homem.
‡ 'LDOpWLFD: Originalmente, o termo (que tem origem
grega) significava discorrer com, isto é, trocar impressões,
conversar, debater... dialogar. Evolui, entretanto, para um
sentido mais preciso, designando “uma discussão de algum
modo institucionalizada, organizando-se -- habitualmente
em presença de um público que acompanha o debate --
como uma espécie de concurso entre dois interlocutores que
defendem duas teses contraditórias”.
‡(VVrQFLD: essência de uma coisa é o seu ser verdadeiro
e profundo (por oposição às aparências). Uma propriedade
de um objeto é essencial quando sem ela esse objeto não
poderia existir.

9DOHDpena DVVLVWLU

0DWUL[ (toda a trilogia: 1999, 2003 e 2003; inclusive


ANIMATRIX, 2003). No filme a evidência da relação entre o
Mito da Caverna está na busca da verdade, ou do mundo real.

2VKRZGH7UXPDQ (1998). O mundo das ilusões, que


o personagem ignora, pois não imagina que pode haver uma
outra realidade, onde o conhecimento exige maior esforço.
Os sentidos o enganam, além de que há uma tentativa de
o enganar. O mundo das ilusões é confortável, mas não é
confiável.

2QRPHGD5RVD: (1986). “O Nome da Rosa” é uma


viagem visual à idade média europeia, no início do século
XIV (início do fim da Escolástica e início das manifestações
renascentistas). Nos diálogos do frade com seu assessor
noviço, surge a discussão do essencial e do particular, dos
conceitos e das palavras.

GH(VSDUWD: (1998). Esse filme mostra o contraste


entre o poder e a ética moral de uma sociedade onde a honra
é a maior virtude do homem...

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